Cânceres da Pele

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Seção XIII > Problemas de Pele
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CAPÍTULO 174
Cânceres da Pele
Lucio Bakos
Renato Marchiori Bakos
A complexidade da composição celular da pele permite
que uma variada gama de neoplasias, tanto benignas quanto
malignas, possa nela ocorrer. Três tipos de cânceres da pele
são mais importantes, dois derivados de células epiteliais (carcinomas) e um oriundo dos melanócitos (melanoma). Os carcinomas, também conhecidos como “câncer da pele não melanoma”, são as neoplasias mais frequentes na espécie humana.
CARCINOMA BASOCELULAR
O carcinoma basocelular, ou basalioma, é um câncer
proveniente das células não queratinizantes que dão origem à
camada basal da epiderme e dos folículos pilosos. Raramente
metastatizante, é a mais frequente neoplasia maligna do ser
humano, sendo responsável por quase 80% dos carcinomas.
Embora mais comum em idosos, apresenta uma recente frequência crescente em pessoas com menos de 50 anos, sobretudo em mulheres.
Está relacionado, na maioria das vezes, com radiação
ultravioleta, em particular ao espectro UVB (290 a 320
nm). Entretanto, não simplesmente por acúmulo da radiação durante toda a vida, mas sobremaneira somado a episódios de exposição intensa e intermitente, resultantes em
queimadura.1
Avaliação clínica
Qualquer presença de lesão friável, que não cicatriza ou que
sangra com frequência, deve levantar suspeita de câncer da
pele. O carcinoma basocelular se desenvolve mais em áreas
de pele cronicamente expostas à luz solar, como a face e o
pescoço, mas pode se apresentar em qualquer outra parte
do tegumento. Suas características são de uma lesão tumoral, muitas vezes ulcerada, formada por um tecido translúcido, de aspecto céreo, com telangiectasias e, classicamente,
com bordas arredondadas, roliças e peroladas.
Essas características podem variar em intensidade e frequência, de acordo com os subtipos clínicos que a neoplasia
pode apresentar, incluindo nodular, superficial, esclerodermiforme, pigmentado e o raro fibroepitelioma de Pinkus.
O nodular FIGURA 174.1 é o subtipo mais comum, sobretudo na face e no pescoço, áreas de pele cronicamente foto-
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Medicina Ambulatorial
O esclerodermiforme é uma forma mais agressiva dessa
neoplasia, clinicamente caracterizado por uma placa endurecida, cor de marfim, infiltrada, que se assemelha a uma cicatriz ou à esclerodermia em placas, de onde se origina a nomenclatura. A presença de uma placa esclerótica, de aspecto
cicatricial, localizada sobremaneira na face ou em outra área
fotoexposta, na ausência de história de trauma ou cirurgia
prévia, deve levantar a suspeita de carcinoma basocelular esclerodermiforme, merecendo avaliação histológica antes de
qualquer medida terapêutica.
FIGURA 174.1 > Carcinoma basocelular nodular infraorbitário.
Fonte: Imagem gentilmente cedida por Dr. Luiz Fernando Bopp Muller.
expostas, e é nele que se encontram com mais frequência a
borda roliça, formada por tecido tumoral translúcido, e as telangiectasias. Em lesões maiores, observa-se ulceração central, por vezes destrutiva, de caráter terebrante (antigamente
chamada de ulcus rodens). O diagnóstico diferencial se faz
com nevos dérmicos traumatizados, dermatofibroma, tumores anexiais, ceratose seborreica e melanomas acromáticos.
O superficial é mais encontrado no tronco, mormente
em colo, dorso e ombros, caracterizando-se por placa crônica bem delimitada, rósea, semelhante a eczema, com bordas discretamente translúcidas à diascopia. Não raro pode
ser múltiplo, em peles sensíveis com história de excessos
solares. O diagnóstico diferencial inclui eczemas discoides,
psoríase, melanoma de expansão superficial e carcinomas intraepiteliais (doenças de Bowen e Paget).
