Nervos aferentes

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Capitulo 4
Origem e Evolução do Sistema Nervoso
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SISTEMA NERVOSO DOS INVERTEBRADOS
Sempre que necessário, consulte o
esquema para uma referência geral. Tomandose um anelídeo como modelo, veremos que o
SN
apresenta
um
padrão
análogo
de
organização morfológica e funcional dos
vertebrados: nele reconheceremos um sistema
nervoso central e um sistema nervoso
periférico.
O SN dos invertebrados é formado
pelos neurônios e pelas células gliais (ou
gliocitos)
que
invertebrados
diferentemente
não
sintetizam
dos
mielina.
Morfologicamente, a maioria dos neurônios
dos invertebrados é do tipo unipolar e, como
nos vertebrados, identificamos três tipos de
neurônios
sensoriais,
funcionalmente
associativos
e
distintos:
motores.
Os
neurônios (como já estudamos em capítulos anteriores) são dotados de excitabilidade.
Quando a excitabilidade surgiu pela primeira vez? Quando surgiram os neurônios?
A excitabilidade celular (capacidade de
gerar e propagar bioeletricidade) seria uma
propriedade
exclusiva
dos
animais
eumetazoários que possuem um tecido nervoso?
Estudos recentes demonstram que a
excitabilidade é uma propriedade muito antiga e
que
organismos
protozoários
transitoriamente.
unicelulares
são
capazes
Nos
como
de
os
alterá-la
PARAMÉCIOS,
a
propriedade de alterar a condutância iônica tem
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uma conseqüência locomotora, isto é, mudanças nos padrões de batimento dos cílios (veja detalhes
no capitulo 6).
Já uma AMEBA, quando estimulada mecanicamente por uma pinça em um ponto do corpo
celular, responde com um encurtamento local e emite pseudópodes, afastando-se do estímulo
aversivo. Nesse caso, porém, não há envolvimento da excitabilidade para a geração de sua reposta
locomotora. A ameba é dotada de um citoesqueleto capaz de responder adequadamente à presença
de estímulos ambientais, tendo como elemento efetuador do comportamento, os filamentos
contráteis. A ameba nos ensina que a contratilidade, propriedade amplamente encontrada nas
fibras musculares dos animais metazoários também é filogeneticamente bastante antiga.
Nos animais metazoários a excitabilidade é uma propriedade que serve para detectar e
monitorar o meio ambiente, processar essas informações e gerar comandos para os órgãos
efetuadores do corpo. Já a contratilidade serve manifestar as respostas apropriadas, movendo o
corpo ou partes dele.
A grande tendência evolutiva que se observa no plano de organização dos animais
metazoários é o aumento do tamanho do corpo e da mobilidade. Lembrando-se de que todos os
animais são heterótrofos, as vantagens associadas são maior eficiência para obter alimento e
defender-se de predadores. Simultaneamente, a adaptação a ambientes diferentes do planeta
produziu diversidade na forma, tamanho, modo de locomover-se, reproduzir-se, etc.
O sistema nervoso dos Invertebrados sob o ponto de vista evolutivo.
Ao constatamos que mais de 90% dos animais são representados por invertebrados (sendo
que 80% é de artrópodes) podemos concluir que esse plano corporal “deu bastante certo” sob o
ponto de vista adaptativo. Vejamos então qual foi a tendência evolutiva desses planos corporais e do
sistema nervoso.
As ESPONJAS são os animais mais primitivos. Formam
colônias de células mais ou menos independentes umas das outras e
não possuem qualquer organização tecidual, portanto, não possuem
órgãos ou sistemas de órgãos. O seu plano de organização é
totalmente assimétrico. Há entre elas células que possuem uma
especialização do protoplasma em cuja base há filamentos
contráteis. Quando estimuladas reagem encurtando-se (ou
contraindo-se) e são denominadas miócitos. Essas células
musculares lembram as fibras musculares lisas dos vertebrados e
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circundam o ósculo sendo capazes de regularem o fluxo de água. Os miócitos, no entanto, não são
controladas por neurônios, pois as esponjas, não os possuem. São organismos desprovidos de
excitabilidade, apenas contratilidade.
Animais de Simetria Radial
Os CNIDÁRIOS apresentam simetria radial, ou seja, as partes do corpo são organizadas
simetricamente em torno de um eixo central e tendem a ser sésseis.
Isso representou uma grande
mudança no plano de organização corporal em relação às esponjas: a organização é multicelular,
mas apresentam organização tecidual. Possuem dois folhetos epiteliais embrionários: o ectoderma
e o endoderma (animais diploblásticos).
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Nesse epitélio primitivo há células mioepiteliais assimétricas como as das esponjas. A
contração coordenada de várias células mioepiteliais propiciou não só movimentos de partes do
corpo como também do próprio corpo possibilitando uma forma de locomoção rudimentar. Supõese que as células musculares verdadeiras ou que desempenham, exclusivamente, a função contrátil
deve ter evoluído a partir dessas células mioepiteliais por supressão da sua porção epitelial,
adotando concomitantemente, uma posição mais profunda no corpo do animal.
Entre os cnidários vamos encontrar pela primeira vez células sensoriais e células nervosas
derivadas do ectoderma. O sistema nervoso bastante difuso situa-se na mesoglea, espaço entre os
dois tecidos onde é mais protegido e estável formando uma rede nervosa difusa.
As células nervosas ou neurônios, como em todos os demais animais metazoários, são de
três tipos funcionais: a) sensoriais que são especializadas em detectar estímulos ambientais físicos e
químicos; b) associativos que desempenham funções integrativas e c) motores que controlam as
células efetuadoras (musculares e glandulares).
Dotadas de excitabilidade e condutibilidade, as células sensoriais convertem os estímulos
físico-químicos em impulsos elétricos na porção que está em contato com ambiente externo. A
célula sensorial conduz essa informação para um neurônio motor que inerva várias células
mioepiteliais. Pela primeira vez, encontramos uma sinapse nervosa e uma junção neuromuscular
formando o mais rudimentar circuito nervoso que permite ao organismo reagir aos estímulos do
ambiente por meio da integração entre células funcionalmente distintas. A presença de um neurônio
associativo (também conhecido como interneurônio) entre o sensorial e o motor tornou possível a
modulação da atividade motora (muscular ou glandular). Quanto mais interneurônios estão
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presentes entre os neurônios sensorial e motor, maior e mais complexa se tornará a modulação da
atividade muscular ou glandular.
As sinapses nervosas dos cnidários são do tipo en passant
A) circuito monossináptico
Sinapse nervosa
Neurônio sensorial
Junção neuromuscular
Neurônio motor
Células mioepiteliais
B) circuito polissinaptico
Sinapse
nervosa
Neurônio
sensorial
Sinapse
nervosa
Neurônio
associativo
Junção
neuromuscular
Neurônio
motor
Células
mioepiteliais
Nos cnidários o sistema nervoso obedece ao
plano de organização da simetria radial: as células
sensoriais estão simetricamente distribuídas pelo
corpo permitindo o monitoramento das variáveis
ambientais que incidem sobre a superfície (detecção
de alimento, predadores, etc) assim como os
neurônios e as fibras mioepiteliais responsáveis pelas
respostas motoras coordenadas (captura, fuga, etc.).
Os cnidários são carnívoros, mas não são
predadores ativos. Esse plano de organização
corporal não possibilita grande flexibilidade locomotora e a caça é realizada por espreita e uso de
toxinas que paralisam as presas.
Por outro lado, a capacitação locomotora exige não só órgãos musculares contráteis, mas
também um sistema de órgãos sensoriais que detectem o posicionamento do seu próprio corpo no
espaço. As medusas que são móveis e nadam ativamente possuem estatocistos que monitoram a
posição do corpo no espaço em relação à gravidade. Com essas informações torna-se possível a
produção de respostas motoras adequadas que estabilizam a postura do corpo constantemente. Alem
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disso, possuem outras modalidades sensoriais (a luz, a estímulos mecânicos e químicos do
ambiente).
Simetria Bilateral
Todos os demais animais do reino
apresentam um novo projeto de organização do
corpo: longitudinal bilateralmente simétrico,
ou seja, um corpo comprido com as duas metades
iguais. Com esse plano, o corpo se move na
direção do eixo corporal e, preferencialmente, no
sentido
da
cabeça
(gradiente
locomotor).
Estrategicamente, torna-se uma vantagem, os
órgãos sensoriais estarem concentrados na cabeça
e próximo à boca. Na cabeça, concentram-se
neurônios
que
integram
as
informações
sensoriais e as motoras formando os gânglios
1
cefálicos (um projeto de cérebro). Esse novo
design possibilitou novas referências no espaço
tridimensional: anterior x posterior; dorsal x
ventral; lateral esquerda x lateral direita.
