associação do processo de envelhecimento com o

Propaganda
revisão de literatura/ Bibliography Review
Associação do processo de envelhecimento
com o surgimento da doença periodontal
The aging process and its association of with the emergence of periodontal disease
Maria Helena Chaves de Vasconcelos Catão
Doutora em Odontologia (Laser na Odontologia) pela Universidade Federal da Bahia.
Professora; Doutora do Programa de Pós-Graduação em Odontologia da UEPB. Professora das Disciplinas
Odontogeriatria e Dentística da Universidade Estadual da Paraíba/ UEPB, Campina Grande – PB, Brasil.
Amanda Katarinny Goes Gonzaga
Graduanda em Odontologia pela Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande – PB, Brasil.
Larissa Rangel Peixoto
Graduanda em Odontologia pela Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande – PB, Brasil.
RESUMO
A população brasileira está passando por um processo de envelhecimento e, assim sendo, ressalta-se a
importância de considerar a idade como um fator que pode interferir no surgimento de alterações bucais.
Comprometimento sistêmico, uso de fármacos, carências nutricionais e redução da destreza manual e da
acuidade visual são condições que podem ser evidenciadas nos pacientes geriátricos e que se mostram
diretamente ligadas ao surgimento da doença periodontal. A presente revisão busca descrever uma
possível associação do envelhecimento com a doença periodontal, uma vez que essas alterações podem
ser desencadeadas na cavidade oral com o decorrer da idade. Como a saúde sistêmica e a saúde bucal
estão intimamente relacionadas, é necessário haver uma abordagem multidisciplinar do quadro do paciente
geriátrico, de modo a definir um plano de tratamento adequado para este segmento da população.
Palavras-chave: odontologia geriátrica, assistência odontológica para idosos, periodontia.
ABSTRACT
The Brazilian population is undergoing a process of aging and, therefore, we stress the importance of
considering age as a factor that may interfere with the emergence of oral abnormalities. Systemic damage,
the use of medication, nutritional deficiencies and reduced manual dexterity and visual acuity are conditions
that can be found in geriatric patients and are directly connected to the emergence of periodontal disease.
The present review aims at describing the possible association of periodontal disease with aging, since
these changes can be triggered in the oral cavity in the course of aging. Since systemic health and oral
health are closely related, there should be a multidisciplinary approach to the geriatric patient’s clinical
condition in order to determine an appropriate treatment plan for this segment of the population.
Keywords: geriatric dentistry, dental care for the elderly; periodontics.
FOL • Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep • 23(2) 53-60 • jul.-dez. 2013
ISSN Impresso: 0104-7582 • ISSN Eletrônico: 2238-1236
DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2238-1236/fol.v23n2p53-60
53
Maria Helena Chaves de Vasconcelos Catão et al.
Introdução
O envelhecimento é caracterizado por ser
um processo que ocorre naturalmente na vida
do indivíduo, produzindo alterações funcionais
do organismo e tornando o sujeito mais
vulnerável ao aparecimento de doenças.1
Assim como os demais sistemas do
organismo, a cavidade bucal também sofre
alterações com o decorrer da idade. Dessa
forma, podem ser encontrados aspectos como
perda dos dentes, desenvolvimento de doença
periodontal e cárie radicular.2
A doença periodontal, reconhecida por
ser um processo inflamatório progressivo
decorrente da atuação de bactérias orais nos
tecidos gengivais e ósseos, deve ser analisada
com enfoque nas diversas alterações
fisiológicas que ocorrem no organismo
do indivíduo. Neste contexto, condições
patológicas decorrentes do envelhecimento
podem predispor o idoso a apresentar doenças
que envolvem a cavidade bucal.3,4
Pelo fato de o processo de envelhecimento
englobar diversas mudanças fisiológicas,
presença de doenças sistêmicas crônicas e
alta incidência de deficiências físicas e mentais,
um tratamento especializado e diferenciado
deve ser incluído na odontologia geriátrica.
