Multitextos Repercussões da utilização de órtese funcional balanceada nas alterações da geometria articular do complexo tornozelo e pé: Revisão de literatura e estudo de caso clínico Ricardo Fernandes de PAULA*; Luciana Mendes CANGUSSU**; Viviane Costa FAGUNDES*** * Mestre em Engenharia de Produção. Prof. Titular de Fund. de Fisioterapia. Próteses e Orteses e Rec. Fisioterápicos Apl. Ao PNE. Coordenador do curso de Fisioterapia das Faculdades Pitágoras de Montes Claros. ** Acadêmica do 7º período do curso de Fisioterapia das Faculdades Pitágoras de Montes Claros. *** Acadêmica do 6º período do curso de Fisioterapia das Faculdades Pitágoras de Montes Claros. RESUMO Como avaliar e indicar o uso desses Neste artigo, realizamos um estudo de caso e uma revisão bibliográfica atual sobre as repercussões da utilização da órtese funcional balanceada (OFB) na geometria do complexo do tornozelo e pé.Os fisioterapeutas que atuam na área da fisioterapia músculo-esquelética e fisioterapia neurofuncional dispõem de uma importante ferramenta no auxilio ao trato de alterações biomecânicas dos membros inferiores, principalmente o complexo do tornozelo e pé, mas não a utilizam na prática clínica diária.Utilizando apenas o goniômetro associado aos conhecimentos da literatura atual acerca da biomecânica e semiologia funcional, colhemos dados de um estudo de caso e comparamos com os padrões normais da geometria articular do complexo do tornozelo e pé.Concluímos que a órtese funcional balanceada modifica a geometria articular do segmento inferior do corpo humano e principalmente do complexo tornozelo-pé, proporcionando ao paciente um melhor funcionamento da biomecânica osteomusculoarticular, na medida em que coloca esses segmentos nos padrões angulares ditos normais. Palavras Chaves: Órtese,Geometria articular,Tornozelo e Pé. INTRODUÇÃO A indicação, bem como a avaliação e acompanhamento da utilização de órteses funcionais balanceadas para os pés, é um recurso que os fisioterapeutas, que lidam com o manejo e cuidados dos problemas relacionados aos membros inferiores, possuem em seu arsenal terapêutico para benefício de seus pacientes. 19 uma revisão científica acerca dos recursos de forma criteriosa é a chave conceitos atuais sobre os fundamentos para um bom tratamento e solução de da utilização da terapia ortótica para os problemas relacionados às desordens pés e ilustrar tal revisão com um estudo patocinesiológicas dos pés. de caso clínico. Além disso, suscitar a A utilização dessas órteses está necessidade de o fisioterapeuta adotar intimamente ligada com as alterações em sua avaliação diária a atenção devida biomecânicas dos membros inferiores e a essas desordens músculo-articulares do complexo articular do tornozelo e pé. do pé, já que esse seria o ponto de Segundo McPoil e Hunt (1995) nas equilíbrio em relação a outros complexos últimas duas décadas tem-se utilizado o articulares em cadeia subjacente. protocolo de avaliação para desordens intrínsecas e anormalidades REVISÃO DE LITERATURA biomecânicas do pé dos autores Root,Oriens, e Weed (1977).Essas - Anatomia e Biomecânica do teorias embasam-se no estudo das Complexo Tornozelo/Pé alterações estruturais dos pés e na neutralidade do complexo articular O tornozelo, o pé e artelhos são subtalar,ou seja são definidos alguns formados por um complexo de várias tipos de desalinhamentos do pé articulações que, por sua estrutura baseados em um modelo padrão de pé óssea, inserções ligamentares e normal. Entretanto, com os novos contração muscular, necessitam estudos que vêm sendo realizados, há interagir harmoniosamente para mudar três pontos importantes: (1) Qual a em um único passo de uma estrutura eficácia das medidas utilizadas na flexível que se conforma com as avaliação; (2) Qual é o critério de padrão irregularidades do solo para uma de alinhamento normal do pé; e (3) O estrutura rígida de sustentação do peso. que seria posição neutra da articulação O