A CULTURA DO CORPO FITNESS E AS REDES SOCIAIS: AS

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Modalidade do trabalho: Ensaio teórico
Evento: XXI Jornada de Pesquisa
A CULTURA DO CORPO FITNESS E AS REDES SOCIAIS: AS NOVAS
CONSTITUIÇÕES DE SI1
Caterine De Moura Brachtvogel2.
1
Ensaio teórico em forma de revisão bibliográfica que abordou a temática da cultura do corpo fitness, a constituição
de sujeitos e as relações com as redes sociais;
2
Graduada em Educação Física. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências – Mestrado –
UNIJUÍ. Bolsista Taxa CAPES (PROSUP/CAPES), [email protected];
A temática que envolve o corpo fitness e a formação de um sujeito permite relacionar com as
diversas áreas do conhecimento, e é um dos vieses de meus estudos e pesquisas na área da educação
física. Aqui traço em forma de revisão bibliográfica, de forma breve, a relação que existe entre a
cultura do corpo fitness, a constituição um sujeito que está e as suas relações virtuais, por meio das
redes sociais. As redes sociais juntamente com a internet, reinventaram os tipos de relacionamentos,
produzindo novos sentidos, produzindo sujeitos que produzem e consomem diversas culturas. A
cultura do corpo fitness é um movimento que teve seu ápice na década de 1980 e que vem ganhando
força e destaque na sociedade contemporânea, onde o corpo é o ponto central da vida dos sujeitos.
Na contemporaneidade existe um culto ao corpo perfeito e há uma busca desenfreada por padrões,
evidenciando uma sociedade que prega estereótipos do que é ser belo. A relação que se faz aqui, da
cultura do corpo fitness com as redes sociais é que é nesse local virtual, que as imagens de corpos
saudáveis, magros e disciplinados circulam. O ““ser” significa ter uma imagem. Não ter imagem
não é uma opção pois o reconhecimento social depende da capacidade de produzir, assumir, afirmar
e fazer circular uma imagem de nós próprios” (COSTA, 2008, p. 3). Além do culto a um corpo
fitness os sujeitos criam imagens de si próprios para poder circular e adentrar ao grupo da
centralidade de um corpo perfeito.
Nesse sentido cabe incialmente o conceito de fitness. Fitness é uma palavra de origem inglesa e que
significa "estar em boa forma física". Este termo que normalmente é associado à prática de
atividades físicas e se refere ao bom condicionamento físico e ainda o bem estar físico e mental. A
palavra é formada a partir da junção de "fit" (um dos significados é "boa forma") e "ness", um
sufixo que transforma adjetivos em substantivos, designando um estado, uma condição. Portanto,
fitness significa a resistência ou condição do corpo para funcionar com eficiência. O conceito de
fitness está atrelado a um movimento contínuo dos corpos para que estes entrem num estado de
aptidão. O conceito fitness também está relacionado ao incentivo da busca do equilíbrio entre corpo,
força e superação e ainda associa o sentido de bem estar do sujeito como um todo, inclusive saúde
mental e emocional.
Apesar de sua definição associar apenas fatores positivos ao termo fitness, ele vem sendo utilizado
nas mais diversas esferas da sociedade, sendo colocado como um novo parâmetro para a “nova” e a
“velha” geração dos sujeitos sociais. É visto como um requisito para se viver no mundo em rede
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(amplamente conectado) no qual se destacará “[...] o sujeito que se apresente como adaptável,
flexível, abastecendo-se de um “estado” de disponibilidade indefinida para a geração das novas
conexões” (LANDA, 2012, p. 225). Em Receita de mulher, Vinícius de Moraes (2001) canta que
não “[...] há meio-termo possível. É preciso que tudo isso seja belo [...]”, associo juntamente com o
fitness que o belo – na música – é estar na condição de ser apto.
Vale destacar que a condição de ser fitness não é uma posição a ser atingida (ah! Agora sou fitness),
mas sim um processo de estar sempre nessa condição da busca da superação. O sujeito estando
sempre no movimento de estar apto, pronto, adaptável. Dentro disso, aqui é importante marcar que
utilizo um novo conceito, que não exclui o fitness, mas sim o complementa e o engloba: a cultura
do fitness.
A cultura do fitness é a gama de possibilidades que o fitness proporciona: vestimentas, acessórios,
alimentos, objetos, práticas corporais. A “[...] concepção de um indivíduo alerta, ativo, dúctil e
adaptável a cenários mutáveis prolonga-se em direção a tramas (extras) discursivas do âmbito do
fitness, em sua condição de espaço comercial e cultural” (LANDA, 2014, p. 316), encontramos aí a
enxurrada de elementos que podem te colocar ou excluir da cultura fitness. O sujeito e seu corpo
transforma-se assim num elemento da cultura fitness, aí a concepção da cultura de um corpo
fitness.
