1ª Prova de Física II - FCM0102 #USP: Nome: 30 de agosto de 2012 1. (2,5 pontos) Pretende-se encher um balde usando uma torneira de vazão I = 1, 0 × 10−5 m3 /s. Entretanto, o fundo do balde possui um furo de área A = 5, 0 mm2 por onde a água vaza (vide Fig. 1). (a) (2,0 pontos) Qual é a altura máxima h que a água atinge dentro do balde? Assuma escoamento laminar e despreze a viscosidade da água. (b) (0,5 ponto) Se o fluxo fosse viscoso, a altura atingida seria maior ou menor que no item (a)? Justifique. 2. (2,5 pontos) Um recipiente cilíndrico está cheio até a borda de um líquido de densidade ρ. Quando o recipiente é colocado em uma balança, o peso medido é W . Uma esfera de massa m e volume V , com densidade menor do que a do líquido, é empurrada lentamente para dentro do líquido usando uma barra rígida muito fina até que a esfera esteja completamente submersa como mostra a figura 2(a). (a) (0,5 ponto) Qual é a massa do líquido que transbordou enquanto a esfera era mergulhada? (b) (1,0 ponto) Qual é a leitura da balança quando a esfera está completamente submersa, assumindo que todo o fluido que transbordou foi retirado da balança? Sugestão: pense nas forças sobre a balança, sobre o líquido e sobre a esfera segundo as leis de Newton. (c) (1,0 ponto) Se ao invés de ser empurrada por uma barra fina, a esfera for presa ao fundo do recipiente por uma corda muito fina (vide Fig. 2(b)), qual será a leitura da balança depois que todo o fluido que transbordou for retirado da balança? I h v Figura 1: Balde com vazamento. (a) (b) Figura 2: puxo. Balança e em- 3. (2,5 pontos) Considere um planeta líquido, formado por uma distribuição esfericamente simétrica de massa de um fluido incompressível de densidade ρ. Se o raio do planeta é R e a pressão se anula na superfície (não há atmosfera), calcule a pressão dentro do planeta em função da distância r ao centro. Dica 1: a derivada da pressão é igual à densidade de força volumétrica. Ou dica 2: a pressão em um ponto é dada pelo peso da coluna de fluido acima daquele ponto (vide fig. 3). r R 4. (2,5 pontos) Imagine um “cabo espacial” (“skyhook ”) que consiste de uma longa corda de comprimento L alinhada com a direção radial a partir do centro da Terra. O cabo, que é homogêneo e tem massa total m, orbita em torno do equador com velocidade angular ω igual à de rotação da Terra. A ponta inferior da corda está solta logo acima da superfície da Terra (raio R) e o cabo é mantido em rotação devido apenas à atração gravitacional. (a) (1,0 ponto) Calcule a força gravitacional resultante que a Terra exerce sobre o cabo. (b) (1,0 ponto) Escreva a força centrípeta que atua sobre um elemento de massa sobre a corda a uma distância r do centro da Terra para que este gire com velocidade angular ω. Integrando sua expressão, calcule a força centrípeta total. (c) (0,5 ponto) Comparando os resultados dos itens (a) e (b), qual deve ser o comprimento L do cabo para que ele descreva a órbita desejada em torno da Terra? Dados: G = 6, 67 × 10−11 N/m2 ·kg2 ; massa da Terra MT = 5, 97 × 1024 kg; raio da Terra R = 6, 37 × 106 m. Figura 3: Empuxo planetário. ω L R Figura 4: Cabo espacial. 