Artigo de revisão O papel de uma equipe multidisciplinar em programas de reabilitação cardiovascular The role of multidisciplinary team on cardiovascular rehabilitation program Maristela Padilha de Souza-Rabbo1 Renata Freitas Testa5 Luisa Campos2 Maristênia Machado Araujo Dias4 Sarisa da Rosa Barbosa Adriane Dal Bosco6 Fernanda Silva de Souza Rodrigues4 Jerri Luiz Ribeiro7 3 RESUMO Segundo dados do Sistema Único de Saúde, no ano de 2006, houve aproximadamente onze milhões de internações hospitalares relacionadas às doenças cardiovasculares. No Brasil em 2005, 46,12% dos óbitos foram relacionados a doenças cardiocirculatórias (DATASUS). Um programa de Reabilitação Cardiovascular tem por objetivo promover um conjunto de ações que melhorem não somente os aspectos fisicos, mas que garantam também, uma satisfatória reintegração do indivíduo na sua rotina familiar, social e profissional (OMS, 2010). Deste modo, mesmo que a ênfase de um programa de reabilitação cardiovascular seja as atividades relacionadas ao exercício físico, cada vez mais se torna imprescindível o estabelecimento de estratégias que envolvam a participação de outros profissionais da área da saúde, como Educadores Físicos, Enfermeiros, Fisioterapeutas, Nutricionistas, Assistentes Sociais e Psicólogos (SBC, 2005). Deste modo, frente a estes diversos aspectos a serem abordados, em termos de reabilitação do paciente, o objetivo deste estudo foi avaliar a atuação de profissionais de diferentes áreas da saúde neste processo, assim como o custo-efetividade destes programas. Para tanto, foram utilizados indicadores sociodemográficos de banco de dados de agências governamentais e não governamentais, assim como, de estudos publicados em revistas científicas relacionadas ao tema. Pode-se observar que sistematicamente a literatura destaca que um desfecho satisfatório (considerado não somente como uma reabilitação biológica, mas também a integração satisfatória deste indivíduo na sua rotina familiar, social e profissional) de um programa de reabilitação cardiovascular, necessita de uma abordagem multidisciplinar, onde a avaliação, o diagnóstico, a definição da melhor estratégia de atuação, como também, o acompanhamento da evolução do tratamento, devam contemplar as diferentes experiências e possíveis ferramentas dis¹ Fisiologista, professora do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Reabilitação e Inclusão - Centro Universitário Metodista, do IPA. Porto Alegre, Brasil. 2 Nutricionista, Mestranda do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Reabilitação e Inclusão - Centro Universitário Metodista, do IPA. Porto Alegre, Brasil. 3 Administradora Hospitalar - Mestranda do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Reabilitação e Inclusão - Centro Universitário Metodista, do IPA. Porto Alegre, Brasil. 4 Enfermeira, Mestranda do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Reabilitação e Inclusão - Centro Universitário Metodista, do IPA. Porto Alegre, Brasil. 5 Educadora Física, Mestranda do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Reabilitação e Inclusão - Centro Universitário Metodista, do IPA. Porto Alegre, Brasil. 6 Fisioterapeuta, professora do Centro Universitário Metodista, do IPA. Porto Alegre, Brasil. 7 Educador Físico, professor do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Reabilitação e Inclusão - Centro Universitário Metodista, do IPA. Porto Alegre, Brasil. Ciência em Movimento | Ano XII | Nº 23 | 2010/1 99 O papel de uma equipe multidisciplinar... ponibilizadas por estes agentes de saúde. Destaca-se também, a comprovada economia em termos de gastos públicos, quando da implantação de programas de reabilitação com estas características. PALAVRAS-CHAVE Saúde Coletiva – Reabilitação - Manejo Multidisciplinar. ABSTRACT According to data from SUS 2006, there were approximately eleven million hospital internalization related to cardiovascular diseases. In Brazil, in 2005, 46,12% of death rate were related to circulatory diseases (DATASUS). A Cardiovascular rehabilitation program promotes a group of actions that improves not only physical aspects, but also assure a satisfactory reintegration of the individual in their own familiar, social and professional routine (WHO 2010). This way, even if the emphasis of a rehabilitation program be the activities related to physical exercise, strategies that involve the participation of other health