Portanto, os idosos devem ser orientados
sobre critérios para prevenção de patologias
bucais, priorizando melhorias das condições
de vida dos indivíduos e dos indicadores de
saúde pública.5,6
Esta revisão da literatura tem como
objetivo alertar o cirurgião-dentista sobre a
necessidade de um tratamento diferenciado
para o paciente idoso, uma vez que o processo
de envelhecimento está intimamente ligado a
aspectos que envolvem sua saúde bucal e
sistêmica. A partir disso, um enfoque especial
será dado ao desenvolvimento e abordagem
54
da doença periodontal neste segmento da
população.
Revisão de literatura
O Brasil está passando por um processo
de envelhecimento populacional rápido e
intenso. Ressalta-se, portanto, a necessidade
de oferecer uma maior qualidade de vida ao
idoso nos aspectos físico, social e psicológico.
Partindo desta realidade, a saúde sistêmica e
bucal do segmento idoso deve ser avaliada com
bastante atenção, uma vez que a expectativa
de vida do brasileiro continuará aumentando
nos próximos anos.7
O envelhecimento, por ser um processo
dinâmico e progressivo, gera modificações
morfológicas, funcionais e bioquímicas que
podem interferir no quadro de saúde geral e
bucal, tornando o idoso mais vulnerável a
doenças que comprometem seu bem-estar e
sua qualidade de saúde.8
As diversas experiências enfrentadas ao
longo da vida estruturam os diferentes valores
que a saúde bucal tem para o paciente geriátrico.
Dessa forma, é fundamental enfatizar que a
cavidade bucal deve permanecer saudável
para representar sedimentação dos cuidados,
busca por conhecimento e preocupação do
idoso com sua saúde.9
Assim como todo o organismo, as estruturas
bucais sofrem a ação do envelhecimento.
As manifestações sistêmicas, deficiências
nutricionais e efeitos colaterais dos fármacos
utilizados produzem alterações que repercutem
na saúde bucal, no funcionamento dos tecidos
periodontais, nos dentes e nas estruturas
relacionadas à cavidade bucal.10,11
Rosa et al.4 destacam que, com o passar da
idade, algumas condições clínicas fisiológicas
podem ser observadas, como redução da
capacidade gustativa, alteração das glândulas
FOL • Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep • 23(2) 53-60 • jul.-dez. 2013
ISSN Impresso: 0104-7582 • ISSN Eletrônico: 2238-1236
DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2238-1236/fol.v23n2p53-60
Associação do processo de envelhecimento com o surgimento da doença periodontal
salivares, alterações no periodonto e alterações
do sistema mastigatório e da estrutura dental.
As alterações da cavidade oral produzidas
pelo aumento da idade acarretam alterações
fisiológicas que predispõem o idoso a
apresentar condições patológicas típicas
do envelhecimento. Neste caso, a doença
periodontal gera modificações gengivais
e ósseas comumente encontradas nos
pacientes idosos.8,12
O
aspecto
mais
importante
no
desenvolvimento
dos
procedimentos
periodontais na terceira idade envolve uma
anamnese minuciosa, uma vez que é de
extrema importância considerar as condições
sistêmicas do idoso para, posteriormente,
delinear um plano de tratamento adequado.13
A partir disso, o cirurgião dentista deve
manter o diálogo com o idoso, procurando
obter informações sobre sua saúde sistêmica,
os fármacos por ele ingeridos, o tipo de
acompanhamento médico realizado e os
aspectos que possam repercutir na saúde
bucal deste paciente.7,14
Como o uso de fármacos na terceira idade
é comum, é imprescindível que o cirurgião
dentista mantenha um contato direto com o
médico que acompanha seu paciente idoso,
a fim de trocar informações sobre os efeitos
que estes medicamentos provocam na saúde
geral e bucal. Além disso, é importante que o
paciente seja encaminhado ao médico para
que este ateste suas condições de saúde e
avalie se está apto à realização do plano de
tratamento necessário.14
A doença periodontal é definida como uma
patologia que afeta os tecidos de proteção e
sustentação dos dentes, sendo considerada
um processo infeccioso caracterizado pela
associação do acúmulo local da placa dentária
e pela presença de uma microbiota periodontal
patogênica. Fatores que afetam a progressão
e agressividade da doença periodontal, como
o uso de cigarro, comprometimento sistêmico
e a xerostomia, podem ser evidenciados nos
paciente idosos.4,15
A doença periodontal tem como etiologia
