UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL VICTOR VENTORINI PONTES ESTUDO SOBRE A ADEQUAÇÃO DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL À CERTIFICAÇÃO LEED FORTALEZA 2010 ii VICTOR VENTORINI PONTES ESTUDO SOBRE A ADEQUAÇÃO DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL À CERTIFICAÇÃO LEED Monografia submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Engenharia Civil, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil. Orientador: Prof. Dr. José de Paula Barros Neto FORTALEZA 2010 iii P858e Pontes, Victor Ventorini Estudo sobre a adequação de um edifício residencial a certificação LEED / Victor Ventorini Pontes. – Fortaleza, 2010. 57 f. il.; color. enc. Orientador: Prof. Dr. José de Paula Barros Neto Monografia (graduação) - Universidade Federal do Ceará, Centro de Tecnologia. Depto. de Engenharia Estrutural e Construção Civil, Fortaleza, 2010. 1. Edíficios multifuncionais 2. Cerrtificação da qualidade I. Barros Neto, José de Paula (orient.) II. Universidade Federal do Ceará – Graduação em Engenharia Civil. III. Título CDD 620 iv VICTOR VENTORINI PONTES ESTUDO SOBRE A ADEQUAÇÃO DE UM EDIFÍCIO RESIDENCIAL À CERTIFICAÇÃO LEED Monografia submetida à Coordenação do Curso de Graduação em Engenharia Civil, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil. Aprovada em 01/12/2010 BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. José de Paula Barros Neto (Orientador) Universidade Federal do Ceará – UFC Eng. John Erle Ponte Soares CCB - Construtora Castelo Branco Prof. Dr. Tomáz Nunes Cavalcante Neto Universidade Federal do Ceará - UFC v AGRADECIMENTOS A Deus, pai de todo o conhecimento e detentor de toda a sabedoria. À minha mãe, por não medir esforços ao me apoiar e me incentivar a atingir meus objetivos. Ao meu pai, pela incessante transmissão de conhecimentos e por me educar como engenheiro. Aos meus queridos irmãos, pela união e amizade. Ao orientador, professor José de Paula Barros Neto, pela gentileza, tempo e esforço gastos, não apenas para a orientação neste trabalho, mas durante todo período de faculdade. Aos meus amigos André Ribeiro, Daniela Crispim, Ernesto Molinas, Ivna Baquit e Nelson Quesado. À minha companheira Victoria Erel por toda a compreensão e sacrifício das noites de festas e fins de semana na praia trocados por livros e computador. À Construtora Castelo Branco, pelo investimento e confiança depositados neste jovem estudante de engenharia, em especial nas pessoas de Kilson Nascimento, André Quinderé e Rafael Sindeaux. A todos que contribuíram direta ou indiretamente à realização desta Monografia. vi RESUMO Devido aos altos índices de desperdícios e perdas de materiais, bem como o elevado consumo energético na construção civil, a sustentabilidade nesta indústria tem sido discutido com mais intensidade. A criação de organismos certificadores e avaliadores de desempenho ambiental voltados para tal indústria, tende a uniformizar conceitos e possibilitar ações direcionadas para minimizar os impactos e implementar melhorias significativas nos novos empreendimentos imobiliários que surgirão. No Brasil, destaca-se o início da atuação do sistema norte-americano LEED para novas construções. Este trabalho apresenta como principal objetivo a adequação de um empreendimento com quatro edifícios residenciais em fase de construção, ao sistema de avaliação LEED, para fachada e núcleo. A metodologia consiste em avaliar o atendimento de cada critério proposto pelo sistema, justificando a obtenção da pontuação, ou não. Os pontos não-conformes são identificados e melhorias para aumento da pontuação obtida são propostos. Palavras-chaves: Construção, certificação e sustentabilidade. vii LISTA DE FIGURAS Figura 2.1: As três dimensões da sustentabilidade 5 Figura 2.2: Níveis de classificação de eficiência energética para edificações, abrangendo envoltória, iluminação e condicionamento de ar 15 Figura 2.3: Estimativa de redução de impactos dos edifícios 17 Figura 2.4: Fluxograma de registros de projetos 21 Figura 2.5: Registros e certificações LEED no Brasil 22 Figura 3.1: Planta de situação do empreendimento 25 Figura 4.1: Mapa de serviços básicos 27 viii LISTA DE QUADROS Quadro 2.1: Principais sistemas de certificação ambiental 9 Quadro 2.2: Sistema de classificação LEED – versão 3 para NC e C&S 19 Quadro 2.3: Pontuação necessária para classificação 19 Quadro 2.4: Estimativa de custos para certificação 23 Quadro 2.5: Estimativas de custos para certificação – por nível 23 Quadro 4.1: Checklist do projeto 38 ix LISTA DE SIGLAS E NOTAÇÕES ANAB Assossiação Nacional de Arquitetura Bioecológica Aqua Alta Qualidade Ambiental ASHRAE American Society of Heating, Refrigerating and Air-conditioning BEC Business Environmental Council BREEAM Building Research Environmental Assessment Method CASBEE Comprehensive Assessment System for Built Environment Efficiency CBCS Conselho Brasileiro de Construção Sustentável CFC Clorofluorcarboneto CGBC Canadian Green Building Council CIB Conseil International du Batiment CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente EAC Environmental Assessment Consortium EEWH Ecology Environmental Wate Reduction nad Health GBCA Green Building Council Austrália GBCB Green Building Council Brasil HK-BEAM Hong Kong Building Environmental Assessment Method HK-SAR Hong Kong Special Administrative Region HQE Haute Qualité Environmentale IESNA Illuminating Engineering Society of North America IISBE International Initiative for a Sustainable Built Environment ISO International Organization for Standardization LEED Leadership in Energy and Environmental Design LEED-CI Leadership in Energy and Environmental Design – Edifícios Comerciais x LEED-C&S