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PROCESSOS FORMATIVOS E INCLUSÃO SOCIAL: DIÁLOGOS ENTRE
ATIVIDADES DE ENSINO E EXTENSÃO COMUNITÁRIA
Patrícia Pinto Wolffenbüttel
Este relato se propõe a apresentar algumas ações que contribuem para a formação de
professores e, simultaneamente, adquirem um valor social e educativo em diferentes
instâncias.
As reflexões relativas ao campo da educação são, a cada novo dia, mais desafiantes.
Para entender a complexidade deste tema, é necessário considerar as diversas relações que
se estabelecem no cotidiano da sociedade, nesse sentido, é imprescindível ter presente que
os seres humanos são diversos e complexos. Assim, é essencial procurar compreender a
educação encaminhando a um paradigma que incorpore as trajetórias de vida e as
experiências dos grupos sociais (SANTOS, 1996).
A sociedade atual traz como credencial a marca da diferença social, da competição,
da desigualdade, das grandes distâncias e das sutis aproximações. O capitalismo global dita
normas cruéis tomando posse dos múltiplos espaços. Hoje, é imprescindível considerar a
sociedade em permanente e veloz transformação, tornando-se assim não somente a
sociedade da informação, mas, sobretudo, a sociedade do conhecimento.
Para ALARCÃO (2004) o mundo contemporâneo apresenta características próprias
onde não existem mais verdades absolutas, necessariamente, é crucial conviver com a
relatividade dos modos de pensar. Nesse sentido, é exigido um novo modo de fazer o
conhecimento, uma nova maneira de aprender e, conseqüentemente, outra forma de
apropriação destes conhecimentos.
Ao discutir e apontar para uma nova cultura do aprender reverencia-se a construção
do conhecimento. A explosão de informações e a relatividade do conhecimento são
constatações inevitáveis e encaminham à organização de uma nova sociedade, da
aprendizagem permanente e continuada, sendo impossível de ser comparada em quantidade
e qualidade com sociedades de épocas passadas.
Essa situação não é simples, pois, quanto maiores são as exigências, torna-se mais
difícil aprender, aumentando a distância entre o que deveríamos aprender e o que realmente
se aprende.
Assim, é possível definir a sociedade de hoje como a sociedade da aprendizagem,
pois em nossa cultura, o aprender é condição de inserção nos múltiplos âmbitos da
atividade social. Nesse sentido, nos tornamos aprendentes e ensinantes em diferentes
contextos, durante todo nosso ciclo vital.
O sentido de aprender para a humanidade tem uma premissa fundamental e
determinante, pois, conforme PAIN (1996), aprendemos para fazer parte da cultura a que
pertencemos. Nesse entendimento, há a necessidade de desejarmos nos assemelhar aos
nossos pares, ou seja, é essencial que haja um processo de identificação.
Ao pactuarmos com essa conceituação, está subjacente nas entrelinhas, o paradigma
epistemológico que sustenta a abordagem referida. É descartada a crença de que o
conhecimento já vem inscrito na bagagem genética do indivíduo, como também não se
acredita que esse indivíduo esteja pronto a receber os conhecimentos postos pela cultura e
impostos autoritariamente num movimento de fora para dentro.
A concepção epistemológica que subsidia essa discussão está centrada no próprio
sujeito como autor de seu processo de aprender, e sendo assim, esse sujeito é
essencialmente ativo em relação ao meio em que está inserido. Sua relação com o aprender
é encharcada de significado e representações, aspectos que qualificam as aprendizagens
realizadas pelo sujeito, que nunca é sujeito sozinho, pois se trata de um sujeito que advém
de uma família, pertencente a uma cultura e inserido em uma sociedade.
Nessa linha de reflexões, é interessante revisar o conceito de aprendizagem de
PARENTE (2000) em que a autora destaca a relação entre subjetividade e objetividade.
A aprendizagem é um processo dialético e complementar que envolve a reestruturação do
campo subjetivo, a partir da presença de um objeto externo, e pressupõe tanto a mudança
dos esquemas internos do sujeito quanto uma possibilidade de transformação da realidade
(PARENTE, 2000, p.73).