Concomitantemente, surgiu um novo tecido situado entre o ecto e endoderma em um
ambiente mais interno do corpo e estável: o mesoderma. Com o alongamento do corpo, o sistema
nervoso acompanhou a nova tendência, abandonando a organização difusa e reticulada, assumindo
o padrão de organização longitudinal tendo o tecido nervoso mais concentrado também na cabeça.
Nos cnidários, a ectoderme e a gastroderme regulam o espaço extracelular primitivo, a
mesogléia, mas com o surgimento de um novo folheto embrionário tornou-se possível a
compartimentalização interna: o surgimento de um (pseudo) celoma. O tecido nervoso originado do
ectoderma migrou para as porções mais profundas do corpo em um ambiente fisiologicamente mais
estável e o tecido contrátil mioepitelial foi substituído pelo tecido muscular originado do
mesoderma. A função contrátil das células mioepitelias, contudo, não foi totalmente abandonada
durante o curso da evolução: a ereção de pelos dos mamíferos ocorre graças às células mioepiteliais
da pele.
1
Gânglio/Núcleo: formação anatômica que reúne corpos celulares de neurônios funcionalmente relacionados.
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O novo design corporal adaptado ao novo estilo
de se locomover para frente e com a parte ventral do
corpo voltada para o substrato pode ser exemplificado
pelo padrão de locomoção dos vermes turbelários do
subfilo PLATYHELMINTES. Como tendência geral, a
boca e os órgãos sensoriais concentraram-se na cabeça
sendo essa parte do corpo a que recebe as principais
informações sobre a localização pessoal e extrapessoal
do próprio corpo em relação ao ambiente. Os corpos
celulares dos neurônios funcionalmente relacionados
tenderam a acumular-se formando gânglios nervosos e
facilitando a integração sensorial e motora. Com a
concentração de órgãos sensoriais na cabeça a quantidade
de neurônios sensoriais e associativos também se concentrou mais nessa região, originando os
gânglios cerebrais. Esses por sua vez, estão conectados a cordões nervosos longitudinais que
interligam outros gânglios nervosos situados ao longo do corpo. Para uma atividade coordenada do
corpo há cordões que realizam conexões nervosas transversais (comissuras) e longitudinais
(tratos). Outra tendência evolutiva do sistema nervoso longitudinal foi o controle hierárquico das
porções mais cefálicas sobre as caudais.
Quanto à locomoção, os animais bilaterais mais primitivos (como os platelmintos)
conservaram o tecido mioepitelial dos cnidários, porém apresentando especialidade funcional: a
musculatura
alongamento
circular
do
corpo
proporcionando
e
a
o
musculatura
longitudinal, o encurtamento. A combinação das
atividades
musculares
proporcionou
os
movimentos de rastejar sobre o subtsrato.
Novas revoluções de design se seguiram
e a tendência foi o aumento no número músculos
e o surgimento de diferentes propriedades biomecânicas para a locomoção e para as mais variadas
tarefas biologicamente relevantes (como alimentação e a reprodução). A essas mudanças coevoluiram o sistema nervoso e o sistema de órgãos sensoriais como teremos oportunidade de
acompanhar.
Os vermes turbelários (de vida livre como as planárias) possuem uma ampla gama de
movimentos e possuem um gânglio cerebral relativamente desenvolvido. Estendendo-se a partir
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dele, vários cordões nervosos estão associados a redes nervosas situadas na parede muscular. Em
termos gerais o sistema nervoso apresenta-se bem difuso e não lembra ainda o padrão de
organização dos anelídeos descritos no inicio deste capitulo.
Segmentação do sistema nervoso e o surgimento de um sistema nervoso central e periférico
A segmentação (ou metamerismo) é uma
característica dos animais cujos corpos estão divididos
em uma série continua de unidades transversais
repetidas e semelhantes. Ocorre nos anelídeos,
artrópodes e na maioria dos cordados. Com a
segmentação,
o
corpo
tem
uma
série
de
compartimentos individualizados, podendo cada um ser
regulado de maneira mais ou menos independente. A
segmentação facilitou a especialização regional de
diferentes
partes
do
corpo.
O
compartimento
celomático funciona como endosqueleto hidrostático
nos vermes chatos. Nos anelídeos a ocorrência da
segmentação teria proporcionado vantagens mecânicas
para a escavação de substrato de maneira eficiente.
O filo ANNLELIDA inclui vermes como
oligoquetas (minhoca, sanguessuga) e poliquetas. Nos anelídeos
surge a possibilidade de aumentar a velocidade de condução dos
impulsos nervosos com o aumento no calibre dos axônios. Esses
neurônios com axônios gigantes proporcionam rapidez das
respostas motoras diante dos estímulos ambientais nocivos (as
causas que justificam a variação da velocidade de condução foram
estudas no capitulo 2). O padrão de organização do sistema
nervoso é um cordão nervoso ventral único e um “gânglio
cerebral” compacto devido à fusão dos segmentos mais anteriores.
Entre os invertebrados, pela primeira vez, podemos reconhecer um
sistema nervoso dividido anatomicamente em sistema nervoso central, e um sistema nervoso
periférico.
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Os neurônios são tipicamente unipolares e os corpos celulares ficam perifericamente
arranjados sob a bainha ganglionar. No interior do gânglio há uma rede intricada de dendritos e
ligações sinapticas e axônios de passagens.
Veja o resultado pratico da segmentação: as contrações musculares podem ser alternadas
regionalmente e alo longo do corpo, proporcionando ao verme alem de rastejar, escavar.
Fusão de gânglios nervosos
A partir do plano de organização dos anelídeos, houve uma grande divergência de modelos,
resultando entre eles um novo design corporal: o dos ARTRÓPODES. Apesar de estarem
filogeneticamente relacionados com os anelídeos, não sabemos como evoluíram. A relação é
evidenciada por compartilharem a segmentação do corpo; o plano de organização do sistema
nervoso onde ambos possuem o “cérebro anterior dorsal” seguido por um cordão nervoso ventral
com vários gânglios segmentados.
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A revolução principal neste grupo foi a evolução de um exosqueleto quitinoso (ou
cutícula), com apêndices articulados e de músculos estriados transversais, que no conjunto
promoveram ampla flexibilidade e complexidade nos padrões de locomoção e de manipulação de
objetos. Cada segmento apresenta uma independência relativamente grande da região cefálica.
Nos anelídeos a musculatura se organiza em camadas circulares e longitudinais cuja força
mecânica é aplicada em um endoesqueleto hidráulico segmentado; nos artrópodos, os músculos se
organizam em feixes e em várias direções prendendo-se à superfície interna do sistema
exoesquelético. A associação destes músculos com as placas articuladas resultaram em sistemas de
alavancas mecânicas permitindo os movimentos de flexão. Um exosqueleto, além de propiciar
proteção e sustentação, é vantajoso para animais pequenos, proporcionando uma maior área para a
inserção dos feixes de músculos. Já os movimentos de extensão, pelo menos dos apêndices,
dependem em parte do sistema circulatório (aumento de pressão sangüínea). Finalmente, as fibras
musculares e as unidades motoras apresentam propriedades "avançadas" que justificam a
flexibilidade das respostas motoras e que por sua vez, refletem na diversidade comportamental do
grupo.
Os artrópodes, particularmente os insetos, possuem um “cérebro” de organização bastante
complexa que resultou da fusão de vários gânglios dos segmentos mais anteriores: na cabeça há
órgãos sensoriais bem complexos como os olhos e as antenas. O gânglio cerebral consiste de três
regiões anatômicas principais: um protocérebro anterior, um deutocérebro intermediário e um
tritocérebro posterior. As fibras aferentes visuais penetram no protocérebro e aqui é processada a
integração vísuo-motora; já o deutocérebro processa as informações provenientes das antenas; o
tritocérebro dá origem a vários nervos eferentes que inervam o aparelho bucal; garra e outras
estruturas assessórias da cabeça.
Detalhe do ‘cérebro” de um inseto e ao lado, um corte transversal que mostra uma organização de núcleos e tratos de fibras
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É importante mencionar que com o surgimento do exoesqueleto, as células sensoriais
somáticas estão dentro de pelos sensoriais, estruturas modificadas que estão adaptadas para a
detecção de estímulos ambientais. Varia muito em forma e de acordo com os estímulos
decodificados.
No filo MOLLUSCA (marisco, ostra, aplísia, lula, polvo, etc.) o padrão de movimentação
e a sofisticação do sistema nervoso alcançou o mais elevado nível de complexidade.
