XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 2º SEMINÁRIO NACIONAL DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO ÁREA TEMÁTICA: PLANEJAMENTO TERRITORIAL TERRITORIAL, DINÂMICA DAS CIDADES E PAISAGEM A IMPORTÂNCIA DA LOCALIZAÇÃO E DOS FLUXOS PARA O MUNICÍPIO DE RESENDE-RJ Bianca Louzada Xavier Vasconcellos1 Robson Dias da Silva2 Daniel Neto Francisco3 Resumo A cidade de Resende, localizada no Sul Fluminense, vem demonstrando importância no cenário econômico internacional. Deixou de ser apenas uma “passagem” do Rio de Janeiro para São Paulo e se transformou em uma cidade conectada à rede global. Isso, não só devido às políticas públicas adotadas, mas também à localização geográfica estratégica, em posição central, entre as principais metrópoles do país (BH, RJ e SP) próxima à portos e aeroportos, com terrenos planos, favoráveis a implantação de plantas industriais. Dessa forma, este trabalho procura investigar a importância de sua localização e conexões possíveis por vários tipos de fluxos às redes, que favoreceram e ainda favorecem a instalação de empresas multinacionais em seu território. Palavras Chave: Indústria, Redes, Fluxos, Resende. Abstract The city of Resende, located in Fluminense’s South, has demonstrated importance in the international economic arena. No longer just a "transition" from Rio de Janeiro to Sao Paulo, it has turned into a city connected to the global network. This, not only because of public policies adopted, but also the strategic geographical location, midway between the major cities of the country (BH, RJ and SP) close to ports and airports, with flat terrain favorable to the deployment of industrial buildings . Thus, this study investigates the importance of its location and potential for 1 Mestranda no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas (PPGDT), oferecido pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Email: [email protected] 2 Doutor em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), onde atua no ensino de graduação e pós-graduação. Email: [email protected] 3 Mestrando no Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas (PPGDT), oferecido pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Email: [email protected] Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC several types of network flow, that favored connections and still favor the installation of multinational companies in their territory. Key words: Industry, Networks, Flows, Resende. 1. Introdução A cidade de Resende, localizada no interior do estado do Rio de Janeiro, mais especificamente no Sul Fluminense, tem ganhado espaço no cenário econômico nacional e internacional. Essa localização proporciona à cidade estar ao centro do eixo econômico mais importante do país, entre Rio de Janeiro (166km), São Paulo (313km) e Belo Horizonte (402 Km). Fica ainda próxima aos portos: de Angra dos Reis, de Itaguaí, do Rio de Janeiro e ao Porto de Santos. Como acessos principais à cidade temos: uma rodovia federal, duas rodovias estaduais, bem como uma ferrovia e o Rio Paraíba do Sul, e possui um pequeno aeroporto. O dinamismo industrial, que vem crescendo cada vez mais, com investimentos privados na implantação de empresas multinacionais e nacionais em seu território tem como pano de fundo, além das políticas locais, a importância da localização da cidade. Mas, além disso, é possível observar que a partir da década de 1990 com a globalização, e adoção de políticas neoliberais (como por exemplo, abertura comercial e privatizações) ocorre uma série de mudanças e transformações na estrutura industrial nacional. Na cidade de Resende, foi possível observar o início dessas mudanças com a chegada da Volkswagen Ônibus e Caminhões (empresa alemã) em 1996, uma fábrica na qual seriam montados os veículos, com a maior parte das peças vindas de São Paulo e outra parte do exterior. Em 2009, é transformada no consórcio modular MAN Latin América. É possível citar outras empresas de grande porte, como: Nissan, Clariant S.A, Grupo Votorantim, Pernod Ricard, Novartis e as Indústrias Nucleares do Brasil – INB. Isso demonstra a conexão da cidade às redes globais e um