a placa bacteriana que se acumula e adere
à superfície dos dentes, acarretando uma
destruição dos tecidos locais. A partir disso,
a resposta inflamatória é iniciada quando os
produtos das bactérias penetram nos tecidos
periodontais.4 O sangramento gengival,
a presença de cálculo, a profundidade
de sondagem e a perda de inserção são
os principais indicadores clínicos desta
patologia.3
A idade apresenta-se como um dos
fatores de risco para o desenvolvimento da
doença periodontal pelo fato de haver perda
natural da tonicidade muscular, diminuição
da autolimpeza e dificuldade motora com o
decorrer do envelhecimento. Estes fatores
acarretam uma higiene oral deficiente, maior
acúmulo de placa e perda dentária.12,16,17,18
Por outro lado, a literatura mostra que,
isoladamente, a idade não é considerada
fator de risco para a doença periodontal,
já que a perda de inserção desenvolvida
seria compatível com a saúde dos tecidos
bucais. A profundidade da bolsa e a presença
de biofilme dental acumulado, cálculo e
inflamação gengival são fatores que também
devem ser considerados durante o estudo
desta patologia.15 Dessa forma, as mudanças
observadas no periodonto e atribuídas
unicamente à idade não seriam suficientes
para produzir a perda dentária.16
Barbosa e Barbosa10 ainda apontam que o
acréscimo no índice de cáries radiculares no
idoso está relacionado à exposição das raízes,
geralmente por problemas periodontais, e não
por repercussões relacionadas à idade.
As
principais
alterações
gengivais
encontradas em pacientes idosos são:
diminuição da queratinização, aumento na
largura da gengiva inserida com localização
constante da junção mucogengival, diminuição
FOL • Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep • 23(2) 53-60 • jul.-dez. 2013
ISSN Impresso: 0104-7582 • ISSN Eletrônico: 2238-1236
DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2238-1236/fol.v23n2p53-60
55
Maria Helena Chaves de Vasconcelos Catão et al.
da celularidade do tecido conjuntivo, aumento
na quantidade de substâncias intercelulares,
redução no consumo de oxigênio, retração e
perda de inserção gengival.18
Moura et al.19 ainda apontam que a
diminuição da destreza manual e acuidade
visual, a redução na capacidade de defesa do
sistema imunológico e o envelhecimento das
células do periodonto tornam o processo de
inflamação gengival mais acelerado.
Como o idoso perde a habilidade para
executar o controle do biofilme dental,
realizando uma higiene oral precária, o
uso de escovas elétricas e de substâncias
químicas para o controle da placa bacteriana
supragengival é uma alternativa produtiva
para tentar minimizar as consequências. O
idoso ainda modifica sua composição da
dieta, destreza manual e diminui a quantidade
de saliva, fazendo com que o processo de
formação e acúmulo do biofilme dental seja
mais rápido.20,21
Em média, aos 40 anos de idade, um
processo lento e progressivo de rarefação óssea
é iniciado, podendo resultar em osteoporose
senil, caracterizada pela redução da
densidade óssea e perda do conteúdo mineral
deste tecido. A partir disso, o periodonto de
sustentação pode comprometer-se, trazendo
consequências como perda da crista óssea
interdentária, reabsorção óssea horizontal e
vertical, retração gengival, mobilidade e perda
dentária.4,13
Partindo-se da ideia de que o grau de
colapso periodontal aumenta com a idade, os
tecidos periodontais vão apresentar evidências
de envelhecimento natural. Dessa forma, a
inflamação do periodonto tende a progredir
rapidamente e os tecidos vão mostrar uma
taxa mais baixa de cicatrização.22
Ao relacionar a gengivite, a periodontite
e o aumento da idade, percebe-se que
56
a diminuição da vascularidade acarreta
uma menor capacidade de reparação e
multiplicação tecidual, acarretando uma maior
predisposição às doenças periodontais. A
resposta inflamatória da gengiva marginal é
mais evidente; nela o mecanismo de defesa é
menos efetivo por apresentar um declínio na
efetividade dos leucócitos polimorfonucleares
e monócitos na fagocitose.13,15
Como os tecidos da cavidade oral refletem
as alterações da idade, geralmente sofrerão
retração, acarretando exposição da superfície
radicular e consequente desenvolvimento de
cáries radiculares.10,23
Assim como os demais tecidos do corpo,
o osso alveolar e o cemento também são
afetados pelo processo de envelhecimento.