Os moluscos apresentam em comum um pé muscular, uma concha calcária (o manto) e um
órgão de alimentação denominada rádula. O plano de organização geral do sistema nervoso consiste
de um anel nervoso circunesofâgico, do qual partem, posteriormente, dois pares de cordões
nervosos que estão interconectados por várias comissuras. Aos cordões estão ligados vários
gânglios nervosos: um par inerva o pé e outro o manto e a massa visceral. Possuem vários órgãos
sensoriais. Entre os representantes mais notáveis estão os moluscos cefalópodos (lulas e polvo), os
maiores invertebrados que se restringiram ao ambiente marinho. Os tentáculos ou braços são na
verdade, estruturas homólogas do pé e nadam usando propulsão a jato. A coordenação motora
alcançada neste grupo é surpreendente: flutuam, navegam, lançam-se rapidamente por meio de
propulsão a jato, realizam movimentos sutis e precisos.
O grau de cefalização ganglionar é o mais avançado entre os invertebrados. Os gânglios
cerebrais, constituído de vários núcleos funcionalmente relacionados, estão situados próximos ao
esôfago sendo protegido por um “crânio” cartilaginoso.
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Possuem vários pares de
neurônios gigantes cujos diâmetros
avantajados
conferem
grande
velocidade da condução nervosa para
a musculatura do manto. É o manto
cuja contração promove a propulsão
a jato. Conforme o calibre dos
axônios os neurônios gigantes são
classificados de 1ª a 3ª ordem. O par de neurônios gigantes de 1ª ordem que percorre
longitudinalmente o corpo e envia comandos motores aos neurônios motores dos demais gânglios
em sentido céfalo-caudal tem 800um de diâmetro contra 2um de um axônio de mamífero! E os
mamíferos, que soluções encontraram para aumentar a velocidade de propagação dos impulsos
nervosos?
O sistema sensorial é bastante complexo: os olhos dos moluscos cefalópodes,
indubitavelmente, formam uma imagem visual e suas conexões nervosas realizam processamento
extremamente preciso sobre a forma dos objetos que se encontram em seu campo visual, adaptação
essencial para organizar o comportamento de caça e de comunicação visual intraespecífica, para os
quais usam padrões de movimentos e de posturas, bem como de mudanças de coloração. Há polvo
que pode discriminar objetos de 0,5cm a uma distância de 1m. Os estatocistos, particularmente,
bem desenvolvidos, informam a cerca da orientação espacial estática e dinâmica do corpo e operam
intimamente associados com a informação provenientes dos olhos.
Finalmente, os cefalópodes demonstram ampla capacidade de aprendizagem e memória, ou
seja, capacidades associativas complexas.
Resumidamente, a seqüência de eventos que caracteriza a origem e tendência evolutiva do
sistema nervoso dos invertebrados foi:
Padrão de organização geral do sistema nervoso
Grupos representativos
SN radial em forma de rede
Circuitos nervosos formados de células sensoriais, neurônios associativos e
Cnidários
neurônios motores
Presença de gânglios
SN longitudinal e bilateralmente simétrico
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Concentração de órgãos sensoriais na cabeça
Formação de gânglios nervosos e cordões longitudinais ventrais
Concentração de neurônios na cabeça (gânglios cerebrais)
Comissuras e tratos longitudinais
Segmentação do SN
SNC e SN periférico
Fusão de vários gânglios com aumento de áreas associativas cefálicas
Demais Invertebrados
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EVOLUÇÃO DO SN DE VERTEBRADOS
Os vertebrados pertencem ao Filo CHORDATA, mais especificamente ao subfilo
Vertebrata que incluem os peixes, anfíbios, répteis aves e mamíferos.
Os cordados abrigam além dos Vertebrata, mais dois subfilos: Cephalochordata (anfioxo)
e Urochordata (ascídias ou tunicados). Os três subfilos compartilham características comuns:
possuem em algum estágio da vida, uma notocorda, um cordão nervoso dorsal e oco; fendas
branquiais e uma cauda natatória, contudo, somente os vertebrados possuem uma coluna
vertebral e um crânio.
Grupos-irmãos dos CORDADOS


CORDADOS
Hemicordados
Equinodermos



Urocordados (Tunicados/Ascídias)
Cefalocordados (Anfioxo)
Vertebrados
Cauda pós-anal
Fendas branquiais
Cordão nervoso oco dorsal
Notocorda
ANCESTRAL DOS CORDADOS
ESTOQUE ANCESTRAL
A notocorda é um bastão longitudinal, dorsal e bastante flexível que dá sustentação ao
corpo e está presente em algum estágio do desenvolvimento de todo vertebrado. Na fase adulta, os
urocordados a perdem, mas na maioria dos vertebrados, os vestígios da notocorda são os discos
vertebrais. Nas larvas livre-natantes dos tunicados, no anfioxo e em vários tipos de peixes (sem
mandíbula, placodermes, quimeras, dipnoicos, crossopterigeos, etc.) a notocorda é bastante elástica
e permite aos músculos das paredes corporais flexionarem o corpo sem se deformarem.
O cordão nervoso oco e dorsal é derivado do ectoderma através de um processo
denominado neurulação (lembre-se de que nos invertebrados o cordão é ventral). Os hemicordados
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(balanoglossos) também possuem um cordão nervoso, mas a cavidade central ou o canal do
epêndima não é fechado.
As fendas branquiais presentes nos peixes e ao menos no estágio de desenvolvimento dos
tetrápodes constituem estruturas por onde a água penetra pela boca e sai para o exterior do corpo e
estão associados à respiração e nutrição.
Origem e evolução dos VERTEBRATA
Os vertebrados parecem ter evoluído a partir de um ancestral comum aos protocordados
(hemicordado, cefalocordado ou urocordado). Um estoque de animais com hábito séssil parecido
com os pterobrânquios (portadores de fendas faríngeas) teriam dado origem aos equinodermas,
balanoglossos e a organismos semelhantes aos tunicados ascídia (cujos adultos são sésseis e a forma
larvária, livre-natante). Essas larvas procuram um local para se fixarem, movimentando uma cauda
muscular.
Supõe-se que através da seleção de formas sexuadas semelhantes às larvas de tunicados
um estoque teria surgido por pedomorfose (neotenia) conservando o corpo alongado com uma
cauda propulsora e o hábito filtrador e teriam
originado os primeiros cordados.
A conservação de um eixo longitudinal, da
notocorda, de músculos pós-anais potentes e a
concentração de órgãos sensoriais na cabeça teriam
proporcionado novas e variadas possibilidades
locomotoras e a exploração de novos recursos
ambientais, não só aquáticos mas também os
terrestres.
O surgimento de uma coluna vertebral e
de uma caixa craniana proporcionou proteção ao
delicado tecido do SNC. Adicionalmente, uma
coluna com vértebras articuladas (ao invés de um
cordão rígido) proporcionou maior flexibilidade ao
movimento do corpo. Comparemos rapidamente a
biologia geral dos grupos irmãos para entendermos as transformações que relacionadas à origem
dos vertebrados. Podemos encontrar uma relação entre o padrão de organização do sistema nervoso
dos vertebrados e o estilo de vida?
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Biologia geral dos UROCHORDATA
Os urocordados (tunicados) são animais marinhos
pequenos e bastante comuns. Há três classes conhecidas e entre
os ascidiaceos os adultos são sésseis, não possuem cabeça ou
cauda pós-anal e não retêm a segmentação do corpo; somente
as suas formas larvais e livre-natantes possuem todos os
elementos típicos dos cordados. Essas larvas parecem-se com
girinos: possuem uma cauda muscular cujas contrações
alternadas propulsionam o corpo para frente, em busca de um
sitio para a fixação. A notocorda da larva fica retida só na
cauda e quando se torna adulto, ela é perdida, assim como, o
tubo neural que fica reduzido a um gânglio nervoso simples.
Biologia dos CEPHALOCHORDATA
Os anfioxos parecem-se
com peixes e
são animais
marinhos.
Alimentam-se
filtrando as partículas suspensas
que eles removem fuçando o
substrato. O movimento de água
para dentro da faringe ocorre
por
meio
de
movimentos
ciliares. Seu corpo é pequeno,
transparente e afilado em ambas as extremidades. Possui uma cabeça pequena, tronco e cauda.
Nadam com rapidez, mas não tão eficazmente como os peixes dotados de nadadeiras pares.
A maior parte do tempo, ficam enterrados em fundos arenosos e rasos, expondo apenas a
extremidade anterior. Não possuem uma cutícula estratificada como os vertebrados. A epiderme é
formada por epitélio simples e glandular e a derme se encontra entrelaçada com fibras musculares
esqueléticas transversais e helicoidais que sustentam e enrijecem o corpo. Os músculos
segmentares, as fendas faríngeas, as gônadas e os nervos segmentares, alternam-se nos dois lados
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do corpo, em vez de se disporem aos pares sucessivos como nos vertebrados. As atividades
musculares proporcionam movimentos ondulatórios, para frente e para trás.