O pigmentado FIGURA 174.2, além das características inerentes ao nodular, pode apresentar focos, de intensidade variável,
de pigmento melânico. É necessário e importante se fazer o
diagnóstico diferencial com os melanomas, tipo lentigo maligno e nodulares, os nevos melanocíticos e os dermatofibromas.
FIGURA 174.2 > Carcinoma basocelular superficial pigmentado do dorso.
Fonte: Foto do Serviço de Dermatologia do HCPA.
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O raro fibroepitelioma de Pinkus costuma ser diagnosticado pela histologia, pois na clínica se confunde com um
acrocórdon ou um pólipo cutâneo, mais frequentemente localizado na região lombar baixa.2
Encaminhamento
Quando as características clínicas da lesão sugerem a
presença de um carcinoma basocelular, o paciente deve ser
encaminhado ao dermatologista para avaliação. Além dos
comemorativos clínicos, a dermatoscopia, mesmo antes do
padrão-ouro diagnóstico – a histologia – pode fornecer dados
muito importantes para o diagnóstico.
A terapêutica do carcinoma basocelular depende basicamente de sua localização anatômica e características histológicas. As várias modalidades incluem cirurgia convencional,
curetagem com eletrocirurgia, criocirurgia, quimioterapia
tópica, terapia fotodinâmica, imunoterapia, radioterapia e cirurgia micrográfica de Mohs.
Embora a cirurgia convencional esteja indicada para
muitos carcinomas basocelulares, as taxas de cura são menores do que as da cirurgia micrográfica nos casos de lesões
esclerodermiformes, de casos recidivantes ou localizados
em zonas anatômicas de alto risco.3 A cirurgia micrográfica
de Mohs oferece um controle histológico mais preciso das
margens cirúrgicas, com maior conservação de tecido sadio,
comparada com a cirurgia convencional.4 Consiste na remoção cirúrgica da área tumoral com controle histológico, por
congelação, das margens cirúrgicas tangenciais, divididas
em quadrantes. Margens cirúrgicas de 2 mm além da área
tumoral apresentam taxa de cura de 97%, aumentadas para
5 mm no caso de tumor esclerodermiforme ou recidivante.5
A quimioterapia tópica é feita principalmente pelo 5-fluoruracil em cremes a 5% (aplicado 1 a 2 x/dia por um prazo
de 2 a 3 semanas). É indicado sobretudo para ceratoses actínicas, mas tem sido empregado também para casos superficiais
e doença de Bowen, que é uma neoplasia intraepidérmica. As
taxas de recidiva de sua utilização em carcinoma basocelular
superficial giram em torno de 21% em cinco anos, reduzidas
para 6% se for realizada curetagem prévia.6 Carcinomas basocelulares superficiais também podem ser tratados por dermatologistas com imiquimode tópico e terapia fotodinâmica
com derivados do ácido delta-aminolevulínico.
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Seção XIII > Problemas de Pele
Seguimento
A realização de exame periódico de toda a pele corporal
é muito importante em todos os pacientes com história de
carcinoma basocelular. Com terapêutica adequada, o prognóstico da maioria dos carcinomas basocelulares é excelente.
Contudo, é essencial o monitoramento para recidivas de câncer, por vezes mais agressivas, e novos tumores primários,
estes frequentes em 36 a 50% dos pacientes.7
CARCINOMA EPIDERMOIDE
O carcinoma epidermoide, também chamado de carcinoma espinocelular ou espinalioma, o segundo em frequência
dentre os cânceres da pele, é uma neoplasia maligna originada dos queratinócitos epidérmicos suprabasais. Ao contrário
do carcinoma basocelular, que aparentemente surge de novo,
sem necessidade de lesão prévia, o epidermoide costuma
se desenvolver, na maioria das vezes, a partir de uma lesão
precursora, como ceratoses actínicas, ceratoses arsenicais,
ceratoses pós-fototerapia (PUVA), leucoplasias, cicatrizes
e ceratoses pós-queimaduras, ceratoses virais por vírus do
papiloma humano (HPV), papulose bowenoide e epidermodisplasia verruciforme, poroceratoses, radiodermites, doença
de Bowen e eritroplasia de Queyrat.
