Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Recife, 2013 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Atribuição-Uso Não-Comercial-Compatilhamento pela mesma licença 2.0 Brasil A OBRA (CONFORME DEFINIDA ABAIXO) É DISPONIBILIZADA DE ACORDO COM OS TERMOS DESTA LICENÇA PÚBLICA CREATIVE COMMONS ("CCPL" OU "LICENÇA"). A OBRA É PROTEGIDA POR DIREITO AUTORAL E/OU OUTRAS LEIS APLICÁVEIS. QUALQUER USO DA OBRA QUE NÃO O AUTORIZADO SOB ESTA LICENÇA OU PELA LEGISLAÇÃO AUTORAL É PROIBIDO. AO EXERCER QUAISQUER DOS DIREITOS À OBRA AQUI CONCEDIDOS, VOCÊ ACEITA E CONCORDA FICAR OBRIGADO NOS TERMOS DESTA LICENÇA. O LICENCIANTE CONCEDE A VOCÊ OS DIREITOS AQUI CONTIDOS EM CONTRAPARTIDA À SUA ACEITAÇÃO DESTES TERMOS E CONDIÇÕES. Você pode: copiar, distribuir, exibir e executar a obra criar obras derivadas Sob as seguintes condições: Atribuição. Você deve dar crédito ao autor original, da forma especificada pelo autor. Uso Não-Comercial. Você não pode utilizar esta obra com finalidades comerciais. 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Pós-doutorado realizado no Programa de Extensão Rural e Desenvolvimento Local – POSMEX da Universidade Federal Rural de Pernambuco, 2006. Mestre em Comunicação Social, modalidade Comunicação Científica e Tecnológica, Universidade Metodista de São Paulo, 2000. Especialista em Comunicação e Cultura Científica, Universidad de Salamanca, 1999. MBA em Administração de Empresas, foco em Gestão, Fundação Getúlio Vargas, 2009. Engenheiro químico, Universidade Estadual de Campinas, 1997. Página Web: http://marcelo.sabbatini.com Email: [email protected] Facebook: https://www.facebook.com/marsabbatini Twitter: #marsabbatini ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 3 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Sumário 1. Introdução à Sociologia. Conceito. A imaginação sociológica. “O Suicídio”. 2. Aula-exemplo: o estudo sociológico da sexualidade. 3. O surgimento da Sociologia no contexto histórico. A Revolução Industrial, as mudanças culturais no trabalho. 4. O pensamento sociológico moderno. Principais pensadores e linhas teóricas. A sociologia como conhecimento. 5. Status e papel social. Conflito de papéis. 6. Estratificação social. Mobilidade social. Classes sociais. Desigualdade social. 7. As relações e os processos sociais básicos. Isolamento, acomodação, assimilação, cooperação, competição e conflito. Socialização. 8. Controle social. Normas. Sanções. Desvio social. Marginalização e crime. 9. Mudança social. Teorias da mudança social. 10. Conceito de cultura. Sub-cultura. Contracultura. Símbolos. Aculturação. Etnocentrismo. Introdução à cultura organizacional. 11. Grupos sociais. Grupos primários e secundários. Grupo de fora e grupo de dentro. Grupos formais e informais. 12. Redes sociais e a teoria do mundo pequeno. Sociograma. 13. Institucionalização. Instituições sociais básicas. Introdução às organizações formais. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 4 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 1 Introdução à Sociologia. sociológica. “O Suicídio”. Conceito. A imaginação Características que vamos buscar neste curso de Sociologia: Sintonia com a realidade com exemplos de casos concretos, estudo da comunidade onde os alunos estão inseridos. Buscar as causas e propor soluções para os problemas sociais é a razão de ser da Sociologia. Compreensão do ambiente social onde os alunos vivem e a função social da carreira que escolheram. O mundo que muda (origem da sociologia na revolução industrial): mudanças no mundo hoje com a integração mundial e o desenvolvimento da tecnologia. Uma relação entre o social e o pessoal, com a compreensão de si mesmo e do mundo social. Uma experiência libertadora! E algumas habilidades específicas a desenvolver: Aprender como pensar, além de o quê pensar. Desaprender algumas idéias familiares. Aprender algumas novas idéias que nos acompanharão para o resto da vida. Aprender a diferença entre crença (desejo) e realidade (o que realmente é). Aprender que o senso comum (como forma de pensar) é limitado. Aprender a reconhecer tendências históricas de longo prazo, não tomando o agora somente como a única perspectiva. Aprender a valorizar-se como pessoa capaz de defender suas idéias. E por quê tudo isso? O trabalho sociológico, ao questionar os dogmas, ensinar-nos a apreciar a variedade cultura e nos permitir compreender o funcionamento das instituições sociais, aumenta as possibilidades da liberdade humana. Anthony Giddens ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 5 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Mais especificamente na Sociologia Aplicada à Administração, nos concentraremos em: Teorias sobre as relaciones sociais no trabalho Problemas históricos relativos à industrialização, e sua prospectiva (o futuro) Estudo das organizações como sistema social e dos papéis que a compõe Problemas relacionados ao controle e a participação na empresa Temas relativos ao contexto exterior no qual se desenvolve a atividade empresarial: conflitos, sociedades, lazer, meio cultural, econômico e social. Algumas definições A Sociologia é o estudo da vida social humana, dos grupos e sociedades (Giddens) É a ciência do comportamento coletivo (Park, Burgess) A sociologia geral é, em conjunto, a teoria da vida humana em grupo (Tönnies) A Sociologia pergunta o que acontece com os homens, quais as regras de seu comportamento, não no que se refere ao desenvolvimento perceptível de suas existências individuais como um todo, porém, na medida em que forma grupos e são influenciados, devido às interações, por sua vida grupal (Simmel). A Sociologia é um encontro com as Forças Sociais que moldam nossa vida, especialmente aquelas que afetam a nossa percepção (ou ignorância) de como criamos, mantemos e mudamos estas mesmas Forças Sociais (). Os pontos comuns destas definições são as relações humanas, do comportamento do homem com os seus semelhantes. Mas é um estudo científico (sistemático e crítico) que busca a verdade “além das aparências”. Historicamente, a sociologia foi vista tanto como “arma a serviço dos interesses dominantes” ou como “expressão teórica dos movimentos revolucionários”. De forma geral, a Sociologia também pode ser entendida como uma “tentativa de dialogar com a civilização capitalista”, relacionada então com um desejo de interferir no rumo da civilização (possuindo dimensão política, portanto) tanto para a manutenção ou alteração das relações de poder na sociedade. O pensamento sociológico O chamado pensamento sociológico, exige cultivar a imaginação, colocar-se no lugar do outro, liberar-se das circunstâncias pessoais e um distanciar-se do cotidiano. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 6 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Somente assim, o poderemos pensar na sociedade e em suas forças, sem estarmos influenciados por nossa própria experiência pessoal. Exemplo: quais são os significados sociológicos de tomar uma simples xícara de café? Valor simbólico: tomar café como um ritual diário, “não me sinto gente até” Valor bioquímico: cafeína Relações sociais e econômicas: cultivo, preparação, distribuição, comercialização do café, afetando diversos grupos e culturas Desenvolvimento social e econômico anterior, histórico. Processo de disseminação pelo mundo auxiliado pelo comércio internacional (século 19), hoje cultivado em países em desenvolvimento Portanto, para passar do problema pessoal ao problema social, necessitamos do que Charles Wright Mill chamou a imaginação sociológica. Exemplo Podemos pensar que um divórcio é motivado por razões puramente pessoais (emocionais, psicológicas): afastamento, incompatibilidade, ciúmes, traição, falta de confiança, monotonia.... Porém se pensarmos nas estatísticas a nível nacional (mais de metade dos jovens casais se separam após cinco anos, ver Leitura rápida #1), podemos pensar que há algo na sociedade que explica o por quê de um comportamento tão generalizado: a independência da mulher trabalhadora, o enfraquecimento dos laços morais e religiosos, a industrialização e a vida urbana com seu ritmo rápido e individualista e a própria possibilidade de se divorciar legalmente (que antes não existia)!!! Portanto, dentro de uma discussão científica e sociológica sobre o divórcio temos que aplicar a imaginação sociológica para escapar das nossas experiências pessoais. As forças sociais Toda experiência pessoal é influenciada pelo ambiente social (estrutura social), nossas ações são pautadas pela família, pela igreja, pelo estado... Podemos dizer então que o comportamento humano é ordenado, padronizado e estruturado. Mas as interações sociais também são relacionadas entre si, então a sociologia deve buscar a compreensão da totalidade, adotar uma visão de sistema (conjunto de elementos interligados que são modificados devido às relações entre si onde cada alteração em um elemento provoca uma mudança no todo). ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 7 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Para mostrar como a sociedade pauta o comportamento humano, mais além do pessoa, Émile Durkheim, no momento que a Sociologia surgia como disciplina, realizou um estudo clássico, a explicação sociológica do suicídio. Justamente como o suicídio, um ato aparentemente altamente pessoal, que geralmente é explica do pelos motivos pessoais que levaram a pessoa á isso. Com efeito, se em lugar de apenas vermos os suicídios como acontecimentos particulares, isolados uns dos outros e que demandam ser examinados cada um separadamente, nós considerássemos o conjunto dos suicídios cometidos numa sociedade dada, durante uma unidade de tempo dada, constatase que o total assim obtido não é uma simples soma de unidades independentes, um todo de coleção, mas que ele constitui por si só um fato novo e sui generis, que possui sua unidade e sua individualidade, conseqüentemente sua natureza própria, e que, ademais, é uma natureza eminentemente social. Durkheim Durkheim foi buscar suas causas sociais e estudou as taxas de variação em suicídios em diferentes países e regiões (método estatístico): Compara a taxa de mortalidade/suicídio com a taxa de mortalidade geral, particularmente suas variações ao longo do tempo. o Observa que não somente a taxa (de mortalidade/suicídio) permanece constante durante longos períodos de tempo, mas sua invariabilidade é muito maior do que aquela observada nos principais fenômenos demográficos. Compara as variações anuais nas taxas de suicídio (que só acusam pequenas mudanças), com as variações entre diferentes sociedades (que podem ir do dobro ao quádruplo ou ainda mais) o Conclui que as taxas de suicídio são, portanto, “num grau bem mais alto que as taxas de mortalidade, pessoais a cada grupo social do qual elas podem ser vistas como um índice característico”. Mas estas diferenças entre as taxas de suicídio de diferentes grupos não podiam ser explicadas somente por doença mental, etnia ou mesmo pelo clima. Sua conclusão foi que o grupo social encoraja ou desencoraja o suicídio e identificou quatro tipos de suicídio: ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 8 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 1. Suicídio egoísta: isolamento excessivo, pessoa separada do grupo, ostracismo 2. Suicídio altruístico: apego excessivo, valor da vida perde valor frente ao valor que pode aportar ao grupo (exemplo, terroristas, kamikazes) 3. Suicídio anômico: devido à anomia, a ausência de normas, perda dos valores tradicionais e das normas de comportamento 4. Suicídio fatalista: sociedades com alto grau de controle sobre emoções e motivações (exemplo, seitas religiosas, adolescentes japoneses). Durkheim conseguiu assim uma explicação em função dos grupos e das comunidades, não em fatores biológicos ou psicológicos. Neste esquema os suicídios egoísta / altruístico estão relacionados com a integração social. Os suicídios anômico / fatalista e regulação moral. A sociedade é mais que a soma de seus membros individuais Um conceito básico é o de fatos sociais (regras e normas coletivas que orientam a vida dos indivíduos), tudo aquilo que é: externo ao indivíduo e determinador de suas ações. Para o indivíduo na sociedade as “maneiras de agir, pensar e sentir exteriores ao indivíduo, e dotadas de um poder coercitivo”, “chegam a cada um de nós do exterior e que são susceptíveis de nos arrastar, mesmo contra nossa vontade”. Exteriores : porque consistem em idéias , normas ou regras de conduta que não são criadas isoladamente pelos indivíduos, mas foram criadas pela coletividade e já existem fora de nós quando nascemos . Coercitivos: porque essas idéias, normas e regras devem ser seguidas pelos membros da sociedade. Se isso não acontece, se alguém desobedece a elas, é punido, de alguma maneira pelo resto do grupo. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 9 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Em conclusão: "A sociedade não só controla nosso movimentos, como ainda dá forma à nossa identidade, nosso pensamento e nossas emoções. As estruturas da sociedade tornam-se as estruturas de nossa própria consciência...As paredes de nosso cárcere já existiam antes de entrarmos em cena, mas nós a reconstruímos eternamente. Somos aprisionados com nossa própria cooperação...Em suma, a sociedade constitui as paredes de nosso encarceramento na história" Berger ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 10 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #1 Casamentos diminuem e separações aumentam, diz IBGE Ana Paula Grabois Folha Online, 1999 Mais separações e divórcios e menos casamentos no Brasil. Esta é uma das conclusões da pesquisa de registros civis referente ao ano de 1998, realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). No Brasil de 1991 ocorriam 21,2 dissoluções de uniões para cada 100 casamentos. Em 1998, para cada 100 casamentos, foram contabilizados 28,1 separações ou divórcios. O número de casamentos no Brasil, apesar de ter crescido entre 1991 e 1994, caiu em 1998. Em 1994, houve o maior volume de uniões legais, cerca de 763 mil. Em 1998, caiu 6%, passando para 699 mil. No entanto, a taxa de nupcialidade (divisão do número de casamentos por habitantes) vem caindo ao longo da década. Segundo o IBGE, a população cresceu num ritmo mais acelerado que o crescimento das uniões. Segundo o IBGE, os fatores que influenciaram mais o comportamento dos casamentos no Brasil são de ordem econômica e cultural. O econômico ocorre porque casa-se mais quando a renda aumenta. Isto pode ser comprovado pelo fato de que em 1994 - ano de implantação do Plano Real e de aumento da massa salarial - ter ocorrido o maior número de uniões. O fator cultural é explicado pela tendência de aumento nas uniões consensuais, indicando um mudança de comportamento social. Enquanto os casamentos diminuem, as separações e divórcios judiciais aumentam. O número de separações cresceu 19% de 1991 para 1998. Em 1991, o Brasil registrou 76.233 separações judiciais. Este número saltou para 90.778 em 1998. Já os divórcios cresceram 29,7% no país de 1991 a 1998, ano no qual foram registrados 105.253 divórcios no país. Em 1991, eram 81.128. Na região Norte, o número de divórcios praticamente dobrou, com 99% a mais de divórcios. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 11 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #2 Japão: O céu dos suicidas Ariel Kostman (de VEJA) Na semana passada, os corpos de sete jovens japoneses – quatro homens e três mulheres na faixa dos 20 anos – foram encontrados numa caminhonete numa estrada próxima a Tóquio. Os vidros do veículo estavam selados com fita e, no chão, quatro fogareiros a carvão indicavam a causa da morte: asfixia por monóxido de carbono. Logo depois, os policiais acharam o corpo de outras duas mulheres num carro em outra província vizinha da capital. As duas haviam se suicidado usando o mesmo método. No carro, um bilhete: "Não se trata de assassinato. Nós planejamos isso". Embora chocantes, os casos não surpreenderam a polícia. Apenas neste ano, vinte japoneses entre 16 e 30 anos se suicidaram em circunstâncias semelhantes. Todos os casos estão ligados a um hábito macabro que vem se disseminando naquele país: o pacto de morte coletivo combinado pela Internet. Em dezenas de salas virtuais de bate-papo, candidatos ao suicídio trocam idéias sobre os melhores locais e as maneiras mais rápidas e menos dolorosas de tirar a própria vida. Muitos passam da conversa à ação. Na maioria dos casos, as pessoas que se matam em grupo mantêm contato apenas pelo computador e só se conhecem na hora em que se encontram para morrer. O pacto de morte coletivo via Internet é a manifestação mais recente de um fenômeno que aflige a sociedade japonesa e impressiona o mundo: a escalada do número de suicídios no país. Nesta década, o número de suicidas tem crescido à razão de 10% ao ano. Em 2003, 34.000 pessoas se mataram no Japão. É o maior índice em relação à população (25 em cada 100.000 habitantes) entre os países desenvolvidos, mais que o dobro daquele verificado nos Estados Unidos e seis vezes o brasileiro. Entre japoneses na faixa de 20 a 30 anos, o suicídio já é a principal causa de mortalidade. Na origem dessa corrida para a morte combinam-se fatores culturais e reflexos de treze anos consecutivos de estagnação econômica enfrentada pelo Japão. Para começar, o suicídio é uma tradição antiga no país. O ritual do hara-quiri era comum na classe guerreira do período medieval. O samurai o utilizava quando não conseguia cumprir uma missão designada por seu mestre. A forma mais popular de arte dramática do Japão, o teatro kabuki, refere-se em muitas peças ao suicídio dos samurais e também ao pacto de morte realizado entre amantes. No fim da II Guerra, diante da derrota, militares japoneses se suicidaram para lavar a honra da nação. Esses rituais pertencem à história, mas a prática do suicídio continua a ser encarada com certa tolerância pela sociedade japonesa, ao contrário do que ocorre nas sociedades ocidentais. No budismo e no xintoísmo, religiões predominantes no Japão, tirar a própria vida não é pecado. Muitos vêem o gesto como uma forma aceitável, e até valorizada, de resolver uma situação. Se a pessoa tem uma dívida que não consegue pagar, considera-se que se matar é uma saída honrosa. O fato de a cultura japonesa valorizar o grupo, e não o indivíduo, também contribui para o alto número de suicídios no país. "Os idosos que precisam de um tratamento médico muito caro, ou que não podem pagar por um asilo, muitas vezes se matam para não onerar a família, e ninguém se espanta com isso", comenta a psicóloga Kyoko Nakagawa, japonesa radicada no Brasil. Também é comum que pessoas em dificuldade financeira façam um seguro de ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 12 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini vida e depois se matem, garantindo assim o futuro da família. Há atualmente uma queda-de-braço entre as companhias de seguro que operam no Japão e a Justiça. As primeiras não querem mais pagar prêmios às famílias de suicidas, mas a Suprema Corte japonesa decidiu que devem pagar, sim. Outro fator que ajuda a explicar a alta incidência de suicídios no Japão é a rigidez da sociedade, que imputa enorme importância a valores como honra e vergonha. Como a sociedade é muito fechada, há muitos casos de crianças e adolescentes vítimas de maustratos dos colegas na escola que não conseguem expor seus problemas para os pais ou professores e acabam se matando. "Muitos jovens estão também céticos com relação ao futuro, depois de anos de crise econômica", avalia o psiquiatra japonês Rika Kayama, que tem estudado o fenômeno dos suicídios coletivos combinados pela Internet. Nos últimos anos, as autoridades japonesas vêm tomando medidas para desestimular os suicídios. Muitos prédios em Tóquio foram reformados para impedir o acesso fácil a amuradas que servem de trampolim. No metrô de Tóquio, instalaram-se barreiras para evitar que pessoas pulem nos trilhos, uma forma tão comum de suicídio que o governo cobra das famílias das vítimas os estragos feitos nos trens e nas linhas. Também no metrô foram colocados enormes espelhos que cobrem inteiramente as paredes das plataformas, com a intenção de dissuadir os que planejam a própria morte. Espera-se que, ao olhar o próprio rosto, os suicidas pensem duas vezes e desistam de seu intento. Nada disso, porém, tem freado as estatísticas que fazem do Japão o céu dos suicidas. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 13 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Alta tecnologia e obsoletismo programado no setor de telefonia celular no Brasil: uma análise sociológica Wagner Araújo Introdução A partir de 1997, com a quebra do monopólio estatal da Telebrás, o setor de telecomunicação no Brasil vem sofrendo radicais mudanças. Dentre as áreas que mais se modificaram, encontra-se a telefonia celular. Toda esta mudança vem tendo várias implicações para a sociedade brasileira, seja no âmbito econômico, jurídico, financeiro, ou sociológico. O presente trabalho se concentra nas implicações sociológicas da telefonia celular no Brasil, especialmente os aparelhos telefônicos, e sua ligação com o obsoletismo programado. Para tanto fez-se necessário uma pequena contextualização econômica para que se possa compreender a análise sociológica. Contexto Econômico e Tecnológico Desde a Lei Federal 9.472/97 que iniciou o processo de privatização do setor telefônico no Brasil, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vem financiando uma quantia elevada de investimentos nesta área. A maioria das empresas que contraem o investimento no BNDES são empresas de capital estrangeiro, para constituir as operadoras. As operadoras são as responsáveis pela definição de quase toda a tecnologia envolvida no processo. Na balança comercial do segmento de telecomunicações brasileiro, o total de importações de telefones celulares fica em torno de apenas 15% do total. Embora aparentemente alto, este investimento fica muito aquém do investido na infra-estrutura de operação. O número de telefones móveis subiu de 6 milhões em 1997 para 12 milhões em 1999, porém a maioria desses telefones, pelo menos inicialmente, utilizava o sistema analógico, mesmo que as operadoras possuíam tecnologia para operar no sistema digital. Outro problema era o obsoletismo dos aparelhos, e ao mesmo tempo, paradoxalmente, a quantidade de funções inúteis e subtilizadas, daí surge os primeiros traços do obsoletismo programado neste setor. