A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA. FABIOLA MONTEIRO 1 Resumo Este artigo trata da importância da inserção do profissional do Serviço Social na equipe do Programa de Saúde da Família (PSF). Toma como ponto de partida o papel fundamental desempenhado por este profissional, uma vez tendo este a preocupação com o social do usuário, o qual não foge a questão da promoção da saúde. Uma série de fatores influenciam diretamente nas questões da saúde, entre eles a questão social, sendo relevante o conhecimento e o trabalho com o grupo social em que são registrados os principais casos de doenças, exemplificando com os dependentes químicos, as crianças e os idosos. Destaque também para os aspectos históricos, culturais e sociais de tais grupos, sendo esses fatores consideráveis. Nesse panorama de atenção primária à saúde, a inserção do assistente social, que por meio de instrumentos técnicos de trabalho, é desempenhar um papel mais direcionado ao acompanhamento individual e comunitário aos que vivem em situação de risco e vulnerabilidade social. A inserção do Serviço Social na equipe do PSF permite uma conotação social, fator este capaz de favorecer a propagação ou o controle de doenças. PALAVRAS CHAVE: Programa da Saúde da Família, Serviço Social, Equipe Multidisciplinar. 1- INTRODUÇÃO No âmbito da saúde pública faz-se necessário abordar aspectos referentes ao Programa Saúde da Família (PSF) e a inserção do Serviço Social nesse contexto. Haja vista que a inserção do serviço social no referindo programa deve-se, principalmente, em função das demandas dos usuários na dimensão social. Dessa forma o assistente social trabalhará diretamente com o usuário, através de instrumentos técnicos como o cadastro sócio-econômico, a visita domiciliar, conhecendo assim a realidade social do indivíduo que pode ser fator determinante na contração da enfermidade. Em consequência, o assistente social, juntamente com os demais integrantes da equipe do PSF contribuem na definição e implementação de ações transformadoras. 1 Assistente Social graduada pela Faculdade Salesiana de Vitória/ES no ano de 2006 e aluna do Curso de Pós Graduação em Saúde da Família da Faculdade de Medicina de Campos/RJ. E-mail: [email protected]. Hoje, o PSF é um programa multiprofissional e seus usuários são pessoas que têm problemas de âmbito físico ou mental e, sobretudo na dimensão social. Desta forma, a valorização do trabalho multiprofissional está pautada a partir da compreensão do conceito integral de saúde, pois o trabalho em equipe tem o objetivo de garantir a integralidade da atenção e a resolutividade da unidade Saúde da Família (SILVA, 2002). Objetiva-se neste estudo, analisar e identificar as práticas e o processo de trabalho do serviço social no PSF, bem como os instrumentos utilizados por estes profissionais no Programa para discutirmos a necessidade da inserção efetiva do Assistente Social na equipe básica de saúde. A metodologia empregada neste, centra-se em uma pesquisa de cunho bibliográfico. Destaca-se a relevância desse estudo ao enfocar a inserção do Assistente Social no Programa de Saúde da Família e destacar que tal fator é de suma importância, pois esse profissional tem uma prática socializadora, com uma visão da atenção integral, sendo propositivo, proporcionando aos indivíduos meios de enfrentamento para os seus problemas relacionados à saúde, a partir da prevenção e educação em saúde. Nesse contexto os indivíduos das famílias são considerados como cidadãos que tem direito social a serem concretizados. 2- O SERVIÇO SOCIAL E SUA INSERÇÃO NO PSF De acordo com Vieira (1988) o Serviço Social no Brasil, enquanto profissão tem sua origem, aproximadamente, na década de 20 e surgiu vinculado à doutrina da Igreja Católica e do Estado. Neste período os benefícios concedidos aos necessitados não se configuravam como direito social; era de cunho assistencialista relacionado à benevolência/caridade praticados pela militância feminina da Igreja Católica. Segundo Iamamoto e Carvalho (1998), no ano de 1936 surge a primeira Escola de Serviço Social em São Paulo e no ano de 1937 o Instituto Social no Rio de Janeiro. O Serviço Social neste período têm como fundamento fazer com que o homem