Nesse sentido Zoboli et al (2014) trazem a ideia de que a cultura do corpo fitness está ligada a um
pensamento de conquista, mas que esta é facilmente associada a dor e sofrimento, pois assim o
corpo estará em constante modificações e superação. Este modo contemporâneo “[...] de ver o corpo
e de relacionar-se com ele por meio da dor/sofrimento faz da cultura do corpo fitness algo que,
muitas vezes, foge ao controle de quem adere a ela, tornando esta pessoa capaz de submeter-se a
qualquer processo para chegar ao seu objetivo” (ZOBOLI et al, 2014, p. 80). A dor antes que era
entendida como parte da corporalidade, passou a “[...] a representar um obstáculo a ser suportado,
superado ou, inclusive, tornado fonte de prazer”, compensado pelo mostrar-se ao olhar do outro.
Silva (2012) trabalha com a ideia de que o termo fit tem sentido de ajustar, caber, encaixar. Assim o
significado deste termo sugere normatizações, remete a esforçar-se, aplicar-se, dedicar-se e,
sobretudo, inconformar-se com os atributos de imperfeição, assimetria e defeito (SILVA, 2012). A
cultura fitness:
[...] depois do surgimento da ciência da melhoria da espécie, o radical fit se vê novamente presente
em meio à ânsia por tornar os corpos aptos. Desde a década de 1980, a cultura fitness vem
ganhando espaço. Roupas inteligentes, calçados que transformam o impacto em propulsão,
desodorantes que eliminam o suor e garantem “proteção”, mesmo ao corpo que se exercita
exaustivamente... A cultura fitness está na arquitetura das academias de ginásticas, nos corpos dos
personal trainers, na imponência dos aparelhos de musculação. A cultura fitness está em shopping
centers, outdoors, capas de revistas, supermercados, programas de tevê, praças e parques (SILVA,
2012, p. 215/216).
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Assim o fitness anuncia um culto aos corpos. Observa-se nos discursos dos elementos da cultura
fitness o “[...] mecanismo de gerenciamento totalitário da vida, operante na definição sobre como o
bem-estar (no sentido de sensação individual) deve ser vivido e alcançado, ignorando as diferenças
individuais e organizando-as em torno de uma norma, uma forma ideal de se viver” (ALBINO et al,
2011, p. 576), gerando assim normatizações para os sujeitos que adentram a cultura do corpo
fitness.
Importante destacar outro fator se coloca como essencial para se discutir o fitness. “É muito mais
fácil entender fitness como apenas uma aula de aeróbica, porém ele está ligado intrinsecamente à
evolução do ser humano” (DANTAS et al, 2009, p. 303), ou seja, a transformação e superação do
sujeito. Dantas et al (2009) corrobora com o meu pensamento no sentido que o fitness se projeta
para além da exercitação e a ida a academia, instruindo formas de se fazer sujeito através de
mecanismos de performance corporal, social e cultural, aqui nas imagens que circulam nas redes
socias. Assim “[...] o ser humano que participa da academia [...] se torna elemento de diferenciação
em variados grupos sociais pela sua simples presença [...] onde é possível congregar diferentes
valores, necessidades, crenças, aspirações [...]” (ROSSI, 2014, p. 78).
Nesse sentido, a cultura do corpo fitness atingiu seu ápice na década de 1980. Já a década de 1990
pode ser considerada um período de transição entre a indústria e o mercado fitness, onde o culto aos
corpos teve seu vertiginoso crescimento. O fitness entra relacionado ao movimento de superação e
rendimento. Superação por buscar superar seus limites e anseios e rendimento por experimentar
novas forças que seu corpo “não estaria acostumado”. Há nessa linha uma forma de controle e
responsabilização individual (ALBINO et al, 2011) dos corpos exercitantes:
[...] sobre a conquista de contornos perfeitos por via de esforços individuais, no sentido de um
incessante investimento no corpo pela prática de exercício físico e controle da alimentação. O corpo
se tornou objeto de trabalho, de consumo, de lazer – imiscuídos num mesmo movimento que ganha
materialidade nas linguagens utilizadas no cotidiano, direcionadas a uma responsabilização de cada
mulher, tanto pelo seu estado de beleza/saúde, quanto, no outro extremo, de feiura/doença
(ALBINO et al, 2011, p. 575).