A notocorda é constituída por uma série de células musculares empilhadas em forma de
moedas e contem elementos contráteis transversais. Cada célula possui controle nervoso
estabelecido pelo contato direto com o cordão nervoso adjacente. A notocorda funciona como um
endoesqueleto muscular que apresenta diferentes graus de elasticidade e rigidez. Nos vertebrados
esta função de sustentação é substituída definitivamente pela coluna vertebral.
Quanto ao sistema nervoso, esse é um cordão dorsal oco e sem cefalização evidente e não
é completamente fechado como nos vertebrados. Através de um neurósporo o tecido nervoso se
comunica com a água marinha. Possui uma par de ocelos que faz parte da parede cerebral e outros
tantos ocelos no cordão nervoso e podemos dizer que há indícios de órgãos dos sentidos na cabeça.
Biologia geral dos Vertebrados
Finalmente, podemos iniciar o estudo dos vertebrados. Como o nome do próprio grupo
anuncia, o surgimento de uma coluna vertebral (substituindo a função da notocorda) foi inovador e
bastante significativo. Uma coluna com elementos ósseos é mais resistente do que a notocorda; é
regionalmente flexível porque é articulada e oferecendo melhor fixação dos músculos, amplia as
possibilidades biomecânicas. Na água, a coluna vertebral suporta a atividade contrátil dos possantes
músculos axiais dos peixes, mas com a conquista do ambiente terrestre diminuiu de tamanho nos
anfíbios. a sustentação do corpo contra a gravidade em um ambiente menos denso do que a água
exige outras alternativas biomecânicas. Nos peixes, os apêndices pares não se relacionam com a
coluna, mas nos tetrápodes, tornaram-se fortes e serviram para redistribuir o peso do corpo e eleválo. Adicionalmente, a coluna passou a ter flexibilidade regional e os dois pares de apêndices a
desempenham não só funções locomotoras como também de manipulação.
Aves
Mammalia
Reptilia
Amphibia
Elasmobranchiomorphi
Osteichthyes
Agnatha
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Peixes: inovações no ambiente aquático e contribuições para a vida terrestre
Os primeiros peixes (amandibulados) não tinham maxilas e nem nadadeiras pares. Quanto à
nutrição obtinham alimentos apenas por meio de filtração ou então, as peças bucais se adaptaram
para rasparem a matéria orgânica de hospedeiros. A locomoção era limitada: nadavam ondulando o
corpo graças à contração alternada dos músculos axiais, porém sem muita direção e propulsão.
Alcançavam distâncias pequenas. Os órgãos sensoriais adaptados a esse estilo de vida
proporcionavam informações dinâmicas e estáticas sobre a posição do corpo no espaço e sobre a
análise do meio ambiente.
O surgimento da mandíbula entre os peixes foi um acontecimento tão marcante que os
peixes são divididos naqueles que não a possuem (Agnatha) e que possuem (Gnasthostoma).
Caçar ativamente as presas e manipulá-las requer controle e coordenação precisa dos músculos dos
dois lados do corpo. Além disso, são necessários órgãos sensoriais para localização das fontes
móveis de alimento (olfação, visão) e o conhecimento momento a momento da posição do corpo
seu próprio corpo no espaço (linha lateral, sistema vestibular, etc). Em outras palavras, são
necessários muitos neurônios associativos para exercerem a função de integrar as informações
sensoriais e a gerar comandos motores coordenados. Comparando o encéfalo de um ciclostomado e
de um peixe mandibulado torna-se bastante aparente o aumento da massa encefálica.
A mandíbula e as nadadeiras pares dos peixes
O surgimento da mandíbula (a partir da modificação de parte do esqueleto branquial) e das
nadadeiras pares (assunto bastante controverso) foi um acontecimento revolucionário em termos
de design corporal e sucesso comprovado na exploração de novos recursos alimentares: todos os
demais vertebrados possuem mandíbulas e apêndices locomotores. A mandíbula em torno da boca é
movida por atividade muscular potente que garante abocanhadas e mordidas firmes, além succionar
maior volume de água. A mandíbula está primariamente associada à nutrição, mas foi “exaptada”
para outras funções como cavar buracos, carregar pedriscos e vegetação para construir ninhos,
mordiscar o parceiro sexual numa corte sexual, cuidar da prole e atacar concorrentes rivais.
A figura abaixo ilustra a origem da mandíbula por modificação do esqueleto visceral. O
primeiro arco visceral deixou de funcionar como um suporte das brânquias e teria originado a
mandíbula. Posteriormente, o segundo arco teria possibilitado a sustentação da mandíbula.
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O surgimento de apêndices pares (ou nadadeiras pares) entre os peixes solucionou vários
problemas hidrodinâmicos para a natação, entre eles maior direcionalidade e velocidade, ou seja,
eficiência no controle da locomoção. Essas duas inovações estão todas reunidas pela primeira vez
nos elasmobrânquios e foram conservadas nos demais peixes. O esqueleto dos elasmobrânquios
evoluiu para uma tendência cartilaginosa e nos demais peixes, para a ossificação do endosqueleto.
Simultaneamente, órgãos sensoriais mecânicos mais complexos como os do ouvido interno (canais
semicirculares), da linha lateral e órgãos elétricos de Lorenzini, proporcionaram uma natação
precisa, direcionada e controlada. Os músculos são mecanicamente poderosos; sob o ponto de vista
energético podem alternar entre exercícios anaeróbicos e aeróbicos conforme a exigência. Para isso
há neurônios adaptados para a propagação rápida de impulsos nervosos e o recrutamento das fibras
musculares.
Esse novo estilo de vida caçando presas ativamente, proporcionou mecanismos de defesa
anti-predação mais rápidos e precisos proporcionando desvios rápidos de trajetória. Viver em
cardumes exige muita precisão sensorial e locomotora, ou seja, eficácia na integração e
processamento neural.
Vertebrados tetrápodes: locomover sobre patas e as conquistas de um novo ambiente
A conquista definitiva do ambiente terrestre dependeu de adaptações inovadoras para a
reprodução. Os animais Anamniotas como peixes e anfíbios fertilizam os óvulos externamente e os
embriões se desenvolvem na água. No ambiente terrestre somente os animais (Amniotas como
répteis, aves e mamíferos) que protegem os embriões do dessecamento deram certo: fertilizar o
óvulo dentro do corpo feminino e a adição de uma membrana âmniotica. Outras inovações
ocorreram: as brânquias foram substituídas pelos pulmões para a obtenção de oxigênio, a pele ficou
corneificada (seca), as nadadeiras pares evoluíram para membros que sustentam o corpo acima do
chão, a cabeça se tornou móvel aparecendo o pescoço facilitando a exploração do ambiente sem
afetar a locomoção. Por outro lado, muitas modalidades sensoriais foram preservadas e inovadas
enquanto outras, abandonadas (linha lateral e sentido elétrico). É importante lembrar que no
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ambiente terrestre a densidade do meio (ar) é menor do que a da água. Portanto, a conquista do
novo meio dependeu alem da capacidade de sustentar o corpo sobre patas, movê-lo em meio menos
denso.
Os anfíbios que evoluíram a partir dos peixes crossopterigeos conquistaram o ambiente
terrestre, mas não definitivamente: a reprodução continuou sendo dependente da água e a sua pele
não se tornou totalmente adaptada ao ambiente seco. Mas sob o ponto de vista da alimentação os
anfíbios inovaram decisivamente: com uma língua carnosa, protátil e uma boca grande, capturam
presas em movimento. O sentido visual é essencial para a organização do comportamento de
captura de presa e a formação de imagem depende de um sistema eficiente de lentes convergentes.
Num ambiente seco, a córnea é constantemente umedecida graças às secreções das glândulas
lacrimais e da membrana nictante/palpebra que as espalha.
A respiração pulmonar favoreceu a capacidade de vibrar o ar através de cordas vocais. No
ambiente noturno a emissão de sons pelos machos anunciando a condição reprodutiva às fêmeas foi
muito vantajosa. O sentido da audição exigiu uma membrana ressonante (tímpano) e mecanismo de
superação da impedância acústica (ar-liquido). Um dos ossos que dava sustentação à mandíbula dos
peixes passou a fazer parte das alavancas ósseas do ouvido médio, assim como, vários músculos dos
arcos branquiais passaram a regular o mecanismo de transmissão sonora.