O acúmulo de radiação ultravioleta é o fator de risco
mais proeminente para o carcinoma epidermoide, existindo
uma correlação linear entre os carcinomas epidermoides e a
exposição a essa radiação. Humanos que trataram psoríase
pelo método PUVA por muito tempo apresentam 30 vezes
mais risco de ter carcinomas, a maioria epidermoides.8
1765
mais frequente é de uma lesão papulosa, ceratótica, por vezes
de centro ulcerado, com tendência à vegetação nas bordas, que
costumam progressivamente infiltrar os tecidos subjacentes
FIGURA 174.3. A hiperceratose pode ser muito grande a ponto de
formar um corno cutâneo de queratina, sob o qual há tecido
neoplásico infiltrativo. O lábio inferior é uma localização bastante frequente, assentando-se sobre uma queilite actínica crônica, seguida de leucoplasia e ulceração tumoral endurecida.
Na vulva, principalmente na porção anterior dos grandes
lábios, pode ter como precursor o líquen escleroso crônico
com suas áreas leucoplasiformes. No pênis, instala-se mais
em pacientes não circuncidados e com má higiene genital,
mormente se houver associação com condilomas acuminados, fimose e líquen escleroso. Pode se instalar sobre a eritroplasia de Queyrat, placa eritematosa, de superfície aveludada, por vezes superficialmente erodida, com frequência
confundida com candidíase crônica ou dermatite.
O carcinoma verrucoso é uma denominação que engloba
quatro tipos de carcinomas epidermoides vegetantes, de evolução lenta, que se desenvolvem em locais de irritação crônica, e
que às vezes são confundidos com verrugas gigantes:10 o tipo I,
também conhecido como papilomatose oral florida, é encontrado na boca de idosos, principalmente causado pela irritação
crônica por tabaco; o tipo II, conhecido pelo nome de tumor de
Buschke e Loewenstein, possui localização anogenital, sendo
mais comum em glandes não circuncidadas e na região perianal; o tipo III, o epitelioma cuniculatum, é um tumor plantar,
crônico, ulcerado, fétido, encontrado em idosos, apresentando
múltiplos trajetos fistulosos que lembram tocas de roedores; o
tipo IV pode se localizar em couro cabeludo, tronco e demais
A imunossupressão crônica, sobretudo em transplantados,
também pode favorecer os carcinomas epidermoides, primariamente em áreas fotoexpostas. Em transplantados renais, foi
verificado um risco 18 vezes maior de carcinoma epidermoide.9
Tais tumores surgiram 3 a 7 anos após o início da utilização
dos imunossupressores; os corticosteroides, a azatioprina e a
ciclosporina são os fármacos mais implicados no processo. O
HPV também pode estar associado ao surgimento desses cânceres, principalmente o HPV-16 (tumores de cabeça, pescoço e
periungueais) e o HPV-5 (a partir de epidermodisplasia verruciforme). Da mesma forma, genodermatoses, como albinismo
oculocutâneo, podem favorecer carcinomas epidermoides.
Clínica e diagnóstico
Em pacientes de pele clara, a maioria dos carcinomas
epidermoides se localiza na face, no pescoço e no dorso das
mãos, geralmente a partir de uma lesão pré-cancerígena prévia. Costumam se apresentar como lesão única, com exceção
de pacientes imunodeprimidos ou com fotodano acentuado.
Essa neoplasia possui um espectro amplo de apresentações clínicas, variando desde uma pequena lesão cutânea superficial, de fácil manejo, até tumores altamente infiltrativos,
metastatizantes, que podem levar ao óbito. A apresentação
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FIGURA 174.3 > Carcinoma epidermoide na região temporal esquerda.
Fonte: Imagem gentilmente cedida por Dr. Luiz Fernando Bopp Muller.
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Medicina Ambulatorial
extremidades. Em alguns desses tumores, foram detectadas sequências virais de HPV, o que aponta fortemente para o fato de
que essas neoplasias podem evoluir a partir de verrugas virais.
