RELATÓRIO DO EVENTO CICLO CATARINENSE DE DESENVOLVIMENTO: MADEIREIRO, DESIGN E EXPORTAÇÃO APRESENTOU ALTERNATIVAS PARA O SETOR Esquadrinhar o setor madeireiro fazendo uma radiografia da sua situação no país, desde o reflorestamento passando pelas exportações e pelo design foi o objetivo proposto e alcançado pelos organizadores do Ciclo Catarinense de Desenvolvimento: Madeireiro, Design e Exportação, realizado segunda-feira (16 de Dezembro), no Auditório da reitoria da UnC, promovido pelo SEBRAE Santa Catarina, Rede Santa Catarina de Comunicação - SBT e Universidade do Contestado (UnC). Este foi o 7º seminário de desenvolvimento realizado no Estado, sempre com o mesmo objetivo: levantar e analisar todas as perspectivas sobre os principais setores da economia catarinense, buscando novos rumos ou consolidando os já existentes. Mais de 250 pessoas, na sua maioria empresários e dirigentes de entidades ligadas ao setor madeireiro participaram dos debates durante toda a tarde, finalizando com uma palestra do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, que abordou as tendências da economia brasileira para 2003. De acordo com o articulador regional do SEBRAE, João Alexandre, o debate sobre o setor madeireiro foi realizado em Caçador em função da importância do município na produção de madeiras e também no constante crescimento nas exportações. "Só para se ter uma idéia, em 2002 as exportações catarinenses tiveram um crescimento de 4%, enquanto que o setor madeireiro teve um crescimento de 33%, bem acima da média estadual", exemplificou. Ele destacou também a importância das parcerias entre o Sebrae, SBT e UnC para realização do evento, bem como o patrocínio da Prefeitura de Caçador, BRDE, Badesc, Sindicato da Indústria da Madeira, Borden, Mill e Fezer. O próreitor de extensão e cultura da UnC, Werner José Bertoldi, também enfatizou a parcerias dessas entidades na realização de eventos que busquem atingir um maior número de pessoas na região e contribuir para o desenvolvimento regional. Para o vice-presidente da FIESC para o Meio-oeste e Planalto Catarinense, empresário Gilberto Seleme, os objetivos foram atingidos. "Pudemos ouvir e discutir pontos importantes para o desenvolvimento do setor, principalmente no que se refere a exportações e ainda trocar informações e experiências entre os participantes", avaliou. O CONTEXTO ATUAL DO SETOR MADEIREIRO E EXPORTAÇÕES O presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (ABIMCI), Odelir Batistella, traçou um panorama da situação do setor tanto no Brasil quanto no exterior. Baseado em números oficiais ele citou os presentes no contexto do setor madeireiro e sua importância para a economia brasileira, mostrando seu crescimento nos últimos anos e também revelando o seu potencial para os próximos anos e também os desafios que esperam pelo setor na macroeconomia e nos mercados internacionais. Para ele, é necessário que o Governo, através dos municípios com apoio de universidades e outras entidades não-governamentais faça um inventário da capacidade florestal do País, para saber qual a real dimensão do potencial florestal brasileiro e não fiquemos em "achismos", balizando as decisões e estratégias de todo um setor importante da economia por informações distorcidas que nem sempre expressam a realidade. Batistella recomendou a criação imediata de um organismo coordenador da atividade do setor florestal, no âmbito de um ministério da produção, objetivando a melhoria da produção e comercialização e que assegure um ambiente institucional e legal, condição fundamental para atrair os investimentos necessários a geração de empregos, rendas e divisas. De acordo com ele, o Brasil possui apenas 1,5% do comercio mundial do setor de base florestal, estimado em cerca de US$ 300 bilhões de dólares por ano. "Essa participação é muito modesta para um país que abriga condições naturais favoráveis para o desenvolvimento do setor, como o maior estoque de madeira tropical do