Leadership in Energy and Environmental Design – Fachada e Núcleo LEED-EB Leadership in Energy and Environmental Design – Edifícios Existentes LEED-NB Leadership in Energy and Environmental Design – Desenvolvimento de Bairros LEED-NC Leadership in Energy and Environmental Design – Novas Construções NZGBC New Zeland Green Building Council OHSAS Occupational Health and Safety Assessment Series PGRCC Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil QAE Qualidade Ambiental do Edifício QAI Qualidade do Ar Interno SGE Sistema de Gestão do Empreendimento UNCED United Nation Conference on Environment and Development USGBC United States Green Building Council WGBC World Green Building Council xi SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1 1.1 Contextualização e justificativa ................................................................................... 1 1.2 Problema de Pesquisa .................................................................................................. 2 1.3 Pergunta de Pesquisa ................................................................................................... 2 1.4 Objetivos ...................................................................................................................... 2 1.4.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 2 1.4.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 2 1.5 Limitação da Pesquisa ................................................................................................. 2 1.6 Descrição das Etapas ................................................................................................... 3 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 4 2.1 Sustentabilidade ........................................................................................................... 4 2.2 Desperdícios e Perdas .................................................................................................. 6 2.3 Consumo Energético .................................................................................................... 8 2.4 Organismos Certificadores no Brasil ......................................................................... 12 2.5 Sistema de avaliação LEED ....................................................................................... 16 2.6 Padrões de avaliação .................................................................................................. 18 2.7 Processo de certificação ............................................................................................. 21 2.8 Estimativas de custos para a certificação ................................................................... 22 3. METODOLOGIA............................................................................................................. 24 3.1 Descrição do Empreendimento .................................................................................. 24 3.2 Estudo de caso ........................................................................................................... 25 4. RESULTADOS ................................................................................................................ 27 4.1 Sustentabilidade do Espaço........................................................................................ 27 4.1.1 Pré-requisito 1 – Prevenção da poluição na atividade da construção ............... 27 4.1.2 Crédito 1 – Seleção do local do empreendimento ............................................ 27 4.1.3 Crédito 2 – Densidade urbana e conexão com a comunidade .......................... 27 4.1.4 Crédito 3 – Remediação de áreas contaminadas .............................................. 28 4.1.5 Crédito 4.1 – Alternativa de transporte, acesso ao transporte público ............. 28 4.1.6 Crédito 4.2 – Alternativa de transporte, bicicletário e vestiário ....................... 28 4.1.7 Crédito 4.3 – Alternativa de transporte, uso de veículos de baixa emissão ..... 29 4.1.8 Crédito 4.4 – Alternativa de transporte, redução da área de estacionamento ... 29 4.1.9 Crédito 5.1 – Desenvolvimento do espaço, proteção e restauração do habitat 29 4.1.10 Crédito 5.2 – Desenvolvimento do espaço, maximizar espaços abertos .......... 29 4.1.11 Crédito 6.1 – Controle da enxurrada, controle da quantidade .......................... 29 4.1.12 Crédito 6.2 – Controle da enxurrada, controle da qualidade ............................ 30 xii 4.1.13 Crédito 7.1 – Redução da ilha de calor, áreas cobertas .................................... 30 4.1.14 Crédito 7.2 – Redução da ilha de calor, áreas descobertas ............................... 30 4.1.15 Crédito 8 – Redução da poluição luminosa ...................................................... 30 4.1.16 Crédito 9 – Guia de projetos e construções sustentáveis para ocupantes ......... 30 4.2 Uso racional da água .................................................................................................. 30 4.2.1 Pré-requisito 1 – Redução do uso da água em 20% ......................................... 30 4.2.2 Crédito 1 – Uso eficiente da água no paisagismo ............................................. 30 4.2.3 Crédito 2 – Tecnologias inovadoras para águas servidas ................................. 31 4.2.4 Crédito 3 – Redução do consumo de água ....................................................... 31 4.3 Energia e atmosfera ................................................................................................... 31 4.3.1 Pré-requisito 1 – Comissionamento dos sistemas de energia ........................... 31 4.3.2 Pré-requisito 2 – Performance mínima de energia ........................................... 