6- Utilização de estruturas metálicas (reabilitação e reforço) 6.1 Introdução A tendência actual é de preservação da herança arquitectónica, o que está intimamente ligado com as seguintes intervenções em edifícios antigos, normalmente ligadas à sua danificação ou alteração de utilização: Reforço Reutilização Modernização Actualmente uma preocupação de projecto (estrutural e não estrutural) deve ser a possibilidade de intervenção futura neste domínio. As intervenções são naturalmente realizadas ou em edifícios comuns ou em edifícios de interesse arquitectónico. Em ambos os casos o aço, através de estruturas metálicas é um material de eleição, pois: É estruturalmente eficiente É arquitectonicamente interessante Facilmente pré-fabricado em componentes Montagem simples e rápida (ligações), e minimização de equipamento Minimização da privação de uso, quer pela montagem, quer pela imediata resistência 6.2 Níveis de reconstrução Do ponto de vista estrutural, os trabalhos com estruturas metálicas podem ser classificados como: Assegurar segurança Reparação Reforço Reestruturação A salvaguarda de um determinado nível de segurança pode ser uma intervenção na sequência de uma acção acidental, tal como sismo ou impacto, ou uma deterioração não monitorada, como no caso da corrosão. Pode ser necessário recorrer a estruturas provisórias. Após a salvaguarda de segurança, segue-se então a reparação e/ou o reforço A reparação significa devolver ao edifício a sua segurança pré-existente. O reforço significa aumentar o seu nível de segurança, quer por deficiências de projecto ou execução, quer pela necessidade de reconversão. As intervenções de reforço podem ser: Alterações a elementos estruturais individuais, sem alterar significativamente o seu desempenho global Alterações profundas e globais A reestruturação por seu lado envolve alterações profundas, como no caso de extensão horizontal ou vertical, ou na formação de espaços livres. 6.3 Estruturas temporarias Pela sua eficiência, facilidade de execução e montagem, e também de desmontagem, as estruturas metálicas são das mais adequadas a esta utilização particular. Referem-se algumas aplicações concretas: 6.3.1 Suportes verticais provisórios É exemplo o escoramento com perfis laminados de colunas de pedra Palazzo Carigliano, Turin, Italy A execução de aberturas em paredes de pedra ou alvenaria necessitam de apoios temporários, até à instalação da estrutura definitiva. Caso sejam usadas vigas metálicas é necessário verificar a sua segurança relativamente a: Capacidade resistente das secções à flexão e esforço transverso Encurvadura lateral Ligações (se aplicável) Needles and props used for temporary vertical support to wall during reconstruction work.(ESDEP) 6.3.2 Estabilização de elementos verticais A estabilização de elementos verticais, frequentemente fachadas, pode ser realizada através de estruturas metálicas de diversos tipos, colocadas: Exteriormente, que praticamente não interferem com os trabalhos no interior, sendo apenas de realizar previamente os trabalhos de remoção de portas e janelas. Tem no entanto os inconvenientes relacionados com a ocupação da via pública em meios urbanos Interiormente, não tendo os inconvenientes atrás citados, mas que pode interferir seriamente com os trabalhos ou mesmo com a definição da estrutura. Porém, a estrutura temporária pode em todo ou em parte ser aproveitada para estrutura definitiva. Facade retention systems (ESDEP) escoramento de fachada Uma metodologia aplicável pode ser o escoramento mútuo de fachadas opostas, o que pode ser executado antes da demolição total do edifício interiormente. Flying shore system The old Moller Theatre in Darmstadt, Germany Uma das preocupações fundamentais consiste na colisão destes sistemas com a estrutura a colocar. É fundamental o contraventamento da estrutura face às acções horizontais, e para não ocupar a via pública nem restringir demasiado o espaço interior, a incorporação de tirantes poderá ter que ser a solução: Temporary steel ties to prevent spread across façade (ESDEP) Execução de caves: Construction of a new basement - to achieve the maximum lettable floor area - as part of