Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759 DESAFIOS NA ELABORAÇÃO DE UMA MAQUETE GEOLÓGICA DO ESTADO DO PARANÁ. NETO SÁ , Idenir de Fátima Manerich; LOPES, Mário Cezar; LICCARDO, Antonio 1 – Introdução Maquetes são representações em escala que oferecem uma perspectiva diferente daquela utilizada em mapas e plantas (Rosa 2012). A possibilidade de mostrar diferentes temáticas que se cruzam em três dimensões proporciona certa interação com o observador que outras representações não conseguem. Para Santos (2009, p.14) “Por meio de uma maquete é possível ter o domínio visual de todo conjunto espacial que é sua temática e por ser um modelo tridimensional, favorece a relação entre o que é observado no terreno e no mapa.” Em 2011 o projeto Geodiversidade na Educação, registrado junto à Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários (PROEX 244/11), recebeu como doação do Instituto Ambiental do Paraná uma maquete do Estado para possível uso didático. Esta maquete, com 2,00m de comprimento por 1,25m de largura apresentava pequenos problemas de deterioração e, originalmente, apresentava uma temática ligada às questões florestais, sem possibilidade, entretanto, de aproveitamento deste conteúdo. A representação tridimensional do Estado do Paraná com o seu relevo característico é normalmente a parte mais difícil de se realizar em grande formato, exigindo técnica acurada, materiais de suporte adequados e precisão para uma representação em escala fiel, além de um tempo de realização muito maior. Por isso esta maquete doada, mesmo com pequenos problemas, despertou grande interesse, já que a representação da geomorfologia estava já construída. A implantação do conteúdo do mapa geológico do Paraná sobre o relevo da maquete apresenta um caráter inovador, pois a única representação do gênero no Estado encontra-se na Mineropar (Serviço Geológico do Estado) e mostra características muito diferentes, com dimensões bem maiores, forte exagero vertical, perfil geológico em profundidade e distorções propositais para enfatizar as litologias. O objetivo de aproveitar esta maquete foi de apresentar a estreita correlação da geomorfologia paranaense com a sua constituição geológica básica e, ainda, contextualizar o visitante com alguns aspectos da geografia física do Paraná. A técnica, supostamente simples, de projetar o mapa sobre a maquete e registrar os detalhes por pintura manual, mostrou suas principais dificuldades com o desenrolar do processo e algumas soluções foram criadas para efetivar a adequação, considerando fatores estéticos, didáticos e científicos. 2 – Metodologia Para a sobreposição do conteúdo geológico sobre a maquete utilizou-se um projetor multimídia com a imagem digital do Mapa Geológico do Paraná em versão simplificada, produzido pela Mineropar em 2001 e reimpresso em 2004. Este mapa apresenta as principais subdivisões lito-estratigráficas agrupadas em Grupos e Formações, utilizando as cores internacionalmente aceitas para as representações cartográficas em geologia, definidas por códigos digitais. 40 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759 O primeiro desafio foi a escolha das cores de representação, pois não existe tal variação de tons entre as tintas utilizadas e, ainda, na representação da maquete o detalhamento do mapa apresentaria uma forte poluição visual com excesso de tons, símbolos e sutilezas. As representações lito-estratigráficas foram então simplificadas para 21 cores, sendo que a maior parte das modificações aconteceu na área do Primeiro Planalto Paranaense, onde se encontra a maior complexidade geológica do Estado. A partir da projeção, optou-se pela utilização da técnica manual de pintura (pincel), descartando-se a possibilidade de uso do aerógrafo ou técnicas semelhantes por dispersão da tinta. Na escala em que a maquete foi construída, o detalhamento exigido e o nível de adaptações inviabilizaram esta técnica e conduziram a um trabalho bastante artesanal, mais lento e meticuloso. Também a partir da projeção verificou-se um nível elevado de distorções e localização de rios incorreta, o que conduziu a profundas modificações em muitas partes da representação geomorfológica. Reconstruir certas partes significou utilizar os mesmos materiais e técnicas aplicados originalmente – serragem, isopor, cola, resina – ou adaptar novos materiais disponíveis, mantendo a fidelidade estética e científica. O quadro 1 apresenta imagens da maquete recebida (pré-restauração), do mapa geológico utilizado e das diferentes etapas do trabalho. Quadro 1 – Imagens da maquete do Estado do Paraná recebida como doação do IAP (A), com o Mapa Geológico do Paraná, desenvolvido pela Mineropar (B) e as etapas de construção da maquete geológica que será exposta no saguão do Bloco L da UEPG (C,D, E,F). 