a importância da localização e dos fluxos para o município de

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2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL TERRITORIAL,
DINÂMICA DAS CIDADES E PAISAGEM
A IMPORTÂNCIA DA LOCALIZAÇÃO E DOS FLUXOS PARA O MUNICÍPIO
DE RESENDE-RJ
Bianca Louzada Xavier Vasconcellos1
Robson Dias da Silva2
Daniel Neto Francisco3
Resumo
A cidade de Resende, localizada no Sul Fluminense, vem demonstrando importância no
cenário econômico internacional. Deixou de ser apenas uma “passagem” do Rio de Janeiro
para São Paulo e se transformou em uma cidade conectada à rede global. Isso, não só
devido às políticas públicas adotadas, mas também à localização geográfica estratégica, em
posição central, entre as principais metrópoles do país (BH, RJ e SP) próxima à portos e
aeroportos, com terrenos planos, favoráveis a implantação de plantas industriais. Dessa
forma, este trabalho procura investigar a importância de sua localização e conexões
possíveis por vários tipos de fluxos às redes, que favoreceram e ainda favorecem a
instalação de empresas multinacionais em seu território.
Palavras Chave: Indústria, Redes, Fluxos, Resende.
Abstract
The city of Resende, located in Fluminense’s South, has demonstrated importance in the
international economic arena. No longer just a "transition" from Rio de Janeiro to Sao Paulo, it has
turned into a city connected to the global network. This, not only because of public policies
adopted, but also the strategic geographical location, midway between the major cities of the
country (BH, RJ and SP) close to ports and airports, with flat terrain favorable to the deployment of
industrial buildings . Thus, this study investigates the importance of its location and potential for
1
Mestranda no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas
(PPGDT), oferecido pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Email:
[email protected]
2
Doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), onde atua no ensino de
graduação e pós-graduação. Email: [email protected]
3
Mestrando no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas
(PPGDT), oferecido pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Email:
[email protected]
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several types of network flow, that favored connections and still favor the installation of
multinational companies in their territory.
Key words: Industry, Networks, Flows, Resende.
1. Introdução
A cidade de Resende, localizada no interior do estado do Rio de Janeiro, mais
especificamente no Sul Fluminense, tem ganhado espaço no cenário econômico nacional e
internacional. Essa localização proporciona à cidade estar ao centro do eixo econômico
mais importante do país, entre Rio de Janeiro (166km), São Paulo (313km) e Belo
Horizonte (402 Km). Fica ainda próxima aos portos: de Angra dos Reis, de Itaguaí, do Rio
de Janeiro e ao Porto de Santos. Como acessos principais à cidade temos: uma rodovia
federal, duas rodovias estaduais, bem como uma ferrovia e o Rio Paraíba do Sul, e possui
um pequeno aeroporto.
O dinamismo industrial, que vem crescendo cada vez mais, com investimentos
privados na implantação de empresas multinacionais e nacionais em seu território tem
como pano de fundo, além das políticas locais, a importância da localização da cidade.
