4. Discussão teórica sobre o conceito de rede urbana

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DISCUSSÃO TEÓRICA SOBRE O CONCEITO DE REDE
URBANA
Agda da Luz Oliveira¹
Ângelo Moura Araújo¹
Cristiano Uzêda Teixeira¹
José Luiz Oliveira Batista¹
Ruy Borges Carneiro¹
Resumo
O conceito rede tem sido abordado por vários autores na tentativa de explicar seu
significado. A partir da sua ampla utilização e das mudanças implementadas pela
globalização, esse tema se tornou mais complexo, sendo inserido nos estudos referentes
às cidades por estudiosos da Geografia, destacando-se os elementos técnicos e sociais
presentes na rede urbana. Nesta perspectiva, o presente artigo aborda as visões de
autores como: Corrêa (1989), Dias (2000), Fonseca (2001), Raffestin (1993), Santana
(2004) e Santos (1997), no que se refere aos temas rede e rede urbana. Cada autor
destaca sua linha de pensamento, contudo, convergem para a funcionalidade a qual a
rede se propõe. Neste sentido, trazemos não uma conclusão, mas, a convergência das
idéias destes autores acerca do estudo da rede urbana, complexa e estruturada a partir de
elementos técnicos e sociais, importantes e imprescindíveis para a sua funcionalidade.
Palavras-chave: Rede. Rede urbana. Fundamentação teórica.
1 Introdução
Em função de sua importância, no que
tange à explicação e ao funcionamento das
cidades, o conceito rede vem sendo
bastante discutido entre profissionais de
diversas áreas. O presente artigo tem como
objetivo apresentar uma abordagem sobre
o referido conceito, enfocando mais
especificamente rede urbana, bem como
expor uma fundamentação teórica entre
autores com abordagens diferenciadas.
Sendo assim, faremos uma síntese histórica
sobre o tema proposto, ressaltando a
contribuição de alguns autores para o
desenvolvimento e aperfeiçoamento deste
conceito.
Devido à complexidade que envolve uma
série de elementos para sua compreensão,
os conceitos rede e rede urbana não devem
ser entendidos aqui como conceitos
acabados. O intuito ao qual nos propomos
trabalhar tais conceitos é trazer a discussão
destes, abordando as correntes e os
posicionamentos de outros autores que se
propuseram a discuti-los. Com isso,
confrontaremos as idéias e opiniões de
alguns autores acerca dos conceitos aqui
apresentados.
2 O conceito de rede
O conceito de redes segundo Santana
(2004) provém do latim retiolus, que
embasado em Daniel Parochia “designa um
conjunto de linhas entrelaçadas”. Em um
período anterior de nossa história
percebemos como a analogia das linhas
nos remete ao sentido de ligação, de junção
de pontos separados pelas linhas acima
citadas.
Para a análise do conceito de rede urbana,
é de fundamental importância retratar
inicialmente, como surgiu e o que
significou para alguns estudiosos o
conceito de rede, o seu desenvolvimento e
__________________
¹ Graduandos em Bacharelado em Geografia pela Universidade Estadual de Feira de Santana
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crescimento nas produções literárias. De
acordo com Santana (2004, p.62):
[...] esta riqueza dos estudos sobre redes tem
resultado em uma grande produção literária.
Esta produção pode ser encontrada nas mais
diversas disciplinas, no Urbanismo,
Arquitetura,
Geografia,
Economia,
Sociologia e História.
Observa-se, portanto, que o estudo das
redes, nas diversas ciências, tem sido
trabalhado de acordo com seus interesses
específicos.
Fonseca (2002), ainda nos traz a idéia de
redes num sentido de entrelaçamento de
fios e nós articulados, formando uma
malha, que seria:
(...) o contínuo do tecido que agregam os
fios e os nós. Nos estudos de redes urbanas,
normalmente vinculam-se os nós aos centros
que funcionalmente se articulam via fios,
que são estradas de ferro e de rodagem, rios,
por onde ocorrem os fluxos (FONSECA,
2002, p. 2).
Dias (1995 p.143) diz que “o termo redes
não é recente, tão pouco a preocupação de
compreender seus efeitos sobre o
território”. Assim, as redes desde muito
tempo se constituíram como importante
locus
de
estudos,
diante
das
transformações que as cidades sofreram, a
partir da sua propagação.