intenso fluxo de mão de obra, equipamentos, tecnologia, informação etc. Outro ponto, que será observado são algumas das principais unidades de paisagem, caracterizando a disposição e dimensão do recorte territorial da cidade. Dessa forma, através da bibliografia disponível, dados do IBGE e alguns mapas, este trabalho se propõe a investigar a importância da localização espacial da cidade, buscando algumas razões para que empresas multinacionais se instalem e invistam na cidade. Metodologicamente serão realizadas observadas em Resende as redes e fluxos que a conectam com metrópoles e Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC outras cidades importantes, bem como seus aspectos geográficos, socioeconômicos e geobiofísicos. Esse trabalho está dividido em três partes, a primeira trata da caracterização da cidade, a segunda parte aborda a questão dos fluxos e sua conexão às redes, e por último é apresentado algumas considerações preliminares. Intenciona-se que este trabalho, após revisado venha fazer parte da Dissertação a ser apresentada ao final do curso de Mestrado em Desenvolvimento territorial e Políticas Públicas. 2. Caracterização de Resende: aspectos econômicos, geográficos e geobiofísicos Neste segundo tópico será feito a caracterização da cidade, observando o cenário econômico, aspectos geográficos e geobiofísicos de Resende. De acordo com RAMALHO e SANTANA (2006), dentre alguns motivos que viabilizaram a escolha de Resende por várias empresas de porte com novo tipo de produção, o principal foi justamente sua posição geográfica estratégica, pois, dessa forma, as empresas permanecem próximas aos principais mercados consumidores e acessíveis ao mercado sul-americano. A importância dessa centralidade é demonstrada nos indicadores fornecidos pelo IBGE, Contas Regionais de 2011. Nesse ano, três estados (RJ, SP e MG) concentraram 53,1% do PIB brasileiro. A indústria de transformação representou 14,6% do PIB, sendo esses três estados responsáveis por 57,9% de toda produção da indústria de transformação. Além da conexão entre as principais metrópolesdo país, outras cidades ao redor de Resende têm grande importância no cenário econômico industrial e mão de obra. Cabe ressaltar as cidades de: Volta Redonda, Barra Mansa, Itatiaia e Porto Real. O gráfico a seguir (Fig. 1) apresenta de forma resumida, o crescimento do PIB municipal de Resende no decorrer dos últimos anos. Figura 2: PIB de Resende, em 2001, 2006 e 2011 Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Fonte: Elaboração própria com base nos dados do site IBGE cidades Na figura 2 é possível observar o PIB municipal, estadual e nacional, dividido por setores. Percebe-se uma tendência contrária de Resende, em relação ao Estado do Rio de Janeiro e ao Brasil. Observando o PIB estadual e nacional, o setor de serviços é maior que a indústria mais que duas vezes. Enquanto na composição do PIB de Resende é a indústria que detém maior fatia do PIB. Cabe ressaltar que a indústria traz consigo a prestação de serviços industriais, fazendo com que o setor de serviços também cresça. Dessa forma, a tabela abaixo (Fig. 2) expressa a importância econômica do setor industrial para a cidade. Uma vez que esse setor é reponsável por mais da metade da riqueza produzida na cidade. Figura 2: PIB de Resende, Rio de Janeiro e Brasil, separado por setores, em 2009. Fonte: IBGE cidades Outra questão importante a ser abordada, refere-se a localização de Resende. De acordo com CLEMENTE e HIGACHI (2000) é possível observar algumas Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC caracteríticas na clássica teoria da localização de Alfred Weber voltada, principalmente, ao estudo das indústrias manufatureiras. Essa teoria apresenta três fatores, que estão relacionados para localização das indústrias, os dois primeiros, são fatores gerais regionais, que envolvem os custos de transporte e mão de obra, o terceiro está relacionado aos fatores aglomerativos e desaglomerativos, o que se relaciona a concentração ou dispersão das indústrias. O ponto de partida, são os custos de transporte, posteiormente são examinados a questão da mão de obra e áreas de