Os répteis que evoluíram a partir dos anfíbios Labryrinthodontia e possuem todas as
características que conferem a independência da vida aquática. Os répteis são recobertos por
escamas córneas com exceção de algumas serpentes. Nessa classe são reconhecidas entre 17 e 23
ordens, mas apenas 4 sobreviveram e entre eles estão os ancestrais das aves e dos mamíferos. O
desenvolvimento embrionário extra-corporeo foi uma solução para a reprodução, mas que requereu
investimentos morfológicos, fisiológicos e comportamentais no cuidado da prole (incubação,
construção de abrigos e defesa anti-predatoria), ou seja, custos maiores. A sobreposição de
gerações, isto é, a vida em grupo exigiu mecanismos eficazes de comunicação e de reconhecimento
entre os membros e de manutenção da coesão social.
A transição de répteis para aves é bem menos documentada em termos fósseis do que de
répteis para os mamíferos. As aves e os mamíferos definitivamente tornaram-se animais
endotérmicos e aumentaram as chances de conquistarem ambientes extremos da superfície do
planeta. O repertório comportamental das aves é bastante diversificado sendo notórios o controle
motor para o vôo, a construção de ninhos, os mecanismos visuais e auditivos associados ao
processo de comunicação social. O cérebro e o cerebelo aumentaram muito de tamanho,
especialmente os núcleos da base como veremos mais tarde.
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Os mamíferos são divididos em três grandes grupos diferentes em termos de estratégias
reprodutivas: Prototheria (monotremados como o equidna e ornitorrinco que são ovíparos);
Metatheria (marsupiais) e os Eutheria (totalmente placentários).
É entre os mamíferos que encontraremos o maior aumento de tamanho cerebral,
principalmente entre os primatas e os cetáceos que apresentam complexos mecanismos de interação
social. Nos mamíferos o cérebro aumenta de tamanho, cresce sobre outras estruturas e em algumas
espécies a superfície do córtex cerebral se torna totalmente convoluta.
O SN de Vertebrados
O design do ancestral que considerado modelo de vertebrado lembra um peixe e a partir
dele, as pressões do ambiente favoreceram sucessivas mudanças adaptativas em diferentes
ambientes, originando a diversidade de espécies que conhecemos. Entre as classes de vertebrados
houve uma tendência progressiva de aumento do encéfalo (encefalização) e junto com ela,
mecanismos progressivamente mais complexos no processamento e análise das informações
sensoriais (aumento no número de neurônios e de sinapses) e dos comandos motores aos órgãos
efetuadores do corpo somático e visceral. Essa tendência pode ser prontamente reconhecida na
figura abaixo ao compararmos a organização geral do SN de duas classes de vertebrados
filogeneticamente distantes: um anfíbio e um mamífero. Uma análise cuidadosa mostra facilmente
que ambos possuem estruturas anatômicas homólogas como um sistema nervoso central (encéfalo
e medula) e um sistema nervoso periférico (nervos cranianos, espinhais e gânglios sensitivos e
autonômicos). O que salta aos olhos é a profunda transformação do encéfalo.
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Assim como a tendência observada nos invertebrados, nos vertebrados também houve
ocorreu uma concentração de órgãos sensoriais na região cefálica. Veja abaixo a chave que reúne as
principais divisões do SN de Vertebrados.
Telencéfalo (Hemisférios Cerebrais, Núcleos Basais)
CÉREBRO
Diencefalo (Talamo, Hipotálamo,)
ENCÉFALO
CEREBELO
SNC
TRONCO
ENCEFÁLICO
MEDULA
Mesencefálo
Ponte
Bulbo
O encéfalo dos vertebrados corresponde aos gânglios cerebrais dos invertebrados e a
medula, ao cordão nervoso longitudinal, porém, esta é oca e situa-se dorsalmente. Ainda que a
medula possua circuitos neurais próprios, o encéfalo, através de longos tratos de projeção, exerce
controle hierárquico sobre as regiões medulares.
Tratos, Nervos, Núcleos, Gânglios e Plexos
Núcleos ou gânglios são denominações para o agrupamento de corpos celulares de
neurônios funcionalmente relacionados, respectivamente no sistema nervoso central (SNC) e no
sistema nervoso periférico (SNP). Dentro do SNC os feixes de fibras nervosas, funcionalmente
relacionados, são denominados de tratos, comissuras, corpo caloso, etc. e, no sistema nervoso
periférico, são denominados de nervos cujas fibras recolhem informações sensoriais originados nos
órgãos sensoriais ou, então, enviam comandos motores para os órgãos efetuadores. Quando as
fibras nervosas periféricas adjacentes trocam de feixes de fibras ocorre um entrelaçamento de fibras
denominado plexo. A substância branca corresponde à associação de fibras nervosas mielinizadas2
e a substância cinzenta ao conjunto de fibras sem mielina e os corpos celulares. Portanto, os
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núcleos de neurônios estão localizados na substância cinzenta e os feixes de fibras mielinizados, na
substancia branca.
Há basicamente três tipos funcionais de neurônios (como nos invertebrados): Neurônios
sensoriais; Neurônios motores e Neurônios associativos.
Um nervo periférico pode ser formado de fibras sensoriais ou motoras ou podem ser mistas.
Nos vertebrados encontramos pares de nervos que deixam a medula (nervos espinhais) e que
deixam o encéfalo (nervos cranianos). As fibras somáticas, tanto sensoriais como motoras são
aquelas que inervam a pele e seus derivados e os músculos esqueléticos; as fibras viscerais são as
que inervam os órgãos viscerais e as glândulas.
A Medula Espinhal e os Nervos Espinhais
Todos os vertebrados mandibulados possuem uma medula espinhal com a seguinte
organização básica: um tubo neural cilíndrico conectado às raízes dorsais e ventrais que se juntam
para formar os nervos espinhais.
De um modo geral, as raízes dorsais estão
associadas com a sensibilidade somática e visceral
e as raízes ventrais, com a motricidade somática e
visceral. Nos peixes primitivos (lampreia) não
encontramos essa distinção anatômica, mas nos
anfíbios, répteis e mamíferos a coluna de
substância cinzenta situa-se centralmente em torno
2
Mielina: envoltório intermitente de axônios centrais e periféricos que é sintetizado por gliocitos.
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do canal medular circundada pela substância branca. A substância cinzenta na medula tem
distribuição bilateral e simétrica em forma de borboleta (ou H medular). A medula espinhal situa-se
dentro da coluna vertebral e se estende ao longo da maior parte do comprimento do corpo e afilase caudalmente. A medula dos peixes e dos anuros é mais curta que o canal vertebral; Nos
mamíferos a medula é também mais curta (com a exceção dos monotremados) terminando ao nível
da vértebra lombar, mas nas aves e répteis a medula estende-se pela cauda. Os nervos espinhais, no
entanto, mantém-se fiéis emergindo dos respectivos segmentos vertebrais e ao final do canal
vertebral os feixes de nervos formam a cauda eqüina.
A coluna ventral de substância cinzenta possui corpos de neurônios somáticos que
emergem da medula pelas raízes ventrais. Essas raízes juntam-se e formam o tronco dos nervos
espinhais. A quantidade de neurônios motores somáticos varia conforme o volume de massa
muscular que será inervada. Pelas raízes ventrais além de fibras dos motoneurônios somáticos
emergem, na maioria dos vertebrados, fibras dos neurônios motores viscerais cujos corpos estão
localizados mais lateralmente e formando a coluna ventro-lateral. A coluna dorsal de substância
cinzenta está associada às raízes dorsais sensitivas, cujos corpos celulares estão localizados nos
gânglios das raízes dorsais. Os neurônios sensitivos somáticos chegam dorsal e medialmente na
medula e os sensitivos viscerais, mais ventral e lateralmente. Na coluna dorsal estão os corpos de
neurônios com axônios longos que recebem as informações periféricas e as projetam para regiões
mais cefálicas e mais caudais. Há também neurônios de projeção que atingem regiões do encéfalo
através da substância branca. Já os neurônios de axônios curtos e sem mielina influenciam os
neurônios do mesmo lado ou do lado oposto da medula, promovendo integração local de impulsos
nervosos sensoriais e motores.
Os circuitos neurais que fazem conexões entre neurônio sensorial, interneurônios, neurônios
motores e os respectivos órgãos efetuadores, são responsáveis pela realização respostas motoras
somáticas ou viscerais denominados reflexos e o circuito é denominado arco reflexo. Um
comportamento reflexo é totalmente inato e é causado por estímulos específicos. Por conseguinte é
um comportamento estereotipado podendo, no entanto, conforme o número de neurônios que
participam do arco serem simples (contração de um grupo muscular) ou muito complexo
(envolvendo contrações coordenadas de vários músculos). Os circuitos reflexos mediados pela
medula e pelo tronco encefálico podem ser modulados por neurônios situados no cérebro.