perceba a importância de sua adaptação na sociedade produtiva. O Serviço Social é chamado a contribuir para a harmonia da sociedade, sendo o Assistente Social um mediador que busca a adaptação do homem diante das mudanças do mundo moderno, tendo como propósito atender as necessidades sociais dos indivíduos, atuando nas sequelas desencadeadas pelas desigualdades sociais decorrentes da consolidação do capitalismo monopolista. Segundo Iamamoto e Carvalho, (1991) o Serviço Social inserido na saúde curativa, atuava dentro de uma perspectiva de ajuda e caridade, e suas ações estavam pautadas na abordagem individual cuja diretriz utilizada era o Serviço Social de caso. A intervenção do Assistente Social estava sintonizada com o projeto de saúde vigente, centrado na concepção da cura, não havendo discussão em torno do processo de prevenção das doenças. Konopla (1973, p.43) ao definir o Serviço Social de Grupo, traz como conceito: [...] é um método do Serviço Social que ajuda os indivíduos a melhorarem a sua atuação social através de objetivas experiências de grupo e a enfrentarem, de modo mais eficaz, os seus problemas pessoais, de grupo ou de comunidade. Isso significa que se baseia na competência que o assistente social desenvolveu por meio de seu treinamento e educação e que se interessa por saúde mental e problemas sociais. Os seus beneficiários são os doentes e os sãos. As entidades em que é praticado abrangem os amplos setores da saúde, da educação e das organizações de bem-estar. A intervenção do Assistente Social baseada nos Métodos Clássicos (caso, grupo, comunidade), segundo Aguiar (1982) se apoiava no pensamento positivista (funcionalismo), visando reintegrar o homem na sociedade, compreendendo que a mesma é harmônica e funcional (tem lugar para todos). Sendo assim, não tinha porque o indivíduo se rebelar contra a situação que se encontrava. Portanto, nesta visão independente da área de atuação, o Assistente Social trabalhava buscando a reintegração do homem à sociedade. O conceito de Desenvolvimento de Comunidade proposto pela Organização das Nações Unidas (ONU) de acordo com Vieira (1998, p. 249) estabelece que: "O termo ingressou na linguagem internacional para designar os esforços da população, aliados aos do governo, para melhorar a situação econômica, social e cultural de suas comunidades, integrá-Ias na vida da nação e tornáIas capazes de contribuir decisivamente ao processo nacional. Esta maneira de proceder se compõe de dois elementos essências: participação do povo nos esforços para elevação do seu nível de vida, baseado na sua própria iniciativa, e fornecimento de assistência técnica e de outros serviços para desenvolver essa iniciativa; a ajuda mútua e a assistência podem ser expressas em programas visando a uma grande variedade de campos de melhoramento" . O Serviço Social de Comunidade vai aderir essas reformas junto ao sistema capitalista, trabalhando na mesma concepção do Serviço Social de Caso e de Grupo, entendendo que as pessoas são disfuncionais e geram tensão na sociedade. Assim, a solução encontrada é preparar as pessoas para que possam usufruir das políticas sociais. De sua origem até a década de 60, o Serviço Social não rompeu com o conservadorismo, nem com o ethos religioso presente desde o seu surgimento. “O processo de crítica existente no Serviço Social a partir da década de 60 no dizer de Netto (2002) foi ‘abortado’ em 64 pelo regime militar, neutralizando os protagonistas comprometidos com o processo de” democratização do país. Os profissionais do Serviço Social que se posicionavam de maneira mais crítica, frente ao contexto histórico que vivenciavam, buscaram ruptura no pós-64. Neste sentido, Bravo (1996, p.84) destaca: O Serviço Social, enquanto profissão histórica e socialmente determinada sofreu profundas modificações no pós-64, que tiveram rebatimento na prática do Assistente Social da Saúde, com novas exigências advindas da política de saúde e da reorganização institucional do setor, dos movimentos sociais e da conjuntura em questão. Essas alterações foram ocorrendo articuladas às transformações vividas pelo país, da ditadura a transição política. Segundo Netto (2002), Movimento de Reconceituação foi um movimento essencialmente