Mas, além disso, é possível observar que a partir da década de 1990 com a globalização, e
adoção de políticas neoliberais (como por exemplo, abertura comercial e privatizações)
ocorre uma série de mudanças e transformações na estrutura industrial nacional. Na cidade
de Resende, foi possível observar o início dessas mudanças com a chegada da Volkswagen
Ônibus e Caminhões (empresa alemã) em 1996, uma fábrica na qual seriam montados os
veículos, com a maior parte das peças vindas de São Paulo e outra parte do exterior. Em
2009, é transformada no consórcio modular MAN Latin América. É possível citar outras
empresas de grande porte, como: Nissan, Clariant S.A, Grupo Votorantim, Pernod Ricard,
Novartis e as Indústrias Nucleares do Brasil – INB. Isso demonstra a conexão da cidade às
redes globais e um intenso fluxo de mão de obra, equipamentos, tecnologia, informação
etc. Outro ponto, que será observado são algumas das principais unidades de paisagem,
caracterizando a disposição e dimensão do recorte territorial da cidade. Dessa forma,
através da bibliografia disponível, dados do IBGE e alguns mapas, este trabalho se propõe
a investigar a importância da localização espacial da cidade, buscando algumas razões para
que empresas multinacionais se instalem e invistam na cidade. Metodologicamente serão
realizadas observadas em Resende as redes e fluxos que a conectam com metrópoles e
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outras cidades importantes, bem como seus aspectos geográficos, socioeconômicos e
geobiofísicos. Esse trabalho está dividido em três partes, a primeira trata da caracterização
da cidade, a segunda parte aborda a questão dos fluxos e sua conexão às redes, e por último
é apresentado algumas considerações preliminares. Intenciona-se que este trabalho, após
revisado venha fazer parte da Dissertação a ser apresentada ao final do curso de Mestrado
em Desenvolvimento territorial e Políticas Públicas.
2. Caracterização de Resende: aspectos econômicos, geográficos e geobiofísicos
Neste segundo tópico será feito a caracterização da cidade, observando o
cenário econômico, aspectos geográficos e geobiofísicos de Resende. De acordo com
RAMALHO e SANTANA (2006), dentre alguns motivos que viabilizaram a escolha de
Resende por várias empresas de porte com novo tipo de produção, o principal foi
justamente sua posição geográfica estratégica, pois, dessa forma, as empresas permanecem
próximas aos principais mercados consumidores e acessíveis ao mercado sul-americano.
A importância dessa centralidade é demonstrada nos indicadores fornecidos
pelo IBGE, Contas Regionais de 2011. Nesse ano, três estados (RJ, SP e MG)
concentraram 53,1% do PIB brasileiro. A indústria de transformação representou 14,6% do
PIB, sendo esses três estados responsáveis por 57,9% de toda produção da indústria de
transformação. Além da conexão entre as principais metrópolesdo país, outras cidades ao
redor de Resende têm grande importância no cenário econômico industrial e mão de obra.
Cabe ressaltar as cidades de: Volta Redonda, Barra Mansa, Itatiaia e Porto Real. O gráfico
a seguir (Fig. 1) apresenta de forma resumida, o crescimento do PIB municipal de Resende
no decorrer dos últimos anos.
Figura 2: PIB de Resende, em 2001, 2006 e 2011
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Fonte: Elaboração própria com base nos dados do site IBGE cidades
Na figura 2 é possível observar o PIB municipal, estadual e nacional, dividido
por setores. Percebe-se uma tendência contrária de Resende, em relação ao Estado do Rio
de Janeiro e ao Brasil. Observando o PIB estadual e nacional, o setor de serviços é maior
que a indústria mais que duas vezes. Enquanto na composição do PIB de Resende é a
indústria que detém maior fatia do PIB. Cabe ressaltar que a indústria traz consigo a
prestação de serviços industriais, fazendo com que o setor de serviços também cresça.
Dessa forma, a tabela abaixo (Fig. 2) expressa a importância econômica do
setor industrial para a cidade. Uma vez que esse setor é reponsável por mais da metade da
riqueza produzida na cidade.
Figura 2: PIB de Resende, Rio de Janeiro e Brasil, separado por setores, em 2009.
Fonte: IBGE cidades
Outra questão importante a ser abordada, refere-se a localização de Resende.