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 14 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini O Obsoletismo programado e a "febre" dos celulares no Brasil O obsoletismo programado consiste em lançar ou manter um produto no mercado, sabendo-se que tem uma ou várias tecnologias desenvolvidas, de melhor qualidade que a antiga, e também quando este produto vai ser substituído. Tal substituição visa a troca dos usuários das tecnologias passadas para as mais modernas. A diferença entre a evolução natural da tecnologia está na retenção desta que deixa, toda a tecnologia do mercado obsoleta. Neste ponto Gelernter, um dos fundadores da Internet e Doutor em Ciência da Computação, afirma que todos esses sistemas e máquinas são obsoletos e que "estão nos empurrando velharias, porcarias baratas". Embora esses aparelhos tenham uma série de funções como, por exemplo, calculadora, agenda, jogos, etc., que não são utilizadas pelos usuários, eles possuem uma tecnologia muito atrasada. Daí surge o aparente paradoxo: se de um lado a tecnologia é obsoleta, as pessoas necessitam de aparelhos muito mais simples, não utilizando a tecnologia que possuem. Este paradoxo, entretanto, é falso. O que acontece é que para "mascarar" o obsoletismo de seus produtos, os fabricantes os enchem de funções ditas "de última tecnologia", criando a imagem de um aparelho moderno e eficiente. Segundo GElernter, "alta tecnologia não é sinal de complexidade, nem complexidade é sinal de alta tecnologia." Para o autor, os aparelhos realmente modernos são os que reúnem "altíssima tecnologia com simplicidade extrema". Nada mais lógico, pois o objetivo da tecnologia de ponta seria melhorar, agilizar e tornar mais prática a vida do ser humano, não complicar, enchendoo de manuais gigantescos e inúmeras teclas e funções que ocupam um enorme espaço e tempo para serem memorizadas. Mas apesar de todo este problema, muitas vezes visível, as pessoas, em específico os brasileiros, continuam comprando cada vez mais telefones celulares, sempre procurando a "última tecnologia", não refletindo nem um pouco sobre este ato. Por quê? Perspectivas Sociológicas O porquê da pergunta anteriormente proposta encontra sua resposta na teoria sociológica. Ou seja, muitas vezes essas pessoas que compram celulares não são levados por sua necessidade pessoal, mas por uma exigência coletiva. Segundo BERGER a sociedade diz ao indivíduo exatamente aquilo o que ele deve fazer, e este não pode fazer muito para mudar essa situação. Uma das maneiras que o autor aponta para o exercício do controle social está nos mecanismos de persuasão, difamação e exposição ao ridículo. A sociedade, criando a necessidade de se ter um celular, expõe quem não o tem ao ridículo. Frases como "Ora, como você consegue viver sem um celular" são comuns, principalmente nas classes médias e altas. As pessoas dessas classes que não têm um aparelho celular são vistas com um certo desprezo pois, segundo a visão da sociedade, sua verdadeira classe social é contestável devido ao fato da grande maioria dessa classe possuir um celular. Resumindo, ter um celular é uma questão de status. Nesse ponto começa um grande ciclo vicioso. Isto acontece porque as classes mais baixas, devido à facilidade de acesso aos celulares, começam a comprar aparelhos para tentar se igualar, pelo menos aparentemente, às classes mais elevadas. Estas porém, ao perceberem essa conduta das classes inferiores, procuram comprar aparelhos mais caros e com a última tecnologia existe no mercado. As classes altas querem estabelecer um diferencial, para isso adquirem aparelhos que as classes mais baixas não podem adquirir. Entretanto, ao passar do tempo, esses aparelhos mais caros vão se tornando mais acessíveis às classes ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 15 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini mais baixas, o que faz com que as classes mais altas tenham a necessidade de buscar novos aparelhos para poder mostrar seu status social. Este é o grande ciclo da tecnologia. Mas onde se localiza o obsoletismo programado neste ciclo? Bem, as classes mais elevadas estão sempre em busca, como afirma Berger, da manutenção da sua posição na sociedade, e como já foi exposto, procuram adquirir a tecnologia mais cara. Contudo, pouco se preocupam em questionar a qualidade e a modernidade do produto, compram porque é o mais novo e mais caro no mercado. A classe alta está, na verdade, preocupada em manter seu papel social. Diante desta situação, os fabricantes podem se aproveitar amplamente. Enquanto em seus centros de Pesquisa e Desenvolvimento desenvolvem tecnologias dez anos mais avançadas, vendem tecnologias obsoletas, disfarçadas por algumas peculiaridades e sustentadas por uma necessidade social. Considerando que essa situação é imperativa ao indivíduo e condiciona suas ações, pode-se considerar, sem exageros, a posse de um celular como uma instituição social, mesmo que pequena. E como instituição, pode proporcionar sanções coercitivas àqueles que não a seguem. Neste ponto, exatamente pode-se observar BERGER: "...sempre desejamos exatamente aquilo que a sociedade espera de nós". O indivíduo nesta perspectiva passa a estar subordinado à vontade coletiva, sua necessidade é criada por seu grupo de referência, independente da classe que ocupa. Esta concepção é tangente à durkheimiana, pois este fato social é externo às vontades individuais, é anterior ao indivíduo. A idéia de necessidade de celulares não advém de deliberações e críticas individuais, mas sim do todo. Porém é criada a ilusão de que ele próprio é quem tem esta precisão. Dentro do que expõe Durkheim, encontra-se o caráter sui generis desta fato social. Ou seja, o efeito total dessas ações é muito mais significativo do que a sua soma: o fato da manutenção do status de uma classe se torna infinitamente maior do que o simples de fato de várias pessoas adquirirem celulares novos. Outro ponto a ser considerado, dentro desse autor, é o papel chave da comunicação. Pois assim os conhecimentos das distintas classes tomam conhecimento do fato social. A comunicação é um meio de extrema importância para os fabricantes conseguirem estabelecer o obsoletismo programado. Não basta lançar um produto no mercado, é necessário apresentá-lo às classes inferiores e superiores. Primeiro para que estas o comprem de imediato; e segundo, para que aquelas tenham o desejo de comprá-lo. Portanto, assim, como Durkheim os fatos sociais não podem ser vistos da perspectiva individual, mas sim da ação da sociedade sobre tal indivíduo. Neste caso específico fica claro que as imposições sociais fazem com que necessidades surjam entre os indivíduos. Conclusão Pôde-se perceber neste estudo a grande influência que a sociedade possui sobre o indivíduo e suas ações. O que faz com que os grandes fabricantes possam facilmente prorrogar o obsoletismo programado. Tal obsoletismo não ocorre somente com telefones celulares. Pode-se encontrar exemplos como computadores, automóveis, e até mesmo produtos mais simples como fogões, geladeiras, aparelhos de som, etc. Uma prova que de tecnologia realmente avançada está no telefone de cartão, que consegue cumprir às exigências que esta se propõe: prática, de fácil uso e manutenção, barata e eficiente. Fazer com que as pessoas percebam este engano se torna um problema vital para um grande avanço tecnológico e cultural da sociedade. Todavia, com as determinações e pressões sociais existentes, torna-se uma tarefa extremamente difícil. E. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 16 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini considerando-se os interesses econômicos envolvidos, quase impossível, pois, como afirma BERGER, pode-se concluir: "A sociedade não só controla nosso movimentos, como ainda dá forma à nossa identidade, nosso pensamento e nossas emoções. As estruturas da sociedade tornam-se as estruturas de nossa própria consciência... As paredes de nosso cárcere já existiam antes de entrarmos em cena, mas nós a reconstruímos eternamente. Somos aprisionados com nossa própria cooperação... Em suma, a sociedade constitui as paredes de nosso encarceramento na história." ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 17 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 2 Aula-exemplo: o estudo sociológico da sexualidade ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 18 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Para exemplificar ainda melhor a relação entre o individual e o social, vamos analisar sociologicamente outro fato social que geralmente se relaciona com fatores psicológicos e emocionais somente: a sexualidade. O estudo científico da sexualidade deve ser tratado multidisciplinarmente, com contribuições da psicologia, da medicina, da antropologia e da sociologia. Quando falamos de sexualidade, existem diferentes visões e perspectivas dos indivíduos sobre o objetivo da prática sexual. A explicação primária da sexualidade pode ser dividida em: Orientação procriacional: geração de filhos, reprodução. Orientação relacional-afetiva: expressão de apego emocional ao parceiro. Orientação recreacional: o sexo como prazer. Também distinguimos duas correntes de pensamento teórico: 1) Essencialismo: o comportamento biológico é natural e ubíqüo. Exemplo: as teorias evolucionistas dizem que o sexo deve maximizar a reprodução; os machos devem transmitir seus genes e por isso tentam engravidar o maior número de fêmeas possível. Estas, por sua vez, buscariam um parceiro capaz de proteger, a longo prazo, seus filhos. Neste esquema, perpetuaria-se a espécie. 2) Construcionismo: minimiza os fatores biológicos. A sexualidade é construída socialmente. Promiscuidade e fidelidade seriam valores transmitidos de uma geração à outra através da socialização (mensagens culturais). A identidade sexual (comportamento masculino, feminino) é aprendido através da interação social dos indivíduos. Exemplo: segundo a teoria da troca social, os indivíduos buscam a maximização das recompensas e a minimização dos custos (por exemplo fidelidade em troca de recursos financeiros, atração física e poder). Já a teoria do conflito postula que existe uma luta de poder com relações de dominação e exploração. Dessa forma os indivíduos utilizariam da sexualidade para atingir os próprios objetivos. Na atualidade, chama a atenção a natureza descritiva da pesquisa sociológica sobre sexualidade, com a falta de uma base teórica que dê o caráter explicativo necessário para compreendê-la totalmente. Justamente, os sociólogos ainda não sabem muito sobre como ou por quê a sociedade afeta o comportamento individual, apesar de poderem descrever este.[ Os dados a seguir são baseados em pesquisas norte-americanas (1994): 1) Freqüência do ato sexual ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 19 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini O senso comum nos diz que “pessoas casadas não fazem sexo”. Apesar disso as pesquisas indicam que em relação a não realização do ato sexual no período de um ano : 1,3% dos homens casados 3,0% das mulheres casadas 22% dos homens não casados 30% das mulhers não casadas Dos casais que responderam positivamente: 45% dos casais com 2 anos ou mais de união: 3 vezes por semana 61% dos co-habitantes (união estável) recentes; 3 vezes por semana 67% dos casais gays: 3 vezes por semana 33% dos casais de lésbicas: 3 vezes por semana Em resumo, o casamento não é a anomalia que o senso comum nos diz, apesar de que os casais de união estável apresentem maior freqüência e que os casais casados diminuam sua freqüência com o aumento da duração da relação. 2) Satisfação sexual As pesquisas indicam que a freqüência de relações sexuais está correlacionada diretamente com a percepção da qualidade de vida do indivíduo. Dos pesquisados: Aqueles que praticam sexo 3 vezes por semana: 89% mostram-se satisfeitos. Aqueles que praticam sexo 1 vez por mês: 32% mostram-se satisfeitos. 3) E a infidelidade? Ou melhor, sexo extra-marital ou extra-diádico, utilizando terminologia científica. 25% dos homens afirmam ter traído 15 % das mulheres afirmam ter traído Porém, o método estatístico tem suas armadilhas. Quando analisamos estes percentuais com uma divisão por idades, vemos que os jovens não mostram diferenças em relação ao sexo extra-diádico, mas aos 40 anos: 29,3% dos homens traem 19,3% das mulheres traem ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 20 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini E aos 60 anos: 34% dos homens traem 7,6% das mulheres traem Quando buscam-se as causas da traição: As mulheres afirmam que buscam o aumento da auto-estima, da confiança e da independência. Citam fatores como fatores amorosos (afeição, necessidade de se apaixonar) e afetivos (companhia, respeito, compreensão). Os homens justificam a traição principalmente em função da insatisfação sexual com o parceiro. Mencionam fatores como a novidade, a curiosidade e a excitação. Como conclusões, o sexo extra-marital não é uma experiência majoritária, e a maioria dos casais é monogâmica. Conclusões A pesquisa sociológica sobre a sexualidade em relações próximas é basicamente descritiva, faltando ainda explicações sobre as negociações que os casais fazem em relação a sua sexualidade e à forma de como a sociedade em geral influencia o comportamento individual nesta questão. Entretanto, os resultados desmistificam vários ditos do senso comum, ao utilizar dados, ao invés de opiniões. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 21 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #1 Questões tratadas pela Sociologia da Sexualidade A sexualidade e com a emergência da subjetividade moderna reflete a organização social e sexual dos gêneros, trata, mais especificamente, da ordem dos sexos e das coisas vistas como imutáveis. Classificação dualista e binária dos sexos. Em torno da reprodução, oposição entre feminino e masculino, masculino ativo x feminino passivo. Reforço da dependência social e sexual das mulheres em relação aos homens. Esfera da reprodução. O processo de normatização dos corpos e a importante influência da biologia nesse processo. A “segunda revolução contraceptiva” ou o que comumente denominamos de “revolução sexual”, a partir do final dos anos 60, nos então países desenvolvidos. Esta se caracteriza por uma reorganização e rédea docontrole do corpo, ampla difusão de métodos contraceptivos médicos, associado a uma maior autonomia e controle do processo reprodutivo por parte da mulher. A fecundidade passa a ser vista como projeto individual. Articulação destes acontecimentos em países desenvolvidos e sua comparação com os chamados países em desenvolvimento. O impacto da adoção destes métodos contraceptivos modernos na vida sócio-familiar contemporânea. A redução das uniões oficiais, com casamentos no civil e no religioso; o planejamento no número de filhos; e a racionalização do prazer, associadas ao direito ao prazer, liberação das minorias e maior igualdade sexual entre homens e mulheres. Reorganização de hábitos e costumes em relação ao exercício da sexualidade. Em tempos de Aids, aumento da adoção de preservativo masculino e recuo de contraceptivo oral, pelo menos no início das relações sexuais. Nos adultos, fala da vida em comum do casal, da queda na freqüência das relações sexuais, associadas à procriação, parentalidade e influência do investimento na trajetória profissional. Em relação aos idosos, o aumento significativo da atividade sexual neste segmento; em particular das mulheres, o que está vinculado ao oferecimento no mercado das modernas técnicas científicas contra impotência e outros. Em termos de práticas sexuais, a homossexualidade ainda aparece relacionada à dificuldade da aceitação institucional e os conflitos internos / privados, como a família; e os externos / públicos, como os amigos, escola e trabalho. Juventude e homossexualidade, e os conflitos familiares e outros advindos desta orientação. O declínio do discurso religioso, tanto a medicina quanto a psicologia são cada vez mais utilizadas como suporte de uma nova normatividade, mais técnica, das condutas e funcionamentos sexuais. A organização da sexualidade através dos tempos, o surgimento dos escritos eróticos, da pornografia e a libertinagem francesa; está última como uma ruptura nas representações e nos códigos de sexualidade vigente. Leitura rápida #2 Comportamento sexual: o relatório Kinsey ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 22 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Quando Alfred Kinsey começou suas pesquisas nos Estados Unidos nos anos quarenta e cinqüenta, era a primeira vez que se levava a cabo um estudo de envergadura sobre a conduta sexual real. Kinsey e seus colaboradores se enfrentaram a condenação de numerosas organizações religiosas e seu trabalho foi tachado de imoral na imprensa e no Congresso. Entretanto, Kinsey persistiu em seu empenho e finalmente obteve a história da vida sexual de 18.000 pessoas, uma amostra bastante apreciativa da população norte-americana branca. Os resultados que obteve Kinsey surpreenderam a maioria e resultaram impactantes para muitos, já que revelavam uma profunda diferença entre as concepções dominantes na opinião pública do momento a respeito da conduta sexual e o que era o comportamento sexual real. Kinsey descobriu que aproximadamente 70% dos homens tinham freqüentando prostitutas e que 84% tinham mantido relações sexuais antes do matrimônio. Entretanto, 40% dos homens esperavam que sua mulher fora virgem ao casar-se. Mais de 90% tinham praticado a masturbação e ao redor do de 60% algum tipo de sexo oral. Entre as mulheres, ao redor do 50% tinha tido alguma experiência sexual antes do matrimônio, embora a maioria fosse com seus futuros maridos. Ao redor de 60% se masturbava e a mesma percentagem de mulheres tinha tido contatos genitais orais. A diferença que havia entre as atitudes aceitas publicamente e o comportamento real que demonstravam as conclusões de Kinsey é muito provável que fosse especialmente grande naquele momento, imediatamente depois da Segunda Guerra Mundial. Um pouco antes, nos anos vinte, tinha começado uma fase de liberalização sexual em que muitos jovens se livraram dos estritos códigos morais que tinham governado às gerações anteriores. Provavelmente, a conduta sexual mudou muito, mas as questões relacionadas com a sexualidade não se discutiam abertamente como é habitual hoje em dia. Aqueles que praticavam atividades sexuais que ainda recebiam a desaprovação da opinião pública as ocultavam, sem dar-se conta de até que ponto outros muitos estavam imersos em práticas similares. A era mais permissiva dos anos sessenta aproximou as atitudes expostas abertamente às realidades da conduta sexual. Leitura rápida #3 Juventudes e sexualidade O livro Juventudes e sexualidade resulta de uma pesquisa realizada em 13 capitais (Belém, Cuiabá, Florianópolis, Fortaleza, Goiânia, Maceió, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória) e no Distrito Federal. Abrange diferentes aspectos da vida sexual dos jovens, tais como a iniciação sexual, comportamentos diversificados como o “ficar” e o namorar, a iniciação sexual cada vez mais precoce, o conhecimento e as informações que possuem sobre métodos anticoncepcionais, de prevenção da gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). No livro também se faz uma discussão sobre como os jovens encaminham as negociações entre eles a respeito da utilização desses métodos, além de problemáticas ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 23 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini como a gravidez juvenil e o aborto. Analisa-se ainda, a partir de diálogos com os adultos, os diversos tipos de violência e abordagens desenvolvidas pela escola a respeito da sexualidade. A pesquisa indica que os jovens, apesar da precocidade da vida sexual, tendem a ter contatos com apenas um parceiro - o que remete a um questionamento do senso-comum sobre a suposta “promiscuidade” sexual juvenil. A gravidez juvenil é um tema de destaque no estudo: a maioria dos alunos e professores afirmam ter contato com adolescentes grávidas nas escolas. No que diz respeito à violência, mostra a pesquisa, muitos jovens ainda estão vulneráveis e já sofreram violências de várias ordens (tais como assédio, estupro e discriminação por conta de gênero e opção sexual). A discriminação em relação aos homossexuais é um aspecto de grande relevância que aparece em dados como o seguinte: cerca de um quarto dos alunos afirma que não gostaria de ter um colega homossexual. A pesquisa também indica uma certa vulnerabilidade negativa dos jovens no campo da sexualidade. Nesse sentido, faz-se necessário a implantação de políticas públicas, assim como o auxílio do ambiente escolar para suprir a carência de informação do jovem acerca da sexualidade. Entretanto, além das vulnerabilidades negativas, percebe-se as “vulnerabilidades positivas” entre os jovens, como a impulsividade e as curiosidades pelas possibilidades do seu corpo e das relações com o parceiro. Finalmente, também foram registrados na pesquisa questionamentos sobre estereótipos, tabus, preconceitos e a vontade de saber e construir relacionamentos mais ricos e afetuosos, atribuindo sentidos positivos para as relações. Leitura rápida #4 Mulher que usa sexualidade no trabalho ganha menos, diz pesquisa Folha Online Uma pesquisa divulgada pelo jornal americano "USA Today" revela que as mulheres americanas que usam a sexualidade para crescer dentro de uma empresa acabam recebendo salário menores e menos promoções. A reportagem apresenta números para mostrar que as mulheres que cruzam as pernas de maneira provocante, vestem saias curtas ou camisas com decote e massageiam os ombros dos chefes crescem menos na carreira. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 24 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Os estudo, elaborado pela Universidade de Tulane (Louisiana) com base em 164 entrevistadas de idades entre 20 e 60 anos, mostra que 49% das mulheres graduadas e com MBA (especialização) admitem ter tentado galgar cargos dentro de uma empresa por meio do comportamento sexual. Essas mulheres conseguiram em média duas promoções na carreira e recebem entre US$ 50 mil e US$ 75 mil por ano. Por outro lado, as demais, que afirmaram nunca ter apelado para a sexualidade, dizem ter recebido em média três promoções na carreira e possuir um salário de US$ 75 mil a US$ 100 mil. "Há conseqüências negativas paras as mulheres que usam a sexualidade no local de trabalho", afirmou o professor Arthur Brief, da Universidade de Tulane, ao "USA Today. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 25 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 3 O surgimento da Sociologia no contexto histórico. A Revolução Industrial, as mudanças culturais no trabalho. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 26 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini A Revolução Industrial (séculos XVIII-XIX) A Revolução Industrial foi uma revolução científico-tecnológica que ocasionou uma mudança na organização social e grandes transformações em um curto espaço de tempo: economia agrária sistema feudal artesão utensílios manuais água, vento, força animal aldeões ? economia industrial sistema capitalista indústria máquinas eletricidade operários empresários, engenheiros e cientistas Foi caracterizada por um conjunto de inovações técnicas: teares mecânicos Siderurgia e ferro de alta qualidade Motor a vapor Novas máquinas Ferrovias e barcos a vapor E por novas formas de organização do trabalho: 1. Substituição progressiva do trabalho humano pelas máquinas 2. Divisão do trabalho: necessidade de coordenação, perda de qualificação, especialização e tarefas isoladas, repetitivas 3. Mudanças culturais no trabalho: auto-controle à disciplina imposta e à supervisão, modo de vida urbano, falta de condições impostas pelos empresários 4. Produção em massa, maior produção, mais produtos, mais baratos A Revolução Industrial, com suas inovações técnicas se auto-alimenta, pois cada inovação (o trem a vapor como forma de escoar as mercadorias, aço mais resistente para fabricação de máquinas mais eficientes, etc.) a produção aumenta e criam-se mais indústrias. O pioneirismo é da Inglaterra e cidades como Londres e Manchester são as grandes metrópoles industriais. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 27 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini E surgem também novos papéis sociais: empresário / industrial /capitalista detentor dos meios de produção (matéria prima, capital, máquinas) relação de interdependência operário / proletário detentor da força de produção criação de um “mercado de trabalho” Dentro desse cenário é que surge a chamada questão social: Fluxo de massas camponesas rumo ao meio urbano Grande concentração humana nas cidades Degradação do espaço urbano e dos valores tradicionais Exploração do homem pelo homem Epidemias, prostituição, alcoolismo, violência, suicídios As fábricas do início da Revolução Industrial não apresentavam o melhor dos ambientes de trabalho. As condições das fábricas eram precárias. Eram ambientes com péssima iluminação, abafados e sujos. Os salários recebidos pelos trabalhadores eram muito baixos e chegavase a empregar o trabalho infantil e feminino. Os empregados chegavam a trabalhar até 18 horas por dia e estavam sujeitos a castigos físicos dos patrões. Não havia direitos trabalhistas como, por exemplo, férias, décimo terceiro salário, auxílio doença, descanso semanal remunerado ou qualquer outro benefício. Quando desempregados, ficavam sem nenhum tipo de auxílio e passavam por situações de precariedade. De forma mais ou menos paralela ocorre uma revolução no pensamento: Século XVII uso livre da razão: Racionalismo Século XVIII uso da razão, associado a uma crítica da sociedade (esta seria injusta e impediria a liberdade dos homens). Surge a doutrina do Iluminismo que representa a ideologia burguesa versus sociedade feudal. Critica principalmente o aspecto irracional e injusto das instituições sociais, contrária à liberdade do homem. Existe uma única lei que, pela sua natureza, exige consentimento unânime - é o pacto social, por ser a associação civil o mais voluntário ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 28 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini dos atos deste mundo. Todo homem, tendo nascido livre e senhor de si mesmo, ninguém pode, a qualquer pretexto imaginável, sujeitá-lo sem o seu consentimento. Afirmar que um filho de escravo nasce escravo, é afirmar que não nasce homem...Fora desse contrato primitivo, e em conseqüência do próprio contrato, o voto dos mais numerosos sempre obriga os demais. Pergunta-se, porém, como o homem poder ser livre, e forçado a conformar-se com vontades que não a sua. Como os opositores serão livres e submetidos a leis que não consentiram? ...Respondo que a questão está mal proposta. O cidadão consente todas as leis, mesmo as aprovadas contra sua vontade e até aquelas que o punem quando ousa violar uma delas. A vontade constante de todos os membros do Estado é a vontade geral: por ela é que são cidadãos e livres. Quando se propõe uma lei na assembléia do povo, o que se lhes pergunta não é precisamente se aprovam ou rejeitam a proposta, mas se estão ou não de acordo com a vontade geral que é a deles". Rousseau, Do Contrato Social Este pensamento desembocará na Revolução Francesa, pregando a igualdade, a liberdade e a fraternidade entre os homens, frente à concepção anterior de que os reis eram descendentes diretos de Deus e devido a isso possuíam poder absoluto. A Sociologia aparece então em um contexto de uma dupla revolução, a industrial (aperfeiçoamento dos métodos produtivos, abandono da família patriarcal, urbanização) e a política-intelectual (organização da classe operária: consciência de interesses e instrumentos de ação e de crítica). Após a desorganização (derrubada de um sistema e criação de outro) ocasionada pela Revolução, o Positivismo busca re-estabelecer a estabilidade, a hierarquia social, a autoridade e os valores morais, porém ainda conservando a idéia do uso livre da razão. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 29 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Por exemplo, alguns dos fatos surgidos com a Revolução e que são apontados por Leplay (um filósofo positivista) como razões da decadência da sociedade francesa: Corrupção da língua Falta de crença em deus e na religião Influência anormal dos literados Perda da influência das autoridades sociais Excesso de burocracia Falta de sentimento patriótico Perda progressiva da autoridade paterna Dissolução dos costumes Espirito revolucionário O pensamento positivista vê o capitalismo como forma de satisfazer necessidades humanas, como fim para os conflitos sociais, através do progresso econômico. O pensamento social então surgia como forma de orientar a ciência, a indústria e a produção industrial. O principal expoente do positivismo é Augusto Comte (1798-1857), que em sua Filosofia Positiva sugere uma forma de organizar o conhecimento humano, com os seguintes níveis. Cada nível aumenta em complexidade e interesse, além de depender do anterior: 1. Astronomia 2. Física 3. Química 4. Fisiologia 5. Física Social, logo rebatizada como “Sociologia”. Algumas máximas de Comte: “saber para prever, a fim de prover”, significando que se deve conhecer os problemas a fundo, para resolvê-los e dessa forma alcançar o progresso. “progresso constituiria uma conseqüência suave e gradual da ordem” dando origem ao lema “ordem e progresso” ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 30 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Da Mecânica, Comte extraiu os conceitos de estática e dinâmica e aplicou-os ao estudo dos fenômenos sociais. Viu neles uma oposição e uma complementaridade, a estática era o desejo intrínseco de ordem que toda sociedade civilizada deseja, a dinâmica era o progresso, o destino que ela deve cumprir rumo às etapas superiores de organização e produção. Harmonizou-os no lema: "ordem e progresso", adotado na nova bandeira da brasileira por sugestão do coronel Benjamin Constant, um dos fundadores da república em 1889. Voltaire Schilling O positivismo, possui portanto um conteúdo estabilizador, pregando uma reforma conservadora, com a revalorização das instituições consideradas fundamentais para a coesão social (autoridade, família, hierarquia): É a partir das mudanças ocasionadas pela Revolução Industrial e pelas reformas políticas que a Sociologia surge para colocar a “sociedade num plano de análise”, como objeto de estudo a ser investigado orientação para a ação, para manter ou modificar radicalmente a realidade. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 31 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #1 A análise da sociedade antes na Antiguidade Grande parte dos filósofos da antigüidade praticamente abandonaram a análise neutra da realidade social, insistindo em falar sobre a forma que consideravam ideal para aquele momento social. Em “República”, Platão insiste em impingir sua idéia de ideal social, assim como Tomás Morus em “Utopia”, Campanela em “Cidade do Sol”, e Santo Agostinho em “Cidade de Deus”. Embora todas essas obras sejam consideradas valiosas para o estudo da Sociologia devemos levar em consideração que elas versam sobre o ideal social pensado e apresentado pelos seus autores. Em “República”, por exemplo, os comentários feitos por Platão sobre a interdependência e divisão das funções sociais são valiosíssimos até hoje. O método comparativo, cuja eficácia é até hoje evidente, foi apresentado de forma pioneira por Aristóteles em suas obras “Política” e em “Constituição de Atenas”. Nessas obras Aristóteles analisa as organizações sociais das cidades antigas e elabora estudos sobre a ordem social. Entre suas idéias, Aristóteles reconhece a família como grupo social básico e elementar e afirma que o homem é um animal político, destinado a viver em sociedade. Outra característica encontrada em Aristóteles é o conceito de sociedade como ser vivo, sujeito às mesmas leis que regem o Ser Humano: nascimento, crescimento e morte. Outras contribuições decisivas para o estudo social foi a trazida pelos romanos, com suas análises e definições de instituições como família, matrimônio, propriedade, posse, contrato e outras, feitas pelos jurisconsultos romanos Caio, Paulo, Sabino, Labão, Juliano, Pompônio, Papiniano e Ulpiano. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 32 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 4 O pensamento sociológico moderno. Principais pensadores e linhas teóricas. A sociologia como conhecimento ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 33 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini A sociologia como ciência A sociologia, dentro da atual classificação das ciências, situa-se nas ciências sociais, que estudam a interação entre os seres humanos e o produto desta interação. Além da sociologia, são Ciências Sociais: Antropologia Estuda a história, origem e desenvolvimento da cultura do homem. Inicialmente limitada ao estudo dos povos ágrafos (iletrados ou primitivos), estuda aspectos culturas e comportamentais do homem Exemplos: rituais, cerimônias, mitos, artesanato, folclore. Direito Estuda as normas que regulam o comportamento social e as formas de controle social necessárias para exercer a coerção sobre os indivíduos. Dentro destas normas, preocupa-se com as leis (regras jurídicas) e seu conjunto, o sistema legislativo. Exemplos: normas de proteção ao trabalhador (direito trabalhista), divórcio (direito civil), penalidades por crimes cometidos (direito penal). Economia Estuda a organização dos recursos, produção, circulação, distribuição e consumo de bens e serviços. Analisa a atividade econômica em função das necessidades humanas. Exemplos: macroeconomia (sistema monetário, consumo, renda e investimentos na sociedade como um todo), microeconomia (agentes individuais, produtividade da empresa, orçamento familiar). Ciências Políticas Estudam a distribuição do poder na sociedade, a teoria e prática do governo. Exemplos: formas de governo, organização dos partidos políticos, funções do Estado ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 34 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Psicologia social Estuda o comportamento e a motivação do indivíduo, no contexto de seu grupo e de seus valores associados. Analisa o fenômeno da personalidade, moldada pela cultura e pela sociedade. Exemplos: comportamento dos adolescentes, comportamento organizacional Sociologia Estuda o homem na sociedade, suas relações sociais e os elementos comuns existentes em todos os tipos de fenômenos sociais. Busca um conhecimento objetivo da realidade social. Exemplos: formação e desintegração de grupos, divisão da sociedade em camadas. Diferentemente da psicologia social, a sociologia considera a sociedade como um todo e busca por características que possam ser observadas em qualquer sociedade. Muitas vezes seu estudo transcende o campo das disciplinas específicas, pois o homo socius (o ser social) é o conjunto do homem econômico, político, religioso, ético, artístico, etc. Aprender Sociologia é aprender a analisar o comportamento social com mais abrangência, procurando compreender as atitudes das pessoas e dos grupos para poder interferir no momento certo e da forma mais acertada, para alcançar os seus objetivos. A Sociologia faz do Ser Humano mais do que um simples elemento no grupo, já que desenvolve nele a habilidade necessária ao exercício da verdadeira cidadania, com competência não só para entender o mundo e os fatos, mas também para influenciar e participar ativamente das necessárias reconstruções sociais. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 35 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Campos da sociologia Sociologia sistemática: estuda os elementos básicos e universais dos sistemas sociais e o modo como se relacionam. Exemplos: relações sociais, processos sociais, grupos. Sociologia descritiva: estuda os fenômenos sociais nas condições reais em que operam. Exemplo: estudo da família na sociedade Sociologia comparada: estuda como os fenômenos sociais variam na história humana, se apresentam semelhanças ou divergências. Exemplo: a família através dos tempos. Sociologia diferencial: busca as peculiaridades de cada sociedade específica Exemplo: característica da família brasileira Sociologia aplicada: utiliza a intervenção sobre as condições sociais Exemplo: racionalização do trabalho em uma empresa Sociologia geral: busca estabelecer a validade lógica do conhecimento sociológico, sistematizando-o e realizando a crítica e a síntese do mesmo. Sociologia especial: analisa e estuda em profundidade as categorias específicas de fatos sociais Exemplos: sociologia política, sociologia da educação, sociologia do turismo, sociologia da comunicação, sociologia rural, sociologia industrial, sociologia da arte. As fontes da verdade Intuição: é a capacidade de perceber ou pressentir, independentemente de qualquer raciocínio lógico e explícito Autoridade: é o acúmulo de conhecimento, confiável ou não. Já a autoridade sagrada ou conhecimento religioso é a fé em tradições e documentos de origem divina e tem como característica principal o fato de não poder ser questionada. Tradição: sabedoria acumulada, conjunto de conhecimentos que deram certo no passado e portanto aceitos de forma geral. Bom senso: estabelece relação entre os fatos, sem identificar causas reais. Ciência: é a fonte de conhecimento mais confiável, para a compreensão da realidade. Também a mais jovem, devido a que o método científico existe apenas há 400 anos, aproximadamente. É questionável (avança sobre os novos descobrimentos, que substituem os antigos) e falível (é aberta, admite que o ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 36 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini conhecimento pode mudar, pode avançar). Baseia-se no pensamento crítico e não admite o senso comum. Senso comum (opinião) espontâneo esporádico sem explicações satisfatórias falta de profundidade aplicável a casos específicos utiliza juízos de valor "o que -deve ser" Senso crítico reflexivo demonstra os motivos procura as causas dos fatos as conclusões podem ser generalizadas busca a "verdade por trás das aparências" "o que é" Exemplo: o senso comum nos diz que “todas as mulheres são más motoristas”. As estatísticas (e as companhias de seguro), utilizando fatos (e não opiniões) nos dizem que as mulheres envolvem-se em menos acidentes que os homens. Características dos conhecimento científico na Ciência Social Detecta regularidades e padrões na vida social. As mesmas causas levam aos mesmos efeitos. Intersubjetivo, toda afirmação para tornar-se conhecimento aceito deve ser confirmado por outros observadores. Estuda o comportamento da sociedade como um todo, não de indivíduos ou de casos específicos . O método científico na Sociologia: Exige a observação sistemática, com a necessidade de provas e dados. Busca a minimização do erro e do preconceito. Suas conclusões nunca são absolutas, mas passam por um mecanismo de autocorreção. São necessários o estudo de muitos casos, para chegar à generalizações. Procura não somente descrições, mas explicações. E principalmente nas Ciências Sociais se destaca o duplo papel do homem: ator/espectador ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 37 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini objeto/observador Existe portanto, objetividade e neutralidade na ciência social? Podemos chegar a algum conhecimento realmente confiável? Esta é uma questão aberta, talvez o sentido de objetividade seja diferente do utilizado nas ciências exatas, de forma pode estar limitada a que "não deve ser afetada pela própria crença, por emoções, hábitos ou preferências, desejos ou valores do observador". Tipos de pesquisa utilizados na sociologia Método histórico Parte do princípio de que os atuais modos de vida possuem sua origem no passado. Pesquisa as raízes históricas dos fatos sociais, para compreender sua função atual. Exemplos: influência francesa nas quadrilhas da festa junina, “Casa Grande e Senzala”. Método comparativo Compara diferentes tipos de grupos, comunidades ou fenômenos, buscando identificar semelhanças ou diferenças entre eles. A partir deste conhecimento, tenta obter generalizações sobre os fatos sociais. Exemplos: estudo comparativo entre as filiais brasileira e argentina de uma grande organização multinacional. Estudo de caso ou método monográfico É o estudo específico de um grupo, comunidade, etc, ou de algum aspecto dele. Parte do princípio de qualquer caso pode ser representativo de muitos outros. Exemplo: estudo da política de recursos humanos da empresa X. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 38 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Método estatístico / quantitativo Utiliza procedimentos matemáticos (estatísticos) para estudar os fenômenos sociais. Reduz os fenômenos a indicadores quantitativos. Algumas vezes revela-se ineficaz, devido à imprevisibilidade no objeto de estudo (o homem), pois apesar do caráter direto e aparentemente objetivo dos resultados, ocasiona a perda de uma riqueza no conhecimento social, pois não é capaz de identificar as atitudes e experiências pessoais dos indivíduos estudados. Exemplo: “O suicídio” de Durkheim. De qualquer forma, na prática observamos a combinação dos diferentes métodos, com a combinação da fortaleza de cada um, para a obtenção de uma melhor compreensão da realidade social. Outros contribuidores para o início da Sociologia como Ciência Além de Auguste Comte, considerado o “pai da sociologia”, podemos destacar o papel de: Émile Durkheim (1858-1917) Fundador da sociologia como ciência independente, estabelece seus métodos e inicia a comunidade científica ao redor deste conhecimento. Uma de suas principais obras é "As regras do método sociológico". Sua principal contribuição é a idéia de que os fatos sociais devem ser considerados como "coisas", sendo aplicáveis os mesmos métodos de observação das ciências exatas. Defende a observação, a experimentação como forma de indagação racional, com o abandono do sobrenatural, da tradição, da revelação, em uma nova atitude intelectual. É um dos precursores do método histórico, no qual a sociedade pode ser compreendida justamente por que é obra dos indivíduos. Para Durkheim mais do que os: fatos econômicos é a fragilidade moral e de valores que determinam o comportamento na sociedade. Portanto, em resposta às propostas socialistas (modificação na propriedade, distribuição das riquezas), defende a divisão do trabalho, onde cada membro da sociedade dependeria mais dos outros. Dessa forma, aumentaria a união e a solidariedade, que ele denomina, orgânica. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 39 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Karl Marx (1818-1883) Realiza uma crítica radical a nova ordem social estabelecida pela Revolução Industrial. Afirma que a estrutura econômica é a base da história humana e defende que o conhecimento da realidade social deve ser um instrumento político. Porém, oposto ao positivismo, defende a realização de mudanças na ordem social. Justamente, são nas situações de conflito econômico que a história avança, através do que denomina "luta de classes". Sua obra mais conhecida é "O Capital" (1867) Após Marx confrontar a economia política, lançando pela primeira vez o termo “alienação no trabalho” e suas conseqüências no cotidiano das pessoas, Marx expõe pela primeira vez a alienação da sociedade burguesa. A alienação no trabalho é gerada na sociedade devido à mercadoria, que são os produtos confeccionados pelos trabalhadores explorados, e o lucro, que vem a ser a usurpação do trabalhador para que mais mercadorias sejam produzidas e vendidas acima do preço investido no trabalhador, assim rompendo o homem de si mesmo. Já a alienação da sociedade, o fetichismo, que é a fato da pessoa idolatrar certos objetos (automóveis, jóias, etc). O importante não é mais o sentimento, a consciência, pensamentos, mas sim o que a pessoa tem. Sendo o dinheiro o maior fetiche desta cultura, que passa a ilusão às pessoas de possuir tudo o que desejam a respeito de bens materiais. Max Weber (1864-1820) Destaca-se no campo do estudo da burocracia como forma de organização e da sociologia da religião, estabelecendo assim as bases teóricas da estratificação social. Em sua obra "A ética protestante e o espírito capitalista" afirma que o maior desenvolvimento econômico dos países com religião protestante na Europa e América ocorreu por que esta religião valoriza o individualismo, o trabalho árduo, o êxito pessoal e a acumulação de riquezas (capital). A ética protestante seria uma nova mentalidade diante da vida econômica (pioneirismo, ousadia), com o êxito econômico como benção de Deus. Ao mesmo tempo, a não fruição dos lucros (rigidez na vida familiar) permite a acumulação e re-investimento do capital. Em comparação, o catolicismo prega a renúncia aos bens materiais, o amor fraterno e condena a usura (empréstimos). Seriam estas diferenças culturais que levaram Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Holanda Suécia, etc, a desenvolver o capitalismo e a Revolução Industrial muito mais cedo (e de melhor forma) que países como Itália, Espanha, Portugal, Brasil e outros países da América Latina. Frases do catolicismo negativas em relação ao dinheiro e à riqueza: ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 40 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini "Ora, aconteceu que o pobre morreu e ele foi levado pelos anjos para o seio de Abraão. O rico morreu também e foi amortalhado no inferno". - Evangelho de Lucas, 16 "Todo o homem rico é, ou injusto na sua pessoa, ou herdeiro da injustiça e da injustiça de outros" (Omnis dives aut iniquus est, aut heres iniqui) - São Jerónimo. "Quem quer se tornar rico tomba nas armadilhas do demônio, e se entrega a mil desejos não apenas vãos mas perniciosos, que o precipitam por fim no abismo da perdição e da condenação eterna" São Timóteo, 6 "Ou tu és rico e tens o supérfluo, e nesse caso o supérfluo não é para ti mas para os pobres; ou então tu estás numa fortuna medíocre, e então que importa a ti procurar aquilo que não podes guardar ?" São Bernardo Herbert Spencer (1820-1903) Aplica a teoria da evolução à sociedade humana, criando a "teoria da evolução social". Pensa na sociedade como um organismo, que cresce através da diferenciação (surgimento de órgãos especializados) e da interdependência entre partes. Assim, tantos nos organismos como na história das sociedades observa-se uma complexidade crescente. Com a evolução social se parte de uma organização social vaga para convenções cada vez mais precisas / costumes que se transformam em lei / leis que se tornam cada vez mais rígidas e específicas. A evolução social e o progresso independem da vontade humana Spencer Exemplo: uma tribo igual em todas as partes evolui para uma nação civilizada, repleta de diferenças estruturais e funcionais Leitura rápida #1 O manifesto comunista (trechos) Um espectro ronda a Europa - o espectro do comunismo A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 41 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini A condição essencial da existência e da supremacia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos dos particulares, a formação e o crescimento do capital a condição de existência do capital é o trabalho assalariado. Este baseia-se exclusivamente na concorrência dos operários entre si. Suprimi a exploração do homem pelo homem e tereis suprimido a exploração de uma nação por outra. Quando os antagonismos de classe, no interior das nações, tiverem desaparecido, desaparecerá a hostilidade entre as próprias nações. Os comunistas não se rebaixam a dissimular suas opiniões e seus fins. Proclamam abertamente que seus objetivos só podem ser alcançados pela derrubada violenta de toda a ordem social existente. Que as classes dominantes tremam à idéia de uma revolução comunista! Os proletários nada têm a perder nela a não ser suas cadeias. Têm um mundo a ganhar. Escrito por Karl Marx e Friedrich Engels em dezembro de 1847 - janeiro de 1848. Publicado pela primeira. vez em Londres em fevereiro de 1848. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 42 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 5 Status e papel social. Conflito de papéis. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 43 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Status: posição que o indivíduo ocupa na sociedade. Observação: o status é diferente de prestígio, fama; todas pessoas possuem um status, que como a definição diz, é a posição. É o principal fator que vai determinar as relações sociais, pois a ele estão associados os: direitos deveres e privilégios das pessoas na sociedade A diferença entre posições estabelece uma distância social. Exemplos Na faculdade reitor diretor acadêmico professor secretária estudantes Na família avô pai filho neto A distância social é maior entre os alunos e o reitor do que entre alunos e professores. O status é inseparável do papel social. O papel social é a parte dinâmica do status, ou seja, como as pessoas desempenham as funções que estão associadas com sua posição na sociedade. O status pode ser visto como as posições que umas pessoas ocupam em um carro (motorista, passageiro do banco da frente, outros passageiros). Já o papel social seria como o motorista está dirigindo, como os passageiros estão se comportando. Assim, status e papel social estão ligados a um comportamento socialmente esperado. Se este comportamento não é alcançado, então ocorre a pressão social. Todos estamos sujeitos à pressão social, basta pensar em nosso comportamento, vestuário, linguagem... Por exemplo: o ocupante de um cargo político que bebe demais nas reuniões sociais não está cumprindo o papel que dele se espera. Os meios de comunicação, e a sociedade em geral, demandam uma atitude condizente. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 44 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Se o papel social é vastamente difundido e reconhecido pela sociedade, podemos falar de um papel padrão. É por exemplo o caso do "pai-gelol" (não basta ser pai, tem que participar) e do operário padrão, figura criada durante o governo de Getúlio Vargas. Portanto o conjunto de status e de papéis são uma forma de controle social, quer dizer, de controle do comportamento humano no grupo. Os papéis sociais algumas vezes são representados através de símbolos, que identificam a posição de um determinado grupo na sociedade. É o caso da bata branca e o estetoscópio dos médicos, de uniformes, condecorações e medalhas dos militares. Símbolo: qualquer expressão verbal ou não-verbal que pretenda representar alguma coisa e é utilizada para transmitir significado do emissor para o receptor. Já os símbolos sociais são tipos de personalidades que as pessoas são levadas a imitar. O herói é o mais significativo, possuindo traços que as pessoas devem copiar (bondade, perseverança, força, liderança, etc.). Mas também possibilita a promoção e manipulação de certos valores, sejam religiosos, sejam de solidariedade, prestígio ou aspirações. Exemplo: os heróis nacionais brasileiros são aqueles que nunca promoveram revoluções ou derramamentos de sangue, transmitindo a idéias de uma “história incruenta”. O status pode ser de dois tipos: 1) Atribuído: devido a quem se é, são obrigatórios, inevitáveis. Exemplos: sexo (posição inferior da mulher no mundo islâmico) idade (desconsideração com os idosos na sociedade atual) primogênito (hereditariedade na sucessão de monarquias) raça (segregação racial dos negros na África do Sul, até início da década de 90). 2) Adquirido: é conseguido com o próprio esforço e habilidade. Relacionado com o processo social de competição, principalmente dentro da econômica e da política Exemplos: Sílvio Santos, de camelô passou a ser um dos maiores empresários do país Uma mesma pessoa pode possuir vários status, dependendo de que grupos faça parte. São diferentes, portanto, o papéis sociais associados que uma pessoa ocupa no trabalho, no clube, na comunidade onde vive, na família, etc. Daí que também existe um conjunto de papéis que a pessoa deve desempenhar. Algumas vezes existe o conflito de papéis, quando um papel de um determinado status se confunde com outro. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 45 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Exemplos: O militar que traz para o ambiente familiar a disciplina e rigor que aplica a seus comandados. O trabalhador que é promovido e deve abandonar o papel de empregado para assumir o de confidente do chefe. Mas existe o status principal, aquele que melhor identifica a pessoa. O status principal dependerá da sociedade em que a pessoa vive. Nas sociedades industriais, geralmente o status econômico e profissional é o mas valorizado. Em outras sociedades, a sabedoria e a experiência de uma pessoa podem valer mais. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 46 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 6 Estratificação social. Mobilidade social. Classes sociais. Desigualdade social Vi ontem um bicho Na imundície do pátio Catando comida entre os detritos Quando achava alguma coisa, Não examinava, nem cheirava: Engolia com voracidade. O bicho não era um cão. Não era um gato. Não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem. Manuel Bandeira ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 47 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Estratificação social Apesar dos indivíduos em uma sociedade apresentarem características semelhantes (por exemplo, elementos culturais como o idioma, a forma de ser, etc.), existem entre eles: diferenças biológicas; diferenças psicológicas; e diferenças sociais (em relação aos direitos, deveres, privilégios e status). A existência dessas diferenças é o que dá origem à estratificação social, onde a sociedade se divide em camadas (estratos), hierarquizadas e superpostas. A representação da estratificação geralmente se faz na forma de pirâmide O processo de formação das classes sociais no Brasil remonta à sua origem histórica. Nos anos 50, propôs-se a seguinte classificação: Alta, média e baixa Nos dias atuais, o esquema de estratificação se sofistica devido ao empobrecimento relativo da classe média: Classe alta tradicional, nova classe alta Classe média alta, média-média, média-baixa Baixa alta, baixa-baixa ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 48 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Atualmente, para pesquisas de opinião pública e de mercado se utiliza um esquema simplificado: Classe A (classe alta) Classe B (média alta) Classe C (média-média, média-baixa) Classe D (baixa-alta) Clase E (baixa-baixa) O mito da sociedade igualitária Ao longo da história vários movimentos pregam a “sociedade de iguais” (por exemplo os movimentos anarquista, socialista e comunista). Porém, trata-se de uma utopia, pois a igualdade é uma impossibilidade social! Utopia: diz-se de um conjunto de idéias ou práticas propostas que se julgam irrealizáveis. A construção de utopias é muito comum do ponto de vista de doutrinas que propõe saídas para a desigualdade social. Quando falarmos de igualdade, iremos nos referir, portanto, a igualdade de oportunidades entre todas as pessoas, ou seja, a existência de direitos iguais para todos (embora isto algumas vezes exija a redefinição de quais são estes "direitos", por exemplo a democracia ateniense excluía as mulheres). Mobilidade social É a movimentação dos indivíduos de uma camada da sociedade para outra. Pode ser tanto do indivíduo como do grupo. Exemplos: mobilidade ascendente individual: Lula mobilidade descendente grupal: senhores de engenho Já os canais de mobilidade são “vias rápidas” através da qual um indivíduo pode ascender mais rapidamente na sociedade. Os principais canais de mobilidade são Educação Política Exército Igreja ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 49 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Já as barreiras sociais são elementos que dificultam ou mesmo impossibilitam o acesso de um indivíduo ou grupo a uma camada superior. Exemplos: exclusivismo profissional, religioso, racial. Conceito de classe social Karl Marx explicava a estratificação social em função da dimensão econômica, das relações de produção. Gera o conceito, então, de "classe social, que é a expressão do modo de produzir de uma sociedade. Em seu estudo do capitalismo, Marx distingue: burguesia classes médias proletariado lumpemproletariado (submundo dos excluídos, marginalizado e sem consciência política) Com uma forte relação de oposição e interdependência entre a burguesia e o proletariado (luta de classes), enquanto as outras tenderiam a desaparecer. A possessão dos meios de produção é o fundamento básico da luta de classe que pode ser monopolizada por uma minoria e utilizada para exercer o pode sobre os outros. A propriedade é um mecanismo de fechamento social, processo pelo qual os grupos que estão no poder tratam de manter um controle sobre seus recursos. A análise econômica, no entanto, é unidimensional e se revela básica mas insuficiente para compreender a estratificação social. Max Weber propõe um sistema de posições divididos em três dimensões: econômica (riqueza) social (prestígio) política (poder) A posição de uma pessoa na sociedade, reflete então uma combinação de sua classe econômica, seu status e seu poder. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 50 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini As desigualdades econômicas são uma característica permanente de todos os sistemas sociais, à exceção das sociedades caçadoras e coletoras nas quais, de qualquer forma, gera-se pouca riqueza. As divisões de classe são cruciais nas desigualdades econômicas das sociedades modernas. A classe exerce uma grande influência em nossas vidas mas nossas atividades nunca estão totalmente determinadas por este tipo de divisões e muitas pessoas experimentam certa mobilidade social. Outras, entretanto, encontram-se em situações de pobreza das que é muito difícil escapar. (...). A luta contra a pobreza e a desesperança que, certamente, é desejável em si mesmo, pode também ajudar um país a ser mais competitivo na economia. Anthony Giddens ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 51 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #1 As desigualdades sociais no Brasil O crescente estado de miséria, as disparidades sociais, a extrema concentração de renda, os salários baixos, o desemprego, a fome que atinge milhões de brasileiros, a desnutrição, a mortalidade infantil, a marginalidade, a violência, etc, são expressões do grau a que chegaram as desigualdades sociais no Brasil. As desigualdades sociais não são acidentais, e sim produzidas por um conjunto de relações que abrangem as esferas da vida social. Na economia existem relações que levam a exploração do trabalho e a concentração da riqueza nas mão de poucos. Na política, a população é excluída das decisões governamentais. Até 1930, a produção brasileira era predominantemente agrária, que coexistia com o esquema agrário-exportado, sendo o Brasil exportador de matéria prima, as indústrias eram pouquíssimas, mesmo tendo ocorrido, neste período, um verdadeiro “surto industrial”. A industrialização no Brasil, a partir da década de 30, criou condições para a acumulação capitalista, evidenciado não só pela redefinição do papel estatal quanto a interferência na economia (onde ele passou a criar as condições para a industrialização) mas também pela implantação de indústrias voltadas para a produção de máquinas, equipamentos, etc. A política econômica, estando em prática, não se voltava para a criação, e sim para o desenvolvimento dos setores de produção, que economizam mão-de-obra. Resultado: desemprego. A extrema desigualdade Observou-se anteriormente que mais de 50% da população ativa brasileira ganha até 2 salários mínimos. Os índices apontados visam chamar a atenção sobre os indivíduos miseráveis no Brasil. Mas não existem somente pobres no Brasil, pois cerca de 4% da população é muito rica. O que prova a concentração maciça da renda nas mãos de poucas pessoas. Além dos elementos já apontados, é importante destacar que a reprodução do capital, o desenvolvimento de alguns setores e a pouca organização dos sindicatos para tentar reivindicar melhores salários, são pontos esclarecedores da geração de desigualdades. Quanto aos bens de consumo duráveis (carros, geladeiras, televisores, etc), são destinados a uma pequena parcela da população. A sofisticação desses produtos, prova o quanto o processo de industrialização beneficiou apenas uma pequena parcela da poppulação. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 52 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Geraldo Muller, no livro Introdução à economia mundial contemporânea, mostra como a concentração de capital, combinado com a miserabilidade, é responsável pelo surgimento de um novo bloco econômico, onde estão Brasil, México, Coréia do Sul, Äfrica do Sul, são os chamados “países subdesenvolvidos industrializados”, em que ocorre uma boa industrialização e um quadro dos enormes problemas sociais. O setor informal é outro fator indicador de condições de reprodução capitalista no Brasil. Os camelôs, vendedores ambulantes, marreteiros, etc, são trabalhadores que não estão juridicamente regulamentados, mas que revelam a especificidade da economia brasileira e de seu desenvolvimento industrial. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 53 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #2 ONU ataca 'mito' da democracia racial no Brasil Folha online, 18/11/2005 Um relatório sobre o desenvolvimento humano no Brasil que a ONU divulga nesta sexta-feira reunindo uma série de indicadores sociais e econômicos do país concluiu que, em todos eles, os negros brasileiros estão em situação desfavorável. O relatório mostras que a desigualdade se dá em áreas como renda, saúde e educação. Além disso, o trabalho faz comparações para mostrar que a situação não tem se alterado nas últimas décadas. “Os dados apenas corroboram o que está à vista de qualquer observador: quanto mais se avança rumo ao topo das hierarquias de poder, mais a sociedade brasileira se torna branca”, diz o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), órgão da ONU que produziu o levantamento. O levantamento mostra, por exemplo, que a renda média dos brasileiros negros em 2000 foi de R$ 162,75, menos de metade dos R$ 341,71 (em valores corrigidos) que os brancos ganhavam em 1980, de acordo com relatório. Desde então, a diferença entre brancos e negros praticamente não se alterou. O estudo afirma ainda que 64,1% dos pobres brasileiros são negros e que a taxa de desemprego da população negra foi, na média, 23% maior do que o índice de brancos sem emprego entre 1992 e 2003. O relatório da entidade diz que a democracia racial brasileira é um “mito” e defende uma ação conjunta do governo e da sociedade para combater o racismo no país. O estudo acrescenta ainda que as ações afirmativas, incluindo as políticas de cotas, são necessárias no Brasil porque mulheres, negros e povos indígenas foram deixados “em secular desvantagem na sociedade brasileira”. “Políticas universais são e serão sempre indispensáveis. Tratar igualmente desiguais pode, no entanto, agravar a desigualdade, em vez de reduzi-la”, afirma o relatório. Desenvolvimento humano O levantamento do Pnud utiliza os indicadores pesquisados para revelar outro aspecto da desigualdade entre brancos e negros no Brasil. Em 2002, o Brasil ficou em 73° lugar no ranking do IDH (índice de desenvolvimento humano, elaborado pela ONU). Mas o estudo indica que, se as populações brancas e negras representassem países diferentes, a distância entre os dois grupos seria de 61 posições. O relatório diz que o ‘Brasil branco’ ficaria em 44° lugar no ranking, junto a países como a Costa Rica e à frente da Croácia, por exemplo. Já o ‘Brasil negro’ seria o 105° colocado, com o mesmo índice de El Salvador e atrás de países como o Paraguai. O estudo também afirma que as desigualdades raciais se combinam às desigualdades regionais. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 54 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Um grupo formado apenas pelos brancos do Sudeste ficaria na 37ª posição, com índice semelhante ao da Polônia. Já os negros do Nordeste teriam condições de vida semelhantes às da Bolívia e ocupariam o 115° lugar. Violência O Pnud também aponta o perfil das principais vítimas da violência no Brasil: negro, jovem, de sexo masculino e solteiro. De acordo com o relatório, a taxa de homicídios para a população negra é de 46,3 para cada 100 mil. O índice é quase o dobro do registrado para brancos. O estudo afirma ainda que os negros são também as maiores vítimas da violência policial no Brasil. “Revelar a relação existente entre racismo, pobreza e violência é um passo fundamental para compreender a forma singular que a manifestação do racismo adquire na sociedade brasileira”, diz Carlos Lopes, editor-chefe do relatório. Educação, saúde e habitação Na área de educação, o Pnud afirma que o percentual de brasileiros negros com diploma universitário em 2000 (2,7%) era menor do que o de brancos com nível universitário em 1960 (3%). Outro indicador revela que a taxa de analfabetismo dos negros em 2000 era maior que a dos brancos de 1980. O relatório aponta ainda que a expectativa de vida da população branca do Brasil é de 71,5 anos. Entre os negros, no entanto, esse número cai para 66,2. “O racismo brasileiro há muitos séculos coloca a população brasileira em situação de flagrante desigualdade em todas as dimensões pesquisadas”, afirma Lopes, que foi representante do Pnud e da ONU no Brasil até outubro deste ano. “Isso exige um esforço conjunto de Estado e sociedade, e não será superado sem a implementação de ações afirmativas e políticas que contemplem a diversidade cultural”, acrescenta o editor-chefe do relatório. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 55 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 7 As relações e os processos sociais básicos. Isolamento, acomodação, assimilação, cooperação, competição e conflitos. Socialização Poema da necessidade É preciso casar João, É preciso suportar Antônio, É preciso odiar Melquíades, É preciso substituir nós tods. É preciso salvar o país, É preciso crer em Deus, É preciso pagar as dívidas, É preciso comprar um rádio, É preciso escolher fulana. Carlos Drummond de Andrade ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 56 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini As relações sociais O ser humano é um "ser social": vivemos em sociedade desde o momento em que nascemos e das pessoas que nos cercam começamos a apreender os costumes, as regras de comportamento, a língua. A sociedade, portanto, precede o indivíduo, pois quando ele nasce, seu grupo social já se encontra formado e praticamente determinará como será sua vida. Neste contexto, são fundamentais as interações sociais, ou seja, ações recíprocas de toca de idéias, atos ou sentimentos que ocasionam a modificação de seus comportamentos e a influência mútua. A interação social é a base da vida social Já as relações sociais são o conjunto de interações sociais que se dão no grupo e podem ser culturais, econômicas, religiosas, políticas, familiares, segundo o objetivo e o contexto onde ocorrem. Exemplos: temos portanto relações familiares (conjunto de interações que ocorrem dentro da família), relações econômicas, jurídicas, políticas, educativas, etc... Os processos sociais básicos: são interações sociais que acontecem de forma repetitiva, padronizada e que estabelecem os padrões de comportamento do indivíduo ou de grupos. São eles: 1) Isolamento É a falta de contato ou de comunicação. Pode ser devido a Fatores espaciais: separação do grupo devido a fatores geográficos (como no caso de aldeias isoladas na montanha) Fatores estruturais: devido a diferenças biológicas como sexo, raça ou idade (isolamento das mulheres da vida social em países islâmicos radicais) Fatores psíquicos: devido a características da personalidade, conhecimento, interesses ou valores dentro de uma cultura (por exemplo, o isolamento entre cientistas e analfabetos) Fatores habitudinais: devido à diferença de hábitos e costumes (por exemplo, o idioma e a religião) Os quilomboloas ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 57 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Antes de englobar parte do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, o município de Cavalcante já abrigava um dos principais quilombos brasileiros: a comunidade calunga. É fácil entender por que os escravos que escapavam se refugiavam nessa região mais de 200 anos atrás. A chapada dos Veadeiros é um mar de serras, morros, cânions, cachoeiras e olhos-d'água, e os paredões de pedra formam muralhas penosas de ultrapassar. O isolamento foi a defesa contra os senhores de escravo que queriam reconduzir os quilombolas à escravidão. E esse isolamento --que diminuiu bastante nos últimos anos-- contribuiu para preservar a identidade e o modo de vida tradicional. 2) Cooperação É a ação comum para conseguir determinado fim. A cooperação estabelece a divisão social do trabalho. Exemplos: mutirão, trabalhos em grupo, cooperativa 3) Competição É a disputa por bens e vantagens sociais que são limitadas. É uma característica da sociedade capitalista, onde a competição é um estado permanente. Exemplo: vestibular, concorrência comercial, disputa entre nações Um estado intermediário é a rivalidade, quando o grupo opositor passa a explicitamente reconhecido ser Exemplo: times de futebol tradicionais: Palmeira versus Corinthians, Náutico versus Santa Cruz. Espírito e matéria podem conviver nos negócios Há muitos anos, o economista J. K. Galbraith - grande crítico da natureza humana disse que "a competição traz à tona o melhor de um produto e o pior de uma pessoa". Talvez neste pensamento se resuma o dilema do capitalismo moderno que deve conciliar a sua própria sobrevivência com os valores humanos. Como resultado, ainda hoje testemunhamos verdadeiras aberrações, como o caso de um grande laboratório americano que modificou propositadamente a fórmula de um medicamento barato para obrigar os pacientes a migrarem para um similar mais caro. Em outro extremo, no entanto, já são numerosos os exemplos de empresas e dirigentes que compreenderam que o seu verdadeiro papel no mundo vai além do lucro no fim do ano. (..... Em publicação recente, o Schumacher UK - The Create Environment Centre resumiu da seguinte forma a sua filosofia sobre o papel da empresa no mundo moderno: "Empresa ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 58 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini sem alma, negócios sem paixão, indústria que não respeita a ecologia, bancos que agem sem espírito de justiça, economia sem igualdade só podem causar o colapso da sociedade e a destruição da natureza. Somente quando espírito e negócios trabalham juntos, a humanidade encontra coerência em seu destino". (Francisco Gracioso, editorial da Revista da ESPM, jan.-fev. 2007). 4) Conflito Estado onde os competidores buscam a eliminação dos competidores. Geralmente é mais consciente e mais transitório (exige o consumo de recursos importantes para a sociedade ou para o grupo). Caracteriza-se por um estado de tensão social (predomínio de emoções pessoais como o ódio e podem ser de fundo raciais, econômicos, religiosos, políticos. Os conflitos assumem a forma de litígio, guerra, sabotagem, revolução, terrorismo. 5) Acomodação Uma situação de ajuste ao conlito (justamente devido aos custos deste), com o estabelecimento de acordos temporários. Porém, não há a modificação das atitudes e pensamentos dos envolvidos, a acomodação somente pode ser observada em aspectos externos. AS formas de se obter a acomodação são a coerção, o acordo (arbitrado ou mediado) e a conciliação. 6) Assimilação Apresenta uma solução permanente para o conflito, exigindo um processo longo e contínuo. ao final, existe o compartilhamento de uma cultura comum. É o caso de empresas que se fundem ou de países que após uma guerra civil passam a demonstrar uma identidade nacional. Uma forma especial de assimilação é a aculturação, quando a assimilação se refere a elementos culturais. Por exemplo, é o caso dos imigrantes, especialmente italianos, espanhóis e portugueses, que a partir de situações de conflito com sua introdução na sociedade brasileira passaram a fazer plenamente parte dela. Socialização A socialização é o processo de aquisição da cultura, desde a forma de falar, pensar, agir, vestir-se, comer, em suma, todos os hábitos, costumes, normas e valores do grupo. É um processo de transmissão de uma geração para outra. É um processo de transmissão social (não biológica) e portanto, faz parte do universo cultural do homem. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 59 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini É o processo através do qual se aprendem os papéis sociais, os padrões de comportamento social e a interiorização de valores. As funções da socialização são: a) Formar uma identidade própria (ao mesmo tempo que as pessoas são parecidas com os traços gerais da sociedade onde vivem, também são únicas). b) Adaptação ao ambiente social, aprendizagem dos papéis sociais, começa quando nascemos e dura durante toda a vida. Os agentes de socialização são: Família: reprodução de normas e costumes com base em seu universo cultural Pequenos grupos: compromisso, solidariedade, pressão de grupo. Exemplo: fumo entre os adolescentes. Escola: ensino das relações formais e impessoais, da burocracia e regras de comportamento na sociedade. Grupos de referência: são figuras dentro da sociedade que estimula modelos de comportamento e atitudes. Exemplo: os Beatles, na década de 60, artistas, esportistas... Meios de comunicação de massa: incentivam hábitos, modismos, e na atualidade, o consumismo. A socialização se faz por participação em atividades sociais, imitando os mais maduros em situações concretas e por comunicação onde aprendem-se lições da vida alheia. Também apontamos uma distinção entre socialização concomitante (a que ocorre ao mesmo tempo que o exercício de um papel) e a antecipatória (que prepara para um papel futuro). A socialização é fundamental para o desenvolvimento do ser humano, existem casos de crianças que não foram socializadas e nunca tiveram um desenvolvimento intelectual pleno. Caso de estudo: o que acontece na ausência de socialização de um recém nascido? Na impossibilidade de realizar um experimento desse tipo, a casualidade proporcionou aos cientistas sociais exemplos de "homus ferus", crianças criadas pelos animais, por exemplo, "meninos-lobos" na Índia que inspiraram Rudyard Kipling a escrever "O livro da Selva" (Mogli). Outro caso famoso é o "menino selvagem de Ayron" Daí sua importância, pois além de envolver a aprendizagem de uma consciência social, como por exemplo revidicar os direitos e desempenhar os deveres sociais, também está relacionado com adquirir atitudes, aceitar ou rejeitar o papel que a sociedade atribui a uma pessoa. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 60 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #1 O caso da curva do sino (bell curve) Nos anos 60, apareceu uma curiosidade cientifica relativamente à relação entre hereditariedade, raça e inteligência, quando nos EUA se verificou que as crianças negras tinham testes de inteligência com resultados inferiores aos das crianças brancas. A investigação das causas decorreu segundo 3 caminhos: influência da hereditariedade e do meio ambiente sobre as capacidades mentais, critica ao valor dos testes de QI enquanto medida de inteligência; influencia do meio ambiente sobre a inteligência cerebral. Quanto à influência da hereditariedade e do meio ambiente sobre as capacidades mentais do indivíduo, os cientistas acreditavam que é o meio ambiente social e educacional que promove o sucesso social e educacional, mais do que a hereditariedade. De fato a higiene, alimentação ou educação favoreciam ou não a ascensão de status porque nem todos têm as mesmas oportunidades. Assim, o governo adotou uma política para que todas as pessoas de diversos meios sociais tivessem as mesmas oportunidades de ascensão na sociedade. Programas de ação social levavam às áreas mais empobrecidas onde havia crianças negras crianças brancas e vice versa para haver assim classes mistas e diminuir o preconceito racial e as crianças puderem trocar experiências entre si. Contudo esta idéia não foi bem vista, principalmente pelos pais das crianças mais ricas que diziam que professores das crianças negras eram piores. Arthur Jensen escreveu “Em que medida podemos superar os Qis e promover o ensino?”. Era um psicólogo educacional, hereditarista e segregacionista defendendo que o ensino devia ser diferenciado e proporcional às capacidades das crianças. Ou seja, defendia que se as crianças negras tinham piores resultados nos testes de QI, deveriam ser objeto de um ensino proporcional as suas capacidades intelectuais. Esta polêmica foi ressuscitada em 1994 com o lançamento de um livro titulado A curva do sino (The Bell Curve), que fazia o mesmo tipo de afirmações. Entretanto, logo surgiram críticas em relação à objetividade do estudo. Uma revista chamada Mankind Quarterly é citada cinco vezes no livro, além do que dezessete autores desta publicação também são citados. A revista foi fundada por Robert Gayle, um notório racista e outros editores são membros de movimentos em favor da eugenia (melhoria genética da raça humana). Além disso a revista é financiada pelo Pioneer Fund, um fundo estabelecido por um simpatizante nazista e defensor do regime do apartheid, na África do Sul. Os autores de Bell Curve com este fundo pró-preconceito são substanciais, já que citam cientistas financiados com dinheiro (mais de quatro milhões de dólares) desta fundação. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 61 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Outros questionamentos são metodológicos. Serão sem valor os estudos que mostram que negros ou asiáticos obtêm resultados diferentes dos americanos assim chamados "brancos" nos testes padronizados de QI? Isto é, serão inúteis os trabalhos de pessoas como Herrnstein e Murray? Não. São dados valiosos, mas também explosivos devido ao nosso histórico político racista. Dados como esses serão inevitavelmente explorados por defensores da supremacia branca, distorcidos para atingir seus objetivos políticos e usados, não para melhorar as relações raciais nos EUA, mas para incentivar mais conflitos raciais. Esses dados consistem principalmente em correlações e, embora isso não convença cientistas empíricos ortodoxos de nada, as correlações são o coração e a alma do trabalho do pesquisador racista. Na verdade, Herrnstein e Murray, capítulo após capítulo, clamam por reformas sociais para melhorar a situação dos negros nos EUA. Podem ser reivindicações fingidas mas, de qualquer forma, são incoerentes com a idéia de que as condições sociais dos negros nos EUA se deva a fatores genéticos. Se foram os genes que resultaram na sub-raça negra de jovens selvagens que matam-se uns aos outros diariamente em quase toda cidade nos EUA, não há fundamento em reivindicar programas educacionais e vocacionais ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 62 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #2 Modernidade, disciplina e futebol: uma análise sociológica da produção social do jogador de futebol no Brasil (conclusão) Francisco Xavier Freire Rodrigues Sociologias, Porto Alegre, ano 6, nº 11, jan/jun 2004, p. 260-299 Este trabalho investigou a relação entre modernidade, disciplina e formação profissional do jogador de futebol moderno. Uma das premissas principais que sustentou o trabalho é que o futebol moderno é uma instituição disciplinadora e civilizadora. No futebol moderno, basicamente tudo é ensinado, exceção do talento, que é algo natural, porém aperfeiçoado por meio de treinamentos. Com a diminuição dos campos de várzea, devido ao crescimento urbano acentuado, a escolinha de futebol ganha relevo especial. O aprendizado do futebol desloca-se para as escolinhas dos clubes. É nas divisões de base dos clubes profissionais que ocorre o processo de ensino de futebol e, conseqüentemente a profissionalização do jogador. Nas escolinhas de futebol, tudo se ensina: as técnicas, as regras, as condutas, a preparação e o uso do material esportivo. Podemos sintetizar o que foi exposto neste trabalho da seguinte forma: (1) O futebol surge no Brasil como um produto da modernidade. Seu desenvolvimento segue dinâmica similar aos demais setores da sociedade, em que a modernização implica a intervenção da ciência; (2) O controle social, os treinamentos e a repressão, os mecanismos principais no disciplinamento na formação do atleta; (3) O dom, o sonho de enriquecer, o incentivo da família e a seleção brasileira são as motivações pelo futebol. A produção social do jogador de futebol, especialmente com o advento dos Centros de Treinamento, decorrente da recente modernização, consiste em um processo de disciplinamento, adaptação, socialização, adestramento, desenvolvimento e aperfeiçoamento das potencialidades físicas e técnicas do atleta, além da administração do seu potencial genético. Trata-se, pois, de um processo disciplinador, pedagógico e civilizatório caracterizado pela regulamentação, controle, institucionalização e racionalização. O jogador de futebol é uma força de trabalho produto do disciplinamento, treinamentos físicos, técnicos e táticos e do desenvolvimento de suas capacidades genéticas. Portanto, o jogador de futebol passa por uma formação profissional. O jogador de futebol brasileiro não nasce feito, é produzido socialmente, ou seja, é formado em instituições especializadas. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 63 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #3 O menino selvagem de Ayeron Num dia de Verão do ano de 1798, numa floresta francesa, foi encontrada por caçadores uma criança selvagem. Levada para Paris, foi observada pelo mais célebre psiquiatra da época, Pinel, que a considerou como um idiota irrecuperável e pelo jovem médico Itard que, ao contrário, considerou ser possível recuperar o atraso provocado não por inferioridade congênita mas pelo seu isolamento total. O "selvagem" estava hirsuto e deslocava-se como um animal, quer a quatro patas, quer sob as suas pernas. Vivia naturalmente nu. O corpo estava coberto de cicatrizes, tinha unhas como garras e exprimia-se apenas por grunhidos. Na floresta, alimentava-se unicamente de castanhas e raízes e pensa-se que, entre o momento do seu abandono e o da sua captura, deve ter passado entre sete a oito anos em solidão absoluta. As cicatrizes que Victor tinha no corpo eram marcas de luta. Provavelmente, mordeduras de animais com que se havia batido. Mas, no pescoço, à altura da artéria uma cicatriz mais profunda que as outras parecia a marca de um golpe de faca. Tratava-se talvez de uma criança que alguém teria querido matar, de que teriam querido desembaraçar-se, quando ela teria três ou quatro anos de idade e que, julgando-a morta, teria sido abandonada na floresta. Pode supor-se que a ferida, com a ajuda de poeira e de folhas que se lhe tenham vindo colar, tenha cicatrizado por si própria. Os médicos que examinaram o "selvagem" em Paris pensaram que se tratava de uma criança débil ou idiota que, por essa razão, tinha sido abandonada na floresta e que, portanto, seria inútil que alguém dela se tentasse ocupar. Segundo esses médicos, o selvagem deveria ser enviado a Bicêtre para junto dos loucos e dos incuráveis. Essa não era porém a posição de Jean Itard, um jovem médico que fazia investigação sobre a surdez. Ele pensava que o selvagem de Aveyron era digno de receber educação e pediu autorização para se encarregar dele, na sua casa perto de Paris. Inicia então a educação de Victor, inventando e utilizando toda a espécie de procedimentos de que nos servimos hoje ainda para a reeducação de crianças surdas-mudas e atrasadas. Para provar a veracidade das suas razões, Itard pediu a tutela desta criança. Assim, na sua casa em Batignoles, com a ajuda da sua governanta, Mme Guérin, iniciou a difícil tarefa de desenvolver as faculdades dos sentidos, intelectuais e afetivas de Victor, nome pelo qual se passou a chamar esta criança. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 64 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 8 Controle social. Normas. Sanções. Desvio social. Marginalização e crime ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 65 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Desvio social, crime e controle social O objetivo de toda sociedade é a convivência social, que somente é conseguida através de regras de convivência e de controle. Para aprofundar esta questão, vejamos alguns conceitos: Ordem social: sistema de pessoas, relacionamentos e costumes que operam para o funcionamento da sociedade Valores: nos dizem o que é bom x mau honrado x vergonhoso agradável x desagradável Ou seja, orientam e condicionam o pensamento de todos os indivíduos em uma coletividade. Os valores variam com as classes sociais e inclusive com a história, ao longo do tempo. Hábitos e costumes: são fruto da socialização (aprendizagem social) e constituem as maneiras normais e freqüentes de um grupo social fazer as coisas. Normas: são os hábitos que são fundamentais para o bem estar do grupo. Constituem uma obrigação social, pois exigem, permitem ou proíbem determinados comportamentos, ou sejam, buscam a conformidade. As normas podem ser: 1) formais: codificadas no Direito, sancionadas pelo Poder Público (ou em outros tipos de instituição como escola, empresas, clubes). 2) informais: sistema de regras não explicito, regras estas ritualizadas nos costumes e no comportamento. 3) de cortesia: controlam o comportamento entre indivíduos, mais do que entre o indivíduo e o grupo. A diferenciação formal e informal é relativa, pois através e um processo de interiorização um norma formal pode transformar-se em informal e vice-versa. Exemplos: burkas no Afeganistão, eram formalmente proibidas, depois de liberadas pela lei, continuam proibidas, desta vez informalmente, pelos costumes. Controle social: busca fazer com que cada indivíduo desempenhe seu papel, utilizando técnicas e estratégias específicas para regular o comportamento humano. O controle social pode ser ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 66 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 1) formal: cumprido por agentes autorizados: multa, sentença, promoção, demissão 2) informal: usado casualmente: riso, desprezo, ridicularização, concordância, aprovação O controle social é exercido de inúmeras formas: 1) socialização: através do "domínio que o indivíduo exerce sobre si mesmo", através das regras e normas que lhe foram passados pela educação, convivência, etc. 2) pressão de grupo: adequação do indivíduo ao papel social que corresponde a seu status. 3) sanções: sistema de recompensas e punições que tem como objetivo fazer com que as normas sejam respeitadas. As sanções, com relação a seu caráter, podem ser: a) positivas: estimulam determinado comportamento Exemplos: promoção, aumento salarial, diploma. b) negativas: reprimem determinado comportamento Exemplos: multas, prisão. Com relação à forma, podem ser: 1. Físicas: palmada, tortura, jejum, afago. 2. Econômicas: multa, embargo comercial, aumento de salário. 