Artigo – Internacional 1 Rússia: Crescimento Desordenado e Reorganização da Economia Gustavo Grisa (*) A Rússia entrou em moratória e o rublo em rota descendente em meados de 1998. O governo de Boris Yeltsin era motivo de piada, e a organização da economia, caótica. Contrariando as expectativas do FMI e de analistas de mercado, o PIB da Rússia cresceu 30% nos últimos 5 anos, e ainda deve crescer 6% este ano. A Rússia está no anti-ciclo da crise econômica mundial. A se dizer duas explicações fundamentais: desde o final da antiga União Soviética, a Rússia havia experimentado uma compressão econômica acelerada: a renda per capita da Rússia hoje ainda é apenas 70% da renda per capita da União Soviética há quase 20 anos atrás. Portanto, a readequação cíclica aos patamares médios da economia aconteceria, mais cedo ou mais tarde. Por outro, a desvalorização do rublo impulsionou as exportações de minerais, metais e outras commodities. 55% das exportações russas são provenientes do petróleo. Um processo de substituição de importações tomou parte, uma vez que a importação de bens de consumo tornou-se inviável por conta do câmbio. As dificuldades persistem. A transição de uma economia planificada para de mercado não se deu sem a preservação de poder da burocracia estatal, corrupção e um sistema judicial pouco transparente. Existe grande disparidade entre o padrão de vida da população em Moscou e São Petersburgo e as cidades médias do interior do país. Uma descontinuidade institucional que ainda deixa marcas (e que não houve no Brasil, com todas as choradeiras de plantão) é a corrosão dos ativos da classe média na crise de 1998. Os bancos simplesmente não honraram parte dos depósitos. A concentração do poder é um dos principais indicadores do atraso da Rússia. Em 1998, dez empresários controlavam 50% do PIB. A entrada de investidores estrangeiros auxiliaria a trazer padrões internacionais de administração e uma maior integração econômica. Para isso acontecer, o sistema político-jurídico e regulatório da Rússia precisa evoluir em transparência e credibilidade.É o que o governo de Vladimir Putin tem tentado, imprimir certo grau de racionalidade à transformação rápida e desordenada que o país experimentou (*)Gustavo Grisa é economista formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com MBA em Negócios Internacionais pela Thunderbird-American Graduate School of International Management no Arizona (EUA). Fonte: http://www.gustavogrisa.com.br - Disponibilizado em 12/12/2003