complexo tornozelo/pé possui subtalar na marcha. Com a utilização de procedimentos múltiplas funções como o suporte do peso sobreposto, controle e simples, têm-se condições de conseguir estabilização da perna sobre o pé fixo, dados angulares e geométricos dos elevação do corpo, absorção de choque segmentos corporais. O objetivo deste artigo é realizar durante a locomoção e aterrissagens, e substituição da função da mão em Multitextos pessoas com amputações ou paralisias ossos do metatarso são cinco, a partir do talocalcanear interósseo e o ligamento musculares das extremidades lado medial, e articulam-se com os cervical, sendo este o mais forte superiores (LEHMKUHL & SMITH, ossos do tarso e com as falanges ligamento entre o tálus e o calcâneo proximais. As falanges estão dispostas (McPOIL & BROCATO, 1993). 1989). O pé contribui significativamente em falange proximal, média e distal, com O eixo articular subtalar corre da para a função de todo o membro inferior, exceção para o hálux, que possui superfície plantar lateral posterior para a assim como o membro inferior contribui somente as falanges proximal e distal superfície medial, dorsal, anterior do para a função do pé (HAMILL & (GRAY, 1988). tálus. Inclina-se verticalmente, 41º a 45º KNUTZEN, 1999). O pé e o tornozelo O eixo articular talocrural apresenta do eixo horizontal no plano sagital, e são estruturas anatômicas muito uma direção oblíqua entre as porções apresenta um declive medial de 16º a 23º complexas que se constituem de 26 finais dos maléolos, obliqüidade, que é para dentro a partir do eixo longitudinal da ossos irregularmente moldados, de aproximadamente 82º a partir da tíbia no plano frontal. Os movimentos dispostos em 3 grupos: tarso, metatarso secção vertical da tíbia. O eixo dessa triplanares na articulação subtalar são e falanges. Estão relacionados com articulação não é um eixo simples, mas denominados pronação e supinação esse complexo articular a extremidade variável, e depende da posição das (HAMILL & KNUTZEN, 1999). A amplitude distal da tíbia e os maléolos mediais da superfícies articulares (McPOIL & de movimento da articulação subtalar tem tíbia e lateral da fíbula (DANGELO, BROCATO, 1993). Um dos movimentos sido estimada como de 20º a 62º. 2000). Com relação ao tarso, a dessa articulação, a dorsiflexão, ocorre Entretanto, é de grande importância que a quantidade de ossos chega a 7: o tálus, na medida em que o pé se move em supinação seja o dobro do valor da o calcâneo, o cubóide, o navicular e três direção à perna, ou quando a perna se pronação. Sendo também importante cuneiformes (HAMILL & KNUTZEN, move em direção ao pé. A amplitude de relembrar que são necessários 4º a 6º de 1999). Outra disposição em que os movimento de dorsiflexão é em média pronação e 8º a 12º de supinação para o ossos do pé encontram-se são: a porção de 20º, com aproximadamente 10º desta desenvolvimento de uma marcha normal anterior do pé, composta dos cinco necessários para um andar eficiente (McPOIL & BROCATO, 1993). O metatarsos e as falanges, sendo (HAMILL & KNUTZEN, 1999). Quando movimento de pronação, que ocorre em referida como antepé; o mediopé, não é possível essa necessária um sistema de cadeia aberta com o pé formado pelos três ossos cuneiformes: o dorsiflexão, irá ocorrer alguma forma de fora do solo, consiste em eversão do navicular e o cubóide; e o tálus e o compensação, como a retirada precoce calcâneo, abdução e dorsiflexão. Já em calcâneo, designados como o retropé do calcanhar e/ou pronação da cadeia cinética fechada, o movimento de (McPOIL & BROCATO, 1993). articulação subtalar, acarretando pronação consiste em eversão do O tálus ocupa a parte proximal, alguma alteração biomecânica na calcâneo, adução e flexão plantar. O fornecendo apoio à tíbia. Sustenta-se no marcha (McPOIL & BROCATO, 1993). A movimento de supinação é exatamente o calcâneo e articula-se em ambos os flexão plantar é o movimento do pé oposto, com