41 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759 Fotos A. Liccardo Uma fase de refinamento vem sendo realizada em função de aspectos conceituais e de fidelidade. Certas litologias formam relevos positivos, enquanto que outras serão predominantemente fundos de vale ou baixios topográficos, o que deve necessariamente transparecer na maquete. Alguns ajustes deverão ser feitos com base em conceitos de geologia regional, pois as distorções do modelo e da projeção muitas vezes não coincidem, exigindo adaptações em função de aspectos visuais e com exatidão científica. A última etapa, que é a instalação no local de exposição exigirá uma adequação dos suportes físicos à altura de visualização, tendo-se em conta a visitação de crianças e jovens, além da colocação de uma cobertura de vidro para a preservação geral contra pó e umidade. 3 – Resultados A finalização da maquete e sua instalação definitiva devem ocorrer ainda em 2012 e visualmente ela cumpre a proposta de apresentar um panorama da constituição geológica do Paraná ao público leigo e para estudantes de várias áreas e graus de instrução. Geologicamente o resultado apresenta a nítida compartimentação geológico-geográfica do Paraná, assim como os diferentes graus de complexidade entre os compartimentos, especialmente entre as unidades da Bacia Sedimentar do Paraná e do Escudo Cristalino. Ficam evidentes as relações entre a composição geológica dos terrenos e as paisagens físicas resultantes dos processos endógenos e exógenos que atuaram sobre este cenário. No processo de elaboração houve um grande aprendizado com a familiarização em relação à geologia geral do estado e aos principais problemas relativos ao mapeamento geológico do Estado e sua representação cartográfica. O produto final, reciclado a partir de materiais já existentes, apresenta um grande potencial para incrementar a aprendizagem de um tema que normalmente exigiria muitas horas de aula com as ferramentas normais de ensino. O Quadro 2 apresenta uma imagem da maquete instalada no saguão do Bloco L, com a proteção de vidro e altura adequada para sua utilização. 42 Anais Semana de Geografia. Volume 1, Número 1. Ponta Grossa: UEPG, 2012. ISSN 2317-9759 Quadro 2 – Instalação final da maquete no saguão do Bloco L da UEPG. A altura de exposição planejada possibilita acesso visual a crianças e a cobertura de vidro foi projetada para vedar a entrada de poeira e proteger partes frágeis. Fotos A. Liccardo 4 - Considerações finais Um projeto como a recuperação de um trabalho desta envergadura traz muitos desafios. Um deles se refere à adequação do relevo, já existente na maquete, com a geologia, já que cada feição geomorfológica representa épocas muito diferentes. Foi necessário realizar uma simplificação da representação geológica nas rochas do Primeiro Planalto e Serra do Mar, devido à sua complexidade. Para o desenvolvimento deste trabalho o ideal teria sido um espaço adequado, uma oficina, preferencialmente dentro da universidade; diante da falta deste local, foi necessário utilizar um espaço particular, tendo em vista o tamanho da maquete, e os materiais utilizados. Os desafios, entretanto, foram superados e os resultados serão avaliados ao longo de sua exposição para os visitantes e estudantes em geral. Referências bibliográficas MINEROPAR – Mapa Geológico do Paraná, 2004. Pdf (http://www.mineropar.pr.gov.br) ROSA, L.C. O uso da maquete como ferramenta de construção do saber geográfico. In Rev. Técnico Científica (IFSC), v. 3, n. 1 (2012) p.735. SANTOS, C. A maquete no ensino de geografia. 1.ed. Santo André: Ed. Record, 2009.132p 43