A partir disto, há aumento da reabsorção e
diminuição do grau de formação óssea, gerando
aumento da porosidade e irregularidade de
ambos os tecidos voltados para o ligamento
periodontal.12,19
Nas faixas etárias mais avançadas, a
cárie radicular, as doenças periodontais, o
câncer bucal e as lesões de tecido mole são
as doenças bucais mais prevalentes. Dessa
forma, o processo de envelhecimento é um
desafio para a saúde pública, bem como
um fator de risco para várias patologias que
acometem a boca, em virtude das alterações
funcionais fisiológicas próprias do idoso.4
Discussão
Assim como todo o organismo, as
estruturas bucais refletem as alterações
decorrentes do envelhecimento. Estudos
apontam uma alta prevalência de edentulismo,
cáries coronárias e radiculares, doenças
periodontais, desgastes dentais, dores
orofaciais, desordens temporomandibulares,
alterações oclusais, hipossalivação e lesões
de tecidos moles.10,11, 16, 17,18
FOL • Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep • 23(2) 53-60 • jul.-dez. 2013
ISSN Impresso: 0104-7582 • ISSN Eletrônico: 2238-1236
DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2238-1236/fol.v23n2p53-60
Associação do processo de envelhecimento com o surgimento da doença periodontal
Poucas
pesquisas
epidemiológicas
realizadas no Brasil abordam a saúde bucal
dos idosos. No entanto, a grande maioria
dos resultados mostra que esses indivíduos
apresentam significativos problemas bucais
provenientes das mudanças decorrentes do
envelhecimento que acometem as estruturas
orais. A idade, como um fator de risco, envolve
condições decorrentes de manifestações
sistêmicas, como a xerostomia, o uso de
fármacos
(antidepressivos,
ansiolíticos,
diuréticos, anti-hipertensivos), deficiências
nutricionais, além da redução da destreza
manual e acuidade visual, o que torna o controle
da placa bacteriana menos eficiente. Essas
condições provocam efeitos no periodonto, na
dentição, nas glândulas salivares e mucosas
orais contribuindo para o aparecimento de
alterações periodontais.8,12
A deficiência física, a falta de motivação
e de habilidade para executar determinadas
tarefas em casa são obstáculos para que o
idoso realize uma higiene oral recomendada
e adequada. Quanto aos problemas motores
na população geriátrica, a artrite e o mal de
Parkinson são os principais responsáveis
pelo aumento do índice de gengivite e
periodontite.20
A grande maioria dos autores12,16,17,18 relata
que a prevalência de doença periodontal
aumenta com o decorrer da idade e tem sido
vista como a principal causa do edentulismo,
resultando em um grande número de pessoas
necessitando de próteses.
Ajwani et al.22 avaliaram a condição e
necessidade de tratamento periodontal em 364
idosos residentes em Helsinki, Finlândia. Do
total de idosos, 168 eram edêntulos totais (46%)
e os indivíduos dentados possuíam em média
14,4 dentes. Sete por cento dos indivíduos
apresentavam periodonto saudável e 46%
possuíam bolsas periodontais. Desta amostra,
87% necessitava de raspagem, alisamento
e polimento e cerca de 11% necessitava de
tratamento periodontal complexo.
Meneghim et al.24 também relataram que
a prevalência da periodontite, lesões de
cárie, erosão e abrasão estão diretamente
relacionadas com a idade, constatando que
há aumento dessas afecções quando se
comparam pacientes com idades entre 50 e 75
anos e pacientes com idades acima de 75 anos.