Assim, pode-se inferir que o aprender é próprio do sujeito. A Psicopedagogia
constitui-se em um campo do conhecimento que tem como objeto de estudos os processos
de aprender e, em sintonia, os problemas em relação ao aprender. Define-se assim a
Psicopedagogia como um campo interdisciplinar, pois nutre-se de teorias advindas de
diferentes áreas da ciência como a Psicologia Genética, a Psicanálise, a Psicomotricidade, a
Neurologia, a Lingüística, entre outras.
O campo de atuação em Psicopedagogia está dividido basicamente em duas
vertentes: a clínica de abordagem terapêutica sobre os problemas de aprendizagem; e a
institucional contemplando a dimensão preventiva dos processos de aprender e ensinar.
A prática clínica se caracteriza, sobretudo, pela investigação, pelo diagnóstico e pela
intervenção junto a indivíduos com dificuldades em seu processo de aprendizagem, onde o
não-aprender sinaliza como um sintoma, logo, trata-se de problemas que tenham origem na
estrutura individual e familiar do sujeito.
Em uma segunda vertente, a Psicopedagogia Institucional define-se como o campo
de atuação onde a instituição é o foco da atenção. Da mesma forma como na prática clínica,
há a necessidade de realização de investigação e diagnóstico para uma possível intervenção.
Nessa abordagem não temos um indivíduo como sujeito central do processo, mas diferentes
sujeitos compondo um grupo, ou diferentes grupos em uma instituição.
Ao olhar para escola, o foco é investir na prevenção das dificuldades de
aprendizagem e, conseqüentemente, na diminuição da evasão e do fracasso escolar.
Ressalto que essa prática institucional, de cunho preventivo também poderá ser pensada
dirigindo-se a diferentes instituições que tenham espaços organizados para ensinar e
aprender.
Historicamente, o cenário educacional brasileiro vem sendo marcado por um
quadro agravante de fracasso e evasão escolar. Esse quadro demonstra a ineficiência e as
dificuldades que vem enfrentando a escola e, conseqüentemente, seus educadores. Percebese que as metodologias e técnicas ultrapassadas vinculadas aos paradigmas educacionais
tradicionais, muito contribuem na reprodução de um ensino excludente.
Desta forma, a formação permanente dos educadores constitui-se como aspecto
fundamental para a qualificação da educação brasileira. A busca de novas estratégias de
ação que minimizem o fracasso escolar está diretamente relacionada à competência teóricoprática do professor, à sua capacidade de leitura e análise da realidade, dos processos de
aprendizagem dos alunos e ao seu potencial criativo.
INTERFACES ENTRE ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA FEEVALE – ESCOLA
DE
APLICAÇÃO,
ATENDIMENTO
ESCOLAS
E
DA
EXTENSÃO
COMUNIDADE
EM
E
NÚCLEO
PSICOPEDAGOGIA
–
DE
NAEP:
CONTRIBUIÇÕES PARA OS PROCESSOS DE ENSINAR E APRENDER.
O Centro Universitário Feevale é uma instituição de ensino superior de caráter
comunitário que, através do Instituto de Ciências Humanas, Letras e Artes, oferece um
espaço de investigação e ação voltado para a comunidade para os alunos egressos da
instituição, alunos da Escola de Educação Básica Feevale – Escola de Aplicação, da
Graduação e Pós-Graduação em Psicopedagogia.
A partir desse olhar, é implementado o Núcleo de Atendimento e Extensão em
Psicopedagogia – NAEP- em uma ação integrada o Curso de Psicopedagogia – bacharelado
e o Curso de Especialização em Psicopedagogia. O Núcleo constitui-se tendo por referência
o compromisso ético, político, social e busca contribuir com a construção de novos saberes
e possibilidades educacionais na perspectiva da melhoria da qualidade do ensino, da
inclusão social e da prevenção dos problemas de aprendizagem.