a refurbishment contract in the centre of London (ESDEP) 6.4 Soluções construtivas metálicas (reabilitação e reforço) O dimensionamento deste elementos passa, normalmente: Pela avaliação das acções Pela avaliação da resistência dos elementos existentes Pela decisão do nível de reforço (interacção reforço-estrutura) Avaliação dos esforços nos elementos de reforço Dimensionamento dos elementos de reforço: chapas traccionadas, ao corte, à compressão, elementos de ligação como parafusos ou soldaduras Avaliação dos esforços de conexão aço betão e seu dimensionamento. Deve ser incorporada protecção contra o fogo (se aplicável, por exemplo em estruturas de betão armado) e corrosão. Faz-se aqui uma ilustração da utilização de estruturas metálicas no reforço de estruturas de diferentes materiais. 6.4.1 Reforço de estruturas de alvenaria Para fazer face às acções verticais ou horizontais, como no caso de assentamentos de fundações, ou acções sísmicas. No caso do reforço face a acções verticais, pode usar-se: Ladear os pilares de pedra por pilares metálicos Inserir pilares metálicos ao longo da fachada e a ela ligados pontualmente Inserir estruturas metálicas na bordadura de aberturas Post Office, Leeds, UK No caso de reforço face a acções horizontais, pode recorrer-se: Criação de anéis horizontais ligados entre si Estabilização dos cantos dos edifícios através de perfis com triangulações ou pórticos acoplados Introdução de contraventamentos de estruturas metálicas por ligação adicional entre elementos existentes Introdução de contraventamentos de estruturas metálicas por estruturas trianguladas travamentos de fachada Exemplo de reforço de arcos de alvenaria 6.4.2 Reforço de estruturas de madeira Os tradicionais pavimentos de madeira podem ser facilmente reforçados usando estruturas metálicas. Reforço de vigas de Madeira por introdução de perfis metálicos paralelos Reforço de vigas de Madeira por introdução de perfis metálicos paralelos Podem ser introduzidas variantes, como a utilização de cantoneiras, chapas pregadas ou coladas na parte inferior ou lateral das vigas, ou reforço pela parte superior do pavimento, com posterior betonagem de betão leve (eventual cofragem colaborante) 6.4.3 Reforço de estruturas de betão armado A solução mais comum passa pela colocação de perfis metálicos ou de chapas metálicas convenientemente ligadas ao betão armado (conectores, resinas, etc). Estas chapas são normalmente ligadas às faces superiores e inferiores para aumentar a resistência à flexão ou às partes laterais para reforçar ao esforço transverso. Reforço de lajes de betão usando perfis metálicos Em lajes com capitéis o procedimento torna-se menos prático e mais dispendioso. laje fungiformes com capitéis salientes Uma forma muito eficaz de reforço sísmico é a colocação de estruturas metálicas de contraventamento diferentes contraventamentos Exemplo de contraventamento 6.4.4 Reforço de estruturas de aço ou ferro Para reforçar estruturas metálicas existentes podem ser usadas diversas técnicas (atenção às propriedades do material original). São exemplos a soldadura de chapas de banzo ou de cantoneiras. Um exemplo a assinalar é a mobilização da acção mista aço-betão, introduzindo conectores. A ligação entre os 2 elementos deve ser analisada cuidadosamente. Se aparafusado deve ser analisada a perda de resistência provocada pela furação na fase de montagem. Por outro lado deve ser avaliada a soldabilidade do material existente. Por exemplo o ferro forjado não pode ser soldado. Estruturas metálicas das décadas de 1910 a 1930 normalmente são constituídas já por aço carbono, podem ser soldadas com eléctrodos apropriados mas requerem normalmente pré- aquecimento para diminuir a taxa de arrefecimento. exemplos de reforço Devem ser realizados ensaios para avaliar o aço existente, pois existe a possibilidade de ter havido reutilização de materiais. Alguns aspectos tecnológicos: Preferir soldadura por cordão a soldaduras de topo Especificar soldaduras de fácil acesso (qualidade) Orientar os cordões preferencialmente na direcção das tensões As secções mais espessas necessitam provavelmente de um preaquecimento, para que no processo de arrefecimento não haja tensões residuais muito significativas Controle de qualidade da soldadura real, através de ensaios representativos. 