inversão do calcâneo, lados com os maléolos medial e lateral. afastando-se da perna ou o movimento adução e flexão plantar na posição sem O tálus é referido como a chave do da perna para longe. A amplitude de apoio de peso, e inversão do calcâneo e complexo articular do tornozelo por ser movimento média da flexão plantar é abdução e dorsiflexão do tálus na posição componente tanto da articulação cerca de 50º, com 20º a 25º de flexão com apoio de peso (HAMILL & talocrural quanto da articulação subtalar plantar necessária para a deambulação KNUTZEN, 1999). (McPOIL & BROCATO, 1993). O (HAMILL & KNUTZEN, 1999). A função principal da articulação calcâneo transmite o peso de todo o A articulação subtalar é composta subtalar é permitir a rotação da perna no corpo para o solo e serve de alavanca pela superfície inferior do tálus que plano transverso durante a fase de apoio para os músculos da região posterior da descansa sobre o calcâneo. da marcha. Essa importante relação entre perna. O osso navicular está presente Anteriormente o tálus articula-se com o a articulação subtalar e o membro inferior na cadeia medial do pé, entre o tálus e osso navicular (LEHMKUHL & SMITH, pode ser facilmente demonstrado quando os cuneiformes. Os ossos cuneiformes 1989). Os ligamentos que dão suporte a pessoa está de pé e gira externamente a são o medial, intermédio e lateral, e para a articulação subtalar são o perna esquerda, e o arco do pé esquerdo articulam-se com o osso navicular, ligamento calcaneofibular, o ligamento irá aumentar quando a articulação cubóide, e 1º, 2º, 3º e 4º metatarso. Os deltóide, e principalmente o ligamento subtalar entrar em supinação (McPOIL & 20 Multitextos BROCATO, 1993). interfalangianas (LEHMKUHL & SMITH, A articulação transtarsal é formada 1989). pelo tálus calcâneo, proximalmente, e o navicular e o cubóide, distalmente. de retirada do hálux, o calcâneo sofre aproximadamente 4 a 6 graus de inversão. Essa fase é a continuação da - Ciclo da Marcha Estes podem ser considerados como fase de médio apóio (GREVE & AMATUZZI,1999; McPOIL & BROCATO, um só segmento, pois apenas Greve & Amatuzzi (1999); McPoil & movimentos mínimos são permitidos Brocato (1993), descrevem a marcha 1993). Na fase de balanço, ocorre o avanço entre eles. Na articulação talonavicular, humana dividida em fases: fase de apoio, do membro sem contato com o solo. É a cabeça convexa do tálus encaixa-se médio apoio, impulsão e a fase de iniciada com a retirada do hálux do solo e na superfície côncava do navicular e a balanço. finalizada com o toque do calcanhar. O articulação calcaneocubóide é do tipo A fase de apoio é caracterizada pelo balanço inicial é a fase em que o hálux se em sela. Essa articulação permite contato do membro com o solo. O desprende do solo; o balanço médio é movimentos da parte frontal do pé com contato inicial inicia-se com o toque do caracterizado pela flexão do joelho relação à parte posterior, denominados calcanhar no solo e absorção do impacto durante a passagem do membro; e, no pronação, quando o arco do pé torna-se e termina com a saída do hálux da outra balanço final, ocorre a extensão do joelho, achatado; e supinação, quando o arco é perna. O calcâneo sofre inversão de preparando o membro para o contato elevado. O movimento nessa aproximadamente 2 graus antes do inicial. O avanço do corpo para frente se articulação ocorre em combinação com toque do calcanhar. O membro inferior dá durante a fase de balanço no ciclo da movimentos das articulações subtalar e mantém uma rotação interna da perna e marcha (GREVE & AMATUZZI,1999; tarsometatarsiana (LEHMKUHL & cria uma adaptação flexível para McPOIL & BROCATO, 1993). SMITH, 1989). acomodação em diferentes terrenos. A Os eixos articulares transtarsais pronação é também responsável pela são dois: um oblíquo e um longitudinal. redução do choque. Indiretamente a O movimento sobre um eixo da pronação permite que a tíbia rode - Ação Muscular Durante a