De acordo com CLEMENTE e HIGACHI (2000) é possível observar algumas
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caracteríticas na clássica teoria da localização de Alfred Weber voltada, principalmente, ao
estudo das indústrias manufatureiras. Essa teoria apresenta três fatores, que estão
relacionados para localização das indústrias, os dois primeiros, são fatores gerais regionais,
que envolvem os custos de transporte e mão de obra, o terceiro está relacionado aos fatores
aglomerativos e desaglomerativos, o que se relaciona a concentração ou dispersão das
indústrias. O ponto de partida, são os custos de transporte, posteiormente são examinados a
questão da mão de obra e áreas de aglomeração. No mapa a seguir (Fig. 3) é exposta a
região Sudeste brasileira, que demonstra a centralidade da cidade de Resende (no ponto
amarelo), localizada na região do Médio Paraíba do Sul Fluminense, numa posição
estratégica eeconomicamente, entre os principais centros produtores e consumidores do
Brasil. São eles: a cidades Rio de Janeiro à 166Km (ponto vermelho à direita), São Paulo à
313Km (ponto vermelho inferior) e Belo Horizonte à 402 Km (ponto vermelho superior).
Figura 3: Sudeste brasileiro e a centralidade de Resende
Fonte: site do IBGE mapas.
Como acessos principais à cidade, destacam-se duas rodovias federais: BR-116
(Rodovia Presidente Dutra) principal ligação entre Estados e Municípios de São Paulo e
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Rio de Janeiro e regiões norte e sul do país; e BR-393 (Rodovia Lúcio Meira) que liga o
município de Belo Horizonte, Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, Regiões Norte,
Nordeste e Centro do país. A rodovia estadual RJ-155 (Rodovia Presidente Vargas/
Rodovia Francisco Saturnino Braga) liga Resende a Angra dos Reis pela BR-101 (RioSantos).
A região ainda é servida pelo tronco ferroviário mais importante do país, da
Rede Ferroviária Federal S/A, hoje explorada pela MRS Logística. Em termos de
transportes aeroviários, Resende possui um aeroporto que está autorizado a operar com
aeronaves de até 50 passageiros. De acordo com o site da prefeitura de Resende,
futuramente o município ganhará um aeroporto de cargas, com pista de 3.000 metros,
localizado entre os municípios de Resende e Porto Real. O município conta ainda com fácil
acesso aos principais portos da região sudeste, estando, a apenas 85 Km do porto de Angra
dos Reis, a 122 Km do Porto de Itaguaí, a 170 Km do Porto no Rio de Janeiro e a 350 Km
do porto de Santos.
De acordo com a página da internet da Prefeitura de Resende 4 a Estação
Aduaneira do Interior (EADI), tem extrema importância, pois desenvolve um trabalho de
apoio às indústrias locais no processo de importação e exportação de produtos. As Estações
Aduaneiras do Interior são terminais alfandegados de uso público, destinados à prestação
dos serviços de movimentação e armazenagem de mercadorias importadas ou a exportar,
sob controle fiscal. As EADI minimizam o tempo de permanência da embarcação,
agilizando os procedimentos de carga e descarga, com consequeente redução dos custos
das operações portuárias. No Estado do Rio de Janeiro duas dessas Estações Aduaneiras
estão em operação: uma no município de Mesquita e a outra em Resende. Ainda existe o
entreposto da Zona Franca de Manaus, no apoio às indústrias locais no processo de
importação e exportação, sendo as empresas conveniadas: Phillips (Amazônia) – (TVs,
DVDs); Cilbrás; White Martins (Cilindros); COPAG (cartas de baralho); Kawasaky
(Motos); Yamaha (Motos); Alfa Metal (Fios de Solda); Atletic Equipamentos de Ginástica;
BIC (Amazônia) – (Canetas); Elcie (Alarmes para Veículos).
Figura 4: Localização de Resende, no Estado do Rio de Janeiro.
4
www.resende.rj.gov.br
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Fonte: IBGE Mapas
No canto superior esquerdo do mapa superior da figura 4, a área pintada de
vermelho indica a cidade de Resende do mapa do Estado. No mapa inferios, o círculo
vermelho indica a localização do centro da cidade de Resende e a linha amarela, mais
grossa, representa a principal rodovia de ligação entre Rio de Janeiro e São Paulo, a BR116; a linha azul indica hidrovias do Rio Paraíba em Resende; observa-se ainda a
localização aproximadas dos portos do RJ, na parte inferior da figura 4.