31 4.3.3 Pré-requisito 3 – Gestão dos gases refrigerantes .............................................. 31 4.3.4 Crédito 1 – Otimização do desempenho no uso de energia .............................. 32 4.3.5 Crédito 2 – Geração local de energias renováveis ............................................ 32 4.3.6 Crédito 3 – Melhoria no comissionamento ...................................................... 32 4.3.7 Crédito 4 – Melhoria no uso de gases refrigerantes ......................................... 32 4.3.8 Crédito 5.1 – Medições e verificações.............................................................. 32 4.3.9 Crédito 5.2 – Medições e verificações: medição individual ............................. 32 4.3.10 Crédito 6 – Energia verde, mínimo 35% do consumo...................................... 33 4.4 Materiais e recursos ................................................................................................... 33 4.4.1 Pré-requisito 1 – Depósito e coleta de materiais recicláveis ............................ 33 4.4.2 Crédito 1.1 – Reuso do edifício, manter paredes, forros e coberturas .............. 33 4.4.3 Crédito 1.2 – Reuso do edifício, manter 50% dos elementos interiores nãoestruturais ......................................................................................................................... 33 4.4.4 Crédito 2 – Gestão de resíduos da construção .................................................. 33 4.4.5 Crédito 3 – Reuso de materiais, no mínimo 5% do custo dos materiais .......... 33 4.4.6 Crédito 4 – Conteúdo reciclado ........................................................................ 34 4.4.7 Crédito 5 – Materiais regionais, extraído, processado e fabricado regionalmente ................................................................................................................... 34 4.4.8 Crédito 6 – Materiais de rápida renovação, no mínimo 2,5% do total utilizado 34 4.4.9 Crédito 7 – Madeira certificada, no mínimo 50% do custo de madeira total utilizado 34 4.5 Qualidade ambiental interna ...................................................................................... 34 4.5.1 Pré-requisito 1 – Desempenho mínimo da qualidade do ar interno ................. 34 4.5.2 Pré-requisito 2 – Controle do fumo .................................................................. 34 4.5.3 Crédito 1 – Monitoramento do ar externo ........................................................ 34 xiii 4.5.4 Crédito 2 – Aumento da ventilação .................................................................. 35 4.5.5 Crédito 3 – Plano de qualidade do ar, durante a construção............................. 35 4.5.6 Crédito 4.1 – Materiais de baixa emissão – adesivos e selantes ...................... 35 4.5.7 Crédito 4.2 – Materiais de baixa emissão – tintas e vernizes ........................... 35 4.5.8 Crédito 4.3 – Materiais de baixa emissão – carpetes........................................ 35 4.5.9 Crédito 4.4 – Materiais de baixa emissão – madeiras compostas e agrofibras 35 4.5.10 Crédito 5 – Controle interno de poluentes e produtos químicos ...................... 35 4.5.11 Crédito 6 – Controle de sistemas, conforto térmico ......................................... 36 4.5.12 Crédito 7 – Conforto térmico, projeto .............................................................. 36 4.5.13 Crédito 8.1 – Iluminação natural e paisagem, para 75% dos espaços .............. 36 4.5.14 Crédito 8.2 – Iluminação natural e paisagem, para 90% dos espaços .............. 36 4.6 Inovação e processos do projeto ................................................................................ 36 4.6.1 Crédito 1.1 a 1.5 – Inovação ou performance exemplar................................... 36 4.6.2 Crédito 2 – Profissional acreditado LEED ....................................................... 36 4.7 Créditos regionais para o Brasil ................................................................................. 36 4.7.1 Crédito 1.1 – Adequação da acessibilidade externa e interna .......................... 36 4.7.2 Crédito 1.2 – Plano de impacto ambiental do empreendimento ....................... 37 4.7.3 Crédito 1.3 – Redução do consumo de água – medição setorizada .................. 37 4.7.4 Crédito 1.4 – Aquecimento solar – redução de 50% ou 100% do consumo .... 37 4.7.5 Crédito 1.5 – Gestão de resíduos da construção – limitar o desperdício .......... 37 4.7.6 Crédito 1.6 – Reuso dos materiais – projetar para o desmonte ........................ 37 4.8 Checklist do projeto ................................................................................................... 37 4.9 Melhorias a serem implementadas ............................................................................. 41 4.9.1 Melhorias no critério Espaço Sustentável ........................................................ 41 5. 4.9.2 Melhorias no critério Uso Racional da Água ................................................... 42 4.9.3 Melhorias no critério Materiais e Recursos ...................................................... 42 CONCLUSÃO .................................................................................................................. 43 5.1 Dificuldades observadas ............................................................................................ 43 5.2 Sugestões para trabalhos futuros................................................................................ 43 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 44 1 1. 