a 2 SÉRIE ENSINO MÉDIO Caderno do Professor Volume 1 ARTE Linguagens GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO SECRETARIA DA EDUCAÇÃO MATERIAL DE APOIO AO CURRÍCULO DO ESTADO DE SÃO PAULO CADERNO DO PROFESSOR ARTE ENSINO MÉDIO – 2a SÉRIE VOLUME 1 Nova edição 2014 - 2017 São Paulo Governo do Estado de São Paulo Governador Geraldo Alckmin Vice-Governador Guilherme Afif Domingos Secretário da Educação Herman Voorwald Secretário-Adjunto João Cardoso Palma Filho Chefe de Gabinete Fernando Padula Novaes Subsecretária de Articulação Regional Rosania Morales Morroni Coordenadora da Escola de Formação e Aperfeiçoamento dos Professores – EFAP Silvia Andrade da Cunha Galletta Coordenadora de Gestão da Educação Básica Maria Elizabete da Costa Coordenadora de Gestão de Recursos Humanos Cleide Bauab Eid Bochixio Coordenadora de Informação, Monitoramento e Avaliação Educacional Ione Cristina Ribeiro de Assunção Coordenadora de Infraestrutura e Serviços Escolares Ana Leonor Sala Alonso Coordenadora de Orçamento e Finanças Claudia Chiaroni Afuso Presidente da Fundação para o Desenvolvimento da Educação – FDE Barjas Negri Senhoras e senhores docentes, A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo sente-se honrada em tê-los como colaboradores nesta nova edição do Caderno do Professor, realizada a partir dos estudos e análises que permitiram consolidar a articulação do currículo proposto com aquele em ação nas salas de aula de todo o Estado de São Paulo. Para isso, o trabalho realizado em parceria com os PCNP e com os professores da rede de ensino tem sido basal para o aprofundamento analítico e crítico da abordagem dos materiais de apoio ao currículo. Essa ação, efetivada por meio do programa Educação — Compromisso de São Paulo, é de fundamental importância para a Pasta, que despende, neste programa, seus maiores esforços ao intensificar ações de avaliação e monitoramento da utilização dos diferentes materiais de apoio à implementação do currículo e ao empregar o Caderno nas ações de formação de professores e gestores da rede de ensino. Além disso, firma seu dever com a busca por uma educação paulista de qualidade ao promover estudos sobre os impactos gerados pelo uso do material do São Paulo Faz Escola nos resultados da rede, por meio do Saresp e do Ideb. Enfim, o Caderno do Professor, criado pelo programa São Paulo Faz Escola, apresenta orientações didático-pedagógicas e traz como base o conteúdo do Currículo Oficial do Estado de São Paulo, que pode ser utilizado como complemento à Matriz Curricular. Observem que as atividades ora propostas podem ser complementadas por outras que julgarem pertinentes ou necessárias, dependendo do seu planejamento e da adequação da proposta de ensino deste material à realidade da sua escola e de seus alunos. O Caderno tem a proposição de apoiá-los no planejamento de suas aulas para que explorem em seus alunos as competências e habilidades necessárias que comportam a construção do saber e a apropriação dos conteúdos das disciplinas, além de permitir uma avaliação constante, por parte dos docentes, das práticas metodológicas em sala de aula, objetivando a diversificação do ensino e a melhoria da qualidade do fazer pedagógico. Revigoram-se assim os esforços desta Secretaria no sentido de apoiá-los e mobilizá-los em seu trabalho e esperamos que o Caderno, ora apresentado, contribua para valorizar o ofício de ensinar e elevar nossos discentes à categoria de protagonistas de sua história. Contamos com nosso Magistério para a efetiva, contínua e renovada implementação do currículo. Bom trabalho! Herman Voorwald Secretário da Educação do Estado de São Paulo SUMÁRIO Encontros escritos com professores de Arte O encontro entre arte e público 5 10 Proposição para sondagem – O encontro entre arte e público Situação de Aprendizagem 1 – Artes visuais Situação de Aprendizagem 2 – Teatro 21 Situação de Aprendizagem 3 – Dança 27 Situação de Aprendizagem 4 – Música 11 14 35 Situação de Aprendizagem 5 – Conexões com os territórios do processo de criação e das linguagens artísticas 39 Síntese e avaliação 41 Poéticas pessoais e/ou de processos colaborativos 43 Proposição para sondagem – Uma conversa sobre poéticas pessoais Situação de Aprendizagem 6 – Desdobramentos das linguagens da arte Situação de Aprendizagem 7 – Artes visuais Situação de Aprendizagem 8 – Música Situação de Aprendizagem 9 – Dança Situação de Aprendizagem 10 – Teatro 45 46 48 57 60 66 Situação de Aprendizagem 11 – Conexões entre os territórios de linguagens artísticas, forma-conteúdo e processo de criação 71 Síntese e avaliação Nutrição estética 73 74 Recursos para ampliar a perspectiva do professor e do aluno para a compreensão dos temas 75 Glossário 78 Artistas e obras 79 Quadro de conteúdos do Ensino Médio Gabarito 89 88 Arte – 2a série – Volume 1 ENCONTROS ESCRITOS COM PROFESSORES DE ARTE São muitos os encontros que ajudam a materializar os escritos deste Caderno do Professor de Arte. São encontros de várias naturezas: o encontro entre nós, professores autores, gerou conversas que cultivam a necessária abertura para pensar possíveis processos educativos em arte; o encontro com a arte e suas linguagens; o encontro com as linguagens da arte e suas paisagens distintas com olhos que observam as artes visuais, a dança, a música e o teatro; o encontro com o texto de Gilles Deleuze sobre o rizoma, que inspira a concepção do pensamento curricular em Arte imaginado para o andamento da composição deste Caderno. Gilles Deleuze e Félix Guattaria desenvolveram o conceito teórico de rizoma como um sistema aberto de relações semióticas, intrínsecas, cujos princípios de conexão, heterogeneidade, multiplicidade, ruptura, cartografia e decalcomania estabelecem uma antigenealogia, rompendo com a estrutura de procedência, com a cadência hierárquica e com todas as ordenações tradicionais da relação sujeito/ objeto, inclusive o conhecimento. O nome rizoma, emprestado da Botânica por se referir a ramificações que ocorrem, por exemplo, no processo de desenvolvimento das gramíneas, aplica-se à construção do conhecimento, enquanto conceito filosófico, quando tal construção é compreendida como um processo em que não há início preestabelecido tampouco fim, em um constante sistema de relações que permeia o sensível e o cognitivo do sujeito cognoscente. Assim, em um rizoma, o conhecimento se expande em rede de ligações contínuas entre “mil platôs”b, entendidos como territórios elevados. a b De posse do entendimento de que esse conceito de rizoma pertence à Filosofia, importa compreender quais são as relações possíveis entre um conceito filosófico e a Educação. Para tanto, é preciso ter ciência sobre o que é a Filosofia e o que é a Educação. Então, para simplificar e, ao mesmo tempo, provocar reflexão, pode-se considerar que a Filosofia é a busca do saber sobre a essência das coisas e a Educação, a vida em desenvolvimento. São afirmações aparentemente simples, porém trata-se de um sistema rizomático de entendimento de movimento em multiplicidade. Nesse movimento, é possível trazer para a Educação uma transposição do pensamento filosófico, aproveitando, assim, uma parte do seu todo, no intuito de provocar reflexão sobre questões da contemporaneidade, que permeiam os processos de ensino e aprendizagem da arte. A arte e a educação têm por natureza a condição de serem agentes promotores de processos exploratórios do saber. Tal condição torna possível a relação entre o rizoma e o ensino da Arte na Educação Básica, que culmina em um pensamento curricular irradiado no mapa dos territórios artísticos, compreendendo esses territórios como mobilidades de construção dos saberes sobre a produção do conhecimento humano em arte. Um mapa posiciona a localização no espaço e no tempo, tornando-se um instrumento imprescindível para traçar rotas que levem ao destino desejado. No caso do Mapa dos “Territórios da Arte”, é possível utilizá-lo para traçar caminhos que permitam co- DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs – capitalismo e esquizofrenia. v. 1. São Paulo: Editora 34, 1995. p. 10-37. Ibidem, p. 10-37. 5 nhecer outros territórios antes mesmo de se alcançar o destino a que se objetiva, pois ele também possibilita a mudança de rota, por outros interesses despertados, para ampliar conhecimentos de novos destinos que se julgar importantes. A cada exploração nos territórios haverá novas descobertas imbuídas de implicações semióticas, estimulando o sujeito que vivencia o processo de conhecer e reconhecer os saberes estéticos e sensíveis da prática artística na Educação. Assim, em um rizoma, sua condição antigenealógica propicia liberdade para partir e chegar de quaisquer territórios mapeados, como também para agregar descobertas de outros territórios (platôs). Esse conceito se faz presente no Caderno do Professor, não para definir ou delimitar ideias, mas para provocar o professor de Arte a encontrar os próprios percursos, que o conduzirão na ampliação e no aprofundamento dos seus saberes estéticos e sensíveis. Como pensamento curricular em Arte, imaginamos a possibilidade de pensar as linguagens (artes visuais, dança, música e teatro) por meio da composição de um mapa que possuísse a capacidade de criar um encontro entre elas por diferentes ângulos de visão. Em um exercício de pensar sobre a arte na cultura e pinçar do próprio sistema de arte diferentes ângulos de visão sobre ela, é que avistamos e delineamos o mapeamento que chamamos de “Territórios da Arte”, como sendo: f linguagens artísticas; f processo de criação; 6 f materialidade; f forma-conteúdo; f mediação cultural; f patrimônio cultural; f saberes estéticos e culturais. Nesse movimento de dimensão cartográfica, como seria possível desenhar um mapa, criando um espaço para esses territórios? Como tornar mais visível o entendimento desse novo pensamento curricular? Como traçar um desenho sem núcleo central, capaz de mostrar que o mapa dos territórios oferece múltiplas entradas e direções móveis, com linhas variadas que podem se encontrar com outras linhas, fazendo conexões múltiplas e arranjos heterogêneos? Do encontro com a obra Estudo para superfície e linha, da artista Iole de Freitas, avistamos uma forma. Na obra, superfícies de policarbonato e linhas tubulares se retesam ou se descomprimem em generosos arqueamentos que nos levam a experiências sensoriais de interior e exterior, leve e pesado, contínuo e descontínuo. Essas constantes mutações sensoriais provocadas pela obra nos dão a sensação de uma arquitetura mole, na qual o curso da linha nos põe em movimento, a bailar no espaço em superfícies múltiplas. A obra nos faz imaginar. E, por proximidade, o curso da linha nos faz pensar em caminhos, em veredas, em uma imaginação fluida que abre passagem ao exercício de invenção de outra configuração para o curso dessa linha. © Sérgio Araújo © Sérgio Araújo Arte – 2a série – Volume 1 Figura 1 – Iole de Freitas. Estudo para superfície e linha, 2005. Instalação. Policarbonato e aço inox, 4,2 × 30,0 × 10,6 m. Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro (RJ). Figura 2 – Linhas para a configuração do Mapa dos ‘‘Territórios da Arte’’ a partir da obra de Iole de Freitas. Dessa outra configuração é que se tornou visível a imagem do Mapa dos “Territórios da Arte”c para esta proposta de pensamento curricular em Arte. Na composição do Caderno do Professor de Arte, cada volume tem como ênfase de estudo conceitos e conteúdos da Arte que são vistos em conexão com diferentes territórios. Os caminhos investigativos em sala de aula são lançados por: f Proposição para sondagem – traz imagens de obras ou ações expressivas relacionadas ao tema e às linguagens da arte. A sondagem possibilita que os aprendizes conversem, a partir de seu repertório pessoal, sobre os conceitos que serão estudados no volume. Ao professor, a escuta da conversa dos alunos possibilita planejar o encaminhamento das Situações de Aprendizagem sugeridas; Mapa dos ‘‘Territórios da Arte’’. O mapa ajuda a visualizar os “Territórios da Arte” como formas móveis de construção e organização de outro modo de estudo dessa disciplina no contexto escolar. O mapa, assim, é utilizado como um desenho, entre muitos outros possíveis, ligado ao conceito de rede, mostrando uma forma no tempo e no espaço de conduzir o estudo das artes visuais, da dança, da música e do teatro. c f Situações de Aprendizagem – problematizam o conceito e o conteúdo da Arte do ponto de vista dos territórios abordados e no contexto particular de cada uma das linguagens artísticas: artes visuais, dança, música e teatro; f Nutrição estética – diante do tempo das aulas, da realidade de sua escola, dos interesses de seus alunos, uma ou mais linguagens poderão ser retomadas com o objetivo de ampliar o repertório artístico e estético dos educandos. Nesse caso, Imagem criada por Mirian Celeste Martins e Gisa Picosque que apresenta a criação e composição do pensamento curricular em Arte para mapeamento de conceitos e conteúdos direcionados aos segmentos da 5a série/6o ano do Ensino Fundamental à 2a série do Ensino Médio, para a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, em 2007. 7 propomos a Nutrição estética para explorar, com mais profundidade, as imagens e ideias contidas nas proposições apresentadas, retomando os conceitos enfocados nas linguagens artísticas. Que o caminhar pelos “Territórios da Arte” aqui indicados encontre paisagens ainda não vistas, envolvendo professores e aprendizes em processos educativos com desdobramentos instigantes sobre arte, tal qual o artista quando mergulhado em sua criação. Boa caminhada! Notas para processos educativos em Arte: metodologia e estratégias f Manejar as Situações de Aprendizagem oferecidas como modos de provocar em sala de aula a experiência com e sobre a arte, entendendo que “é experiência aquilo que ‘nos passa’, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao passar-nos nos forma e nos transforma”, como diz Jorge Bondíad. Isso implica, em sala de aula, deslocar o foco da informação para a problematização, isto é, antes de dar respostas prontas, é melhor compartilhar experiências de problematização com os aprendizes; f privilegiar a construção de conceitos por meio de conexões entre os “Territórios da Arte”, praticando um modo de fazer pedagógico que mova os aprendizes à maior proximidade com o pensamento da/sobre arte em suas diferentes linguagens; f valorizar a percepção estética e a imaginação criadora dos aprendizes. Isso significa observar e escutar o que eles fazem, falam, comentam, tanto no fazer artístico como na leitura de seus códigos, cuidando para não silenciar sua poética pessoal; d 8 f investir na formação cultural dos alunos, potencializando o repertório dos aprendizes, seja por meio da sondagem que o investiga, seja pela Nutrição estética que o expande. Avaliação Portfólio dos estudantes O conhecido portfólio, prática comum entre artistas, parece ser ainda uma forma interessante de os aprendizes recontextualizarem para si e para o outro (professor e grupo-classe) a investigação dos conteúdos estudados. O portfólio pode vir a ser um modo de o aprendiz pensar e apresentar seu trajeto de estudo por meio da construção de uma forma visual, como um “livro de artista”, por exemplo. Nesse sentido, o Caderno do Aluno é um suporte para registros que compõem o portfólio. Nele, há espaços para o estudante registrar suas respostas às proposições que são oferecidas no Caderno do Professor, apresentadas nas seguintes seções: f O que penso sobre arte? – ações sobre o repertório cultural dos alunos; f Ação expressiva – ações que desencadeiam o fazer artístico nas diferentes linguagens de acordo com as proposições do Caderno do Professor; f Apreciação – ações de leitura de obras de arte nas diferentes linguagens artísticas; f Pesquisa de campo – ações que orientam o aluno no planejamento, na realização e na discussão de pesquisa proposta no Caderno do Professor; f Pesquisa individual e/ou em grupo – ações que orientam o aluno para aprofundar seu BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Disponível em: <http://www.miniweb. com.br/Atualidade/INFO/textos/saber.htm>. Acesso em: 9 ago. 2013. Arte – 2a série – Volume 1 nível de conhecimento sobre um ou mais assuntos, realizadas individualmente ou em grupo, e relacionadas às proposições do Caderno do Professor; f Lição de casa – ações que sistematizam o estudo, impulsionando a produção do portfólio do aluno para além do Caderno; expressão à sua aprendizagem, criando formas para mostrar suas produções artísticas, textos escritos, fotografias de momentos das aulas e pesquisas realizadas. Diário de bordo do professor f Para saber mais – indicações de livros, sites, filmes, vídeos e CDs. O registro do percurso vivido nos Cadernos também tem se mostrado uma ferramenta importante para o professor avaliar seu próprio processo de trabalho e buscar novos caminhos para desenvolvê-lo. Por isso, sugerimos a elaboração permanente de um diário de bordo como um espaço reflexivo para tratar da abordagem das Situações de Aprendizagem, das dificuldades encontradas, das adequações necessárias, das observações realizadas no desenvolvimento das diferentes proposições. O Caderno do Aluno, como parte do portfólio passível de ser complementado por outros modos de registro que podem gerar uma elaboração criativa, permite que o aprendiz dê Além disso, avaliar seu diário de bordo pode ser um momento importante de reflexão sobre todo o caminho trilhado e de aquecimento e planejamento. f Você aprendeu? – questões objetivas e/ou abertas para reflexão sobre os conteúdos trabalhados nas Situações de Aprendizagem de cada Caderno; f Aprendendo a aprender – algumas dicas para o aluno, ampliando possibilidades de aproximação com a Arte; 9 O ENCONTRO ENTRE ARTE E PÚBLICO Na complexa sociedade contemporânea, com sua heterogeneidade, diferenciação e desigualdade socioculturais, fica cada vez mais evidente que o contato e a aproximação entre arte e público pedem um encontro com o potencial de alterar fronteiras do que é desconhecido para o conhecido, do que causa incompreensão para a construção de significados entre diferentes mundos de percepção estética. O estudo sobre esse modo de encontro se dá no território da mediação cultural, como um território de provocação de interações comunicativas e diálogos entre público e obra. Nesse contexto, a mediação cultural é pensada em conexão com as linguagens artísticas e os processos de criação, como um modo de mover o jovem do Ensino Médio à experiência do papel de mediador cultural no espaço escolar. Conhecimentos priorizados Temas e conteúdos Espaços e formas de integrar arte e público no território da mediação cultural mediação cultural Mediação culturala. Diferentes espaços abrigam práticas artísticas, acolhem observadores de Arte. Diferentes profissionais trabalham a 10 A mediação cultural envolve processos de diferentes naturezas que atuam, investigam e promovem a aproximação entre indivíduos e/ou coletividade na vida escolar ou social e a arte e a cultura. Para além dos espaços dos museus, a mediação cultural abrange todas as linguagens artísticas, o patrimônio cultural, os profissionais participantes, os produtores culturais, os curadores, os críticos de arte, os historiadores, os professores, os educadores de museus, as mídias, e também materiais produzidos para essa aproximação, como catálogos, materiais educativos, programas de teatro, música, dança, conversas antes e depois dos espetáculos, desenhos museográficos, entre outros. Quando a mediação cultural é feita de modo não cuidadoso, pode afastar o público. Por isso, para Mirian Celeste Martins (2003, 2007), ela implica uma ação fundamentada e que se aperfeiçoa na consciente percepção da atuação do mediador que “está entre muitos”, sem considerá-la uma ponte entre dois. O “estar entre muitos” da mediação cultural não pode desconhecer seus interlocutores, a especificidade do público, inclusive do que necessita de cuidados especiais. O seu desafio maior é potencializar a experiência estética e estésica em [con]tato com o outro, ou seja, a arte, a cultura e os parceiros da experiência. Arte – 2a série – Volume 1 para ativar culturalmente a produção artística, viabilizando um encontro entre arte e público, de forma sensível e significativa, como experiência estética. Nesse campo da mediação cultural, o estímulo para o estudo da arte, neste Caderno, terá como foco específico a investigação sobre: f espaços expositivos, modos de expor, salões de arte, bienais, feiras de arte; f festivais de teatro, espaços promotores de leituras dramáticas, mostras universitárias; f festivais de dança, mostras universitárias, espaços alternativos de dança; f festivais de música, espaços de concerto, espaços alternativos de música, coretos, ruas. Práticas poéticas no território de processo de criação e linguagens artísticas processo de criação Processo de criação. Invenção, repertórios pessoal e cultural e procedimentos criativos constroem poéticas pessoais, de estudantes e de artistas. Linguagens artísticas. Artes visuais e audiovisuais, dança, música e teatro constroem-se com códigos que se fazem signos artísticos. No estudo do tema O encontro entre arte e público, a ligação entre processo de criação e linguagens artísticas acontece na pesquisa e na experimentação, por meio de projetos poéticos individuais ou colaborativos que intencionam mover a comunidade escolar à apresentação de seu fazer artístico. Competências e habilidades f Investigar o encontro entre arte e público na dimensão da mediação cultural, como experiência estética a ser compartilhada; f conhecer e valorizar os espaços e as formas de integração entre arte e público; linguagens artísticas f perceber a mediação cultural como abertura de possíveis canais de interação comunicativa e de diálogo entre o público e as artes visuais, a dança, a música e o teatro; f esboçar projetos individuais ou colaborativos como condutores de espaço para a apresentação do fazer artístico da comunidade escolar e/ou do seu entorno. PROPOSIÇÃO PARA SONDAGEM O ENCONTRO ENTRE ARTE E PÚBLICO Começo da 2a série do Ensino Médio. Começo de seu diário de bordo. Você pode se perguntar: Transcorridos todos esses anos de escola, será que foram cultivados nesses jovens alunos o prazer pela arte e o hábito de frequentar espaços culturais? Quais seriam as necessidades culturais desses jovens? Quais espaços culturais eles já conhecem? Quais espaços culturais eles já frequentam por conta própria? Quem os levou pela primeira vez a esses espaços? O que eles lembram dessa experiência? 11 Essas questões levam à proposição de uma sondagem do repertório dos alunos, problematizando sobre mediação cultural. O que essa sondagem pode nos revelar? Proposição I – O que penso sobre arte e público? Para iniciar a conversa, algumas perguntas são propostas em “O que penso sobre arte?”, no Caderno do Aluno: f Quais espaços culturais você conhece? f Quais museus ou teatros você já visitou? Há alguma exposição de arte e/ou espetáculo em especial de que você se lembra? f Para você, qual é o significado da numeração no nome dos eventos de arte: 28a Bienal Internacional de São Paulo; 34o Salão Internacional de Humor de Piracicaba; 32o Festival de Teatro de Pindamonhangaba; 38o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão; 5o Projeto Dança em Pauta? Proposição II – Movendo a apreciação Entre gritando é uma obra de Luciano Mariussi que mexe diretamente com a relação entre arte e público. Por esse motivo, é muito interessante iniciar com ela essa leitura de imagens. A proposta do artista paranaense era a seguinte: a frase “Entre gritando”, escrita em letras gigantescas, cobria a parede de vidro da entrada do Museu de Arte Moderna, no Parque Ibirapuera, em São Paulo (SP), e convidava o transeunte a gritar “Eu sei o que é arte contemporânea” ao entrar no museu, para ganhar desconto de R$ 1 no valor do ingresso. © Luciano Mariussi f Qual desses eventos você conhece? Eles seriam importantes para aproximar arte e público? Dar voz aos alunos e escutá-los é importante para aproximá-los do foco de estudos sobre a mediação cultural. Esse momento de conversa e problematização é, também, um modo de mediação provocado pelo professor, entre o conceito que se deseja trabalhar e o ponto de vista dos alunos. Mesmo que os alunos apresentem pouca ou nenhuma experiência ou hábitos culturais, provocar essa conversa é dar oportunidade para falar sobre arte. O fato de simplesmente conversar sem o constrangimento de categorização, como “certo” ou “errado”, aproxima o aluno da arte e o prepara para a proposição seguinte. Figura 3 – Luciano Mariussi. Projeto Entre gritando “Eu sei o que é arte contemporânea” e ganhe desconto de R$ 1, 2005. Instalação. 29o Panorama da Arte Brasileira, MAM/SP, São Paulo (SP). 12 4 5 6 7 8 9 11 10 12 4) © Kfir Bolotin/Photoshot News/Latinstock. 5) © Marcos Boaventura/Prefeitura de Corumbá, MS. 6) © Krzysztof Dydynski/Lonely Planet Images/Getty Images. 7) © Marcelo Basso. 8) © Gilberto R. dos Santos/Folhapress. 9) © Tablado de Arruar. 10) © Ciete Silvério/Governo do Estado de São Paulo. 11) © Folhapress. 12) © Elliot Landy/Corbis/Latinstock Arte – 2a série – Volume 1 Figura 4 – A companhia de dança Pina Bausch apresenta o espetáculo Água, no palco do Edinburgh Playhouse, Festival Internacional de Edimburgo, 26 de agosto de 2010. Figura 5 – Arraial Banho São João, 2007. Corumbá (MS). Figura 6 – Apresentação do Festival de Teatro de Rua, Main Square, Cracóvia. Figura 7 – 34a edição do Salão Internacional de Humor de Piracicaba, 2007. Piracicaba (SP). Figura 8 – Banda na Praça da República, 1985. São Paulo (SP). Figura 9 – Grupo Tablado de Arruar. A rua é um rio, 2006. Praça do Patriarca, São Paulo (SP). Figura 10 – 11o Festival Internacional de Inverno de Campos do Jordão. Campos do Jordão (SP). (Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo). Figura 11 – 3o Festival Internacional da Canção, 1968. Maracanãzinho, Rio de Janeiro (RJ). (Cynara e Cybele. Sabiá, 1968). Figura 12 – Festival de Woodstock, 1969. Bethel, Nova Iorque, EUA. 13 No Caderno do Aluno, a “Apreciação” propõe ao aluno que se imagine em duas situações: f Sobre qual desses eventos artísticos você gostaria de saber mais? Por quê? f Imagine que você é um visitante dessa exposição: Qual seria a sua reação? Entraria gritando no museu ou ficaria envergonhado? Você saberia definir o que é arte contemporânea? Proponha aos alunos a elaboração de uma síntese coletiva sobre a conversa que houve na sala de aula. Um registro sobre “O que ficou da conversa?” oferece material importante para futuros projetos, que podem ser adequados à realidade de cada unidade escolar. Para isso, os alunos devem registrar todas as ideias, percepções e informações que consideraram significativas durante a conversa. A organização dessas lembranças pode ser feita por agrupamento de temas, por palavras-chave, desenhos coloridos ou qualquer outro modo que os alunos inventem. Para finalizar, organize uma apresentação das sínteses, socializando os registros de cada grupo. f Agora, como um apreciador da obra, responda: O que ela faz você pensar sobre a relação entre arte e público? Para você, seria necessário um mediador para aproximar a arte do público? Por quê? Você já teve alguma experiência de aproximação com a arte por meio de um mediador cultural? E sem ele? A próxima questão move a conversa sobre as imagens da página 13, presentes também no Caderno do Aluno: SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 1 ARTES VISUAIS A obra Entre gritando, de Luciano Mariussi, explorada na sondagem, provoca aquele que a vê, especialmente porque o artista coloca o observador de sua obra diante de uma decisão. É o leitor da frase que decide se entra no museu gritando “Eu sei o que é arte contemporânea” ou não. Luciano Mariussi, além de artista, é também professor universitário, como muitos outros artistas contemporâneos. Outras obras dele discutem a relação entre arte e público. Curioso, ele quer saber qual é o nível de profundidade na fruição de obras de arte. Diz elea: “[...] na minha condição de artista, procuro fazer uma leitura de como esta relação se processa para o meu próprio entendimento, fruição ou qualquer outra experiência que uma obra de arte venha a proporcionar”. Ativar o encontro com a Arte, para além da contemplação, é a proposta de muitos artistas contemporâneos. Apenas dos contemporâneos? De que modo a Arte tem esa 14 tabelecido relação com o público? E qual público? Apenas aquele que já tem vivência artística? Essas são algumas das questões que serão trabalhadas nas proposições sugeridas para trilhar o território de mediação cultural, focalizando especialmente maneiras de potencializar encontros e [con]tatos envolventes com a Arte. Proposição I – Movendo a apreciação No Caderno do Aluno, algumas questões são apresentadas para iniciar um debate: f Por que são propostas essas três obras para apreciação? Há algo em comum entre elas? f Elas fazem você pensar sobre a relação entre arte e público? MARIUSSI, Luciano. Disponível em: <http://www.muvi.advant.com.br/artistas/l/luciano_mariussi/luciano_ mariussi.htm>. Acesso em: 20 maio 2013. © Erich Lessing/Album/Latinstock Arte – 2a série – Volume 1 Figura 13 – Giuseppe Castiglione. Vista do Grande Salão Carré no Museu do Louvre, 1861. Óleo sobre tela, 69 × 103 cm. Museu do Louvre, Paris, França. 