6.5 Modificações de estruturas de edifícios Os níveis de intervenção já referidos podem resultar em: inserção de partes da estrutura extensão da estrutura substituição de elementos estruturais ou não estruturais existentes por materiais mais leves substituição integral da estrutura - apenas mantendo fachadas (s). exemplo de pavimento mais leve Nestes trabalhos deve ser realizada cuidadosamente a avaliação estrutural antes da intervenção, durante, e após, tendo em conta as alterações de distribuição de acções. Muitas vezes a substituição completa de uma cobertura em madeira pode ser aproveitada para incorporar uma estrutura metálica que tenha simultaneamente funções de diafragma sismo-resistente. Quanto aos aspectos económicos e político-sociais, importa realçar que embora a substituição integral de uma estrutura mantendo a fachada seja normalmente mais cara do que a execução de um edifício de raíz, aquele procedimento pode permitir uma maior área de construção do que um novo edifício, resultando numa relação final custo-benefício mais favorável para o cliente. São frequentemente também soluções impostas pelas entidades licenciadoras, como no caso da manutenção de fachadas em zonas históricas. Os princípios gerais a que uma reestruturação deve obedecer são basicamente os mesmos de uma nova estrutura, com os aspectos adicionais de compatibilização com os elementos existentes, como as fachadas e ligação a esses elementos. O processo construtivo com as etapas de construção são também condicionantes importantes. Um aspecto relevante é a deformação suportada pelos elementos não estruturais condicionar pré-existentes o (por exemplo dimensionamento de fachadas), toda a que nova podem estrutura (deformabilidade horizontal, por exemplo). O processo típico de reconstrução com estrutura metálica envolve as seguintes etapas: Fase de projecto: o escolha global da solução, com os elementos a manter e os elementos a demolir; o a solução pode ser ditada pelo tipo de edifício (edifício onde se pretende estrutura de madeira, por exemplo); o escolha da solução para as lajes de piso, muitas vezes condicionadas pela ponderação entre os vãos a vencer, as aberturas existentes nas fachadas (a manter), as instalações especiais a incorporar, eventual existência de tectos falsos, etc); o esta ponderação levará à escolha do tipo de material estrutural e ao funcionamento das lajes (1D ou 2D); o uma grelha de vigas justapostas podem permitir a passagem de condutas pararelamente às vigas secundárias. (quando existe grande folga para o pé-direito); o vigas tipo IFB podem ajudar a reduzir a altura estrutural e facilitar a passagem de instalações, mantendo as vantagens de uma solução mista aço-betão; o vigas metálicas com aberturas nas almas (tipo encastelado por exemplo) podem ser a melhor solução para vãos apreciáveis; o se as condições locais permitirem, o recurso a pré-lajes de betão armado pode ser uma solução económica, pois minimiza as cofragens. A melhor solução passa pela incorporação de conectores aço-betão: acção mista; o a cofragem de chapa metálica colaborante é uma boa solução, pois além de eliminar a tradicional cofragem é de simples manuseamento e montagem, e revela-se económica no dimensionamento estrutural. A protecção ao fogo pode ser conseguida através dos revestimentos adequados ou da incorporação de armaduras secundárias. Tem a grande vantagem de ser facilmente cortada em obra e por isso acomodável às irregularidades dos elementos existentes. Fase de execução: o estrutura metálica provisória de estabilização das fachadas (se necessário); o demolição da estrutura interior existente; o execução da estrutura metálica. Neste aspecto deve ter-se em conta, e logo desde a fase de projecto, à dimensão dos elementos especificados, pois como referido a facilidade de manuseamento reflecte-se numa redução de custos de execução; o preparação para a ligação da nova estrutura à fachada existente. Esta solução depende se se pretende apenas estabilizar a fachada ou se há transmissão