Na figura 5 abaixo, está representada a Região do Médio Paraíba-RJ5, sendo
que no canto superior esquerdo, o território pertencente à cidade de Resende aparece na cor
cinza, as linhas vermelhas representam as rodovias federais e estaduais e a linha preta
expressa a ferrovia.
5
Microrregião localizada no Sul Fluminense do estado do Rio de Janeiro. É composta por doze
cidades (Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Piraí, Porto Real, Quatis, Resende, Rio
Claro, Rio das Flores, Valença e Volta Redonda), com população aproximada de 805.304
habitantes, ocupando uma área de 5.679,524 Km². (www.cidades.ibge.org.br).6 Ver página
www.folhadointerior.com.br : Mil tra alhadores tê
o tratos suspe sos a Volks de Rese de e
22/05/2014.
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Figura 5: Região do Médio Paraíba
Fonte: Google Imagens: Região do Médio Paraíba
A figura 6 apresenta toda a extensão do território de Resende, seus limites
político-administrativos e algumas informações demográficas sobre o município
Figura 6: A Cidade de Resende
Fonte: IBGE
A próxima imagem, a figura 7, apresenta a cidade divida por distritos. São eles:
1º Centro; 2º Agulhas Negras; 3º Bulhões; 4º Visconde de Mauá; 5º Pedra Selada; 6º
Fumaça; 7º Engenheiro Passos. É possível observar duas áreas com traços cinza, ao lado
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direito representando Porto Real, e do lado esquerdo, Itatiaia. Ambos já foram distritos de
Resende. Ao centro, a área pintada de verde representa a mancha urbana de Resende e em
azul escuro está indicada a Represa do Funil.
Figura 7: Os distritos de Resende
Fonte: Site da Prefeitura Municipal de Resende
Figura 8: Arruamento da cidade de Resende (2001)
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Fonte: Site da Prefeitura Municipal de Resende
Diante das figuras 7 e 8, que mostra o arruamento da cidade, percebe-se o
adensamento populacional próximo ao rio Paraíba e as margens das rodovias.
Relacionando-as à próxima imagem, (Fig, 9), observa-se que esse arruamento se faz
justamente na mancha urbana, indicada no recorte de cor cinza.
Em relação aos aspectos geobiofísicos, de acordo com o IBGE, Resende possui
área de 1.098 Km², altitude de 394,6m (Centro Urbano) a 2787m (Pico das Agulhas), clima
tropical de altitude, temperatura anual média de 25º. O relevo do município é típico de vale
e o município está localizado em uma grande planície às margens do Rio Paraíba do Sul. A
alguma distância do centro da cidade encontramos um planalto com leves colinas
achatadas e ao norte, o Maciço do Itatiaia, que compreende uma parte da Serra da
Mantiqueira, onde está situado o Pico das Agulhas Negras. No outro extremo do
município, perto da divisa com o estado de São Paulo, encontramos o início das formações
da Serra do Mar, com a presença de elevações que geralmente ultrapassam os 600 metros
de altitude.
Para conhecer o lugar estudado, faz-se necessário caracterizá-lo e observar
transformações ocorridas em sua paisagem. Dessa forma, aplica-se a metodologia relativa
à Unidades de Paisagem (Ups), ou seja, a delimitação de espaços com um padrão definido,
evidenciando mudanças, seja ela a dimunuição da mata ou aumento da mancha urbana. A
próxima imagem (Fig. 9) apresenta algumas das unidades de paisagem identificadas no
múnicípio de Resende. Nota-se o pequeno espaço de mancha urbana (UP1), que se
concentra próximo às rodovias (federal e municipal) na cor cinza; o polo industrial, na cor
rosa (UP2); a parte da cidade que é ocupada pelo Parque Nacional do Itatiaia, na cor verde
(UP3)e a represa do Funil, cor azul (UP4). Essas quatro unidades de paisagem possuem
diferentes interesses e valores para a cidade, não só econômicos, mas social, cultural e
ambiental. Para que haja um “cuidado” em relação aos espaços da cidade. É necessário que
ocorra a preservação UP3 ao mesmo tempo em que a valorização da UP2, estas não
podem ser conflitantes, para que o município continue seu “progresso econômico” sem
destruir aquilo que é característico do lugar.