15 © Joseph Martin/Album/Akg-Images/Latinstock Figura 14 – Diego Velázquez. As meninas (ou A família de Felipe IV), 1656. Óleo sobre tela, 318 × 276 cm. Museu do Prado, Madri, Espanha. 16 © Album/akg-images/Latinstock © Succession Marcel Duchamp/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013 Arte – 2a série – Volume 1 Figura 15 – Marcel Duchamp. Fonte, 1917. Ready-made. Porcelana, 23,5 × 18 × 60 cm. Talvez os alunos não estejam habituados a questões como essas, pois nem sempre se dão conta da mediação cultural que está sendo realizada pelo professor. Talvez ainda não tenham ido a uma exposição e percebido qual foi o fio condutor da curadoria, isto é, quais foram os focos que geraram a seleção das obras e o modo de expô-las. Cada curadoria educativa (seleção e agrupamento de imagens/obras) traz em si a intenção de, ao mostrar as obras, ativar culturalmente a discussão que propõe. Percorrendo o território da mediação cultural, os alunos podem se tornar conscientes das escolhas que os professores fazem para aproximar a arte dos estudantes, preparando-os para compreender melhor o conceito para além da sala de aula. E as próprias obras podem ajudar a pensar na relação entre arte e público. Quais foram as respostas dos alunos às questões colocadas? Perceberam que a proposta inicial era discutir a escolha dessas imagens para iniciar o estudo das artes visuais no território de mediação cultural? Será que os alunos perceberam que, ao observar a obra de Velázquez, estamos na mesma posição dos modelos pintados na grande tela à esquerda? Será que essa obra poderia ser colocada no alto do salão do Louvre, como algumas das representadas na obra de Castiglione? Poderia ser exposta na Galeria do Poste, que expõe obras em postes de rua na cidade de Niterói (RJ)? Velázquez retrata-se pintando uma grande tela. A corte acompanha seu trabalho. Ao fundo, no espelho, podemos ver o rei e a rainha, como se estivessem posando para o pintor. Entre muitas leituras possíveis, percebemos que o pintor nos coloca como espectadores da cena. Ele também nos olha, como olha os modelos para a tela que pinta. Assim, invade o espaço para além da obra emoldurada, aproximando-nos da cena. A obra, que mede 3,18 × 2,76 m e ocupa um lugar especial no Museu do Prado, em Madri, na Espanha, convida os visitantes a entrarem na cena. Ela realmente não poderia ser colocada no alto, como a disposição que vemos na obra de Castiglione, que retrata o Salão Carré em 1861, nem na Galeria do Poste. O modo como as obras são expostas também é uma questão no território da mediação cultural. A pintura de Castiglione mostra um Salão Carré muito diferente do que podemos ver hoje no Museu do Louvre. A arquitetura continua a mesma, assim como o rebuscado teto, mas não o modo de expor as obras. Os museus, os centros culturais, as galerias preocupam-se com a aproximação entre arte e público. A obra de Marcel Duchamp abre outras questões ao trazer para um museu uma peça do cotidiano. Eles já ouviram falar desta obra, ícone da arte? Em 1917, Duchamp apresentou, em um salão, a sua obra Fonte, um mictório de louça de banheiro público masculino, assinada com um pseudônimo (R. Mutt). Inaugurava um pensamento estético inusitado para a época: ready-made. Assim, o valor da arte se desloca da obra realizada para o ato de fazê-la, e exige de nós, seus leitores, outro modo de contemplá-la. Essa e outras obras fogem da sacralização do museu, mas precisam do próprio sistema da Arte para se colocar como ruptura. 17 Essas obras, conectadas a outras, levam-nos a pensar na potencialidade dos encontros com a arte: Colocamo-nos diante delas de modo diverso daqueles que as viram na época de sua criação? De certa maneira, elas nos fazem pensar também sobre os sistemas da arte que determinam o que é arte. Jorge Coli, em O que é arte (1995), diz que, quando dizemos “gosto” ou “não gosto”, não o declaramos espontaneamente. O certo é que somos determinados pela cultura de nosso entorno, seja ela familiar, escolar ou social. A arte, como uma “obra aberta” e como um “bloco de sensações”, como afirmam Umberto Eco, Gilles Deleuze e Félix Guattarib, respectivamente, traz em si mesma múltiplos sentidos a nos provocar. Para dialogar com ela, além da disponibilidade interna, é preciso enriquecer esse contato. Proposição II – Ação expressiva: a obra contemporânea na sala de aula Muitos artistas, em tempos e lugares diversos, têm buscado ultrapassar o “gosto” ou o “não gosto” por caminhos que nos colocam como participantes ativos de suas obras. Para explorar esses caminhos, sugerimos propor aos alunos duas experiências. Para que os alunos possam viver em sala de aula uma obra contemporânea, sugerimos Caminhando (1964), de Lygia Clark. Assim como a artista, temos de construir inicialmente a fita citada. Podemos fazê-la com qualquer tipo e qualquer tamanho de papel, bastando b 18 cortar uma tira (por exemplo, 1/3 da folha A4, na direção do comprimento), juntar as pontas de modo a formar um elo, torcer meia-volta de uma das pontas e colar uma ponta na outra com fita adesiva (de modo a não soltar), formando um elo. Os alunos podem perceber que não há frente nem verso na fita, o que pode ser facilmente verificado percorrendo a tira com um lápis. Lygia Clark, que se considera uma artista propositora, sugere em Caminhando: Faça você mesmo o Caminhando com uma faixa branca de papel: corte-a na largura, torça-a e cole-a de maneira a obter uma fita de Moebius. © Associação Cultural O Mundo de Lygia Clark As meninas, de Velázquez, e Fonte, de Marcel Duchamp, são ícones da arte, com muitos estudos publicados e ressonâncias presentes em outras obras até os dias de hoje. Se houver possibilidade, peça aos alunos que pesquisem essas e outras obras que “abalaram” a tradição na relação entre arte e público. Exemplo de uma fita de Moebius. Tome então uma tesoura, introduza uma ponta na superfície e corte continuamente no sentido do comprimento. Tenha cuidado para não cair na parte já cortada, o que separaria a fita em dois pedaços. Quando você tiver dado a volta na fita de Moebius, escolha entre cortar à direita ou à esquerda do corte já feito. Essa noção de escolha é decisiva e nela reside o único sentido dessa experiência. A obra é o seu ato. À medida que se corta a fita, ela se afina e se desdobra em entrelaçamentos. No fim, o caminho é tão estreito que não pode mais ser aberto. É o fim do atalho. Se utilizo uma fita de Moebius para essa experiência é porque ela quebra os nossos hábitos espaciais: direita-esquerda, anverso e reverso etc. Ela nos faz viver a experiência de um tempo sem limite e de um espaço contínuo. CLARK, Lygia. Caminhando, 1964. In: ______. Lygia Clark. Rio de Janeiro: Funarte, 1980. p. 25-26. Para saber mais, leia: ECO, Umberto. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 2007. (Coleção Debates); DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Percepto, afecto e conceito. In:______ O que é filosofia? Rio de Janeiro: Editora 34, 1992. p. 211-255. Arte – 2a série – Volume 1 Sugerimos não ler a proposição da artista para os alunos antes de eles viverem a experiência, que deve ser norteada por você, professor. Inicia-se o corte no sentido do comprimento e, ao dar-se a volta com a tesoura, o que cada aluno decide fazer? Alguns cortam à direita, outros à esquerda, e continuam até não conseguir mais cortar? Alguns alunos, ao dar a volta na fita, podem acabar por “cair na parte já cortada” e talvez descubram que, ao fazer isso, eles apenas aumentaram o tamanho da fita de Moebius. E podem começar de novo, talvez escolhendo outra direção. Após a experiência, que pode ser repetida, volte ao Caderno do Aluno para que registrem suas observações e a síntese da discussão gerada pela afirmação da artista: Nós somos os propositores: nós somos o molde, cabe a você soprar dentro dele o sentido da nossa existência. Nós somos os propositores: nossa proposição é o diálogo. Sós, não existimos. Estamos à sua mercê. Nós somos os propositores: enterramos a obra de arte como tal e chamamos você para que o pensamento viva através de sua ação. Nós somos os propositores: não lhe propomos nem o passado, nem o futuro, mas o agora. CLARK, Lygia. Nós somos os propositores, 1968. In: ______. Lygia Clark. Rio de Janeiro: Funarte, 1980. p. 31. A obra é a nossa ação. O desejo da artista é que vivenciemos também a própria ação criadora. Em Caminhando, assim como na série de Bichos e nas experiências sensoriais, Lygia Clark propõe outra forma de aproximação entre arte e público. Um tipo de aproximação que é desejada especialmente na arte contemporânea. Com seus Parangolés, por exemplo, Hélio Oiticica convida o público a viver a obra. Para dar continuidade, se for possível, sugerimos o contato com a obra de Ricardo Basbaum, combinando um encontro na sala de informática de sua escola, para acessar especialmente dois sites: <http://www.nbp.pro.br> e <http://a8000.blogspot.com.br/2007/06/ri cardo-basbaum-na-documenta.html> (acessos em: 6 set. 2013). Em 2007, Ricardo Basbaum levou à Documenta 12 – uma das mais importantes exposições de arte contemporânea, em Kassel, na Alemanha – um projeto que acontece desde 1994 e que parte de uma provocação: “Você gostaria de participar de uma experiência artística?”. A pessoa que aceitava a proposta do artista ficava um mês com o objeto inventado por Basbaum e o utilizava como quisesse, documentando sua utilização. Na exposição, Ricardo Basbaum apresentou uma instalação que disponibilizava para o público o work in progress – trabalho não finalizado, em processo. Em oito monitores de vídeo, foram exibidos vídeos e fotografias feitos por pessoas ou grupos que participaram da experiência, além de dois monitores conectados ao site de um projeto maior, o Novas Bases para a Personalidade (NBP), e dois monitores advindos de câmeras de segurança em que o público podia se ver entre as imagens. Vivenciar a obra Caminhando e/ou a visita aos sites pode evidenciar o desejo de muitos artistas contemporâneos em aproximar o público da experiência estética. A obra de arte contemporânea provoca o público de muitas maneiras, e será interessante conversar com os alunos sobre o que está proposto no Caderno do Aluno. Contemplar uma escultura, por exemplo, mesmo que a olhemos de todos os ângulos, é muito diferente de penetrar em uma instalação, passar por uma experiência sensorial, ser provocado a reagir ou a provocar reações, 19 a participar da obra etc. Sensações, percepções, emoções e pensamentos podem ser vividos mesmo que o contato não seja presencial? Essa é mais uma pergunta a ser discutida com os alunos, para que percebam que o mundo da arte é muito mais amplo do que podemos alcançar presencialmente. [...] o “museu imaginário” é secretado por nossa maneira de pensar, que vai pescar, em todas as civilizações, objetos que chamamos de “artísticos”. A ideia de transcendência cultural e histórica da Arte é nossa; sem nós, ela não existe. COLI, Jorge. O que é arte. São Paulo: Brasiliense, 1995. p. 65-66. Proposição III – Pesquisa complementar em grupo Em todos os tempos, a arte desejou o contato com o público. Ela é expressão e comunicação por excelência. Além da própria ação de artistas, são muitas as pessoas que provocam esses encontros com a arte. Os primeiros colecionadores, que geraram os famosos Gabinetes de Curiosidades, que por sua vez geraram os museus, foram talvez os primeiros produtores culturais. Há muito que pesquisar sobre essa história, mas, neste momento, vamos investigar o que sua cidade e/ou região oferecem. As linhas de pesquisa propostas no Caderno do Aluno podem despertar um outro olhar para o encontro com a arte em sua região e subsidiar os futuros projetos que serão propostos nos próximos estudos, interligando o desenvolvimento de poéticas pessoais, projetos colaborativos e a comunidade onde vivem. Pensando em determinado público: Quais seriam as obras que os alunos escolheriam para o seu próprio museu imaginário? Quais selecionariam para uma pequena exposição? Eles agrupariam as obras selecionadas por algum fio condutor (temáticas, cronologia, procedimentos, materiais, linguagens etc.), assim como faz um curador? Por qual? Essa é mais uma proposição que prepara o aluno para as práticas poéticas que se iniciam neste semestre. A pesquisa pode ser feita pela internet ou mesmo na biblioteca da escola. No Caderno do Aluno, eles devem registrar as obras selecionadas, apresentar as legendas, criar um título e um pequeno texto que apresente a exposição. O encontro entre Proposição IV – Ação expressiva André Malraux, escritor, crítico de arte, idealizador do conceito de Centro Cultural e ex-ministro da Cultura da França, concebeu assim a ideia de museu imaginárioc: [...] a reunião de obras cujas afinidades não procedem da história, mas de uma subjetividade [...]. c 20 artes visuais e público mediação cultural espaços sociais da arte na cidade; espaços institucionais e alternativos; curadoria educativa; obras interativas; o público e a arte contemporânea; pro¿ssionais da irea; artistas; modos de expor. Leia também GROSSMANN, Martin. O museu de arte hoje. Disponível em: <http://www4.unirio.br/museologia/ textos/o_museu_dearte_hoje.pdf>. Acesso em: 1 nov. 2013. Arte – 2a série – Volume 1 SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 2 TEATRO O teatro é uma das expressões humanas mais antigas e reflete o espírito lúdico, a nossa potência imaginativa para jogar com a realidade. Nas sociedades primitivas, o teatro surge como ritual mágico destinado a obter o favor dos deuses na caça ou na colheita. Presente na cultura de muitos povos, é uma manifestação artística que se desenvolveu espontaneamente em diferentes lugares. Na Grécia, ele teve um florescimento admirável, graças à genialidade dos dramaturgos gregos, que inventaram um jeito de contar histórias do modo como hoje conhecemos o que chamamos de teatro. f Por que você acha que imagens de arte grega e romana foram escolhidas para motivar a conversa sobre teatro? Qual história você imagina que essas figuras contam? f Todas as imagens são referências a Dionísio. Você sabe quem é Dionísio? Qual a relação entre ele e o teatro? f A apreciação dessas imagens e a conversa motivada por elas modificaram seu modo de pensar sobre o teatro? O que deixou você curioso, querendo saber mais detalhes? Qual assunto você gostaria de pesquisar? © Buddy Mays/Corbis/Latinstock O foco deste estudo – espaços e formas de integrar teatro e público – começa aproximando os alunos da Grécia Antiga, para que saibam mais sobre o nascimento do teatro ocidental. O que os alunos sabem sobre o surgimento do teatro grego? Para começar a conversar sobre esse tema e apontar pistas, são propostas no Caderno do Aluno imagens para apreciação e alguns questionamentos: Figura 16 – Ruínas do Teatro de Dionísio. Acrópole de Atenas, Grécia. 21 17) © The Bridgeman Art Library/Keystone. 18) Giraudon/The Bridgeman Art Library/Keystone19) Ancient Art and Architecture Collection Ltd./The Bridgeman Art Library/Keystone 20) Photo © Tarker/The Bridgeman Art Library/Keystone 21) Giraudon/The Bridgeman Art Library/Keystone 22) © Stapleton Collection/Corbis/Latinstock 22 17 18 19 20 21 22 Artes grega e romana representando Dionísio como deus do teatro. Figura 17 – Sileno e os jovens sátiros, 60-50 a.C. Afresco. Megalografia que retrata uma cerimônia de iniciação dionisíaca; detalhe mostrando Sileno, um dos seguidores de Dionísio, cercado de dois sátiros. Vila dos Mistérios, parede leste, Pompéia, Itália. Figura 18 – Relevo representando Dionísio na casa de Icário. Pedra. Origem grega, c. séc. III-II a.C. Museu do Louvre, Paris, França. Figura 19 – Mosaico de parede com máscaras trágica e cômica. Origem romana, c. séc. I a.C.-I d.C. Museu Capitolini, Roma, Itália. Figura 20 – Máscara teatral. Origem romana. Figura 21 – Máscara trágica. Pedra. Origem romana, c. séc. V a.C. Museu Bonnat, Bayonne, França. 22 – Dionísio e três figuras, c. séc. XIX d.C. Ilustração reproduzida de vaso grego antigo. © Lenise Pinheiro © Lenise Pinheiro Arte – 2a série – Volume 1 Figuras 23 e 24 – Teatro Oficina Uzyna Uzona. Bacantes, 1995, São Paulo (SP). Direção: José Celso Martinez Corrêa. Ator Marcelo Drummond como Dionísio, projeção em TV durante o espetáculo (à direita). Proposição I – Movendo a apreciação A conversa disparada pelas imagens e as hipóteses dos alunos podem ir desenhando um conceito de como o teatro surgiu em Atenas, na Grécia Antiga, a partir do culto a Dionísio, realizado nos festivais em sua homenagem, nas festas da primavera e do vinho. Dizem os livros de história teatral que as procissões dionisíacas contavam a história da vida do deus de um modo análogo às procissões da semana santa cristã, em que a vida, paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo são relembradas. Na vida de Dionísio, há dois momentos bastante diferentes: quando ele é destruído pelos Titãs (morte, tensão) e quando ele renasce (alegria, extroversão). Dionísio possui o dom da metamorfose. Para fugir à fúria dos Titãs, metamorfoseia-se em bode. Devorado por eles, ressuscita na forma de um bode divino – o mesmo que será ritualmente imolado para purificação da pólis grega. No momento da morte de Dionísio eram entoados cantos tristes e solenes, chamados ditirambos. A tragédia é originada do ditirambo (canto em louvor a Dionísio), como uma forma dramática que surge na Grécia no século V a.C. Etimologicamente, a palavra “tragédia” vem de tragos (bode) + oide (canto), ou seja, canto do bode, animal que remete a um dos “disfarces” usados por Dionísio. Nos festivais de Dionísio, especialmente em Atenas, performances dramáticas eram representadas, de forma que o culto ao deus pode ser relacionado ao gênero dramático. Ou seja, havia a representação simbólica da morte e da ressurreição do deus; o relato mítico narrado/representado pelos atores e pelos espectadores. As pessoas envolvidas no jogo dramático eram partícipes de uma mesma crença, de uma mesma celebração. É justamente dessa dimensão ritualística, do elo entre o sagrado e o profano, entre coti- 23 diano e extracotidiano que se dá a feitura da linguagem do teatro. É justamente da dimensão simbólica, da mentira compartilhada, que se dá a experiência da arte teatral. As horas vividas no teatro poderiam ser consideradas horas de uma vida refletida, meditada, sentida; de uma vida consciente e experimentada, e isso em uma tensão de verdade de expressão, de esforço da imaginação e de criação, tanto por aqueles que fazem como por aqueles que assistem. Quem seria capaz de dizer que não está diante de Dionísio, ao vê-lo na “pele” do ator Marcelo Drummond, na montagem de Bacantes pelo Teatro Oficina Uzyna Uzona, sob direção de Zé Celso Martinez Corrêa? Parafraseando Mário Quintana, esse parece ser o sentido do teatro: “Uma mentira que se esqueceu de acontecer”. Será que a conversa provocada pela apreciação das imagens moveu a curiosidade dos alunos sobre o deus grego Dionísio e o nascimento do teatro na Grécia? Para ampliação do repertório sobre o tema, a encomenda na próxima proposição será de uma ação expressiva provocadora de uma “Pesquisa em grupo”. Proposição II – Ação expressiva Movendo uma leitura dramática Há muitos modos de conhecer algo ou alguma coisa. A linguagem teatral é um deles. Por isso, para aproximar os alunos do deus Dionísio e da origem de seu culto, que move o nascimento do teatro ocidental, a ideia é fazer uma ação expressiva por meio do exercício de uma forma de leitura dramática do texto As bacantes, de Eurípedes. É interessante que todos os alunos tenham o texto em mãos; se não for possível, divida os alunos em grupos de acordo com a quantidade de cópias que você conseguira. a 24 Para mover a leitura dramática, comece perguntando aos alunos: O que vocês imaginam que seja uma leitura dramática? Em seguida, apresente o nome da peça e pergunte: O que esse título evoca? Ele dá pistas sobre qual história será contada? Lembre-se: o que está em jogo não é acertar, mas utilizar as perguntas para provocar nos alunos a imaginação, a criação de imagens sobre um texto teatral e sobre como deve acontecer a leitura dramática. Depois, proponha uma leitura silenciosa, após a qual pode-se trocar impressões sobre o texto, sobre as imagens que o texto provoca na imaginação. Em seguida, veja quais alunos desejam fazer a leitura em voz alta e que personagens gostariam de acompanhar; a fala do coro pode ser feita por vários alunos e as rubricas, por um único. Não é necessário que todos os alunos participem da atividade de oralizar o texto. É interessante que alguns deles atuem como plateia. Pode ser que as primeiras tentativas de leitura oral sejam frustrantes tanto para quem lê como para quem escuta. Pode ser que apenas alguns alunos leiam bem ou razoavelmente, conseguindo imprimir certo ritmo à leitura. Mesmo que isso ocorra, é importante não abandonar essa ação expressiva. Uma possibilidade é escolher pequenos fragmentos do texto para fazer a leitura. O mesmo fragmento pode ser lido por diferentes alunos. Desse modo, de fragmento em fragmento, a leitura pode ser exercitada durante uma aula, como preparação para a aula seguinte, na qual será feita a leitura do texto completo. Depois da experiência da leitura, uma conversa com os alunos pode levantar questões: f o exercício de leitura – Como foi realizada a leitura, tanto para quem leu como para quem ouviu? A leitura/voz foi expressiva, pareceu teatral? O corpo também se expressou, produzindo gestos? f a construção de sentidos do texto – Quais as percepções da plateia de alunos com a A tragédia As bacantes, de Eurípedes, é um texto facilmente encontrado em bibliotecas (podendo haver na sua escola ou cidade). Você também pode pedir uma cópia do texto na Sociedade Brasileira de Autores (SBAT). Disponível em: <http://www.casadoautorbrasileiro.com.br>. Acesso em: 19 set. 2013. Arte – 2a série – Volume 1 “escuta” do texto? Que imagens provocadas pela leitura povoaram a imaginação deles? Quais os diferentes sentidos, interpretações que os alunos fazem do texto? f a curiosidade provocada pelo texto – Sobre o que gostariam de pesquisar? Da leitura dramática à pesquisa em grupo A leitura dramática do texto As bacantes pode ter ampliado os saberes dos alunos sobre o culto a Dionísio, assim como a conversa pode ter revelado possíveis temas para desencadear uma pesquisa em grupo. Para essa atividade, que deve ser associada aos temas propostos pelos alunos, sugerimos alguns focos de pesquisa suscitados pelas seguintes problematizações: Qual teria sido o primeiro ator na Grécia Antiga? Qual é a importância do coro no teatro grego? Do teatro grego, quais são os autores e textos que conhecemos? Como e onde eram apresentadas as tragédias e comédias na Grécia Antiga? Havia festivais? Com que finalidade? Essas questões levantam vários aspectos que podem ser pesquisados em um encontro marcado na sala de informática. Há vários sites sobre teatro grego. Para a apresentação da pesquisa, cada grupo pode montar uma apresentação em PowerPoint ou até criar um blog divulgando o que descobriram para a classe. No Caderno do Aluno, existe um espaço reservado para a criação de uma síntese por palavras, desenhos ou colagem de imagens, mostrando o que foi mais significativo nas pesquisas sobre o culto a Dionísio, o nascimento do teatro ocidental e as especificidades do teatro grego. Proposição III – Festivais de teatro Na pesquisa realizada, os alunos devem ter descoberto que na Grécia Antiga os festivais de teatro tinham grande importância. Dedicados às tragédias ou às comédias, eles eram financiados pelos cidadãos ricos; o governo pagava aos mais pobres para que pudessem comparecer às apresentações. Os festivais dedicados à tragédia ocorriam em teatros de pedra, ao ar livre, nos quais se escolhia o melhor autor, pois, embora alguns atores fizessem sucesso, os grandes ídolos do teatro eram os autores. As apresentações duravam vários dias e começavam com uma procissão em homenagem ao deus Dionísio, considerado protetor do teatro. A plateia acompanhava as peças o dia todo e reagia com intensidade às encenações. No palco, os atores usavam sapatos de sola alta, roupas acolchoadas e máscaras feitas de panos engomados e pintados, decoradas com perucas e capazes de amplificar a voz. Hoje, os festivais de teatro são o espaço para que grupos teatrais possam mostrar o melhor de sua tradição teatral ou para que diretores apresentem inovações na linguagem teatral. Nos festivais, há grupos que já têm uma longa estrada percorrida, e outros, que estão começando; há atores consagrados e os que mostram seu ofício pela primeira vez. As encenações vêm acontecendo tanto em espaços cênicos convencionais como em espaços alternativos. Os festivais de teatro são uma força geradora de aproximação entre teatro e público, movendo o espectador à experiência de ir ao teatro. Os festivais de teatro também aproximam o espectador de diferentes grupos brasileiros e de outros países, sendo uma potente forma de mediação cultural. No Brasil, a cada ano, acontecem diferentes festivais de teatro, em cidades diversas. Entre eles, são considerados de grande repercussão: o Festival Internacional de Londrina (PR), o Festival de Teatro de Curitiba (PR), o Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (SP), o Porto Alegre em Cena (RS), o Festival Internacional de Palco e Rua de Belo Horizonte (MG), o Cena Contemporânea – Festival Internacional de Teatro de Brasília (DF). Para favorecer uma aproximação entre os alunos e esse universo dos festivais de teatro, na seção “O que penso sobre arte?”, do Caderno do Aluno, há a promoção de uma conversa que provoca a leitura do conceito que a cura- 25 doria da 12a edição do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto (SP), de 2012, apresenta como fio condutor dos trabalhos escolhidos para apresentação no festival. Do mínimo eu às vozes do mundo: sujeito e sociedade na cena contemporânea Momento histórico curioso que vivemos: a um só tempo a afirmação radical do indivíduo e a tomada coletiva das ruas; o ilhamento do sujeito e projetos de interesse comum – reais e virtuais – no centro da praça ou na militância solitária articulada nas redes sociais. Por um lado podemos ver, por exemplo, que há não mais de um ano desta edição do Festival, até o presente momento, populações de vários países foram e estão nas ruas, derrubando ou tentando derrubar ditaduras sanguinárias no norte da África e em outras partes do planeta. Estas intervenções de interesse geral acontecem no mesmo momento em que passeatas reais e manifestos virtuais de segmentos mais localizados da sociedade ganham espaço, com a aderência de milhares de pessoas: questões de gênero e de comportamento, entre outras. Teatros do eu, teatros do mundo1 Nesta edição a curadoria do Festival propõe, então, verificar o movimento entre os chamados coletivos e a expressão do sujeito. Ou, dito de outra maneira, o diálogo entre a expressão pessoal, vinda dos campos da individualidade, e a expressão do coro, vinda do pensamento grupal. Partindo do pressuposto de que estes processos estão intuídos no fazer artístico, nossa pergunta poderia ser: de que maneira estas questões da sociabilidade atual estão sendo levadas à cena? Não há nenhuma expectativa de que as intervenções e os espetáculos selecionados ilustrem 1 pontualmente estas proposições, ainda que muitos dos temas que vão ao palco e às ruas passem por elas. O que nos interessou foi organizar a mostra com base no que o teatro tem a dizer sobre estas conexões a partir dos seus próprios processos formativos: nas escolhas de linguagem; nos materiais (concretos e de pensamento) que são utilizados; e nas diversas maneiras eleitas pelos artistas para propor aproximações às plateias (quando é este o caso, da existência de “plateias”). Seguindo a vocação que o próprio Festival vem desenvolvendo nos últimos anos, a curadoria também usou como critério para seleção o frescor da invenção formal. Mas, isto não significa uma busca pela novidade em si, o que redundaria em mero esteticismo. Apenas desdobra, no âmbito do trabalho curatorial, um aspecto do conceito: o de que uma época com questões novas pede um teatro que dê