professionals such as Physical Educators, Nurses, Physical Therapist, Nutritionists, Social Assistants and Psychologists increases each day (SBC 2005). This way, facing those various aspects, in therms of the patient rehabilitation, the aim of this study was to evaluate the action of health professionals from different areas in this process, such as the cost effectiveness of these programs. Therefore, social demographic indicators from a governmental and a nongovernmental database were used, such as studies published in scientific journals related to the theme. It has been observed systematically that the literature highlights a satisfactory ending (considering not only as a biological rehabilitation, but also a satisfactory integration of this individual in its familiar, social and professional routine) for a cardiovascular rehabilitation program, which needs a multidisciplinary approach, where the evaluation, the diagnosis, the definition 100 of the better approach and also the follow up of the treatment should contemplate the different experiences and possible tools available to these health agents. The economy in therms of health costs are notable, while the implantation of these rehabilitation programs with such characteristics. KEYWORDS Public Health – Rehabilitation - Multidisciplinary Management. Ciência em Movimento | Ano XI | Nº 23 | 2010/1 O papel de uma equipe multidisciplinar... INTRODUÇÃO MEULEN et al., 2009). Surge desta forma, a necessi- Dados fornecidos pela Organização Mundial da dade da conscientização de profissionais de diferentes Saúde (OMS) apresentam informações preocupantes áreas da saúde no sentido de unirem esforços para a sobre a saúde da população mundial, onde cerca de formação de equipes multidisciplinares com a finalida- treze milhões de pessoas são acometidas por doen- de de melhor atender à demanda de pacientes que ças cardiovasculares (OMS, 2010). Infelizmente, no apresentam problemas cardíacos. Deste modo, este Brasil, estas estatísticas se mostram também bastan- estudo tem por objetivo avaliar a atuação de profissio- te alarmantes (AZAMBUJA et al., 2008). nais de diferentes áreas da saúde neste processo, as- O desenvolvimento de um trabalho diferenciado sim como o custo-efetividade destes programas. no tratamento de cardiopatias pode oferecer aos pacientes melhoras significativas no quadro clínico. A A ATUAÇÃO DO EDUCADOR FÍSICO literatura apresenta sistematicamente os inúmeros Antigamente, dizia-se que a prática de exercícios benefícios proporcionados a esta população de indiví- físicos para cardiopatas era algo inacessível, pois po- duos, através de equipes multidisciplinares de reabi- deria ocasionar complicações e até mesmo acelerar litação cardíaca que visam contribuir para uma melhor o quadro clínico da doença. Porém, estudos científi- qualidade de vida destes. Na sua grande maioria, es- cos têm sistematicamente demonstrado a importân- tas equipes são compostas de Médicos que possuem cia desta prática, sendo atualmente considerada um o papel de diagnosticar a doença e passar as informa- fator indispensável para o tratamento da reabilitação ções essenciais para o tratamento, as Enfermeiras cardíaca, pois, além de diminuir os sintomas apresen- que farão a supervisão e auxiliarão o paciente ao au- tados, melhora a qualidade de vida diminuindo deste tocuidado através de orientações, os Fisioterapeutas modo à morbidade-mortalidade, além de possuir uma juntamente com os Educadores Físicos terão a função ótima relação custo-efetividade (BELARDINELLI et de realizar um treinamento físico apropriado, a Nutri- al.,1999, GEORGIOU et al.,2001, JAO et al., 2002). cionista para diagnóstico e acompanhamento do es- A utilização de protocolos de treinamento físico tado nutricional, além do Psicólogo que auxilia, além em programas de reabilitação cardiovascular é consi- do paciente, os familiares a lidarem com as adversi- derada, clinicamente, uma ferramenta não medica- dades, principalmente relacionadas, as suas relações mentosa atuando como terapêutica coadjuvante no pessoais e sociais, advindas desta situação (TRAN- tratamento do paciente. Esta prática proporciona mu- CHESI et al.,1979; SBC, 2005; DUCHARME et danças benéficas, tanto fisiológicas como psicológi- al.,2005; SAHADE, 2007) cas, no indivíduo atuando também como prevenção Infelizmente, mesmo com todos os possíveis benefícios proporcionados por estes