1 AVALIAÇÃO DA COBERTURA VACINAL CONTRA HEPATITE B NO MUNICÍPIO DE TERESINA-PI RESUMO Objetivo: avaliar a cobertura vacinal contra hepatite B no município de Teresina-PI, no período compreendido entre os anos de 2008 a 2012. Método: o presente estudo é de natureza descritiva, epidemiológica, realizado por meio dos relatórios emitidos pelo programa Sistema Informatizado do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI), a qual é de domínio público. Os dados foram coletados em abril de 2014, porém, são referentes ao período de 2008 a 2012. Resultados: houve um aumento no número de doses aplicadas ao longo dos anos, faixa etária menor de 01 (um) ano e a de 01 (um) ano de idade houve um aumento anual do número de doses aplicadas principalmente nos anos de 2010 a 2012. Conclusão: a verificação das coberturas vacinais contra a população com idades entre 1 a 29 anos, ainda necessitam de intensificação uma vez que, as doses de vacinas aplicadas variam muito a cada ano. Descritores: cobertura vacinal; vacinação; hepatite B. Introdução A hepatite viral é caracterizada por um grupo de doenças do fígado que são ocasionadas por uma infecção viral dos hepatócitos do fígado. É acarretada por infecções virais diferentes e está normalmente associado com um dos cinco vírus específicos que infectam os hepatócitos. Estes agentes foram designados vírus da hepatite humanos e são chamados de HAV, HBV, HCV, HDV, e HEV. 1 A infecção com a hepatite viral crônica afeta 550 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo que 350 milhões estão infectadas com o vírus da hepatite B (VHB), 185 2 milhões pelo vírus da hepatite C (HCV) e 15 milhões, com o vírus da hepatite delta. A hepatite viral provoca mais de 1 milhão de mortes por ano, países de baixa renda sofrem mais com essa problema devido ao acesso limitado aos serviços de saúde, só na áfrica aproximadamente 100 milhões de pessoas são estimados para estar infectado com HBV ou HCV em contrapartida nos países ricos a média chega a 23 milhoes. 2 Hepatite B (HBV) é um vírus de ADN que pode ser adquirido por meio de exposição, tanto vertical como horizontal, a sangue infectado ou outros fluidos corporais, as formas de contágio mais importantes são a via sexual, a inoculação percutânea através de objetos perfurocortantes e a transmissão vertical, seja por via transplacentária, no momento do parto, ou durante o aleitamento materno e através dos cuidados neonatais, o período de incubação é de 1 a 4 meses. Durante a fase prodrômica, os pacientes podem sentir uma reação sickness like soro, que é seguida por anorexia, náusea, dor abdominal no quadrante superior direito e icterícia. 3 Neste contexto, a principal forma de prevenção é por meio da vacinação contra hepatite B. Como o VHB é uma das principais causas de câncer de fígado no mundo, a vacinação não previne apenas a hepatite como também o câncer, ou seja, a mesma previne a doença aguda, impedindo a cronificação da hepatopatia. Mais de 80 países já adotaram a vacinação para toda a população como estratégia de combate à doença. 4 A vacina contra hepatite B é indicada em três doses, sendo a segunda e a terceira doses aplicadas um e seis meses, pessoas com até 24 anos, 11 meses e 29 dias foram incluídas no programa de imunização. Além disso, adultos dos 25 aos 59 anos, vulneráveis não vacinados ou sem comprovação de vacinação anterior, a saber: gestantes, após o primeiro trimestre de gestação; trabalhadores da saúde; bombeiros, policiais militares, civis e rodoviários; caminhoneiros, carcereiros de delegacia e de penitenciarias; coletores de lixo hospitalar e domiciliar; agentes funerários, 3 comunicantes sexuais de pessoas portadoras de VHB; doadores de sangue; homossexuais, bissexuais e transexuais; pessoas reclusas; manicures, pedicures e podólogos; potenciais receptores de múltiplas transfusões