1.1 INTRODUÇÃO Contextualização e justificativa As recentes mudanças evidenciadas nos ecossistemas de nosso planeta, têm aberto as portas para o estudo e implementação da sustentabilidade em diversos setores industriais. Na indústria da construção civil, onde segundo Kibert (2008, p. 44), “o ambiente construído, mais que qualquer outra atividade humana, possui impactos diretos, complexos e duradouros sobre a biosfera”, a busca por padrões cada vez mais sustentáveis de desenvolvimento vêm crescendo de forma exponencial, principalmente nos mercados internacionais, de países como EUA, Canadá, Japão e alguns europeus. No Brasil, observa-se uma tímida sensibilização em relação às questões ambientais, mas que, por muitas vezes, tal sentimento é expresso a fim de cumprir com as obrigações previstas em leis municipais, estaduais e federais. O passo de maior incentivo para as empresas construtoras mundiais rumo ao atendimento das metas de desenvolvimento sustentável, foi a criação das metodologias de avaliação dos edifícios, pois, até antes da padronização, os chamados green buildings eram idealizados e conceituados por arquitetos e engenheiros, que por conta própria interpretavam as partes constituintes do que deveriam ser os edifícios verdes. Atualmente, todos os países citados acima, possuem um sistema de certificação adaptado aos seus hábitos e costumes, e baseado em critérios e indicadores de desempenho. Dentre os critérios avaliados em cada sistema, Piccoli et al. (2008) apresentam as questões básicas envolvidas nas certificações: projetos, processo construtivo e operação da edificação, em meio aos impactos ambientais, saúde e bem estar dos usuários e consumo de recursos. No Brasil, está em uso a adaptação do sistema americano LEED – Leadership in Energy and Enviromental Design, que através de um sistema de pontuação, certifica a edificação em até quatro níveis evolutivos. Mesmo sujeito à alta subjetividade dos temas analisados e pontuados, tal sistema incentiva a demanda por construções sustentáveis, além de “ser tido como um dos sistemas mais amigáveis enquanto ferramenta de projeto, o que facilita a sua incorporação à prática profissional” (Piccoli et al., 2008, p. 03). Com isso, justifica-se este trabalho que propõe a simulação e análise crítica da certificação ambiental LEED, aplicado a um empreendimento de Fortaleza, Ceará. 2 1.2 Problema de Pesquisa A falta de informações concretas sobre as certificações ambientais no mercado da construção civil faz com que o tema seja evitado por projetistas e construtores. Especula-se muito a respeito do que deve ser feito e da quantidade de recursos financeiros devem ser gastos para que um projeto se adeque aos padrões de certificação. 1.3 Pergunta de Pesquisa Qual a provável certificação LEED de um projeto de um edifício residencial construído sem estar voltado ao atendimento aos requisitos deste programa? 1.4 1.4.1 Objetivos Objetivo geral Analisar criticamente a adequação do projeto de um edifício residencial para garantir a certificação no sistema LEED – C&S versão 3.0. 1.4.2 Objetivos específicos a) Efetuar o diagnóstico do projeto atual em relação ao sistema LEED. b) Apresentar melhorias e soluções para obtenção da pontuação necessária para certificação em níveis superiores ao obtido na simulação, buscando a melhor viabilidade econômica de implementação e retorno financeiro obtidos durante a utilização por parte de seus usuários. 1.5 Limitação da Pesquisa Este trabalho possui limitações que devem ser mencionadas, uma vez que o mesmo foi desenvolvido em um contexto que permite o alcance dos objetivos anteriormente estabelecidos, caracteriza os resultados obtidos, e os torna válidos cientificamente para este escopo limitado. Primeiro, não se teve acesso à documentação oficial utilizada pelo organismo certificador, uma vez que este acesso é permitido apenas aos membros da entidade. Em 3 detrimento disso, foi utilizado para desenvolvimento da pesquisa, material tutorial disponibilizado gratuitamente durante palestras e apresentações do sistema, que explicam e exemplificam cada passo da certificação. Para alguns passos da certificação é requerido o uso de software especializado, cuja gratuidade da licença para uso foi alcançada, mas a aplicação correta dos programas requer estudo aprofundado para obtenção de resultados confiáveis. 1.6 Descrição das Etapas Este trabalho está dividido em cinco capítulos, no qual o primeiro é esta introdução, onde são tratadas a contextualização do problema, a justificativa de estudo para o tema abordado, o problema e pergunta de pesquisa, bem como os objetivos gerais e específicos e as limitações encontradas. O segundo capítulo aborda a fundamentação teórica, a fim de familiarizar e embasar o leitor com os temas abordados durante a pesquisa, bem como o sistema de certificação LEED Em seguida, no terceiro, é exposta a metodologia aplicada neste trabalho e as características do empreendimento utilizado como estudo de caso. No quarto capítulo são apresentados os resultados obtidos no estudo de caso e as melhorias que podem concretizar a sustentabilidade do empreendimento. Por fim, no quinto e último capítulo, são tecidos comentários finais sobre o trabalho, enfatizando as dificuldades mais pertinentes e sugestões para trabalhos futuros acerca deste tema. 4 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O presente capítulo tem por finalidade apresentar o embasamento teórico de alguns tópicos, a fim de facilitar o entendimento da pesquisa a ser desenvolvida. Serão abordados conceitos acerca de sustentabilidade, desperdícios e perdas na construção civil, bem como de consumo energético. Um panorama geral citando as certificações ambientais mais influentes no mercado global e nacional é exposto a fim de divulgar a crescente demanda pelo assunto. Por fim, apresenta-se o sistema de certificação a ser aplicado neste trabalho, o LEED. Face ao degradante cenário ambiental atual do planeta, diversos agentes – tais como governos, consumidores, investidores e associações – vêm cobrando mudanças de postura nos diversos setores produtivos. A construção civil é vista como grande vilã na busca por um ecossistema cada vez mais equilibrado, pois, trata-se do setor industrial que mundialmente, segundo a Associação Nacional de Arquitetura Bioecológica - ANAB, consome aproximadamente 50% dos recursos naturais não-renováveis extraídos, envolvendo toda a cadeia produtiva do setor. Evangelista et al (2010) apud John (2000), complementa que este ramo apresenta-se como um dos mais críticos no que diz respeito aos impactos ambientais, pois é responsável por cerca de 50% do CO2 lançado na atmosfera e quase metade da quantidade dos resíduos sólidos gerados no mundo. 