mundo, clima e solo propícios para o plantio de florestas, dimensão territorial, mão de obra e capacidade tecnológica", concluiu. SETOR MADEIREIRO NO BRASIL É UMA MINA DE OURO, DEFENDEU EMPRESÁRIO A segunda apresentação do Ciclo Catarinense de Desenvolvimento do Setor Madeireiro, Design e Exportação, comandada pelo diretor da B. Krick Importação e Exportação de Máquinas para Madeira, Bruno Krick, mexeu com os empresários do setor. De acordo com ele, o setor madeireiro está sentando sobre uma mina de ouro e defendeu o aumento do valor agregado dos produtos e os investimentos em exportações. "Agregando valor aos produtos é possível com um mesmo volume de madeira até faturar quase dez vezes mais", afirmou, baseado em valores do metro cúbico de madeira acabada no mercado internacional. Segundo o palestrante, o Brasil exporta hoje para a Europa cerca de US$ 4 bilhões ao ano e a previsão é de que esse valor pule para US$ 10 bilhões nos próximos dez anos. "Isso não que dizer que o mercado terá um grande crescimento, mas sim que os americanos e europeus deixarão de comprar madeira simplesmente serrada, passando a adquirir produto pronto, o que aumenta o valor da madeira no mercado internacional", explicou. Bruno Krick defendeu também um constante profissionalismo setor, não só na produção mas também na área de vendas. "O brasileiro precisa ter orgulho de ser madeireiro e orgulho de vender os seus produtos no mercado internacional. O empresário brasileiro deve parar de concorrer entre si e passar a disputar mercado com outros países", definiu, acrescentando que é preciso também conhecer o mercado. "O empresário precisa viajar pelo mundo para aprender a trabalhar. Tem que estar presente em feiras internacionais, tem que ir ver o que os outros estão 2 fazendo para poder sobreviver nesse mercado cada vez mais competitivo", concluiu. O DESIGN COMO GERADOR DE VALOR PARA AS EMPRESAS MADEIREIRAS O papel do design na indústria madeireira como fator gerador de valor foi o tema apresentado pelo coordenador do curso de design da Univali (Balneário Camboriú), Luiz Salomão Ribas Gomes, que mostrou aos participantes, de forma didática, como o setor pode ser beneficiado com investimentos nessa ferramenta de trabalho. "O design se envolve num produto desde a sua concepção até o seu acabamento. No nosso caso aqui em especial ele começaria no reflorestamento", explicou. De acordo com Salomão, estudos internacionais comprovam que cada dólar investido em design, ocasiona um retorno em torno de 6 dólares, num período máximo de 24 meses. Entretanto, salientou, o design só apresenta resultados quando trabalhado conjuntamente com os demais setores da empresa. Para o setor madeireiro, ele defendeu o Ecodesign, que torna os produtos e serviços oferecidos adequados ao meio ambiente. "Com o ecodesign é possível tirar este estigma de que o madeireiro é apenas um explorador de matas nativas, um devastador, apresentando ele como um reflorestador e um fabricante de produtos ecologicamente corretos", definiu. A indústria madeireira, segundo Salomão, tem um potencial muito grande para o desenvolvimento do design. "O mercado hoje é muito competitivo e exige profissionalismo na área de design, desde a concepção das máquinas na indústria até o produto final para o consumidor internacional", concluiu. OS MECANISMOS DE FOMENTO E CRÉDITO À PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO ATRAVÉS DOS GOVERNOS FEDERAIS E ESTADUAL Linhas de crédito para a produção por bancos oficiais foi o tema apresentado Ricardo Rauen, Gerente de Negócios Internacionais do Banco do Brasil, Adriano Goedert, Assessor da Diretoria do BRDE e Pedro Ananias Alves, diretor de operações do BADESC, que discorreram sobre os programas de fomento dos Governo Federal e Estadual, mostrando alternativas de financiamento da produção e como os empresários devem fazer para ter acesso à essas linhas de crédito. Ananias mostrou um vídeo com exemplos de pequenos empreendedores que apostaram