programas, a quan- para novos eventos cardiovasculares (SOUZA-RABBO et al., 2007, MCCONNELL, 2005). tidade de serviços (tanto na rede pública quanto priva- Para a elaboração de um treinamento físico deve- da) especializados em programas de reabilitação car- mos levar em consideração a individualidade de cada diovascular ainda é muito pequena, em relação ao paciente, de acordo com o grau de comprometimen- número de pacientes portadores de doenças relacio- to funcional que este apresenta (THOMPSON, 2007). nadas a este distúrbio (NETO et al.,2008). Até 2002 Neste sentido, para que os objetivos propostos te- estimava-se existir apenas 150 destes programas nos nham maior probabilidade de serem alcançados, a EUA em contraste com cinco milhões de pacientes frequência a intensidade e tempo de duração das ses- portadores de doença cardíaca naquele país, o que não sões, devem ser ajustados a cada paciente. difere muito da realidade brasileira (REIS et al., 2007). Quando bem programado, o treinamento físico Reabilitar não significa curar, mas implica em não promove adaptações que contribuem para a melhora fragmentar o indivíduo, buscando sua independência do sistema cardiovascular. Dentre estas, pode-se des- física, emocional e social, maximizando seu potencial tacar a diminuição da hiperatividade do sistema ner- funcional, melhorando sua qualidade de vida (SNEED voso simpático com consequente diminuição da fre- & PAUL, 2003; BETTGER & STINEMAN, 2007; VER- quência cardíaca (para uma mesma carga de trabalho) Ciência em Movimento | Ano XI | Nº 23 | 2010/1 101 O papel de uma equipe multidisciplinar... 102 e da pressão arterial sistêmica. Além disso, é capaz de a uma melhora em sua qualidade de vida. A lin- de modular a composição corporal, diminuindo o per- guagem a ser utilizada nesta relação é fundamental centual de tecido adiposo e aumentando a massa para o sucesso da adesão a um novo estilo de vida muscular magra, modificando por sua vez, o índice de dentro e fora do hospital. A terapia nutricional deve massa corpórea do paciente, um importante fator de ser personalizada e adaptada ao estilo de vida do risco para a doença cardiovascular. Os níveis de coles- paciente, levando-se em consideração as comorbi- terol total (LDL e HDL), triglicérides e os níveis glicê- dades associadas. Deve-se adequar os alimentos micos também são modulados positivamente. (RO- consumidos, controlar a perda de peso corpóreo e VEDA et al., 2003; ZAGO e ZENESCO, 2006). acompanhar os exames bioquímicos. Os percentuais A prática regular de atividade física e uma reedu- de macronutrientes (carboidratos, proteínas e lipíde- cação alimentar são modificações no estilo de vida os) e de fibras são iguais tanto no tratamento do que podem trazer melhoras significativas na qualidade diabetes como na prevenção da doença arterial co- de vida de portadores de doenças cardiovasculares ronariana em pacientes diabéticos. Deve-se seguir (RIQUE et al, 2002). Um treinamento físico, juntamen- as recomendações da American Heart Association te com as diferentes atuações complementares, irão para calorias totais: lipídeos até 30% do valor calóri- oportunizar aos cardiopatas melhora na autoestima, co total; ácidos graxos saturados, menos que 10%; criando um cenário que favorece sua reinserção na ácidos graxos poliinsaturados, até 10%; ácidos gra- sociedade, além de prevenir novos eventos relaciona- xos monoinsaturados, de 10% a 15%, e a ingestão dos à doença. de colesterol menor do que 300mg/dia. O consumo O Educador Físico deve participar ativamente tanto de fibras deve representar 25g diárias. A dieta a ser na elaboração como na aplicação de exercícios físicos prescrita deve respeitar as particularidades de cada para pacientes, a partir da fase 2 de um programa de indivíduo, como gênero, peso, altura, prática de ati- reabilitação (considerada a primeira fase extra-hospita- vidade física e hábitos alimentares e ter em foco a lar). Além da atuação, nesta fase inicial, também pos- qualidade da gordura ingerida evitando a ingestão de sui um papel fundamental nas fases posteriores, prin- gorduras trans (hidrogenadas), pois, além de elevar cipalmente, no sentido de estimular o paciente a man- o colesterol total, aumentam também o LDL-C ter a prática regular de exercícios físcos (SBC, 2006). (KRAUSS et al., 2000; ALLITI et al., 2006). Em um estudo qualitativo relativo às dificuldades A ATUAÇÃO DO NUTRICIONISTA