Mito e lógos eM platão

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Mito e lógos em platão
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Mattei, Jean-François
Pitágoras e os pitagóricos / Jean-François Mattéi ; [tradução
Constança Marcondes Cesar]. — São Paulo : Paulus, 2000. —
(Coleção Filosofia em questão)
Título original : Pythagore et les pythagoriciens.
Bibliografia.
ISBN 85-349-1688-8
1. Filosofia antiga 2. Pitágoras 3. Pitagorismo I. Título. II. Série.
00-2041CDD-182.2
Índices para catálogo sistemático:
1. Pitagorismo : Filosofia 182.2
Coleção filosofia em questão
•Pensamento ético contemporâneo, Jacqueline Russ
•Pitágoras e os pitagóricos, Jean-François Mattéi
•Pensar com Emmanuel Levinas, Benedito E. Leite Cintra
• Nietzsche – Viver intensamente, tornar-se o que se é, Mauro Araujo de
Sousa
•Nietzsche: Para uma crítica à ciência, Mauro Araujo de Sousa
•Introdução a Ricoeur, Domenico Jervolino
• O sofrimento como redenção de si – Doença e vida nas filosofias de
Nietzsche e Pascal, Thiago Calçado
• A pobreza e a graça – Experiência de Deus em meio ao sofrimento em
Simone Weil, Alexandre Andrade Martins
•Introdução à mitologia, José Benedito de Almeida Júnior
•Mito e Lógos em Platão: Um estudo a partir de excertos dos diálogos
República, Político e Fedro, Kris Jareski
•A formação da pessoa em Edith Stein: um percurso de conhecimento
do núcleo interior, Adair Aparecida Sberga
kris jareski
mito e lógos
em platão
Um estudo
a partir de excertos
dos diálogos
República, político e fedro
Direção editorial: Claudiano Avelino dos Santos
Assistente editorial: Jacqueline Mendes Fontes
Revisão:Tarsila Doná
Cícera G. S. Martins
Revisão técnica:Ivanete Pereira
Diagramação: Ana Lúcia Perfoncio
Capa: Marcelo Campanhã
Editoração, impressão e acabamento: PAULUS
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Jareski, Kris
Mito e lógos em Platão: Um estudo a partir de excertos dos diálogos
República, Político e Fedro / Kris Jareski. – São Paulo: Paulus, 2015. –
(Coleção filosofia em questão)
ISBN 978-85-349-4044-3
1. Filosofia antiga 2. Mito – Filosofia 3. Platão. Diálogos I. Título. II. Série.
14-12078CDD-184
Índices para catálogo sistemático:
1. Platão: Filosofia 184
1ª edição, 2015
© PAULUS – 2015
Rua Francisco Cruz, 229
04117-091 São Paulo (Brasil)
Fax (11) 5579-3627
Tel. (11) 5087-3700
www.paulus.com.br
[email protected]
ISBN 978-85-349-4044-3
O deus acha passagem para o inesperado.
Assim acabou este drama aqui.
Eurípides, As Bacantes – v. 1391-2
PREFÁCIO
Rachel Gazolla1
No ano de 2011, janeiro, Kris Jareski faleceu
inesperadamente de uma embolia. Estava investigando a questão do uso do mito em Platão, sob
minha orientação, e havia viajado a Madrid para
aprofundar seus estudos. No entanto, com uma
fratura na perna devido a uma queda, teve que
voltar ao Brasil. Foi então que... Jovem, vigoroso,
inteligente, sensível, músico de primeira linha,
estava trabalhando no seu doutorado sobre Platão e os mitos há tempos, mas não podíamos saber que não o terminaria. Vi-me, surpresa, diante
dos seus textos – que vinha seguindo como orientadora –, e achei por bem editá-los: afinal, uma
pesquisa sobre Platão, com o cuidado que Kris
Jareski estava dando a ela, não é sempre que se
encontra.
O leitor merece saber desses detalhes antes de
entrar na leitura deste livro. Eu o revisei, rearticu1
Rachel Gazolla de Andrade é professora titular de História da
Filosofia Antiga na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
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lei – sem transformar em nada a ideia de Jareski,
muito bem fundamentada em textos interpretativos e do próprio Platão. Não escrevi uma conclusão, creio que não poderia e não deveria. Sua obra
já estava concluída, de alguma maneira. O que poderia o leitor perguntar, eventualmente, ao final de
sua leitura, seria: o que é a alma para Platão? Ora, a
resposta é complexa, imensa e tem sido minha preocupação há décadas. Nada falta de fundamental
circunscrito ao estudo do mŷthos e lógos e o uso
do mito em Platão, se a resposta sobre “o que é a
alma” não aparece.