no Programa de Microcrédito desenvolvido pelo Governo do Estado e alavancaram seus negócios a partir de pequenos empréstimos. Esse programa, implantado no atual governo teve recursos garantidos pelo Badesc. Desde sua criação, há dois anos, o microcrédito já atendeu 15 mil operações, em média de R$ 2 mil cada uma, o que corresponde a um montante de R$ 30 3 milhões. "Esse valor parece pouco, mas gera cerca de 45 mil empregos, o que seria impossível por qualquer outra empresa com o mesmo incentivo", disse o palestrante. Pedro Ananias Alves falou também sobre o programa SC Giro. Uma linha de crédito destinada a micros empresários, com faturamento anual até R$ 1,2 milhão. As operações vão de R$ 10 mil a R$ 20 mil e destinam-se a formação de capital de giro, com juros finais de 2% ao mês. O BADESC possui R$ 30 milhões destinados a esse programa. "Foi uma forma que encontramos de atender os pequenos, já que conseguimos essa verba com o BNDES", explica o diretor. PERSPECTIVAS DA ECONOMIA BRASILEIRA PARA 2003: OTIMISMO COM O PRÓXIMO GOVERNO Na palestra mais esperada do Ciclo Catarinense de Desenvolvimento, o expresidente do Banco Central, Gustavo Loyola, fez uma explanação da conjuntura econômica do país e traçou prognósticos para o próximo ano, baseado num cenário que está sendo construído pelo governo petista nesse período de transição. Para ele, o clima é de otimismo, tanto da população brasileira quanto da classe econômica, porque pelo que se apresenta, o presidente Lula não fará modificações no rumo da economia. "A ortodoxia econômica será mantida pelo próximo governo e isso pode ser visto quando ele anuncia um banqueiro internacional para presidir o Banco Central", afirmou. Para ele, o PT que assume o Governo em 1º de janeiro, pelas medidas que está tomando, não tem muito a ver com o PT que começou no ABC paulista no começo dos anos 80. "Quando a futura equipe econômica promete honrar os contratos com as instituições financeiras e senta com os dirigentes do FMI para traçar a política dos próximos anos, os investidores passam a acreditar mais e isso indica que gradualmente os investimentos internacionais devem retornar ao país", explicou, acrescentando que o PT deverá governar baseado no triângulo macroeconômico, que é o cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, o cumprimento das metas de controle da inflação imposta pelo FMI e a manutenção do câmbio flutuante. Para ele, o grande desafio do próximo presidente é domar a pressão inflacionária que hoje atinge preços de produtos que não estão relacionados a moeda americana. Na sua avaliação, caso as medidas econômicas permaneçam como estão se apresentando na transição, o ano de 2003 deverá apresentar sinais de recuperação a partir do segundo semestre e 2004 será um ano de boa recuperação da economia, tudo isso dependendo da política econômica. "Isso não livra-nos de termos um governo medíocre, que pode acontecer em qualquer país democrático", enfatizou. Loyola traçou cenários para o próximo ano, sempre salientando que o clima é de otimismo. "A indicação de Henrique Meirelles para o Banco Central acalmou os mercados. Sabemos que o Lula vai começar um governo conservador, como é característicos dos governos e as mudanças que fará serão de estilo, mas não de formas de administrar. "O Brasil não será diferente do resto do mundo. Não há motivos para tanto temor", concluiu. 