Queiroz et al.12 avaliaram as condições
periodontais no idoso e, com base nos
resultados, defendem que a idade constitui
um fator de risco importante para a doença
periodontal. Dos avaliados, 64% apresentaram
periodontite e 36%, gengivite, resultando
na prevalência de 83,5% de idosos com
comprometimento periodontal. As mulheres
apresentaram melhor saúde periodontal
quando comparada à dos homens.
Uma associação importante encontrada
nos estudos foi em relação à alta prevalência
de cálculo, sangramento gengival e bolsas
periodontais nos idosos com condições
socioeconômicas ruins.12,25,26
Nos idosos é comum a perda de inserção,
o que poderia ser totalmente compatível com
a saúde e função do periodonto; entretanto,
a periodontite não é uma consequência
natural da idade nem a principal causa da
perda dentária.12,15,16 Haas et al.27 realizaram
um estudo longitudinal objetivando investigar
o padrão e a taxa de perda de inserção
periodontal em 697 indivíduos dentados.
Os resultados mostraram que existe uma
progressão da perda de inserção periodontal
com o decorrer da idade, atingindo
principalmente a faixa etária de 40 a 49 anos.
No entanto, essa taxa decai na faixa etária
compreendida entre 50 e 59 anos.
Alguns autores procuraram correlacionar
os marcadores de risco, presentes nos
FOL • Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep • 23(2) 53-60 • jul.-dez. 2013
ISSN Impresso: 0104-7582 • ISSN Eletrônico: 2238-1236
DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2238-1236/fol.v23n2p53-60
57
Maria Helena Chaves de Vasconcelos Catão et al.
pacientes idosos, que influenciam na perda
de inserção periodontal. Para tanto, Thomson
et al.28 avaliaram a manifestação de doença
periodontal em 801 indivíduos idosos
australianos. Destes, 342 foram reexaminados
após cinco anos. Os resultados mostraram
que a perda de inserção periodontal está
fortemente associada à recessão gengival.
Ainda de acordo com os resultados, o grupo
dos diabéticos e dos que tinham ausência
de elementos dentários é mais vulnerável à
perda de inserção periodontal. Neste mesmo
estudo, o tabagismo não constituiu um fator
predisponente significativo. Ismail et al.29
estimaram o grau de mudança do nível de
ligação periodontal em uma amostra de 167
adultos. Diante dos resultados, os indivíduos
que apresentaram elevado aumento de perda
de inserção periodontal compartilhavam
características comuns, como acúmulo
de placa e cálculo nos dentes, baixo nível
educacional, idade elevada, hábito tabagista
e presença de mobilidade dentária, sendo
os três últimos apontados como marcadores
permanentes de risco.
Baelum et al.30 realizaram um estudo
longitudinal com o objetivo de avaliar a
progressão da doença periodontal em adultos
chineses com idades entre 20 e 80 anos. No
total, 398 pessoas dentadas foram examinadas
e acompanhadas por um período de dez anos
para determinar se as taxas de progressão da
doença periodontal foram significativamente
diferentes em populações com maior acesso
aos cuidados com a saúde bucal quando
comparada à população com acesso limitado
a estes cuidados. Surpreendentemente, os
resultados mostraram que a taxa de perda
de inserção foi semelhante entre os grupos
etários e entre os grupos de populações com e
sem acesso à saúde bucal.
58
Considerações finais
De acordo com a literatura revisada, a idade
é um fator de risco para o desenvolvimento da
doença periodontal, embora não seja o único. O
processo natural e gradual de envelhecimento
está diretamente relacionado a alterações
fisiológicas e patológicas na cavidade bucal.
Algumas alterações são consequência da
manifestação de doenças sistêmicas, reações
adversas do uso de fármacos e deficiências
nutricionais. Ademais, com o envelhecimento
há uma perda natural do tônus muscular,
diminuição da autolimpeza e dificuldade
motora. Estes fatores acarretam uma higiene
oral deficiente e maior acúmulo de placa
bacteriana. Sendo assim, o cirurgião dentista
deve ter um conhecimento amplo sobre as
alterações que acometem os idosos, estando
capacitado a realizar atendimento especial.
