ANÁLISE COMPARATIVA DO SOM DO PULSO RADIAL E DO CORAÇÃO CAPTADO COM MICROFONE DE ELETRETO Josely de Abreu Vitor1, Eder Rezende Moraes2, Daniel Acosta-Avalos2 1 Mestrado em Engenharia Biomédica, Universidade do Vale do Paraíba / IP&D. Avenida Sishima Hifumi, 2911, Urbanova, 12244-000 – São José dos Campos – SP, e-mail: [email protected] 2 Universidade do Vale do Paraíba / IP&D. Avenida Sishima Hifumi, 2911, Urbanova, 12244-000 – São José dos Campos – SP, e-mail: [email protected] Palavras-chave: Ausculta cardíaca, Pulso, Microfone Área do Conhecimento: III - Engenharias Resumo- O ouvido humano percebe sons com freqüências de 16 a 17.000Hz, dependendo de cada indivíduo. As vibrações produzidas em estruturas cardíacas e vasculares no ciclo cardíaco propagam-se até a superfície do corpo, e o pulso arterial pode ser percebido pelo deslocamento de uma onda de pressão no sistema arterial. Como as ondas cardíacas e do pulso obedecem às leis da acústica, elas podem ser captadas através de microfones. Neste trabalho, ambos sons foram captados simultaneamente com microfones de eletreto, para depois correlacionar o batimento cardíaco com o do pulso radial. Isso pode auxiliar, no futuro, na identificação de doenças cardíacas. Observou-se que o batimento do coração e do pulso radial, para um dos voluntários estudado, tem uma freqüência fundamental de 1,22Hz. Entre os sinais foi calculado um coeficiente de correlação de Pearson r=0,487 que implica numa correlação média. Ambos sinais apresentaram um deslocamento temporal de 114ms, o qual deve estar relacionado com o tempo de propagação desde o coração até o punho do voluntário analisado. Introdução Parte das informações que o ser humano recebe são transmitidas por ondas sonoras provenientes do ambiente que o cerca e originadas em diversas fontes sonoras. O ouvido humano tem capacidade de perceber vibrações sonoras com freqüências variando entre 16 a 17.000 Hz, limites que variam com a idade e de um indivíduo para outro [1]. As ondas de vibração mecânica chegam até o ouvido e são percebidas pelo cérebro como a sensação do som. A análise de um som complexo, composto por muitas freqüências, é feita com a ajuda de sistemas de processamento de sinais [1,2]. O coração atua como bomba muscular, que gera pressões variáveis enquanto suas câmaras se contraem e relaxam. A sístole é o período de contração dos ventrículos, e a diástole é o relaxamento ventricular. As vibrações produzidas em estruturas cardíacas e vasculares, durante o ciclo cardíaco, propagam-se até a superfície do corpo obedecendo às leis da acústica [3]. A cada contração, o ventrículo esquerdo ejeta um volume de sangue na aorta, e daí para o sistema arterial. Uma onda de pressão deslocase rapidamente pelo sistema arterial, onde se é percebido o pulso arterial. Pelo exame dos pulsos arteriais pode-se contar a freqüência cardíaca, determinar o ritmo do coração, avaliar a amplitude e o contorno da onda e do pulso, ou até mesmo detectar obstruções ao fluxo sangüíneo [4]. A ausculta cardíaca é um recurso indispensável para diagnósticos das enfermidades cardíacas. Na ausculta, a primeira e a segunda bulhas cardíacas definem o limite da sístole e da diástole. A fonocardiografia é o registro gráfico dos sons cardíacos. O fonocardiograma é obtido colocando-se um microfone especial na parede torácica. As ondas geradas pelo coração são amplificadas, filtradas e registradas. A fonocardiografia é usada principalmente no ensino e pesquisa, especialmente com os avanços tecnológicos dos estetoscópios eletrônicos [3,4]. O objetivo do presente estudo foi a análise do som do pulso radial, captado com um microfone de eletreto em diferentes indivíduos, e sua correlação com