aglomeração. No mapa a seguir (Fig. 3) é exposta a região Sudeste brasileira, que demonstra a centralidade da cidade de Resende (no ponto amarelo), localizada na região do Médio Paraíba do Sul Fluminense, numa posição estratégica eeconomicamente, entre os principais centros produtores e consumidores do Brasil. São eles: a cidades Rio de Janeiro à 166Km (ponto vermelho à direita), São Paulo à 313Km (ponto vermelho inferior) e Belo Horizonte à 402 Km (ponto vermelho superior). Figura 3: Sudeste brasileiro e a centralidade de Resende Fonte: site do IBGE mapas. Como acessos principais à cidade, destacam-se duas rodovias federais: BR-116 (Rodovia Presidente Dutra) principal ligação entre Estados e Municípios de São Paulo e Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Rio de Janeiro e regiões norte e sul do país; e BR-393 (Rodovia Lúcio Meira) que liga o município de Belo Horizonte, Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, Regiões Norte, Nordeste e Centro do país. A rodovia estadual RJ-155 (Rodovia Presidente Vargas/ Rodovia Francisco Saturnino Braga) liga Resende a Angra dos Reis pela BR-101 (RioSantos). A região ainda é servida pelo tronco ferroviário mais importante do país, da Rede Ferroviária Federal S/A, hoje explorada pela MRS Logística. Em termos de transportes aeroviários, Resende possui um aeroporto que está autorizado a operar com aeronaves de até 50 passageiros. De acordo com o site da prefeitura de Resende, futuramente o município ganhará um aeroporto de cargas, com pista de 3.000 metros, localizado entre os municípios de Resende e Porto Real. O município conta ainda com fácil acesso aos principais portos da região sudeste, estando, a apenas 85 Km do porto de Angra dos Reis, a 122 Km do Porto de Itaguaí, a 170 Km do Porto no Rio de Janeiro e a 350 Km do porto de Santos. De acordo com a página da internet da Prefeitura de Resende 4 a Estação Aduaneira do Interior (EADI), tem extrema importância, pois desenvolve um trabalho de apoio às indústrias locais no processo de importação e exportação de produtos. As Estações Aduaneiras do Interior são terminais alfandegados de uso público, destinados à prestação dos serviços de movimentação e armazenagem de mercadorias importadas ou a exportar, sob controle fiscal. As EADI minimizam o tempo de permanência da embarcação, agilizando os procedimentos de carga e descarga, com consequeente redução dos custos das operações portuárias. No Estado do Rio de Janeiro duas dessas Estações Aduaneiras estão em operação: uma no município de Mesquita e a outra em Resende. Ainda existe o entreposto da Zona Franca de Manaus, no apoio às indústrias locais no processo de importação e exportação, sendo as empresas conveniadas: Phillips (Amazônia) – (TVs, DVDs); Cilbrás; White Martins (Cilindros); COPAG (cartas de baralho); Kawasaky (Motos); Yamaha (Motos); Alfa Metal (Fios de Solda); Atletic Equipamentos de Ginástica; BIC (Amazônia) – (Canetas); Elcie (Alarmes para Veículos). Figura 4: Localização de Resende, no Estado do Rio de Janeiro. 4 www.resende.rj.gov.br Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Fonte: IBGE Mapas No canto superior esquerdo do mapa superior da figura 4, a área pintada de vermelho indica a cidade de Resende do mapa do Estado. No mapa inferios, o círculo vermelho indica a localização do centro da cidade de Resende e a linha amarela, mais grossa, representa a principal rodovia de ligação entre Rio de Janeiro e São Paulo, a BR116; a linha azul indica hidrovias do Rio Paraíba em Resende; observa-se ainda a localização aproximadas dos portos do RJ, na parte inferior da figura 4. Na figura 5 abaixo, está representada a Região do Médio Paraíba-RJ5, sendo que no canto superior esquerdo, o território pertencente à cidade de Resende aparece na cor cinza, as linhas vermelhas representam as rodovias federais e estaduais e a linha preta expressa a ferrovia. 5 Microrregião localizada no Sul Fluminense do estado do Rio de Janeiro. É composta por doze cidades (Barra do Piraí, Barra Mansa, Itatiaia, Pinheiral, Piraí, Porto Real, Quatis, Resende, Rio Claro, Rio das Flores, Valença e Volta Redonda), com população aproximada de 805.304 habitantes, ocupando uma área de 5.679,524 Km². (www.cidades.ibge.org.br).6 Ver página www.folhadointerior.com.br : Mil tra alhadores tê o tratos suspe sos a Volks de Rese de e 22/05/2014. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Figura 5: Região do Médio Paraíba Fonte: Google Imagens: Região do Médio Paraíba A figura 6 apresenta toda a extensão do território de Resende, seus limites político-administrativos e algumas informações demográficas sobre o município Figura 6: A Cidade de Resende Fonte: IBGE A próxima imagem, a figura 7, apresenta a cidade divida por distritos. São eles: 1º Centro; 2º Agulhas Negras; 3º Bulhões; 4º Visconde de Mauá; 5º Pedra Selada; 6º Fumaça; 7º Engenheiro Passos. É possível observar duas áreas com traços cinza, ao lado Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC direito representando Porto Real, e do lado esquerdo, Itatiaia. Ambos já foram distritos de Resende. Ao centro, a área pintada de verde representa a mancha urbana de Resende e em azul escuro está indicada a Represa do Funil. Figura 7: Os distritos de Resende Fonte: Site da Prefeitura Municipal de Resende Figura 8: Arruamento da cidade de Resende (2001) Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Fonte: Site da Prefeitura Municipal de Resende Diante das figuras 7 e 8, que mostra o arruamento da cidade, percebe-se o adensamento populacional próximo ao rio Paraíba e as margens das rodovias. Relacionando-as à próxima imagem, (Fig, 9), observa-se que esse arruamento se faz justamente na mancha urbana, indicada no recorte de cor cinza. Em relação aos aspectos geobiofísicos, de acordo com o IBGE, Resende possui área de 1.098 Km², altitude de 394,6m (Centro Urbano) a 2787m (Pico das Agulhas), clima tropical de altitude, temperatura anual média de 25º. O relevo do município é típico de vale e o município está localizado em uma grande planície às margens do Rio Paraíba do Sul. A alguma distância do centro da cidade encontramos um planalto com leves colinas achatadas e ao norte, o Maciço do Itatiaia, que compreende uma parte da Serra da Mantiqueira, onde está situado o Pico das Agulhas Negras. No outro extremo do município, perto da divisa com o estado de São Paulo, encontramos o início das formações da Serra do Mar, com a presença de elevações que geralmente ultrapassam os 600 metros de altitude. Para conhecer o lugar estudado, faz-se necessário caracterizá-lo e observar transformações ocorridas em sua paisagem. Dessa forma, aplica-se a metodologia relativa à Unidades de Paisagem (Ups), ou seja, a delimitação de espaços com um padrão definido, evidenciando mudanças, seja ela a dimunuição da mata ou aumento da mancha urbana. A próxima imagem (Fig. 9) apresenta algumas das unidades de paisagem identificadas no múnicípio de Resende. Nota-se o pequeno espaço de mancha urbana (UP1), que se concentra próximo às rodovias (federal e municipal) na cor cinza; o polo industrial, na cor rosa (UP2); a parte da cidade que é ocupada pelo Parque Nacional do Itatiaia, na cor verde (UP3)e a represa do Funil, cor azul (UP4). Essas quatro unidades de paisagem possuem diferentes interesses e valores para a cidade, não só econômicos, mas social, cultural e ambiental. Para que haja um “cuidado” em relação aos espaços da cidade. É necessário que ocorra a preservação UP3 ao mesmo tempo em que a valorização da UP2, estas não podem ser conflitantes, para que o município continue seu “progresso econômico” sem destruir aquilo que é característico do lugar. “Para perceber as transformações da paisagem é necessário lidar com o processo de totalização, tomando a paisagem como processo e produto fruto da relação dialética com ações sociais que se concretizam em manifestações físico espaciais, culturais, históricas e econômicas”.(SILVA, 2012. p. 122). Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Figura 9: Unidades de paisagem de Resende Fonte: Elaboração própria, com utilização do Google Mapas As áreas de preservação ambiental também representam unidades de paisagem da cidade. O Parque Nacional Itatiaia (Fig. 10), está localizado em Itatiaia e em Resende, é a mais antiga unidade de conservação do Brasil, criado em 14 de junho de 1937. O parque possui montanhas com quase 3 000 metros de altitude e mantém uma fauna e flora bastante diversificada, rios e cachoeiras. A portaria do parque fica a 16 km do centro de Resende. Figura 10: Parque Nacional do Itatiaia Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Fonte: Google imagens O Parque Estadual da Pedra Selada (Fig. 11) foi Criado através do Decreto-lei 43.640 de 15 de junho de 2012, situa-se na Serra da Mantiqueira, e apresenta área total de 8.036,00 hectares. O Parque abriga remanescentes expressivos de floresta primária e diversas espécies da fauna e flora nativas ameaçadas de extinção, áreas de interesse arqueológico, histórico, científico, paisagístico e cultural. A fauna é representada por Floresta Ombrófila Densa. O relevo caracteriza-se, em sua maior parte, por colinas convexas com aprofundamentos de vales, em forma de “U”. A fauna apresenta ocorrência de diversas espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, com destaque para o primata muriqui (Brachyteles arachnoides), considerado o maior macaco das Américas. Figura 11: Parque Estadual da Pedra Selada Fonte: Site de Gerência de conservação e proteção integral Figura 12: Pico da Pedra Selada em Resende Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC Fonte: Google imagens Outro ponto importante de paisagem é o Parque Municipal da Cachoeira da Fumaça, com grandes extensões de matas preservadas, nascentes e riachos e uma cachoeira com queda de duzentos metros (Cachoeira da Fumaça). Se encontra a 35 km do Centro da cidade. A análise das características geobiofísicas de Resende torna possível entender a importância ambiental da cidade, além da importância de sua economia. Mesmo com tantas áreas de preservação ambiental, a prefeitura de Resende informa em sua página que a cidade de Resende possui áreas planas e drenadas - 40 milhões de m² - suficientes para a instalação de 26 empresas de grande porte. Após a caracterização econômica, geográfica e geobiofísica de Resende, o próximo tópico aborda a questão do novo espaço industrial, seus fluxos e conexões regionais, globais e as críticas a esse modelo. 3. Dinâmica industrial: fluxos e conexões No tópico anterior, observou-se a importância da localização física, geográfica que favorece a cidade, promovendo-a como lugar estratégico para investimentos empresariais. Além do espaço físico abordado acima, pode ser notado um novo tipo de espaço, o espaço de fluxos. Manuel Castells (1999) discorre sobre esse espaço dinâmico e em constante transformação, explicando que: Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC “O espaço de fluxos é construído por seus nós (centros de importantes funções estratégicas) e centros de comunicação. O espaço de fluxos não é desprovido de lugar, embora sua estrutura lógica o seja. Está localizado em uma rede eletrônica, mas essa rede se conecta a lugares específicos com características sociais, culturais, físicas e funcionam bem definidas. Alguns lugares são intercambiadores, centros de comunicação desempenhando papel coordenador para a perfeita interação de todos os elementos integrados na rede. Outros lugares são só nós ou centros da rede, isto é, a localização de funções estrategicamente importantes que constroem uma série de atividades e organizações locais em torno de uma função chave da rede. Os nós e os centros de comunicação seguem uma hierarquia organizacional de acordo com seu peso relativo na rede.” (CASTELLS, 1999 p. 502) Seguindo o pensamento de Castells, cada vez mais a cidade está se transformando em um nó desse espaço de fluxos, localizado entre RJ, SP e MG, não só fisicamente, mas com funções estratégicas importantes na produção industrial. O começo dessas transformações se dá diante da dinâmica econômica capitalista a partir da década de 1990, no Brasil, e nos revela algumas modificações estruturais e espaciais, que emergiram devido ao progresso tecnológico, e foi absorvido pela lógica capitalista. As mudanças ocorridas apontam um esgotamento do modelo fordista (produção em massa) e, com base na tecnologia da informação, globalização e políticas neoliberais, o setor