“Para perceber as transformações da paisagem é necessário lidar com o processo
de totalização, tomando a paisagem como processo e produto fruto da relação
dialética com ações sociais que se concretizam em manifestações físico
espaciais, culturais, históricas e econômicas”.(SILVA, 2012. p. 122).
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Figura 9: Unidades de paisagem de Resende
Fonte: Elaboração própria, com utilização do Google Mapas
As áreas de preservação ambiental também representam unidades de paisagem
da cidade. O Parque Nacional Itatiaia (Fig. 10), está localizado em Itatiaia e em Resende, é
a mais antiga unidade de conservação do Brasil, criado em 14 de junho de 1937. O parque
possui montanhas com quase 3 000 metros de altitude e mantém uma fauna e flora bastante
diversificada, rios e cachoeiras. A portaria do parque fica a 16 km do centro de Resende.
Figura 10: Parque Nacional do Itatiaia
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Fonte: Google imagens
O Parque Estadual da Pedra Selada (Fig. 11) foi Criado através do Decreto-lei
43.640 de 15 de junho de 2012, situa-se na Serra da Mantiqueira, e apresenta área total de
8.036,00 hectares. O Parque abriga remanescentes expressivos de floresta primária e
diversas espécies da fauna e flora nativas ameaçadas de extinção, áreas de interesse
arqueológico, histórico, científico, paisagístico e cultural. A fauna é representada por
Floresta Ombrófila Densa. O relevo caracteriza-se, em sua maior parte, por colinas
convexas com aprofundamentos de vales, em forma de “U”. A fauna apresenta ocorrência
de diversas espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, com destaque para o primata
muriqui (Brachyteles arachnoides), considerado o maior macaco das Américas.
Figura 11: Parque Estadual da Pedra Selada
Fonte: Site de Gerência de conservação e proteção integral
Figura 12: Pico da Pedra Selada em Resende
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Fonte: Google imagens
Outro ponto importante de paisagem é o Parque Municipal da Cachoeira da
Fumaça, com grandes extensões de matas preservadas, nascentes e riachos e uma cachoeira
com queda de duzentos metros (Cachoeira da Fumaça). Se encontra a 35 km do Centro da
cidade.
A análise das características geobiofísicas de Resende torna possível entender a
importância ambiental da cidade, além da importância de sua economia. Mesmo com
tantas áreas de preservação ambiental, a prefeitura de Resende informa em sua página que
a cidade de Resende possui áreas planas e drenadas - 40 milhões de m² - suficientes para a
instalação de 26 empresas de grande porte.
Após a caracterização econômica, geográfica e geobiofísica de Resende, o
próximo tópico aborda a questão do novo espaço industrial, seus fluxos e conexões
regionais, globais e as críticas a esse modelo.