conta delas, nas suas formas também renovadas. Em qualquer destas coordenadas queremos crer que os espetáculos e intervenções desta edição do Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto têm então esta vocação: a de samplear, às vezes mais, às vezes menos explicitamente, aspirações individuais e coletivas, inventando modos a partir dos quais podemos, quem sabe, perceber uma única voz ou um coro de vozes como expressões potentes, capazes de dizer sobre o estado do mundo e do homem no momento em que estes artistas entrarem em cena. Fonte: Festival Internacional de Teatro de São José do Rio Preto – 12a edição, 2012. Disponível em: <http:// www.festivalriopreto.com. br/2012/festival/index.php?institucional_id=5>. Acesso em: 6 set. 2013. Expressão de Jean-Pierre Sarrazac, em: Théâtres du moi, théâtres du monde. Rouen: Éditions Médianes, 2000. Para potencializar a leitura, você, professor, pode primeiramente ler em voz alta; em seguida, os alunos fazem uma leitura silenciosa e, divididos em grupos, discutem as questões propostas no Caderno do Aluno: f O que chama a atenção no conceito “Do mínimo eu às vozes do mundo: sujeito e 26 Antes de mostrar o texto, é interessante conversar com os alunos sobre o termo “curadoria”. Eles sabem qual é o significado dessa palavra? sociedade na cena contemporânea”? É possível perceber o que o festival está focalizando como conceito? f O que é perceptível como preocupação do festival sobre a relação entre teatro e público? f De que modo a leitura e a discussão do Arte – 2a série – Volume 1 texto ajudaram você a saber mais sobre o teatro e seus festivais? Após a discussão, um relator apresenta as ideias de seu grupo, de modo a permitir uma reflexão sobre o ponto de vista de cada um. O importante aqui é a conversa sobre o conceito. Não há certo ou errado, mas diversas interpretações, em um jogo livre de combinação do arquivo-repertório de cada grupo. Em seguida, é importante que os alunos possam visitar o site oficial dos festivais citados, com o roteiro presente no Caderno do Aluno: f Você gostaria de produzir um festival ou mostra de teatro na escola? Pensando na experiência que você realizou neste estudo, poderia ser uma mostra de leituras dramáticas? Qual seria o conceito condutor da curadoria do festival e/ou mostra? Registre a seguir suas ideias. Com base nas respostas dos alunos e em sua escuta como professor, o que você pode registrar em seu diário de bordo sobre o que o estudo do tema potencializou em seus alunos? O encontro entre f O que chama a sua atenção no design dos sites oficiais dos festivais? teatro e público f Quais são as suas impressões sobre as fotos dos espetáculos publicadas nos sites? f Agora, pensando como um espectador de teatro, qual é a importância dos festivais teatrais? Na sua cidade há ou houve festivais como modo de acesso do público ao teatro? Como você imagina que se dá a organização de um festival teatral? mediação cultural aproximação entre teatro e público; festivais dionisíacos e teatro grego; sagrado e profano; leitura dramitica; festivais de teatro no Brasil; conceitos e curadoria de festivais. SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 3 DANÇA O foco de estudo nesta Situação de Aprendizagem é a aproximação da dança com o público, investigando questões sobre mediação cultural. Algumas delas podem ajudar você a registrar em seu diário de bordo sua percepção sobre a relação que existe entre seus alunos e a dança: O que você sabe a respeito do contato que seus alunos tiveram com a dança na escola nos últimos anos? Para eles e para você, a dança é uma linguagem da arte próxima ou distante do público? Você já teve oportunidade de ver seus alunos como plateia em espetáculos de dança? Como eles se percebem como público: envolvem-se mais com o que veem ou sempre ficam distante da ação cênica? A sua reflexão sobre essas questões pode ajudar nos encaminhamentos das proposições. Proposição I – Movendo a apreciação A intenção na apreciação das imagens a seguir é provocar a percepção dos alunos tanto sobre a separação entre o que acontece no espaço cênico e no espaço destinado ao público como sobre os espaços onde hoje a dança pode acontecer. Para isso, no Caderno do Aluno, são lançadas algumas problematizações: 27 f Olhando atentamente as imagens das dançarinas e lendo suas legendas, percebemos que uma delas realiza sua performance nas dependências de uma mina de extração de carvão, e a outra, em um palco instalado nas dependências de um parque público. Para você, nas apresentações de dança mostradas nas imagens, o público fica mais próximo do artista? Você imagina onde o público está quando a dançarina realiza sua ação cênica na mina? Como você percebe a relação do público diante de uma apresentação em um palco ao ar livre? f Em qual das apresentações você acredita que haja maior envolvimento do público com a ação cênica? Existe alguma razão para essa separação entre o que acontece no espaço cênico e o que se passa no espaço destinado ao público? f Existem diferentes tipos de palco. Quais você conhece? Você já assistiu a espetáculos em espaços como esses das imagens? Por que dizemos que esse palco é tradicional? Quantas paredes tem um palco italiano? f Você já conhecia o conceito de “quarta parede”? ( ) Sim. ( ) Não. Continue a discussão com as seguintes questões: 28 f Você acredita que o espaço onde ocorre uma apresentação interfere na nossa percepção da arte? f Como fica distribuído o público que assiste a um espetáculo cujo palco é italiano? E se o palco for de arena? E semiarena? Em que tipo de palco você percebe maior proximidade com a ação cênica? Você pode explicar para os alunos quais são os diferentes tipos de palcos: f palco italiano: normalmente, os espectadores assistem aos espetáculos de frente, após a abertura da cortina, que pode ser fechada para mudanças de cenário, para intervalos e para o final da apresentação; f palco de arena: o público se senta em arquibancadas ao redor de todo o palco. Em geral, os espectadores conseguem ver mais de perto as ações cênicas; f palco semiarena: o público fica em um espaço que circula parcialmente o palco, que geralmente tem uma plataforma que avança pela plateia. © Wilfried Krüger Arte – 2a série – Volume 1 Figura 25 – Christine Brunel. Performance nas dependências de uma mina de extração de carvão. Essen, Alemanha. 29 © Claudio Etges Figura 26 – Sayonara Pereira. Performance no Parque Farroupilha. Porto Alegre (RS). 30 Arte – 2a série – Volume 1 © Michael Prince/Corbis/Latinstock © William Whitehurst/Corbis/Latinstock Em seguida, as questões presentes no Caderno do Aluno levam à leitura das imagens do palco italiano (tradicional): Figuras 27 e 28 – Palco: cortina fechada; cortina aberta. Para que os alunos possam saber mais sobre a quarta parede no espaço cênico, leia com eles o texto a seguir: A quarta parede é uma parede imaginária situada na frente do palco do teatro, através da qual a plateia assiste passiva à ação do mundo encenado. A origem do termo é incerta, mas presume-se que o conceito tenha surgido no século XX, com a chegada do teatro realista. Apesar de ter surgido no teatro, onde os palcos, geralmente de três paredes, apresentam mais literalmente uma “quarta parede”, o termo é usado em outras mídias, como cinema, televisão e literatura, geralmente para se referir à divisória entre a ficção e a audiência. A quarta parede é parte da suspensão de descrença entre o trabalho fictício e a plateia. A plateia normalmente aceita passivamente a presença de uma quarta parede sem pensar nela diretamente, fazendo com que uma encenação seja tomada como um evento real a ser assistido. A presença de uma quarta parede é um dos elementos mais bem estabelecidos da ficção e levou alguns artistas a voltarem a sua atenção para ela como efeito dramático. PEREIRA, Sayonara. Rastros do Tanztheater no processo criativo de es-boço. Tese (Doutorado) – Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. p. 111 A dança clássica cênica tradicionalmente ocorre no palco italiano. Na dança cênica contemporânea, os espetáculos ocorrem em diferentes espaços, pois, a partir da década de 1960, há uma mudança na relação entre artistas e público pela busca da proximidade e da participação do espectador na elaboração do espetáculo. É importante confrontar os alunos com a ideia de que, na cena da dança contemporânea, a quarta parede foi “derrubada”. Mais precisamente, naqueles espetáculos em que os atores-dançarinos “saem do palco” e se relacionam diretamente com as pessoas do público, seja sentando ao seu lado, oferecendo algum objeto ou até mesmo convidando pessoas para atuarem em uma pequena cena que será montada aos olhos de todos. Para que os alunos façam um registro sobre esta apreciação, no Caderno do Aluno há duas questões que ajudam a refletir sobre o texto de Sayonara Pereira: f Para você, por que a presença da quarta parede favorece a ação passiva da plateia? f A apreciação e a conversa modificaram seu modo de pensar os espaços para a apresentação da dança? 31 Proposição II – Ação expressiva Para cercar as experiências que os alunos têm como espectadores de dança, as questões no Caderno do Aluno começam encaminhando uma conversa sobre o diferencial de fazer dança em diversos espaços. Hoje, os espetáculos de dança ocorrem em diferentes espaços como teatros, galerias de arte, praças, museus etc., ampliando as possibilidades de atuação diversificada dessa arte. O diálogo com o público se dá de maneira diferente, dependendo da proposta do espetáculo. Dessa maneira, abrange um público muito mais diversificado, ao mesmo tempo que abre um diálogo, bem mais envolvente entre Arte-espaços-público interessado. Em seguida, proponha a “Ação expressiva” presente no Caderno do Aluno: f Você já assistiu a espetáculos de dança? Eles aconteceram em palco tradicional ou em lugares alternativos? Que diferencial você acredita existir quando se faz dança em espaços pouco convencionais? Com base nessas questões, escreva a seguir suas experiências como espectador de dança. f Pensando que é possível apresentar espetáculos de dança em diferentes lugares, onde você gostaria de realizar o “seu” espetáculo de dança? Você pode imaginar esse lugar e registrá-lo no espaço a seguir por meio de um desenho, de uma colagem, de uma fotografia ou, ainda, de uma pequena maquete, a ser montada em casa e trazida para a sala de aula. repertório variado. Tornaram-se, para muitas pessoas, a porta de entrada para conhecer dança. Existem festivais que promovem competição, e outros que apresentam companhias de dança já estabelecidas no cenário nacional ou internacional. Dentro dos festivais de dança, muitas vezes, encontramos ainda eventos paralelos, que podem ser cursos ou espetáculos de grupos mais jovens, que acontecem em palcos alternativos. No Caderno do Aluno, em “O que penso sobre arte?”, são propostas algumas questões para iniciar uma conversa, incentivar os alunos a escrever suas ideias sobre festivais de dança e, ao mesmo tempo, ampliar sua compreensão: f Você conhece algum festival de dança que aconteça em sua comunidade, na escola, na sua cidade ou no Brasil? f Os festivais podem ser considerados vitrines de artistas? São eventos nos quais eles mostrariam seus trabalhos para um mercado de arte? f Como você imagina que seja a organização de um festival de dança? f Todo festival precisa ter uma curadoria? Justifique. A socialização e a escuta das respostas dos alunos podem promover uma boa conversa sobre festivais. Nessa conversa, não há certo ou errado; há pontos de vista diferentes. Assim, o importante é dar espaço para que todos possam expor o que pensam. Para alimentar a conversa, a proposta é apresentar um texto da curadoria da 6a Bienal Internacional de Dança do Ceará, para ser discutido pelos alunos. Proposição III – Festivais de dança Os festivais de dança são, na sua totalidade, eventos plurais, porque trazem na sua lista de participantes grupos de diversos lugares, com 32 Vamos dançar juntos? Nesta época contemporânea, tudo habita em tudo, tudo se contagia de tudo. As fron- Arte – 2a série – Volume 1 teiras se diluíram, tudo é fora. A diversidade e a pluralidade nas abordagens estéticas apenas refletem a força desses novos fluxos, que acabam propiciando novas formas de organização. Perguntamo-nos: como podemos aproveitar tudo isso, para a dança que dançamos, criamos ou pensamos? Uma resposta possível: favorecendo o surgimento de uma estratégia para a construção de novas condições de possibilidade, sobretudo no que diz respeito à constituição de processos criativos. Com isso extrapolamos o limite de nossos campos estéticos e experimentamos outras formas de existir. Apostamos no contágio e na vertigem. Aceitamos a desterritorialização como forma de andar e buscamos a potência do encontro: o que surge dele, como nos colocamos diante dele, como nos organizamos a partir dele. Desta forma, percebemos que a dança pode não ser o que estabelecidamente se espera dela. Melhor é quando entendemos que é justamente o contrário: a dança, vivenciada, produzida e reinventada a cada dia, como movimento e como pensamento, num espaço ético, passível sempre de novos e bons encontros, pode – e deve! – ser sempre o que escapa. Mobiliza ações Democratizar o acesso à dança cênica, em particular à dança contemporânea, investindo em ações de descentralização e interiorização; possibilitar o intercâmbio com outros países, incentivando e desenvolvendo projetos de colaboração artística; fomentar a produção de conhecimento na área da dança; e contribuir para a formação em dança. Estes são os objetivos que norteiam a Bienal Internacional de Dança do Ceará e que de dez anos para cá têm gerado diversos desdobramentos. a 6 Bienal Internacional de Dança – Ceará, 2007. Disponível em: <http://www.bienaldedanca.com>. Acesso em: 24 jul. 2013. Para potencializar o entendimento do texto, você, professor, pode fazer primeiramente uma leitura em voz alta; em seguida, os alunos fazem uma leitura silenciosa e, por último, com os alunos divididos em grupos, abre-se uma discussão com base nas questões propostas no Caderno do Aluno: f O que chama a atenção no tema do festival Vamos dançar juntos? f O que é perceptível como preocupação do festival sobre a relação entre espetáculo e público? f De que modo a leitura e a discussão do texto ajudaram você a saber mais sobre a dança e seus festivais? Após refletir sobre o texto da curadoria da 6a Bienal Internacional de Dança – Ceará, 2007, a sugestão é que os alunos visitem o site do festival e de outros, como o Festival de Dança do Recife ou a Bienal Sesc de Dança, em Santos, Festival de Dança de Joinville, Dança Ribeirão, Passo de Arte, Bento em Dança, entre outros. Algumas questões são sugeridas para mover a visita aos sites: f Qual o diferencial existente entre os festivais de dança? Quais os focos que cada festival intensifica? De que modo os textos da curadoria contribuem para a compreensão do tema dos festivais? Consulte os alunos: Como gostariam de socializar as descobertas feitas na visita aos sites e que foram registradas no Caderno do Aluno? Proposição IV – Mediação cultural em espetáculos de dança Duas companhias de dança. Duas experiências de mediação com o público: No espetáculo O+ (2004), da Quasar Companhia de Dança, de Goiânia, uma pessoa do público é convidada a ficar no palco durante todo o espetáculo. Sentada em um dos bancos que estão dispostos em grande semicírculo, como integrante do elenco, participa da celebração da dança, que nesse espetáculo tem o intuito de revelar o desejo 33 e a vontade essencial do ser humano de se movimentar. Além disso, os dançarinos da Companhia recebem, dentro do semicírculo, artistas convidados (dançarinos, atores ou músicos) para interferirem no espetáculo. Cada um com sua dança e arte, partindo de seu movimento próprio, individual, para um encontro com todos. PEREIRA, Sayonara. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. O espetáculo Coreografia de cordel (2004), da Companhia de Dança do Palácio das Artes, de Belo Horizonte, é o resultado de um projeto que se baseou, principalmente, na passagem da companhia pelo Vale do Jequitinhonha, norte de Minas Gerais. Na cidade de Medina, os 22 dançarinos que compõem o elenco da peça fizeram pesquisa de campo, colheram impressões, tiveram experiências, vivências e suas histórias pessoais com os moradores da região. Ao mesclarem essas experiências com o repertório de cada um, o resultado foi o espetáculo de dança. O cenário traz panelas dependuradas, a trilha sonora nos remete à cultura popular, e o público sentado dentro do palco é convidado algumas vezes a interagir nas ações cênicas. No final da apresentação, dançarinos e coreógrafo abrem diálogo com o público para conversar sobre curiosidades do espetáculo e seu processo de criação. nos, ao término da apresentação, ficaram para conversar com o público sobre o processo de criação do espetáculo? f Para você, essa mediação faz que o público fique mais familiarizado com o que assistiu? Por quê? f Será que a compreensão de um espetáculo de dança por parte do público necessita sempre desse modo de mediação cultural? f Para você, a leitura de imagens e textos sobre dança, a pesquisa em sites oficiais e a investigação em sala de aula são também modos de mediação cultural entre dança e público? A conversa disparada por essas questões pode ir desenhando para os alunos um conceito de mediação cultural em dança. Para finalizar, pergunte aos alunos: f O que você estudou até aqui modificou seu modo de pensar a dança? Justifique sua resposta. E você, professor, o que percebeu e registrou em seu diário de bordo sobre as mudanças no modo de pensar dos alunos? O encontro entre dança e público PEREIRA, Sayonara. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. Após a leitura dessas duas experiências de mediação, a conversa com os alunos pode acontecer com base nas questões do Caderno do Aluno, em “O que penso sobre arte?”: f Você já participou de algum espetáculo de dança em que o coreógrafo e os dançari- 34 mediação cultural aproximação entre dança e público; festivais de dança; conceitos e curadoria de festivais; espaços convencionais e alternativos; intervenção do espectador no espeticulo de dança; dança-público/quarta parede. Arte – 2a série – Volume 1 SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 4 MÚSICA O público tem contato com as obras musicais de várias formas, além das gravações em discos, CDs, mp3, rádio, cinema e televisão. Frequenta teatros, bares com música ao vivo, casas de shows, igrejas, praças públicas, estádios, grandes estacionamentos e parques. No Caderno do Aluno, em “O que penso sobre arte?”, os alunos registraram suas impressões após a audição da música, respondendo às seguintes questões: Antigamente, havia restrição técnica para a realização de espetáculos de grandes dimensões. Os teatros, auditórios, salas de concertos e de cinemas, e mesmo os coretos das praças, atendiam a um público restrito. A cada dia, esses espaços culturais estão mais bem preparados para oferecer som de qualidade, iluminação, cenários e acomodações para receber o público. Os telões apoiam a visão para que os detalhes sejam vistos por todos. f Você conhece essa música de Chico Buarque? Sugerimos estudar algumas formas pelas quais a música ao vivo chega ao público. Transportando essas questões para a vida dos alunos, podemos perguntar a eles: Já assistiram a espetáculos de banda de música? Onde? Com quantos integrantes? Conhecem a história da banda local? Ou são várias? Quando foram iniciadas? De onde são? Têm algum papel importante na localidade onde surgiram? Teriam a força que tem a banda cantada por Chico Buarque? Proposição I – O que penso sobre música? Bandas e fanfarras Para iniciar, trazemos a você, professor, uma canção de Chico Buarque para ajudar a motivar a conversa: A banda, de 1966. No quadro, encontram-se somente as 1a e 8a estrofes, mas você pode ler para seus alunos a letra completa disponível no site oficial desse artista, ou apresentar-lhes a música, presente no DVD Roda viva: A banda Chico Buarque Estava à toa na vida O meu amor me chamou Pra ver a banda passar Cantando coisas de amor [...] A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu A lua cheia que vivia escondida surgiu Minha cidade toda se enfeitou Pra ver a banda passar cantando coisas de amor © Fermata do Brasil/ Editora Música Brasileira Moderna Ltda. f Por meio dela é possível perceber o papel da banda em uma comunidade? f A música da banda seria um elemento capaz de transformar sentimentos, aparências e forças da natureza? f De onde seria essa banda? Você pode investigar com seus alunos: A que tipo de banda o autor estava se referindo? De MPB, de rock, de jazz ou de algum outro tipo? O que a música, no seu ritmo, na forma como é cantada, sugere em termos de movimento? Você pode pedir para os alunos fecharem os olhos e sentirem o que o corpo pede para fazer ao escutar A banda. Será que a escuta de A banda é igual à de uma música sacra ou de salão de baile? Em quais aspectos a escuta desses tipos de repertório se diferencia? Afinal, que tipo de banda “passa”? E, na sua cidade, onde e em que ocasiões a banda se apresenta? Ela fica parada ou em movimento? Ou ambos? Há um coreto na sua cidade? Quando foi construído? Há fotos antigas desse coreto com as bandas (ou corporações musicais) tocando? Como o coreto é usado hoje? 35 Há salas de concerto? Afinal, quais são os espaços sociais usados para apresentações musicais em sua região? Há décadas, uma das mais populares atividades da música instrumental, que acontecia nas praças públicas e nas ruas das cidades, era a apresentação de bandas de músicas. Em banco de dados da Funartea, há 2 429 registros de bandas de música no Brasil. Chico Buarque canta a importância histórica dessas corporações para a cultura popular brasileira em sua música A banda. Outras manifestações similares são a fanfarra e a corporação musical. Os alunos saberiam dizer as diferenças entre elas? Festivais de música Festivais reúnem produções musicais para um grande público, superando o espaço da praça, das salas de concerto, dos botecos, dos fundos de quintal, das festas sazonais, congregando músicos e músicas de localidades diferentes. No mundo inteiro há festivais de música erudita, popular e folclórica, entre outros gêneros. Na Música Popular Brasileira, os festivais de música tiveram seu ápice nas décadas de 1960 e 1970. Eram muito competitivos, com torcidas organizadas que aplaudiam seus preferidos e vaiavam os concorrentes. O 3o Festival de Música Popular Brasileira, que aconteceu em 1967 no Teatro Paramount (atualmente Teatro Renault), foi uma das primeiras vezes em que a guitarra elétrica apareceu na MPB, fora do rock. Ela foi usada na apresentação da canção Domingo no parque, de Gilberto Gil, interpretada por ele, pelo grupo Os Mutantes e pela orquestra da TV Record, com arranjo e orquestração do maestro Rogério Duprat e regência do maestro Cyro Pereira. a 36 Uma das características desses festivais era a disponibilização de arranjadores e orquestradores para que os compositores pudessem apresentar suas músicas de forma bem profissional. Jovens compositores surgiram nesses festivais e transformaram-se em grandes nomes da música brasileira, como Chico Buarque, Edu Lobo, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé e tantos outros. Nos Estados Unidos da América, há também um histórico festival de música, que teve seu início com a onda hippie, no final da década de 1960: o Festival de Woodstock. Um público enorme participou, assistindo a muitas bandas também formadas por jovens músicos, cantores e compositores. Entre os músicos que se apresentaram nesse festival, um dos mais conhecidos foi o guitarrista Jimi Hendrix. No Brasil, dadas as várias semelhanças entre a MPB instrumental e o jazz, há festivais de jazz em que músicos brasileiros e estadunidenses se apresentam e trocam experiências. Em Campos do Jordão, é realizado o Festival de Inverno pela Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Músicos e orquestras nacionais e internacionais se apresentam e cursos de música são oferecidos. O que os alunos sabem dos festivais de música popular do Brasil e de outros países? Quais as semelhanças e as diferenças entre os festivais do passado e os modos de divulgação das músicas hoje? E sobre o Festival de Inverno de Campos do Jordão, o que seus alunos sabem sobre ele? Todas essas questões podem ajudar os alunos a discutir se os festivais ajudam ou não a permitir maior acesso do público à música. Também os incentive a pensar sobre a importância da mídia na divulgação da música como forma de ampliar esse acesso. FUNARTE. Bandas de música por estado. Disponível em: <http://www.funarte.gov.br/bandas/estado. php?pagina=$1>. Acesso em: 9 ago. 2013. Veja também: FUNARTE. Projeto bandas. Disponível em: <http:// www.funarte.gov.br/projeto-bandas-2>. Acesso em: 9 ago. 2013. Arte – 2a série – Volume 1 Três linhas de pesquisa No Caderno do Aluno, são sugeridas três linhas de pesquisa complementares: f A pesquisa em arte e cultura sempre aponta muitas direções, mas o acesso às informações nem sempre é facilitado, mesmo em tempos de internet. Muitas vezes, é mais fácil ter acesso a instituições que investem em publicidade. Corremos o risco de não conhecer ou desvalorizar as manifestações artísticas de nossa região. O que podemos descobrir sobre a relação entre música e público? Quanto mais grupos investigarem a mesma linha de pesquisa, mais ângulos podem ser descobertos. Para isso, junte-se a um grupo e escolha o que pesquisar: – Caça-fanfarra: Sua escola tem ou já teve uma fanfarra? Há algum registro em fotos, áudio ou vídeo? Quem são as pessoas que fazem ou fizeram parte dela? O que elas podem dizer a respeito dessa experiência? Quais outras questões podem ser pesquisadas? – A música em sua cidade: Banda de música, corporações musicais, bandas de rock, música sacra, orquestras. O que é possível descobrir em sua cidade? – Festivais de música: Quais são os festivais de música que estão acontecendo hoje? Eles são importantes para a divulgação da música? É interessante ter vários grupos de alunos para cada linha de pesquisa. O pedido para todos é fazer um texto jornalístico, que, depois, possa gerar um boletim interno, uma revista impressa, uma informação para algum site ou a divulgação como notícia, na hora do recreio, em um programa de rádio na escola ou, ainda, a montagem de uma cena, como um jornal da TV gravado para passar no hall de entrada da escola etc. O importante é que essas ideias sejam analisadas e retrabalhadas, até ser obtida uma produção que possa realmente ser divulgada na escola e na comunidade. Proposição II – Mediando a escuta A mediação cultural se preocupa especialmente em dar acesso ao público, em colocá-lo em contato com a Arte. Essa ação envolve escolhas que sempre têm uma intenção especial. Selecionamos algumas composições para ampliar o contato dos estudantes com a música. São duas peças com diferentes interpretações, para que ouçam e comparem. Sugerimos iniciar com algumas questões, como: Por que oferecer duas ou três versões de uma música para a escuta? Como o foco desse estudo é a mediação cultural: Os alunos percebem que a escolha do professor ou de um produtor cultural envolve uma atenção com quem vai escutá-las? Depois dessa primeira conversa, vamos experimentar modos diferentes de mediar. Escuta 1 – Summertime, de George Gershwin Selecionamos duas dentre 2 600 versões gravadas por músicos no mundo todo da música Summertime. Sem oferecer informações prévias, apresente: a faixa 2 do CD Cool & collected, interpretada por Miles Davis; e a faixa 2 do CD Janis Joplin greatest hits, interpretada por Janis Joplin. No Caderno do Aluno há um espaço para registrar a experiência de escuta proposta nesta seção. Como os alunos reagiram à escuta? Sentiram-se dispersos 37 durante alguma das versões? Ou nas duas? A imaginação os levou para algum outro lugar? Por que houve concentração ou dispersão? Estavam disponíveis para a escuta ou resistentes a ela? Por quê? Conscientizar os alunos para o próprio ato de escutar pode trazer à tona a questão do gosto pessoal, da influência da mídia, dos repertórios pessoal e cultural, entre outros aspectos. Quais foram as perguntas feitas pelos alunos sobre os dados das duas versões de Summertime? Perguntaram sobre os intérpretes? Sobre a história dessa música? Sobre o compositor? Sobre a época em que foram gravadas? Quais foram suas curiosidades? Muitas outras questões podem problematizar a análise comparativa: Que instrumento conduz o solo da melodia em cada gravação? Como o público reage às interpretações? Participam em algum momento? De que forma? Conseguem acompanhar com palmas, seguindo Janis? Como os alunos percebem as diferenças na forma de tocar a melodia e a improvisação dos músicos solistas? Qual das interpretações é mais tradicional? Há semelhança na voz de Janis e no trompete de Miles? É possível aos alunos identificar em que compasso está sendo tocada cada uma das interpretações? Essas questões abrem possibilidades de novas escutas, especialmente para o professor com formação em música, pois a música Summertime na versão original e na de Miles é em 4/4 (quatro por quatro, ou quatro semínimas por compasso, ou compasso quaternário). Para sentir essa medida, é necessário achar primeiro a pulsação da música. Basta sentir o movimento do pé, que parece bater automaticamente quando ouvimos uma música. Essa marcação regular indica, geralmente, a pulsação da música. Quando dizemos que ela está em 4/4, queremos dizer que ela está organizada ritmicamente de modo a ter acentos de apoio de quatro em quatro pulsos. 