Os carcinomas epidermoides que se instalam em cicatriz
costumam ocorrer após décadas da agressão. São mais vistos
em membros inferiores, em áreas de úlceras de estase crônicas, ou em cicatrizes de queimaduras profundas, em áreas
cronicamente fotoexpostas.
em casos de áreas de pele fotoexposta15 até cerca de 40% em
neoplasias oriundas de cicatrizes de queimaduras.16
As metástases em geral seguem a via linfática, primariamente indo para os linfonodos regionais de drenagem, podendo ser precedidas de recidiva local, por vezes alguns anos após
o tratamento inicial. Carcinomas epidermoides de células fusiformes são os que possuem um prognóstico mais reservado,17 assim como neoplasias em pacientes imunodeprimidos.
Como diagnóstico diferencial, sempre é necessário lembrar o ceratoacantoma, lesão tumoral cupuliforme, encimada
por uma “cratera” central preenchida por queratina, que lhe
confere o aspecto de uma “taça” com centro córneo, localizada em geral em áreas de fotodano crônico em idosos. Muito
embora sua histologia possa se confundir com a de um carcinoma epidermoide bem diferenciado, a característica principal desse tumor é o rápido crescimento (vários centímetros
em poucas semanas), com posterior tendência a uma lenta
reabsorção. O fato de algumas lesões poderem ser, raras vezes, agressivas localmente faz suspeitar que o ceratoacantoma
possa ser um subtipo muito peculiar de carcinoma espinocelular, com capacidade de autoinvolução.
Como costumam ser pacientes que apresentam também
risco de outros tipos de neoplasias cutâneas, após o diagnóstico de carcinoma epidermoide, eles deverão ser avaliados periodicamente, em intervalos variando de 3 a 12 meses,
conforme o grau de agressividade do tumor. O exame clínico
deverá compreender todo o tegumento e a mucosa oral, bem
como a palpação de cadeias linfonodais. Além disso, recomenda-se que o paciente faça um autoexame da pele, a cada
2 a 3 meses, em frente a um espelho, para detecção precoce
de possíveis novas lesões suspeitas.
Encaminhamento
O melanoma cutâneo é uma neoplasia maligna de melanócitos, tanto localizados em nevos melanocíticos quanto em epiderme normal. Nos últimos 50 anos, a incidência
de melanomas cutâneos tem crescido progressivamente em
todo o mundo: o risco estimado de um norte-americano ter
um melanoma, na vida, é de 1:1.500 para os nascidos em
1935, 1:600 para os nascidos em 1960, 1:150 para os nascidos em 1980 e 1:62 para os nascidos em 2006.18 As maiores
taxas de incidência, tanto em homens quanto em mulheres,
encontram-se na Região Sul. O melanoma ocupa atualmente,
no Brasil, o 10o lugar entre os cânceres mais frequentes na
população19 e possui letalidade elevada.
Indivíduos que apresentem lesões com as características
recém-descritas, de diâmetro maior do que 1 cm, endurecidas à palpação, especialmente se existe crescimento documentado em oito semanas, podem ter carcinoma epidermoide e devem ser encaminhados com urgência ao especialista
em dermatologia.11
Tratamentos destrutivos utilizados para lesões superficiais e intraepiteliais, como as ceratoses actínicas e a doença
de Bowen (curetagem e eletrodessecação, crioterapia com
nitrogênio líquido, laser de CO2, quimioterapia intralesional
com citostáticos, imiquimode, terapia fotodinâmica), não são
recomendados para o tratamento de carcinomas epidermoides, por se tratarem de lesões invasivas.