4 AGENDA POSITIVA DO CICLO CATARINENSE DE DESENVOLVIMENTO MADEIREIRO, DESIGN E EXPORTAÇÃO ANÁLISE DO CENÁRIO O setor madeireiro é de extrema importância para a economia brasileira, tanto pelo suas representação em números, na balança comercial e pelo seu valor social, pelo número de empregos que gera, desde o plantio e manejo de florestas até as indústrias a madeira é processada e transformada em produto acabado. Estima-se que, no cenário macroeconômico nacional, o setor de base florestal tenha representado na formação do Produto Interno Bruto (PIB), cerca de 4%, caracterizando uma movimentação financeira de US$ 21 bilhões. Só em impostos e tributos isso significa um contribuição de US$ 4,6 bilhões, emprega mais de 6 milhões de pessoas e corresponde com cerca de 10% do total de exportações brasileiras. O futuro do setor madeireiro apresenta boas perspectivas, principalmente naquele baseado em madeiras exóticas, ou seja reflorestáveis, caso do pinus e eucalípto. Numa visão macro, somente para Europa está um previsto um salto nas exportações de US$ 4 bilhões para US$ 10 bilhões nos próximos 10 anos. No Estado de Santa Catarina, o setor madeireiro é o que vem tendo o maior crescimento de exportações. Só neste ano, enquanto a média do estado foi de 45, o setor cresceu 33%. O setor madeireiro representa para Santa Catarina, aproximadamente 20% da economia. Destacam-se como pontos fortes no setor madeireiro: a disponibilidade de terras florestais; mercados com grande potencial de consumo; pleno domínio da tecnologia silvicultural de florestas plantadas; bons conhecimentos em florestas nativas e domínio da tecnologia da produção industrial. Como pontos fracos são apontados os seguintes: custos de produção altos, comparado a outros países produtores; carência de financiamentos específicos para a área de processamento mecânico de madeira; custos de controle de qualidade e seleção de matéria-prima e o "custo Brasil". ESTRATÉGIAS RECOMENDADAS Baseado no atual cenário do setor madeireiro, buscando fomentar a indústria, agregando valor aos produtos e conquistando novos mercados, através da qualidade e competitividade, o Ciclo Catarinense de Desenvolvimento Madeireiro, Design e Exportações concluiu que torna-se necessário as seguintes ações: -Criação imediata de um organismo coordenador da atividade do setor florestal que assegure um ambiente de estabilidade institucional e legal para atração de investimentos necessários a geração de rendas, empregos e renda. 5 -Assegurar através de mecanismos de financiamento e incentivos apropriados, o suprimento futuro da madeira, na quantidade e qualidade adequada à indústria de produtos de madeira sólida. -Fomentar e orientar os esforços das instituições de pesquisa e difusão tecnológica para atender as necessidades do desenvolvimento tecnológico da produção florestal e da indústria da madeira sólida, deforma que a atividade amplie a competitividade de mercados. -Investir pesado no aumento da quantidade de madeira para o mercado internacional, alavancando as exportações através de parcerias com clientes dos grandes mercados consumidores. -Partir para a agregação de valor nos produtos, deixando de vender apenas madeira serrada para entregar produto acabado ou semi-acabado, que aumentam o faturamento na mesma quantidade de madeira. -Buscar tecnologia de ponto, tanto para a base florestal como para a indústria de processamento, tornando-se mais comepetitivo no mercado internacional, tanto em preço quanto em qualidade. -Procurar conhecer a clientela e saber, antecipadamente, o que ela busca e quais as tendência do mercado internacional, tanto em produtos como em design. -Antecipar-se ao cliente na hora de oferecer novos produtos, através de pesquisa e conhecimento do mercado, visitando os países consumidores em potencial. -Valorizar a função e atividade madeireira, com investimentos em programas ambientais, programas de qualidade e instituição do "Selo Verde". As instituições, entidades e empresas promotoras e apoiadoras do Ciclo Catarinense de Desenvolvimento Madeireiro, Design e Exportação assumem o compromisso de empenhar-se na busca destes objetivos. Caçador (SC), 16 de dezembro de 2002 Expediente: Organização: SEBRAE/SC – UnC - SBT – Rede Santa Catarina de Comunicação Coordenadores: Lauro Andrade Filho – João Alexandre Sant´elena Guze – Eliane da Rosa – Ilze Chiarello – Nilson Thomé – Celso Marini - Marcello Corrêa Petrelli – Cláudia B. – Paulo Hoeller – Fernando Thomeé – Giancarlo Tomelin – Luiz Gustavo Vailati 6 Redação: Frutuoso Oliveira Fotos: Jorge Tadeu 7