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Na substância branca, os feixes de fibras que sobem ou descem por ela são todas
mielinizadas, ou seja, propagam os impulsos em alta velocidade. A coluna de fibras dorsais é
essencialmente sensitiva e ascendente; as colunas lateral e ventral são principalmente motoras e
descendentes. A substância branca da medula funciona como um conduíte pelo qual trafegam fibras
que trazem comandos de regiões mais cefálicas e fibras que transportam informações que chegam
da periferia para o encéfalo.
Os nervos espinhais
Os nervos espinhais típicos da maioria dos vertebrados são estruturas pares em cada
segmento do corpo. O número e o modo de emergência das fibras nervosas variam entre os grupos
de vertebrados. Nas lampréias, peixes e anfíbios, a cada segmento da medula, os nervos dorsais e
ventrais unem-se fora do canal vertebral para formar o nervo espinhal único. O nervo espinhal
contendo fibras mistas (sensitivas e motoras) divide-se num ramo dorsal para inervar estruturas de
origem epiaxial, um ramo ventral (bem maior) que inerva os apêndices e às estruturas de origem
hipoaxial e, um ramo visceral que inerva as estruturas do hipômero (glândulas e músculos
braquiais e viscerais). Em determinadas regiões ocorre o entrelaçamento de ramos sucessivos cuja
formação é denominada plexo e está presente nos vertebrados onde os apêndices pares são bem
desenvolvidos (caso dos plexos braquial e lombossacral). Os nervos derivados desses plexos são
chamados plurissegmentares, pois contem fibras originadas de vários segmentos da medula em
oposição aos nervos unissegmentares, derivados de um único segmento medular. Nos vertebrados
amniotas, as raízes ventrais e dorsais unem-se dentro do canal vertebral.
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Apesar da diversidade na forma, a inervação de um determinado músculo nos vertebrados é
mais ou menos constante, mesmo nos complicados plexos: segundo Romer e Parsons, “ ...um
determinado músculo, em qualquer geração e em longas linhas evolutivas, é sempre inervado pelos
mesmos elementos e por meio de vias semelhantes”.
Nos peixes-bruxa (e também no anfioxo) os nervos dorsais possuem alguns gânglios
sensoriais (fora da medula) e na composição dos nervos ventrais há somente fibras motoras
somáticas. Uma peculiaridade é que as raízes ventrais e dorsais não se unem, caminhando
independentemente aos territórios de inervação.
Concluindo, os componentes funcionais de um nervo espinhal são:
Somáticas
Fibras
aferentes
(Sensoriais)
(pele, músculo, esqueleto, articulações)
Viscerais
(órgãos viscerais)
Nervos
espinhais
Somáticas
Fibras
eferentes
(Motores)
( musculatura esquelética estriada)
Viscerais
( musculatura lisa, cardíaca e glândulas)
O Encéfalo e os Nervos Cranianos
Se acompanharmos o desenvolvimento embrionário de um mamífero humano, após a
neurulação, a região anterior do tubo neural expande-se e apresenta três vesículas: prosencéfalo
(encéfalo anterior), mesencéfalo (encéfalo médio) e rombencéfalo (encéfalo posterior).
Progredindo no estagio de desenvolvimento do sistema nervoso, o prosencéfalo divide-se em
telencéfalo e diencéfalo. No adulto, o telencéfalo dá origem aos hemisférios cerebrais. O
mesencéfalo não sofre divisões, mas o rombencéfalo dá origem ao metencéfalo que no adulto
torna-se o cerebelo e ao mielencéfalo que origina o bulbo. O encéfalo pode ser dividido nessas
cinco regiões conforme o desenvolvimento embrionário (telencéfalo, diencéfalo, mesencéfalo,
metencéfalo e mielencéfalo) ou em três regiões: tronco encefálico, cérebro e cerebelo.
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O tubo neural é dilatado na região anterior do encéfalo e formam os ventrículos laterais
nos hemisférios cerebrais, o III ventrículo no diencéfalo, aqueduto cerebral no mesencéfalo e o
IV ventrículo na ponte e bulbo.
Encéfalo primitivo
Encéfalo de mamífero com as principais estruturas
anatômicas
Durante a gestação de um mamífero, o embrião se desenvolve como se fizesse uma revisão
filogenética da evolução dos vertebrados. A maioria dos encéfalos de vertebrados situa-se num eixo
reto, mas as aves e os mamíferos adquirem três flexuras (cefálica, pontina e cervical). Na figura
http://home.iprimus.com.au/rboon/StagesofBrainDevelopment.htm
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adiante podemos visualizar o desenvolvimento do SNC humano na 11ª semana de idade e depois,
já uma criança.
O tronco encefálico (ponte e bulbo)
Faz parte do encéfalo, mas é uma
estrutura que mais se parece com a medula e
difere muito do cérebro e cerebelo. Do
tronco
originam-se
todos
os
nervos
cranianos com a exceção dos nervos
terminal, I e II par que são atípicos. No
bulbo e no mesencéfalo estão os núcleos
motores e sensoriais, vários circuitos de
integração sensorial e motora e os que
regulam as funções viscerais e muitas fibras de passagens que integram reciprocamente o cérebro e
a medula. A ponte e o cerebelo são estruturas intimamente associadas e são os principais derivados
do metencéfalo e juntos estão envolvidos com a coordenação motora. O cerebelo dos amniotas e de
alguns peixes é bastante desenvolvido atendendo a uma grande demanda locomotora e aos
processos de coordenação sensorial e motora (coordenação, força, direção, velocidade, etc.).
No tronco encefálico há uma
formação
reticular
anatomicamente
(FOR)
corresponde
a
que
uma
estrutura intermediária entre a substância
branca e a cinzenta. Virtualmente, a FOR
recebe
informações
de
todas
as
modalidades sensoriais e os reenvia para
praticamente todas as regiões do SNC.
Nos mamíferos, a estimulação desta área
desperta os animais que estavam dormindo e a sua destruição causa perda de consciência (coma).
Desse modo a FOR atua regulando os estados de consciência ou o ritmo sono-vigilia, através de
fibras que ascendem do tronco para regiões cerebrais corticais (por isso, chamado de sistema
ativador reticular ascendente =SARA). Quando você desperta o seu colega chamando-o (estimulo
auditivo) ou tocando-o (estimulo tátil) você estará ativando o SARA e o aumento do nível de
atividade cortical o despertará. Dizemos que quando isso acontece, tornar-se-á neurologicamente
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consciente e estará preparado para perceber e compreender os estímulos ambientais (quem o
acordou) e realizar tarefas voluntárias (planejar e articular palavras para perguntar por que você
teria feito isso).
Além disso, a FOR, por meio de fibras que projetam-se para a medula, regula a
excitabilidade dos neurônios motores e sensoriais. Alem disso, há vários circuitos neurais que
controlam as funções viscerais vitais do organismo como a respiração e a função cárdio-circulatória.
Embora o tronco seja uma estrutura filogeneticamente muito antiga, as lesões traumáticas (por
acidentes) ou depressões (devido aos anestésicos gerais) da FOR comprometem seriamente a
sobrevida de seres humanos. Por outro lado, as lesões cerebrais não são fatais, ainda que tenha
grandes repercussões na qualidade de vida.
As informações sensoriais periféricas que se projetam para tronco encefálico (contribuem
para participarem de circuitos locais de integração, mas daí são retransmitidas para núcleos do
diencéfalo e desses para o córtex cerebral. As informações que chegam na FOR durante o estado de
vigília (quando estamos acordados) modulam e redistribuem os impulsos para as áreas corticais e
aumentam e diminuição do estado de consciência. Você deve ter reparado: mesmo acordado o seu
nível de atenção é sempre o mesmo?
O cérebro
Como dito anteriormente, o prosencéfalo embrionário dos vertebrados dá origem ao
cérebro, formado pelo telencéfalo e o diencéfalo ou cérebro. O cérebro é a estrutura anatômica que
mais sofre mudanças durante a evolução.
O diencéfalo possui várias estruturas e, entre eles o hipotálamo que contem muitos núcleos
integradores das funções viscerais como a regulação do balanço hidro-eletrolitico, a regulação da
temperatura corporal (nas aves e mamíferos), ingestão de alimento, comportamento sexual,
organização das respostas viscerais das emoções, etc e exerce controle sobre os neurônios préganglionares do sistema nervoso autônomo; o epitálamo (grande parte do qual não exerce função
nervosa), núcleos habenulares (que organizam parte das funções olfativas), órgão parietal e
corpo pineal e o tálamo. O tálamo está dividido em um tálamo ventral - presente em todos os
vertebrados que funciona como um relê de retransmissão do cérebro para as regiões mais
posteriores e um tálamo dorsal, mais desenvolvido nos tetrápodes, particularmente nos mamíferos
que funciona como relê de retransmissão sensorial para o telencéfalo, com exceção da olfação. Nos
núcleos dorsais destacam-se o corpo geniculado lateral (medeia a sensibilidade visual do
mesencéfalo para o córtex) e o corpo geniculado medial (medeia a sensibilidade auditiva).