Raffestin (1993, p.204) em sua obra Por
uma Geografia do Poder, afirma que:
a rede aparece [...] como fios seguros de
uma rede flexível que pode se moldar
conforme as situações concretas e, por isso
mesmo, se deformar para melhor reter. A
rede é proteiforme, móvel e inacabada, e é
desta falta de acabamento que ela tira sua
força no espaço e no tempo: se adapta as
variações no espaço e as mudanças que
advém do tempo. A rede faz e desfaz as
prisões do espaço, tornando território: tanto
libera como aprisiona.
As idéias desenvolvidas pelos autores
citados, revelam que as redes se
configuram como elementos mutáveis, que
a todo o momento se readaptam a uma
nova configuração das suas formas para
atender as novas e constantes mudanças
em que a sociedade está passando.
Santos (1997), apesar de considerar que as
definições e conceituações sobre redes se
multiplicam, aborda este conceito sob duas
grandes matrizes: a que leva em
consideração a realidade material, e outra
que leva em conta também o dado social.
A rede observada sob o aspecto material
refere-se à infra-estrutura que permite o
transporte de matéria, energia ou
informação (rede técnica), enquanto que a
rede analisada a partir de uma perspectiva
social (rede social) refere-se às pessoas,
mensagens e valores que se utilizam desta
infra-estrutura.
Também trazendo as redes sobre duas
perspectivas, Santana (2004, p. 64 e 65)
discorre que:
As redes se distribuem espacialmente por se
constituírem como elementos espaciais
concretos e sócio-espaciais. Elementos
espaciais concretos porque podem ser
constituídos de elementos sólidos, portanto
tangíveis, com clara presença sobre o
território fazendo parte da estrutura espacial
de uma sociedade, como as rodovias, redes
de energia elétrica e fios de telefone. Sócioespaciais porque não se explicam por isso,
mas pela sua presença e contribuição nas
relações sociais e de produção, porque
podem agilizar os processos sociais de
reprodução da sociedade, na medida em que,
ao ser parte do espaço geográfico, também é
suporte, porque as relações são construídas
quotidianamente como resultado das
relações sociais, suporte para estas; porque
por vezes intangíveis ainda assim permitem
e ou restringem a circulação, de bens e de
pessoas.
Observa-se que há uma interdependência
destas duas concepções de redes proposta
por Santos e Santana, pois estas existem
em sua forma e função. Assim, dependem
tanto da estrutura material, quanto dos
aspectos sociais que lhe dão dinamicidade.
3 Rede Urbana
A idéia de rede urbana não é nova e
estabelece relações materiais e imateriais
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desde que surgiu. No período anterior à
revolução industrial, por exemplo, as
cidades portuárias foram centros de
urbanização por estabelecerem relações
comerciais e de transporte. Com a
Revolução industrial e a consolidação do
capitalismo, aceleraram-se os processos
que gerariam fluxos materiais e não
materiais. Neste sentido, de acordo com
Dias (2000 p.141-142):
Uma leitura da história das técnicas nos
mostra o quanto as inovações nos transportes
e nas comunicações redesenharam o mapa
do mundo no século 19. Tratava-se de um
período caracterizado pela consolidação e
sistematização de inovações realizadas
anteriormente. As trilhas e os caminhos
foram progressivamente substituídos pelas
estradas de ferro no transporte de bens e
mercadorias; com o advento do telégrafo e
em seguida do telefone, a circulação das
ordens e das novidades já dispensava a
figura do mensageiro. Todas estas
inovações, fundamentais na história do
capitalismo mundial, se inscreveram e
modificaram
os
espaços
nacionais,
doravante sulcados por linhas e redes
técnicas que permitiram maior velocidade na
circulação de bens, de pessoas e de
informações.
Assim, os meios de comunicação
desligam-se do caminho da matéria. Esta
revolução cria uma nova configuração de
rede urbana, pois permite a conexão de
áreas
distantes
utilizando
menor
quantidade de tempo.
Dias (2000) em sua obra Redes:
emergências e organização observa a
aceleração do ritmo da inovação de vários
campos, como das engenharias e das
técnicas de comunicação e a capacidade
virtual de criar condições sociais inéditas,
modificando a ordem econômica mundial,
a partir da década de 1970, “encurtando as
distâncias” e permitindo a maior
velocidade da circulação de bens, pessoas e
informações. A esta nova configuração
espacial, Dias (2000, p. 14) denominou
Redes Técnicas, que segundo a autora:
[...] surgiram em respostas a uma demanda
social
antes
localizada
do
que
uniformemente distribuída. Com a ferrovia,
a telegrafia, a telefonia e finalmente a
teleinformática, a redução do lapso de tempo
permitiu instalar uma ponte entre lugares
distantes: doravante eles são virtualmente
aproximados (DIAS, 2000, p.14).