2.1 Sustentabilidade A partir da exposição de tais fatos, o tema “sustentabilidade”ganha força e espaço no mundo todo, principalmente neste setor, onde ultimamente, muito se tem feito para redução dos impactos no planeta Kibert (2008). Na conferência realizada em 1992 no Rio de Janeiro, a United Nation Conference on Environment and Development (UNCED), mais conhecida como ECO’92, que resultou na publicação da agenda 21, foi consolidada a idéia de que: “o desenvolvimento e a conservação do meio ambiente devem constituir um binômio indissolúvel, que promova a ruptura do padrão tradicional de crescimento econômico, tornando compatíveis duas grandes aspirações do final do século XX: o direito ao desenvolvimento, sobretudo para os países que permanecem em patamares insatisfatórios de renda e riqueza, e o direito ao usufruto da vida em ambiente saudável pelas futuras gerações” (DEGANI, 2003) 5 sendo portanto, a sustentabilidade um objetivo que somente pode ser atingido em múltiplas dimensões (CSILLAG, 2006). O Green Building Council Brasil define que uma construção sustentável é aquela edificação ou espaço construído que teve na sua concepção, construção e operação o uso de conceitos e procedimentos reconhecidos de sustentabilidade ambiental, proporcionando benefícios econômicos, na saúde e bem estar das pessoas. A partir desta definição, pode-se afirmar que construções sustentáveis são escolhas lógicas e econômicas, mas que para muitas pessoas ainda há um grande mistério sobre o assunto. Pardini (2009) aponta que a dimensão social, entendendo o grau de pobreza e educação das pessoas, suas condições de trabalho e moradia, a ambiental, referente às políticas e práticas locais de proteção ao meio-ambiente, e a econômica, relacionada ao nível do desenvolvimento industrial, de geração e distribuição de renda, formam os três pilares da sustentabilidade, como segue apresentado na figura 2.1. Figura 2.1 – As três dimensões da sustentabilidade. Fonte: PARDINI, 2009 O preconceito de vários consumidores em relação à produtos e serviços sustentáveis é grande, pois estes confundem sustentabilidade com ecologia, rusticidade e até mesmo baixa qualidade. Outros acreditam que ao adquirir produtos e serviços sustentáveis estarão desembolsando uma maior quantidade de recursos, uma vez que a oferta no mercado atual é restrita. Segundo Coelho (Carimbo verde, REVISTA TÉCHNE, edição 155, ano 2010) no Brasil, apenas 29% das empresas em geral, desenvolvem alguma ação de modo a organizar uma rede de fornecedores socialmente responsáveis e 31% possuem políticas para efetivar “compras verdes”. 6 Pode-se destacar dois pontos críticos contribuintes para a má impressão ambiental concedida ao mercado da construção: altos índices de desperdício e perdas, e elevado consumo energético. Para minimização do primeiro item, Corrêa (2009) cita um estudo feito pela Universidade Politécnica de Hong-Kong onde uma vasta gama de recomendações e novas posturas relacionadas a modernas construções são sugeridas. Em seguida, o mesmo autor faz a ligação com o segundo ponto crucial citado acima, afirmando que “a redução de desperdício implica na redução no consumo de energia (que foi gasta na produção de insumos e materiais), contribuindo para uma construção civil mais sustentável.” CORRÊA (2009). 2.2 Desperdícios e Perdas O ponto crítico inicial, desperdício e perdas, retrata o fato em que: “a preocupação com a sustentabilidade levou a indústria da construção civil a buscar alternativas sustentáveis baseando-se na prevenção e redução dos resíduos pelo desenvolvimento de tecnologias limpas no uso de materiais recicláveis ou reutilizáveis, no uso dos resíduos como materiais secundários e na coleta e deposição inerte. Usando medidas que transformem as correntes de resíduos em recursos reutilizáveis. Quando esses resíduos são selecionados, graduados e limpos adequadamente, tornam-se um agregado secundário, cuja utilização, em função da origem e tratamento, cobrem desde um aterro até um concreto” (MELO et al, 2010) A reciclagem é vista por Evangelista (2010) como uma alternativa para a redução da quantidade de resíduos dispostos nos aterros, além de ser uma proposta sustentável para destinação dos resíduos da construção civil. Embora diversos estudos apontem a viabilidade da reciclagem, as iniciativas públicas e privadas não costumam adotar tal prática. Pode-se considerar como pontuais as legislações específicas sobre este tema, definindo ações de estímulo quanto a utilização de agregados reciclados em obras tanto públicas quanto privadas, bem como a implantação de usinas de reciclagem para difusão da prática em canteiros de obra. Não planejar e executar o gerenciamento de resíduos sólidos gerados nos canteiros de obra acarreta em graves problemas para os municípios, visto que os aterros para disposição de resíduos estarão operando em