latino-americano e teve como fundamento a crítica ao conservadorismo (Neotomismo/Positivismo) que permeia a prática profissional desde o seu surgimento. O objetivo desse movimento é romper com essa vertente conservadora. Porém, tem suas particularidades de acordo com o contexto político, social e econômico de cada país. Em virtude do Brasil, ter sido o primeiro país da América Latina a implementar o governo militar e ter definido os rumos de reconceituação no país, Netto (2002) prefere utilizar o termo renovação do Serviço Social, ao se referir ao movimento brasileiro. O autor, ainda estabelece certa diferença entre Reconceituação (Movimento originado na América Latina) e Renovação (Movimento tipicamente Brasileiro). Para um melhor entendimento do Movimento de Renovação, buscamos nos orientar através de Netto (2002, p.131) que o define, esclarecendo: Entendemos por renovação o conjunto de características novas que, no marco das contrições da autocracia burguesa, o Serviço Social articulou à base do rearranjo de suas tradições e da assunção do contributo de tendência do pensamento social contemporâneo, procurando investir-se como instituição de natureza profissional dotada de legitimação prática, através de respostas a demandas sociais e da sua sistematização, e de validação teórica, mediante a remissão às teorias e disciplinas sociais. No Brasil, de acordo com Netto (2002), o Movimento de Renovação ocorre no pós 64, num contexto marcado pela repressão, decorrente da ditadura militar, aliado a necessidade da reorganização do Estado e a pauperização das classes trabalhadoras. Diante este clima autoritário, os assistentes sociais, recorreram a discussões voltadas enfaticamente para a metodologia profissional, onde segundo a expressão utilizada pelo intelectual, os Assistentes Sociais acabam "caindo num metodologismo”, esboçado no documento de Araxá (1967) e Teresópolis (1970). Apesar de não acontecer à ruptura com o Serviço Social "tradicional" (termo adotado por Netto), o Movimento de Renovação marca a profissão de forma significativa: tem-se um redirecionamento na formação de seus profissionais. De acordo com Neto (1989), na "autocracia Burguesa", o Serviço Social se renova, passa a incorporar novos referenciais teórico-culturais e ideológicos. Esta renovação se traduz em três direções: modernizadora, reatualização do conservadorismo e intenção de ruptura. O processo da Renovação na direção Modernizadora gerou um mercado nacional de trabalho para os assistentes sociais, conforme relata Bravo (1996). Segundo a autora o modelo adotado no pós 64 teve fortes rebatimentos na profissão, sendo aprovado no ano de 1972 o Plano Básico de ação do Serviço Social na Previdência, que visava definir a política de ação do Assistente Social, onde o profissional inserido no sistema previdenciário passa a atuar, focando duas áreas: a da saúde e a do trabalho e previdência. Para Bravo (1996) o Assistente Social no âmbito da Saúde, nesta época, exercia sua prática desenvolvendo atividades educativas, no intuito de promover a proteção e recuperação da saúde, aos beneficiários e seus dependentes, nos locais de atendimento via INPS. A autora relata que o Serviço Social no setor da saúde recebe influências da modernização efetuadas no âmbito das políticas sociais. Sua ação era efetivada na prática curativa, especialmente na assistência médica previdenciária, que se constituiu como o maior empregador de profissionais, sendo enfatizada em suas ações técnicas de intervenção, a burocratização das atividades, a psicologização das relações sociais, a concessão de benefícios dentro da visão positivista onde estes eram tidos como benevolência e não como direito. A intelectual completa afirmando que o Serviço Social na saúde sofre as influências da modernização que foram efetivadas no âmbito das políticas sociais, concretizando sua ação profissional a nível da saúde curativa, especialmente no campo da assistência médica previdenciária, sendo que esta passava a ser o maior empregador de profissionais. O Serviço Social não priorizou a sua ação na saúde pública, conforme afirma Bravo (1996), em que seu trabalho foi realizado com ênfase nas técnicas de intervenção, na burocratização de suas atividades, na