Referências
1. Silveira Neto N, Luft LR, Trentin MS, Silva SO.
Condições de saúde bucal do idoso: revisão de
literatura. Rev Bras de Ciên do Envelh Hum.
2007 Jan-Jun; 24(1): 48-56.
2. Saintrain, MVL, Souza EHA. Saúde bucal do
idoso: Desafio a ser perseguido. Odontol Clín
Científ. Recife. 2005 Mai-Ago; 4(2): 127-32.
3. Marin C, Holderied FS, Salvati G, Bottan ER.
Nível de informação sobre doenças periodontais em pacientes em tratamento em uma clínica universitária de periodontia. Salusvita. 2012;
31(1): 19-28.
4. Rosa LB, Bataglion C, Coronatto EA de S.
Odontogeriatria - a saúde bucal na terceira idade. RFO. 2008 Mai-Ago; 13(2): 82-6.
5. Tibério D, Santos MTBR, Ramos LR. Estado
periodontal e necessidade de tratamento em
idosos. Rev Assoc Paul Cir Dent. 2005 Jan-Fev;
59(1): 69-72.
6. Fajardo RS, Grecco P. O que o cirurgião-dentista precisa saber para compreender seu paciente geriátrico – parte I: aspectos psicossociais. J
Bras Clin Odontol Integr. 2003 Jul-Ago; 7(40):
324-30.
FOL • Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep • 23(2) 53-60 • jul.-dez. 2013
ISSN Impresso: 0104-7582 • ISSN Eletrônico: 2238-1236
DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2238-1236/fol.v23n2p53-60
Associação do processo de envelhecimento com o surgimento da doença periodontal
7. Unluer S, Gokalp S, Dogan BG. Oral health status of the elderly in a residential home in Turkey.
Gerodontol. 2007 Mar; 24(1): 22-9.
8. Macêdo DN de, Carvalho SS, Lira SS, Sena
CA de, Bezerra EAD. Proposta de um protocolo
para o atendimento odontológico do paciente
idoso na atenção básica. Odontol Clín Científic.
2009 Jul-Set; 8(3): 237-43.
9. Bulgarelli AF, Manço ARX. Elderly oral health
situation: a review. Clin. Pesq. Odontol. 2006,
Abr-Jun; 2(4): 319-26.
10.Barbosa AF, Barbosa AB. Odontologia geriátrica – perspectivas atuais. J Bras Clin Odontol
Integr. 2002 Mai-Jun; 6(33): 231-4.
11. Pereira AC, et al. Oral health and periodontal
status in Brazilian elderly. In: Rodrigues SM,
Vargas AMD, Moreira AN. Saúde bucal e qualidade de vida no idoso. Revista Científica da Faculdade de Ciência da Saúde da Universidade
Vale do Rio Doce. 2004; 1(12).
12.Queiroz CM, Rezende, CP de, Lima CC, Porto
DOV, Rapoport A. Avaliação da condição periodontal no idoso. Rev Bras Cir Cab Pesc. 2008
Jul-Ago-Set; 37(3): 156-9.
13.Neto NS, Luft LR, Trentin MS, Silva SO. Condições de saúde bucal do idoso: revisão de literatura. RBCEH. 2007; 4(1): 48-56.
14.Chagas ALA, Petró GS, Dourado M. Condição
periodontal e hábitos de higiene bucal de idosos não institucionalizados, atendidos em grupos de convivência da cidade de Salvador. Rev
Bahiana Odontol. 2012 Dez; 3(1): 16-25.
15.Brunetti MC. Periodontia médica: uma abordagem integrada. São Paulo: Senac; 2003. p. 23-39.
16.Acevedo RA, Batista LHC, Trentin MS, Civil JA.
Tratamento periodontal no paciente idoso. Rev
Fac Odontol Univ Passo Fundo, 2001 Jul-Dez;
6(2): 57-62.