38 Na gravação de Janis Joplin, dado o andamento lento da música, que é de 12/8 (doze por oito, ou 12 colcheias por compasso, ou, ainda, três subpulsos a cada um dos quatro tempos do compasso), tem-se a impressão de que a música está em compasso ternário, isto é, que há três tempos por compasso, e existe um acento no primeiro desses três tempos. A sensação fica mais clara quando escutamos o toque do chimbau na bateria, que vai marcando a subdivisão. Isso leva Janis, por exemplo, a começar a bater palma em determinado trecho da música, como se fosse flamenco, que tem estrutura ternária. Escuta 2 – Água de beber, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes Nesta segunda proposição de escuta, iniciamos com a apresentação de duas versões da mesma música: a faixa 17 do CD Caminhos cruzados, com interpretação do Zimbo Trio, e a faixa 1 do CD Eliane Elias plays Jobim, interpretada pela pianista brasileira Eliane Elias, por Naná Vasconcelos na percussão e por dois estadunidenses: Eddie Gomes, no baixo acústico, e Jack DeJohnette, na bateria. Antes de colocá-las para os alunos ouvirem, levante com eles algumas questões sobre as duas versões. Aguarde em silêncio as possíveis perguntas que eles fizerem, preparando a audição das duas versões. Após a escuta, você, professor, pode levantar outras questões: Em que são diferentes e semelhantes as interpretações da música de Jobim? Na segunda gravação, há duas músicas de Tom Jobim, uma ligada à outra. Será que reconheceremos a primeira? É possível demarcar onde termina uma e começa a outra? Faz diferença a música ser tocada só por brasileiros, em comparação ao grupo que apresenta baixista e baterista estadunidenses? Há diferenças no samba tocado por ambos os grupos? Seria possível saber, se não fosse citado, que em um dos grupos há dois músicos estadunidenses? Podemos afirmar Arte – 2a série – Volume 1 que saber tocar samba é exclusividade de músicos brasileiros? Por quê? apresentariam? Que problematizações poderiam fazer para provocar uma melhor escuta? Depois de levantar as questões dos alunos e as aqui sugeridas, além de outras que julgar interessantes, peça aos alunos que realizem os registros no Caderno do Aluno. Volte a fazer uma nova escuta e, depois, retome as perguntas iniciais que você propôs sobre as duas versões. Essas questões podem provocar a escrita de um pequeno projeto de mediação cultural no Caderno do Aluno. O encontro entre música e público Sobre as duas escutas Os alunos percebem as diferenças de mediação das duas escutas? A discussão deve possibilitar a investigação da importância e o cuidado na escolha e no modo de possibilitar o acesso à música. Com base nessa discussão, os alunos poderiam elaborar projetos de intervenção na sua comunidade para dar maior acesso à música. Que obras musicais escolheriam para ampliar o seu repertório? Como as mediação cultural mediações para a escuta; interpretações diversas; anilise comparativa; repertório pessoal e cultural; festivais de música; bandas; fanfarras; espaços sociais da arte na cidade. SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 5 CONEXÕES COM OS TERRITÓRIOS DO PROCESSO DE CRIAÇÃO E DAS LINGUAGENS ARTÍSTICAS As proposições sugeridas até aqui podem gerar ideias para projetos de poética pessoal ou colaborativos nas várias linguagens da arte. Sugerimos percorrer para isso dois territórios: processos de criação e linguagens artísticas. Realizar esses percursos pode ajudar os alunos a iniciar um levantamento de ideias para uma produção cultural, cujo projeto será escrito na abordagem do próximo tema. Para isso, haverá novas proposições, que ampliarão repertórios e oferecerão subsídios para essa escrita. Esperamos que os projetos sejam realizados no próximo semestre. Para iniciar uma reflexão, uma conversa pode ser provocada por você por meio das seguintes questões: Qual é o caminho de uma ideia em arte? A ideia já nasce pronta em um insight ou é necessário “amadurecê-la”? Ou nasce de uma coleta sensorial, da vigília criativa, de esboços que vão apurando-a? É importante que os alunos possam ampliar o conhecimento sobre processos de criação, já que há muitos mitos cercando os artistas. O talento e a inspiração são muitas vezes percebidos como centrais nos processos de invenção. Agora, sendo instigados a produzir um projeto de poética pessoal ou colaborativo, é um bom momento para ressignificar o que entendem por processo de criação em arte. Por outro lado, o território de mediação cultural pode ter feito os estudantes ficarem mais atentos à aproximação entre as diferentes linguagens artísticas e o público e estimulados a criar um projeto pessoal ou colaborativo de produção cultural. Dentro dessa ideia de projeto de produção cultural, o que gostariam de realizar? Como 39 é possível fazer isso acontecer? Pesquisa é a palavra-chave, e aprender a perguntar a si mesmo e ao grupo também favorece essa produção: O projeto é para quem e por quê? Qual será o tema? Quem participa? Como será a seleção?... Os alunos podem esboçar no Caderno do Aluno suas ideias e expectativas sobre a realização de projetos pessoais ou colaborativos de produção cultural. Após a escrita do esboço pelos alunos, sugerimos que apresentem e discutam as ideias escritas. Elas podem ser lidas por você, acompanhadas da problematização: No que diferem as várias ideias? Há esboços para as várias linguagens artísticas? São ideias viáveis? Se não são, como viabilizá-las? O que vocês percebem nos próprios processos de criação? O que lhes interessa provocar no público? Vocês têm claro o conceito de relação entre Arte e público como conceito de mediação cultural? 40 O conceito de mediação cultural pode ser muito novo na escola, mas trazê-lo à tona aponta outros modos de olhar as manifestações culturais. Depois da apresentação e da discussão das ideias, proponha o registro das três que os alunos considerem viáveis para realizar como projeto de intervenção na escola. processo de criação Práticas poéticas linguagens artísticas prp-proMeto; esboço em virias versões; coleta sensorial; vigília criativa; pesquisa; projeto pessoal ou colaborativo de produção cultural; curadorias educativas. Arte – 2a série – Volume 1 SÍNTESE E AVALIAÇÃO A formação cultural dos alunos envolve diferentes aspectos, entre os quais a ampliação de conceitos e a percepção e a expressão sobre a/na arte. Os mapas a seguir mostram os conteúdos potenciais apresentados nas possiaproximação entre arte e público; curadoria educativa; conceitos e curadoria de festivais; espaços sociais da arte na cidade. bilidades do estudo do tema O encontro entre arte e público para a relação entre a arte e o território de mediação cultural, assim como o início do percurso pelo território de processo de criação e linguagens artísticas. festivais de dança; espaços convencionais e alternativos; intervenção do espectador no espeticulo de dança; dança-público/quarta parede. mediações para a escuta; interpretações diversas; anilise comparativa; repertório pessoal e cultural; festivais de música; bandas; fanfarras. mediação cultural O encontro entre arte e público processo de criação festivais dionisíacos e teatro grego; sagrado e profano; festivais de teatro no Brasil; ressonâncias entre espeticulo e espectador. espaços institucionais e alternativos; obras interativas; o público e a arte contemporânea; pro¿ssionais da irea; artistas; modos de expor. Práticas poéticas linguagens artísticas prp-projeto; esboço em virias versões; coleta sensorial; vigília criativa; pesquisa; projeto pessoal ou colaborativo de produção cultural; curadorias educativas. 41 Avaliando os portfólios Partindo desses mapas e das experiências estéticas e artísticas realizadas em sala de aula e registradas pelo aluno em seu portfólio – Caderno do Aluno e em outros modos de registro realizados –, você, professor, pode avaliar o percurso realizado com a turma. Para isso, no Caderno do Aluno, na seção “Você aprendeu?”, é proposta a criação de um fôlder como uma peça de mediação cultural, tendo como conteúdo as imagens, os textos e as respostas dos alunos no contexto do estudo realizado. A partir do fôlder e da leitura do portfólio, composto do Caderno do Aluno e de outros modos de registro, você percebeu como os alunos: f Investigaram o encontro entre arte e público na dimensão da mediação cultural, como experiência estética a ser compartilhada? 42 f Conheceram e valorizaram os espaços e formas de integração entre arte e público? f Perceberam a mediação cultural como abertura de possíveis canais de interação comunicativa e de diálogo entre o público e as artes visuais, a dança, a música e o teatro? f Esboçaram projetos individuais ou colaborativos como condutores de espaço para a apresentação do fazer artístico da comunidade escolar e/ou do seu entorno? Refletindo sobre o seu diário de bordo Pensando sobre o percurso realizado pelos alunos, como você percebe suas ações pedagógicas? O modo como você escolheu e reinventou as possibilidades sugeridas foi adequado? O que você faria de modo diferente? Quais outras conexões poderiam ter sido feitas? Para onde você pode caminhar com seus alunos a partir de agora? Arte – 2a série – Volume 1 POÉTICAS PESSOAIS E/OU DE PROCESSOS COLABORATIVOS Poética pessoal significa a forma singular de cada um operar no fazer da construção artística, articulando referências, sentidos e significações. Poética pessoal é o modo singular de comunicar-se pela linguagem da arte. O aprendizado e a revelação de uma poética pessoal só se dá por meio do fazer que vai acontecendo durante o processo de criação. A procura de materiais, cores, formas, temas, sons, diagramas, movimentos, matérias e procedimentos se caracteriza como meio, e não como fim da poética pessoal. Neste tema, tendo como foco a poética pessoal e/ou o diálogo de poéticas pessoais em processos colaborativos, espera-se que, no percurso de experimentação, aconteça a invenção poética dos alunos, de tal forma que, enquanto fazem a obra, criem o modo de fazer, como já dizia Pareyson. Conhecimentos priorizados Poéticas pessoais e/ou de processos colaborativos Temas e conteúdos Poéticas nos territórios das linguagens artísticas e forma-conteúdo 43 Se a aproximação da arte-público é um caminho de múltiplas direções, a obra do artista é seu coração, e a poética, o que o faz bater. Para além de conhecer uma ou outra obra, perceber a poética de seu produtor ou de seus produtores, caso seja uma produção colaborativa, há o penetrar na singularidade que marca a sua obra como um todo. Nela podemos perceber a aventura de seu processo criador, seus repertórios pessoal e cultural, suas escolhas e inquietudes, seus procedimentos. Adentrar no território do processo de criação na elaboração de projetos abre espaço para ampliar a compreensão e a discussão sobre o processo que envolve o fazer individual em uma linguagem artística ou o fazer que acontece em uma produção colaborativa. Nesse sentido, além dos territórios anteriores, coloca-se em foco o processo de criação na: A conexão entre linguagens artísticas e forma-conteúdo oferece a oportunidade de perceber escolhas tanto em relação à temática quanto ao uso da própria gramática da linguagem da arte. Assim, as poéticas investigadas no território das linguagens artísticas e da forma-conteúdo podem focalizar: f poética nascida de processos coletivos e/ou colaborativos; f a potencialidade e a singularidade poética nas linguagens artísticas; f invenção de pré-projetos e elaboração de sua escrita. Competências e habilidades f os desdobramentos das linguagens da arte; f Desenvolver poéticas pessoais, coletivas e/ou colaborativas por meio de percursos de experimentação; f a operação poética de levantamento de hipóteses, escolha e testes de elementos da gramática das linguagens artísticas; f vivenciar a criação poética durante o fazer da construção artística, inventando o seu modo de fazer; f o revelar das temáticas. f investigar as potencialidades das relações entre linguagens artísticas e forma-conteúdo; Processos de criação na elaboração de projetos processo de criação 44 f poética pessoal; f inventar e elaborar a escrita de pré-projetos individuais ou colaborativos como condutores de espaço para a realização do fazer artístico da comunidade escolar e/ou do seu entorno, no volume 2. Arte – 2a série – Volume 1 PROPOSIÇÃO PARA SONDAGEM UMA CONVERSA SOBRE POÉTICAS PESSOAIS Pode parecer estranho, mas podemos iniciar uma sondagem pedindo para os alunos criarem um diagrama em uma folha de papel A4 apresentando seus pertences pessoais. Um diagrama é um esquema que sugere análise, e não um desenho figurativo de seu guarda-roupa. Assim, levante com eles aspectos que podem ser focalizados, como: f as cores das roupas em seu armário (camisetas, calças, roupas íntimas, casacos/malhas etc.); f os livros e as revistas que possuem; f as músicas e/ou os CDs de que mais gostam; f as capas de livros ou de CDs que mais admiram; f os atores que preferem; f o desenho de um objeto de que gostem muito em sua casa; f as obras de arte preferidas; essas marcas ficam mais visíveis. Para isso, sugerimos uma leitura cuidadosa que envolva: f a diagramação da folha: as diferenças entre os vários modos de compor o diagrama; a organização dos elementos presentes; as cores utilizadas no desenho do diagrama; f os vários aspectos presentes no diagrama, de acordo com os focos previamente levantados. Podemos dizer que essa leitura tem como foco as escolhas formais e de conteúdo. Assim, depois da interpretação compartilhada, cada grupo deve criar um diagrama-síntese de sua interpretação do material do grupo analisado. Um fórum apresentando os comentários do ponto de vista de quem fez e de quem analisou pode aprofundar discussões sobre as marcas pessoais que certamente também são fundamentadas pelos repertórios culturais, pelas oportunidades da vida, pelos interesses e pelos desejos. Será interessante que iniciem o diagrama em classe e que possam completá-lo, transformá-lo e terminá-lo em casa, diante dos próprios objetos de análise. Descobrir a própria poética é deixar que marcas/pensamentos pessoais se expressem em uma série de trabalhos que ajudam a apurar a própria poética, seja ela nascida em processos de criação individuais ou colaborativos. Entretanto, mesmo em jovens artistas, nem sempre é possível perceber a “processualidade” da poética, pois é a potencialidade da vida que a vai modelando. Compor grupos na classe para a apresentação e a análise dos trabalhos é um ponto-chave. Depois de divididos os grupos, cada um deles recebe o material de outro grupo para leitura. O desafio é superar uma leitura que procure mostrar a personalidade e perceber se há uma marca pessoal que ligue todas as escolhas de cada pessoa. É na diferença que As ideias já trabalhadas, mais essas ações, potencializam a continuidade da experiência em arte. O primeiro passo é abrir o leque de todas as linguagens. O próximo é possibilitar que os alunos criem grupos de interesse para os projetos que se concretizarão no volume 2 e mediá-los nas descobertas das linguagens e de sua gramática. f os filmes que gostam de assistir; f o gênero que gostam de dançar... 45 SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 6 DESDOBRAMENTOS DAS LINGUAGENS DA ARTE Artes visuais e audiovisuais, dança, música, teatro se constroem na invenção criativa de linguagens, elaboradas com códigos que se fazem signos artísticos. Artistas, obras e épocas geram desdobramentos para ultrapassar limites processuais, técnicos, formais, temáticos ou poéticos. O estudo das produções artísticas nos coloca em contato com a singularidade do modo de produção da linguagem da arte: seja para a compreensão da passagem, por exemplo, da arte moderna à arte contemporânea, seja para perceber e compreender as diferentes singularidades da arte quando estamos diante de uma obra. Ao mesmo tempo, o estudo da linguagem da arte nos faz parceiros estéticos Desdobramentos das linguagens da arte Arquitetura Artes circenses Assemblage Body art Breakdance Canto Canto coral Capoeira Cenografia Cerâmica Colagem Commedia dell´arte Conjunto de câmara Dança clássica Dança contemporânea Dança moderna Dança popular Danças de salão Danças regionais 46 Desenho Design Escola de samba Escultura Escultura viva Figurino Folia de reis Forró Fotografia Frevo Gravura (metal, xilogravura, serigrafia...) Happening HQ Iluminação Improvisação musical Improvisação teatral Instalação Intervenção cênica Jazz Jingle Jongo quando interpretamos e criamos significação para uma obra que olhamos e que nos olha, provocando ressonâncias em nós, estimulando nossa percepção e sensibilidade por meio de seus signos artísticos. Por isso é que certos saberes, habilidades e sensibilidades só se formam inventivamente quando há experimentação e experiência nas linguagens artísticas, tanto como criador quanto como leitor de práticas artísticas. Um grande mapa dos desdobramentos da Arte pode ser construído, sem a pretensão de ser conclusivo ou completo. Primeiramente, levante com os alunos alguns desdobramentos artísticos que conhecem. Para facilitar, segue uma listagem em ordem alfabética. Land art Livro de artista ou livro-objeto Mamulengo Moda MPB Música eletrônica Música erudita Música instrumental Música para jogos eletrônicos Música pop Objeto Orquestra sinfônica Ourivesaria Performance Pintura (mural, têmpera, óleo, acrílico, aquarela...) Publicidade Rap Ready-made Repente Rock Samba Site specific Sons para celular Tambor de crioula Tapeçaria Teatro contemporâneo Teatro de animação Teatro de grupo Teatro de marionetes Teatro de rua Teatro de sombras Teatro moderno Teatro nô Teatro pós-dramático Tecnomúsica Trilha sonora Videoarte Videoclipe Web art Arte – 2a série – Volume 1 Depois, no Caderno do Aluno, apresentamos uma ação sobre o esquema a seguir. A proposição é ligar os pontos, unindo os desdobramentos às linguagens de origem: f linguagem da dança; f linguagem do teatro; f linguagens convergentes (que nem sempre são consideradas arte, mas trabalham com seus códigos). f linguagem da música; f linguagens híbridas (que unem linguagens de áreas diversas); f linguagem das artes visuais; Breakdance Linguagem do teatro Teatro pós-dramático Linguagem das artes visuais Linguagem da dança Linguagem da música Linguagens híbridas (unem linguagens de áreas diversas) Linguagens convergentes (que trabalham com os códigos da arte) Figura 29 – As linguagens de origem e os seus desdobramentos. 47 Quais agrupamentos foram gerados? Compare os agrupamentos feitos pelos alunos com os que são mostrados a seguir. A tarefa certamente levantará uma série de dúvidas e inquietações e pode gerar novas pesquisas, se houver possibilidade. Um novo mapa poderá ser feito, com colagens de reproduções de obras e desenhos criados pelos alunos. Agrupamentos possíveis: f artes visuais: assemblage; body art; cerâmica; colagem; desenho; escultura; fotografia; gravura (metal, xilogravura, serigrafia...); happening; HQ; instalação; land art; livro de artista ou livro-objeto; objeto; performance; pintura (mural, têmpera, óleo, acrílico, aquarela...); ready-made; site specific; tapeçaria; videoarte; web art; f dança: capoeira; dança clássica; dança contemporânea; dança moderna; dança popular; danças de salão; danças regionais; escola de samba; forró; frevo; breakdance; jongo; tambor de crioula; f teatro: artes circenses; commedia dell´arte; escultura viva; folia de reis; happening; improvisação teatral; intervenção cênica; mamulengo; performance; teatro pós-dra- mático; teatro contemporâneo; teatro de animação; teatro de grupo; teatro de marionetes; teatro de rua; teatro de sombras; teatro moderno; teatro nô; f música: canto; canto coral; conjunto de câmara; improvisação musical; jazz; MPB; música eletrônica; música erudita; música instrumental; música pop; orquestra sinfônica; rap; repente; rock; samba; tecnomúsica; f linguagens híbridas: happening; performance; f linguagens convergentes: arquitetura; cenografia; design; figurino; iluminação; jingle; moda; música para jogos eletrônicos; ourivesaria; publicidade; sons para celular; trilha sonora; videoclipe. linguagens artísticas Desdobramentos das linguagens da arte linguagem das artes visuais; linguagem da dança; linguagem da música; linguagem do teatro; linguagens híbridas; linguagens convergentes. SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 7 ARTES VISUAIS Perceber poéticas visuais é viajar pelas obras dos artistas e captar suas marcas pessoais. Muitos caminhos na linguagem das artes visuais podem ser percorridos com essa intenção. Selecionamos, nesta proposição, a fotografia, compreendida como mote para mergulhar nas poéticas de dois artistas que trabalham com ela. Mas, antes de trazê-los, vamos convidar os alunos para um contato 48 com desdobramentos das artes visuais para ir além do senso comum. A fotografia digital, até mesmo em celulares, simplificou as dificuldades técnicas do passado. Por outro lado, cada vez menos parece haver uma preocupação na escolha exata para o clique. Fotografa-se e, depois, são escolhidas algumas fotos para serem guardadas ou mesmo Arte – 2a série – Volume 1 mostradas na tela do celular, e “apagam-se” as fotos que pouco interessam. Proposição I – Pequenos álbuns de fotografias Os alunos têm acesso ao mundo da fotografia? São fotógrafos amadores? Têm muitas fotografias guardadas em casa? Uma conversa sobre essas questões abre espaço para levantar o grau de convívio que os alunos têm com a fotografia e com o ato de fotografar. Dependendo das respostas, podemos pensar em algumas alternativas de trabalho para ampliar o conceito de fotografia com base na análise de pequenos álbuns: f alternativa 1: se a turma tem o hábito de fotografar, podemos pedir que cada um dos alunos selecione cinco fotos de sua autoria. É importante que as fotografias sejam impressas para facilitar a análise; f alternativa 2: se existe a possibilidade de que tragam fotografias que tenham em casa, podemos pedir que selecionem cinco fotos que sejam as mais significativas de sua vida. Por cuidados de preservação, os alunos devem trazer cópias xerográficas das fotos selecionadas; f alternativa 3: caso nenhuma das alternativas anteriores seja possível, podemos pedir que os alunos selecionem cinco fotos de revistas que considerem interessantes. A proposta do encontro seguinte é analisar os pequenos álbuns, independentemente da alternativa escolhida (podendo, até mesmo, ser uma mescla das propostas). Inicialmente, a análise é individual: no Caderno do Aluno, eles devem fazer uma síntese visual, registrando o critério de escolha que utilizaram e indicando, de modo verbal ou visual, as fotografias que compõem o seu álbum. Depois, a análise será feita em grupos. O ideal é que cada grupo seja formado por cinco ou seis alunos. Sem mostrar a primeira análise, individual, os alunos, em grupo, devem levantar um critério para o estudo, agrupando todas as fotos do grupo segundo o critério selecionado. Não é interessante oferecer nenhum tipo de sugestão, pois ela poderia dirigir todos os alunos para os mesmos critérios. As próprias fotos podem dar dicas para a análise. Cada agrupamento de fotos deve ganhar uma síntese visual com o critério utilizado e registros das fotografias que o compõem. Análises compartilhadas – Quais os critérios levantados pelos grupos? É nesse momento que vamos trabalhar sobre os vários modos de perceber a fotografia, por meio do mapeamento feito com base nas sínteses visuais individuais e grupais. É provável que muitas sínteses visuais mostrem uma seleção feita por meio de temáticas que focalizem a fotografia como registro, como documento: festas (de aniversário, de formatura etc.), viagens, paisagens, grupos de amigos, família, retrato, autorretrato etc. Outros critérios podem surgir, como a questão da posição do fotógrafo em relação ao objeto fotografado (longe, perto, abaixo, acima ou no nível do objeto fotografado etc.), o momento do dia em que a foto foi tirada, fotos de ambientes externos ou internos, número de elementos presentes na fotografia, o fato de serem coloridas ou em preto e branco, a natureza das fotos (publicitárias, para documentos etc.), entre outros. 49 O mapeamento realizado com os alunos talvez aponte aspectos não percebidos, que poderiam gerar outros critérios para a análise, como as fotografias produzidas com o uso de filtros especiais, as produzidas por lentes especiais, as digitais reproduzidas em monitor ou papel, as produzidas por negativos ou fotogramas etc. Passando pelas questões relativas ao território da materialidade, vamos mergulhar no território de forma-conteúdo. rente (aquilo que mostra) e uma realidade interna (com camadas de significações potenciais). Quais os elementos da visualidade na fotografia? Os alunos conseguem ver a luminosidade, a iluminação, os planos, o enquadramento, os ângulos, o preto e branco, a cor, os filtros etc.? Percebem as relações entre elementos, como o contraste de luz e sombra, a atmosfera, o close, a proximidade, o distanciamento, a relação figura/fundo etc.? Como esses elementos dão suporte aos significados da imagem? Nossos álbuns de fotografia, envolvidos pela amorosidade, podem ter despertado um olhar mais apurado, atento às suas realidades internas? Para ampliar essa compreensão, vejamos dois artistas da fotografia. Para dar um exemplo, podemos agrupar todas as fotografias de festas de aniversário – ou de outra temática recorrente nos pequenos álbuns trazidos – e verificar quais as sensações e sentimentos que elas provocam. As impressões pessoais são fortalecidas pelo modo como a fotografia foi composta pelo fotógrafo, mesmo que ele não se tenha dado conta disso quando fotografou? Como os elementos formais provocam sensações e sentimentos? O filósofo Roland Barthes, que muito se interessou pelo tema, nos diz que punctum é o que nos atrai em uma fotografia, o que nos toca. Os alunos conseguem percebê-lo em algumas fotografias? Por que algumas nos provocam e outras não? Eles concordam com Henri Cartier-Bresson, que, certa vez, descreveu o ato fotográfico como o perfeito alinhamento da cabeça, do olho e do coração? Talvez todas essas problematizações desnaturalizem o olhar que acaba vendo tudo de modo banal, superficial e que acredita na neutralidade da câmera e da imagem fotográfica. A fotografia, entretanto, é construção simbólica, elaborada, de realidades diversas, com intenções variadas em sua produção e em sua recepção, e que implica um produtor e um leitor inseridos em sua cultura. Ela revela uma realidade apa- 50 Depois das análises realizadas em grupo e das discussões coletivas, podemos voltar ao Caderno do Aluno para sistematizar o que foi discutido, por meio do registro e da escrita de um pequeno artigo, escolhendo uma imagem, ou um conjunto delas, para exemplificar o que os alunos perceberam sobre a fotografia. Proposição II – Portfólios de artistas da fotografia Dos portfólios de Cristiano Mascaro e Vik Muniz, selecionamos algumas fotografias para provocar leituras. Dois artistas da fotografia; dois modos muito diversos de tratá-la; duas maneiras de capturar a imagem para torná-la obra. f Quais as semelhanças e as diferenças entre as imagens? f Que procedimentos os artistas utilizaram em sua ação de fotografar? f É possível perceber suas poéticas pessoais, suas singularidades como produtores de arte? Comente. As imagens muito nos falam, e provocar os alunos para que façam uma leitura com problematizações instigantes pode revelar muitos aspectos, que podem ser complementados com informações. Cristiano Mascaro está na lista dos mais importantes fotógrafos brasileiros. O fato de ter formação como arquiteto teria influenciado seu olhar ao clicar sua câmera? O que se percebe de sua poética singular? © Cristiano Mascaro/Sambaphoto Arte – 2a série – Volume 1 Figura 30 – Cristiano Mascaro. Avenida São João, 1996. Fotografia. São Paulo (SP). 