psicologização das relações sociais, na concessão de benefícios prevaleceu o caráter assistencialista em sua atuação. Apesar do Serviço Social, no âmbito da saúde, realizar vários congressos, buscar a reflexão, através da discussão de sua prática, não conseguiu romper com o conservadorismo e nem dar à profissão um viés mais crítico, pois neste período grandes partes dos profissionais encontravam-se vinculados ao Estado, num regime totalitário. A partir da segunda metade da década de 70 o Serviço Social sofre influência da fenomenologia e do marxismo. Na direção da reatualização do conservadorismo, o Serviço Social através da vertente fenomenológica, assim como do neotomismo e do positivismo, também adotou a abordagem individual, visando à transformação da pessoa. Neste sentido a fenomenologia no Serviço Social tem como pano de fundo o conservadorismo, que provocou um retrocesso para o Serviço Social e também foi um dos pontos que impediu o processo de ruptura. Na terceira direção conhecida como intenção de ruptura, os Assistentes Sociais utilizavam o referencial marxista. Netto (2002) afirma que a conhecida vertente marxista não recorreu à fonte original, se direcionou através de manuais de divulgação, de qualidade duvidosa, ou por versões contagiadas por uma ideologia neopositivista que não eram compatíveis com os escritos de Marx. Como resultado desde ecletismo, a profissão se defronta com três situações: a recusa à "importação de teorias", o confusionismo ideológico e o reducionismo próprio ao ativismo político. Apesar de Netto (2002) fazer uma critica, colocando todos os equívocos da profissão neste movimento, o autor considera que é neste contexto que se formam as bases de modernidade, introduzindo na profissão a matriz marxista. Segundo Yazbek (2003), na década de 80, o Brasil viveu um grave quadro social, resultante da crise econômica interna e externa e do descontrole governamental frente às mazelas sociais decorrentes da acumulação do capital. Neste período o processo de redemocratização da sociedade brasileira abre espaço para a sociedade civil e as organizações sociais se manifestarem. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, segmentos da sociedade civil começam a participar das decisões e prioridades das políticas públicas. O Serviço Social a partir da década de 80 começa a questionar sua prática e requerer espaços de participação.Passa a ser um elaborador das Políticas Sociais, e diante da necessidade também busca implementar um projeto profissional que ganha o formato do Projeto Ético-Político da categoria na década de 90. Podemos ainda identificar, como marcos históricos que traduzem as mudanças na profissão, à revisão curricular em 1982 e criação do Novo Código de Ética de 1986. Yamamoto (2004) relata que o Serviço Social na contemporaneidade assume uma visão mais crítica da sociedade, direcionado pela matriz marxista, (direcionamento este quase que hegemônico na profissão), dando um salto de qualidade, reorientando as bases da profissão e se autoqualificando para dar respostas às demandas postas pelos usuários de seus serviços, bem como, para atender as necessidades das instituições nas quais estão inseridos. No âmbito da saúde, o Assistente Social acompanha o movimento da sociedade, atuando com a promoção da saúde preventiva. O assistente social precisa, segundo lamamoto (2004), ser parte e expressão da sociedade onde está inserido. Necessita, portanto compreender e decifrar a realidade em sua totalidade, para então em consonância com o Código de Ética, de fato, se comprometer efetivamente com a classe subalternizada. Na visão de Barbosa, Cardoso, Almeida (1988) e lamamoto (2004), os conflitos societários não esgotam as possibilidades para o profissional do Serviço Social. Assim, é extremamente importante que o Assistente Social possua um conhecimento amplo sobre as políticas sociais e, que nesse caso especifico, compreenda as particularidades da política da saúde, interesse maior dessa pesquisa, para dar respostas efetivas em sua prática profissional. Ainda de acordo com lamamoto (2004), o profissional deve ter claro que a demanda a ser trabalhada por ele deve estar relacionada com as múltiplas expressões da questão