Marcha Segundo Rab(1998), na marcha articulação transtarsal pode ser internamente mais rapidamente que o normal os músculos contraem e relaxam independente do movimento do outro, fêmur, fazendo com que o joelho flexione de maneira precisa e harmônica. A ação mas a localização de ambos os eixos mais rápido absorvendo forças do dos músculos ocorre de forma isométrica depende da posição da articulação choque. No final do contato o calcâneo e excêntrica, que é a forma mais eficiente subtalar. Quando ocorre o paralelismo sofre eversão de 4 a 6 graus, de contração. dos dois eixos - o que ocorre na completando a pronação (GREVE & Conforme Rab(1998); Greve E pronação -, o pé ficará flexível; e quando AMATUZZI,1999; McPOIL & BROCATO, Amatuzzi (1999), o Grupo dos extensores ocorre a convergência destes eixos - o 1993). do joelho (reto femoral, vasto lateral, que ocorre na supinação -, o pé ficará O médio apoio inicia com o término intermédio e medial): iniciam sua função com uma estrutura rígida, apta a da pronação e início da rotação externa, após o toque do calcâneo e funciona suportar o peso do corpo (McPOIL & quando a articulação subtalar começa a como amortecedor de uma discreta flexão BROCATO, 1993). entrar em supinação. Isso permite que o do joelho. A contração do quadríceps pé se mantenha em sua linha de desacelera a coxa e auxilia a extensão do A s a r t i c u l a ç õ e s t a r s o m e t a t a r s i a n a s , progressão. O pé passa de uma joelho e posicionamento do pé. Essa é metatarsofalangianas estrutura flexível para um braço rígido. uma ação de frenagem excêntrica. Essa e interfalangianas são de grande Essa fase caracteriza-se pelo contato musculatura também atua durante a importância para a realização perfeita total do pé com o solo. A articulação transição entre a fase de apoio e de da marcha e sustentação do peso subtalar mantém um supinação e o balanço, pois os músculos que estendem corporal. Essas articulações possuem calcâneo sofre uma inversão próxima de o joelho fletem o quadril para iniciar a fase uma amplitude considerável em seus 2 graus (GREVE & AMATUZZI,1999; de balanço. movimentos de flexão e extensão, McPOIL & BROCATO, 1993). No grupo dos isquiotibiais sendo enfatizado o grau de amplitude Na impulsão, ou pré-balanço, ocorre (semitendinoso, semimembranoso, desses movimentos nas articulações o desprendimento do calcanhar e do bíceps da coxa), a maior ação é no metatarsofalangianas hálux do solo, respectivamente. Na fase momento que antecede o toque do 21 e Multitextos calcanhar no solo. Age como flexor do balanço, ocorre rotação externa do plataforma triaxial. As forças verticais, joelho e desacelera (contração fêmur, levando a uma das maiores forças antero-posterior e mediais laterais são concêntrica) a oscilação da perna para de propulsão do corpo. Na fase de apoio, iguais em magnitude e opostas em frente. Age também como extensor do atua estabilizando o quadril junto a seus decorrência da força aplicada ao pé em quadril, evitando flexão da pelve e do abdutores. contato com a superfície de sustentação. tronco sobre o fêmur, causada pela O grupo dos abdutores do quadril A magnitude das forças de reação e sua inércia. Essa ação é auxiliada pelo (glúteo médio e mínimo, tensor da fáscia relação com a articulação determinam um torque e a direção da rotação. Quanto glúteo máximo e atua como sinergista no lata e glúteo máximo (parte superior)) movimento (RAB, 1998; GREVE E auxilia na sustentação do corpo e maior a distância entre um ponto de AMATUZZI, 1999). controla, por contração excêntrica, a aplicação de uma força e um eixo de O grupo pré-tibial (tibial anterior e inclinação inferior da pelve do lado rotação, maior é o torque (NORKIN, 1993; extensor do hálux e comum dos oposto, atuando na fase de apoio. (RAB, GREVE & AMATUZZI, 1999). artelhos), é responsável pela flexão 1998; GREVE E AMATUZZI, 1999). dorsal do pé. Age excentricamente após o toque do calcâneo durante o