51 © Cristiano Mascaro/Sambaphoto © Cristiano Mascaro/Sambaphoto Figura 31 – Cristiano Mascaro. Marginal do Rio Pinheiros, 1996. Fotografia. São Paulo (SP). Figura 32 – Cristiano Mascaro. Viaduto Eusébio Stevaux, 1996. Fotografia. São Paulo (SP). 52 © Muniz, Vik/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013 Arte – 2a série – Volume 1 Figura 33 – Vik Muniz. Narciso (baseado em Caravaggio), 2006. Fotografia. (Série Figuras de sucata.) 53 © Muniz, Vik/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013 © Muniz, Vik/Licenciado por AUTVIS, Brasil, 2013 Figura 34 – Vik Muniz. Medusa marinara (baseado em Caravaggio), 1998. Fotografia. Figura 35 – Vik Muniz. Valentina, a mais rápida, 1996. Fotografia. (Série Crianças feitas com açucar.) 54 Arte – 2a série – Volume 1 A paisagem urbana parece ser o foco dos projetos de Cristiano: o ponto de vista do pedestre que caminha ao rés do chão, o postar-se em locais distantes e subir até o alto de edifícios para visualizar panoramas, focalizar o patrimônio cultural selecionando ângulos inusitados do que já foi muito visto... Cristiano diz que o que mais gosta de fazer é sair flanando pela cidade, indo ao encontro das coisas, atento e sensível aos momentos da vida. Isso tudo começou quando, ainda estudante de Arquitetura, encontrou na biblioteca um livro de Cartier-Bresson, editado em 1954. As fotografias eram diferentes daquelas que estava acostumado a ver, puramente jornalísticas ou de publicidade. As cenas do cotidiano do comportamento humano continham muita grandeza e emoção. Tal descoberta continua a repercutir em seu trabalho. Vik Muniz cria ilusões fotográficas. Cria desenhos brincando com materiais e os fotografa. Depois, os desenhos são destruídos. A obra é a fotografia, em edições limitadas. O artista desenha florestas com linhas, um Rembrandt com pregos, crianças com açúcar, figuras importantes como Sigmund Freud ou Jackson Pollock com chocolate, pinturas de artistas consagrados com sucata. Integra desenho, pintura, escultura e gravura, todas linguagens submetidas à fotografia e que marcam seu trabalho. Dá às séries títulos que têm como referência o material utilizado: Imagens de arame, de terra, de chocolate; Crianças de açúcar; Trabalhos da Terra; Pinturas de sucatas etc. Os procedimentos de Muniz são contemporâneos, como a citação de obras consagradas, a recriação de imagens do mundo da arte, dos meios de comunicação e do cotidiano, trabalhando com a memória e os jogos de percepção e representação. Brinca com os nossos olhos com a série Earthworks (Trabalhos da Terra), na qual registra desenhos feitos em áreas de mineração de Minas Gerais e do Pará, traçando no chão, por meio de tratores e escavadeiras, formas – como um cachimbo, por exemplo – que fotografa em sobrevoos de helicóptero. Na mesma série, desenha na terra em pequenas áreas, utilizando miniaturas de caminhões. Ao olhá-las, é difícil perceber de que material se trata: mais um jogo de ilusão. Com sucata, Muniz redesenha a célebre pintura Narciso, de Caravaggio (1571-1610), um mestre da luz e da sombra. As linhas da tela original são refeitas com entulho: pneus, geladeira velha, baldes de plástico etc. Outro jogo de ilusão. A textura, a escala e a perspectiva exigem outro olhar para ver a realidade produzida pelo artista. O mesmo ocorre na Medusa de macarrão marinara (outra releitura da obra de Caravaggio) e nas nuvens desenhadas com fumaça pelos aviões no céu de Nova Iorque, em outras séries do artista. O contato com as poéticas dos dois artistas provoca novas conexões, já que os alunos podem perceber que, de fato, a fotografia é mais que um registro da realidade. Ela produz realidades, como construção simbólica. O ser humano por trás da câmera singulariza o seu olhar e nos permite ver através dele. Outros artistas podem ser pesquisados. Alguns exemplos são identificados na importância histórica de Cartier-Bresson, nas fotomontagens de Valério Vieira – especialmente sua fotografia Os 30 Valérios, de 1901, que mostra uma cena em que o próprio fotógrafo está em 30 situações diferentes –, nas denúncias de Sebastião Salgado, na fotografia da natureza de Araquém Alcântara, nas cenas do fotógrafo cego Evgen Bavcar. A análise comparativa entre as obras Narciso de Vik Muniz e de Caravaggio pode ampliar também a discussão sobre as poéticas; você pode ainda utilizar as obras Medusa dos dois artistas. Os alunos percebem como a poética pessoal marca o modo como o artista expressa suas ideias estéticas? Eles percebem as próprias poéticas, escolhas, referências, processos de criação? No Caderno do Aluno, há uma sugestão de experimentação das poéticas pessoais dos alunos, a qual você, professor, poderá orientá-los de acordo com as seguintes questões: f Há várias versões do mito greco-romano de Narciso, condenado a se apaixonar pela própria imagem refletida nas águas de uma fon- 55 © Galleria degli Uffizi, Florence, Italy/The Bridgeman Art Library/Keystone © Oronoz/Album Art/Latinstock Figura 36 – Michelangelo Merisi de Caravaggio. Narciso, 15941596. Óleo sobre tela, 110 × 92 cm. Galeria Nacional de Arte Antiga, Palácio Barberini, Roma, Itália. te. Se você fosse recriar o mito de Narciso em sua poética pessoal, quais seriam suas características? Gostaria de trabalhar com qual linguagem? De que modo? O que faria inicialmente? Essas questões preparam para iniciar novas “Ações expressivas”. Proposição III – Ensaios fotográficos e experimentações Ensaios fotográficos envolvem a ação de fotografar compondo uma série que explora um conteúdo, um procedimento, uma ideia. Individuais ou coletivos, podem se transformar em um produto cultural de interesse na comunidade. Vale lembrar que, nas artes visuais contemporâneas, artistas têm trabalhado em grupos denominados coletivos, como o Grupo Poro (<http://poro.redezero.org>. Acesso em: 9 ago. 2013). As ideias iniciais para a criação de um ensaio fotográfico devem ser registradas no 56 Figura 37 – Michelangelo Merisi de Caravaggio. Medusa, c. 1598. Óleo sobre tela, 60 × 55 cm. Galeria Uffizi, Florença, Itália. Caderno do Aluno: as temáticas possíveis, as relações formais (enquadramento, luminosidade, pontos de vista etc.); os recursos técnicos (indo da simples fotografia pinhole, ou câmera de buraco de agulha, totalmente artesanal, às possibilidades de câmeras fotográficas mais sofisticadas). Se esse ensaio for possível, seu portfólio pode ser iniciado, mas é interessante que se torne um projeto para realização no próximo volume. Poéticas em artes visuais escolhas, referências, citações, recriações, memória, construção simbólica; modos singulares de operar com a linguagem, procedimentos, matprias, formas e signi¿cados... um exemplo a linguagem da fotogra¿a. Arte – 2a série – Volume 1 SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 8 MÚSICA As memórias da vida invadem as obras de um músico? Podemos perceber poéticas em música? Que marcas pessoais são perceptíveis nas obras? Haverá fios condutores no modo de cada um produzir música? Essas perguntas iniciais são como o barco em que vamos viajar para compreender poéticas pessoais. Proposição I – Preferências musicais Quais são as músicas, os intérpretes ou compositores preferidos dos alunos? No Caderno do Aluno, eles devem responder a essa questão. Pode ser que alguns alunos escrevam a música preferida, com o seu compositor e intérprete, mas pode ser que outros escrevam só nomes de músicas ou, talvez, apenas intérpretes. Esse já é um ponto interessante de análise com toda a classe para iniciar o mapeamento das preferências dos alunos. Para facilitar o mapeamento, eles devem repetir as respostas dadas no Caderno do Aluno com letras grandes (maiúsculas) em pequenos pedaços de papel (para cada escolha, um papel, com o nome do aluno no verso). Se for possível, organize um círculo e coloque todos os pedaços de papel no chão para que os alunos possam ver os nomes citados e levantar critérios de análise. Operar com conceitos e classificações é um ótimo exercício de pensamento. Um dos possíveis critérios é separar os nomes levantados agrupando as músicas, os intérpretes, os compositores. Compositores foram citados ou se lembraram mais de intérpretes? Quais foram os mais lembrados? Por quê? Quais as hipóteses para justificar a análise? A mídia é um ponto forte nas preferências demonstradas? É importante registrar na lousa uma síntese dessa primeira classificação. Outro agrupamento pode ser feito misturando todos os nomes novamente para agrupá-los conforme suas preferências musicais. Os alunos escolheram mais artistas de MPB, rock, música instrumental, música clássica, música étnica, música sertaneja, samba, pagode? Por quê? Houve alguma música que não se encaixou em nenhuma dessas categorias? Por quê? Novamente, registre no quadro uma síntese desse agrupamento. Um novo agrupamento pode ser feito por temáticas. As músicas falam de amor, da vida cotidiana, de política, de temas mais gerais, de sonoridades, do povo brasileiro? Que outros agrupamentos podem ser feitos? Artistas brasileiros, estadunidenses, europeus, latino-americanos? Músicas antigas ou atuais? Alguém terá lembrado de algum instrumentista? Depois da análise das preferências de todos, peça que registrem no Caderno do Aluno o que perceberam sobre compositores, intérpretes, tipos de música, temáticas etc. que formam os repertórios pessoal e cultural da classe. Seus alunos identificam as marcas pessoais de alguns compositores ou intérpretes? Percebem que há poéticas, há modos singulares de operar com a linguagem da música e de se comunicar por meio dela? O mapeamento pode ter sido um primeiro “alimento” nessa direção, que continua com o mergulho na poética de um artista: Hermeto Pascoal. Proposição II – Movendo a apreciação Podemos propor que os alunos assistam e escutem à interpretação de Hermeto Pascoal para a música Este meu piano (faixa 1 do DVD Hermeto Pascoal, Zimbo Trio e Egberto Gismonti) e entrem em contato com a criação sempre recheada de improvisos, citações e 57 fragmentos de muitas músicas que são parte de sua memória – suas “gavetas e cabides” de um precioso “guarda-roupas” que se sobrepõem, entrelaçam-se na sua atuação. São 9’08’’ tocando piano solo (execução usando apenas um instrumento: piano de cauda) que parecem uma louca sucessão de notas, alterações rítmicas, choque de acordes, escalas, modulações, re-harmonizações, para entrar em contato com a construção da poética – repleta de suingue brasileiro – desse músico, compositor e arranjador contemporâneo. Algumas das músicas que Hermeto vai “desengavetando” no decorrer da sua interpretação são facilmente reconhecíveis, apesar das alterações e transformações que ele imprime em cada uma delas. Convide seus alunos para verem/ouvirem o DVD com o Caderno do Aluno e lápis para anotar o que podemos chamar de uma pauta do olhar/ouvir: registrar todas as impressões que a música e a imagem provocam. Depois da exibição, levante as impressões dos alunos, verificando se já conheciam o músico, se registraram algo ou tiveram dificuldade de comunicar suas impressões. Ou, se for mais eficiente em sua turma, separe-os em pequenos grupos para que leiam as anotações de cada um e criem uma síntese para expor à classe. Essas primeiras impressões podem trazer uma série de novas questões. Em uma nova escuta, os alunos podem apontar, entre os minutos do vídeo, as citações que Hermeto reapresenta: f de 2’37’’ a 4’34’’ – citação da sua composição Bebê (1973); f de 4’35’’ a 5’31’’ – citação da música Amanhã (1965), de Walter Santos e Tereza Souza; f de 5’32’’ a 5’59’’ – citação do choro Bem-te-vi atrevido (1942), de Lina Pesce; f de 6’00’’ a 6’11’’ – citação da música Round midnight (1944), de Thelonious Monk; 58 f de 6’12’’ a 6’15’’ – citação da música Tico-tico no fubá (1931), de Zequinha de Abreu; f de 6’16’’ a 6’39’’ – retorna à citação de Round midnight; f de 6’40’’ a 7’00’’ – citação da música Asa branca (1947), de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Essa gravação de Hermeto Pascoal, pelos trechos “esticados” das obras citadas em sua interpretação, revela como os músicos, improvisadores e criadores lançam mão da memória musical, na qual estão armazenadas as obras tão significativas na construção da sua vida, e a derramam em suas composições. Compor e improvisar tem a ver com reorganizar eventos de uma paisagem sonora vivida pelo autor. Nessa paisagem convivem e se entrelaçam músicas de outros compositores (não importando época, gênero ou estilo) e, também, outras composições suas, com os sons do dia a dia de suas vidas. Em outras obras e interpretações, Hermeto faz isso escrevendo para uma banda com muitos músicos, instrumentos diferentes, somados à produção de sons com outros objetos, como panelas, chaleiras, garrafas, canos etc. Podemos ouvir outras obras do artista no CD Hermeto Pascoal – ao vivo em Montreux Jazz Festival (1979), trabalhado no Caderno da 8a série/9o ano, volume 1. Na música Este meu piano, que estamos estudando neste Caderno, Hermeto usa como recurso exclusivo um único instrumento: o piano. O piano que, com suas 88 notas – da mais grave à mais aguda –, oferece praticamente a mesma possibilidade de extensão (grave-aguda) que uma orquestra sinfônica com todos os instrumentos. Mas, como esse instrumento disponibiliza apenas um timbre, mesmo com tantas notas, usa recursos que podem ser comparados à fotografia em preto e branco, trabalhando nuances entre o preto e o branco, perspectivas, enquadramentos, Arte – 2a série – Volume 1 sensações de sombras e luzes etc. Com o uso da orquestra, o arranjador pode contar com as mesmas notas e a diversidade de cor dos timbres de muitos instrumentos. Os músicos compositores e improvisadores, como Hermeto, usam esses recursos de forma singular para sua construção artística. No processo da sua criação, a memória sonora e a afetiva da sua historicidade pessoal afloram e povoam seu trabalho. Não é só na composição de uma nova obra, mas na interpretação de uma música já composta por outros autores, que as paisagens sonoras povoam a imaginação do músico. Na música erudita europeia, a liberdade do intérprete para incluir ideias (suas ou de outros compositores) em uma composição escrita foi se tornando cada vez mais restrita até o início do século XX. No Renascimento, por exemplo, os prelúdios são sempre improvisados, e, mais tarde, no período Barroco, passam a ser fixados pela escrita. As ornamentações, por sua vez, são um dever do intérprete barroco: se, ao repetir uma música, o executante não criar novos desenhos e ornamentos, ele é considerado incompetente. No repertório neoclássico (século XVIII), a cadenza tornou-se o único momento no qual o intérprete é chamado a criar: nessa seção musical, a orquestra silencia e o solista improvisa, trazendo novos desenvolvimentos às ideias temáticas pertencentes à obra, ou mesmo incluindo citações de outras obras com cujo material ele julgue ter afinidades. A partir da segunda metade do século XX, a criação no âmbito da interpretação permite que o intérprete, em algumas obras, seja considerado um coautor. O que se aprecia é como cada músico faz isso, com suas inserções na melodia e alterações na harmonia de uma música já composta, sua ou de outro compositor. Às vezes, o que o impele a fazer essas mudanças são as imagens sonoras que povoam sua mente. Um pequeno trecho de uma sequência de acordes, uma célula rítmica, lembra trechos similares de outra música. Então, ele sente vontade de citá-la. Para isso, é necessário um domínio muito grande do conhecimento da linguagem musical, principalmente de repertório, de harmonia, de escalas musicais e de estruturas musicais variadas, para que o músico-intérprete possa sair do cenário musical em que está trabalhando, ir para citações de trechos de outras músicas e retornar para o tema principal. Por vezes, os trechos citados são muito curtos, mas caracterizam a poética pessoal do intérprete. No mundo da música instrumental, do jazz e da MPB, esse procedimento é característica usual e apreciada por músicos e público ouvinte. Alguns exemplos podem ser contemplados, além do próprio Hermeto, em músicos compositores, intérpretes e grupos musicais, como Tom Jobim, Edu Lobo, Chick Corea, Egberto Gismonti, Miles Davis, Thelonious Monk, Yamandu Costa e Zimbo Trio. O domínio da linguagem musical e o repertório que compõe a memória e a percepção desses artistas são os recursos mais importantes na sua criação, não importando qual(ais) instrumento(s) usam em suas performances. As referências do público também são importantes para perceber, na criação de um músico improvisador e/ou compositor, as fontes sonoras que influenciaram suas obras, assim como as citações em outras linguagens da arte. O que ficou de mais significativo de toda esta conversa? No Caderno do Aluno, a síntese individual pode indicar se as concepções de poética pessoal, de memória musical, de repertório e referências musicais, dos procedimentos e dos processos de criação foram compreendidas pelos alunos. Proposição III – Ação expressiva Uma das possibilidades para seguir trabalhando com as poéticas dos alunos individualmente ou em processos colaborativos é a criação de colagens musicais privilegiando melodias e ritmos que façam parte das suas histórias, pois paisagens sonoras compõem nossa memória, nossos repertórios pessoal e cultural. Como músicos criadores e improvisadores, quais trechos de quais músicas os alunos usariam em suas obras? 59 Esse pode ser um projeto a ser elaborado no volume 2 com: o levantamento de recursos para gravação e edição; a escolha da música-tema principal e de outras músicas que conheçam e sejam significativas para suas vidas; a identificação, no tema principal, dos momentos em que esses trechos podem ser inseridos, para organizá-los em uma sequência, acrescentando os trechos no tema principal, transformando-os em uma nova interpretação, que também pode ser cantada e/ou tocada, se houver possibilidade. riam os trechos musicais etc. Essas ideias alimentarão a escrita do pré-projeto. Poéticas em música improvisação; memória sonora; citações; repertórios pessoal e cultural; modos singulares de operar com a linguagem da música, a sonoridade... um exemplo: a música instrumental. As ideias iniciais devem ser registradas no Caderno do Aluno: as primeiras escolhas, os critérios de seleção, o modo como organiza- SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 9 DANÇA Nesta Situação de Aprendizagem, apresentaremos aspectos desenvolvidos na trajetória de dois criadores brasileiros, evidenciando poéticas que marcam suas trajetórias. Dessa maneira, esperamos aguçar o imaginário dos alunos para que eles encontrem a própria poética em dança, construída com marcas pessoais nos caminhos a ser percorridos. A pesquisadora Cecilia Salles, em seu livro Gesto inacabado, comenta que o artista, quando sente necessidade, sai em busca de informações. Poderíamos substituir a palavra “artista” por “pessoa”. E, neste caso, podemos conversar com os alunos sobre a relação entre pesquisa e processo de criação no fazer artístico e no desenvolvimento de poéticas pessoais. No trajeto entre a necessidade e o acontecimento, poderão ser elaborados procedimentos artísticos e novas alternativas de criação. Para o estudo de poéticas em dança, serão apresentados os modos de ação coreográfica de dois artistas contemporâneos: Carlota Albuquerque, diretora e coreógrafa do Terpsí Teatro de Dança, e Henrique Rodovalho, diretor da Quasar Companhia de Dança. Para isso, começamos com uma conversa movida pela apreciação de algumas imagens. 60 Proposição I – Movendo a apreciação A melhor forma de falar sobre dança, com certeza, é olhando dançarinos atuarem. As imagens nessa apreciação são estáticas. São marcas da dança no papel, impressões de instantes, cenas de uma coreografia. A proposta é que as imagens, como um recurso expressivo, sejam um elemento referencial da composição coreográfica de Carlota Albuquerque e Henrique Rodovalho. Quem olha o que vê? A apreciação pode se mover, no Caderno do Aluno, com base nas seguintes questões: f Para você, qual gesto dançado é interessante? Por quê? f Em que esse gesto se diferencia de um gesto comum? f Como seria o processo de criação do dançarino na construção do seu gesto dançado? f Como o coreógrafo estrutura a ideia coreográfica de um espetáculo? Em seguida, para ampliação do repertório dos alunos, será proposta a leitura de dois textos. © Claudio Etges © Claudio Etges © Claudio Etges Arte – 2a série – Volume 1 Figuras 38, 39 e 40 – Terpsí Teatro de Dança. E la nave no va II, 2003. Coreografia: Carlota Albuquerque. 61 © Mila Petrillo © Mila Petrillo © Mila Petrillo Figuras 41, 42 e 43 – Quasar Companhia de Dança. O+, 2004. Coreografia: Henrique Rodovalho. 62 Arte – 2a série – Volume 1 Proposição II – O que penso sobre processo de criação? Dois textos presentes no Caderno do Aluno focalizam a poética dos coreógrafos investigados. Primeiro, proponha uma Terpsí Teatro de Dança Sayonara Pereira Criado em Porto Alegre (RS), em 1987, o Terpsí Teatro de Dança desenvolve a dança teatral como linguagem cênica e investiga o espetáculo como processo sempre em mutação, que pode ser alterado até mesmo em função do espaço físico da apresentação. Para isso, a coreógrafa Carlota Albuquerque acredita que a colaboração dos intérpretes é fundamental. Na obra E la nave no va II, de 2003, há a presença de elementos lúdicos, situações caóticas entre os dançarinos, elementos do teatro de revista, variada colagem musical, associações, projeção de imagens das ações desenvolvidas pelos dançarinos e atores que estão acontecendo ao vivo na cena – por meio de uma câmera –, e, como cenário, uma gigantesca cama elástica que ao longo da peça se transforma em diferentes ambientes. A coreógrafa procura, por meio de seus trabalhos coreográficos, fazer uma escuta, um resgate das experiências humanas, rompendo barreiras que possam separar os intérpretes da obra, já que, nos trabalhos sob sua direção, os intérpretes são a própria obra. Além disso, ela cria sempre uma partitura de movimentos, que fala como palavras, uma mímica dançada com a qual o criador vai criar códigos próprios para dizer e representar determinadas frases e expressões humanas. Carlota, em sua peça E la nave no va II, recria imagens de filmes do cineasta italiano Federico Fellini (1920-1993), faz releituras de algumas dessas imagens e cria novas interpretações, ao mesmo tempo que enfoca os temas ao longo da obra com uma dinâmica própria. Igualmente, mantém um diálogo com os intérpretes durante todo o processo de trabalho, e leitura silenciosa e, depois, faça uma leitura em voz alta, trabalhando um texto de cada vez. ainda oferece ao público grande liberdade para que tenha e faça as próprias associações. Em relação ao uso das imagens, vai transformando-as por meio das ações dos dançarinos. A cama elástica gigante faz as vezes de cenário, delimita o espaço cênico. Além disso, sua presença física recria diferentes dimensões, e seus três planos são usados sem distinção ao longo da obra. Existe, por exemplo, uma cena da coreografia originando uma luta na parte superior da cama elástica. Carlota, desta feita, traz ao público várias figuras que beiram o surreal: dois atores lutam acrobaticamente usando figurinos que nos remetem à imagem de artistas circenses e dançarinas; um apresentador, que nos lembra um xerife, narra a cena e, ao mesmo tempo, foge da luta; uma dançarina, que momentos antes havia dançado um solo extremamente dramático sugerindo um suicídio, está ao lado desses atores gritando sem parar, em cima da cama elástica, que nesse momento nos remete à imagem de um ringue de luta. Enquanto o público percebe essas muitas ações cênicas que acontecem na parte superior da cama elástica, toda a sua elasticidade ainda nos mostra a imagem que acontece a partir do peso dos atores que estão interagindo no andar superior. Uma cena trágica e cômica ao mesmo tempo. Do mesmo modo, E la nave no va II fala de impossibilidades, do artesanal, do urgente. Fala um pouco da história da Companhia e, por isso, foi de grande importância para a coreógrafa a transmissão simultânea através do vídeo, para dizer ao público: “É de nós mesmos que ironizamos. Acreditamos em nossa fantasia e tornamos lúdicas as nossas impossibilidades de realização”. Carlota trabalha em sua criação com elementos essenciais à dança: tempo, força e espaço. É 63 no espaço que, para a coreógrafa, o dançarino poderá atuar e criar; um lugar que lhe pertence. Existe o espaço imaginário e o espaço que vai ser o limite da ação, como no caso de E la nave no va II, em que toda a ação do espetáculo cênico acontece nos três níveis de uma grande cama elástica, uma realidade espacial concreta. Mas Carlota também brinca com o espaço imaginário quando, principalmente, utiliza a câmera aberta, que é um artifício na ação presente-passado. Quasar Companhia de Dança tas perguntas e uma eterna procura. Nunca se satisfaz com uma primeira solução encontrada pelos corpos dos dançarinos; busca sempre mais uma e, quem sabe, mais outra possibilidade. Sayonara Pereira A Quasar Companhia de Dança, criada em Goiânia (GO), em 1988, encantou o público e a crítica desde seus primeiros espetáculos, utilizando uma linguagem artística própria, marcada pela inovação e ousadia de seu coreógrafo e diretor, Henrique Rodovalho. Rodovalho trabalha com efeitos do teatro de revista, com colagem musical, efeitos que modificam a estrutura original da música e diálogo com o público, por meio da palavra, na coreografia O+, de 2004. O diretor reflete, em sua pesquisa corporal, sobre o movimento e seu arrojo. Sua preocupação primordial concentra-se no homem contemporâneo, e é também o homem contemporâneo e suas vivências que são ponto de partida para a concretização de sua obra cênica. Com seus dançarinos, ele constrói sequências com grandes efeitos acrobáticos e vigor. E, para as dançarinas, ele semeia, com poucas palavras, caminhos que estas traduzem nos corpos com muita feminilidade e sensualidade. 64 Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. O estilo Quasar está impregnado no trabalho individual dos dançarinos, e aparece na necessidade de coordenação exigida para a difícil movimentação que é criada pelo coreógrafo. Ou, ainda, em cenas tragicômicas, como a passagem coreográfica de O+ em que a personagem “dança contemporânea” traz à cena folhas de papel contendo textos e um liquidificador, e, lentamente, começa a triturar os textos. Essa cena reflete, de alguma maneira, a liquidificação, pelo autor, da própria dança contemporânea, que, no último momento, será salva por um super-herói meio fracassado e canastrão, mas, sempre, um super-herói. Em O+, os dançarinos se amam, lutam, contam suas histórias pessoais, conversam com o público. São sorteados, para duas pessoas do público, lugares no palco ao lado dos dançarinos-atores. Acontece um show de mágica, e sempre, em cada cidade em que a Companhia se apresenta, dançarinos convidados, integrantes de diferentes grupos, dançam o acrobático breakdance ou street dance, interagindo com os dançarinos da Quasar. As cenas são bastante interessantes: um misto de improvisação e diálogo de várias pessoas. Todos os trabalhos assinados por Rodovalho possuem uma característica própria: signos rítmicos construídos, momentos de humor, virtuose, vigor, simplicidade e situações cotidianas. Reflete em seu trabalho a ideia de que a dança não seja um fim, mas, talvez, o início, para tentar dizer coisas se movimentando. Henrique Rodovalho parece conseguir tirar de cada dançarino o que este tem de melhor. Se o dançarino não possui muito tempo de dança, ele procura características pessoais, fazendo que esse dançarino traga seus talentos para a cena. No dia a dia de trabalho com a Companhia, Henrique Rodovalho imprime um ritmo de mui- Além disso, o coreógrafo busca retratar o que as pessoas estão passando e vivendo agora. Arte – 2a série – Volume 1 Por isso é que o público em geral se identifica muito com as coreografias, já que a Companhia retrata, nos seus trabalhos, situações das pessoas contemporâneas, e não somente do dançarino ou do coreógrafo. A mistura de gêneros e estilos, de códigos cotidianos e não cotidianos, aparece na utilização de cenografias – e, muitas vezes, também da música –, na criação de figurinos que não “caracterizam” simplesmente, mas que passam a ser, eles mesmos, um signo móvel. A iluminação As experiências de criação de cada um dos coreógrafos retratam um modo de sentir, pensar e agir da dança que se configura como a marca, a poética do artista, geradora de novos modos de dançar. Os dançarinos, por sua vez, envolvidos na proposta de cada um, não apenas disponibilizam seus corpos para os laboratórios investigativos, como também seus estados afetivos, suas experiências de vida, suas subjetividades. Após a leitura, no Caderno do Aluno há espaço para escrever as impressões sobre o texto, em resposta às seguintes perguntas: f De acordo com as informações dos textos, escreva palavras-chave que expressem características do modo de criação dos coreógrafos: Carlota Albuquerque e Henrique Rodovalho. f O que surpreendeu você na forma de os dois coreógrafos organizarem o pensamento coreográfico? f Entre os elementos “mistura de gêneros”, “códigos do cotidiano”, “iluminação”, “cenários”, “qualidades pessoais dos dançarinos”, qual(is) você acredita que oferece(m) mais diferenças na escrita coreográfica de Carlota e Henrique? e a trilha sonora são alguns dos aspectos que fizeram que a dança assinada por Rodovalho seguisse caminhos próprios e específicos, por um lado, e se contaminasse de procedimentos até então presentes no teatro, por outro. Parece que ele, como vários outros coreógrafos contemporâneos, trabalha incessantemente agregando outras manifestações artísticas em suas criações, sem, no entanto, abdicar de elementos específicos da dança. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. f Se você fosse coreografar, qual(is) elemento(s) gostaria de imprimir como um diferencial em suas obras? Para socializar as respostas, usando a lousa, faça uma listagem. Com certeza, algumas respostas serão similares, outras serão muito diferentes. O essencial é que os alunos percebam o trajeto pessoal dos artistas. É importante uma leitura das respostas listadas na lousa. O que os alunos percebem de suas respostas? Com que característica da criação eles se identificam mais? E menos? Eles têm outras sugestões para somar a uma trajetória pessoal? Após essa análise e conversa sobre as percepções dos alunos, vamos realizar um exercício de investigação de poética pessoal. Proposição III – Ação expressiva A ideia é que os alunos realizem um roteiro para uma possível criação coreográfica, compondo o próprio trajeto criador. Seguem alguns tópicos que você pode sugerir que os alunos incluam no trajeto criativo: f compor um trajeto singular no processo, trabalhando com elementos que tenham signi- 65 ficados pessoais por meio de um tema, uma lembrança, uma imagem, um gesto, uma brincadeira de infância, uma palavra etc.; f procurar materiais e movimentações corporais por meio da improvisação; Poéticas em dança dança e coreógrafos contemporâneos; poéticas – mistura de gêneros e estilos, códigos do cotidiano e do não cotidiano, cenirios, qualidades pessoais dos dançarinos, partitura de movimentos, tempo, força e espaço, elementos lúdicos. f inventividade no modo de dançar, deixando fluir na improvisação os movimentos que organizam uma ideia coreográfica. SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 10 TEATRO Um dos modos de gerar poéticas teatrais é por meio do teatro de grupo. Todo grupo de teatro é teatro de grupo? O teatro é por definição uma arte coletiva. Diferentemente do pintor e do escritor, que trabalham solitários em seus espaços, a criação dos artistas de teatro só nasce do encontro de várias mãos. Além do mais, um espetáculo teatral só vai existir de fato quando encenado diante de um público reunido. No entanto, se todo teatro é coletivo, nem todo teatro é de grupo. Este tem suas particularidades e significados e ganhou uma dimensão especial no contexto do teatro contemporâneo. Mas como o teatro de grupo realiza cenicamente suas propostas? Neste Caderno, para encontrar respostas a essa pergunta, o estudo será um modo de criação teatral no teatro de grupo: a criação coletiva. Proposição I – O que penso sobre criação coletiva no teatro de grupo? Conversar é a melhor maneira de apresentar aos alunos o conteúdo que se quer trabalhar. Na conversa, os alunos interagem, trocam ideias, mostrando o repertório e as hipóteses que têm sobre um assunto. Assim, começamos conversando. 66 Para despertar a conversa, algumas perguntas são lançadas no Caderno do Aluno: f Para você, o que é teatro de grupo e de que modo pode ser o processo de criação teatral? f Você já teve alguma experiência de criação coletiva em teatro? Como foi essa experiência? Se não teve, gostaria de ter? De que tipo? f Por que o trabalho de grupos de teatro que fazem criação coletiva ou processo colaborativo é diferente do de outros grupos? Essas são questões que buscam cercar o que os alunos sabem, pensam, imaginam ou têm de experiência sobre teatro de grupo e criação coletiva. Pode ser que seus alunos da 2a série do Ensino Médio não tenham nenhuma experiência em criação coletiva no fazer teatral. Pode ser que, também, não tenham nenhum saber organizado sobre teatro de grupo ou criação coletiva e, portanto, esses são conceitos ainda a ser construídos. Mesmo assim, a conversa é um modo de gerar ideias e aproximar os conceitos dos alunos, preparando-os para uma investigação teatral por meio das proposições oferecidas a seguir. Arte – 2a série – Volume 1 Proposição II – Ação expressiva O jogo aqui proposto tem a intenção de colocar os alunos em uma experimentação inventiva que proporcione o aguçamento da discussão sobre o que pode vir a ser a criação coletiva de um universo ficcional. Para isso, divida a sala em três pequenos grupos. Os três grupos formados sentam-se em círculo, distantes uns dos outros, para que a conversa de um grupo não atrapalhe a dos outros durante a experimentação. Como coordenador do jogo, você, professor, oferece uma frase inicial para o grupo. Alguns exemplos: Pela pequena janela circular da porta branca, um homem olha a rua e vê... Duas mulheres vestidas de enfermeira entram apressadamente no quarto... Em uma noite fria, uma mulher lê uma carta próxima à cortina cor de mercúrio... Sentado em uma mesa de bar, um homem espera ansiosamente a chegada... Na praia, uma senhora idosa está encoberta de areia, quando... Um objeto é colocado na roda para circular nas mãos dos alunos e simbolizar quem está de posse da fala. Cada aluno contribui com a história e passa o objeto ao próximo, até que se complete a roda, finalizando também o enredo, a construção coletiva da história. Terminado o exercício, abre-se a conversa com todos, perguntando-se: Como foi realizar o exercício? Quais foram os desafios? Como se deu a construção da história? O fio narrativo foi mantido? Se não, por quê? A história tem uma coerência interna? Se não, por que não foi respeitada a coerência? Como foi a participação inventiva de cada um do grupo? Quais os temas tratados na história? Esses são aspectos a ser discutidos para que os alunos possam fazer uma reflexão sobre a experiência de criação coletiva no jogo. Caso o grupo tenha condições de produzir mais e melhor, o exercício pode ser repetido. Após o jogo e a reflexão, pergunta-se no Caderno do Aluno: f Após a sua experimentação no jogo, como você define o processo de criação coletiva ou processo colaborativo? f Com base na sua definição, como seria o processo de criação coletiva ou processo colaborativo no teatro de grupo? Como coordenador do jogo, é importante ficar atento à fala dos alunos para saber de que modo o jogo potencializou, dinamizou e enriqueceu a ideia deles sobre processo de criação coletiva. Proposição III – Apreciação Em continuidade, a ideia é mostrar aos alunos alguns aspectos de procedimentos de criação coletiva no teatro de grupo. Para isso, será apresentada a poética da criação coletiva do Asdrúbal Trouxe o Trombone, um exemplo modelar de teatro de grupo nos anos 1970. Para mover a apreciação sobre esse grupo, o texto a seguir, elaborado com base nas referências de Sílvia Fernandes, em seu livro Grupos teatrais: anos 70, é proposto no Caderno do Aluno para leitura e discussão. 67 Asdrúbal Trouxe o Trombone – Um projeto artístico de criação coletiva Gisa Picosque O grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone foi criado no Rio de Janeiro, em 1974, com a liderança de Hamilton Vaz Pereira e a participação de Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Evandro Mesquita e Patrícia Travassos, entre outros. Asdrúbal Trouxe o Trombone colocou em evidência, na história do teatro brasileiro, o processo de criação coletiva, no que se refere à concepção cênica, aos figurinos, à interpretação e à dramaturgia. O grupo tinha a singularidade de não se sentir como um grupo de “atores” que fazia teatro, e sim que fazia “Asdrúbal”. Essa marca poética parece ter sido o modo encontrado pelo grupo para preservar certa diferença de outros grupos importantes da época e de atores que faziam em cena o que era oferecido no mercado como oportunidade profissional. Um trabalho que marcou a carreira do grupo – e que, à época, trouxe um frescor à linguagem teatral – foi a criação coletiva Trate-me leão (1977), uma sequência de cenas curtas sobre problemas da adolescência e da juventude. O tema de Trate-me leão é o tédio; onde ninguém tem objetivo na vida, há um sentimento de abandono, de não saber como continuar. A gênese da estrutura narrativa de Trate-me leão é a vivência pessoal dos integrantes do grupo. O texto ia sendo escrito em casa pelos atores, por meio da pesquisa com pessoas do prédio, da família, gerando cenas e diálogos que traziam para o palco a própria vida. Durante nove meses de criação, Hamilton Vaz Pereira, em um trabalho de colaboração entre os participantes, fez o esboço de cenas, identificando núcleos temáticos no material apresentado pelo grupo. Ao mesmo tempo, a criação de cenas emergia de improvisações e jogos coletivos que permitiam a invenção expressiva dos participantes do grupo. 68 Esse processo de criação fazia o trabalho do Asdrúbal ser ancorado na criação coletiva, tanto na construção da narrativa textual como na composição das personagens, com base no repertório pessoal expressivo dos participantes durante as improvisações. Podemos dizer, então, que a criação coletiva do Asdrúbal era um processo criativo teatral que tinha como características: a presença da expressão de todos os integrantes do grupo; a “grupalidade”, como possibilidade de se reunir para falar de si e ouvir o outro; os pedaços da própria história de vida e a vontade de experimentar com o grupo outras possibilidades de cena e de vida; a experimentação da linguagem teatral por meio do improviso como processo de trabalho; e a necessidade de trazer para o palco a própria vida. Esse processo de criação coletiva resultava em uma encenação que deixava transparecer um jeito próprio de representar de cada um, que era descoberto durante as improvisações e os ensaios, assim como, durante a encenação, cenas inéditas poderiam aparecer no “aqui-agora” do palco, formando uma autoria coletiva. Ou seja, em vez de seguir procedimentos tradicionais calcados sobre o fator segurança (texto decorado, marcação prematura, especialização de tarefas), o Asdrúbal, em seu processo de criação coletiva, arriscava adentrar o terreno dos lapsos, das falhas, do inesperado que revela aspectos desconhecidos durante os improvisos. A construção estética teatral dos espetáculos do Asdrúbal era feita do aproveitamento de materiais. A iluminação era caseira e precária, os cenários, grafitados e os figurinos, com indumentária das roupas de rua. Os atores traziam ao palco interpretações que mostravam a espontaneidade dos intérpretes, dando ação a uma dramaturgia escrita com base nos trechos de diários, na narração de casos de família, na recitação da poesia do amigo, na cena da briga de namoro, nas trilhas sonoras roqueiras de contestação à família e ao teatro comercial. Arte – 2a série – Volume 1 O teatro de grupo dos anos 1970, portanto, era feito do e no trabalho coletivo. No final dessa década, já estava claro que a criação coletiva não era um movimento nem um estilo de época, mas um método de trabalho marcado pelo mesmo A leitura pode ser encaminhada do seguinte modo: a primeira leitura é feita pelo professor em voz alta; a segunda, é silenciosa dos alunos. Então, pode-se conversar com os alunos para saber o que eles compreendem do texto e para qual aspecto é necessário mais esclarecimentos. Para essa conversa, no Caderno do Aluno há as seguintes questões: f De acordo com as informações do texto, escreva palavras-chave que expressem características do modo de criação coletiva do Asdrúbal Trouxe o Trombone. f O que surpreendeu você no processo de criação teatral do Asdrúbal? f Entre os elementos “frescor na linguagem teatral”, “fixação na cotidianidade e na vivência pessoal”, “ausência de divisão rígida do trabalho entre os criadores”, “participação de todos nos movimentos do processo de criação”, “despojamento na iluminação, no cenário e no figurino com aproveitamento de materiais”, qual(is) é(são) diferente(s) do que você conhecia como processo de criação teatral? Em seguida, em “Você aprendeu?”, há a continuação da atividade. f Da leitura do texto, da conversa e da reflexão sobre ele, o que se modificou na sua definição inicial sobre processo de criação coletiva? dinamismo que caracterizava o modo de fazer teatro contemporâneo no que hoje é chamado de processos colaborativos. Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola. A conversa pode ser ampliada, convocando os alunos a pensar sobre grupos de teatro aos quais eles já assistiram na escola ou no bairro onde moram, perguntando: O que vocês lembram da apresentação de algum grupo? Qual era o tema? O que vem à memória da encenação, do que em cena sinalizava se o processo de criação era ou não coletivo? O grupo demonstrava que vivia teatro? Em continuidade, buscando a ampliação do repertório dos alunos, é encaminhada uma pesquisa em grupo. Proposição IV – Pesquisa em grupo Espiando o teatro brasileiro, pode-se estudar o surgimento, em meados da década de 1970, de equipes teatrais que mostraram um modo novo de se posicionar na cultura, na sociedade, na política e na arte, por meio do projeto coletivo. Na época, essa forma do fazer teatral era inusitada e oferecia aos jovens artistas independentes a oportunidade de falar em nome próprio, de escolher projetos, de criar textos cênicos de autoria comum, de romper com cânones teatrais, de misturar e contaminar, no fazer teatral, os gêneros épico, lírico e dramático. Em São Paulo, proposta semelhante ao grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone foi desenvolvida pelo grupo Pod Minoga, com Folias bíblicas (1977). Da tese de doutorado Os parceiros do Rio Bonito, de Antonio Candido, o grupo teatral Pessoal do Victor, formado pela Escola de Arte Dramática da ECA-USP, que trabalhava em um projeto da Unicamp, 69 gerou uma espécie de “Trate-me Tatu”, encenando Na carrera do divino (1979), com base nas lembranças da cultura caipira vivenciada pelos atores, demolindo o estereótipo do Jeca inventado por Monteiro Lobato em Urupês. Ruth Escobar, em Aqui há ordem e progresso (1980), realizado com presos da Casa de Detenção, observou que, em razão do espetáculo mostrar os problemas daquela instituição, a plateia se identificava intensamente com o que acontecia em cena. Os alunos podem adentrar mais nesse universo do teatro de grupo e criação coletiva pesquisando em grupo, na sala de informática, várias referências de grupos teatrais, entre os quais: f Pod Minoga, idealizado por Naum Alves de Souza, em 1972, e que terminou em 1980; f Mambembe, que permaneceu de 1966 a 1980; f Ventoforte, que se mantém na ativa e foi fundado em 1974 por Ilo Krugli, argentino radicado no Brasil; f Ornitorrinco, fundado em 1977 e que continua na ativa, tendo Cacá Rosset como seu diretor; f Teatro Popular União e Olho Vivo – (TUOV), um dos mais antigos grupos de teatro do Brasil e que tem como seus fundadores César Vieira (Idibal Pivetta) e Neriney Moreira, ambos advogados e defensores da arte popular brasileira; 70 f os atores Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Evandro Mesquita e Patrícia Travassos, que atuaram no Asdrúbal Trouxe o Trombone; f Hamilton Vaz Pereira, que exerceu a liderança do grupo Asdrúbal Trouxe o Trombone. No Caderno do Aluno, em “Pesquisa em grupo”, há um espaço para que o aluno registre suas impressões sobre o grupo pesquisado, o que descobriu sobre teatro de grupo e sua compreensão sobre criação coletiva e processos colaborativos. Para a apresentação da pesquisa, após a coleta de dados, os alunos podem improvisar pequenas cenas com narrativas que expressem o que eles consideram significativo mostrar sobre o grupo pesquisado. A estrutura Quem, O quê, Onde e Foco da improvisação pode ajudar na montagem das cenas. Poéticas em teatro processo de criação coletiva; pesquisa de linguagem; escolha de temiticas cotidianas; produções cooperativadas; abolição de hierarquia ou divisão rígida do trabalho. Arte – 2a série – Volume 1 SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 11 CONEXÕES ENTRE OS TERRITÓRIOS DE LINGUAGENS ARTÍSTICAS, FORMA-CONTEÚDO E PROCESSO DE CRIAÇÃO Movendo a escrita de um pré-projeto de poética pessoal, coletiva ou colaborativa As diferentes formas de poéticas pessoais, coletivas ou colaborativas estudadas neste volume podem ter revelado aos alunos facetas dos modos de processos de criação em Arte e do artista contemporâneo, apresentando procedimentos que geram novos vocabulários no fazer artístico e que movem a construção de formas e conteúdos nas linguagens artísticas. Com base nesse estudo, a proposta agora é de criação de um pré-projeto para desenvolvimento de poéticas em arte no próximo volume. No Caderno do Aluno, em “Ação expressiva”, há o seguinte questionamento: f Nesta ação, você vai começar a esboçar o pré-projeto poético pessoal e/ou colaborativo. Pré-projeto, aqui, tem a ideia de rascunho, de um esboço de ideias que mais tarde formarão o projeto. Ou seja, a escrita não é de um projeto definitivo, mas de intenções prévias que vão desencadear um projeto de poética pessoal, coletiva ou colaborativa. Para começar a pensar, é interessante para você realizar um projeto de poética pessoal ou colaborativa? Por quê? Agora, para a escrita de seu pré-projeto, siga as etapas descritas: escolha a linguagem artística que você gostaria de praticar em seu projeto e justifique sua opção; escolha um tema e justifique; faça uma lista de ideias possíveis para o fazer artístico sobre o tema. Não fique preocupado se a ideia é possível ou não de ser realizada. Quanto mais ideias você registrar, mais opções de escolha terá. Faça também uma lista de ideias sobre como levantar recursos para materializar o fazer artístico e de quais seriam as etapas necessárias para a realização. Como o processo ainda é de pré-projeto, ou seja, de esboço de um projeto, esses aspectos podem ser abordados por meio de um brainstorming – uma contribuição espontânea de ideias de todos os participantes –, no intuito de fazer um levantamento e, com base neste, a escolha do que compõe a escrita final do pré-projeto. Pré-projeto, aqui, tem a ideia de rascunho de um projeto, de um esboço de ideias que será, depois, o projeto. Ou seja, a escrita não é de um projeto definitivo, mas de intenções prévias que vão desencadear um projeto de poética pessoal, coletiva ou colaborativa no volume 2. Para desencadear o processo de criação da escrita do pré-projeto, a divisão do grupo-classe pode acontecer com a escolha dos alunos entre quem deseja realizar um projeto individual e quem escolhe projetos coletivos, colaborativos. Em seguida, para o envolvimento e participação na escrita do pré-projeto, é importante oferecer aos alunos alguns pontos para mover o pensamento, como: f a escolha e justificativa em relação à linguagem artística que será desenvolvida na realização da poética; 71 f a escolha e a justificativa de um tema; f ideias sobre o fazer artístico do conteúdo temático na linguagem escolhida; Que o processo de criação do pré-projeto seja frutífero e gerador de ideias e intenções artísticas a ser realizadas no volume 2! f ideias sobre como levantar recursos para materializar o fazer artístico; f etapas necessárias para a realização. Esse exercício pode vir a ser interessante e, até mesmo, divertido, pela quantidade de ideias que brotam e que não devem ser censuradas. Nesse momento, tudo é importante, possível e viável de acontecer e de fazer. 72 Pré-projetos de poéticas pessoais ou colaborativas Arte – 2a série – Volume 1 SÍNTESE E AVALIAÇÃO A formação cultural dos alunos envolve diferentes aspectos, entre os quais a ampliação de conceitos, da percepção e da expressão sobre/na arte. Os mapas a seguir mostram os conteúdos potenciais apresentados nas possibilidades deste tema, focalizando os territórios das linguagens artísticas, processo de criação e forma-conteúdo. Poéticas pessoais, coletivas ou colaborativas em música improvisação; memória sonora; citações; repertórios pessoal e cultural; modos singulares de operar com a linguagem da música, a sonoridade... em artes visuais escolhas, referências, citações, recriações, memória, construção simbólica; modos singulares de operar com a linguagem, procedimentos, matérias, formas e signi¿cados... Desdobramentos das linguagens artísticas em dança linguagem das artes visuais; linguagem da dança; linguagem da música; linguagem do teatro; linguagens híbridas; linguagens convergentes. dança e coreógrafos contemporâneos; poéticas – mistura de gêneros e estilos, códigos do cotidiano e do não cotidiano, cenirios, qualidades pessoais dos dançarinos, partitura de movimentos, tempo, força e espaço, elementos lúdicos. em teatro processo de criação coletiva; pesquisa de linguagem; escolha de temiticas cotidianas; produções cooperativadas; abolição de hierarquia ou divisão rígida do trabalho. Pré-projetos de poéticas pessoais ou colaborativas 73 Avaliando os portfólios Com base nesses mapas e nas experiências estéticas e artísticas realizadas em sala de aula, e registradas pelo aluno em seu portfólio – Caderno do Aluno e outros modos de registro realizados –, você, professor, pode avaliar o percurso trilhado com a turma. Além disso, no Caderno do Aluno, em “Você aprendeu?”, é também proposto o seguinte: f Depois de estudar alguns artistas para chegar mais perto do processo de criação em arte, organize uma lista contendo diferentes procedimentos artísticos que podem fazer parte dele. Depois da socialização das respostas dos alunos e da leitura do portfólio, você percebeu como os alunos: f Desenvolveram poéticas pessoais, coletivas e/ou colaborativas por meio de percursos de experimentação? f Vivenciaram a invenção poética durante o fazer da construção artística, inventando o seu modo de fazer? f Investigaram as potencialidades das relações entre linguagens artísticas e forma-conteúdo? f Inventaram e elaboraram a escrita de pré-projetos individuais ou colaborativos como condutores de espaço para a realização do fazer artístico da comunidade escolar e/ou do seu entorno, no 2o semestre? Refletindo sobre o seu diário de bordo Pensando sobre o percurso realizado pelos alunos, como você percebe suas ações pedagógicas? O modo como você escolheu e reinventou as possibilidades sugeridas foi adequado? O que você faria de modo diferente? Quais outras conexões poderiam ter sido feitas? Para onde você pode caminhar com seus alunos a partir de agora? NUTRIÇÃO ESTÉTICA Como mediador cultural e instigador das poéticas pessoais dos seus alunos, você pode perguntar a eles: Quais foram os caminhos percorridos neste volume 1? ? Para responder a essa questão, peça aos alunos que releiam, atentamente, o que registraram no Caderno do Aluno durante os estudos realizados sobre o tema O encontro entre arte e público e respondam às questões: ! f A leitura de imagens e de textos sobre arte, a pesquisa em sites oficiais e a investigação na sala de aula são também modos de mediação cultural entre arte e público? Por quê? 74 Depois de os alunos lerem suas respostas, proponha que observem novamente as imagens e releiam os textos utilizados na abordagem do tema e discutam se, após essa nova observação e leituras, responderiam de forma diferente à mesma questão. Essa ação é importante para que fique clara a relação existente entre as linguagens da arte e a mediação cultural. Em seguida, retomando o tema Poéticas pessoais e/ou de processos colaborativos, enfatizando mais a aproximação dos alunos da singularidade do processo de criação artístico, solicite que revejam as Situações de Aprendizagem que tratam do tema e conversem sobre as imagens, releiam os textos e ouçam mais uma vez as músicas dos artistas focalizados. Com as leituras e as conversas sobre essas poéticas, no Arte – 2a série – Volume 1 Caderno do Aluno abre-se espaço para uma reflexão, por meio da seguinte questão: f Para você, quais seriam as qualidades do processo de criação em arte? RECURSOS PARA AMPLIAR A PERSPECTIVA DO PROFESSOR E DO ALUNO PARA A COMPREENSÃO DOS TEMAS Livros BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. COLI, Jorge. O que é arte. São Paulo: Brasiliense, 1995. CUNHA, Newton. Dicionário SESC: a linguagem da cultura. São Paulo: Perspectiva/ Sesc São Paulo, 2003. DESGRANGES, Flávio. Pedagogia do espectador. São Paulo: Hucitec, 2003. FERNANDES, Sílvia. Grupos teatrais: anos 70. Campinas: Editora da Unicamp, 2000. FLUSSER, Villém. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da fotografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2003. FOUCAULT, Michel. As meninas. In: _____. As palavras e as coisas. Lisboa: Edições 70, 1988. p. 59-71. HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Asdrúbal Trouxe o Trombone: memórias de uma trupe solitária de comediantes que abalou os anos 70. Rio de Janeiro: Aeroplano Editora, 2004. MACHADO, Arlindo. A ilusão especular: introdução à fotografia. São Paulo: Brasiliense, 1984. MARTINS, Mirian Celeste. Expedições instigantes. In: SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Expedições culturais: guia educativo de museus do Estado de São Paulo. São Paulo: FDE/SEE, 2003. ____________. Mediando [con]tatos com mediação cultural, v. 1, n. 1. São Paulo: Unesp, Instituto de Artes, Pós-graduação, nov. 2007. MARTINS, Mirian Celeste; PICOSQUE, Gisa; TELLES, M. Terezinha. A língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, 1998. (Coleção Didática do Ensino.) MASCARO, Cristiano. Desfeito e refeito. São Paulo: BEI, 2008. (Coleção Educação do Olhar.) MELLO, Zuza Homen de. A era dos festivais: uma paranoia. São Paulo: Editora 34, 2003. PAREYSON, Luigi. Problemas da estética. São Paulo: Martins Fontes, 1984. KOSSOY, Boris. Realidades e ficções na trama fotográfica. Cotia: Ateliê Editorial, 2000. PEIXOTO, Maria Inês Hamann. Arte e grande público: a distância a ser extinta. Campinas: Autores Associados, 2003. LOUIS, Murray. Dentro da dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1992. PEREIRA, Hamilton Vaz. Trate-me leão. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004. 75 PEREIRA, Sayonara. Rastros do Tanztheater no processo criativo de es-boço. Tese (Doutorado) – Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2007. RENOIR, Jean. Escritos sobre cinema, 19261971. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990. SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Horizontes culturais: lugares de aprender. Organização de Devanil Tozzi e outros. São Paulo: FDE/SEE, 2008. SCHULTZE, Ana Maria. Mapas sensíveis: percursos de leituras do mundo através de imagens fotográficas. Dissertação (Mestrado) – Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2003. SUZIGAN, Geraldo. Bossa nova: música, política e educação no Brasil. São Paulo: Clam Zimbo, 1989. SUZIGAN, Maria Lucia C.; MOTA, Fernando C.; SUZIGAN, Geraldo. Método de percepção auditiva. São Paulo: G4 Editora, 2000. v. 1. Inclui CD de áudio. SUZIGAN, Maria Lucia C.; SUZIGAN, Geraldo. Educação musical: um fator preponderante na construção do ser. São Paulo: CLR Balieiro e G4 Editora, 1986. (Cadernos Brasileiros de Educação – Coleção Ensinando Aprendendo/Aprendendo Ensinando.) TEIXEIRA COELHO, José. Dicionário crítico de política cultural. São Paulo: Iluminuras, 1999. CDs e DVDs BUARQUE, Chico. Roda viva. Rio de Janeiro: EMI, 2006. (Série Chico Buarque Especial, 4.) 1 DVD. DAVIS, Miles. Cool & collected. Rio de Janeiro: Sony BMG, 2006. 1 CD. 76 ELIAS, Eliane. Eliane Elias plays Jobim. Nova Iorque, Rio de Janeiro: Blue Note, EMI-Odeon, 1990. 1 CD. JOPLIN, Janis. Janis Joplin greatest hits: best of the best gold. Rio de Janeiro: Sony, 2001. 1 CD. PASCOAL, Hermeto. Hermeto Pascoal – ao vivo em Montreux Jazz Festival (1979). Rio de Janeiro: Warner, 2002. 1 CD. PASCOAL, Hermeto; ZIMBO TRIO; GISMONTI, Egberto. Hermeto Pascoal, Zimbo Trio e Egberto Gismonti – ao vivo na Sala Cecília Meireles (RJ). Rio de Janeiro: ALG Áudio e Vídeo, 2006. 1 DVD. ZIMBO TRIO. Caminhos cruzados. São Paulo: Movieplay, 1995. 