industrial, principalmente as empresas multinacionais, ingressou num novo modelo de produção, o modelo flexível. Algumas características desse modelo são: rebaixamento dos custos operacionais, diminuição de salários, e otimização de localização conforme os benefícios fiscais. Esse novo modelo industrial foi implantado em várias empresas, ao redor do mundo. As multinacionais que se instalaram a partir da década de 1990, em Resende, já trouxeram esse novo formato. Castells explica que “Redes de fluxos são vários movimentos sequenciais intencionais, repetitivos, interações entre posições fisicamente descontinuadas, mantidas por atores nas estruturas econômica, política e simbólica da sociedade” (CASTELLS, 1999, p. 501). Isso demonstra movimento, dinâmica, desse novo tipo de espaço, diferente do espaço de lugares, que é o território físico em si, estático e imóvel. Mas esses dois tipos de espaço são interdependentes. Nesse sentido, o autor alerta para o cuidado de não se perder as características históricas, culturais e sociais dos lugares. Castells (1999) explana que a sociedade está construída em torno desses fluxos, são: fluxos de capital, fluxos da informação, fluxos de tecnologia, fluxos de interação organizacional, fluxos de imagem, sons e símbolos. Eles são os responsáveis pelas Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC conexões às redes, sejam locais, regionais, nacionais ou globais. CURIEN (1988) apud SANTOS (2006) discorre sobre o significado de redes, e expressa que: “Toda a infraestrutura, permitindo o transporte de matéria, de energia ou de informação, e que se inscreve sobre um território onde se caracteriza pela topologia dos seus pontos de acesso ou pontos terminais, seus arcos de transmissão, seus nós de bifurcação ou de comunicação.” (SANTOS, 2006 p. 176) Nesse contexto, sobre as redes e fluxos, Resende insere-se numa dinâmica de produção global, a qual CASTELLS (1999) menciona como a criação de um novo espaço industrial, que utiliza a tecnologia em seu favor e incorpora uma nova lógica industrial. “Esse espaço caracteriza-se pela capacidade organizacional e tecnológica de separar o processo produtivo em diferentes localizações, ao mesmo tempo em que reintegra sua unidade por meio de conexões de telecomunicações e da flexibilidade e precisão resultante da microeletrônica na fabricação de componentes. Além disso, devido à singularidade da força de trabalho necessária para cada estágio e às diferentes características sociais e ambientais próprias das condições de vida de segmentos profundamente distintos dessa força de trabalho, recomenda-se especificidade geográfica para cada fase do processo produtivo.” (CASTELLS, 1999 p. 476) Neste trecho, Castells registra que o novo espaço industrial, ao mesmo tempo em que separa, geograficamente, o processo produtivo, reestabelece sua unidade por meio das conexões e fluxos. Um exemplo de indústria desse tipo é a MAN Latin América, criada em março de 2009, com a aquisição da Volkswagen Ônibus e Caminhões. Essa empresa adotou um novo modelo de gestão, do formato de Consórcio Modular. Inicialmente passa a funcionar da seguinte forma: oito parceiros fazem a montagem de conjuntos completos de peças: a Maxion, que cuida da montagem do chassi; a Arvin Meritor, dos eixos e suspensão; a Remon, rodas e pneus; a Powertrain, se incumbe dos motores; a AKC, da armação da cabina; a Carese, da pintura; e a Continental faz o acabamento da cabine. O Consórcio Modular busca redução nos custos de produção, investimento, estoques, tempo de produção e, principalmente, agilidade na produção de veículos diferenciados. Além disso, a maior parte das peças, para montagem dos veículos, é trazida de São Paulo e Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC algumas do exterior. Na figura 13, é possível observar a localização da MAN, no espaço de cor rosa, que fica no limite do município, onde faz divisa com Porto Real. Figura 13: Principais empresas em Resende e redondezas. Fonte: Wikimapia, mapa da cidade de Resende. A figura 13 apresenta também, a localização de outras indústrias situadas no município. O traçado vermelho mostra o polo industrial da cidade (23 milhões de m²), onde está a MAN Latin America, Nissan e a UERJ. Ao lado direito há um Tecnopolo, a PSA Peugeot Citroen e Galvasud que já fazem parte da cidade de Porto Real, outrora, distrito de Resende. Ainda é possível visualizar as Indústrias Químicas de Resende, no Centro da cidade, indicada com a cor grená, próxima ao aeroporto. Na cor rosa, no canto inferior esquerdo encontra-se a Votorantin, empresa de cimentos. Já a Hyundai, Michelin e Xerox se encontram no território de Itatiaia, antes, também um distrito de Resende. A linha preta indica a BR 316 que corta a cidade, bem próxima à linha azul, que indica o rio Paraíba do Sul. CASTELLS (1999) ressalta que esse novo tipo de estrutura industrial é composta por dois grupos distintos de trabalhadores. O primeiro composto por engenheiros e cientistas de alto padrão, responsáveis pela criação e desenvolvimento tecnológico do produto, auferem altos níveis de remuneração. O outro grupo, representa os trabalhadores responsáveis pela montagem e manutenção dos produtos, esses trabalhadores possuem Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC baixa qualificação profissional, e recebem baixos salários. Essa estrutura da mão de obra e sua qualificação aponta para a divisão internacional do trabalho. Nesse sentido, é possível notar que a cidade de Resende está enquadrada no segundo grupo de trabalho, mesmo com alguma mão de obra qualificada, a maior parte do trabalho dessas empresas instaladas na cidade é a de montagem do produto, tipo de trabalho que exige menor qualificação e remuneração mais baixa. Segundo RAMALHO e SANTANA (2006) a cidade de Resende tem um bom nível de escolarização (ensino médio e técnico), devido a presença da Academia Militar das Agullhas Negras e sua influência militar. Outro fator importante é a presença do SENAI na cidade, o qual teve participação direta na qualificação técnica dos trabalhadores. Entretanto, esse modelo industrial que vem sendo aplicado em várias cidades no país, também têm recebido críticas. Para BRANDÃO (2012), se por um lado ocorreu uma “revalorização” do território, que de forma convencional ficou conhecida como “geografia econômica”, por outro, ocorreu a banalização da natureza estrutural, dinâmica e histórica das cidades. O autor discorre, sobre a concepção a respeito da escala local e seu poder sobre o desenvolvimento urbano local. Surgindo assim o questionamento sobre os benefícios gerados para a sociedade, por essas empresas. “Essa luta dos lugares para realizar a melhor “venda da região ou cidade”, como a busca desenfreada de atratividade a novos investimento, melhorando o “clima dos negócios”, subsidiando os custos tributários, logísticos, fundiários e salariais dos empreendimentos, tem conduzido a um preocupante comprometimento, à longo prazo, das finanças locais e embotoado o debate das verdadeiras questões estruturais do desenvolvimento.” (BRANDÃO, 2012 p. 39.) Em suma, os investimentos privados têm procurado os melhores lugares para se instalarem. Esses lugares devem ser bem posicionados geograficamente, conectados as principais redes regionais, nacionais e internacionais. Devem possuir facilidades de acesso físico, tecnológico e informacional, onde haja mão de obra barata, acessível e tecnicamente qualificada. E onde haja o interesse público local, no sentido de incentivos, como doações de áreas e isenções fiscais, para que essas empresas venham ser instaladas. Por fim, percebe-se que Resende se destaca nesses pontos, sendo, de fato, atrativa ao capital privado nacional e internacional. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC 4. Conclusões Esse trabalho procurou demonstrar a importância da cidade de Resende, em relação sua localização e sua interligação com outras regiões importantes. Para isso, além da Introdução desse trabalho, na segunda seção foram abordadas algumas das características econômicas, geográficas e geobiofísicas da paisagem. Através de dados, imagens e bibliografia. Na terceira parte foram analisadas algumas questões teóricas que norteiam o tema do setor industrial e suas conexões. Os aspectos físicos e geográficos demonstraram ser parte importante do trabalho, visto que a localização e interlocução entre os espaços. Ocorre uma crescente interação entre Resende e as principais capitais do país, e por meio de suas empresas multinacionais, o aumento de suas relações globais. Sua localização, sua rede viária, representada por rodovias, ferrovia, aeroporto, proximidade a portos, fazem da cidade um local econômico estratégico para os negócios. Em relação aos fluxos e conexões, as facilidades tecnológicas permitiram uma ligação direta entre escala local e escala global. Desse modo, os investimentos industriais buscam as melhores opções, não apenas a localização, que tem seu grau de importância, mas também buscam isenções fiscais, concessão de áreas para suas instalações, mão de obra barata, além de outras facilidades. Partindo de uma perspectiva industrial, a cidade tem se mostrado um ótimo local para investimentos. A princípio para a cidade (a sociedade local), a chegada de novas empresas parece trazer benefícios, principalmente, os novos postos de trabalho. Porém, esse modelo industrial tem seus percalços e inconsistências. Uma reportagem do jornal Folha do Interior em maio de 20146, reporta que mil funcionários da MAN (Volkswagen) tiveram seus contratos de trabalho suspensos, devido ao baixo dinamismo do setor automobilístico em 2014. Isso demonstra a instabilidade desse espaço industrial em relação à sociedade. Por último, cabe a crítica de Brandão (2012), de um ponto de vista do poder público municipal, em relação às empresas multinacionais. Para buscar os rumos do desenvolvimento local ou regional, não se pode fugir da escala nacional, à qual concentra em seu domínio decisões que influenciam diretamente todos os setores, inclusive o Ver página www.folhadointerior.com.br : Mil tra alhadores tê Rese de e / / . 6 Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina o tratos suspe sos a Volks de XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC industrial, como taxa de câmbio, taxa de juros, impostos de importação entre outros. Isso demonstra a importância de uma maior interação às políticas nacionais, para que esses empreendimentos não sejam apenas lucrativos às empresas, mas também à sociedade como um todo. 5. BIBLIOGRAFIA CITADA BRANDÃO, C. Território e Desenvolvimento: As múltiplas escalas entre o local e o global. 2ª ed. Campinas SP: Unicamp, 2012. CASTELLS, M. A Sociedade em Rede. 6ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CLEMENTE, A; HIGACHI, H. Y. Economia e Desenvolvimento Regional. São Paulo: Atlas, 2000. FOLHA DO INTERIOR: Mil trabalhadores têm contratos suspensos na Volks de Resende. Disponível em: < www.folhadointerior.com.br > Acesso em 22/05/2014 GERÊNCIA DE CONSERVAÇÃO E PROTEÇÃO INTEGRAL. Disponível em: <http://geproinearj.blogspot.com.br/> Acesso em 23/05/2014 GOOGLE MAPAS. Cidade de Resende. Disponível em: < https://maps.google.com.br > Acesso em 20/05/2014 IBGE: CIDADES. Resende. Disponível em: < http://www.cidades.ibge.gov.br/> Acesso em 20/05/2014 IBGE: Contas Regionais 2011. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/00000015422711192013 272921125925.pdf> Acesso em 20/05/2014 SILVA, J. M. P. Percepção e Transformação da Paisagem: planejamento, apropriação e ações públicas na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. In. O Arco Metropolitano do Rio de Janeiro. TANGARI et al. (orgs). Rio de Janeiro: PROARQ-FAU-UFRJ, 2012. Capítulo 9, p. 120-137. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina XIV SIMGeo Simpósio de Geografia da UDESC RESENDE. Prefeitura Municipal. – Notícia Investidores. Disponível em: < www.resende.rj.gov.br/> Acesso em 20/05/2014. RAMALHO, J. R.; SANTANA, M. A. (orgs) Trabalho e Desenvolvimento Regional: Efeitos Sociais da indústria automobilística no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Mauad X, 2006. SANTOS, M. A Natureza do Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. 4º ed. 2. reimpr. São Paulo: USP, 2006. WIKIMAPIA. Mapa de Resende. Disponível em: <http://wikimapia.org/country/Brazil/Rio_de_Janeiro/Resende/> Acesso em 20/05/2014. Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) Florianópolis, Santa Catarina