3. Sociais: desprezo, ridículo, palmas. Jonathan Atholl, historiador da delinqüência, descreveu a vida em Newgate, uma das primeiras prisões de Londres. Era um lugarbuliçoso, animado e cheio de visitas grande parte do dia. Em 1790 e um dos condenados fez algo que não parece que fora incomum: celebrar uma festa na prisão. "serve-se o chá às quatro da tarde com música de violinos e flautas, e depois os convidados dançaram até as oito, momento em que se serve um jantar frio. A festa terminou às nove, hora habitual de fechamento da prisão" (Atholl, 1954, p.66). Até o século XIX as principais forma de castigo eram o pelourinho, as chicotadas, marcar com ferro candente ou a forca, e todas elas faziam-se em público e muita gente ia às presenciar. Algumas execuções atraíam a milhares de pessoas. Os prisioneiros, antes de ser executados, podiam fazer um discurso justificando seus atos ou declarando-se inocentes. A multidão aclamava, vaiava ou assobiava para expressar o que lhe pareciam as afirmações do réu. Anthony Giddens ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 67 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Desvio social: é o afastamento em relação às normas Violação das regras sociais e quebra de valores. O desvio social é universal (observado em todas sociedades), mas assim como os valores, profundamente cultural (exemplo, em algumas culturas primitivas o canibalismo é uma virtude). O desvio social pode se transformar em norma e vice-versa (ex. mini-saia, foi considerada indecente quando surgiu, hoje é praticamente uma obrigação. Os desvios sociais podem ser: culturalmente aprovados: o gênio, o santo, o líder, o herói negativos: pecador, avarento, dedo-duro Outros desvios são: o assassinato, o roubo, o estupro, inclusive a homossexualidade (este último em relação valores atuais da sociedade). Àqueles que desenvolvem idéias novas na política, ciência, arte ou outros campos, aos que seguem caminhos ortodoxos lhes olham freqüentemente com suspeita ou hostilidade. Por exemplo, os ideais políticos que se desenvolveram com a Revolução Americana -liberdade do indivíduo e igualdade de oportunidades- encontraram uma grande oposição em muitos setores da época, embora hoje sejam aceitos em todo mundo. Apartar-se das normas dominantes de uma sociedade exige valentia e decisão, mas resulta freqüentemente crucial para assegurar processos de mudança que logo são considerados de interesse geral. Anthony Giddens ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 68 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Marginalidade: ocorre quando o indivíduo fica fora, "à margem" do grupo. Nesta ocasião, cria-se um sistema alternativo de normas. A grande dificuldade do problema social da marginalidade é reinserir os marginalizados na sociedade implica, portanto, um processo de re-socialização. Crime (delito): è um tipo específico de desvio das normas sociais, no caso, aquelas estabelecidas pela Lei. Qualquer explicação satisfatória da natureza do delito deve ser sociológica, porque a definição de delito depende das instituições sociais de uma sociedade. Um dos aspectos mais importantes do pensamento sociológico sobre o delito é a ênfase que põe nas interconexões entre conformidade e separação em diferentes contextos sociais. As sociedades modernas contêm muitas subculturas distintas e o comportamento que respeita as normas de uma delas pode considerar-se desviado em outra. Por exemplo, um membro de uma gangue juvenil pode ser pressionado para ser testado roubando um carro. Além disso, existem profundas diferenças de riqueza e de poder na sociedade, que determinam em grande medida as oportunidades de que dispõe cada grupo. Não resulta surpreendente que o roubo e a invasão de moradia sejam realizadas por pessoas que pertencem aos setores mais pobres da população, enquanto que a malversação de recursos ou a evasão de impostos estão limitados, por definição, às pessoas que ocupam posições de certa influência Anthony Giddens ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 69 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #1 Namoro de garotas vira caso de polícia Folha de São Paulo, sexta-feira, 07 de outubro de 2005 LUÍSA BRITO O namoro entre duas garotas, na USP da zona leste, virou caso de polícia. Bárbara, 22, e Melissa, 18, (os nomes são fictícios) estavam na cantina da universidade, na tarde da sexta-feira passada, quando foram abordadas por uma policial militar que trabalha na região. Houve discussão e elas foram levadas para a delegacia. As meninas, que namoram há quatro meses e se conheceram na própria universidade, dizem que uma estava no colo da outra e trocaram apenas um beijo, um "selinho". Na versão da PM, as duas se beijavam de forma acintosa e trocavam carícias nas partes íntimas, o que configurou "ato obsceno". As meninas afirmam que estavam numa mesa, na cantina, com vários colegas. Melissa estava sentada no colo de Bárbara e as duas se beijaram. Segundo elas, a policial, ao ver a cena, aproximou-se e disse não saber que a homossexualidade era permitida por lei. As meninas e os colegas reagiram, dizendo que as duas podiam namorar ali. "Aí a policial começou com um discurso preconceituoso, dizendo que a USP era um lugar de mães de família e gente séria", disse Bárbara. "Estávamos conversando quando a policial chegou. Achei que ela não estava falando sério", afirma a aluna Patrícia Rezende, colega do casal. Segundo as meninas, a discussão acabou porque um funcionário da USP convenceu a policial a deixar o local. Meia hora depois, elas foram informadas que o caso estava sendo registrado formalmente pela polícia e foram chamadas a assinar um termo. Como se recusaram, tiveram de ir até a delegacia de Ermelino Matarazzo, onde ficaram cerca de três horas. Elas dizem ter se recusado a assinar o documento por considerar que ele não explicava qual crime teriam cometido. Um funcionário da USP as acompanhou até a delegacia, evitando que fossem levadas em um carro policial. De acordo com o tenente Raul Marcel de Mendonça, responsável pelo patrulhamento da região, a policial afirmou que as duas estavam se "beijando de forma acintosa e passavam a mão uma nas partes íntimas da outra", o que configurou o ato obsceno. Segundo o tenente, a policial que abordou as meninas não estava trabalhando ontem e, por isso, não poderia ser entrevistada. Bárbara diz que contou à família o que ocorreu e seus pais pediram apenas que fosse prudente, já que o caso envolve a polícia. O medo de Melissa, porém, é que a família descubra que ela namora uma garota. As duas preferem não revelar seus nomes.O DCE (Diretório Central dos Estudantes) da USP pretende fazer um ato público contra o caso. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 70 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Para as meninas, a abordagem da policial e a ida para a delegacia foram constrangedoras. "Vou processá-la [a policial] mesmo sabendo que isso não mudará sua mente, mas é para ela saber que não fizemos nada ilegal", afirmou Bárbara. Na delegacia, foi registrado um documento (termo circunstanciado) e, agora, as duas serão ouvidas pela Justiça. Bárbara e Melissa afirmam que costumam namorar na rua e que, geralmente, as pessoas mostram-se assustadas ou fazem brincadeiras. "De tudo o que já ouvi, isso [a declaração da policial] foi o mais agressivo", disse Melissa. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 71 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #2 Cidade punirá penetras de festa, quem andar peladão em casa ou chutar cães sem razão Tabloideanas, 22/12/2004 Atenção você, que entra em uma festa sem ser convidado(a). E atenção você, que gosta de andar peladão (ou peladona) em casa. E principalmente você, que é vizinho (a) de alguém que gosta de andar nu no doce recanto de seu lar - e aproveita para dar aquela espiadinha básica. As autoridades de Villahermosa (sudeste do México), que não têm mais o que fazer, estão de olho em vocês. A partir do próximo dia 1º de janeiro, Villahermosa irá punir -com multa ou até prisão (!!!)- quem cometer algum dos três crimes (!?!) citados no parágrafo anterior. E tem mais Você pensa que a sede de punições dos manda-chuvas lá de Villahermosa parou por aí? Também serão punidos quem esbofetear ou socar uma pessoa em público, agredir cães sem motivo ou se manifestar nas ruas sem permissão das autoridades. Donos de cachorros e outros mascotes que sujarem as ruas (sim, cocô ou xixi) também serão punidos. As informações deste texto foram publicadas no jornal "La Jornada" que, espera-se, não será punido pelas autoridades de Villahermosa por isso. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 72 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #3 César Lombroso (1836 – 1909) Escreveu entre outras obras “Homem Delinqüente” 1876 e “Anatomia de um crime” 1893 Visitava as cadeias e, olhando para os presos, via os seus traços anatômicos e relacionava-os com determinados crimes, porque acreditava que as pessoas nasciam com predisposição para praticar crimes. Assim apresenta 7 tipos de criminosos: 1. Criminoso nato ou atávico: não tem sensibilidade em relação à vida dos outros. Possui alguns estigmas : maças de rosto salientes, testa para trás, cabeça oval, demasiado grande ou pequena, olhos oblíquos, braços pequenos em relação ao corpo, ou então um maior que o outro. 2. Criminoso epiléptico: cometiam crimes devido à sua doença 3. Criminoso imbecil moral: não possui consciência do bem e do mal, comete o crime sem se aperceber 4. Criminoso impetuoso ou apaixonado: comete crimes passionais 5. Criminoso do tipo criminalóide: possui deficiências no sistema nervoso central, é facilmente irascível. 6. Criminoso habitual e... 7. Criminoso involuntário: são ambos influenciados pelo ambiente (aprendizagem social). Contudo, Lombroso e os seus discípulos foram refutados por autores ambientalistas como Gabriel Tarde que em 1890 escreve “Leis de imitação”, uma resposta a Lombroso onde é afirmado que a delinqüência é provocada pelo meio social e educacional (por imitação) e não por hereditariedade. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 73 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #4 Outros tipos de crime Anthony Giddens. Crime de colarinho branco O termo "crime do colarinho branco" foi cunhado pelo Edwin Sutherland (1949) para denominar os delitos que cometem os que pertencem aos setores mais acomodados da sociedade. O termo abrange muitos tipos distintos de atividades delitivas, incluídas as fraudes fiscais, as práticas ilegais de venda, os seguros e as fraudes imobiliárias, desfalques, a manufatura ou venda de produtos perigosos e a contaminação ambiental por cima dos limites permitidos, assim como o puro e simples roubo. O alcance dos delitos de colarinho branco é inclusive mais difícil de medir que o do resto dos delitos; muitas de suas manifestações nem sequer aparecem nas estatísticas oficiais. Podemos distinguir entre crimes de colarinho branco e delitos dos poderosos. Os primeiros suportam normalmente a utilização de uma posição profissional ou de classe média para realizar atividades ilegais, enquanto que os segundos são aqueles nos que a autoridade que confere uma posição é utilizada com fins delitivos; como quando um funcionário aceita um suborno para favorecer uma determinada política. Crimes de Estado Pode-se dizer que as autoridades governamentais algumas vezes cometem delitos? Se o "delito" se definir de um modo mais amplo do que para referir-se a uma maldade moral que tem conseqüências perniciosas, a resposta está muito clara. Os Estados cometeram alguns dos delitos mais desprezíveis da história, incluindo a destruição de povos inteiros, os bombardeios maciços indiscriminados, o holocausto nazista e os campos de concentração do Stalin. Entretanto, inclusive se definimos o delito como a atuação contra as leis estabelecidas, não é incomum que os governos cometam delitos. Quer dizer, que passem por cima ou transgridam as próprias leis cuja autoridade se supõe que têm que defender. A polícia, a instituição estabelecida para controlar o crime, às vezes se envolve ela mesma em atividades delitivas. Esta participação não só se manifesta em atos isolados, mas também é uma característica comum do trabalho policial. Entre as atividades delitivas dos policiais se incluem a intimidação, golpear ou matar suspeitos, aceitar subornos, contribuir à organização de redes de delinqüência, fabricar ou esconder informação e ficar com parte das lucros quando se recupera dinheiro, drogas ou outros bens roubados. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 74 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 9 Mudança social. Teorias da mudança social ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 75 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Mudança social As sociedades estão em permanente estado de mudança: ela é inerente e inevitável. Assim, “o que é constante na vida social é a mudança, não a estabilidade”. As sociedades humanas têm demonstrado uma capacidade de mudar constantemente: é o chamado poder adaptativo. As mudanças podem ser rápidas e abruptas ou podem levar um longo período de tempo. Na história da humanidade, foram observados três grandes momentos de rápida mudança: 1ª Revolução tecnológica: agricultura, roda (Neolítico, 12.000 AC) 2ª Revolução tecnológica: revolução industrial (final do século XIX) 3ª Revolução tecnológica: tecnologia da informação e da comunicação (final do século XX) De uma revolução para outra, observamos: aumento da complexidade aumento da taxa do ritmo de mudança É importante diferenciar entre: Mudança social (mudanças nas estruturas e relações sociais) Mudança cultural (transformações de valores e normas) Fatores da mudança social 1. Fatores geográficos: Cataclismos geológicos e climáticos mudam de forma permanente ou transitória a organização e a estrutura de uma sociedade. 2. Fatores socioeconômicos Envolvem processos sociais e econômicos. Muitas vezes estão relacionados com o ambiente físico (geográfico). Exemplos: Guerras, revoluções, conquistas Concentração e desenvolvimento econômico de uma região devido à descoberta de recursos naturais 3. Fatores culturais Transformação nas idéias e valores Ex. desenvolvimento da filosofia, difusão das religiões e ideologias, marxismo, feminismo, direitos humanos, cristianismo 4) Fatores tecnológicos ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 76 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Tecnologia: "conhecimento e ferramentas para manipular o meio físico para atingir determinados fins". A tecnologia contribui para a manutenção econômica da sociedade, impulsiona mudanças culturas e sociais. Já o determinismo tecnológico explica a mudança social em função somente do fator tecnológico. 5) Fatores biológicos Epidemias, crescimento populacional, Miscigenação Problemas sociais (lembrando, a razão de ser da Sociologia!) Situações indesejáveis que vão em contra dos valores aceitos normalmente e de uma sociedade harmonizada. São inseparáveis dos processos de mudança social, sejam por que esta os causou ou por que através dela pretende-se solucioná-los. Evolução social Resultado cumulativo de mudanças sofridas por uma sociedade, orientadas a uma mesma direção processo de aperfeiçoamento contínuo das interações e relações sociais, permitindo a alteração da realidade social e a adaptação às mudanças. Pode assumir duas formas: 1) Progresso: aumento da capacidade humana de suprir suas próprias necessidades, melhorando sua qualidade de vida. Está condicionado a um juízo de valor, que condiciona uma determinada direção e uma determinada forma de pensar, por exemplo: o progresso técnico frente à valorização das características espirituais do ser humano 2) Desenvolvimento: o progresso entendido como riqueza (capitalismo) resulta na concentração da abundância nas mãos de poucos (elites) desenvolvimento seria a distribuição eqüitativa destes recursos, podendo ser: humano, sustentável, responsável Teorias da mudança social 1. Estágios definidos (evolucionismo) A sociedade avança gradualmente, segundo estágios sucessivos, em direção a um estado mais avançado de civilização. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 77 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 2. Télica Mudança ocorre devido à forças racionais, intencionais (planejamento em turismo, educação e melhoria do nível cultural da sociedade). 3. Determinista mudança ocorre devido a determinadas forças (economia, ideologia, tecnologia). 4. Cíclicas A história passa por ciclos, estágios sucessivos, até voltar ao ponto de origem (ascensão, apogeu e queda). ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 78 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leituras rápida #1 Hômi com hômi, mulé com mulé Ricardo Freire Revista Época, Edição 303 - 06/03/04 A onda de casamentos gays em São Francisco lembra o êxodo de alemães orientais que antecedeu a queda do Muro de Berlim. Quando o governo húngaro resolveu abrir sua fronteira com a Áustria, milhares de alemães do Leste inventaram férias na Hungria e montaram tocaia na divisa com o Ocidente, esperando o momento de escapulir. Mais uma vez, São Francisco é uma cidade na fronteira entre a comunidade gay e a sociedade americana. A qualquer hora do dia, centenas de 'casais do mesmo sexo' (conforme o novo jargão politicamente correto) aglomeram-se nas escadarias da prefeitura, à espera da sua vez de tornar-se marido e marido ou mulher e mulher. Gays e lésbicas não param de vir de todas as partes dos Estados Unidos para aproveitar a perestroika antes que acabe. Se perguntados, muitos dirão que estão ali apenas para adquirir 1.043 direitos garantidos pela Constituição dos EUA a cidadãos casados. No fundo, porém, o que motiva a maioria é poder realizar aquilo que suas famílias passaram dez, 15, 20 anos lhe enchendo o saco: 'Afinal, quando é que você vai casar e ter filhos?'. Sim: filhos. À luz da medicina moderna, um par de pais e uma dupla de mães não passam de casais comuns, com problemas corriqueiros - e perfeitamente contornáveis -, no departamento procriação. Não há dúvida: gays e lésbicas estão se tornando cada vez mais conservadores. A recíproca não é verdadeira - mas só por enquanto. Na semana passada, a revista conservadora britânica The Economist publicou sua segunda capa pró-casamento gay. A partir de agora, quem for a favor da austeridade fiscal, do superávit primário, das privatizações e do livre-comércio internacional não pode mais se opor ao casamento homossexual de papel passado. Oficializar o casamento gay é uma questão de justiça social. Não há casamento heterossexual sem algum envolvimento homo. Nem a filha do Mel Gibson conseguiria passar por um dia da noiva sem gays por perto. No elenco de padrinhos, sempre tem um irmão ou um tio solteirão, e pelo menos uma prima que divide o apartamento com uma amiga faz um tempão. Não há por que se chocar com o casamento gay. Você já viu um casal de homens ou de mulheres fazendo a compra do mês no supermercado? Pois então. Não há momento mais íntimo na vida de um casal. Se você compartilhou uma cena dessas e sobreviveu, então está pronto ou pronta para ser padrinho ou madrinha deles ou delas. Não são apenas os gays que tentam tirar vantagens do momento. George W. Bush, que não tem bingos para fechar, aproveitou a polêmica para arrumar um assunto que desviasse a atenção do eleitorado dos problemas da economia. Aqui embaixo, bem que o presidente Lula poderia demonstrar alguma simpatia pelo casamento de hômi com hômi e mulé com mulé. Em primeiro lugar, demonstraria seu não-alinhamento com ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 79 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini George W. De quebra, conseguiria tirar o foco do noticiário do caso Waldomiro, sem desempregar ninguém. A propósito, a legalização do casamento gay poderia fazer maravilhas por esse PIB negativo do ministro Palocci - provocando um boom imobiliário, um aquecimento no mercado de móveis e eletrodomésticos e uma bolha no mercado de viagens de lua-demel. Fica a sugestão para a próxima reunião do Copom: baixa da taxa de juros, com viés de liberação do casamento gay. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 80 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #2 Determinismo tecnológico De acordo com os deterministas tecnológicos, (como Marshall McLuhan, Harold Innis, Neil Postman, Jacques Ellul, Sigfried Giedion, Leslie White, Lynn White Jr. and Alvin Toffler), as tecnologias (particularmente as da comunicação ou mídias) são consideradas como a causa principal das mudanças na sociedade, "e são vistas como a condição fundamental de sustentação do padrão da organização social. Os deterministas tecnológicos interpretam a tecnologia como a base da sociedade no passado, presente e até mesmo no futuro. Novas tecnologias transformam a sociedade em todos os níveis, inclusive institucional, social e individualmente. Os fatores humanos e sociais são vistos como secundários." A controvérsia do estribo Um das grandes teorias do determinismo tecnológico foi elaborada pelo historiado Lynn White Jr. Que em 1962 no livro Tecnologia Medieval e Mudança Social afirmou que a Idade Média não teria sido nada sem o estribo de cavalo. A explicação é a seguinte: antes da Idade Média as guerras eram lutadas por grandes bando de soldados a pé carregando machados e a cavalaria infreqüente pois se utilizavam lanças de pouca precisão. O estribo permitiu, porém, que os guerreiros se firmassem melhor no cavalo e também a lança, podendo atacar melhor o inimigo. A cavalaria entretanto, era mais cara de se manter e os reis passaram a dar terras para os senhores de forma que eles pudessem treinar e manter cavaleiros. Em retorno do uso dessas terras, os senhores feudais deveriam prestar apoio militar, quando fosse necessário, criando assim o sistema feudal. Os críticos desta teoria afirmam que o foco no estribo acaba desviando a atenção de outros fatos, como por exemplo de que os soldados a pé continuaram sendo a base de todos os exércitos, mesmo depois do estribo. O automóvel A influência do carro sobre a vida econômica, social e moral da sociedade foi imensa, segundo o determinista Fink. Econômica: afetando não somente fabricantes e compradores, mas também o emprego e o sistema bancário. O orçamento familiar mudou na medida em que o carro se tornou um bem de primeira ordem e outras necessidades foram relegadas. Surgiram os primeiros sistemas de crédito, para permitir que as famílias comprassem um bem inacessível. Social: o modo como as famílias trabalham, viviam e desfrutavam do lazer foi alterado. O carro permite que o indivíduo escape da pressão de conformidade imposta pela sociedade. Ao invés de viver próximas do trabalho, as famílias podiam mover-se desde os centros populosos e poluídos em direção aos subúrbios tranqüilos de classe médiaalta. O mercado de trabalho cresceu devido à necessidade de trabalhadores especializados, em fábricas de automóveis e construção de estradas. Moral: o carro teria sido o início da quebra das relações familiares e da moralidade. O automóvel passou a ser um lugar onde adolescentes poderiam desviar-se das normas ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 81 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini (basicamente atos sexuais). As relações com os pais desabaram, a socialização da família também com a mobilidade de seus membros. Leitura complementar #3 A educação tecnológica e o sistema logístico da informação na construção do indivíduo tecnológico Carlos Correa, Geny Correa, Glória Maria Monetto, Tereza Fachada L Cardoso Segundo Cardoso, na pré-história o homem aplicava os conhecimentos adquiridos para solucionar os problemas da vida diária. Assim desenvolveu técnicas agrícolas, curtume de peles, a tecelagem, criação da cerâmica, fundição de metais, as alavancas, roda, assim como o cozimento dos alimentos. Quanto à transmissão destes conhecimentos técnicos, nas sociedades pré-históricas e primitivas, dava-se por meio da imitação, no treino prático dos processos que levavam à satisfação das necessidades daquelas comunidades. No IV milênio a.C. apareceram as primeiras civilizações nos grandes vales do Oriente: os sumérios, babilônios, fenícios egípcios e outros, que contribuíram com a criação da escrita, da álgebra, de sistemas de pesos e medidas, de técnicas agrícolas, como o uso do arado, que realizaram obras de grande vulto, como irrigação, drenagem, diques e canais. Desenvolveram também a ourivesaria, vidraçaria, tecelagem e a medicina. Também criaram o calendário lunar com 365 dias. Todos estes conhecimentos foram decorrentes de sólida experiência prática, desenvolvida ao longo de vários milênios. Quanto ao ocidente europeu, Creta possuía um forte desenvolvimento naval, o que possibilitou a expansão desta civilização pelo mar Egeu e as costas da Grécia, onde praticava o comércio. O crescimento das cidades da Antigüidade gerou problemas, como por exemplo o abastecimento de água, solucionado em parte quando foram construídos os primeiros Aquedutos. Nesta época, apareceram as primeiras moedas cunhadas em ouro, com um peso padrão que foi utilizada em transações comerciais. Foi na Grécia, entre os séculos VI e IV a. C. que o homem deu início à prática de responder sua questões metafísicas via pensamento racional. Aparece o conceito de teoria – theoreo- , que significa ver com os olhos do espírito numa atitude de contemplar, examinar longe de qualquer atividade experimental. Mas também criaram o conceito de thecné, para resolver problemas práticos, estando ligado ao conjunto de conhecimentos e habilidades profissionais. Surge a escola de Platão, no bosque de Academus, de onde vem o termo Academia. Nela, Platão ministrava as disciplinas de aritmética, geometria, astronomia e harmonia, que não foram pensadas para fins práticos, mas para ,atingir a disciplina suprema, a filosofia. Ao homem da Idade Média européia, coube manter a tradição grega de valorizar o conhecimento teórico em detrimento da pesquisa empírica, sendo que o trabalho manual continuou desprezado e restrito aos servos da gleba, que foram os grandes responsáveis pelo trabalho técnico, ou seja, aquele que a partir de conjunto de regras definidas e conhecidas realiza um fim pré-estabelecido. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 82 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini As habilidades próprias dos diferentes ofícios continuaram a ser adquiridas por meio da aprendizagem que seguia a fórmula já conhecida: observar e imitar antes da produção autônoma. Ainda devemos ao homem da Idade Média, o desenvolvimento ou aperfeiçoamento da tecelagem, das construções, das navegações, da atrelagem de animais, o que, por exemplo, mudou os métodos de combate. Ainda podemos citar outros exemplos como a invenção da ferradura, do arreio, da biela, da manivela, do leme, o remo, dos arcos e vitrais nas construções, ainda do relógio mecânico, dos moinhos de vento e do canhão. É oportuno destacar que foi durante o Renascimento, que os horizontes do homem se ampliaram, devido a três descobertas que contribuíram para a Revolução Científica: a bússola, possibilitando a navegação em oceanos; a pólvora, permitindo a fabricação de armas; a impressão de livros, difundindo os conhecimentos. Ainda neste período, formularam-se os novos conceitos de ciência e de progresso científico; já abandonando a concepção de ciência como desinteressada contemplação da verdade. É a história da construção de um novo saber progressivo, de caráter público e cooperativo, pertencente a todos os homens e das resistências que este enfrentou até se afirmar na sociedade como um novo paradigma nos séculos XVI e XVII. Entretanto, foi a partir da Revolução Científica, e depois, da Revolução Industrial, que o progresso científico resultou de fundamental importância para a civilização moderna. A ciência moderna tornou possível a transformação da técnica e o surgimento da tecnologia de base científica, ou seja, os conhecimentos científicos foram utilizados para atuar de maneira prática transformando o mundo. Com a Revolução Industrial, surgiram a máquina a vapor, e o aparecimento das primeiras indústrias nos centros urbanos. Em uma segunda fase da Revolução Industrial, surgiram as aplicações da eletricidade, com a implantação das primeiras usinas hidrelétricas e termelétricas. O uso dos derivados do petróleo, que deram origem ao motor a combustão, e conseqüentemente o aparecimento dos primeiros automóveis. O surgimento das indústrias químicas, das novas técnicas de prospecção mineral, dos altofornos, das fundições, usinas siderúrgicas e dos primeiros materiais plásticos. No mesmo impulso foram desenvolvidos novos meios de transporte, como os transatlânticos, carros caminhões, motocicletas, trens expressos e aviões, além de novos meios de comunicação como o telégrafo, com e sem fio, o rádio, os gramofones, a fotografia e o cinema. Na primeira metade do século XX, vieram as guerras mundiais, com recursos tecnológicos que proporcionaram um efeito de destruição em massa jamais visto, nunca tantos morreram tão rápido e atrozmente, devido em grande parte ao uso da tecnologia. Devemos ressaltar como todo esse caminho de criação da técnica, da ciência e da tecnologia, percorrido pela humanidade, demorou milênios de nossa história, porque o contraste com o ritmo observado a partir do século XIX é totalmente inédito na trajetória humana. Desse modo, nos últimos 40 anos presenciou-se um rápido processo de transformações, principalmente devido à Revolução da Microeletrônica. A escala de mudanças, desencadeadas a partir desse momento, são de tal magnitude, que fazem os momentos anteriores da história humana parecerem projeções em câmara lenta. A aceleração das inovações tecnológicas se dá agora numa escala multiplicativa, uma autêntica reação em cadeia, de modo que em curtos intervalos de tempo, o conjunto do ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 83 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini aparato tecnológico vigente passa por saltos qualitativos em que a ampliação, a condensação e a miniaturização de seus potenciais, reconfiguram completamente o universo de possibilidades e expectativas, tornando-se cada vez mais imprevisível. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 84 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 10 Conceito de cultura. Sub-cultura. Contracultura. Símbolos. Aculturação. Etnocentrismo. Introdução à cultura organizacional ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 85 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Cultura Quando falamos do indivíduo, “cultura” significa saber, refinamento. Porém quando falamos na sociedade, cultura é o “conjunto de comportamentos, crenças e valores espirituais e materiais partilhados por seus membros”. Tecnicamente o é aquilo que o ser humano aprende do berço até o túmulo (se morre diferente em diferentes culturas). O conceito é o oposto à Natureza, a qual se entende como o que o ser humano possui geneticamente e o põe em ação instintivamente. Algumas características da cultura: É transmitida pela herança social (e não pela biológica!). Compreende a totalidade das criações humanas, para a satisfação nas necessidades da vida em sociedade. É uma característica exclusiva das sociedades humanas, estando ausente no mundo animal. Compreende tanto os elementos tangíveis (cultura material) como os elementos intangíveis (cultura não material). Subcultura Sub-conjunto de uma cultura que faz parte da uma cultura total de uma sociedade que caracteriza seus segmentos, com suas próprias normas valores e conjunto de comportamentos. Pode-se falar, por exemplo, de subcultura juvenil, para assinalar a maneira de comportar-se, as normas, pautas e valores dos jovens. Formas que são basicamente as mesmas da sociedade em que se encontram, mas que têm características próprias. Contracultura É a negação dos valores e normas aceitos pelo grupo dominante. O mesmo termo nos faz pensar em que pode existir, no seio de uma sociedade, uma cultura predominante, que abrange a maioria da população e culturas minoritárias. Mas nem toda cultura minoritária é uma “contracultura”. Esta última surge de uma oposição frontal em questões básicas de organização e funcionamento societário, geralmente quando ocorre um conflito entre as subculturas e a sociedade de forma mais geral. Toda sociedade possui a contra-cultura que mercê, pois elas não somente contradizem, mas também expressam a situação da qual emergem...as contraculturas emprestam da cultura dominante na mesma forma em que a opõe. Yinger ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 86 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Exemplo: nos ano 60-70 vários movimentos que questionavam a sociedade industrializada e tecnológica, propondo uma visão mais humanística e mística: hippies, hare krishna, rock punk... Contrasociedade O grupo que se constitui além da sociedade dominante e que pretende mudá-la. Um bom exemplo poderia ser o Partido Comunista (quando existiam... realmente). Outro exemplo (que mencionam alguns autores) são as sociedades de fundamentalistas religiosos nos países islâmicos. Mas em toda sociedade suficientemente grande e complexa se encontram casos de contrasociedades com suas contraculturas. Etnocentrismo Tendência a considerar a sua cultura superior a cultura de outros grupos, sociedades ou nacionalidades. Muitos grupos tendem a considerar-se o umbigo do mundo. A sociologia tende, por seu esforço de distanciamento científico, a atacar esta idéia, e a colocar, em princípio, todas as culturas em um mesmo nível valorativo (já que todas são bem-sucedidas em assegurar a sobrevivência de sua comunidade). Isto assegura ao sociólogo rigoroso um papel especialmente antipático; o de pôr em duvida coisas “boas’ que todo mundo aceita como justas e necessárias. Aculturação Quando um indivíduo ou um grupo adquire as características culturais de outro por interação. Processo de socialização em outra cultura. Introdução à cultura organizacional As organizações, como pequenas sociedades, também possuem sua própria cultura, a chamada cultura organizacional. Esta é um critério de diferenciação entre diferentes organizações, pois a cultura organizacional seria uma marca característica de cada uma. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 87 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Exemplos Assim, a cultura do homem duro e macho, própria de um mundo de indivíduos que assumem altos riscos e obtêm rapidamente a retroinformação sobre seu êxito ou fracasso, atuando em conseqüência, aparece fundamentalmente na construção, a indústria de cosméticos, a publicidade, o mundo editorial, as empresas de lazer, etc. A cultura do “trabalhe muito, jogue muito”, na qual se inspira aos empregados a manter um alto grau de atividade mas sempre com riscos relativamente baixos, seria própria da distribuição e venda de automóveis, e em geral das vendas a domicílio ou de produtos massivos de consumo, vendas de equipes de escritório, etc. A cultura “aposte na companhia”, na qual as empresas acostumam a colocar muito em jogo em suas decisões, sem saber a curto prazo os resultados, quer dizer em um ambiente de alto risco e retroinformação lenta; encontramos-a em empresas dedicadas aos bens de produção; em companhias de mineração, petroleiras e de energia, bancos investidores, construção aeronáutica, naval e espacial, etc. O fenômeno da subcultura também existe, como resultado das ramificações existentes e da especialização das atividades. Tabmbém cabe lembrar que a cultura geral da sociedade influencia a cultura específica da organização. Cabe destacar o conflito entre cultura ideal (aqueles valores e mensagens que a organização promove ou afirma ter) e cultura real (aqueles valores que realmente possui, que são internos e somente observadores atentos podem detectar). O conflito entre cultura ideal e cultura real se dá através de padrões ostensivos (comportamentos contraditórios), como por exemplo, a admissão através de indicação (pistolão) ao invés do “rígido processo de seleção de pessoal”, a permissão da cola (fila) em avaliações no ambiente universitário, apesar da “honestidade acadêmica”. Isso se deve a que a cultura real obedece a um padrão oculto, valores que são transmitidos quase clandestinamente e informalmente ao novo membro da organização, seja por meio de conversas ou por ostracismo (“gelo”) aos que não obedecem. O padrão oculto é, portanto, encoberto, e para que um pesquisador externo possa descobri-los é necessário: Analisar as pessoas típicas (personagens folclóricos), que permaneceram muito tempo na organização e por isso interiorizaram a cultural real. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 88 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Detectar as histórias que são contadas habitualmente e que mostram a a exceção, não a regra. A cultura material (edifícios, equipamentos, máquinas) também mostram a cultura real. Por exemplo, portas de salas e divisórias vedam ou permite acesso a determinadas áreas. Variáveis da cultura organizacional Para aplicar o conceito de cultura às organizações é necessário torná-lo mais explícito a fim de colocá-lo em prática. Dividimos a cultura organizacional em três variáveis: 1) Tecnologia Resultados (bens ou serviços prestados) Processos utilizados (manuais, mecânicos, automatizados) Insumos necessários (máquinas, mão de obra, conhecimentos) 2) Preceitos Normas de procedimento Posições ocupadas pelos participantes e grupos (sistema de status) Valores compartilhados 3) Sentimentos São emoções decorrentes de execução de tarefas (obediência) e dos relacionamentos sociais Podem ser de satisfação, alienação, inveja, raiva, simpatia, desprezo, etc... Quais componentes devemos examinar na cultura organizacional? 1) intensidade: por exemplo prisões e campos de concentração possuem uma intensidade muito grande da variável preceitos (obediência, repressão das emoções), o que não ocorre por exemplo em uma cooperativa onde a variável tecnologia (produção) é mais importante. 2) conteúdo: tanto no seminário quanto no quartel as normas são rígidas, mas não são organizações com culturas próximas, pois o conteúdo da variável preceitos é diferente em cada caso. Alguns elementos da variável preceitos na cultura de uma empresa: A inovação e a assunção de riscos O grau de atenção aos detalhes A orientação para os resultados A orientação para as pessoas A orientação para a equipe A agressividade ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 89 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini A estabilidade Gestão da imagem A organização manifesta sua existência não só mediante a adição à sociedade de certos produtos ou serviços, mas também mediante símbolos, às vezes mas não sempre incorporados a sua produção. Assim a organização é uma representação de valores socialmente compartilhados e sancionados. Cada organização busca propagar uma imagem positiva de si mesmo (seja de forma espontânea, fundamentalmente através das relações com os clientes ou de forma planejada). No caso de planejamento, as etapas são: Afirmação da identidade, que deve dar-se a nível interno e entre todos os membros da empresa. Construção da imagem global, inclui uma série de componentes: a imagem institucional (que é propriamente a imagem pública, compartilhada por um conjunto de públicos), a imagem de marca (no sentido comercial, isto é a imagem que gera o marketing), a imagem funcional (referida às relações com o público no serviço, informação, agilidade na relação), e finalmente a imagem emocional (que se refere às atitudes que a empresa suscita entre a população de seu entorno, ou entre alguns grupos sociais que podem incidir na opinião pública). Comunicação da imagem, o que implica o projeto da identidade corporativa (do papel timbrado às embalagens) ao estilo arquitetônico dos edifícios, passando por todo tipo de comunicações da empresa para o exterior (memórias anuais, catálogos...), e logicamente, a publicidade. Gestão da cultura empresarial junto aos trabalhadores Tem como objetivo o projeto das relações empresa-indivíduo aceitáveis, através das técnicas de motivação, de satisfação e de implicação dos trabalhadores. Identificamos quatro tipos de trabalhadores, como resultado da combinação da adesão aos valores da empresa, e das oportunidades que esta oferece aos trabalhadores: Missionário (geralmente jovem, fortemente aderido aos valores da empresa, e pouco preocupado pelas oportunidades que esta lhe oferece); Mercenário (que base sua motivação exclusivamente nas oportunidades que a empresa lhe oferece em troca, e que estará sempre disposto a deixá-la ante uma melhor oferta). ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 90 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Demissionário (é um tipo que “passa” da adesão, mas em parte porque está já desiludido sobre as oportunidades que a empresa oferece). Comprometido (que não só aceita plenamente o sistema de valores, mas além disso sente plenamente realizadas suas aspirações na empresa). ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 91 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura rápida #1 Cultura organizacional: o diferencial estratégico da área de recursos humanos (trecho) Luciana Helena Crnkovic Valores: os valores são construídos principalmente, pela cúpula e estão amarrados aos objetivos organizacionais, são o coração da cultura, e dizem o que é importante para se atingir o sucesso. No desenho da organização os valores indicam as questões que são prioritárias para a organização, determinam também os níveis hierárquicos e as relações entre seus membros além de exercer um importante papel em comunicar ao mundo exterior o que se pode esperar da companhia. Valores compartilhados estão relacionados com os sentimentos de sucesso pessoal, com o comprometimento organizacional, com a autoconfiança no entendimento pessoal e de valores organizacionais, com o comportamento ético e com os objetivos organizacionais. Crenças e pressupostos: geralmente esses termos são utilizados para expressar o que é tido como verdade na organização, os pressupostos tendem a tornar-se inconscientes e inquestionáveis. Trata-se de “como nós interpretamos as coisas”, nesse sentido a cultura é vista como uma rede de significados. A cultura se refere a padrões internamente consistente de afirmações, restrições e permissões que guiam as pessoas a se comportarem caminhos permitidos e possibilitam-nas de julgarem outras e justificaremse para outras. Ritos, rituais e cerimônias: são atividades planejadas que têm conseqüências práticas e expressivas, tornando a cultura mais tangível e coesa. Os ritos e cerimônias tornam expressiva a cultura à medida que comunicam comportamentos e procedimentos, e exercem influência visível e penetrante, pois promovem a integração dos membros da organização . Estórias e mitos: As estórias narram os eventos ocorridos, reforçam o comportamento existente e enfatizam como esse comportamento se ajusta ao ambiente organizacional. Os mitos se referem a estórias consistentes com os valores da organização, porém, não sustentadas em fatos. O mito é a relação de identificação ideologicamente construída, de indivíduos e grupos sociais com significantes do imaginário coletivo. É uma narrativa imaginária que estrutura e organiza de forma criativa as crenças culturais. Normalmente, o mito narra sobre a origem da organização. Tabus: demarcam as proibições, orienta o comportamento enfatizando o que não é permitido. Segundo Freitas (1991), “uma constatação curiosa é a quase total ausência de menção aos tabus organizacionais”. Heróis: personagens que incorporam os valores e condensam a força na organização. Os heróis tornam o sucesso atingível e humano, representam a organização para o ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 92 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini mundo exterior, preservam o que a organização tem de especial, estabelecem padrões de desempenho e motivam seus funcionários, fornecendo influência duradoura. Normas: as normas são regras que defendem o comportamento que é esperado, aceito ou sancionado pelo grupo.O conceito de normas pode ser compreendido por indivíduos de diferentes níveis hierárquicos e educacionais dentro da organização, isso facilita a sua aplicação de forma bem sucedida, além de facilitar as mudanças culturais que se embasam no sistema normativo da organização. Processo de comunicação: os processos de comunicação incluem uma rede de relações e papéis informais, que podem transformar o corriqueiro em brilhante. A linguagem é um sistema de signos ou sinais usados para indicar coisas, para a comunicação entre as pessoas e para a expressão de idéias, valores e sentimentos. Assim,a linguagem é um sistema de sinais com funções indicativas, comunicativas, expressivas, conotativas.Através dos processos de comunicação, o homem cria um mundo estável de idéias independentes da presença física das coisas, possibilitando instaurar a temporalidade permitindo lembrar o que já foi e projetar o que será, pela linguagem o ser humano deixa de reagir somente ao presente imediato, podendo pensar o passado e o futuro e com isso construir o seu projeto de vida. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 93 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 11 Grupos sociais. Grupos primários e secundários. Grupo de fora e grupo de dentro. Grupos formais e informais Jamais aceitaria pertencer a um clube que admitisse como membro alguém como eu Groucho Marx ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 94 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Grupos sociais e organizações O ser humano é um ser social, um ser grupal, onde adquire sua personalidade e sua identidade individual. Grupo Qualquer número de pessoas que partilham de uma consciência de interação e de filiação. Reunidas, as pessoas atingem mais facilmente seus objetivos pessoais mas por outro lado, é exigido algum tipo de retribuição (troca de benefícios). Todo grupo, sobretudo se é estável (se dura bastante tempo), tende a desenvolver rotinas de interação, lugares onde se reúne, temas de conversa e estilos, enfim, de resolver seus conflitos. Todo grupo desenvolve uma "cultura" de grupo, que é uma “subcultura” da cultura dominante da sociedade. Características Condutas semelhantes Objetivos comuns Normas, símbolos e valores partilhados Grupo é diferente de agregação, de coletividade (os indivíduos destas não interagem e não possuem sentido de unidade) Também é diferente de categoria (conjunto de pessoas que compartilham características comuns, mas que não interagem, por exemplo, todas pessoas de uma mesma faixa etária, mesma ocupação, mesma etnia) Todo grupo tem um líder e membros muito próximos a ele. Possui também, obviamente membros marginais. Estes não se podem ser evitados mas tampouco devem ser valorados negativamente. Os membros marginais, sempre que sejam considerados membros, contribuem com algo ao grupo; algo sutil mas real, contribuem com “número”. E o número é importante, porque de algum jeito leva um pouco de qualidade ao grupo. Grupos primários Contatos pessoais, íntimos, próximos, "cara a cara" Tamanho reduzido Atividades e interesses comuns São de formação espontânea Fusão da individualidade: "nós" Orientados em função do próprio relacionamento interno ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 95 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Por quê primários? 