Sabemos que Platão é um filósofo ardiloso
na composição de seus diálogos, ao misturar argumentos, mitos, alegorias, metáforas para, digamos assim, burilar seu discípulo (leitor) e aprimorar sua capacidade de usar o lógos, de modificar
sua vida, sua alma, esse ser invisível e complexo para a Filosofia. No diálogo Alcibíades, diante
da pergunta “quem é Alcibíades?”, Sócrates diz:
“Alcibíades é sua alma”. Essa é a resposta que o
estudioso de Platão não pode esquecer. Ora, do
fato de a Filosofia platônica não ser mítica, mas
precisar do mito, vem o título deste livro Mito e
lógos em Platão: um estudo a partir de excertos dos
diálogos República, Política e Fedro. Embora não
se possa buscar ancoragem na psykhé da épica e
lírica gregas para compreender o afastamento do
mito no pensamento de Platão, sabemos que ele
vale de todas as possíveis imagens míticas para
falar da alma (logo, do conhecer humano). Isso
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o autor recolhe mesmo sem responder o que é a
alma.
Jareski trabalha não só com os diálogos indicados: o nuclear é a República, mas se vê obrigado
a percorrer outros diálogos importantes – Político, Fedro –, bem como avaliar o ideário de muitos
intérpretes do assunto (que podem interferir demais com conceitos assentados em nossa época e
sombrear a fala platônica) até ter claro para si o
que pretende Platão com tal uso. Afinal, o filósofo
desenvolve uma “fria” dialética, sendo que o mito
é “caloroso”. Nada mais prazeroso, diz o próprio
Platão, do que o relato de mitos, o bom uso de
metáforas e alegorias, isto é, adentrar no mundo
do simbólico e inquirir sobre o que o mito dará se
mergulharmos nele, como fazem os poetas. Ora,
a República é um diálogo pródigo nesse tipo de
linguagem que, sendo mais pertinente aos poetas, é fundamental na formação da alma (como
paideia). Aliás, apesar de Platão criticar os poetas
por motivos muito bem determinados no livro II
e X da República, é ele o grande escritor-filósofo
de língua grega, é ele quem redimensiona o mítico na filosofia e que acabará se perdendo no caminho do Ocidente, desgostoso do uso de imagens misturadas à forma argumentativa de conhecer. É esse o caminho que o autor pretendeu
fazer junto aos diálogos de Platão, procurando o
sentido do mito num filósofo que pensou as Formas, os seres mais abstratos que temos no conhecimento.
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Como o índice deste livro indica, antes de
enfrentar os diálogos escolhidos para um estudo mais profundo (República, Político, Fedro),
Jareski acolhe os antecedentes da cultura grega
de que Platão dispunha para pensar, revolvendo
a visão mais simplista que se assentou entre nós,
quanto à dicotomia mŷthos e lógos, da qual devemos desconfiar. Está claro que tal problemática
haverá de chegar à noção de dialética platônica,
como tékhne e como epistéme, muito bem explicitada pelo autor no capítulo III, não sem antes
tocar nos primórdios do que seja a dialética, com
Zenão de Eleia e sua escola, ao explicitar a maiêutica socrática e evidenciá-la, nas semelhanças e
diferenças, com Platão. É um trabalho que ajuda
muito os pesquisadores de Platão, um caminho
que todos têm que trilhar e que Jareski abre, facilitando as investigações dos estudiosos brasileiros
dessa área.
O caminho foi aprofundado, e foram marcados os passos no barro mole. Então, nada mais
claro do que introduzir para estudo o “orfismo”,
uma seita mística que influenciou muitos filósofos, como os pitagóricos, talvez Sócrates e, quem
sabe, Platão. Esse tema é objeto do capítulo IV
deste livro. Nele é apresentado um esboço do problema, esboço já adiantado para um desenvolvimento futuro que Jareski faria (e aqui entramos
no condicional): a chamada teoria das formas se
ligaria a uma concepção de alma órfica apontada
em passagens do Fédon e do Fedro? Ou não? Tal-
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vez fosse a busca dessas respostas que modelariam
o capítulo V. Mas a alma de Jareski não pôde completar... Foram-se corpo e alma, e fica a abertura
para um outro estudioso continuar a obra.
Não posso deixar de agradecer, veementemente, à família de Kris Jareski pela confiança em depositar seus textos em minhas mãos, e a Ivanete
Pereira, estudiosa de mitos, que me auxiliou na
estruturação deste texto.
“... desenvolvo meu ser até encostar na pedra.
Repousa uma garoa sobre a noite.
Aceito no meu fado escurecer.
No fim da treva uma coruja entrava.”
O livro das ignorãças - Manoel de Barros
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