Destaco que o Núcleo promove um permanente espaço de investigação-ação tendo
por base seis eixos: grupos de estudos destinados aos professores da Escola de Aplicação,
professores do Instituto de Ciências Humanas, Letras e Artes, acadêmicos egressos e
demais professores e profissionais da comunidade; cursos de extensão para formação
continuada dos profissionais em educação com temas vinculados às necessidades dos
educadores; acompanhamento aos professores dos alunos com dificuldades de
aprendizagem e/ou necessidades educacionais especiais atendidos no Núcleo; atendimento
psicopedagógico clínico destinado aos alunos da Escola
de Aplicação; atendimento
psicopedagógico a alunos da comunidade; estágio para acadêmicos dos Cursos de
Psicopedagogia – bacharelado e de Especialização.
Sob a ótica apresentada, cabe destacar que o Núcleo é um espaço acadêmico que
tem por objetivo implementar um ambiente psicopedagógico teórico-prático, voltado para a
investigação de novos saberes, tanto no âmbito Clínico quanto Institucional oportunizando
melhores condições nas relações entre ensinar e aprender.
Ao possibilitar a realização de estágios clínicos, participação em Seminários e
Grupos de Estudos, fortalece ainda mais a relação teórico-prática, indispensável à formação
do profissional da Psicopedagogia, se constituindo assim em um espaço inovador que
insere a Psicopedagogia na relação direta com a Escola de Aplicação, visto que realiza um
permanente diálogo com os professores da escola através do vínculo entre o
psicopedagogo, paciente, aluno da escola e professor deste aluno. Esta ação contribui
indiscutivelmente para a melhoria da ação docente, pois, promove uma reflexão sobre os
processos de ensinar-aprender levando o professor a repensar e ressignificar sua ação diante
dos inúmeros desafios postos pelas diferenças entre seus alunos, nesse sentido, contribui
com os processos formativos do educador.
É interessante referir que o projeto contempla um significativo número de
atendimentos a crianças e adolescentes de escolas públicas da região, bem como da Escola
de Aplicação Feevale. Da mesma forma, atende a acadêmicos do Centro Universitário
Feevale. Nesse sentido, os atendimentos não se restringem à atividade clínica individual,
pois se ampliam ao dirigirem seu olhar e reflexão ao espaço escolar com o propósito de
qualificar as relações de ensino-aprendizagem em uma abordagem preventiva.
Em relação ao ano de 2005 o Núcleo oportunizou, através de estágio supervisionado
do curso de Psicopedagogia, atendimentos a uma média de 40 alunos de escolas da rede
municipal e estadual, 8 atendimentos da Escola de Aplicação, 3 atendimentos a acadêmicos
da Graduação dos cursos de Psicologia e Normal Superior. Além dos atendimentos, foram
realizados acompanhamentos sistemáticos aos professores dos alunos atendidos
oportunizando reflexões sobre suas práticas educativas. Aconteceram 2 grupos de estudos
com reuniões quinzenais com objetivo de refletir sobre os estudos de casos à luz das teorias
que embasam a Psicopedagogia. Destaco também uma palestra realizada aos pais e
educadores sobre Família e Problemas de Aprendizagem.
O elemento determinante neste momento de tecer considerações finais sobre este
texto refere-se à curiosidade que me move, pois, a partir de nossa experiência com o
Núcleo é oportuno inferir que a investigação é cada vez mais instigada pelos desafios
impostos pela realidade. Assim, estamos sempre diante de um novo começar e apresentar
estas reflexões sobre a caminhada até aqui percorrida, mesmo já tendo um sabor de grande
conquista, caracteriza-se pela provisoriedade.
REFERÊNCIAS
ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 3ed. São Paulo:
Cortez, 2004.
PAIN, Sara. Subjetividade Objetividade: relações entre desejo e conhecimento. São
Paulo: CEVEC – Centro de Estudos Vera Cruz - Associação Universitária Interamericana,
1996.
PARENTE, Sonia. Pelos caminhos da ignorância e do conhecimento: fundamentação
teórica da prática clínica dos problemas de aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2000.
SANTOS, Boaventura. Um discurso sobre as ciências. Porto: Afrontamento, 1996.
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