o som da ausculta cardíaca. O estudo do som do pulso radial pode auxiliar, futuramente, na identificação de doenças do coração, complementarmente à ausculta cardíaca, visto que o pulso é gerado pelos batimentos cardíacos. Materiais e Métodos Participaram da pesquisa 06 indivíduos do sexo feminino, faixa etária de 18 a 29 anos. Foram excluídos da pesquisa sujeitos com diagnóstico comum de problemas IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1285 partir da FFT foram comparadas as freqüências principais encontradas entre os dois sinais para um mesmo indivíduo. Como os sinais do pulso e do coração foram captados simultaneamente, foi possível realizar a correlação entre ambos, para poder analisar qual é o tempo de defasagem entre os sinais. Também foi calculado o coeficiente de correlação entre eles. Resultados Nas figuras 1 e 2 podemos observar a forma dos sinais do pulso radial e do coração, 0,3 0,2 Sinal (V) 0,1 0,0 -0,1 -0,2 -0,3 0 2 4 6 8 10 Tempo (ms) respectivamente, sem a componente DC. 0,15 0,10 Sinal (V) cardiovasculares, hipertensão arterial sistêmica, diabetes, obesidade e história de abuso no consumo alcoólico. O estudo foi realizado no Laboratório de Espectroscopia Fotoacústica e no Laboratório de Processamento de Sinais do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento – IP&D, da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IP&D-UNIVAP (Protocolo L047/2005/CEP). Foram utilizados: uma interface de registro de sinais com 12 canais de entradas analógicas, dois microfones de eletreto comerciais, uma placa de aquisição de dados, um computador para a digitalização dos sons captados – com o recurso dos programas Lab View, Origin e Excel, e um estetoscópio Littmann Classic II®. O sinal captado no microfone foi digitalizado usando-se uma placa AD, com resolução de 12 bits, controlada com o software LabView. Os sujeitos foram colocados na posição de decúbito dorsal, num ambiente silencioso, e se mantiveram na mesma posição por 180 segundos, que foi o tempo para a coleta dos dados. Um microfone de eletreto foi posicionado sobre a artéria radial do antebraço direito de cada sujeito, onde a palpação coincidisse com a pulsação máxima da artéria. O segundo microfone foi posicionado na região anterior do tórax dos sujeitos, no quinto espaço intercostal esquerdo, no ponto de pulsação máxima e melhor percepção dos fenômenos acústicos. O microfone utilizado na captação do som do coração foi acoplado a uma campânula de estetoscópio, a fim de reduzir ruídos e amplificar o som cardíaco. Os sinais do pulso e do coração foram captados simultaneamente. Os sinais foram captados pelos microfones e armazenados num arquivo com extensão TXT através de um programa no LabView. Para a aquisição contínua dos dados, os parâmetros utilizados foram: 1 ponto a cada 4 ms (250 pontos por segundo) e buffer de 25.000. Os arquivos TXT foram importados para o programa Origin, para sua análise qualitativa. De cada gráfico foi escolhido um setor de boa qualidade para ser tratado. Inicialmente o sinal foi suavizado para eliminar os ruídos (smoothing de 10 pontos). Foi realizada a estatística dos dados suavizados do gráfico, e o valor médio obtido foi utilizado para eliminar o nível DC do sinal, simplesmente subtraindo o valor médio de todos os valores do sinal analisado. Um novo gráfico foi gerado sem a componente DC, e nele foi realizada uma Transformada Rápida de Fourier (FFT), tanto para os sinais do pulso radial quanto do batimento cardíaco. A 0,05 0,00 -0,05 -0,10 0 2 4 6 8 10 Tempo (ms) Figura 1: Forma do som do pulso radial. Figura 2: Forma do som do batimento cardíaco. IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1286 Amplitude (u.a.) 