social, decorrente das desigualdades sociais, sendo que essas expressões são seu objeto de trabalho. O enfrentamento para estas demandas será através das políticas sociais, instrumento privilegiado para a atuação profissional, almejando assim que os usuários tenham acesso aos direitos sociais vigentes, significando este o produto do trabalho do assistente social. Sobre o processo de trabalho do Assistente Social na saúde, segundo Costa (2001, p.45) "as atividades do serviço social estão prioritariamente concentradas nos seguintes campos de atividades de eixos de inserção do trabalho profissional que se relacionam intimamente com as requisições", sendo elas: • AÇÕES DE CARÁTER EMERGENCIAL - Voltadas para agilizações de consultas, exames, internamentos, tratamentos, obtenção de vale transporte, medicamentos, dentre outros. Requer a mobilização e a articulação de recursos humanos e materiais dentro e fora do sistema público e privado de saúde. • EDUCAÇÃO E INFORMAÇÃO EM SAÚDE - Esta atividade se dá através das orientações e informações sobre a saúde, tanto individual quanto coletiva, principalmente quando se trata de epidemias e endemias. • PLANEJAMENTO E ASSESSORIA - Tais atividades são ações voltadas para o processo de reorganização do trabalho no SUS. Tem como finalidade qualificar os recursos humanos na esfera operacional da unidade além de instrumentalizar a formação de equipes de acordo com as novas exigências técnicas do modelo em curso. • MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE - Ações educativas, voltadas para sensibilização, politização e mobilização da comunidade em função da instalação e funcionamento dos conselhos de unidade distrital, municipal e estadual de saúde. Entretanto, o Assistente Social na saúde encontra grandes desafios, pois se a saúde coletiva a partir da Constituição de 1988 adquire caráter universal, garantida como direito de todos de forma integral, ao mesmo tempo se observa, que com a implementação do Projeto Neoliberal no governo Collor de Mello (1990 a 1992) aprofundado no Governo Fernando Henrique Cardoso (1995 a 2003), os recursos destinados para as políticas sociais foram reduzidos, refletindo diretamente na saúde. Segundo Barbosa, Cardoso e Almeida (1988), independente do campo de atuação que o Assistente Social está inserido, a sua intervenção incide em dois planos de ação: no campo da legislação social, trabalhando com as políticas sociais, garantindo o acesso de seus usuários a bens materiais, como: cestas básicas, medicamentos entre outros e no plano imaterial. A intervenção do assistente social é realizada através de ações voltadas para a mobilização de valores, no universo das relações sociais que a população está inserida, nos movimentos associativos, possibilitando o acesso a informação, a cultura; promovendo a mudança de comportamento dos usuários visando a emancipação desses sujeitos. A precarização do trabalho se consolida no Brasil, com o aprofundamento do capitalismo, com os novos modelos de produção, que privilegiam intensamente o capital, repercutindo negativamente, provocando perdas significativas nos direitos trabalhistas da classe operária. Neste sentido Abramide e Cabral2 (2003) descrevem: A ofensiva neoliberal no Brasil inicia-se no final do governo Sarney e perpassa os governos Collor e Itamar, aprofundando-se e consolidando-se com FHC (1994/2002). Sua implantação vem imprimindo uma política monetarista com ajustes econômicos efetivados com base na oferta monetária, na privatização de estatais e de serviços públicos rentáveis, no corte nos gastos sociais, até com demissão de trabalhadores em serviço público, na transferência de renda e de patrimônio público para o setor do capital privado, na quebra de monopólios com a entrada do capital estrangeiro, na privatização de setores estratégicos associada à internacionalização (petróleo, telecomunicações, siderurgia, mineração), na sobrevalorização da taxa cambial, na mercantilização de políticas sociais, acompanhada da refilantropização na área da assistência, nas políticas sociais compensatórias, em substituição a políticas sociais de caráter universal; na privação de direitos sociais (educação, saúde, previdência, assistência) e na desregulamentação de