de profissionais da área da saúde na abordagem de O nutricionista é um profissional altamente capa- problemas alimentares, onde até então não havia nu- citado para participar em uma equipe multidisciplinar tricionista na equipe hospitalar, foram detectadas al- de reabilitação cardiovascular. A prática do nutricionis- gumas situações como: falta de embasamento teóri- ta em uma equipe multidisciplinar se dá através da co para analisar problemas alimentares, falta de crité- interferência no estado nutricional, tanto estando a rios para identificar problemas alimentares, falta de doença estabelecida, quanto no decorrer do trata- parâmetros para discernir problemas alimentares de mento. Sua atuação é de extrema importância tanto problemas econômicos, desconhecimento de técni- para manter o equilíbrio entre o alimento ingerido e o cas para abordar problemas alimentares, percepção quadro clínico do paciente quanto para minimizar as do problema alimentar como facticidade, necessida- possíveis consequências advindas de uma interação de de trabalhar com dietas padronizadas, conflito en- medicamentosa, reduzindo os fatores de risco para a tre conhecimento teórico e prática vivencial e desco- ocorrência de um novo evento cardíaco ou para o de- nhecimento do papel do nutricionista. Problemas que senvolvimento de doenças associadas. (OLIVEIRA & parecem ser banais, porém de extrema complexidade RADICCHI, 2005). quando enfrentado na prática clínica no tratamento Sua atuação prática se baseia no relacionamento dos pacientes, evidenciando-se assim a necessidade com o paciente, tendo assim um papel de educador de um profissional da área de nutrição atuando na de seus hábitos alimentares, traduzindo sua realida- equipe multidisciplinar (BOOG, 1999). Ciência em Movimento | Ano XI | Nº 23 | 2010/1 O papel de uma equipe multidisciplinar... A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO e sociais dos pacientes, favorecendo sua participação O avanço terapêutico e tecnológico em cardiologia, no cuidado (FARO, 2006). tem possibilitado uma maior sobrevida de pessoas Outro aspecto importante a ser considerado pelo acometidas por cardiopatias. A reabilitação é um pro- enfermeiro é a avaliação do suporte social do pacien- cesso dinâmico, contínuo, progressivo e principalmen- te com doença cardiovascular, pois este tem sido um te educativo visando a restauração funcional. Acredita- fator facilitador para o enfrentamento da doença e se que a consulta de enfermagem venha a contribuir recuperação dos mesmos. Além disso, poderá servir significativamente tanto para a avaliação e diagnóstico como subsídio para que o enfermeiro possa planejar quanto para o processo de reabilitação do paciente. melhor o preparo da alta visando uma melhor reabili- Neste sentido, um ponto de destaque da atuação do tação desses pacientes (MORAES & DANTAS, 2007). profissional de enfermagem, em função de sua rotina A especialização do profissional enfermeiro em áreas profissional, é a capacidade de diagnosticar necessida- específicas, como a da insuficiência cardíaca, tem pro- des bio-psico-sociais de seus pacientes. Sendo assim, piciado a este profissional um cuidado personalizado o assistir do enfermeiro reabilitador em cardiologia es- e diferenciado principalmente no atendimento domi- tá voltado a implementar intervenções que promovam ciliar. Neste tipo de atividade destaca-se a sua função o desenvolvimento de habilidades, melhora funcional, de facilitador na comunicação entre o paciente e os reintegração social e familiar e maior autonomia (VILA demais profissionais participantes da equipe multidis- & ROSSI, 2008). Em função de sua formação profis- ciplinar (DAVIDSON et al., 2005). sional o enfermeiro pode desenvolver atividades que envolvem desde a esfera gerencial, passando pela co- A ATUAÇÃO DO FISIOTERAPEUTA ordenação de programas educativos e de implemen- A atuação da fisioterapia nos pacientes portadores tação de assistência, assim como atuar como agente de doença cardiovascular vem crescendo na última educador de cuidados à saúde comunitária. Deste mo- década. O atendimento a estes pacientes tem como do, o papel de educador do profissional de enferma- objetivo o incremento da capacidade aeróbia e na re- gem projeta sua prática profissional para além da me- cuperação da força muscular periférica, proporcionan- ra função curativa, representando deste modo um do maior longevidade