de acções verticais. Uma solução tradicional consiste em inserir elementos metálicos (parafusos longos na alvenaria convenientemente chumbados), ou furação completa da parede com apoios do lado oposto. Atenção aos aspectos relacionados com a corrosão, pode ser conveniente em alguns casos usar elementos de ligação em aço inox. o Em virtude da possibilidade de movimentos diferenciais das fundações, uma solução conveniente pode passar pela incorporação de elementos flexíveis na direcção vertical o execução dos restantes elementos estruturais (betão armado por exemplo). Ligação através de chapas – flexibilidade vertical. Ligação através de cantoneiras aos pilares. Uma solução muitas vezes posta em prática é a execução da estrutura metálica definitiva antes da demolição (total ou parcial, apenas na vizinhança das fachadas), usando-a ao mesmo tempo para estabilizar a fachada, poupando a estrutura provisória. Este processo tem maior viabilidade no caso de interiores em madeira. As vigas podem ser incorporadas por baixo ou por cima da estrutura a demolir. Execução prévia da estutura com travamentos provisórios. Fase de demolição com estrutura pré-executada. Fase de construção da restante estrutura. 6.6 Alguns exemplos (case studies) 6.6.1 : Office Building, Sea Containers Limited, London, Great Britain Foi construída a estrutura de um edifício com 12 pisos destinado um hotel, mas o projecto foi abandonado. Na estrutura inicial, nos pisos superiores a transmissão de acções era realizada através de paredes espaçadas de 3,6 m (dimensão padrão dos quartos), e nos pisos inferiores toda a estrutura descarregava em pilares fundados por estacas, com vãos de 7,2m. O edifício foi comprado por uma empresa que pretendia transformar o edifício em escritórios, com espaços amplos. Era então necessário substituir o as paredes por uma estrutura porticada metálica que suportasse as lajes. Para facilitar a execução, a demolição das paredes não se concretizou até às fachadas, deixando troços junto as estes elementos que passaram a funcionar como os pilares de fachada em conjunto com a nova estrutura. Os perfis metálicos usados foram do tipo U colocados de cada lado das paredes a demolir, e ligados às lajes superiores. 6.6.2 : Conversão de fábrica em ginásio (Como-Itália) A estrutura original era uma estrutura de betão armado com 2 pisos e pilares no interior. A estrutura metálica foi construída suportando completamente o piso de cobertura, e demolindo os pilares, vigas e laje intermédia. 6.6.3 : Rue De L'ourcq, Paris, France Trata-se de uma reestruturação completa de um edifício parisience onde o pátio interior foi ocupado em parte por estrutura metálica aparente. O resto da estrutura existente era metálica 6.6.4 : Abadia de Val de Saint Lambert, Seraing, Bélgica Trata-se de uma reestruturação da cobertura da abadia do séc. XIII completamente realizada pelo interior, em estrutura tubular curva. 6.6.5 : Palácio da Justiça – Ancona, Itália Trata-se de uma reestruturação completa de um edifício renascentista onde era imperioso manter as fachadas, com todas as suas aberturas. Foi assim imaginada uma estrutura com 4 torres de betão armado (9*9m) servindo de comunicações verticais e contraventando o edifício face às acções horizontais, e servindo de suporte vertical ao telhado e a 5 pisos suspensos na estrutura da cobertura. Com esta solução conseguiram-se espaços amplos no piso térreo, sem pilares. A estrutura metálica de suspensão é relativamente simples, pois consiste em 4 pares de treliças principais suportadas pelas 4 torres, dispostas no perímetro do edifício. Cada par de treliças forma um caixão com 1,8 m de largura e 4 m de altura. Todos os elementos da treliça eram constituídos por perfis I, ligados através de chapas de gusset. A modelação foi portanto bastante simples, bem como o dimensionamento. Em virtude de haver duas treliças dispostas paralelamente e ligadas entre si, os problemas de instabilidade lateral de cada treliça foram facilmente ultrapassados. O vão intermédio é de cerca de 21,5 m. As lajes são mistas aço-betão, estando suportadas por vigas suspensas das treliças. i. : Edifício de pequeno porte em Coimbra