direitos sociais e trabalhistas. O neoliberalismo consubstancia o Estado mínimo para os trabalhadores e o Estado ampliado para o capital, em que os interesses privados sobrepõem se aos interesses públicos, de caráter universal. Segundo Antunes (2000) “foi principalmente a partir do final dos anos 70 e início da década de 1980 que surge o modelo”, de produção Taylorista e a era da acumulação flexível, resultante da necessidade do capital avançar em seu ciclo reprodutivo e fortalecer o projeto de dominação capitalista, que perdeu forças no modelo de produção fordista/taylorista. Sobre estas transformações no modo de produção do mundo do trabalho, e como estas refletem na vida dos trabalhadores, Antunes (2000, p.15) apreende: As modificações ocorridas pela diferenciação dos processos de trabalho na produção: fordismo, taylorismo e toytismo, ou acumulação flexível, pressupõem, na ordem do capital, formas diferenciadas de exploração, culminando na acumulação flexível, cujas repercussões profundas afetam a 2 Informações sobre a produção dos autores disponível no site: <http://www.ergonomianotrabalho.com.br/artigos/acumulacao.pdf> (acesso em 07/08/09 às 19:47hs) "objetividade e subjetividade da classe-que-vive-do-trabalho,e, portanto, a sua forma de ser". O contexto da reestruturação produtiva no Brasil é marcado pela crise econômica, recessão, queda significativa do consumo, pois o país ainda vive um processo de democratização, decorrente do regime totalitário que vigorou no período de 1964 a 1980, ocasionando o agravamento dos problemas sociais. Este quadro provoca a precarização do mundo do trabalho, refletindo também nos trabalhadores do Serviço Social. Andrade (2000) pontua que como qualquer trabalhador inserido neste contexto os profissionais do Serviço Social também são afetados pelas injunções do mundo do trabalho, sofrendo as conseqüências da precarização, decorrente da reestruturação produtiva e se encontram diante um quadro de "ameaça de desemprego, precarização das relações de trabalho, flexibilização dos contratos de trabalho, o fetiche do mercado e do dinheiro, as exigências da polivalência, da multifuncionalidade, da qualificação e do desenvolvimento de novas habilidades". (ANDRADE, 2000, p.179). Resultante desta desregulamentação do mundo do trabalho, Antunes (2000, p.6162) destaca como características da precarização: "alta rotatividade no trabalho, flexibilidade numérica, empregados em tempo parcial, casuais, trabalhadores com contrato por tempo determinado, temporários, subcontratados, instabilidade no emprego, trabalhador autônomo, enfraquecimento dos sindicatos, etc...”. Com relação a estas novas exigências do mundo do trabalho Antunes (2000, p. 61) afirma: [...] em decorrência da criação dos "trabalhadores multifuncionais", introduzidos pelo toyotismo, é relevante lembrar que esse processo também significou um ataque ao saber profissional dos trabalhadores qualificados, a fim de diminuir seu poder sobre a produção e aumentar a intensidade do trabalho. Diante esse contexto o Assistente Social é um profissional que está no mercado, vendendo sua força de trabalho, enfrenta as injunções do mundo do trabalho, como qualquer outro trabalhador, cuja profissão é seu meio de sobrevivência e necessita capacitar-se, desenvolver novas habilidades para se inserir ou manter-se no mercado de trabalho. Segundo Dutra (et all 1999), espera-se que o PSF se converta em uma estratégia organizadora dos Sistemas Municipais de Saúde, diante esta expectativa necessitase compreender que qualquer processo que envolva transformações em instituições deve considerar as pessoas que nela trabalham e dela fazem parte. Neste sentido torna-se imprescindível a qualificação do quadro de funcionários, preparando-os através do aperfeiçoamento, da aquisição de novas habilidades e do conhecimento, visando mudanças de atitudes e comportamento, como forma de atender e adaptar estes funcionários as proposta do programa. Sendo assim a área de Recursos Humanos (RH) é essencial na implementação e direção desta ação que somente acontecerá mediante mudanças de níveis comportamental, cultural e técnico. Conforme Dutra (et all 1999), as Secretarias Municipais de Saúde ao assumirem a Saúde da Família