capacidades máximas aumentando o risco de contaminações ambientais, gerando impactos econômicos e sociais. A Resolução 307 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA (2002) estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil, criando responsabilidades para a cadeia gerador transportador receptor municípios, 7 impulsionando as empresas de construção e os agentes públicos a desenvolver ações para atender às exigências legais Os agentes geradores, empresas construtoras, passaram então a implementar o sistema dos 3Rs em canteiro de obras, que são reduzir, reutilizar e reciclar. A redução é vista como parte crucial do sistema, pois é onde a gestão de resíduos sólidos nasce, e consiste no conjunto de ações que tem por objetivo maior a redução de perdas. Não apenas o meio ambiente ganha com tal prática, a empresa redutora da geração de resíduos também, a C. Rolim Engenharia (2010) exemplifica tais ganhos: Diminuição dos custos de trensporte e disposição final; Diminuição dos custos com compras; Cumprimento das exigências legais; Diminuição dos espaços reservados à estocagem de materiais; Melhoria da imagem da empresa; e Melhoria da segurança dos trabalhadores. Um controle eficiente e com a cooperação em massa dos operários garantirá que a redução de resíduos esteja em prática no canteiro. A C. Rolim Engenharia aponta algumas ações para que o objetivo seja alcançado: Contratar de serviços com uso de novas tecnologias; Comprar produtos em quantidades suficientes; Definir customizações do cliente evitando demolições e retrabalhos; Implantar programa 5S; Fornecer peças em embalagens que se evite o descarte; Adquirir pré-fabricados, como exemplo pode-se mencionar a aquisição das portas prontas, ferros cortados e dobrados e as madeiras limpas e cortadas; Utilizar perfis, fôrmas metálicas e fôrmas plásticas, evitando o uso de madeira; Melhorar as condições de fluxo e armazenagem de materiais nas obras por meio de projeto de canteiro de obras; Utilizar, se possível, containeres metálicos como canteiro de obras, banheiros, refeitórios que reduzem a quantidade de materiais como “madeirit”, assim como o entulho; Adotar medidas que impliquem na redução do uso de papéis; Fazer programação quanto à quantidade de traços em uma betoneira, evitando sobra de argamassa ou concreto; 8 Implantar projeto de alvenaria utilizando vários tipos de tijolos ou blocos, evitando a quebra deste insumo, pois ele é um grande formador de resíduo; e Criar premiação para os operários que fizerem o serviço com menor perda de materiais possível. Reutilização é usar o material mais de uma vez, independente de se na mesma função ou não, mas sem transformações físicas ou químicas. Reutilizar é uma siginificante contribuição para que materiais que ainda podem ser usados não sejam descartados aumentado o aproveitamento de resíduos. A reciclagem deve ser vista como última solução. Inicialmente, deve-se combater a geração de resíduos na fonte, uma vez que não foi possível deixar de gerar resíduos, a reutilização dos resíduos gerados deve estar prevista e em prática nas obras. Caso as duas soluções anteriormente apresentadas não vigorem, a reciclagem deve entrar em cena, pois esta evita que materiais que sofrendo transformações químicas ou físicas sejam destinados indevidademente aos aterros. 2.3 Consumo Energético Em relação ao elevado consumo energético, Lamberts (2009) aponta que o setor da construção civil, no Brasil, é o maior responsável pelo consumo nacional de energia, depois do setor industrial. Rosseti et al (2010) afirmou que: “o setor de edificações residenciais e comerciais correspondem a 43% do consumo de energia elétrica em nosso país, onde também, segundo Mascaró (1992) de 20 a 30% da energia consumida seriam suficientes para o funcionamento da edificação; 30 a 50% da energia consumida são desperdiçados por falta de controles adequados da instalação, por falta de manutenção e também por mau uso; 25 a 45% da energia são consumidos indevidamente por má orientação da edificação e por desenho inadequado de suas fachadas, principalmente, e ainda um mesmo projeto de edificação em locais diferentes, pode provocar aumento de até 80% da demanda de energia elétrica, por exemplo, quando se compara Belém e Porto Alegre (SANTOS, 2002)”. Contudo, surge a partir daí a necessidade da uniformização das regras de sustentabilidade e os sistemas de avaliação e certificação surgem como resposta da indústria da construção aos impactos ambientais causados pelo ambiente construído (Kibert, 2008). Países como EUA, Canadá, Japão, Hong-Kong e alguns europeus, são considerados pioneiros em sistemas de certificação ambiental, graças ao Conseil International du Batiment – CIB, que no início dos anos 90 consolidou padrões internacionais de sustentabilidade. 9 O quadro 2.1 apresenta alguns dos conselhos com maior destaque mundial na construção sustentável, aliados aos sistemas de certificação ao qual estão vinculados. Quadro 2.1. Principais sistemas de certificação ambiental País Sistema de avaliação Situação atual Alemanha Certificação alemã para construções sustentáveis Desenvolvida pelo Conselho Alemão de Edficações Sustentáveis junto com o Ministério Federal de Transportes, Edificações e Urbanismo com a intenção de planejar e avaliar os edifícios em sua qualidade. Austrália Green Star O Green Building Council of Austrália GBCA foi formado em 2002, apoiado pelo governo e pelas indústrias locais com os objetivos de promover a sustentabilidade por meio de programas de construção sustentável, tecnologias, práticas de projeto e operação e integrar as iniciativas em todas as fases de projeto, construção e operação. Brasil Alguns edifícios em processo de