controle - Patocinesiologias mais Comuns do - Análise da Marcha Pé da flexão plantar, evitando que o antepé bata no chão. Na fase em que inicia o Para Norkin(1993), durante a Quantidades anormais de pronação balanço, esse grupo realiza contração realização de uma boa análise da articular de algum componente da fase de concêntrica para que o pé se mantenha marcha, o fisioterapeuta deverá avaliar o apoio da marcha são um fator comum em flexão dorsal, afastando os dedos do estado deambulatório do paciente. A entre a maioria dos processos patológicos chão (RAB, 1998; GREVE E AMATUZZI, avaliação deve envolver uma apurada do pé. Essa anormalidade existe em 1999). descrição do padrão da marcha e suas função de um movimento compensatório No grupo dos flexores plantares do variáveis; identificar e descrever todos os sobre o eixo triplanar da articulação pé (sóleo e gastrocnêmio), através da desvios da marcha; analisar os desvios e subtalar, que resulta em uma alteração do contração excêntrica, o tríceps sural age identificar os responsáveis pelas alinhamento normal em qualquer parte do na fase de apoio, controlando a queda anormalidades da marcha; determinar a pé. Os quatros principais tipos de pé do corpo para frente. A contração por necessidade de algum dispositivo causam compensação na articulação alongamento do sóleo mantém o antepé auxiliar uma avaliação objetiva, a fim de subtalar sob forma de pronação anormal: fixo ao solo mantendo uma união de formular metas terapêuticas para antepé varo, antepé valgo, retropé varo e forças que mantém o joelho estendido solução de algum problema. tíbia vara (McPOIL & BROCATO, 1993). sem ação do quadríceps(RAB, 1998; GREVE E AMATUZZI, 1999). De acordo com Norkin, (1993); O antepé varo demonstra um antepé Greve & Amatuzzi, (1999), a cinemática é invertido na bissecção, na porção O grupo dos flexores do quadril a análise feita dentro do tempo em que o posterior do calcâneo, quando a (iliopsoas, tensor da fáscia lata, sartório, movimento é executado na marcha articulação subtalar está em posição neutra. Esse tipo de pé lembra um pé reto da coxa) atua durante o início da normal. A marcha é vista e analisada em fase de balanço. Ocorre com fim da função do ciclo da marcha nas fases de plano ou achatado. Posteriormente, o atividade dos músculos iliopsoas e reto apoio e balanço e as variáveis que são calcâneo fica evertido. Medialmente, o da coxa. Não havendo possibilidade de medidas dentro do ciclo. Obtêm-se os arco longitudinal está ausente, com a encurtar o membro na fase de balanço, dados através da medida de tempo e a cabeça do tálus proeminente ocorre circundação, movimento lateral distância entre duas fases de apoio do pé proximalmente à tuberosidade do do tronco em direção ao lado que não com o solo. Os dados obtidos através navicular. A deformidade do hálux em eleva o quadril, possibilitando a dessa análise quantificativa, informando valgo está geralmente associada com elevação do membro inferior (RAB, dados basais serão utilizados no este tipo de pé. A evidência de calo, 1998; GREVE E AMATUZZI, 1999). O grupo dos adutores do quadril planejamento de programas terapêuticos. abaixo da cabeça do 5º metatarso, é um bom indicador clínico desse estado de (pectíneo, grácil, adutor magno, curto e Na cinética são analisadas as forças compensação. A deformidade em varo do longo), atua no início da fase de balanço existentes durante a marcha. A força de antepé é um exemplo do tipo de pé que e durante a fase de apoio. Na fase de reação do solo é medida utilizando uma mantém a articulação subtalar em 22 Multitextos pronação compensatória anormal cavo (McPOIL & BROCATO, 1993). durante a fase de apoio da marcha (McPOIL & BROCATO, 1993). estrutural do pé, seja antepé varo, valgo ou varo de retropé. É importante salientar que, para - Tratamento Ortótico A deformidade em valgo do antepé indicação de O.F.B., primeiramente é contrasta diretamente com o antepé A órtese, segundo