3. Dinâmica industrial: fluxos e conexões
No tópico anterior, observou-se a importância da localização física, geográfica
que favorece a cidade, promovendo-a como lugar estratégico para investimentos
empresariais. Além do espaço físico abordado acima, pode ser notado um novo tipo de
espaço, o espaço de fluxos. Manuel Castells (1999) discorre sobre esse espaço dinâmico e
em constante transformação, explicando que:
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“O espaço de fluxos é construído por seus nós (centros de importantes funções
estratégicas) e centros de comunicação. O espaço de fluxos não é desprovido de
lugar, embora sua estrutura lógica o seja. Está localizado em uma rede eletrônica,
mas essa rede se conecta a lugares específicos com características sociais,
culturais, físicas e funcionam bem definidas. Alguns lugares são
intercambiadores, centros de comunicação desempenhando papel coordenador
para a perfeita interação de todos os elementos integrados na rede. Outros
lugares são só nós ou centros da rede, isto é, a localização de funções
estrategicamente importantes que constroem uma série de atividades e
organizações locais em torno de uma função chave da rede. Os nós e os centros
de comunicação seguem uma hierarquia organizacional de acordo com seu peso
relativo na rede.” (CASTELLS, 1999 p. 502)
Seguindo o pensamento de Castells, cada vez mais a cidade está se
transformando em um nó desse espaço de fluxos, localizado entre RJ, SP e MG, não só
fisicamente, mas com funções estratégicas importantes na produção industrial. O começo
dessas transformações se dá diante da dinâmica econômica capitalista a partir da década de
1990, no Brasil, e nos revela algumas modificações estruturais e espaciais, que emergiram
devido ao progresso tecnológico, e foi absorvido pela lógica capitalista. As mudanças
ocorridas apontam um esgotamento do modelo fordista (produção em massa) e, com base
na tecnologia da informação, globalização e políticas neoliberais, o setor industrial,
principalmente as empresas multinacionais, ingressou num novo modelo de produção, o
modelo flexível. Algumas características desse modelo são: rebaixamento dos custos
operacionais, diminuição de salários, e otimização de localização conforme os benefícios
fiscais. Esse novo modelo industrial foi implantado em várias empresas, ao redor do
mundo. As multinacionais que se instalaram a partir da década de 1990, em Resende, já
trouxeram esse novo formato.
Castells explica que “Redes de fluxos são vários movimentos sequenciais
intencionais, repetitivos, interações entre posições fisicamente descontinuadas, mantidas
por atores nas estruturas econômica, política e simbólica da sociedade” (CASTELLS,
1999, p. 501). Isso demonstra movimento, dinâmica, desse novo tipo de espaço, diferente
do espaço de lugares, que é o território físico em si, estático e imóvel. Mas esses dois tipos
de espaço são interdependentes. Nesse sentido, o autor alerta para o cuidado de não se
perder as características históricas, culturais e sociais dos lugares.
Castells (1999) explana que a sociedade está construída em torno desses fluxos,
são: fluxos de capital, fluxos da informação, fluxos de tecnologia, fluxos de interação
organizacional, fluxos de imagem, sons e símbolos. Eles são os responsáveis pelas
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conexões às redes, sejam locais, regionais, nacionais ou globais. CURIEN (1988) apud
SANTOS (2006) discorre sobre o significado de redes, e expressa que:
“Toda a infraestrutura, permitindo o transporte de matéria, de energia ou de
informação, e que se inscreve sobre um território onde se caracteriza pela
topologia dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus arcos de
transmissão, seus nós de bifurcação ou de comunicação.” (SANTOS, 2006 p.
176)
Nesse contexto, sobre as redes e fluxos, Resende insere-se numa dinâmica de
produção global, a qual CASTELLS (1999) menciona como a criação de um novo espaço
industrial, que utiliza a tecnologia em seu favor e incorpora uma nova lógica industrial.
“Esse espaço caracteriza-se pela capacidade organizacional e tecnológica de
separar o processo produtivo em diferentes localizações, ao mesmo tempo em
que reintegra sua unidade por meio de conexões de telecomunicações e da
flexibilidade e precisão resultante da microeletrônica na fabricação de
componentes. Além disso, devido à singularidade da força de trabalho necessária
para cada estágio e às diferentes características sociais e ambientais próprias das
condições de vida de segmentos profundamente distintos dessa força de trabalho,
recomenda-se especificidade geográfica para cada fase do processo produtivo.”