de sangue; profissionais do sexo; usuários de drogas injetáveis, inaláveis e pipadas; e portadores de DST devem receber a vacina.5 Desta forma a hepatite é caracterizada um grave problema de saúde pública, no Brasil estima-se que pelo menos 15% da população já foi exposto ao HBV, algumas áreas têm uma prevalência mais elevada de HBV, como a Amazônia ocidental e até mesmo algumas partes do sul do Brasil, a cobertura vacinal é um componente importante na prevenção dessa infecção, conhecer a cobertura vacinal real é importante para a avaliação e melhoria das estratégias de prevenção atuais. 6 Baseado neste contexto, esta pesquisa tem como objetivo avaliar a cobertura vacinal contra hepatite B no município de Teresina-PI, no período compreendido entre os anos de 2008 a 2012. Métodos Trata-se de um estudo de natureza descritiva, quantitativo e epidemiológico. Os dados foram coletados por meio dos relatórios emitidos pelo programa Sistema Informatizado do Programa Nacional de Imunização (SI-PNI), que é ligado ao Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde – DATASUS referentes ao acompanhamento da cobertura vacinal contra a Hepatite B no município de Teresina-PI que foram registradas no programa no período de 2008 a 2012, mediante a utilização de um formulário previamente elaborado. Foram incluídos indivíduos de ambos os sexos, com faixa etária entre zero e 29 anos que apresentaram o esquema vacinal, contra o VHB, completo ou incompleto, referente às três doses do calendário vacinal. Após a coleta procedeu-se a tabulação dos dados. Realizou-se análise descritiva simples, utilizando-se o software de planilha eletrônica Excel. Os achados mais 4 significativos foram apresentados em tabelas. A discussão dos dados foi feita com base na produção científica sobre a temática. Considerando, que a pesquisa foi realizada a partir de uma base de dados de domínio público, não foi necessária submissão a Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados Considerando o período de estudo proposto, a Tabela 01, a seguir, demonstra o número de doses aplicadas de vacinas contra hepatite B no intervalo dos anos de 2008 a 2012: Tabela 01. Número de doses da vacina Hepatite B aplicadas por ano no município de Teresina no período de 2008 a 2012. Anos Números de Doses 2008 260.130 2009 253.244 2010 259.157 2011 334.479 2012 466.336 Total 1.573.346 FONTE: DATASUS Analisando a Tabela 01 percebe-se que crescimento no número de doses ao longo dos anos, o ano de 2012 obteve valores mais expressivos quando equiparado aos demais. A Tabela 02, a seguir, mostra as doses demonstradas na tabela anterior, distribuídas por faixa etária no período de 2008 a 2012. 5 Tabela 02. Número de doses da vacina Hepatite B aplicadas por faixa-etária no município de Teresina no período de 2008 a 2012. FAIXA- ETÁRIA 2008 < 1ANO 180.946 183.792 186.524 225.873 338.293 1.115.428 1 ANO 37.080 37.800 42.648 60.806 64.710 2.430.44 2 ANOS 1.588 1.635 1.227 502 635 5587 3 ANOS 1.358 1.034 910 270 160 3732 4 ANOS 13.695 16.149 15.872 17.552 23.236 86.504 5 a 10 ANOS 1.652 214 179 110 152 2.307 11 a 14 ANOS 6.363 2.182 2.308 1.510 1197 13.560 15 a19 ANOS 12.279 6.971 8.186 7.101 6.698 41.235 20 a 24 ANOS 2.668 2.141 740 12.977 17.186 35.712 25 a 29ANOS 2.501 1.516 563 7.778 14.069 26.427 FONTE: DATASUS 2009 2010 2011 2012 TOTAL 6 A faixa etária menor de 01 (um) ano e a de 01 (um) ano de idade houve um aumento anual do número de doses aplicadas principalmente nos anos de 2010 a 2012, de 02 (dois) e 03 (três) anos ocorreu uma variação no número de doses, sendo que nos anos de 2008 e 2009 teve o maior número e nos anos de 2010 a 2012 houve um número menor. Na faixa etária de 05 ocorreu uma diminuição das doses por ano, com exceção de 2010, entre 15 a 19 anos há uma variação significativa e de 20 a 29 anos houve uma diminuição do número