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O telencéfalo compreende os dois hemisférios cerebrais que são incompletamente
divididos. Nele identificamos o bulbo olfatório, o córtex cerebral e um grande núcleo, o corpo
estriado. No cérebro, a substância cinzenta situa-se no córtex e no corpo estriado. O córtex cerebral
(ou pálio) forma o teto e as paredes laterais
dos hemisférios e, em sua base, está o corpo
estriado (= núcleos da base). O tamanho dos
bulbos olfatórios dependerá diretamente da
importância da função olfativa na espécie. O
ser humano é um miscrosmata e possui
bulbos muito pouco desenvolvidos.
Há três tipos de córtex cerebral:
arquicórtex, paleoocórtex e neocórtex. Nos
mamíferos o neocórtex é o tipo dominante
que recobre praticamente todo telencéfalo.
Nos peixes o córtex e o corpo estriado são
espessos e fundidos (acompanhe pela figura).
Acreditava-se que neles o telencéfalo possuía
apenas o arqui e o páleocortex integrando
exclusivamente as funções olfativas. Hoje sabemos que comportamento agressivo, reprodutivo,
formação de cardumes são integrados ao nível do telencéfalo. Isso indica que o neocórtex deve ser
filogeneticamente antigo apesar da incerteza dos seus limites anatômicos.
Nos répteis e aves encontramos um córtex delgado recobrindo o corpo estriado bem
desenvolvido. Atualmente, admite-se que nas aves o tecido neocortical faça parte do corpo estriado,
Evolução do Encéfalo nos vertebrados
Paleocortex e Neocortex na mesma região topográfica do
cérebro de réptil e mamífero
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sendo denominado de hiperestriado. A lesão da porção cortical não causa tanto prejuízo quanto a
lesão do corpo estriado, mais especificamente do hiperestriado.
Nos mamíferos, o neocortex cresceu muito tomando conta da superfície cortical e o
arquicortex foi empurrado medialmente e o paleocortex, lateralmente. O paleocortex conservou-se
associado à função olfativa e, nos mamíferos, originou ao lobo piriforme, cujo córtex é bem
desenvolvido em espécies cujo sentido é muito aguçado. Já o arquicortex originu o hipocampo
associado ao processo de memória e aprendizagem.
Todos os mamíferos de grande ou pequeno porte apresentam neocortex recobrindo
praticamente todo o telencéfalo; outros possuem mais córtex (ou mais neurônios) e para conservar
um volume cerebral ótimo a superfície cortical tornou-se convoluta com muitos sulcos e giros. Nos
primatas o córtex é dividido em regiões (lobos) que correspondem aos ossos do crânio: lobos
frontal, parietal, temporal, occipital que pos sua vez são divididas em áreas especificas.
Note o córtex cerebral humano: identificamos áreas sensoriais primárias por modalidade
(somestésica, auditiva e visual), ou seja, são os locais de chegada ou de projeção das respectivas
vias sensoriais que trazem informações da periferia. As áreas corticais adjacentes às primárias
processam as respectivas informações e as integram, proporcionando a percepção das coisas
acontecem. Os comandos motores são produzidos nas áreas associativas corticais e através da área
motora primária os comandos corticais são enviados para o tronco encefálico e a medula. No ser
humano, as áreas associativas predominam em relação ás áreas primárias quando comparada ao rato
e ao gato. Podemos deduzir que quanto maior a área neocortical maiores serão as áreas de
associação mais complexas.
Nos mamíferos o alto comando do controle da motricidade somática está córtex, mas essa
condição progrediu ao longo da historia filogenética dos vertebrados. Nos peixes e anfibios, a
principal organização da hierarquia motora encontra-se no tronco encefálico; nos répteis e aves no
corpo estriado. Nos primatas o córtex passa a exercer funções de dominância hierárquica sobre o
corpo estriado e os núcleos motores do troco e medula; nos demais mamíferos o controle motor para
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a postura e movimento do corpo dependem da coordenação do tronco encefálico.
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Em outras
palavras, as lesões de áreas corticais motoras no ser humano causam um grande impacto sobre a
qualidade motora do que em mamíferos ungulados ou carnívoros.
O corpo estriado é pareado e situa-se na porção anterior do cérebro. É um conjunto de
vários núcleos, mas podemos identificar três principais grupos:
1) arquiestriado que integra os sentidos olfativo e somático geral do corpo e, nos peixes,
forma o complexo amigdalóide. Nos mamíferos, chamado de corpo amigdaloide, participa da
organização do comportamento alimentar e das emoções.
2) paleoestriado é a parte que corresponde ao globo pálido dos mamíferos.
3) neoestriado dá origem nos mamíferos ao núcleo caudado e o putámen. Nas aves, o
neoestriado, derivado do córtex desempenha funções associativas complexas e é conhecido como
“hiperestriado”.
Nos seres humanos, a degeneração dos neurônios dopaminergicos dos núcleos da base
causam a doença de Parkinson que é caracterizada por tremores quando a pessoa está em repouso e
por rigidez generalizada quando em movimento.
Cerebelo e Ponte
O cerebelo é uma porção antiga do encéfalo e está associada com o controle do equilibro
postural. Como o cérebro, possui um córtex cerebelar e um grupo de núcleos em sua base. Recebe
virtualmente todas as informações sensoriais e as utiliza a serviço da motricidade somática. Nas
aves e mamíferos (animais ativos e desempenham funções motoras complexas) o cerebelo é
relativamente grande, convoluto com muitos giros e sulcos. Nos peixes e anfíbios é bastante
pequeno e liso. Ao menos nos seres humanos podemos afirmar que o cerebelo opera somente em
nível inconsciente. Participa exclusivamente na coordenação da motricidade, sem jamais programála ou iniciá-la. A lesão cerebelar jamais causará paralisia, apenas distúrbios da motricidade (perda
de coordenação e dificuldade para aprender uma tarefa motora). Já as lesões dos neurônios motores
que inervam diretamente a musculatura ou dos neurônios de áreas do alto comando motor que
iniciam os movimentos volitivos causam paralisia3.
O cerebelo também possui áreas filogeneticamente distintas: o arquicerebelo (coordena as
reações de equilíbrio postural a partir de estímulos vestibulares), paleocerebelo (coordena os
movimentos a partir da analise de informações proprioceptivas) e neocerebelo (nos mamíferos,
participa do planejamento da motricidade somática voluntária).
3
Paralisia: perda da capacidade de realizar movimentos
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A ponte como o nome diz, é uma estrutura que interliga as funções cerebelares e cerebrais;
é muito desenvolvida nos mamíferos.
Os nervos cranianos
Os nervos cranianos recebem um número e um nome; a tabela abaixo mostra os pares de
nervos cranianos humanos. Note que há nervos mistos assim como nervos exclusivamente
sensoriais ou motores.
No
I
II
III
IV
V
VI
VII
VIII
IX
X
XI
XII
Nome do nervo
Olfatório
Optico
Oculo-motor
Trocelar
Trigêmeo
Abducente
Facial
Acústico-vestibular
Glossofaríngeo
Vago
Acessório
Hipoglosso
Emergência
Telencefalo
Diencefalo
Mesencefalo
Mesencefalo
Ponte
Bulbo/ponte
Bulbo/ponte
Bulbo
Bulbo
Bulbo
Bulbo e medula
Bulbo
Principal função
Sentido especial (Olfação)
Sentido especial (Visão)
Motricidade somática
Motricidade somática
Sensibilidade somática e motricidade somática
Motricidade somática
Motricidade somática e sentido especial (gustação)
Sentido especial (Audição/Equilíbrio)
Sensibilidade somática e motricidade somática
Sensibilidade visceral e motricidade visceral
Motricidade somática
Motricidade somática
Os nervos cranianos receberam,
de modo arbitrário, uma numeração cuja
ordem está relacionada à sua emergência
do encéfalo no sentido cranio-caudal. Sua
evolução é um pouco mais complexa do
que os nervos espinhais. Identificamos ao
menos 13 nervos cranianos que emergem
do encéfalo de vertebrado e esses
diferentes tipos de fibras podem estar
arranjadas em um único nervo ou estarem isolados. Estão associados com a inervação sensorial e
motora da cabeça e do pescoço com algumas exceções.
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Devemos tecer algumas considerações embriológicas antes de identificar os tipos de fibras
nervosas que formam os nervos cranianos. A musculatura estriada tem duas origens:

Músculos estriados miotômicos (a maioria) derivaram-se dos miótomos de somitos e constituem
a maioria das fibras musculares esqueléticas (músculo estriado miotômico).