17.Silva SRC, Valsecki JR. A avaliação das condições de saúde bucal dos idosos em um município brasileiro. In: Mesas AE, Trelha, CS, Azevedo MJ. Saúde bucal de idosos restritos ao
domicílio: estudo descritivo de uma demanda
interdisciplinar. Physis Rev Saúde Colet. 2008;
18(1).
18.Freitas Junior AC, Almeida EO, Antenucci RMF,
Gallo AKG, Silva EMM. Envelhecimento do
aparelho estomatognático: alterações fisioló-
gicas e anatômicas. Revista Odontológica de
Araçatuba. 2008 Jan-Jun; 29(1); 47-52.
19.Moura LM, Libério AS, Silveira EJD, Pereira
ALA. Avaliação da condição periodontal em
pacientes idosos. Rev Bras Patolog Oral. 2004
Out-Dez; 3(4): 180-6.
20.Silva SO, Trentin MS, Linden MSS, Carli JP,
Silveira Neto N, Luft LR. Saúde bucal do idoso
institucionalizado em dois asilos de Passo Fundo – RS. RGO. 2008 Jul-Set; 56(3): 303-8.
21.Sperotto FM, Spinelli RB. Avaliação nutricional em idosos independentes de uma instituição de longa permanência no município de
Erechim - RS. Rev Perspectiva. 2010 Mar;
34(125): 105-16.
22.Ajwani S, Tervonen T, Närhi TO, Ainamo A.
periodontal health status and treatment needs
among the elderly. Spec. Care Dentist. 2001
Mai-Jun; 21(3): 98-103.
23.Lebrâo ML, Laurenti R. Saúde, bem-estar e envelhecimento: o estudo SABE no Município de
São Paulo. Rev Bras Epidemiol. 2005 Mai; 8(2):
127-41.
24.Meneghim, M de C, Pereira AC, Silva FRB. Prevalência de cárie radicular e condição periodontal em uma população idosa institucionalizada
de Piracicaba - SP. Pés. Odont. Bras. 2002 Jan-Mar; 16(1): 50-6.
25.Díaz G, Elena M, Pimentel TB. Enfermedad periodontal y factores locales y sistémicos asociados.
Rev Cuba Estomatol. 2002 Set-Dez; 39(3): 1-8.
26.Martins MCA, Neta MCAF, Landim JR,Gurgel
HM, Nuto SAS, Braga JU. Fatores de risco associados à doença periodontal em uma comunidade nordestina de baixa renda. Braz J Periodontol. 2012 Set; 22(3): 47-53.
27.Haas AN, Gaio EJ, Oppermann RV, Rösing
CK, Albandar JM, Susin C. Pattern and rate of
progression of periodontal attachment loss in
an urban population of South Brazil: a 5-year
population-based prospective study. J Clin Periodontol. 2012 Jan; 39(1): 1-9.
28.Thomson WM, Slade GD, Beck JD, Elter JR,
Spencer AJ, Chalmers JM. Incidence of periodontal attachment loss over 5 years among
older South Australians. J Clin Periodontol.
2004; 31: 119-25.
FOL • Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep • 23(2) 53-60 • jul.-dez. 2013
ISSN Impresso: 0104-7582 • ISSN Eletrônico: 2238-1236
DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2238-1236/fol.v23n2p53-60
59
Maria Helena Chaves de Vasconcelos Catão et al.
29.Ismail AI, Morrison EC, Burt BA, Caffesse RG,
Kavanagh MT. Natural history of periodontal
disease in adults: findings from the Tecumseh
Periodontal Disease Study, 1959-87. J Dent
Res. 1990; 69(2): 430-35.
30.Baelum V, Luan WM, Chen X, Fejerskov O. A
10-year study of the progression of destructive
60
periodontal disease in adult and elderly Chinese. J Periodontol. 1997; 68(11): 1033-42.
Submetido em: 31-1-2013
Aceito em: 25-6-2013
FOL • Faculdade de Odontologia de Lins/Unimep • 23(2) 53-60 • jul.-dez. 2013
ISSN Impresso: 0104-7582 • ISSN Eletrônico: 2238-1236
DOI: http://dx.doi.org/10.15600/2238-1236/fol.v23n2p53-60
Download