A modalidade terapêutica de primeira escolha é a cirurgia
convencional, com margens recomendadas de 4 mm para tumores de baixo risco (espessura maior do que 2 mm). Para lesões
grandes ou mais infiltrativas, a sugestão é a cirurgia micrográfica,12 assim como para lesões recidivadas, de áreas periorbitárias, irradiadas previamente, com margens maldefinidas, em
imunodeprimidos, carcinoma verrucoso e em cicatrizes.13
A radioterapia pode ser usada no tratamento de lesões
com invasão superficial, como coadjuvante pós-cirúrgica, em
pacientes idosos, sendo particularmente útil no tratamento de
carcinoma epidermoide do canal auditivo externo.14 Lesões
metastáticas, neoplasias avançadas e de alto risco deverão ser
avaliadas e tratadas em setores de oncologia, clínica e cirúrgica.
Seguimento
Além da capacidade destrutiva local do tumor, o potencial de metástases dessa neoplasia é bem mais elevado do
que o dos carcinomas basocelulares, podendo variar de 5%
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MELANOMAS
A radiação ultravioleta acumulada das radiações eritematógenas, de ondas curtas (UVB), e das pigmentadoras, de
ondas mais longas (UVA), absorvida pela pele tanto de forma
continuada como intermitente, parece ser a causa mais importante da maior parte dos melanomas em indivíduos genética e
fenotipicamente suscetíveis.20 Assim, em se tratando de indivíduo com fenótipo de predisposição – pele clara, olhos claros, cabelos claros, sardas, nevos adquiridos (estes dois últimos elementos, por si só, já são marcadores de excesso solar),
nevos atípicos –, há necessidade não somente de proteção
quando exposto ao sol, mas também de evitar bronzeamentos
artificiais com lâmpadas de ultravioleta. Esse cuidado deve ser
redobrado no caso de existir melanoma em familiares.21
O melanoma é bastante raro antes da puberdade e, quando presente, tem origem em nevo gigante congênito em cerca
de metade dos casos. Em análise de pacientes brasileiros com
melanomas, encontrou-se uma idade entre 20 e 84 anos, com
média de 53 anos, e uma proporção de duas mulheres para
cada homem.22 Em amostra sul-riograndense, possuir ancestrais europeus era fator de risco para melanomas (RC=9,7;
IC 95%, 3,9-24,2), ao passo que ancestrais índios eram fator
protetor (RC=0,16; IC 95%, 0,04-0,7).23
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Seção XIII > Problemas de Pele
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Clínica e diagnóstico
A grande maioria dos melanomas pode ser classificada
em melanoma expansivo (ou disseminativo, ou de espalhamento) superficial, melanoma nodular, melanoma lentigo
maligno, melanoma lentiginoso acral (ou palmoplantar) e
melanoma das mucosas.24,25
O melanoma expansivo superficial FIGURA 174.4 compreende
cerca de 70% dos melanomas em peles claras (cerca de 61%
em nosso meio)22 e se caracteriza por ser uma lesão pigmentar
melanocítica em placa, de contornos irregulares, com crescimento excêntrico e possuindo diversas tonalidades de melanina. Este é o tipo de melanoma que mais se enquadra na regra
do ABCD para reconhecimento precoce dos melanomas (A =
assimetria das duas metades; B = bordas irregulares; C = cores
variadas, com preto; D = diâmetro maior do que 6,0 mm).
Em geral evolui primeiramente como uma mancha, com
crescimento em superfície, por período de tempo variável,
aumentando de diâmetro e irregularidade (a chamada fase de
crescimento radiado), para mais tarde crescer em espessura e invadir em profundidade (fase de crescimento vertical).
Além de possuir diversas tonalidades de marrom, ainda se
observam o preto, o róseo e áreas claras, ou acinzentadas,
de reabsorção (ou regressão) espontânea. Nesse período de
crescimento radiado ou horizontal, a lesão pode ser pequena,
de 6 a 7 mm ou um pouco mais, às vezes sendo confundida
com um nevo adquirido. Nas fases mais avançadas, além do
crescimento em diâmetro, podem surgir nódulos e ulcerações
na superfície, caracterizando uma fase de crescimento vertical, potencialmente mais invasiva.
A espessura do tumor, aferida pelo índice de espessura
de Breslow (a distância entre a camada granulosa da epiderme até a área de invasão mais profunda do tumor primário),26
é considerada um dos parâmetros mais importantes no prognóstico dos melanomas.