Edelstein (1993), necessário que se faça uma avaliação varo, já que as estruturas mediais do pé é um aparelho utilizado externamente, biomecânica correta, pois a órtese torna- estão em contato com a superfície, capaz de promover ou restringir o se contra indicada para pacientes que enquanto que a face lateral está movimento e ainda reduzir, se possuem uma pronação compensatória suspensa. Quando o antepé não necessário, a carga de um segmento secundária ao pé eqüino funcional da consegue acomodar esse desequilíbrio, corporal. Podem ser usadas dentro ou articulação do tornozelo. Nesse caso, faz- a articulação subtalar irá sofrer uma fora do calçado, podendo ser fixadas ou se necessário um programa de supinação em uma fase de apoio, e não. alongamento do grupo muscular da pronação na fase seguinte. Tem sido A Órtese Funcional Balanceada panturrilha (BROCATO & McPOIL, 1993). sugerido que essa supinação (O.F.B.) pode ser fabricada por vários As órteses podem ser classificadas compensatória seja uma reposta das tipos de materiais como o silicone, como dispositivo macio, semi-rígido e forças de reação laterais do solo que plastazote, plásticos, grafite, fibras de rígido. O dispositivo macio não necessita promovem uma pronação da articulação carbono e o E.V.A (borracha sintética). de molde de gesso, sendo confeccionado mediotársica ou bloqueio contra o Por sua confecção depender da diretamente no pé do paciente ou retropé. O retropé instável irá sofrer uma moldagem específica do pé, utiliza-se acomodado em seu calçado. Esse é um inversão sobre o eixo longitudinal da um modelo de gesso do mesmo, ou dispositivo apenas acomodativo, sem a articulação mediotársica, causando um seja, a angulação necessária à avaliação da postura biomecânica ou movimento supinatório. A deformidade compensação balanço. O dispositivo semi-rígido nos pés do antepé valgo rígido lembra um pé biomecanicamente alterados, seja necessita do molde de gesso do pé em cavo típico ou arco alto. Essa pronação ou supinação excessiva dos posição neutra para sua confecção. Essa anormalidade pode estar associada com pés, discrepâncias dos MMII, processos órtese incorpora maciez e suporte rígido retropé varo (McPOIL & BROCATO, patológicos neuromusculares, ou para o controle biomecânico, já que são 1993). O retropé varo resulta da falência do rupturas totais ou parciais de nervos utilizadas duas ou três camadas de periféricos. Além de aliviar a dor as material na sua fabricação. O dispositivo calcâneo posterior em sofrer uma órteses irão melhorar o equilíbrio e o rígido geralmente é fabricado por uma desrotação completa de sua posição funcionamento biomecânico dos pés simples camada de plástico. O controle original. A avaliação da relação retropé- (EDELSTEIN, 1993). antepé na posição de ausência de Segundo Brocato e McPoil (1993), funcional é feito através da modificação do gesso, em vez de acréscimo de descarga de peso revela um calcâneo a órtese funcional é indicada para material como na órtese semi-rígido. A invertido quando a articulação subtalar controlar alterações mecânicas no pé e seleção do dispositivo depende de alguns está em posição neutra e articulação perna, desde que o pé permaneça numa fatores que incluem o tipo de pé, mediotársica em pronação. Essa posição neutra, promovendo o participação nos esportes e idade. A deformidade comumente ocorre em equilíbrio. Na maioria dos casos, a decisão deve ser baseada a partir da combinação com pé cavo (McPOIL & órtese é bem indicada para vários tipos avaliação de cada paciente (EDELSTEIN, BROCATO, 1993). de condições patológicas como esporão 1993). A tíbia vara é uma deformidade de calcâneo, fasciíte dos pés, tendinite extrínseca do pé que cria um desvio do do tendão de Aquiles, do tibial posterior, 1/3 inferior da tíbia na direção da dos tendões fibulares, tendinite fêmoro- inversão, produzindo a deformidade patelar, osteocondrites do calcâneo e do DESCRIÇÃO DE CASO CLÍNICO Foi