certificação LEED original O Green Building Council Brasil - GBC Brasil, filiado ao World Green Building Council, lançado em julho de 2007, apóia a transformação de toda cadeia produtiva da construção civil; Aqua (HQE) Procel Edifica Certificação dada pela Fundação Vanzolini. O sistema Aqua foi lançado em 03/04/2009 e trabalha com a metodologia francesa Haute Qualité Environnementale - HQE adaptada à realidade brasileira. Lançado em 08/03/07 o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS) tem como intuito contribuir para a promoção do desenvolvimento sustentável por meio da geração e disseminação de conhecimento e da mobilização da cadeia produtiva da construção civil, de seus clientes e consumidores. Esta etiquetagem é um subprograma do Governo Federal, tem como missão a promoção da eficiência energética nas edificações brasileiras, visando a redução do consumo de energia elétrica. 10 Quadro 2.1. Principais sistemas de certificação ambiental País Sistema de avaliação Sustentax (Continuação) Situação atual Selo desenvolvido pelo Grupo Sustentax a fim de identificar e reconhecer a qualidade ambiental de produtos e serviços prestados por empresas construtoras e incorporadoras. O Canadian Green Building Council - CGBC foi fundado em 2002. Formado pela coalisão de representantes de vários segmentos da indústria da construção tem por objetivo acelerar o projeto e construção de edifícios sustentáveis. Canadá LEED Canadá China Não há. Algum uso do CASBEE japonês O Conselho de Defesa de Recursos Naturais tem trabalhado na promoção de conselhos regionais, bem como nacional. Como exemplo, pode-se citar o de Shangai, o primeiro conselho a ser criado. Este conselho, junto com os Ministros da Construção e da Ciência e Tecnologia trabalham para fazer a adaptação do LEED para padrões locais. Este conselho ainda trabalhou com os EUA em projetos demonstrativos com atrativo das olimpíadas de 2008. Hong-Kong Hong Kong Building Environmental Assessment Method - HK-BEAM - Professional Green Building Council, organização não governamental, instituto de pesquisa e educação com intuito de promover um ambiente sustentável nas edificações. Formado em 2002 com a junção de profissionais de arquitetura e engenharia; - Business Environment Council – BEC, associação independente estabelecida em 1989, com o objetivo de promover o desenvolvimento ambiental e sustentável, oferecendo soluções sustentáveis e treinamento. É uma ramificação do World Business Council for Sustainable Development; - The Building Department of the Hong Kong Special Administrative Region – HKSAR O sistema de avaliação foi adaptação do BREEAM 93. 11 Quadro 2.1. Principais sistemas de certificação ambiental (Continuação) País Sistema de avaliação Situação atual Índia Uso lincenciado do LEED O conselho local CII-Godrej GBC é um consórcio entre a Confederação das Indústrias da Índia, o governo do estado de Andhra Pradesh, House of Godrej, com suporte da Agência para Desenvolvimento Internacional dos EUA. Entre os serviços oferecidos estão a implementação do LEED, ISO14001 e OHSAS18001. Japão CASBEE Formado em 1998, com objetivo principal a redução dos impactos ambientais nas construções ao longo das fases de planejamento, construção e disposição final de resíduos. Coréia Padrão coreano de construção sustentável Fundado para avaliar e testar o sistema de avaliação coreano, estabelecendo assim um método para medir o desempenho ambiental próprio considerando toda a edificação de uma perspectiva de ciclo de vida. Nova Green Star NZ Desenvolvido pelo New Zealand Green Building Council - NZGBC junto com a indústria da construção civil. Singapura Green Mark O conselho ainda está em estágio inicial de formação. O sistema de certificação foi lançado em janeiro de 2005 para promover o desenvolvimento sustentável no ambiente construído, bem como difundir o conhecimento entre incorporadores, projetistas e construtores quando da concepção e execução do projeto. Abrange novas construções e edifícios existentes. Taiwan Ecology Environmental Waste reduction and Health - EEWH Foi lançado em janeiro de 2005. O foco do conselho é o desenvolvimento da construção civil com proteção ambiental, promovendo construções sustentáveis. Estas construções têm um capítulo especial no (Continuação) código nacional de obras. O sistema de avaliação de avaliação próprio foi criado em 2001. Zelândia 12 Quadro 2.1. Principais sistemas de certificação ambiental (Continuação) País Sistema de avaliação México Usa o LEED origina, mas Mexico Green Building Council é membro objetiva metodologia própria official do World Green Building Council WorldGBC e afiliado ao International Initiative for a Sustainable Built Environment – IISBE. Emirados LEED Formado em 2006 com o objetivo de de estabelecer princípios de sustentabilidade para edificações de modo a proteger o meio ambiente e assegurar a sustentabilidade nos Emirados Árabes Unidos Árabes Reino Unido Building Research Environmental Assessment Method - BREEAM EUA Situação atual LEED O Conselho tem por missão a melhora significativa do ambiente construído pela transformação radical na forma de planejamento, construção, manutenção e operação dos edifícios. Formado por um grupo multidisciplinar, chamado EAC (Environmental Assessment Consortium), de consultores especialistas em projetos ambientais e eficiência energética. Promovem, entre outros serviços, consultoria no uso do BREEAM. Este sistema foi o pioneiro e lançou bases de todos os sistemas de avaliação. Criado com o objetivo de promover edifícios responsáveis, lucrativos e mais saudáveis para se trabalhar e viver. Participam dele todos os setores da cadeia produtiva da indústria da construção civil. O LEED é o mais comercial dos sistemas existentes, usado em vários países e foi inspirado no BREEAM do Reino Unido. Fonte: Adaptado de PARDINI, 2009. 