(CASTELLS, 1999 p. 476)
Neste trecho, Castells registra que o novo espaço industrial, ao mesmo tempo
em que separa, geograficamente, o processo produtivo, reestabelece sua unidade por meio
das conexões e fluxos. Um exemplo de indústria desse tipo é a MAN Latin América, criada
em março de 2009, com a aquisição da Volkswagen Ônibus e Caminhões. Essa empresa
adotou um novo modelo de gestão, do formato de Consórcio Modular. Inicialmente passa
a funcionar da seguinte forma: oito parceiros fazem a montagem de conjuntos completos
de peças: a Maxion, que cuida da montagem do chassi; a Arvin Meritor, dos eixos e
suspensão; a Remon, rodas e pneus; a Powertrain, se incumbe dos motores; a AKC, da
armação da cabina; a Carese, da pintura; e a Continental faz o acabamento da cabine. O
Consórcio Modular busca redução nos custos de produção, investimento, estoques, tempo
de produção e, principalmente, agilidade na produção de veículos diferenciados. Além
disso, a maior parte das peças, para montagem dos veículos, é trazida de São Paulo e
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algumas do exterior. Na figura 13, é possível observar a localização da MAN, no espaço de
cor rosa, que fica no limite do município, onde faz divisa com Porto Real.
Figura 13: Principais empresas em Resende e redondezas.
Fonte: Wikimapia, mapa da cidade de Resende.
A figura 13 apresenta também, a localização de outras indústrias situadas no
município. O traçado vermelho mostra o polo industrial da cidade (23 milhões de m²),
onde está a MAN Latin America, Nissan e a UERJ. Ao lado direito há um Tecnopolo, a
PSA Peugeot Citroen e Galvasud que já fazem parte da cidade de Porto Real, outrora,
distrito de Resende. Ainda é possível visualizar as Indústrias Químicas de Resende, no
Centro da cidade, indicada com a cor grená, próxima ao aeroporto. Na cor rosa, no canto
inferior esquerdo encontra-se a Votorantin, empresa de cimentos. Já a Hyundai, Michelin e
Xerox se encontram no território de Itatiaia, antes, também um distrito de Resende. A linha
preta indica a BR 316 que corta a cidade, bem próxima à linha azul, que indica o rio
Paraíba do Sul.
CASTELLS (1999) ressalta que esse novo tipo de estrutura industrial é
composta por dois grupos distintos de trabalhadores. O primeiro composto por engenheiros
e cientistas de alto padrão, responsáveis pela criação e desenvolvimento tecnológico do
produto, auferem altos níveis de remuneração. O outro grupo, representa os trabalhadores
responsáveis pela montagem e manutenção dos produtos, esses trabalhadores possuem
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baixa qualificação profissional, e recebem baixos salários. Essa estrutura da mão de obra e
sua qualificação aponta para a divisão internacional do trabalho. Nesse sentido, é possível
notar que a cidade de Resende está enquadrada no segundo grupo de trabalho, mesmo com
alguma mão de obra qualificada, a maior parte do trabalho dessas empresas instaladas na
cidade é a de montagem do produto, tipo de trabalho que exige menor qualificação e
remuneração mais baixa. Segundo RAMALHO e SANTANA (2006) a cidade de Resende
tem um bom nível de escolarização (ensino médio e técnico), devido a presença da
Academia Militar das Agullhas Negras e sua influência militar. Outro fator importante é a
presença do SENAI na cidade, o qual teve participação direta na qualificação técnica dos
trabalhadores.
Entretanto, esse modelo industrial que vem sendo aplicado em várias cidades
no país, também têm recebido críticas. Para BRANDÃO (2012), se por um lado ocorreu
uma “revalorização” do território, que de forma convencional ficou conhecida como
“geografia econômica”, por outro, ocorreu a banalização da natureza estrutural, dinâmica e
histórica das cidades. O autor discorre, sobre a concepção a respeito da escala local e seu
poder sobre o desenvolvimento urbano local. Surgindo assim o questionamento sobre os
benefícios gerados para a sociedade, por essas empresas.