O melanoma nodular FIGURA 174.5, o segundo em frequência e responsável por cerca de 15% dos melanomas (24% em
nosso meio),22 parece não apresentar a fase de crescimento
FIGURA 174.4 > Melanoma de espalhamento superficial.
Fonte: Foto do Serviço de Dermatologia do HCPA.
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FIGURA 174.5 > Melanoma nodular.
Fonte: Foto do Serviço de Dermatologia do HCPA.
radiado, partindo logo para o crescimento vertical, formando
um nódulo pigmentar desde o início, sem mancha progressiva
prévia, comumente erodido e sangrante. Às vezes é acromático, podendo ser confundido com um granuloma piogênico.
Há uma tendência de se chamar, de modo inadequado,
de “nodular” todo melanoma que apresente clinicamente nódulos na superfície. Tal procedimento é inapropriado, pois
todos os outros tipos clinicopatológicos de melanoma poderão apresentar nódulos, que correspondem à fase de invasão
vertical, em estágios mais avançados de suas evoluções.
O lentigo maligno é um tumor melanocítico in situ, indolente, de crescimento muito lento, que classicamente se apresenta como uma mancha irregular na face ou no pescoço de
pessoas idosas. Esta “sarda” costuma crescer de forma lenta e
assimétrica por muitos anos, evidenciando diferentes tonalidades de marrom, preto ou róseo, antes de apresentar algum relevo que demonstre uma fase de maior agressividade. Ocorre em
cerca de 13% dos melanomas em nosso meio22 e tem o melhor
prognóstico dentre essas neoplasias, a não ser nas fases avançadas, quando então se denomina melanoma lentigo maligno.
Mais comum em populações de tez escura, o melanoma lentiginoso acral FIGURA 174.6 se localiza nas extremidades glabras dos membros (palmas, plantas, subungueais,
etc.), apresentando histologicamente extensa área de proliferação lentiginosa epidérmica associada a foco invasivo de
crescimento vertical. Um achado importante é a presença,
na periferia do tumor, de epiderme aparentemente indene,
mais adiante seguida de nova proliferação lentiginosa; essa
peculiaridade tem relevância na escolha da margem cirúrgica, para evitar as frequentes recidivas observadas nesse tipo
de neoplasia. Clinicamente, apresenta-se como uma grande
mancha pigmentar, irregular, em geral circundando uma nodulação ulcerada, podendo estar localizada na região plantar,
palmar, interdigital ou subungueal. Estas últimas podem ter
diagnóstico tardio, pois, além de serem, por vezes, acromáticas, são passíveis de confusão com nevos benignos, angiomas, paroníquias crônicas ou verrugas virais. Toda lesão
pigmentar de leito ou borda ungueal deve ser avaliada com
muito cuidado, principalmente se houver comprometimento
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Medicina Ambulatorial
TABELA 174.1 > Critérios para avaliação de lesões suspeitas de melanoma
CRITÉRIOS MAIORES 2 PONTOS CADA
Mudança de tamanho
Bordas irregulares
Coloração irregular
CRITÉRIOS MENORES 1 PONTO CADA
Maior diâmetro ≥ 7 mm
Inflamação
Secreção
Alterações de sensibilidade
Adaptada de NICE.11
trombosados, entre outras lesões de coloração escura que
possuam aspecto semelhante.
FIGURA 174.6 > Melanoma lentiginoso acral.
Fonte: Foto do Serviço de Dermatologia do HCPA.
pigmentar de borda cuticular. Este último se constitui no chamado “sinal de Hutchinson”.