1 CD. Sites de artistas e sobre arte ARAQUÉM ALCÂNTARA. Disponível em: <http://www.araquem.com.br>. Acesso em: 20 maio 2013. ASDRÚBAL TROUXE O TROMBONE. Disponível em: <http://www.itaucultural.org. b r / ap l i c ex t e r n a s / e n c i c l o p e d i a _ t e at ro / index.cfm?fuseaction=cias_biografia&cd_ verbete=486>. Acesso em: 20 maio 2013. BIENAIS DE DANÇA. Disponível em:<http://www.bienaldedanca.com>; <http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/ bienal_danca/apresentacao.html>. Acessos em: 20 maio 2013. CHICK COREA. Disponível em: <http:// www.chickcorea.com> (em inglês), <http:// www.clubedejazz.com.br/ojazz/jazzista_ exibir.php?jazzista_id=17>. Acessos em: 25 jul. 2013. CHICO BUARQUE. Disponível em: <http:// www.chicobuarque.com.br>. Acesso em: 25 jul. 2013. Arte – 2a série – Volume 1 CRISTIANO MASCARO. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/animae/fotogrfs/ mascaro/mascaro.htm>. Acesso em: 20 maio 2013. HENRI CARTIER-BRESSON. 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Curadoria educativa – Seleção de imagens que lida com ênfases e exclusões, combinações e recortes, e é comprometida com um foco que desvela pontos de vista e conceitos eleitos para exploração com os estudantes. O [con]tato com as obras, quando socializado em um grupo, promove a ampliação de pontos de vista que proliferam em múltiplos sentidos. Envolve a mediação cultural do professor, que provoca um processo instigante de interpretações, decifrações, descobertas e estranhamentos. Indo além do simples reconhecimento de autorias, a curadoria educativa desperta a fruição e propõe conexões não restritas às imagens apresentadas, mas centradas em uma experiência, um processo que leva a pensar a linguagem da arte, a vida. Uma curadoria educativa cuidadosa se preocupa em oportunizar o [con]tato com obras de diferentes épocas, lugares, etnias, culturas etc. O termo foi inicialmente utilizado por Luiz Guilherme Vergara e adotado e ampliado pelo grupo de pesquisa Mediação: arte/cultura/público, coordenado por Mirian Celeste Martins no Instituto de Artes/Unesp. Enquadramento – A fotografia pode ser considerada um retângulo que recorta o visível. Para Arlindo Machado (1984), o quadro da câmera é, assim, como uma espécie de tesoura: recorta aquilo que deve ser valorizado, separando o que é importante, o que é acessório, em uma organização das coisas visíveis. Escutar – Sob o foco da música, é o esforço inteligente de compreender o que é percebido pelo ouvido. Esforço, entre outros, de identificar, classificar, comparar, contextualizar, compreender e sentir o que se ouve. A percepção 78 da espacialidade do som, ou seja, a captação do efeito do fenômeno acústico para, por exemplo, identificar a localização espacial da fonte sonora, ou seja, a “audição espacial”, é um tipo de escuta. Espectador – Aquele que assiste a um espetáculo. Por muito tempo, foi esquecido ou considerado sem importância no seu processo de desenvolvimento, mas atualmente é visto como parte da obra, afetando-a e sendo afetado por ela. O efeito de uma performance do artista sobre o espectador, portanto, está fortemente ligado ao efeito do espectador sobre o artista. Fotografia de buraco de agulha ou pinhole – Fotografia realizada com uma câmera construída com uma caixa ou lata pintada de preto por dentro, totalmente vedada, com um pequeno furo de agulha por onde passa a luz. O papel fotográfico é colocado em seu interior em sala escura e com o orifício tampado. Diante do que será fotografado, o orifício é destampado para entrar a luz que sensibiliza o filme, formando uma imagem em negativo que é, depois, ampliada ou revertida por meio de cópia de contato. Fotograma – Fotografia feita sem câmera, com os objetos ou formas dispostos sobre o papel fotográfico em sala escura e que recebe um banho de luz do ampliador. Depois é feita a revelação da fotografia. Nomeia-se fotograma, também, cada um dos quadros de um filme fotográfico. Leitura dramática – Trabalho resultante do estudo de um texto dramatúrgico preconcebido e a consequente utilização desse instrumento como auxiliar no processo de encenação, assim como recurso para a apresentação simplificada de um texto. Música instrumental – Obra trabalhada com elementos da linguagem musical como melodia, harmonia, ritmo, intensidade, andamen- Arte – 2a série – Volume 1 to e sons dos instrumentos (timbre), sejam eles tradicionais (como piano, guitarra, contrabaixo, saxofones, flautas, bateria, trompete, violino, violoncelo, clarinete, cavaquinho, pandeiro, reco-reco e cuíca), sejam quaisquer outros objetos que produzam som. A voz humana também é usada como instrumento, sem a preocupação de cantar a letra da música. Em alguns casos, usa-se o som de palavras como efeito sonoro, sem que, necessariamente, tenha algum sentido literário. Punctum – Para o autor Roland Barthes, no seu livro a Câmara clara, o punctum significa um forte elo entre a imagem e o espectador, portanto, é um extracampo sutil, como se a imagem lançasse o desejo para além daquilo que ela permite ver. Ready-made – Expressão cunhada por Marcel Duchamp, significando objeto pronto. Em vez de criar um novo objeto, ele se apropriava de objetos produzidos pela indústria, em série, modificando-os. O valor da arte se desloca da obra realizada para o ato de criá-la, e acaba por reforçar a ideia de que qualquer objeto aceito como arte pelo sistema de arte (museu, crítico, historiador etc.) torna-se artístico. Rubrica – Qualquer indicação feita no texto teatral que complementa o que é para ser falado pelos atores. As rubricas podem ser, por exemplo, características de inflexões de fala e marcações de cena para orientar atores e diretores, linhas gerais e detalhes essenciais do cenário, características dos figurinos, efeitos de sonoplastia e iluminação. Timbre – É a característica do som de um instrumento musical ou qualquer fonte sonora. Podemos dizer que é a coloração dos sons. Trata-se da qualidade do som que possibilita distinguir aqueles de mesma altura e duração produzidos por dois instrumentos sonoros diferentes. Assim também acontece com a voz humana, pois o timbre da voz de uma pessoa, por mais parecido que seja ao de outras, tem características próprias e é único. ARTISTAS E OBRAS André Malraux (França, 1901-1976) – Escritor, crítico de arte e ativista político. Em seus romances, manifesta as diferenças entre o Ocidente e o Oriente, o valor da arte, além de questões políticas. A condição humana, A estrada real, O tempo do desprezo e A esperança são algumas de suas obras. Araquém Alcântara (Florianópolis/SC, 1951) – Fotógrafo. Sua produção reflete a beleza e as causas da preservação da natureza. Com essa atuação desde o início dos anos 1970, podemos considerá-lo um dos precursores da fotografia ecológica no Brasil. Araquém, para conseguir uma imagem, passa dias observando o entorno dos lugares que escolhe, a fim de obter a melhor imagem. Em seus vários livros, são revelados momentos da flora, da fauna e da paisagem brasileiras, além de aspectos singulares da nossa gente. Asdrúbal Trouxe o Trombone – Grupo carioca de teatro que estreou em 1974 e abraçou as ideias do Tropicalismo, do Teatro Oficina e da cultura pop, tornando-se uma das maiores referências de desconstrução da dramaturgia, da interpretação despojada e do processo de criação coletiva no teatro brasileiro. São fundadores do grupo o diretor Hamilton Vaz Pereira e os atores Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães. Trate-me leão é um texto que se tornou um marco na dramaturgia brasileira, expressou os temas e os tons da geração que saía da adolescência nos anos 1970, influenciando e definindo uma atitude perante a vida e a representação teatral por meio de processo de criação coletiva do Asdrúbal. Carlota Albuquerque (Porto Alegre/RS, 1957) – Bailarina, coreógrafa com formação em dança clássica e moderna, e psicóloga. Após al- 79 gumas experiências em escolas de dança no Brasil e no exterior, voltou a Porto Alegre e, em 1987, criou o Terpsí Teatro de Dança. Na direção do grupo, desenvolve como linguagem cênica a dança teatral, em que investiga o espetáculo como processo sempre em mutação, que pode ser alterado até mesmo em função de espaço físico da apresentação. Chick Corea (Estados Unidos da América, 1941) – Pianista de jazz e compositor cujas ousadias influenciaram enormemente as inovações estilísticas do jazz tradicional. Na década de 1970, foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do jazz fusion, e, ainda hoje, é considerado um dos mais criativos e competentes tecladistas do jazz. Cristiano Mascaro (Catanduva/SP, 1944) – Fotógrafo e arquiteto. Considerado um dos mais importantes fotógrafos da cidade de São Paulo, com sua paisagem humana e urbana. Mascaro iniciou sua carreira fotográfica trabalhando para uma revista semanal, em 1968, atuando depois de forma independente. Em 1984, recebeu o Prêmio Internacional de Fotografia Eugène Atget, em Paris. Escritor de livros que têm na linguagem fotográfica a sua marca, este fotógrafo revela a atmosfera da cidade paulista ao registrar suas diversidades, como se o tempo estivesse em suspensão, flagrando harmonias insuspeitáveis. Diego Velázquez (Espanha, 1599-1660) – Pintor e principal artista da corte do rei Filipe IV da Espanha. Diego Rodríguez de Silva y Velázquez iniciou como aprendiz de mestres pintores e, aos 20 anos, começou a exercer de fato sua profissão. Velázquez tornou-se especialmente conhecido por seus retratos. Entre suas produções, a obra As meninas é um marco na sua história artística e na História da Arte. Dionísio – Considerado pela historiografia um dos deuses mais controversos do mundo grego antigo. Permeando todo o imaginário religioso e social, obteve seu apogeu no século V a.C., com a dramatização de seu culto nas apresen- 80 tações teatrais. Portanto, é o deus da invenção do teatro, o criador da mimésis, da ilusão do teatro, da outra realidade que constitui a cena teatral. Simboliza, no teatro, a relação dos seres humanos com o movimento, pois sua possessão compele à música, à dança, à pantomima, à criação da realidade cênica, espaço concomitantemente sagrado e político. Dionísio impele à transformação, conduz aos impasses, à obscuridade da mutação do sujeito, à dimensão misteriosa do existir. Eurípedes foi um dos grandes dramaturgos que colocaram o culto a Dionísio em suas peças. A tragédia As bacantes elucida toda a complexidade desse deus e seu caráter contraditório e ambíguo. Edu Lobo (Rio de Janeiro/RJ, 1943) – Compositor, arranjador, orquestrador e cantor. Começou na música tocando acordeão. Depois se interessou pelo violão, dedicando-se ao instrumento. Frequentou shows em bares de Copacabana e formou um conjunto com Dori Caymmi e Marcos Valle, apresentandose algumas vezes. Em 1962, compôs sua primeira parceria com Vinicius de Moraes: Só me fez bem. Fez trilha para teatro, participou do evento Arena conta Zumbi, em 1965, em São Paulo, no qual estreou um de seus maiores sucessos, Upa, neguinho, em parceria com Gianfrancesco Guarnieri, mais tarde gravada por Elis Regina. Participou dos festivais de música popular, obtendo o primeiro prêmio em 1965, com Arrastão (parceria com Vinicius de Moraes), e, em 1967, com Ponteio (parceria com Capinam). Entre 1969 e 1971, morou nos Estados Unidos da América, onde aprofundou seus estudos musicais. Nessa época, trabalhou com Sergio Mendes e Paul Desmond. De volta ao Brasil, lançou discos solo e com parcerias ilustres, como Tom Jobim e Chico Buarque. Nos anos 1990, lançou discos com músicas inéditas e compôs trilhas para filmes como Canudos, de Sergio Resende. Em 2007, lançou o DVD Edu Lobo – Vento bravo, que traz seu primeiro documentário, dirigido por Regina Zappa e Beatriz Thielmann. Nele, o reservado Edu conta a sua história musical sem rodeios e conduz, ele próprio, o fio da meada. Arte – 2a série – Volume 1 Egberto Gismonti (Carmo/RJ, 1947) – Compositor, músico, cantor e arranjador. Um virtuoso da música instrumental brasileira, conhecido pela sua capacidade de experimentação. Ainda na infância e na adolescência, estudou piano, flauta, clarinete e violão em conservatório musical. Em 1968, participou do festival da TV Globo com a canção O sonho, que chamou a atenção do público e obteve boa aceitação da crítica. Nesse mesmo ano, foi à França estudar música dodecafônica com Jean Barraqué e análise musical com Nadia Boulanger. Em 1969, lançou seu primeiro disco: Egberto Gismonti, com forte influência da bossa nova. Hoje, esse álbum é considerado cult e uma de suas obras mais acessíveis, pois, nos anos 1970, Gismonti passou a se dedicar a pesquisas musicais e experimentações com estruturas complexas e instrumentos inusitados, voltando-se quase exclusivamente para a música instrumental, caminhando para o uso de sintetizadores e com interesse pessoal pelo choro. A pesquisa em música indígena brasileira levou-o a morar um breve período no Alto Xingu, com índios yawalapiti. Egberto trabalhou com vários músicos, entre os quais destacam-se Naná Vasconcelos, Marlui Miranda, Charlie Haden, Jan Garbarek, André Geraissati, Jacques Morelenbaum, Hermeto Pascoal, Airto Moreira e Flora Purim. Em 1980, Gismonti criou o próprio selo musical, com o nome Carmo, visto que ficava cada vez mais difícil gravar seus discos nas gravadoras comerciais. Eliane Elias (São Paulo/SP, 1960) – Pianista, compositora, arranjadora e cantora brasileira. Estudou e lecionou no CLAM – Escola de música do Zimbo Trio. Iniciou-se profissionalmente aos 17 anos. Após turnê com Vinicius e Toquinho, conheceu Eddie Gomez em Paris e foi encorajada a se mudar para Nova Iorque, em 1981. Vive lá até hoje. É contratada exclusiva da Steinway & Sons e do selo Blue Note. Eurípedes (c. 480 a.C.-406 a.C.) – Considerado o poeta mais jovem dos grandes expoentes da tragédia grega clássica. Com ele, esse gênero ganhou novos elementos. Suas peças não são acerca dos deuses ou da realeza, mas sobre pessoas reais. Colocou em cena camponeses ao lado de príncipes e deu igual peso aos seus sentimentos. Mostrou a realidade da guerra, criticou a religião, falou dos excluídos da sociedade: as mulheres, os escravos, os velhos. Eurípedes soube pintar as paixões humanas como nenhum dos dramaturgos gregos anteriores, influenciando, posteriormente, os escritores clássicos. O enredo de suas tragédias foi muitas vezes aproveitado por dramaturgos modernos, como Racine, Goethe e Eugene O’Neil. As bacantes foi a última tragédia conhecida escrita por Eurípedes, em 406 a.C. Nela, após viajar por inúmeros lugares, Dionísio chega a Tebas, onde sempre foi cultuado como deus das festas, do vinho, do lazer e do prazer, filho do próprio Zeus. Penteu, rei de Tebas, opôs-se à disseminação do culto a Dionísio e, por isso, foi punido pelo deus, caindo em desgraça e perdendo a cabeça em uma festa dionisíaca pelas mãos da própria mãe. Evgen Bavcar (Eslovênia, 1946) – Fotógrafo. Ficou cego aos 12 anos de idade, após sofrer dois acidentes. Doutor em História, Filosofia e Estética pela Universidade de Sorbonne, na França, Bavcar vive em Paris. Em suas viagens pelo mundo, evidencia que a imagem não precisa ser explicitamente visual, e que os cegos enxergam com o toque e desenvolvem outros sentidos. Ele diz que fotografa para exteriorizar suas imagens interiores. Fotos com sobreposições e em composições da luz em contraste com ambientes escuros marcam sua obra. Festivais da MPB – Festivais musicais que se originaram de uma série de shows e apresentações em auditórios universitários no início da década de 1960. Muitas dessas apresentações foram organizadas pelo disque-jóquei e jornalista Walter Silva, com nomes curiosos: Primeira Denti-Samba, Mens Sana In Corpore Samba. Ajudou na divulgação de O Fino da Bossa, transformado em programa televisivo da TV Record, em 1964, com o nome O Fino. Começaram, então, os festivais da MPB, que tinham como público os jovens universitários. Grandes nomes da música bra- 81 sileira cantavam o Brasil com uma visão política e críticas sociais que incomodavam a elite e o poder. Os festivais reuniam para seleção mais de 3 000 músicas, das quais 1% era apresentado ao público e se transformava em sucesso. As demais músicas nutriam o repertório para gravações de muitos artistas brasileiros consagrados. Festival Internacional de Campos do Jordão – Considerado o maior e mais importante evento anual de música clássica da América Latina, foi idealizado em 1970 pelo maestro Eleazar de Carvalho, com o compositor Camargo Guarnieri e com o pianista João de Souza Lima. Ao lado de uma intensa agenda de apresentações, que reúne os mais renomados intérpretes nacionais e internacionais em diferentes espaços públicos (teatros, praças, igrejas), há uma programação pedagógica que atrai muitos jovens estudantes de música em busca de formação e aperfeiçoamento. Galeria do Poste Arte Contemporânea – Galeria situada em Niterói, no Rio de Janeiro, conhecida pela apresentação de um trabalho diferenciado, que transforma um poste de iluminação pública na calçada de uma rua no bairro de Gragoatá em suporte para manifestações artísticas. George Gershwin (Estados Unidos da América, 1898-1937) – Compositor nova-iorquino nascido com o nome de Jacob Gershowitz, no Brooklyn, filho de imigrantes russos. Compôs muitas músicas para a Broadway, além de inúmeras peças no gênero erudito. Boa parte das suas composições teve sucesso popular, inclusive como trilha de cinema. Por sua capacidade criativa, introduziu elementos rítmicos e melódicos do jazz, tanto em sua produção de caráter mais popular quanto em suas composições eruditas, sendo este um de seus grandes méritos. A peça Rhapsody in blue, de 1924, é um exemplo dessa conjugação do jazz com o virtuosismo instrumental romântico. Summertime foi composta em 1935 para a ópera Porgy and Bess, com libreto de DuBose Heyward e letras de Heyward e Ira Gershwin. 82 Gilberto Gil (Salvador/BA, 1942) – Compositor, cantor e músico brasileiro. Iniciou sua carreira como músico da bossa nova, mas logo passou a compor músicas com um novo foco de preocupação política e ativismo social, ao lado do parceiro Caetano Veloso, sendo um dos fundadores do Tropicalismo. Ficou conhecido nacionalmente como compositor nos anos 1960. Nos anos 1970, Gil acrescentou elementos novos das músicas africana e estadunidense ao já vasto repertório e lançou álbuns como Realce e Refazenda. De 2003 a 2008 exerceu o cargo de ministro da Cultura. Giuseppe Castiglione (Itália, 1829-1908) – Pintor italiano que viveu em Paris. Começou a expor em 1869 e tornou-se conhecido pelos retratos e pintura de gênero, como cenas de interior, da vida burguesa e popular. Foi membro da Sociedade dos Artistas em sua época e premiado em muitos salões. Hélio Oiticica (Rio de Janeiro/RJ, 1937-1980) – Estudou pintura e desenho com Ivan Serpa, e em 1954 escreveu seu primeiro texto sobre artes plásticas. O registro escrito de suas reflexões sobre arte e sua produção tornou-se um hábito, nunca abandonado. Participou do Grupo Frente (1955-1956) e, a partir de 1959, integrou o Grupo Neoconcreto. Abandonou depois os trabalhos bidimensionais, interessando-se por outras formas de expressão, procurando retirar a pintura do quadro e levá-la para o espaço: criou relevos espaciais, bólides e penetráveis. Em 1964, criou as chamadas manifestações ambientais. O Parangolé – capas, tendas e estandartes – é a primeira obra totalmente influenciada pela experiência do artista na favela da Mangueira. A ideia de participação do espectador encontrou aí toda a sua força, uma vez que os parangolés eram para ser vestidos, usados, e, de preferência, o participante deveria dançar com eles. Henri Cartier-Bresson (França, 1908-2004) – Fotógrafo. Considerado o pai do fotojornalismo, ganhou uma máquina fotográfica quando ainda era criança. Estudou Artes e, depois de Arte – 2a série – Volume 1 passar um ano como caçador na África, descobriu a fotografia, influenciado por uma foto do húngaro Martin Munkacsi. Serviu o exército francês na Segunda Guerra Mundial, quando foi capturado; na terceira tentativa, fugiu e juntou-se à Resistência Francesa. Em 1947, depois da guerra, fundou a agência fotográfica Magnum. Como artesão da imagem, interessou-se pelo instante e pela eternidade, revelando com emoção a realidade flagrada por olhos singulares. Henrique Rodovalho (Goiânia/GO, 1964) – Coreógrafo. Autor das peças apresentadas pela Quasar Cia. de Dança. Com formação em Artes Marciais e Educação Física, atuou como ator e dançarino antes de se tornar coreógrafo. Ao longo dos anos, sua linha de pesquisa, com base na complexidade existencial do corpo e da alma, resultou na criação de inconfundíveis signos rítmicos, que deram identidade própria à Quasar, alternando momentos de vigor e pungência, humor e simplicidade. O envolvimento com produção de vídeos e a montagem de espetáculos revelaram seu talento também na direção cênica e, por causa dessa característica, Rodovalho vem mostrando que consegue atingir os níveis desejados de comunicação entre plateia e dançarinos. Além dos artifícios cênicos tradicionais, o premiado coreógrafo investe em estratégias multimidiáticas para propor interação entre o mundo real e o universo imaginário recriado no palco. Hermeto Pascoal (Olho d’Água/AL, 1936) – Músico multi-instrumentista, compositor, improvisador, arranjador e construtor de instrumentos musicais inusitados. Considerado um dos maiores gênios da música, é reconhecido por sua habilidade de extrair sonoridades de qualquer coisa, de objetos do cotidiano à fala das pessoas, e de transformá-los em música. Desde muito pequeno, Hermeto já tocava em público, apresentando-se em forrós e feiras, e, a partir da década de 1950, no Recife, passou também a tocar nas emissoras de rádio. Ao longo de sua carreira, formou vários grupos – como o Som Quatro, Sambrasa Trio e Quarteto Novo – e lançou mais de 30 discos. Participou do Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, e excursiona com frequência aos Estados Unidos da América e à Europa. Janis Joplin (Estados Unidos da América, 1943-1970) – Cantora estadunidense de blues, rock e soul, dona de uma voz singular, forte e com a expressividade característica das cantoras de blues. Cresceu ouvindo Bessie Smith e Big Mama Thornton (musicistas de blues) e, cantando no coro da igreja local e na universidade, começou a cantar blues e folk com amigos. A partir daí, sua carreira, intensa e curta, alcançou voos altos. Janis se vestia como os poetas da geração beat, cultivando a atitude rebelde, característica da época em que viveu. Lina Pesce (São Paulo/SP, 1913-1995) – Compositora e instrumentista. Magdalena Pesce Vitale foi filha do maestro italiano Giacomo Pesce. Sua primeira composição é de 1922, o tango-canção Quantas vezes. Em 1933, casou-se com Vicente Vitale, um dos fundadores da editora Irmãos Vitale, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde prosseguiu seus estudos de música, teoria, solfejo e harmonia. Em 1937, ganhou o primeiro lugar no Concurso Oficial de Músicas Carnavalescas da Prefeitura de São Paulo com a marcha Você gosta de brincar. Em 1942, editou pela Irmãos Vitale seu choro Bem-te-vi atrevido, gravado pela organista estadunidense Ethel Smith e apresentado por esta no filme Dupla ilusão (Twice blessed). A partir daí, a música ganhou novas gravações em vários países. No Brasil, foi gravada por Altamiro Carrilho, Sivuca e Heriberto Muraro. Outras composições: Pintassilgo apaixonado, Corruíra saltitante, Tangará na dança, Canarinho gracioso e Sabiá feiticeiro, todas editadas nas décadas de 1940 e 1950 pela Irmãos Vitale. Luciano Mariussi (Tupãssi/PR, 1974) – Artista visual e gravador. Luciano Augusto Mariussi iniciou seus estudos no curso de Educação Artística em 1996 e concluiu bacharelado em Gravura em 1997, em Curitiba. Sua pesquisa une arte e tecnologia, focalizando especialmente o estranhamento do ser humano diante 83 das novas tecnologias. Suas obras nascem de provocações ao público de arte. Para o vídeo realizado em 1999, Não entendo, há uma ação performática da equipe de filmagem e dos entrevistados que respondem a perguntas sobre arte em diferentes idiomas. As respostas obtidas com certo estranhamento e desconforto eram muitas vezes: “Arte? Eu não estou entendendo!”. Na edição do vídeo foi subtraída a pergunta, deixando apenas uma resposta. Em outra obra, Entre gritando, apresentada em 2005 no Museu de Arte Moderna (MAM), em São Paulo, o artista propunha que quem gritasse “Eu sei o que é arte contemporânea” ao entrar no museu ganhava desconto de R$ 1,00 no ingresso. Luiz Gonzaga (Exu/PE, 1912 – Recife/PE, 1989) – Compositor da MPB conhecido como o “rei do baião”. Luiz Gonzaga do Nascimento, no início da sua carreira, tocava no acordeão choros, sambas, fox e outros gêneros da época. Seu repertório, composto basicamente de músicas estrangeiras, não alcançava sucesso em programas de calouros. Até que um dia, no programa de Ary Barroso, recebeu muitos aplausos com a música de sua autoria Vira e mexe, gravada em disco de 78 rpm. Um tema com sabor nordestino. Com essa apresentação teve sua primeira contratação profissional, pela Rádio Nacional. É autor de centenas de sucessos nacionais e internacionais, gravados por quase todos os músicos brasileiros e muitos estrangeiros. Seus parceiros mais constantes: Humberto Teixeira e Zé Dantas. Asa branca, parceria com Humberto Teixeira, é uma canção que tem como tema a seca no Nordeste brasileiro, que, de tão intensa, faz migrar até mesmo a ave asa -branca (Columba picazuro, uma espécie de pombo). O som da melodia traz as raízes da música nordestina. Um clássico da MPB que foi gravado por muitos artistas. Lygia Clark (Belo Horizonte/MG, 1920 – Rio de Janeiro/RJ, 1988) – Iniciou sua formação em 1937 com Roberto Burle Marx no Rio de Janeiro. Na década de 1950, teve ativa produção artística, integrando o Grupo Frente, participando, em São Paulo, da Exposição 84 Nacional de Arte Concreta e assinando o Manifesto neoconcreto (1959), fatos esses que apontam as diretrizes formais de sua obra, quando rompe com o espaço bidimensional do quadro, abole a moldura, e sua obra invade a terceira dimensão. De 1960 a 1964, pesquisa e elabora seus Bichos, convidando à ação, à interação, e desvirtuando assim a figura do espectador. Desde esse momento, suas criações não permitem a passividade e Lygia dedica-se às experiências táteis e sensoriais, em que o público não apenas interage, mas é parte fundamental da obra, que só se completa com ele. Entre 1972 e 1976, reside em Paris, chegando a dar aulas na Sorbonne. Retornando ao Brasil, considera encerrado seu trabalho de artista, continuando a empregar a arte como instrumento terapêutico. Marcel Duchamp (França, 1887-1968) – Artista e teórico da Arte. Irmão dos artistas Raymond Duchamp-Villon e de Jacques Villon. Mesmo produzindo poucas obras, é visto como uma das figuras mais influentes da Arte do século XX, por causa da originalidade e da fertilidade de suas ideias. Em 1912, montando uma roda de bicicleta sobre um banquinho de cozinha, inventou o ready-made – um objeto produzido em massa selecionado ao acaso e exposto como obra de arte. Esse conceito parece ter se originado da convicção de Duchamp de que a vida é um absurdo sem sentido, bem como de seu repúdio a todos os valores da Arte. Segundo ele, qualquer objeto se torna obra de arte se o retirarmos do limbo dos objetos indiferenciados e o declararmos como tal. Entretanto, como ele mesmo reconheceu, não obteve sucesso em destruir a mística do gosto e em desmontar o conceito de beleza estética. Miles Davis (Estados Unidos da América, 1926-1991) – Compositor, bandleader e trompetista de jazz. Deu forte impulso às tendências vanguardistas desse gênero musical, realizando gravações de bebop e cool jazz. Foi importante figura no desenvolvimento do jazz fusion. Com o uso frequente da surdina, o som que tirava de seu trompete era puro, ma- Arte – 2a série – Volume 1 cio e quase sem vibrato, com fraseado conciso e despojado. Tornou-se famoso com a Miles Davis-Capitol Orchestra, contando com os arranjos de Gil Evans. Os Mutantes (1964-1976) – Banda de rock brasileira formada originalmente por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, cujo nome foi oficializado em 1966. Produzindo um rock anárquico e experimental, a banda misturava psicodelia, Beatles, música concreta, música erudita e até samba. Tudo isso com muita distorção de guitarra e referência às ideias estéticas musicais dos tropicalistas, como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé. Quasar Cia. de Dança – Fundada em 1988 por Vera Bicalho e Henrique Rodovalho, tem suas origens no Grupo Energia, formado em Goiânia no início dos anos 1980. Entre os primeiros objetivos, durante o período de criação da companhia, sempre estiveram presentes o desejo de liberdade diante das regras acadêmicas e a necessidade de não se fixarem a modelos. Tal postura possibilitou que a Quasar trilhasse uma interessante trajetória, esquivando-se das relações puramente estéticas da dança para aprofundar-se em questionamentos pertinentes à realidade social. Nos seus anos de criações e apresentações em palcos brasileiros e estrangeiros, propôs o trânsito entre a cultura erudita da dança e a da música popular brasileira. Quasar consegue chamar a atenção pela sua linguagem própria, que põe em cena um caldo saboroso, em que as estéticas do circo, da mímica, da dança e do vídeo se misturam. Ricardo Basbaum (São Paulo/SP, 1961) – Artista multimídia, professor, curador, crítico. Em 1977, mudou-se para o Rio de Janeiro. Em parceria com Alexandre Dacosta, fundou em 1981 a Dupla Especializada; em 1983, Jorge Barrão juntou-se aos dois, formando o Grupo Seis Mãos. Sua primeira exposição individual aconteceu em 1988. Iniciou, em 1989, o projeto Novas Bases para a Personalidade (NBP), realizando experiências com objetos, textos, instalações, diagramas e de- senhos, fazendo o convite: “Você gostaria de participar de uma experiência artística?”