como estratégia, reconheceram ser necessário investir na área de desenvolvimento, pelo fato de seus profissionais trabalharem a partir de uma formação especializada, quando a Saúde da Família requer prática generalista, atividades em equipes multidisciplinares, respeito com os diversos saberes e comprometimento com o resultado do trabalho. Camarano3 (1998) esclarece que o contrato por prazo determinado não deve exceder o período de dois anos, tendo a data de início e término pré-fixadas; sendo que a empresa, após a rescisão do contrato, necessita aguardar durante seis meses para celebrar um novo contrato com o mesmo trabalhador. Esta flexibilização tem ocasionado especialmente para os profissionais da saúde, a precarização das condições de trabalho destes funcionários, que vivenciam um quadro de instabilidade em sua vida privada, gerando tensão emocional, insegurança em sua vida profissional. Seu trabalho é interrompido, descontinuado, 3 Mais informações sobre o autor, consultar site <http://www.sinpro-rs.org.br/extra/set98/capa1.htm> (acesso em 10/08/09, às 21:35h). trazendo prejuízos para a população usuária que não consegue criar vínculos com os profissionais, pois mesmo quando o contrato é renovado, muitas vezes o profissional não permanece no mesmo local de trabalho, quebrando o elo profissional/comunidade, elemento essencial para o PSF. CONSIDERAÇÕES FINAIS Considerando que vivemos em um contexto com profundas transformações societárias, o grande desafio colocado aos Assistentes Sociais em seu trabalho no PSF não é diferente daquele com o qual se deparam todos os profissionais que lidam com as múltiplas expressões da questão social: vivenciamos um contexto que Netto (1996) define como de transformações societárias, cujas repercussões rebatem diretamente no cotidiano dos usuários atendidos pelas diferentes políticas sociais, entre elas o PSF, ou seja, há um crescente aviltamento das condições de vida da população, como resultado, inclusive, da concretização dos princípios neoliberais. Tal realidade socioeconômica das famílias é acompanhada bem de perto pela equipe do PSF, pela própria proposta do programa, que de acordo com o Ministério da Saúde, entende-se como um caminho para reorganizar a atenção básica, em uma concepção de saúde centrada na promoção da qualidade de vida. Claramente que não se trata de uma assistência precária para os pobres, mas com o intuito de construir um novo modelo de assistência no país, uma vez investindo na atenção primária, na prevenção e promoção à saúde. Dessa forma o PSF se constituirá na porta de entrada do Sistema Único de Saúde (BRASIL, 1994). Uma vez mantido esse contato in loco com os problemas, principalmente através das visitas domiciliares, a equipe multidisciplinar mantem-se situada no cotidiano de vida das famílias, do vínculo que os profissionais estabelecem com a comunidade, fortalecendo o PSF como ponto de partida para a efetivação da Política de Saúde. Um fator considerável é que ao lado deste processo paulatino de empobrecimento da população, ocorre ainda, a precarização e enxugamento das políticas públicas em todo o país, especialmente às de assistência social. Isso também expressa a fragilidade das ações intersetoriais, pois inexiste uma política articulada entre os vários setores da gestão (sendo esta uma realidade da maioria dos municípios do país), o que acaba por comprometer o trabalho realizado pelo PSF, já que, na concepção ampliada de saúde, a atuação isolada da equipe de saúde da família não faz sentido, sendo a ação intersetorial fundamental para lidar com as questões vivenciadas pela população. Recomenda-se assim o fortalecimento do atendimento em rede entre as políticas, principalmente a de Saúde (SUS) e a de Assistência Social (SUAS), encaminhamentos através precisos do das trabalho multidisciplinar demandas que diagnosticadas favorece pela equipe os e, consequentemente a diminuição da problemática. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, D.B.M. O. Processo de Reestruturação Produtiva e as Novas Demandas Organizacionais do Serviço Social. In mod. 4. O Trabalho do Assistente Social e as Políticas Socias. CEFSS-ABEPSS-CEAD/NED-UNB. 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