de doses aplicadas nos anos de 2008 a 2010 e um aumento exponencial nos anos de 2011 e 2012. Discussão Analisando a Tabela 01 percebe-se que houve um aumento no número de doses ao longo dos anos tendo em vista que o Ministério da Saúde promoveu várias campanhas estendendo a faixa etária que antes era até 19 anos, a partir de 2011 de 20 a 24 anos e em 2012 passou a ser 25 a 29 anos. Isto ocorreu devido ao aumento do número de casos de hepatite B ter aumentado nessa população, considerada sexualmente ativa. Essa cobertura vacinal tende a aumentar em 2013 estendendo para a população com faixa etária de 30 a 49 anos. Os adolescentes têm sido considerados um grupo com risco elevado de exposição ao VHB, pois apresentam tendência a relações sexuais sem proteção e com múltiplos parceiros, experiências com drogas ilícitas e uso abusivo de álcool. Além disso, os adolescentes são suscetíveis à pressão negativa de seus parceiros, além da sensação de invulnerabilidade e imortalidade, e apresentam dificuldades em associar comportamentos de risco atual e consequências futuras. Assim, estudos têm mostrado um aumento da positividade para o VHB na adolescência que se estende até a idade adulta.7 7 Considerando as vacinas como instrumentos de uma prática de alcance coletivo, entende-se que o ato de vacinar, em sua dimensão individual, resulta em proteção não só do indivíduo vacinado contra determinadas doenças, mas também na proteção da coletividade em que esse sujeito está inserido. Dessa forma, essa ação mesmo quando realizada na rotina das Unidades de Saúde toma uma dimensão coletiva, visto estar voltada a indivíduos inseridos em determinado contexto social e em uma realidade epidemiológica específica. Ao analisar a tabela 2 pode-se afirmar que na faixa etária menor de 01 (um) ano e a de 01 (um) ano de idade houve um aumento anual do número de doses aplicadas principalmente nos anos de 2010 a 2012. Esse aumento é justificado devido à expansão do número de equipes da Estratégia Saúde da Família abrangendo, desta forma, um maior número de família, o que propiciou um acompanhamento mais próximo, principalmente com as visitas dos agentes comunitários de saúde e dos outros membros da equipe. Nas faixas etárias de 02 (dois) e 03 (três) anos houve uma variação no número de doses aplicadas por ano, sendo que nos anos de 2008 e 2009 teve o maior número de doses aplicadas e nos anos de 2010 a 2012 houve um número menor de doses aplicadas da vacina contra a Hepatite B. Já na idade de 04 (quatro) anos, houve uma crescente no número de doses aplicadas anualmente com exceção do ano de 2010 quando aconteceu uma discreta diminuição do número de doses aplicadas. Na faixa etária de 05 (cinco) a 10 (dez) anos ocorreu uma diminuição significativa do número de doses aplicadas da vacina nos anos de 2008 a 2012, o mesmo acontecendo na faixa etária de 11 a 14 anos, com exceção do ano de 2010 em que houve um aumento do número de doses. 8 O aumento do número de doses em menores de 01 ano consequentemente diminui o número de doses em outras idades da infância tendo em vista que de acordo com o calendário básico de vacinação, as doses de vacinas da hepatite B devem ser administrada até 01 ano de idade. As doses desta vacina em crianças com faixa etária maior de 01 ano são doses atrasadas. Com a expansão das equipes a partir do ano de 2010 houve um aumento do número de doses em crianças menores de 01 ano e 01 ano e um decréscimo nas outras faixas etárias da infância demonstrando assim um acompanhamento de qualidade desta população no município de Teresina.8 A vacinação é ofertada pela Atenção Básica, sobretudo pela Estratégia Saúde da Família, que busca a complexa integração de ações individuais e coletivas, curativas, preventivas e de promoção em saúde, com o objetivo de proporcionar o enfrentamento e a resolução de problemas