0,03 0,02 0,01 0,00 0 2 4 6 8 10 12 14 Frequencia (Hz) Figura 3: FFT do sinal captado no Pulso 0,020 observado nas Figs. 3 e 4. É importante mencionar que a freqüência de 1,22 Hz que aparece na Tabela I, junto com seus harmônicos, corresponde com um pulso de aproximadamente 70 batimentos por minuto, que é o esperado numa pessoa em repouso. Na figura 5 podemos observar o resultado da correlação entre ambos sinais. A partir da curva de correlação pode-se observar que os dois sinais estão deslocados em 114 ms, ou seja, que existe um atraso entre o sinal gerado no coração e sua propagação até o punho. Neste mesmo gráfico podemos observar que existe uma grande correlação entre ambos sinais. Com ajuda do MS-Excel foi calculado o coeficiente de correlação de Pearson entre ambos sinais, no deslocamento de 114 ms. Neste caso r = 0,487, o que indica uma correlação mediana entre ambos sinais. 3 0,010 Correlação (u.a.) Amplitude (u.a.) 0,015 0,005 0,000 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 0 3 0 -3 -3 Frequencia (Hz) -1 0 1 Tempo (s) Figura 4: FFT do sinal captado no Coração -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 Tempo de defasamento (s) Nas figuras 3 e 4 podemos observar o resultado da FFT para os sinais das figuras 1 e 2 respectivamente. Na tabela I encontram-se as freqüências obtidas para cada sinal, ordenadas segundo a sua contribuição no sinal pela amplitude. Tabela I: Freqüências obtidas nas FFTs para os dois diferentes sinais. Os valores marcados em negrito correspondem com a freqüência de 1,22 Hz e seus harmônicos. Ordem 1 2 3 4 5 6 7 8 Freq. Pulso (Hz) Freq. Coração (Hz) 3,42 0,12 6,35 2,32 3,42 2,32 5,74 5 2,56 3,66 1,22 4,64 4,88 3,66 5,13 1,22 O que pode ser observado nas duas FFTs é que os dois sinais têm contribuições semelhantes nas freqüências, porém a amplitude delas não é semelhante, como pode ser Figura 5: Correlação entre os sinais do pulso radial e do coração coletados simultaneamente. O insert mostra o detalhe da curva para defasagens entre -1 s e +1s. Discussão Os resultados mostrados na Tabela I mostram que o batimento do coração e do pulso radial têm uma freqüência fundamental, que é 1,22 Hz, pois os primeiros harmônicos desta freqüência contribuem fortemente no sinal. Porém, aparecem outras freqüências (pulso: 5.4, 6 e 7 Hz; coração: 3, 8 e 9 Hz) não compartilhadas em ambos sinais, que acredita-se serem causadas pela própria diferença entre a origem destes pulsos. O valor do coeficiente de correlação não foi maior que 0,7 (correlação forte), devido à presença destas componentes nos respectivos pulsos com freqüências diferentes. Porém, o valor obtido para o coeficiente r demonstra que existe uma correlação entre ambos sinais, o que era esperado. IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1287 Conclusão No presente trabalho foi mostrado que os sinais do batimento cardíaco e do pulso radial, captados com um microfone, estão correlacionados entre si. Uma análise mais apurada da forma destes pulsos permitirá identificar melhor as semelhanças entre eles. O cálculo do tempo de defasagem e a análise da forma dos sinais possivelmente poderão servir num futuro para a identificação de patologias cardíacas. Referências [1] GARCIA, E.A. Biofísica da audição. Biofísica. São Paulo: Sarvier. V. , n. , p.117-20, 2002. [2] MACIEL, B. C. Ausculta cardíaca: bases fisiológicas. Medicina, Ribeirão Preto. V.27, n.1/2, p.126-144, 1994. [3] BICKLEY, L. S. O sistema cardiovascular. Propedêutica Médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A., 2201. [4] TILKIAN, A. G.; CONOVER, M. B. Entendendo os sons e sopros cardíacos. São Paulo Roca, 2004. IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1288