Assim os corpos perfeitos versus corpos imperfeitos foi um dualismo originado e trazido pelo
século XIX, onde a ciência iniciou a classificação dos corpos, onde estes que não eram tidos como
“normais” deveriam se reestruturar e realizar a manutenção corporal, para que pudessem adentrar o
nicho da normalização (ROSSI, 2014). Inicialmente a medicina, mais tarde apoiada por discursos da
psicologia, filosofia e mais tarde da Educação Física, direcionaram seus estudos e olhares para
manutenção de corpos controlados e regulados, criando uma rede de significações para ter um corpo
normal e aceito pela sociedade.
O fitness e sua cultura trazem como um de seus elementos os sujeitos como empreendedor de si,
réstias e composição do sujeito originárias da época do Renascimento, os corpos aqui ganham
evidência, sendo um sujeito dono de seu destino, um sujeito culto, dominante da natureza e não
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mais como parte dela. A cultura do corpo fitness argumenta a favor de um corpo superado, um
corpo forte e saudável, dono de suas práticas, sociável e normal.
A normalização dos corpos é vista como uma forma de empreender a si mesmo, pois entrando na
normalização o sujeito é “dono de seu corpo” e passível de sucesso em suas práticas. Para Foucault
(1985) a noção de norma está ligada à de disciplina. “Técnicas de individualização do poder. Como
vigiar alguém, como controlar sua conduta, seu comportamento, suas atitudes, como intensificar sua
performance, multiplicar sua capacidades [...]”(REVEL, 2005, p. 35), relacionando-se ao fitness no
momento em que este regula a conduta e o comportamento das práticas corporais em questão. Em
Foucault (1985) a norma corresponde à aparição de um bio-poder:
As disciplinas, a normalização por meio da medicalização social, da emergência de uma série de
bio-poderes que se aplicam ao mesmo tempo aos indivíduos em sua existência singular e às
populações segundo o princípio da economia e da gestão política, e a aparição de tecnologias do
comportamento formam, portanto, uma configuração do poder, que segundo Foucault, é ainda a
nossa no fim do século XX (REVEL, 2005, p. 66).
Nesse sentido a constituição de um corpo a partir da cultura do fitness é uma das novas regras para
se viver na sociedade contemporânea. Os sujeitos apresentam seus corpos fitness, saudáveis e
disciplinados nas redes sociais, criando uma espécie de “culto ao corpo virtual”. Estar com o corpo
exposto na rede significa estar inserido na sociedade. Chegando a uma breve consideração final, que
não é uma conclusão, mas sim uma abertura para novos questionamentos, é que a cultura do corpo
fitness influencia ações dos sujeitos para que esses cuidem de seus corpo de forma melindrosa,
inserindo-se na rede do culto ao corpo, constituindo sujeitos de maneiras distintas mas no mesmo
propósito.
PALAVRAS-CHAVE: internet; sujeitos; corpos belos.
REFERÊNCIAS
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Disponível em: http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/14355/2/5241.pdf
DANTAS, Estélio H. M.; BEZERRA, Jani Cléria P.; MELLO, Danielli B. Fitness Saúde e
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em:
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– 3. Ed. rev. e ampl. – Ijuí: Ed. Unijuí, 2014. – 680 p. (Coleção Educação Física).
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Evento: XXI Jornada de Pesquisa
LANDA, María Inés. Os corpos da liderança: as tramas da ficção do dispositivo cultural do Fitness.
En P. Gomes Dornelles e I. Wenetz (ed.), Educação Física, Corpo e Gênero: diálogos
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Editorial:
Universidade
Estadual
de
Campinas
(UNICAMP).
Disponível
em:
http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v32n87/08
REVEL, Judith. Michel Foucault: conceitos essenciais. – 1. Edição. Editora Claraluz, 2005.
ROSSI, V. J. Corpos reverberantes: novas (re)configurações de fitness e wellness nas academias de
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Carlos, 2014.
SILVA, A. L. dos S. Imperativos da beleza: corpo feminino, cultura fitness e a nova eugenia.
Cadernos Cedes, Campinas, v. 32, n. 87, p. 211-222, mai.-ago. 2012. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v32n87/07.pdf. Acessado em: março, 2016.
ZOBOLI, F.; SILVA, R. I.; CORREIA, E. S.; SANTOS, L. A.; BONFIM, E. S. M. Corpo feminino,
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http://dx.doi.org/10.15600/2236-9767/impulso.v24n60p73-86. Acessado em: março, 2016.
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