de saúde, em um território definido. Através da análise da tabela percebe-se a necessidade das equipes de Saúde da Família investirem no processo de educação em saúde, sensibilizando os adolescentes quanto à necessidade de vacinação. Apesar da adoção de um calendário nacional de vacinação e as vacinas serem oferecidas à população, sua utilização depende da decisão pessoal do adolescente para se vacinar. A promoção de educação, com recursos da própria comunidade e a reorganização das práticas de saúde nas salas de vacinação, bem como a corresponsabilização pela proteção são passos para uma ação mais abrangente em termos de solução dos problemas de saúde, em especial, a melhoria da cobertura vacinal.9-10 Ao observar a faixa etária de 15 (quinze) a 19 (dezenove) anos verificamos que há uma variação muito grande no número de doses aplicadas anualmente, ocorreu uma diminuição significativa do número de doses do ano de 2008 ao ano de 2009, em 2010 9 volta a ter um aumento do número de doses e nos anos seguintes 2011 e 2012 novamente volta a cair o número de doses aplicadas nessa faixa etária. Nas faixas etárias de 20 (vinte) a 24 (vinte e quatro) anos e 25 (vinte a vinte cinco) a 29 (vinte e nove) anos houve uma diminuição do número de doses aplicadas nos anos de 2008 a 2010 e um aumento exponencial nos anos de 2011 e 2012. Esse acréscimo no número de doses aplicadas no ano de 2011 deve-se ao Ministério da Saúde ter estendido a faixa etária para 20 a 24 anos e foi realizada intensa campanha nacional de vacinação contra a hepatite B nessa faixa etária, e no ano de 2012, o Ministério da Saúde estendeu novamente a faixa etária para 25 a 29 anos justificando, assim, o acréscimo do número de doses. Conclusão A aproximação com o objeto deste estudo e o alcance dos seus objetivos, nos indicou que a verificação das coberturas vacinais contra a população com idades entre 1 a 29 anos, ainda necessitam de intensificação, uma vez que, as doses de vacinas aplicadas variam muito a cada ano, merecendo, assim de uma maior sensibilização dos gestores locais, dos profissionais de saúde e da sociedade para obtenção de resultados satisfatórios. Entendemos que a cobertura vacinal na população de Teresina, ainda pode ser melhorada, através do fornecimento de vacinas em um cenário escolar de acordo com a proposta do Programa de Saúde do Escolar em conjunto com a Estratégia Saúde da Família, e a participação efetiva dos gestores para que sejam garantindo locais adequados, horários de atendimento pelas equipes de vacinação baseadas nas necessidades da clientela, que promovam a qualidade dos serviços prestados, o acolhimento e a adesão da população, estabelecendo estratégias para uma vacinação 10 rápida, informativa e agradável, evitando estresse, tumultos, filas e falhas, atendendo, assim, os princípios de atenção humanizada. Também é importante que campanhas de prevenção sejam empregadas com o objetivo de informar a população sobre os riscos da Hepatite B e suas formas de transmissão – parenteral e sexual – e como evitar o contágio da doença, além de informar sobre a vacinação, que tem sido de extrema importância no combate ao HBV. Referências 1. Weinman AS, Taylor R. Viral Hepatitis. Pathobiology of Human Disease. Dynamic Encyclopedia of Disease Mechanisms. 2014: 1838–1856. 2. Lemoine ML, Eholie S, Lacombe k. Reducing the neglected burden of viral hepatitis in Africa: Strategies for a global approach. J Hepat [Internet]. 2015 Feb [cited 2011 Dec 04]; 62(2): 469–76. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0168827814007375 3. Jayakumar S, Chowdhury R, Carrie Y, Karvellas CJ. Fulminant Viral Hepatitis. Crit Care Clin [Internet]. 2013 Jul [cited 2011 Dec 04]; 29(3): 677–97. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0749070413000304. 4. 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