Neurocirurgião desenvolve técnica que proporciona mais

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Campinas, 10 a 16 de maio de 2010
Foto: Antoninho Perri
O neurocirurgião
Feres Eduardo
Aparecido
Chaddad Neto:
testes em
130 pacientes
e nível
de acerto
próximo
a 100%
Portadores
de epilepsia
e aneurisma
cerebral
podem ser
beneficiados
com
procedimento
Neurocirurgião desenvolve técnica que
proporciona mais segurança a pacientes
JEVERSON BARBIERI
U
[email protected]
ma nova técnica desenvolvida
pelo neurocirurgião Feres Eduardo Aparecido
Chaddad Neto,
do Hospital de Clínicas (HC) da
Unicamp, certamente mudará a
maneira como são executados
os procedimentos cirúrgicos realizados na cabeça de pacientes
portadores de aneurisma cerebral
e epilepsia. Um estudo detalhado,
calculado com medidas matemáticas baseado em pontos fixos do
crânio, é responsável por determinar qual é o melhor posicionamento do órgão, principalmente para
aneurismas da circulação anterior e
para amígdalo-hipocampectomia,
que é um dos tipos de cirurgia para
epilepsia. Trata-se, de acordo com
Chaddad, de uma pesquisa inédita
em termos mundiais. “O que havia
antes disso eram apenas relatos
informais sobre rotação e deflexão – que significa a alteração ou
desvio da posição natural para um
dos lados – da cabeça. Partimos
desses estudos e, baseados em
nossa experiência diária, chegamos a esse importante resultado”,
disse. Desde 2006, 130 pacientes
foram testados nos mais diversos
ângulos e o nível de acerto chegou
muito próximo a 100%, segundo
o neurocirurgião. O trabalho resultou na tese de
doutorado defendida por Chaddad
em fevereiro último, orientada
pelo doutor Evandro Pinto da
Luz de Oliveira, do departamento
de Neurologia, da Faculdade de
Ciências Médicas (FCM). Além
disso, um artigo contendo todos
os resultados da pesquisa foi submetido e aceito para publicação na
revista Neurosurgery, veículo de
comunicação oficial do Congresso
Internacional de Neurocirurgiões,
cuja circulação é de âmbito internacional.
Chaddad, que juntamente com
seu orientador também realiza
cirurgias no Hospital Beneficência Portuguesa na cidade de São
Paulo, explicou que os primeiros
testes foram realizados com cadáver formolizado no Laboratório
de Microcirurgia da Beneficência, objetivando buscar o melhor
posicionamento. Numa segunda
etapa, o trabalho foi executado
em cadáver fresco no Serviço de
Identificação de Óbitos, também
na capital paulistana. Os resultados observados com relação
ao posicionamento no cadáver
formolizado foram comparados
com os obtidos no cadáver fresco.
Somente após essas etapas é que
o estudo foi dirigido a pacientes
vivos. “É, portanto, um estudo
único no mundo”, ressaltou. O médico observou que a
posição da cabeça depende muito
da estrutura a ser operada. No
caso dos aneurismas cerebrais,
por exemplo, depende fundamentalmente do segmento da artéria
onde estes estão localizados. Essa
informação é obtida através de
uma angiografia cerebral. Já para
a amígdalo-hipocampectomia,
uma ressonância magnética é
que determinará qual o melhor
posicionamento da cabeça para a
cirurgia. Chaddad acrescenta ainda que
a técnica proporciona ao paciente
uma segurança maior, porque
melhora substancialmente a exposição da patologia e também das
estruturas relacionadas a ela, seja
neuronal ou vascular. No que diz
respeito ao trabalho do cirurgião,
melhora o ângulo de visão do microscópio nas diferentes posições,
dando assim um maior conforto
durante o procedimento. “Dessa
maneira, diminui sensivelmente
o risco na cirurgia, causando uma
queda da taxa de morbidade e de
mortalidade. Sem dúvida alguma,
é mais seguro para o paciente”,
garantiu o neurocirurgião. Movimentos
O posicionamento apresenta
quatro movimentos: a elevação, a
extensão, a deflexão e a deflexão
lateral. De posse dos dados de
como se faz para movimentar a
cabeça do paciente, para colocála no espaço de tal forma que
se tenha a melhor exposição à
patologia, Chaddad contou que
deixa o médico residente fazer
o primeiro posicionamento para,
logo após, corrigir e mostrar onde
está errado. Esse procedimento,
para o neurocirurgião, é bastante
importante porque dá a oportunidade aos novos especialistas
de estar em permanente contato
com uma técnica de ponta. “Isso é
capacitação, formação de recursos
humanos”, diz.
Como forma de ilustrar uma
situação real, o docente tomou
como exemplo um aneurisma do
segmento oftálmico. “Se eu fizer
uma grande deflexão da cabeça,
seguramente vou aprofundar o
aneurisma e, no momento de drilar
um pequeno osso, terei dificuldades para visualizar o problema.
Muitas vezes isso ocasiona o
rompimento do aneurisma, podendo resultar em morte. O posicionamento é praticamente 50% da
cirurgia. A outra metade fica por
conta da técnica do cirurgião combinada com as condições gerais
do paciente”, afirmou Chaddad.
O neurocirurgião anunciou para
breve a edição de um handbook
contendo o passo-a-passo do procedimento. Fruto de sua pesquisa de doutorado, Chaddad foi convidado a
dar três aulas em congressos na-
cionais. “Quando estive em Natal
(RN) fui contatado por outros experientes neurocirurgiões que me
convidaram para dar essa mesma
aula em outras localidades, o que
prova que a técnica foi amplamente aprovada”, disse. A comunidade
científica internacional também
já se manifestou positivamente e
convites para falar fora do Brasil
já estão surgindo. “Fazemos cirurgias todos os dias da semana e, em
algumas oportunidades, também
aos finais de semana. Os dados
informados na tese foram obtidos
até o final de 2009, mas o trabalho
de medição dos ângulos prossegue
de maneira rotineira”, concluiu. ..............................................
Artigo
Artigo aceito para
publicação na revista
Neurosurgery
Tese de doutorado “Estudo
do posicionamento nas
craniotomias pterionais, prétemporais e orbitozigomáticas
e suas variações nas cirurgias
vasculares e de epilepsia”
Autor: Feres Eduardo
Aparecido Chaddad Neto
Orientador: Evandro Pinto da
Luz de Oliveira
Unidade: Faculdade de
Ciências Médicas (FCM)
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