Encaminhamento
Pacientes apresentando lesões com essas características
deveriam ser encaminhados a um dermatologista. Na dúvida,
a mudança de aspecto de uma lesão pigmentar, tanto nova
quanto preexistente, ao longo do tempo, é um item muito
importante na avaliação diagnóstica de melanoma. Convém
recordar que mais da metade dos melanomas cutâneos não
se origina em nevo preexistente, mas pode surgir a partir de
melanócitos da pele normal. Na presença de uma lesão suspeita, a observação cuidadosa, com auxílio de uma câmera
fotográfica e uma régua, repetindo a imagem e a medição em
oito semanas, com a aplicação de um escore clínico baseado
em mudanças lesionais, pode determinar a necessidade de
encaminhamento TABELA 174.1.11
A suspeita é maior para lesões com escore igual ou
maior do que 3. No entanto, sempre que houver grande preocupação quanto à possibilidade de câncer, qualquer achado
pode justificar a referência ao dermatologista com urgência.
Para se obter uma precocidade diagnóstica em caso
de lesão melanocítica pequena, além da avaliação clínica,
com utilização dos critérios do ABCD (estes não são úteis
nos casos de melanomas nodulares) e o supracitado escore,
conta-se hoje com o recurso da dermatoscopia, técnica não
invasiva de grande valia, quando empregada por profissional
experimentado, para diferenciar melanomas de nevos adquiridos, nevos displásicos, ceratoses seborreicas e angiomas
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A dermoscopia (dermatoscopia, epiluminescência ou microscopia de superfície) consiste na análise óptica, com aparelhos especiais de iluminação (dermatoscópios) com ou sem
imersão, dos componentes pigmentares e vasculares presentes
na lesão pigmentar. Sua presença e formato ajudam a distinguir um melanoma cutâneo de outra lesão que possa conter
melanina (nevos melanocíticos, ceratoses seborreicas, angiomas trombosados, carcinoma basocelular pigmentado, etc.).
O tratamento do melanoma primário cutâneo é essencialmente cirúrgico. Uma lesão, clínica e dermatoscopicamente
suspeita, deverá, sempre que possível, ser submetida de preferência à biópsia excisional pelo profissional especialista em
câncer de pele, com margens cirúrgicas estreitas. A ampliação
de margens cirúrgicas, caso necessária, e a pesquisa do linfonodo sentinela são realizadas posteriormente, dependendo da
espessura histológica do tumor, por cirurgião especializado.
Seguimento
O seguimento clinicolaboratorial do paciente após a remoção da lesão primária pode ser feito por profissionais de
atenção primária.
Pacientes com melanoma apresentam risco de recidivas
locais e metástases, dependendo da precocidade do diagnóstico, do tipo de tumor e do estadiamento. Visitas regulares
de seguimento são recomendadas para avaliar a evolução clínica da moléstia, como o paciente realiza mensalmente seu
autoexame, como administra emocionalmente sua situação e
como conduz as medidas de proteção solar.
Após a remoção da lesão primária, recomendam-se visitas a cada três meses, por 1 a 2 anos, dependendo da espessura lesional. Depois disso, semestrais por mais 1 a 3 anos e,
posteriormente, anuais, pois mesmo que não tenham complicações da lesão removida cerca de 8% dos pacientes podem,
com o tempo, desenvolver novos melanomas.
A visita de seguimento deverá incluir um exame físico
completo, com análise de todo o tegumento, incluindo a cicatriz cirúrgica, e palpação de todas as cadeias linfonodais,
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Seção XIII > Problemas de Pele
principalmente as relacionadas com a área operada. A coleta
de história clínica da evolução é de extrema importância para
detectar sintomas e sinais relacionados com o melanoma e
pode dirigir a investigação por imagens e laboratório. A avaliação clínica, ainda, é um procedimento essencial para detectar a maioria das complicações advindas dos melanomas.
O leitor pode encontrar imagens adicionais (FIGURAS S174.1
a S174.4) no material suplementar do livro, on-line.
1769
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CAPÍTULO 175
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Luiz Fernando Bopp Müller
Letícia Brandeburski Loss
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Piodermites são infecções da pele provocadas por bactérias piogênicas, normalmente Staphylococcus aureus e
Streptococcus pyogenes.
15. Rowe DE, Carroll RJ, Day CL Jr. Prognostic factors for local recurrence, metastasis, and survival rates in squamous cell
A pele apresenta vários mecanismos de defesa contra infecções. Citam-se a camada córnea, que não é penetrada por
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