realizado um estudo de caso com comum de varo. Durante a descarga de joelho, entorses reincidivantes do a paciente VCF, com idade de 23 anos, peso, as influências dessa alteração tornozelo, discrepâncias dos MMII, que apresentava quadro clinico de sobre o pé são semelhantes à lombalgias e inflamação do trato íleo- síndrome patelo-femoral do membro anormalidade do retropé varo, e tem sido tibial. Essas alterações normalmente inferior direito, com queixa de dor em pólo relatada como um componente do pé têm como causa primária o desequilíbrio inferior e tendão patelar direito e queixa 23 Multitextos de dor lombar e dor em fáscia do pé balanço. As alterações biomecânicas da direito. Foi realizada inicialmente uma marcha observada são demonstrados avaliação fisioterápica, visando à nas FIG. 2 e 3, e na TAB 1. detecção de alterações de movimentos do segmento inferior, enfocando o complexo articular do tornozelo e pé; uma avaliação postural estática e uma avaliação da marcha. FIGURA 4 - Órteses funcionais balanceadas. Ao exame inicial, a paciente apresentou nos testes de flexibilidade para membros inferiore, grau relativo de diminuição de ADM(Amplitude de movimento) articular para extensão de Os desvios da normalidade padrão FIGURA 2 - Desvio em pronação da articular subtalar do pé esquerdo durante a marcha. de um pé considerado biomecanicamente normal que existiam, com o uso da órtese joelhos, como também considerável funcional balanceada foram praticamente diminuição de flexibilidade para o reduzidos, e os sintomas algésicos músculo tensor da fáscia lata (teste de também FIG. 5, 6, 7 e 8 e GRAF. 1. Obber positivo) e glúteo médio de ambos os segmentos inferiores. Apresentou considerável nível de força muscular para musculatura de membros inferiores, cadeia muscular anterior e posterior, sendo utilizado para FIGURA 3 - Desvio em pronação da articular subtalar do pé direito durante a marcha. essa avaliação os testes manuais de Kendall & Kendall. TABELA 1 Dados Goniométricos dos Pés Na avaliação postural estática, v i s ã o a n t e r i o r, f o i d e t e c t a d o Região do pé desnivelamento de ombros, sendo o Antepé Retropé Direito Esquerdo 19º 09º 17º 10º FIGURA 5 - Resultado funcional da órtese sobre a correção da pronação da articular subtalar do pé esquerdo durante a marcha. esquerdo levemente mais baixo, rotação leve de quadril esquerdo e, como demonstrado na FIG.1, uma Também realizamos o Teste pronação de antepé, sendo o esquerdo Navicular Drop, onde foram detectadas mais proeminente. Em perfil, a paciente as medidas dos pés direito e esquerdo, apresentou uma leve anteriorização de havendo uma discrepância significativa pescoço e cabeça. entre eles. DISCUSSÃO Com base nos dados obtidos na FIGURA 6 - Resultado funcional da ortese sobre a correção da pronação da articular subtalar do pé direito durante a marcha. avaliação e seguindo a literatura consultada, foi confeccionado um par de órtese funcional balanceada para pés FIG. 4, reequilibrando as diferenças FIGURA 1 - Angulação da articulação subtalar tíbia vara. encontradas fora do parâmetro normal do pé, ou seja, foram reduzidas as diferenças dos antepé e retropé varos Na avaliação da marcha, a paciente em cadeia aberta para apresentou pronação excessiva em aproximadamente 9° no retropé e 17° no ambos os pés durante a fase de antepé da paciente. FIGURA 7 - Visão posterior da correção da pronação da articular subtalar em posição ortostática. 24 Multitextos corporal, devido a repercussões na Médicas Sul,1996. 470p. modificação da geometria articular do pé HAMILL, J.; KNUTZEM, K. M. Bases biomecânicas do movimento humano. São Paulo: Manole ,1999. 