Com o advento da evolução das redes
técnicas percebe-se que o crescimento e o
desenvolvimento social trazido pela
evolução capitalista passam a reestruturar e
modificar
os
espaços
nacionais,
imprimindo uma nova configuração da
sociedade atual a partir do crescimento de
novas redes urbanas.
Ainda nessa discussão, Harwey
(apud FONSECA, 2001, p.4) desenvolve a
idéia de que:
o crescente processo de inovação e uso desse
equipamentos vem mudando a base material
da sociedade em ritmo acelerado, onde a
instantaneidade na qual são estabelecidas
ligações entre pessoas localizadas nos
lugares mais longínquos do planeta, cria-se a
sensação de uma compressão do tempo e do
espaço.
A rede urbana segundo Corrêa (1989,
p.05), “é o meio através do qual a
produção, circulação e consumo se
realizam. Via rede urbana e a crescente
rede de comunicações a ela vinculada,
distantes regiões puderam ser articuladas,
estabelecendo uma economia mundial”.
Baseado na teoria das localidades centrais
de Christaller, Corrêa (1989) explica que a
circulação, resultante da articulação entre
os núcleos urbanos, reforça a diferenciação
no que tange o volume de produtos
comercializados e atividades políticas
administrativas entre as localidades. Essa
diferenciação traduz-se, portanto, como
uma hierarquia entre os centros urbanos.
A teoria das localidades centrais,
desenvolvida por Chistaller em 1933,
explica a formação e desenvolvimento dos
centros urbanos. Características que
determinam a relação dos centros urbanos
com as demais localidades, como áreas de
mercado, designam sua idéia de
importância. Christaller, no entanto, não se
preocupa com a localização, mas com a
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organização do espaço, pois segundo o
autor a centralidade é definida pela
capacidade de oferecer bens e serviços (de
melhor qualidade) para outras localidades.
Neste sentido, as discussões desenvolvidas
por Corrêa sobre rede urbana, estão
fundamentadas na teoria das localidades
centrais proposta por Christaller na década
de 1930, visto que, para Corrêa a rede
urbana se caracteriza como: “um conjunto
de centros funcionalmente articulados e
que reflete e reforça as características
sociais e econômicas de um território”,
compreendida aqui como uma hierarquia
urbana.
FIGURA 01 - REDE DENDRITICA
Fonte: http://www.scielo.br/img/revistas/ea/v20n57/a18
fig04.gif
FIGURA 02- REDE URBANA COMPLEXA
Fonte: http://www.wisetel.com.br/images/image42.gif
Corrêa (2000) apresenta dois tipos de redes
urbanas, uma dendrítica (figura 1) e outra
Complexa (figura 02), demonstrando a
hierarquia de redes urbanas:
4 Considerações Finais
Ao abordar conceitualmente rede e rede
urbana, foi necessário fazer um resgate do
conceito rede na visão de autores que
contribuíram direta ou indiretamente para a
compreensão e desenvolvimento do estudo
aqui proposto. Após a análise de Dias
(2000), Raffestin (1993), Santana (2004),
Fonseca (2001), Christofoletti e Santos
(1997), constatou-se uma convergência de
idéias no que se refere ao posicionamento
destes no que tange à dinamicidade das
redes.
Os autores chegaram à conclusão que o
estudo da rede urbana não é recente, mas
complexa e estruturada a partir de
elementos técnicos e sociais, que são
imprescindíveis para a sua funcionalidade.
Estas idéias revelam a importância do
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estudo em que o conceito rede, em
particular rede urbana, trouxe para as
diversas ciências. Assim, não é proposto
aqui um conceito que seja o mais
completo, mas a existência de importantes
estudos conceituais construídos para
pesquisas futuras.
5 Referências
CORRÊA, R. L. A Rede Urbana. São
Paulo: Ática,1989.
DIAS, L. C. Redes: emergência e
organização In: Geografia: conceitos e
temas. 2. ed . Bertrand, Rio de Janeiro,
2000.
FONSECA, A. A. M.; O´NEILL, M.M. A
revolução tecnológica e informacional e o
renascimento das redes. Revista de
Geociências, Niterói, RJ, v. 2, p. 26-35,
2001.
RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do
poder. São Paulo: Ática, 1993.
SANTANA, M. R.C. Redes Técnicas: os
avatares geográficos da cidade mediada
eletronicamente.
In:
Reflexões
e
Construções
Geográficas
Contemporâneas. Salvador: Copyright,
2004.
SANTOS, M. A Natureza do espaço:
técnica e tempo, razão e emoção. São
Paulo: Hucitec, 1997.
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