1) fundamentais para a formação da natureza social e dos ideais do indivíduo (socialização); 2) cronologicamente são os primeiros com os quais os indivíduos têm contato (a família, os amigos). Nos grupos primários o controle social é mais eficiente devido à: Visibilidade de seus membros Controle direto Auto-proteção Grupos secundários Contatos sociais, impessoais, limitados Seus membros são substituíveis Controle social formal Orientados em função a objetivos Grupos pessoais (grupos de dentro) Pessoas sentem que pertencem ao grupo o "meu/minha", "nosso/nossa" Espera-se reconhecimento, lealdade e auxílio Em 1927 Thrasher escreve “The Gang” onde estuda os bandos de jovens existentes nas cidades, “peer groups”, utilizando a técnica da observação participante. Thrasher vai caracterizar os gangs como pessoas que tentam integrar-se nos “grupos de pares” no inicio da puberdade; são compostos por indivíduos entre os 11 e os 25 anos; grupos não têm mais do que 10 a 30 elementos para que o líder consiga controlar o grupo todo; são grupos limitados na sua locomoção, funcionando nos limites do seu próprio bairro; cada grupo tem linguagem peculiar, formas de vestir diferenciadas; praticavam diferentes atividades ( delinqüentes: nocivos mas que não punham em risco a integridade física dos outros; violentos: não têm percepção da dor dos outros ). Grupos externos (de fora) grupos aos quais não pertencemos ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 96 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini o Os "outros", "estranhos", "indesejáveis" relações de hostilidade, concorrência ou indiferença Estereótipos: imagem geral e distorcida que um grupo possui de outro ciganos = ladrões políticos = corruptos argentinos = Geralmente os estereótipos estão ligados a uma concepção de etnocentrismo, quer dizer, vinculada à superioridade cultural de uma nacionalidade ou de um grupo. Os grupos possuem uma tendência natural de se aproximarem ao seu estereótipo, algumas vezes este molda seu comportamento / interação inicial com o estereótipo e não com a pessoa, levando a profecias auto-cumpridas. Já o rebaixamento do estereótipo a um nível inferior leva à: discriminação: "Tratamento desigual de pessoas com capacidade de iguais, pela limitação de oportunidades, pagamentos, etc, em razão da diversidade de religiões, de etnia, sexo, e por extensão de profissões de, classe social e até defeitos físicos" Grupos de referência São grupos que o indivíduo aceita como modelo e guia de seu próprio comportamento e de suas ações. Estabelecem um padrão para a avaliação de seu próprio comportamento. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 97 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Comunidade Modelo de organização social com um sentimento de identidade bem definido. 1) localização geográfica particular: olindenses 2) tipo particular de relação social: evangélicos, corintianos 3) sistema social em pequena escala: comunidade rural Introdução às organizações formais As organizações são o componente predominante da sociedade: trabalhamos, estudamos, morremos nelas. Por isso, vivemos em uma "sociedade de organizações". As organizações são: Um instrumento para conseguir realizar determinados objetivos que o indivíduo somente não seria capaz; Especializadas, definidas por suas tarefas. O objetivo de uma organização é a característica que serve para diferenciar uma organização de outra; Constituídas por limites identificáveis: fronteiras físicas e simbólicas Um sistema social bem estruturado, com status, papéis sociais, normas, valores, e em seu conjunto, uma cultura organizacional. A importância de estudar as organizações Capacidade de viver e, principalmente, trabalhar nelas Capacidade de reação frente a um mundo complexo, onde a globalização, a competição comercial, etc. exigem novas formas de organização para que os objetivos sejam cumpridos de uma melhor forma ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 98 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 12 Redes sociais e a teoria do mundo pequeno. Sociograma ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 99 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura preliminar Os seis graus de separação nas redes sociais Uma análise sobre o conceito de "Mundos Pequenos" e as relações interpersonales Marcelo Sabbatini, dezembro de 2003 Quantas vezes o leitor iniciou uma conversa com um perfeito desconhecido, somente para descobrir que o cunhado do primo de seu contador é amigo íntimo da prima dessa pessoa? É possível que iniciando uma conversa com o Papa, por exemplo, também o leitor descobrisse amigos quase comuns? Embora esta idéia possa parecer corriqueira por um lado, e fantástica por outra, relaciona-se com o conceito das redes de “mundos pequenos” e dos “seis graus de separação”, objetos de pesquisa científica muito séria, na atualidade. O conceito do “problema dos mundos pequenos” aparece pela primeira vez em um artigo científico titulado “The Small World Problem” publicado na revista Psychology Today em maio de 1967, pelo psicólogo Stanley Milgram. O experimento consistiu em escolher de forma aleatória pares de pessoas, designando à primeira como a “fonte” e a outra como o “alvo”. A pessoa fonte deveria enviar uma mensagem à pessoa alvo, tendo para isto que enviar uma carta a qualquer pessoa que julgasse pudesse conhecer a outra. A carta também instruía seu receptor a realizar o mesmo procedimento, processo que se deveria repetir até que chegasse à fonte. Os resultados revelaram que o número de vínculos intermediários entre uma pessoa e outra se situava entre 2 e 10, com uma média de seis. Também é interessante que Milgram foi o responsável pelo famoso, e não menos controvertido, experimento sobre a “Obediência à autoridade”, revelando que a maioria das pessoas pode demonstrar um comportamento cruel, se acreditam desempenharem um determinado papel, conforme com a expectativa de uma autoridade ou de um grupo de pressão. Na atualidade, esta idéia teve um grande impacto sobre a cultura, sobretudo a partir da peça de teatro “Seis graus de separação” (1990) de John Guare, levada posteriormente ao cinema com o filme homônimo protagonizado pelo Donald Shuterland e Will Smith, em 1993. Embora no argumento não trate diretamente a idéia, sim recupera a noção de que todas as pessoas no planeta se encontram separadas apenas por outras seis. A idéia tem sua força e seu encanto. Mais ou menos na mesma época três estudantes universitários inventam “Os seis graus do Kevin Bacon”, apoiado neste conceito. O objetivo é encontrar uma ligação, quer dizer aparecer em um mesmo filme, entre qualquer outro ator e o ator norte-americano Kevin Bacon, no menor número de passos possíveis. Este número de passos se define como o ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 100 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini número do Bacon. Logicamente, ele mesmo tem um número do Bacon igual a zero, enquanto que outros se situam entre 2 e 3. Um dos desafios do jogo consiste em procurar números altos, quer dizer, entre 7 e 8, que são bastante raros. Mais raro ainda é um número infinito, por exemplo de um tal Fred Ott, que apareceu em apenas três filmes, em todos eles sozinho, de maneira que é impossível estabelecer um vínculo. Se o leitor tiver curiosidade de prová-lo, “O oráculo do Bacon” (http://www.cs.virginia.edu/oracle/) é uma simulação interativa realizada por dois estudantes de ciências da computação que utiliza a base de dados de filmes Internet Movie Database como fonte de dados. Segundo o “oráculo”, o número médio de Bacon no universo investigado é 2,943. Também curiosamente, Kevin não é o melhor “centro do universo”, pois há outros atores que têm uma média mais baixo, em outras palavras, são muito mais “interconectados”, por exemplo Rod Steiger, do filme “Tubarão”, que ocupa a primeira posição. O problema dos mundos pequenos se pode aplicar a qualquer grupo social. A comunidade científica que funciona basicamente devido a sua estrutura comunitária, com a natureza acumulativa da construção do conhecimento – as novas descobertas são feitas em função do trabalho realizado previamente por outros cientistas, que colocaram a base para que estes possam suceder- é um campo ideal para esta análise. O mesmo conceito do jogo do Bacon está sendo utilizado na ciência através do número do Erdos, baseado no eminente matemático húngaro dedicado ao estudo das redes de mesmo nome. Aqui, trata-se de identificar a quantos passos de co-autoria um determinado cientista se encontra do Erdos. As pessoas que co-escreveram um artigo científico com este matemático possuem um número igual a zero; aqueles que co-escreveram um artigo com alguém que co-escreveu um artigo com o Erdos possuem um número igual a um, e assim sucessivamente. Um estudo recente, de Mark Newman, do Santa Fé Institute no Novo México, situou os números de Erdos entre quatro e nove segundo a área científica, com uma média de justamente, seis! Na prática, isto se traduz em uma disseminação de idéias e atitudes mais eficaz dentro da comunidade científica. Mas como tudo no mundo é inovação, a moda agora é encontrar uma combinação entre os dois números, o chamado número Erdos-Bacon, definido como a soma dos anteriores e que se origina de uma curiosa mistura de ciência e cultura. O ponto de partida foi a aparição de vários filmes que tratam o mundo da matemática, de forma que neles aparecem pessoas que escreveram artigos científicos e participam do mundo do cinema. Erdos tem um número de ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 101 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Bacon igual a 4, entrando na comunidade dos atores por ter protagonizado um documentário sobre a pesquisa matemática. Mas os recordistas são os também matemáticos Brian Greene e Dave Bayer que atuaram em “Frequency” e “Uma mente maravilhosa”, respectivamente, somando um número combinado de 5. Possivelmente agora os atores comecem ao co-escrever artigos científicos, com o objetivo de baixar seus números Erdos-Bacon… Alguns especialistas que estudaram o fenômeno dos mundos pequenos afirmam que o fenômeno se produz devido à existência de indivíduos na sociedade altamente conectados, que estabelecem os vínculos entre as pessoas “mais comuns”. Por outro lado, se calculamos matematicamente, o fenômeno dos seis graus de separação é ainda mais radical; pode-se estimar que com apenas cinqüenta conhecidos uma pessoa pode estar conectada a 15 trilhões de pessoas mais. Outros estudos de redes sociais encontram resultados muito similares. Por exemplo, Pablo Gleiser e Leon Danon da Universidade de Barcelona verificaram que entre 1912 e 1940 a comunidade do jazz era extremamente interconectada, possivelmente mais ainda que outras redes. Por outro lado, parece que também os golfinhos se organizam segundo mundos pequenos, conclui David Lousseau da Universidade do Aberdeen. Mas ao contrário das comunidades profissionais, na Natureza são poucos os indivíduos “centros do universo”, intensamente conectados. Isto se explica devido a que, se um golfinho “conectado” morre, a comunidade ainda permaneceria unida. A coincidência de todos estes estudos, por outro lado, pode-nos levar a pensar que existe uma tendência estrutural na forma como crescem as organizações em rede, até chegar à configuração de “mundo pequeno”. Mas, finalmente qual é a utilidade de todas estas teorias? A teoria dos mundos pequenos foi aplicada na ciência e na tecnologia para o projeto de redes telefônicas, passando pela interconexão entre células cerebrais e inclusive nos estudos de transmissão de doenças venéreas. Em seu aspecto social, também se pode utilizar para a compreensão de como as notícias, os boatos e inclusive a opinião política se disseminam através da sociedade. Em outras palavras, os estudos dos mundos pequenos se vinculam a todos aqueles processos de transmissão do que se poderia definir amplamente como “informação” através de uma rede. Mas além de seu valor científico, possivelmente tenham um valor moral e ético, de nos fazer refletir a respeito de quão perto estamos da outras pessoas, neste pequeno mundo no qual vivemos. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 102 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini 13 Institucionalização. Instituições sociais básicas. Introdução às organizações formais. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 103 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Instituições sociais Uma instituição é sistema complexo e organizado das relações sociais que incorpora valores, costumes, crenças, práticas e procedimentos comuns, relativamente permanente, com relações padronizadas, rotineiras e previsíveis para cumprir certas necessidades básicas sistema organizado = permanente de relações = estrutura interna (material e não material) valores = códigos de conduta, refletem os valores da sociedade mais geral necessidades básicas = finalidade/função, meta ou propósito do grupo, com regulação das necessidades São entes abstratos, não podem ser vistos ou tocados, mas existem como fato social. As instituições incorporam valores fundamentais da sociedade e seus ideais também são aceitos por esta. Por isso, são (relativamente) duradouras. Uma instituição pode ser definida como uma organização de normas e costumes para a obtenção de alguma meta ou atividade que as pessoas julgarem importantes. Para que haja continuidade e previsão nas relações sociais, deve haver uma certa rotina nos procedimentos e meios aceitos de se lidar com os problemas que surgem. Cada nova geração não precisa inventar seus próprios métodos e crenças para lidar com tais problemas; as gerações anteriores já criaram instituições. Dias As instituições sociais básicas podem ser encontradas em praticamente em qualquer sociedade: 1. Família 2. Religião 3. Educação 4. Instituições econômicas e de trabalho 5. Instituições políticas Exemplo: na família temos como Valores: amor, respeito aos mais velhos Procedimentos: namoro, acomodar os pais já idosos em casa Papéis/status: marido/mulher, avô A institucionalização é o processo pelo qual as atividades da instituição vão adquirindo padrões e rotinas, passando a ser esperadas e aprovadas, com o intuito de cumprirem um determinado objetivo normas papéis sociais status ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 104 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini comportamento espontâneo comportamento previsível É um processo gradativo, que surge diante das necessidades de regulação e controle das interações sociais. As instituições sociais utilizam símbolos que identificam uma instituição e nos lembram de sua existência. Exemplos: bandeira, crucifixo, hino, aliança, logotipo, prédios de empresas, sobrenome. Em relação às funções de uma instituição, estas podem ser: Manifestas: mostram-se claramente, são aceitas pela sociedade. Latentes: menos evidentes, inclusive podem não ser aprovadas. Exemplo: na educação a função manifesta é a transmissão cultural dos valores da sociedade, mas uma função latente é promover e intensificar o contato social, elevando a sociabilidade e a tolerância. De forma geral, as instituições: Contribuem para a socialização, apresentam modelos de comportamento adequados e apropriados a diversas situações. Exemplo: na escola aprendemos como nos relacionar adequadamente com as autoridades (professor, diretor). Proporcionam estabilidade e consistência a seus membros e um reconhecimento perante a sociedade devido à existência desse comportamento previsível. Exemplo: na igreja o indivíduo aprende valores como fidelidade, honestidade, caridade que lhe darão maior estabilidade na vida cotidiana. Regulam e controlam o comportamento do indivíduo, através dos papéis, pressão e controle social e das expectativas aceitas pela sociedade. Exemplo: o marido não pode ter outra mulher, sob o risco de sofrer sanções sociais (recriminação) e de desfazer a família. Funções da família Regulamentação do comportamento sexual Reposição dos membros da sociedade, através da reprodução Cuidado e proteção aos jovens, doentes e velhos Socialização das crianças Segurança econômica proporcionada pela família enquanto unidade básica de produção e do consumo, na economia. Funções das educação: ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 105 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Prover a preparação para os papéis profissionais Servir de veículo para a transmissão cultural Familiarizar os indivíduos com os papéis sociais Promover mudança social através do desenvolvimento e da pesquisa Estimular a adaptação pessoal e melhorar os relacionamentos sociais Funções da religião Auxílio na busca de identidade moral Proporcionar explicações para interpretar o ambiente físico e social Promoção da sociabilidade, coesão social e solidariedade grupal Funções das instituições econômicas Produção, distribuição e consumo de bens e serviços Distribuição de recursos econômicos (mão de obra e capitais) Funções das instituições políticas Institucionalização das normas através das leis aprovadas pelo Legislativo Execução das leis aprovadas Solução de conflitos entre os membros da sociedade Estabelecimento de serviços básicos para a ordem social Proteção dos cidadãos contra ataques externos e situações de emergência pública ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 106 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini Leitura breve #1 O gerenciamento de empresas é semelhante à administração familiar L.M. Sixel (Houston Chronicle 11/06/2002 em Houston, Texas) Você possui companheiros de trabalho que sentem ciúmes uns dos outros? E quanto a um patrão que favorece determinados funcionários? Ou talvez funcionários que jogam com os chefes para conseguir o que querem?Talvez você ache que tais comportamentos se constituem em algum tipo de desajuste profissional. Mas, na verdade, tem tudo a ver com comportamentos básicos aprendidos em casa, quando aprendemos a lidar com nossos pais e irmãos. E, de acordo com um dos autores do livro "Parenting the Office" (algo como, "Exercendo a Paternidade no Escritório"), os patrões que administram bem a relação com os seus filhos são capazes também de gerenciar bem os seus empregados. Companheiros de trabalho ciumentos? Pense em rivalidade entre irmãos. Gerentes que são aprisionados pelos jogos de vontade dos funcionários? Trata-se apenas de uma versão mais sofisticada de aprender a exigir do pai que atenda a uma exigência. Quando você tentar resolver conflitos no trabalho, pense em como lida com os mesmos conflitos em casa, sugere Douglas Davidoff, que escreveu o livro com o seu irmão, Donald, e com os pais, Doris e Philip. Colegas de trabalho que reclamam demais? Faça como você lida com crianças que gritam, "Mãe, porque Benjamin recebeu a maça mais vermelha?", ou, "Você gosta mais de Charlotte porque ela ganhou o azul. Você sabe que eu gosto de azul"? Você já se sentou e tentou pensar nestas questões a partir do ponto de vista alheio? Ou talvez ter uma conversa com essas pessoas para saber como elas se sentem? Se já o fez, provavelmente é um bom pai. E um grande gerente. Segundo Davidoff, a rivalidade não é algo de ruim. Os gerentes podem vê-la como comportamento infantil, mas trata-se de comportamento humano. E o segredo é a forma de lidar com tal fenômeno. Davidoff se recorda de uma época em que reposicionava uma mesa de trabalho em uma firma onde controlava o desenvolvimento dos negócios. Ele estava insatisfeito com a performance de um funcionário e queria mantê-lo sob vigilância. Mas, de repente, ele percebeu que um outro funcionário ficou aborrecido com o novo posicionamento da mesa do companheiro de trabalho. O funcionário achou que a movimentação da mesa do colega representava um favorecimento deste último. Ele achava que o fato de a mesa ter sido movida para mais perto do chefe representava uma recompensa, diz Davidoff. Tudo se resume a apreciar a situação sob o ponto de vista das outras pessoas. Ou digamos que você tenha um funcionário estafado - alguém que é um excelente profissional, mas trabalhou demais. Ele está chateado, anda altamente cínico e perdeu grande parcela da paixão pelo trabalho. Isso não soa bastante como revolta de adolescente? ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 107 Apostila de Sociologia Marcelo Sabbatini De acordo com Davidoff, lidar com um funcionário estafado e com um adolescente são tarefas bastante semelhantes. Descubra o que o está chateando, sugere o autor. Veja a situação a partir da sua perspectiva. Procure oportunidades para lhe dar mais responsabilidade. Por exemplo, peça ao funcionário que não tem dado muito sinal de participar da equipe para liderar a próxima reunião do grupo de trabalho. Mencione que os colegas estão realmente impressionados com o seu conhecimento e que o respeitam bastante. Ao preparar-se para a reunião e administra-la ele terá que apresentar uma performance melhor, diz Davidoff. E o funcionário perceberá as recompensas que receberá por agir de tal forma. Kirk Blackard, um nativo de Houston que é diretor de recursos humanos aposentado da Shell Oil Company escreveu um novo livro, "Capitalizing on Conflict: Strategies and Practices for Turning Conflict to Synergy in Organizations" (Capitalizando os Conflitos: Estratégias e Prática para Transformar Conflito em Sinergia nas Organizações). Blackard acredita que a maior parte dos conflitos organizacionais é causada por problemas de gerenciamento. Segundo Blackard, muitas vezes os chefes não demonstram respeito suficiente para com os seus funcionários; ouvem pouco os empregados; não envolvem os funcionários nas decisões no grau que deveriam faze-lo; e não reconhecem que os funcionários sabem mais do que a gerência. Os indivíduos formam sindicatos devido ao mau gerenciamento, diz Blackward, que também escreveu "Managing Change in a Unionized Workplace: Countervailing Collaboration" ("Gerenciando a Mudança em um Ambiente de Trabalho Sindicalizado: A Colaboração que Contrabalança"). Não são as condições de trabalho ou os salários, mas muitas vezes um mau supervisor que é a causa dos problemas. E as políticas aplicadas no ambiente de trabalho muitas vezes não são o problema, diz ele. É a forma como elas são escritas e a maneira como são administradas que causam problemas. ©2005-2013 Marcelo Sabbatini ([email protected]) 108