Músculos estriados branquioméricos derivados do mesoderma e que estão associados aos arcos
branquiais. Como estão associados às funções viscerais são chamados de músculos viscerais
especiais (ou músculo estriado branquiomérico) para se diferenciar da musculatura visceral geral
(lisa e cardíaca).
A nomenclatura abaixo ajuda a identificar os componentes funcionais dos nervos cranianos.
Nervos eferentes (motores)
1) Fibras eferentes somáticas (músculo estriado miotômico)
2) Fibras eferentes viscerais gerais (músculo liso, cardíaco e glândulas)
3) Fibras eferentes viscerais especiais (músculo estriado branquiomérico)
Nervos aferentes (sensitivos)
4) Fibras aferentes somáticas gerais
5) Fibras aferentes viscerais gerais
6) Fibras aferentes somáticas especiais
7) Fibras aferentes viscerais especiais
Durante a evolução dos vertebrados ocorreram vários fenômenos: o nervo craniano se
dividiu ou então sofrer fusão. O XI par tornou acessório do X par (vago) e o nervo trigêmeo (V par)
dos amniotas é na verdade a junção de 3 nervos. O XII par dos amniotas pertenceu à medula
cervical nos anamniotas. O sistema da linha lateral é servido exclusivamente por nervo craniano nos
peixes e anfíbios, e nos vertebrados terrestres desapareceu completamente.
Resumindo temos a seguinte chave de classificação para os nervos cranianos:
Gerais
Somáticas
Especiais
Fibras
aferentes
(Sensoriais)
Gerais
Viscerais
Especiais
Nervos
Cranianos
Fibras
eferentes
(Motores)
Somáticas
Viscerais
Gerais (m. estriado esquelético miotomicos)
Gerais (lisas, cardíacas e glândulas)
Especiais (m. estriado esquelético branquiomerico)
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Sistema Nervoso visceral (Sistema Nervoso Autônomo)
Supõe-se que entre os ancestrais dos vertebrados, o SN consistia de uma rede de neurônios
e de fibras dedicada ao principal sistema visceral, o canal alimentar, e a uma outra, dedicada à
analise dos estímulos superficiais. Essa rede nervosa visceral persistiu e corresponde ao plexo
entérico do TGI o qual possui seus próprios neurônios sensoriais, associativos e motores.
A outra porção (mais dorsal) teria originado a medula e o encéfalo, tornando-se
funcionalmente dominantes passando a exercer controle sobre o plexo entérico através do sistema
nervoso simpático (SNA). Assim, o SNA regula o canal alimentar e outros órgãos viscerais por
meio de duas divisões: simpático e parassimpático.
EVOLUÇÃO DO ENCÉFALO: VISÃO INTEGRATIVA
Nos vertebrados primitivos, as principais modalidades sensoriais da cabeça são os sentidos
do olfato, visão e do sistema acústico-lateral. As informações aferentes periféricas chegam ao
encéfalo por meio dos nervos cranianos cujos neurônios projetam-se especificamente nas diferentes
regiões do encéfalo.
Para cada modalidade sensorial há uma protuberância dorsal associada ao encéfalo: a
olfação estaria primitivamente relacionada ao córtex cerebral do telencéfalo; a visão com o teto do
mesencéfalo e os sentidos da audição, equilíbrio e da linha lateral ao bulbo e ao cerebelo. Nesses
sítios, as informações são processadas por neurônios associativos.
Vamos comparar os diferentes
encéfalos (acompanhe como as estruturas
homólogas evoluíram seguindo-se os
padrões de cores semelhantes). Que
tendência você é capaz de reconhecer? Os
padrões de comportamento e o tamanho
do encéfalo guardam alguma correlação?
Na
figura, as
mesmas
cores
referem-se a estruturas homólogas. A
comparação revela imediatamente uma
tendência
à
encefalização,
ou
seja,
aumentos progressivos do telencéfalo e do
cerebelo.
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Ciclostomados: não há uma delimitação clara dos núcleos da base e do córtex cerebral (páleo e
arquicórtex), ou seja, como na medula, não há uma clara distinção entre substância cinzenta e
branca. Nas lampréias o lobo óptico é proeminente e muito pequeno nas feiticeiras que são cegas,
mas em ambos os bulbos olfativos são bem desenvolvidos. O cerebelo é pouco desenvolvido nestes
animais que mal se locomovem e quando o fazem são lentos.
Elamobrânquios: possuem bulbos olfativos grandes correspondentes a um sentido extremamente
aguçado. Nas espécies muito ativas o cerebelo é proeminente.
Anfíbios anuros: observa-se pouca mudança em relação aos elasmobrânquios mais avançados.
Possuem áreas piriformes e hipocampais distintas e observa-se um aumento do tálamo dorsal
(sensorial). O teto do mesencéfalo é bem desenvolvido sendo que o processamento visual e o
comportamento associado são integrados nesse nível. O mesencéfalo é o mais alto nível da
hierarquia motora dos anfíbios. A existência dos quatro membros torna medula cervical e lombar
maiores em relação à torácica. O cerebelo é rudimentar.
Répteis: o corpo estriado é bastante desenvolvido e há rudimentos de neocórtex associado:
considerado o mais alto nível de hierarquia motora. Neste grupo a substância cortical se tornou
tipicamente externa e delgada. Segundo a posição relativa dos córtices, acredita-se que as tartarugas
possuam uma condição semelhante aos dos mamíferos e os crocodilos, semelhantes às aves. O
tálamo dorsal é maior ainda e mais complexo do que nas aves e porção ventral apresenta
praticamente todas as organizações presentes nos mamíferos. Coerente com um sentido visual
aguçado, os lobos ópticos são bem desenvolvidos. Com total independência da vida aquática, não
possuem linha lateral.
Aves: o sentido olfativo não é o mais importante, com exceção dos animais necrófagos. O grande
aumento do telencéfalo está associado ao aumento do corpo estriado. O tálamo dorsal é ainda maior
assim como os lobos ópticos e os temporais. O cerebelo é bem grande estando relacionado à ampla
capacidade de manobras locomotoras como o vôo.
Mamíferos: o bulbo e trato olfatório dos mamíferos variam bastante: de muito pequenos (primatas)
a bem grandes (tamanduá). O corpo estriado é relativamente menor do que nas aves e répteis, mas o
caudado e putamen são bem desenvolvidos e complexos. O amplo desenvolvimento do neocórtex é
a marca registrada do grupo e corresponde ao mais alto nível da hierarquia funcional. O amplo
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desenvolvimento do neocórtex resulta numa nova e grande comissura, o corpo caloso que interliga
os dois hemisférios neocorticais. O tálamo bastante proeminente é a estação de retransmissão
principal. Os lobos ópticos nos mamíferos se encontram bastante reduzidos, participando apenas na
integração de reflexos visuais. A ponte é bastante proeminente interligando o paleo e neocerebelo às
áreas motoras neocorticais, através do tálamo. Além dos feixes motores descendentes do tronco, o
córtex motor envia profícua quantidade de feixes diretamente para medula espinhal, criando
formações topográficas como a cápsula interna e as pirâmides bulbares.
O cérebro de mamíferos
Já vimos que entre os mamíferos as áreas associativas neocorticais são bem maiores nos
primatas do que em felinos ou roedores. Os dados de ressonância magnética funcional revelam uma
organização funcional no ser humano: veja o mapa das funções corticais conhecidas.
Se compararmos o cérebro de um chimpanzé e de um ser humano os quais são
geneticamente muito próximos (semelhança de 95%) observamos muitas similaridades, mas o que
nos chama a atenção é o fato do lobo frontal ser substancialmente maior. Na verdade o coeficiente
de encefalização (tamanho do cérebro corrigido pelo peso) humano é 4 vezes maior do que do
chimpanzé. O que nos torna bastante diferente parece não estar na diferença genética mas no modo
como funciona os dois tipos de cérebros. Evidentemente, é necessário levar em consideração não só
o SNC, mas o conjunto de outras inovações motoras e sensoriais que co-evoluiram: uma postura
totalmente bípede, a capacidade de manipulação dos dedos das mãos, possibilitando a criação de
ferramentas, etc.
A comparação de crânios dos ancestrais hominídeos confirma a tendência de aumento
crescente da porção anterior do cérebro, ou seja, do lobo frontal, caracterizando a nossa espécie. Em
outras palavras desde que a nossa espécie vagueia pelo planeta, há 300mil anos atrás, a arquitetura
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do cérebro não mudou: o que vem mudando é o que esse cérebro expressa através da evolução
cultural. Nenhuma outra espécie foi capaz de modificar tanto o meio ambiente e o seu próprio
destino.
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