2 GABARITO: 1. (a) O nível da água no balde sobe até que a vazão de saída se iguale à vazão de entrada. Se v é a velocidade com que a água sai do furo, a condição é I = Av. O valor de v é dado pela equação de Bernoulli. Tomando o ponto 1 sobre a superfície da água dentro do balde, temos p1 = patm , z1 = h (para altura medida a partir do fundo do balde) e v1 = 0. Tomando o ponto 2 logo na saída do furo, temos p2 = patm , z2 = 0 e v2 = v. Usando a equação de Bernoulli: 1 1 p1 + ρv12 + ρgz1 = p2 + ρv22 + ρgz2 , 2 2 ⇒ ρgh = 1 2 ρv , 2 ⇒ h = 20 cm . ⇒ v= p 2gh. Substituindo na condição de equilíbrio das vazões, obtemos I=A p 2gh, ⇒ h= I2 , 2gA2 (b) A altura seria maior. Para uma dada altura h, a velocidade na saída pelo furo diminui quando o fluido é viscoso porque parte da energia potencial gravitacional no ponto 1 sobre a superfície é dissipada em calor durante o escoamento. Por isso o fluido tem de partir de uma altura maior para atingir a mesma velocidade v na saída tal que Av = I. 2. (a) A esfera desloca um volume V de líquido quando submersa. A massa desse volume de líquido é M = ρV (b) A leitura W1 da balança é igual ao módulo da força que o líquido exerce sobre ela (podemos imagniar que o fundo do recipiente está colado à balança). Como o líquido está em equilíbrio, a soma das forças sobre ele deve ser nula. Denotando por ẑ o vetor unitário na direção vertical para cima, existem três forças sobre o líquido: (i ) a reação da força sobre a balança, que aponta para cima e é dada por W1 ẑ; (ii ) o peso do próprio líquido que sobrou, dado por ~ = −ρgV ẑ −(W − ρV g)ẑ; (iii ) a força que a esfera exerce sobre o líquido, que é a reação do empuxo e é dada por −E (pois se o líquido empurra a esfera para cima, a esfera empurra o líquido para baixo). Para que o líquido esteja em equilíbrio, devemos ter W1 − (W − ρV g) − ρgV = 0, ⇒ W1 = W (c) Neste caso, a leitura W2 da balança é igual em módulo à força que o líquido exerce sobre ela menos a tensão T na corda, que puxa a balança para cima. A força que o líquido exerce sobre a balança é determinada pela condição de equilíbrio do líquido e é a mesma força de módulo W1 do item anterior. Para que a esfera esteja em equilíbrio, o módulo T da tensão na corda deve ser tal que T + mg = E = ρV g, ⇒ T = ρV g − mg. Logo a leitura da balança neste caso é W2 = W1 − T, ⇒ W2 = W − ρV g + mg. Como m < ρV pois a esfera é menos densa do que o fluido, temos W2 < W . 3. A densidade de força gravitacional num ponto que dista de r do centro pode ser calculada usando o teorema das cascas esféricas: 2 GM (r)ρ 4πGrρ f~ = − r̂ = − r̂, 2 r 3 onde G é a constante da gravitação universal. Usando a dica 1, temos que 4πGrρ2 dP =− , dr 3 ⇒ P (r) = cte − 2πGρ2 2 r , 3 3 onde a constante de integração pode ser calculada usando a condição de contorno de que na superfície do planeta P (r = R) = 0. Logo, P (r) = 2πGρ2 R2 − r 2 . 3 Pode-se chegar no mesmo resultado usando a dica 2. Nesse caso, devemos calcular o peso W da coluna de fluido ilustrada na fig. 3. Novamente usando o teorema das cascas esféricas encontramos que ˆ ~ = W r R GM (r0 )ρAdr0 4π − r̂ = GAρ2 02 r 3 ˆ R −r0 dr0 r̂, ⇒ W = r 2πGρ2 R2 − r2 A, 3 onde A é a área da base do cilindro. A pressão é então dada por P = W 2πGρ2 R2 − r 2 , + P0 = A 3 onde P0 = 0 é a pressão na superfície do planeta. 4. (a) Integrando a atração gravitacional entre o planeta e os elementos de massa ρdx do cabo, encontramos que ˆ R+L F~G = − R GM ρdx r̂, x2 ⇒ GM m r̂ , F~G = − R (R + L) onde ρ = m/L é a densidade do cabo. (b) A força centrípeta em um elemento de massa do cabo que dista de x do centro do planeta e tem comprimento dx é igual a −acp dmr̂ = −ρω 2 xdxr̂. Integrando a expressão acima, ˆ R+L F~cp = − ρω 2 xdxr̂, ⇒ R 1 F~cp = − mω 2 (2R + L) r̂ . 2 (c) Igualando FG = Fcp , temos que 1 2 GM ω (2R + L) = , 2 R (R + L) ⇒ 3R L=− + 2 s 2GM + Rω 2 R 2 onde a solução negativa não tem sentido físico. Substituindo os valores dados, L = 1, 44 × 108 m, que é em torno de 37% da distância entre a Terra e a Lua, ou 23 vezes o raio da Terra. 2 ,