“Essa luta dos lugares para realizar a melhor “venda da região ou cidade”, como
a busca desenfreada de atratividade a novos investimento, melhorando o “clima
dos negócios”, subsidiando os custos tributários, logísticos, fundiários e salariais
dos empreendimentos, tem conduzido a um preocupante comprometimento, à
longo prazo, das finanças locais e embotoado o debate das verdadeiras questões
estruturais do desenvolvimento.” (BRANDÃO, 2012 p. 39.)
Em suma, os investimentos privados têm procurado os melhores lugares para
se instalarem. Esses lugares devem ser bem posicionados geograficamente, conectados as
principais redes regionais, nacionais e internacionais. Devem possuir facilidades de acesso
físico, tecnológico e informacional, onde haja mão de obra barata, acessível e tecnicamente
qualificada. E onde haja o interesse público local, no sentido de incentivos, como doações
de áreas e isenções fiscais, para que essas empresas venham ser instaladas. Por fim,
percebe-se que Resende se destaca nesses pontos, sendo, de fato, atrativa ao capital privado
nacional e internacional.
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4. Conclusões
Esse trabalho procurou demonstrar a importância da cidade de Resende, em
relação sua localização e sua interligação com outras regiões importantes. Para isso, além
da Introdução desse trabalho, na segunda seção foram abordadas algumas das
características econômicas, geográficas e geobiofísicas da paisagem. Através de dados,
imagens e bibliografia. Na terceira parte foram analisadas algumas questões teóricas que
norteiam o tema do setor industrial e suas conexões.
Os aspectos físicos e geográficos demonstraram ser parte importante do
trabalho, visto que a localização e interlocução entre os espaços. Ocorre uma crescente
interação entre Resende e as principais capitais do país, e por meio de suas empresas
multinacionais, o aumento de suas relações globais. Sua localização, sua rede viária,
representada por rodovias, ferrovia, aeroporto, proximidade a portos, fazem da cidade um
local econômico estratégico para os negócios. Em relação aos fluxos e conexões, as
facilidades tecnológicas permitiram uma ligação direta entre escala local e escala global.
Desse modo, os investimentos industriais buscam as melhores opções, não apenas a
localização, que tem seu grau de importância, mas também buscam isenções fiscais,
concessão de áreas para suas instalações, mão de obra barata, além de outras facilidades.
Partindo de uma perspectiva industrial, a cidade tem se mostrado um ótimo
local para investimentos. A princípio para a cidade (a sociedade local), a chegada de novas
empresas parece trazer benefícios, principalmente, os novos postos de trabalho. Porém,
esse modelo industrial tem seus percalços e inconsistências. Uma reportagem do jornal
Folha do Interior em maio de 20146, reporta que mil funcionários da MAN (Volkswagen)
tiveram seus contratos de trabalho suspensos, devido ao baixo dinamismo do setor
automobilístico em 2014. Isso demonstra a instabilidade desse espaço industrial em relação
à sociedade. Por último, cabe a crítica de Brandão (2012), de um ponto de vista do poder
público municipal, em relação às empresas multinacionais. Para buscar os rumos do
desenvolvimento local ou regional, não se pode fugir da escala nacional, à qual concentra
em seu domínio decisões que influenciam diretamente todos os setores, inclusive o
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o tratos suspe sos a Volks de
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industrial, como taxa de câmbio, taxa de juros, impostos de importação entre outros. Isso
demonstra a importância de uma maior interação às políticas nacionais, para que esses
empreendimentos não sejam apenas lucrativos às empresas, mas também à sociedade como
um todo.
5. BIBLIOGRAFIA CITADA
BRANDÃO, C. Território e Desenvolvimento: As múltiplas escalas entre o local e o
global. 2ª ed. Campinas SP: Unicamp, 2012.
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