. Em 1991, coordenou o Núcleo Teórico e o Núcleo Intermídia da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e formou o grupo Visorama, com artistas plásticos cariocas. É professor do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com vários livros publicados. Sebastião Salgado (Aimorés/MG, 1944) – Fotógrafo. Trocou a formação em Economia pela fotografia, tornando-se um cronista e testemunha da vida de pessoas excluídas. Tem publicado livros e realizado exposições de suas fotos em preto e branco por todo o planeta, denunciando problemas sociais, focalizando a dignidade humana, protestando contra a violação dos direitos de homens, mulheres e crianças. Em 2003, foi nomeado representante oficial da Unicef. Teatro Oficina Uzyna Uzona – A Companhia de Teatro Oficina, ainda de teatro amador, foi fundada em 1958 por um grupo de alunos, como Amir Hadad, Renato Borghi e José Celso Martinez Corrêa, hoje o principal diretor dela. Em sua trajetória, o grupo recebeu influências de diversas tendências, nacionais e internacionais, tendo sido responsável pela formação de centenas de atores. Com O rei da vela (1967), incorpora a estética do movimento antropofágico proposta por Oswald de Andrade, diferenciando-se marcadamente no cenário teatral. Essa estética do Oficina ultrapassa os limites da interpretação. O atual espaço do Teatro Oficina foi projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi, que o transformou em um teatro-pista, com parede de vidro e teto móvel, estabelecendo uma relação única entre atores e plateia. As bacantes é uma das produções da companhia, sob direção de José Celso Martinez Corrêa. Com base em texto de Eurípedes e com música de José Celso, o espetáculo de 3h45min de duração reconstitui o ritual de origem do teatro em 25 cantos e 5 episódios. Em cartaz de 1995 a 1997, atraiu milhares de espectadores. Thelonious Sphere Monk (Estados Unidos da América, 1917-1982) – Pianista e compositor de 85 jazz estadunidense, conhecido pelo seu talento e seu jeito inovador de improvisar e compor. Suas obras, muito respeitadas pelos amantes do jazz, fazem parte do repertório de quase todos os músicos jazzistas do mundo. Monk liderou um quarteto, o Thelonious Monk Quartet, em que grandes jazzistas, como John Coltrane, tocaram. Seu estilo de tocar piano era muito singular. Sempre desconsiderou as técnicas tradicionais e obteve resultados impressionantes aos ouvidos dos apaixonados pela música instrumental contemporânea. Round midnight, composta em 1944, é uma de suas obras mais conhecidas, tendo sido tema-base de um filme de mesmo nome. É uma música obrigatória no repertório de músicos do jazz e da MPB. Algumas das mais importantes interpretações dessa música podem ser ouvidas em gravações de Dizzy Gillespie, John Coltrane, Miles Davis, Sonny Rollins, Charlie Parker, Michel Legrand, Chick Corea, Bud Powell, Herbie Hancock e Hermeto Pascoal. É um clássico da música negra jazzística estadunidense. Tom Jobim (Rio de Janeiro/RJ, 1927 – Nova Iorque, 1994) – Compositor, maestro, pianista, cantor, arranjador e violonista brasileiro. Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim é considerado um dos maiores expoentes da música brasileira e um dos criadores do movimento da bossa nova. Aprendeu a tocar violão e piano tendo aulas com o professor alemão Hans-Joachim Koellreutter, introdutor da técnica dodecafônica no Brasil, entre outros. Em 1961, com o parceiro Vinicius de Moraes, compôs Água de beber, uma das obras mais importantes da bossa nova, conhecida e interpretada por músicos brasileiros e jazzistas de todo o mundo. Valério Vieira (Angra dos Reis/RJ, 1862-1941) – Fotógrafo com importante ateliê instalado em São Paulo, para onde se mudou em 1894. Valério fotografou os principais políticos da época e lançou a moda dos “retratos de formatura”. Em 1901, foi premiado nos Estados Unidos da América por seu autorretrato Os 30 Valérios, que testemunha sua pesquisa com montagens fotográficas. 86 Vinicius de Moraes (Rio de Janeiro/RJ, 19131980) – Diplomata, jornalista, poeta e compositor brasileiro. Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes, poeta essencialmente lírico, o poetinha (como ficou conhecido), notabilizou-se pelos seus sonetos, forma poética que se tornou quase associada ao seu nome. Sua obra é vasta, passando por literatura, teatro, cinema e música. No campo musical, teve como principais parceiros Tom Jobim, Toquinho, Baden Powell e Carlos Lyra. Vik Muniz (São Paulo/SP, 1961) – Vicente José Muniz cursou Publicidade, mas seu interesse inicial na área das artes o levou para o teatro. Em 1983, mudou-se para Nova Iorque, onde desistiu da carreira na publicidade e tornou-se escultor. Quando viu as reproduções em preto e branco das esculturas, percebeu que a fotografia carrega o código da tridimensionalidade dos objetos, mesmo sem volume, assim como informa sobre o material. Isso gerou novas ideias para produzir as ilusões que cria por meio da fotografia. Geralmente apresentadas como séries, as fotografias registram as imagens de aparência realista produzidas com materiais inusitados, como macarrão, fios de arame, pó, chocolate, açúcar etc. Com eles compõe desenhos, pinturas ou esculturas que, após ser fotografados, são destruídos. As edições limitadas dessas fotografias são expostas como produto final. Zequinha de Abreu (Santa Rita do Passa Quatro/SP, 1880 – São Paulo/SP, 1935) – Aos 17 anos, José Gomes de Abreu criou sua primeira orquestra, que teria uma vida de mais de 20 anos de atividade em bailes, saraus, aniversários, casamentos, serestas e no acompanhamento dos filmes do cinema mudo. Era uma das melhores da região de sua cidade. Mudou-se para a capital paulista em 1920, onde manteve o ritmo profissional tocando em clubes, cabarés, festas em casas de família e bares (como Bar Viaduto e Confeitaria Seleta). Trabalhou na Casa Beethoven (na época, uma importante loja de partituras e de instrumentos musicais), na Arte – 2a série – Volume 1 qual demonstrava ao piano os lançamentos em partitura das músicas da época. Foi aí que Vicente Vitale conheceu Zequinha, quando iniciava uma editora musical: a Irmãos Vitale (ainda hoje uma importante editora de música do Brasil). Em 1924, a Irmãos Vitale lançou a sua valsa Branca, um grande sucesso. Depois foi a vez de Tico-tico no fubá, Tardes de Lindoia e uma sequência de outros sucessos. Zequinha adorava improvisar ao piano durante horas. A Companhia Cinematográfica Vera Cruz produziu um filme com base em sua vida: Tico-tico no fubá, com a participação de Anselmo Duarte, Tônia Carrero, Zbigniew Ziembinski, entre outros, direção de Adolfo Celi e direção musical de Radamés Gnattali. O choro Tico-tico no fubá tornou-se uma das músicas brasileiras mais conhecidas do mundo. Foi gravada por Carmen Miranda e Ray Conniff, entre outros. Há registros de que a primeira apresentação da música ocorreu em 1917, em um baile na cidade de Santa Rita do Passa Quatro. Foi editada e gravada pela primeira vez em 1931. Nos anos 1940, teve consagração pública quando incluída em cinco filmes de origem estadunidense, cantada por Carmen Miranda. Zimbo Trio – Grupo instrumental brasileiro. Surgiu em 1964, formado, originalmente, por Amilton Godoy (piano), Luiz Chaves (contrabaixo acústico) e Rubinho Barsotti (bateria). No ano seguinte, o Trio teve importante participação no programa O Fino da Bossa, da TV Record, acompanhando os novos talentos da MPB; essas gravações fariam a história da música brasileira nas décadas seguintes. Outros músicos já integraram o Trio que, às vezes, se apresenta como quarteto e que também tem produção autoral significativa. 87 QUADRO DE CONTEÚDOS DO ENSINO MÉDIO Volume 1 1a série Arte, cidade e patrimônio cultural r)FSBOÉBTDVMUVSBJTQBUSJNÔOJPDVMUVSBMJNBUFSJBM e material; estética do cotidiano; tradição e ruptura; ligação arte e vida; arte contemporânea r1SFTFSWBÉÈPFSFTUBVSPQPMÎUJDBTDVMUVSBJTFEVDBÉÈP patrimonial r"SUFQÙCMJDBJOUFSWFOÉ×FTVSCBOBTHSBàUFQJDIBÉÈP monumentos históricos r1BJTBHFNTPOPSBNÙTJDPTEFSVBWJEFPDMJQFNÙTJDB contemporânea r$BSOBWBMUBNCPSEFDSJPVMBKPOHPSPEBEFTBNCB frevo; forró; dança contemporânea; dança popular r"SUFTDJSDFOTFTDJSDPUSBEJDJPOBMGBNÎMJBTDJSDFOTFT circo contemporâneo; escolas de circo; palhaço clown e a tradição cômica; folia de reis; palhaços de hospital Volume 2 In[ter]venção em arte: Projetos poéticos na escola r.PEPTEFJOUFSWFOÉÈPBSUÎTUJDBFTFVTQSPDFTTPTEF criação em artes visuais, dança, música e teatro r"É×FTEFJOUFSWFOÉÈPFNFEJBÉÈPDVMUVSBMQPSNFJP de projetos poéticos individuais ou colaborativos In[ter]venção na escola: Arte e ação r4VQPSUFTGFSSBNFOUBTFQSPDFEJNFOUPTUÊDOJDPTF inventivos r0DPSQPDPNPTVQPSUFGÎTJDPOBEBOÉBFOPUFBUSP r0DPSQPEPUFBUSPPDPSQPEPBUPSEBBUSJ[FN expressão cênica r.BUÊSJBTPOPSBFTJHOJàDBÉÈPPTPNEBQBMBWSB música coral; o som dos textos e das bandas na escola; parâmetros sonoros, timbre r$PSQPFTQFUBDVMBSJOUFSWFOÉÈPFNFTQBÉPTOÈP convencionais; texto/escritura/temas de intervenção cênica r7JTVBMJEBEFEBGPSNBDPOUFÙEPFNDPOFYÈPDPNB materialidade e os processos de criação In[ter]venção: Instantâneos poéticos na escola r"JOUFSWFOÉÈPFTFVSFHJTUSPDPNPEPDVNFOUBÉÈP r.PEPTEFEPDVNFOUBÉÈPFNBSUF r$PODFJUPTQSPDFEJNFOUPTFDPOUFÙEPTJOWFTUJHBEPT durante o ano letivo 88 2a série O encontro entre arte e público r&TQBÉPTFYQPTJUJWPTNPEPTEFFYQPSTBM×FTEFBSUF bienais e feiras de arte r'FTUJWBJTEFUFBUSPFTQBÉPTQSPNPUPSFTEFMFJUVSB dramática, mostra universitária r'FTUJWBJTEFEBOÉBNPTUSBVOJWFSTJUÃSJBFTQBÉPT alternativos de dança r'FTUJWBJTEFNÙTJDBFTQBÉPTQBSBDPODFSUPFTQBÉPT alternativos de música: coretos, ruas Poéticas pessoais e/ou de processos colaborativos r"QPUFODJBMJEBEFFBTJOHVMBSJEBEFQPÊUJDBOBT linguagens artísticas r%FTEPCSBNFOUPTEBTMJOHVBHFOTEBBSUF r"PQFSBÉÈPQPÊUJDBEFMFWBOUBNFOUPEFIJQÓUFTFT escolha e testes de elementos da gramática das linguagens artísticas r0SFWFMBSEBTUFNÃUJDBT r1SPKFUPTEFQPÊUJDBQFTTPBMPVDPMBCPSBUJWB Tempo de fazer, gestando o mostrar r"DPOTUSVÉÈPEFjingles r0EFTFOIPEFBOJNBÉÈP r"JNQSPWJTBÉÈPUFBUSBM r"EBOÉBFTVBTNPEBMJEBEFT r0GFTUJWBMFPTBMÈPDPNPNPEPEFNPTUSBSBQSPEVÉÈP O mostrar anunciado: A produção poética na escola r"NPTUSBQPÊUJDBGFTUJWBMTBMÈP r.PEPTEFEJWVMHBÉÈPFNBSUFDBSUB[GÔMEFSQSPHSBNB r$PODFJUPTQSPDFEJNFOUPTFDPOUFÙEPTJOWFTUJHBEPTFN arte durante o ano letivo Arte – 2a série – Volume 1 GABARITO 0$"%&3/0%0"-6/0&""¬«0%0 130'&4403 Caderno do Professor. Caderno do Aluno. São Cadernos que, tal qual a rosa dos ventos, mostram um rumo, uma direção a seguir para viajar nos “Territórios da Arte”. Esses Cadernos são, assim, como coordenadas, movimentos. “Cadernos rosa dos ventos” que articulam mapas de diferentes linguagens da arte, oferecendo proposições-ações que, antes de serem apenas capazes de referendar um mundo da arte já sabido, podem ser um movimento potente para a criação de diferentes mundos da arte. t 0RVFQFOTPTPCSFBSUF as respostas às questões específicas deste item instigam os alunos a se posicionar sobre o assunto, cercando, de certo modo, seu repertório cultural. O importante é socializar as respostas, mapeá-las na lousa, analisá-las com eles para ver o que pensam sobre o tema, tendo como meta a ampliação de seus conhecimentos; t "ÎÍP FYQSFTTJWB as ações propostas, muitas vezes denominadas encomendas, para dar mais abertura ao professor, têm por objetivo desencadear o fazer artístico nas diferentes linguagens, sem perder de vista os conteúdos e as competências a serem trabalhados; Em especial, o Caderno do Aluno se faz registro de viagem, como parte de um portfólio, como lugar específico para pensar e escrever sobre arte, fazer reflexões e produções pensadas e emocionadas a partir das provocações geradas pelas proposições oferecidas no Caderno do Professor. Em especial, o Caderno do Aluno se faz lugar para olhar imagens das linguagens artísticas, que nos incitam a pensar e conversar sobre arte. t "QSFDJBÎÍPas perguntas colocadas na Apreciação, que se ampliam no Caderno do Professor, são apenas impulsos para estimular a conversa dos alunos sobre as obras. As ampliações propostas pelo professor e por suas boas e instigantes perguntas comporão o texto que será registrado pelo aluno no Caderno, apontando o que ficou de mais significativo para ele a partir da Apreciação oferecida; Mais do que respostas acertadas ou adequadas, já que em arte as respostas, por muitas vezes, são expressões de pontos de vista singulares, as questões do Caderno do Aluno pretendem ser uma provocação para que o aluno pense e expresse seus conhecimentos e suas opiniões sobre arte. Em muitos casos, as respostas devem ser pessoais e também referendadas pelo contexto cultural de cada grupo, de modo a mover diálogos, instigar reflexões pessoais e fornecer material para que o professor possa promover trocas entre os alunos , ampliando seus repertórios culturais sobre as linguagens artísticas. t 7PDÐ BQSFOEFV questões objetivas e/ou abertas para reflexão sobre os conteúdos trabalhados nas Situações de Aprendizagem de cada Caderno, reveladoras do que foi possível ativar como conteúdo ou competência. As respostas individuais tornam-se material de reflexão para os professores, indicando o que ficou além ou aquém em sua ação docente, no contexto da escola e na própria proposta; Por ser esse o contorno do Caderno do Aluno, é impossível a construção de um gabarito que dê conta de prever as muitas respostas possíveis, determinando o que é certo ou errado. Em contrapartida, o Caderno do Professor contém potenciais encaminhamentos e ampliações, ao mesmo tempo que insere o professor no conteúdo que está sendo proposto, oferecendo informações que enriquecem suas referências culturais e ajudam-no a ampliar as possíveis respostas dos alunos. Para o Caderno do Aluno, foram pensadas propostas específicas que abarcam produção, análise, leitura, pesquisa etc., reapresentadas a seguir: t 1FTRVJTBJOEJWJEVBMFPVFNHSVQP1FTRVJTBEFDBNQPF-JÎÍPEFDBTBas ações que orientam o aluno no planejamento, na realização e na discussão da pesquisa ou da ação proposta no Caderno do Aluno tampouco têm resposta única, pois dependem das escolhas e do que foi possível pesquisar de acordo com a realidade e com o contexto das diferentes escolas. Consideramos importante a valorização do que foi pesquisado e, especialmente, o modo como a pesquisa foi apresentada. Há várias sugestões no Caderno do Professor em relação a isso. Consideramos que o Caderno do Aluno, como parte do portfólio, é complementado por outros modos de registro, que podem gerar uma elaboração criativa que permita ao aprendiz dar expressão à sua aprendizagem, inventando formas para mostrar suas produções artísticas, seus textos escritos, fotografias de momentos das aulas e pesquisas realizadas. 89 Como processos, esses “Cadernos rosa dos ventos” são potências nas mãos de alunos, alunas, professoras e professores atentos à qualidade do trajeto, à ousadia de novos encon- 90 tros com a arte, à busca da experiência estética no pensar, no fazer, no escrever, no apreciar, no navegar pelos “Territórios da Arte”. CONCEPÇÃO E COORDENAÇÃO GERAL NOVA EDIÇÃO 2014-2017 COORDENADORIA DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA – CGEB Coordenadora Maria Elizabete da Costa Diretor do Departamento de Desenvolvimento Curricular de Gestão da Educação Básica João Freitas da Silva Diretora do Centro de Ensino Fundamental dos Anos Finais, Ensino Médio e Educação Profissional – CEFAF Valéria Tarantello de Georgel Coordenadora Geral do Programa São Paulo faz escola Valéria Tarantello de Georgel Coordenação Técnica Roberto Canossa Roberto Liberato Smelq Cristina de 9lbmimerime :oeÅe EQUIPES CURRICULARES Área de Linguagens Arte: Ana Cristina dos Santos Siqueira, Carlos Eduardo Povinha, Kátia Lucila Bueno e Roseli Ventrela. Educação Física: Marcelo Ortega Amorim, Maria Elisa Kobs Zacarias, Mirna Leia Violin Brandt, Rosângela Aparecida de Paiva e Sergio Roberto Silveira. Língua Estrangeira Moderna (Inglês e Espanhol): Ana Paula de Oliveira Lopes, Jucimeire de Souza Bispo, Marina Tsunokawa Shimabukuro, Neide Ferreira Gaspar e Sílvia Cristina Gomes Nogueira. Língua Portuguesa e Literatura: Angela Maria Baltieri Souza, Claricia Akemi Eguti, Idê Moraes dos Santos, João Mário Santana, Kátia Regina Pessoa, Mara Lúcia David, Marcos Rodrigues Ferreira, Roseli Cordeiro Cardoso e Rozeli Frasca Bueno Alves. Área de Matemática Matemática: Carlos Tadeu da Graça Barros, Ivan Castilho, João dos Santos, Otavio Yoshio Yamanaka, Rodrigo Soares de Sá, Rosana Jorge Monteiro, Sandra Maira Zen Zacarias e Vanderley Aparecido Cornatione. Área de Ciências da Natureza Biologia: Aparecida Kida Sanches, Elizabeth Reymi Rodrigues, Juliana Pavani de Paula Bueno e Rodrigo Ponce. Ciências: Eleuza Vania Maria Lagos Guazzelli, Gisele Nanini Mathias, Herbert Gomes da Silva e Maria da Graça de Jesus Mendes. Física: Carolina dos Santos Batista, Fábio Bresighello Beig, Renata Cristina de Andrade Oliveira e Tatiana Souza da Luz Stroeymeyte. Química: Ana Joaquina Simões S. de Matos Carvalho, Jeronimo da Silva Barbosa Filho, João Batista Santos Junior e Natalina de Fátima Mateus. Rosângela Teodoro Gonçalves, Roseli Soares Jacomini, Silvia Ignês Peruquetti Bortolatto e Zilda Meira de Aguiar Gomes. Área de Ciências Humanas Filosofia: Emerson Costa, Tânia Gonçalves e Teônia de Abreu Ferreira. Área de Ciências da Natureza Biologia: Aureli Martins Sartori de Toledo, Evandro Rodrigues Vargas Silvério, Fernanda Rezende Pedroza, Regiani Braguim Chioderoli e Rosimara Santana da Silva Alves. Geografia: Andréia Cristina Barroso Cardoso, Débora Regina Aversan e Sérgio Luiz Damiati. História: Cynthia Moreira Marcucci, Maria Margarete dos Santos e Walter Nicolas Otheguy Fernandez. Sociologia: Alan Vitor Corrêa, Carlos Fernando de Almeida e Tony Shigueki Nakatani. PROFESSORES COORDENADORES DO NÚCLEO PEDAGÓGICO Área de Linguagens Educação Física: Ana Lucia Steidle, Eliana Cristine Budisk de Lima, Fabiana Oliveira da Silva, Isabel Cristina Albergoni, Karina Xavier, Katia Mendes e Silva, Liliane Renata Tank Gullo, Marcia Magali Rodrigues dos Santos, Mônica Antonia Cucatto da Silva, Patrícia Pinto Santiago, Regina Maria Lopes, Sandra Pereira Mendes, Sebastiana Gonçalves Ferreira Viscardi, Silvana Alves Muniz. Língua Estrangeira Moderna (Inglês): Célia Regina Teixeira da Costa, Cleide Antunes Silva, Ednéa Boso, Edney Couto de Souza, Elana Simone Schiavo Caramano, Eliane Graciela dos Santos Santana, Elisabeth Pacheco Lomba Kozokoski, Fabiola Maciel Saldão, Isabel Cristina dos Santos Dias, Juliana Munhoz dos Santos, Kátia Vitorian Gellers, Lídia Maria Batista BomÅm, Lindomar Alves de Oliveira, Lúcia Aparecida Arantes, Mauro Celso de Souza, Neusa A. Abrunhosa Tápias, Patrícia Helena Passos, Renata Motta Chicoli Belchior, Renato José de Souza, Sandra Regina Teixeira Batista de Campos e Silmara Santade Masiero. Língua Portuguesa: Andrea Righeto, Edilene Bachega R. Viveiros, Eliane Cristina Gonçalves Ramos, Graciana B. Ignacio Cunha, Letícia M. de Barros L. Viviani, Luciana de Paula Diniz, Márcia Regina Xavier Gardenal, Maria Cristina Cunha Riondet Costa, Maria José de Miranda Nascimento, Maria Márcia Zamprônio Pedroso, Patrícia Fernanda Morande Roveri, Ronaldo Cesar Alexandre Formici, Selma Rodrigues e Sílvia Regina Peres. Área de Matemática Matemática: Carlos Alexandre Emídio, Clóvis Antonio de Lima, Delizabeth Evanir Malavazzi, Edinei Pereira de Sousa, Eduardo Granado Garcia, Evaristo Glória, Everaldo José Machado de Lima, Fabio Augusto Trevisan, Inês Chiarelli Dias, Ivan Castilho, José Maria Sales Júnior, Luciana Moraes Funada, Luciana Vanessa de Almeida Buranello, Mário José Pagotto, Paula Pereira Guanais, Regina Helena de Oliveira Rodrigues, Robson Rossi, Rodrigo Soares de Sá, Rosana Jorge Monteiro, Ciências: Davi Andrade Pacheco, Franklin Julio de Melo, Liamara P. Rocha da Silva, Marceline de Lima, Paulo Garcez Fernandes, Paulo Roberto Orlandi Valdastri, Rosimeire da Cunha e Wilson Luís Prati. Física: Ana Claudia Cossini Martins, Ana Paula Vieira Costa, André Henrique GhelÅ RuÅno, Cristiane Gislene Bezerra, Fabiana Hernandes M. Garcia, Leandro dos Reis Marques, Marcio Bortoletto Fessel, Marta Ferreira Mafra, Rafael Plana Simões e Rui Buosi. Química: Armenak Bolean, Cátia Lunardi, Cirila Tacconi, Daniel B. Nascimento, Elizandra C. S. Lopes, Gerson N. Silva, Idma A. C. Ferreira, Laura C. A. Xavier, Marcos Antônio Gimenes, Massuko S. Warigoda, Roza K. Morikawa, Sílvia H. M. Fernandes, Valdir P. Berti e Willian G. Jesus. Área de Ciências Humanas Filosofia: Álex Roberto Genelhu Soares, Anderson Gomes de Paiva, Anderson Luiz Pereira, Claudio Nitsch Medeiros e José Aparecido Vidal. Geografia: Ana Helena Veneziani Vitor, Célio Batista da Silva, Edison Luiz Barbosa de Souza, Edivaldo Bezerra Viana, Elizete Buranello Perez, Márcio Luiz Verni, Milton Paulo dos Santos, Mônica Estevan, Regina Célia Batista, Rita de Cássia Araujo, Rosinei Aparecida Ribeiro Libório, Sandra Raquel Scassola Dias, Selma Marli Trivellato e Sonia Maria M. Romano. História: Aparecida de Fátima dos Santos Pereira, Carla Flaitt Valentini, Claudia Elisabete Silva, Cristiane Gonçalves de Campos, Cristina de Lima Cardoso Leme, Ellen Claudia Cardoso Doretto, Ester Galesi Gryga, Karin Sant’Ana Kossling, Marcia Aparecida Ferrari Salgado de Barros, Mercia Albertina de Lima Camargo, Priscila Lourenço, Rogerio Sicchieri, Sandra Maria Fodra e Walter Garcia de Carvalho Vilas Boas. Sociologia: Anselmo Luis Fernandes Gonçalves, Celso Francisco do Ó, Lucila Conceição Pereira e Tânia Fetchir. Apoio: Fundação para o Desenvolvimento da Educação - FDE CTP, Impressão e acabamento Esdeva Indústria GráÅca Ltda. GESTÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO EDITORIAL 2014-2017 FUNDAÇÃO CARLOS ALBERTO VANZOLINI Presidente da Diretoria Executiva Antonio Rafael Namur Muscat Vice-presidente da Diretoria Executiva Alberto Wunderler Ramos GESTÃO DE TECNOLOGIAS APLICADAS À EDUCAÇÃO Direção da Área Guilherme Ary Plonski Coordenação Executiva do Projeto Angela Sprenger e Beatriz Scavazza Gestão Editorial Denise Blanes Equipe de Produção Editorial: Amarilis L. Maciel, Angélica dos Santos Angelo, Bóris Fatigati da Silva, Bruno Reis, Carina Carvalho, Carla Fernanda Nascimento, Carolina H. Mestriner, Carolina Pedro Soares, Cíntia Leitão, Eloiza Lopes, Érika Domingues do Nascimento, Flávia Medeiros, Gisele Manoel, Jean Xavier, Karinna Alessandra Carvalho Taddeo, Leandro Calbente Câmara, Leslie Sandes, Mainã Greeb Vicente, Marina Murphy, Michelangelo Russo, Natália S. Moreira, Olivia Frade Zambone, Paula Felix Palma, Priscila Risso, Regiane Monteiro Pimentel Barboza, Rodolfo Marinho, Stella Assumpção Mendes Mesquita, Tatiana F. Souza e Tiago Jonas de Almeida. CONCEPÇÃO DO PROGRAMA E ELABORAÇÃO DOS CONTEÚDOS ORIGINAIS Filosofia: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton Luís Martins e Renê José Trentin Silveira. COORDENAÇÃO DO DESENVOLVIMENTO DOS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DOS CADERNOS DOS PROFESSORES E DOS CADERNOS DOS ALUNOS Ghisleine Trigo Silveira Geografia: Angela Corrêa da Silva, Jaime Tadeu Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Araujo e Sérgio Adas. CONCEPÇÃO Guiomar Namo de Mello, Lino de Macedo, Luis Carlos de Menezes, Maria Inês Fini coordenadora! e Ruy Berger em memória!. AUTORES Linguagens Coordenador de área: Alice Vieira. Arte: Gisa Picosque, Mirian Celeste Martins, Geraldo de Oliveira Suzigan, Jéssica Mami Makino e Sayonara Pereira. Educação Física: Adalberto dos Santos Souza, Carla de Meira Leite, Jocimar Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Renata Elsa Stark e Sérgio Roberto Silveira. LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, Alzira da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Rodrigues, Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Fidalgo. LEM – Espanhol: Ana Maria López Ramírez, Isabel Gretel María Eres Fernández, Ivan Rodrigues Martin, Margareth dos Santos e Neide T. Maia González. História: Paulo Miceli, Diego López Silva, Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e Raquel dos Santos Funari. Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe, Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina Schrijnemaekers. Ciências da Natureza Coordenador de área: Luis Carlos de Menezes. Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabíola Bovo Mendonça, Felipe Bandoni de Oliveira, Lucilene Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Santana, Paulo Roberto da Cunha, Rodrigo Venturoso Mendes da Silveira e Solange Soares de Camargo. Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Leite, João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto, Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro, Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão, Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume. Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet Pezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar, José Luís Marques López Landeira e João Henrique Nogueira Mateos. Física: Luis Carlos de Menezes, Estevam Rouxinol, Guilherme Brockington, Ivã Gurgel, Luís Paulo de Carvalho Piassi, Marcelo de Carvalho Bonetti, Maurício Pietrocola Pinto de Oliveira, Maxwell Roger da PuriÅcação Siqueira, Sonia Salem e Yassuko Hosoume. Direitos autorais e iconografia: Beatriz Fonseca Micsik, Érica Marques, José Carlos Augusto, Juliana Prado da Silva, Marcus Ecclissi, Maria Aparecida Acunzo Forli, Maria Magalhães de Alencastro e Vanessa Leite Rios. Matemática Coordenador de área: Nílson José Machado. Matemática: Nílson José Machado, Carlos Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Pastore Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Ferreira da Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Walter Spinelli. Química: Maria Eunice Ribeiro Marcondes, Denilse Morais Zambom, Fabio Luiz de Souza, Hebe Ribeiro da Cruz Peixoto, Isis Valença de Sousa Santos, Luciane Hiromi Akahoshi, Maria Fernanda Penteado Lamas e Yvone Mussa Esperidião. Edição e Produção editorial: Jairo Souza Design GráÅco e Occy Design projeto gráÅco!. Ciências Humanas Coordenador de área: Paulo Miceli. Caderno do Gestor Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de Felice Murrie. Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas * Nos Cadernos do Programa São Paulo faz escola são indicados sites para o aprofundamento de conhecimentos, como fonte de consulta dos conteúdos apresentados e como referências bibliográficas. Todos esses endereços eletrônicos foram checados. No entanto, como a internet é um meio dinâmico e sujeito a mudanças, a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo não garante que os sites indicados permaneçam acessíveis ou inalterados. S239m São Paulo (Estado) Secretaria da Educação. Material de apoio ao currículo do Estado de São Paulo: caderno do professor; arte, ensino médio, 2a série / Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Geraldo de Oliveira Suzigan, Gisa Picosque, Jéssica Mami Makino, Mirian Celeste Martins, Sayonara Pereira. - São Paulo : SE, 2014. v. 1, 96 p. Edição atualizada pela equipe curricular do Centro de Ensino Fundamental dos Anos Finais, Ensino * Os mapas reproduzidos no material são de autoria de terceiros e mantêm as características dos originais, no que diz respeito à grafia adotada e à inclusão e composição dos elementos cartográficos (escala, legenda e rosa dos ventos). Médio e Educação Profissional – CEFAF, da Coordenadoria de Gestão da Educação Básica - CGEB. * Os ícones do Caderno do Aluno são reproduzidos no Caderno do Professor para apoiar na identificação das atividades. III. Picosque, Gisa. IV. Makino, Jéssica Mami. V. Martins, Mirian Celeste. VI. Pereira, Sayonara. VII. Título. ISBN 978-85-7849-569-5 1. Ensino médio 2. Arte 3. Atividade pedagógica I. Fini, Maria Inês. II. Suzigan, Geraldo de Oliveira. CDU: 371.3:806.90 Validade: 2014 – 2017