532p. que o uso da órtese funcional balanceada proporciona. Na literatura científica contemporânea existem informações coerentes quanto ao modo adequado de FIGURA 8 - Visão lateral da correção da pronação da articular subtalar em posição ortostática. realizar avaliações criteriosas do tornozelo e pé, como também protocolos de moldagem e confecção de órteses funcionais que facilitam a prática fisioterápica diária no tratamento de 20 15 10 5 0 afecções do tornozelo e pé. O estudo deste caso ilustra a necessidade do fisioterapeuta de ater-se a esses procedimentos que, de forma Direito Retropé em estudo Antepé em estudo Retropé corrigido Esquerdo simples, trará benefícios ao paciente de Antepé corrigido Retropé Padrão Antepé Padrão modo conservador e natural. GRÁFICO 1 - Medidas goniométricas dos segmentos do pé. CONCLUSÃO Podemos concluir que a órtese realizou também durante as 20 (vinte) funcional balanceada modifica a sessões de fisioterapia alguns recursos geometria articular do segmento inferior ao paciente um melhor funcionamento exercícios terapêuticos. da biomecânica ósteo-músculo- É notório que a órtese funcional articular, na medida que coloca esses balanceada deve ser prescrita, como segmentos nos padrões angulares ditos também seu uso deve ter um REFERÊNCIAS: acompanhamento criterioso realizado ser confeccionada. Como demonstrado no artigo, oferecemos alternativas para a avaliação e moldagem. O fisioterapeuta que possui habilidade no uso de técnicas avaliativas manuais, utilizando apenas o goniômetro e as mãos, somada aos conhecimentos da anatomia humana, cinesiologia, biomecânica e semiologia clínica, pode oferecer a seu paciente uma melhor dinâmica de marcha e equilíbrio 25 ABSTRACT Key words: Orthotic, Geometry joint, Ankle and Foot. ultra-som, laser, alongamentos e parte desse critério a avaliação postural ROOT, M. L.; ORIEN, W. P.; WEED, J. H. Normal e abnormal function of the foot. Los Angeles:Clinical Biomechanics Corp, 1977.v.2. ROSE, J.; GAMBLE, J. G. Marcha humana. 2.ed. São Paulo: Premier,1998. GRAY, Henry. Anatomia. 29.ed. Janeiro: Guanabara Koogan, 1988. eletrofototermicoterápicos, como o estática e de marcha, e o tipo de órtese a RAB, G. T. Músculos. In: ROSE, J.; GAMBLE,J.G. Marcha humana. 2.ed. São Paulo: Premier,1998.p.47-76. GRABINER, M. B. O tornozelo e o pé. In: RASCH, P. J Cinesiologia e anatomia aplicada.7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1989. do corpo humano e principalmente do complexo tornozelo-pé, proporcionando pelo fisioterapeuta que a indicou. Faz NORKIN, C. Análise da marcha In: O'SULLIVAN, S.B.; Schmiz, T. Fisioterapia avaliação e tratamento. 2.ed. São Paulo: Manole ,1993 p. 225-249. In this article, we carry through a study of case and a current bibliographical revision on the repercussions of the use of functional balanced orthotic (OFB) in the geometry of the complex of the ankle and foot. The physiotherapists who act in the area of the muscle skelectic and neurofunctional physical therapy , make use of an important tool in assist it to the treatment of biomechanic alterations of the lower limb, mainly the complex of the ankle and foot, but they do not use it in practises daily clinic. Using only goniometer associated to the knowledge of current literature about the biomechanics and functional semiologie, we harvest given of a case study and compare with the standards of geometry joint of the complex of the ankle and foot. We conclude that functional balanced orthotic (OFB) modifies geometry joint mainly of the segment of the human body and of the complex ankle-foot, providing to the patient one better functioning of the biomechanics to musclejoint, in the measure where it places these segments in the said angular standards. e físicos McPOIL,T. G.; BROCATO, R.S. Pé e tornozelo. In: GOULD, J.A. Fisioterapia na ortopedia e na medicina do esporte. 2.ed. São Paulo: Manole,1993.p. 293-322. SMITH, L. K., WEISS, E.L., LEHMKUHL, L. D. Cinesiologia Clínica de Brunstron. 4.ed. São Paulo: Manole, 1989. 466 p. Deve-se relatar que a paciente terapêuticos HUNT, G. C.; McPOIL, T. G. Physical therapy of the foot and the ankle. 2.ed. New York: Churchill Livingstone, 1995. 422p. 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