e a melhora da qualidade de papel fundamental nos processos de prevenção e re- vida. Além disso, o acompanhamento de um fisiote- abilitação (NETTINA, 2003; RABELO et al., 2007). rapeuta em todas as fases do tratamento da Insufici- Levando-se em consideração a ocorrência de do- ência Cardíaca é essencial, sobretudo no pré e pós- enças que, apesar de sua cura, promovem inúmeras transplante cardíaco, para minimizar a intolerância ao incapacidades aos indivíduos, o processo de reabilita- exercício provocada pelo descondicionamento mus- ção deve contemplar múltiplas dimensões e abordar cular (AL-RAWAS et al., 2000). o ser humano em constante interação com a socieda- Pacientes transplantados cardíacos que realizam de e seu meio ambiente. A atuação do enfermeiro na um programa de reabilitação, com frequência de qua- reabilitação é norteada por uma assistência holística tro vezes por semana e exercícios de intensidade mo- ao paciente, buscando melhores condições de vida, derada, apresentaram melhora da capacidade aeróbi- de integração social e independência para realizar su- ca em uma porcentagem que varia de 20% a 50%. Tal as atividades diárias. Além disso, a reabilitação do pa- resultado parece estar relacionado com o aumento do ciente cardíaco é um desafio tanto para ele e seus metabolismo periférico e mudanças hemodinâmicas, familiares como para o profissional enfermeiro, pois tais como aumento da frequência e do débito cardía- fazem um esforço conjunto para melhorar as funções co, aumento da função endotelial e redução da ativi- perdidas ou diminuídas e, assim, preservar a capaci- dade neuro-humoral, mas principalmente pela melhor dade de autocuidado de cada indivíduo. O profissional extração de oxigênio promovida pela melhora da ca- enfermeiro estabelece um plano de cuidados a curto, pacidade do exercício (GUIMARÃES et al., 2004). médio e longo prazo, que deve ser condizente com as A utilização dos exercícios resistidos também tem necessidades, expectativas e possibilidades clínicas se mostrado benéfica com o incremento da massa Ciência em Movimento | Ano XI | Nº 23 | 2010/1 103 O papel de uma equipe multidisciplinar... muscular e da densidade óssea nos pacientes que o transplante cardíaco, e o fisioterapeuta pode, e deve apresentam perda da massa magra e óssea decorren- atuar, na medida do possível, com outros profissionais tes da insuficiência cardíaca e pelo uso imunossupres- da área da saúde (FERRAZ e ARAKAKI, 1995; TEGT- sores, após o transplante (BRAITH et al., 1996). O BUR et al., 2003). programa de treinamento físico deve incluir treina- Como conclusão, pode-se observar que sistema- mento aeróbio e resistido, pois se trata de uma efeti- ticamente a literatura destaca que um desfecho satis- va intervenção para melhorar a capacidade aeróbica fatório (considerado não somente como uma reabili- nessa população (MARCONI & MARZONATI, 2003). tação biológica, mas também a integração satisfatória O protocolo de exercícios quando aplicado nas fa- do indivíduo cardiopata na sua rotina familiar, social e ses II e III (ambulatoriais) deve ter a frequência de três profissional) de um programa de reabilitação cardio- sessões semanais com duração de 45 a 60 minutos. vascular, necessita de uma abordagem multidiscipli- A intensidade do exercício deve ser ajustada de acor- nar, onde a avaliação, o diagnóstico, a definição da do com o limiar anaeróbico. As sessões são compos- melhor estratégia de atuação como também o acom- tas por uma fase de aquecimento, uma de condicio- panhamento da evolução do tratamento, devam con- namento (atividade aeróbica e treino de resistência templar as diferentes experiências e possíveis ferra- muscular) e outra fase de relaxamento. A reabilitação mentas disponibilizadas por estes agentes de saúde. cardiovascular tem um papel fundamental na readap- Destaca-se, também, a comprovada economia em tação do paciente à sociedade, promovendo a melho- termos de gastos públicos, quando da implantação de ra da capacidade funcional e da qualidade de vida após programas de reabilitação com estas características. 104 Ciência em Movimento | Ano XI | Nº 23 | 2010/1 O papel de uma equipe multidisciplinar... REFERÊNCIAS FARO A.C.M. Enfermagem em Reabilitação: amplian- ALLITLI, G.B.; SILVA, R.C.C; RUSCHEL, P.P; MORA- do os horizontes, legitimando o saber. Revista Escola ES, M.A; RABELO, E.R. 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