2.4 Organismos Certificadores no Brasil Dentre os organismos certificadores de construção sustentáveis em atuação no Brasil, os que mais se destacam são o Aqua, Sustentax, Procel edifica e LEED. A certificação de construção sustentável – Processo Aqua, no Brasil foi adaptado por professores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e pela da Fundação 13 Vanzolini, demonstra a Alta Qualidade Ambiental de empreendimentos em construção ou em processo de reabilitação, através de auditorias independentes, ou seja, para obtenção da certificação, o empreendimento deve firmar controle total do projeto nas fases de programa – fase onde o programa de necessidades é elaborado, concepção – fase de concepção arquitetônica e técnica, baseada nas informações da fase anterior, realização – a construção do empreendimento, e operação – uso após a conclusão da obra. É definido por dois padrões, Sistema de Gestão do Empreendimento (SGE) e Qualidade Ambiental do Edifício (QAE). Seus organizadores apontam que um empreendimento certificado no processo Aqua apresenta como benefícios melhores condições de conforto, saúde e estética do usuário, economia direta de água e energia, disposição de resíduos e manutenção, bem como contribuição para o desenvolvimento sócio-econômico-ambiental da região em que está instalado. A certificação é concedida ao final de cada fase, ao se verificar atendimento ao referencial técnico estabelecido. Este referencial é a adaptação para a realidade brasileira da “Demarche HQE” da França e contém os requisitos a serem atendidos para o SGE e critérios de desempenho nas categorias do QAE. Os requisitos do SGE exigem o comprometimento com o perfil de QAE visado e acompanhamento, análise e avaliação da QAE ao longo do empreendimento, entre outros. Os critérios de desempenho do QAE tratam de catorze categorias divididas em quatro grupos: a eco-construção, a eco-gestão e a criação de condições de conforto e saúde para o usuário. O selo Sustentax por sua vez é desenvolvido pelo Grupo Sustentax, visando a identificar e atestar a qualidade ambiental de produtos e serviços prestados por construtoras e incorporadoras. O funcionamento do selo ocorre através do reconheimento da conformidade dos procedimentos de desenvolvimento do projeto, seleção de materiais, comprometimento com práticas socioambientalmente corretas, com a responsabilidade social e a disseminação de práticas que venham a gerar economias, evitando desperdícios e contribuindo com o aumento de produtividade. Analisa as basicamente, dezesseis categorias: Diagnóstico do local de implantação do projeto; Sistemas e componentes hidráulicos; Armazenamento e coleta seletiva de resíduos; Interferência na construção existente; 14 Reutilização de móveis e outros componentes; Uso de materiais reciclados, regionais e renováveis; Uso de madeira certificada; Seleção de tintas, cola, carpetes e laminados; Armazenamento de materiais poluentes; Uso de iluminação natural, acessibilidade e ergonomia; Atendimento de questões de acústica; Compromisso com questões socioambientais; Controle de erosão e sedimentação; Racionalização do uso da água; Qualidade ambiental interna; e Gerenciamento dos resíduos da construção civil. A cada dois anos, o selo é revisto e, caso as exigências apresentadas anteriormente não estiverem sendo cumpridas, o selo é cancelado. Subprograma do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica do Governo Federal, o Procel Edifica foi instituído no ano de 2003 e atua de forma conjunta com o Ministério de Minas e Energia, o Ministério das Cidades, as universidades, os centros de pesquisa e entidades das áreas governamental, tecnológica, econômica e de desenvolvimento, além do setor da construção civil. Tem como missão, a promoção da eficiência energética nas edificações brasileiras, contribuindo para a conservação de energia elétrica. A aplicação desta etiquetagem visa edifícios comerciais, de serviços, públicos e residenciais. Vem sendo implantada de forma gradual e voluntária, mas estima-se que passará a ser item obrigatório no futuro. O prazo de validade da etiqueta é de cinco anos. Sua avaliação está focada em três sistemas individuais; envoltória, iluminação e condicionamento de ar. É feita uma classificação geral que pode ser acrescida de bonificações relacionadas ao uso eficiente da água, emprego de fontes alternativas de energia, ou qualquer inovação tecnológica que promova a eficiência energética. O objetivo é aproveitar de maneira mais eficiente as tecnologias passivas, tais como ventilação e iluminação naturais, além de incentivar o uso racional da água. Os níveis de eficiência variam de “A” – mais eficiente – até “E” – menos eficiente, como pode ser visto na figura 2.2. A avaliação é feita em duas etapas: fase de projeto e edifício construído, após o alvará de conclusão da obra. O projeto do edifício pode 15 ser avaliado segundo o método prescritivo ou pelo método da simulação termoenergética computacional. O primeiro método contém equações e tabelas limitadores dos parâmetros da envoltória, iluminação e condicionamento de ar, separadamente e de acordo com o nível de eficiência energética. O segundo é baseado na simulação termoenergética de dois modelos computacionais representando dois modelos do edifício: um modelo referente ao que foi proposto no projeto, ou seja, o edifício real, e o segundo modelo baseado no método prescritivo. Para obtenção da classificação, deve-se comparar os resultados obtidos na simulação para os dois modelos. É válido informar que o consumo do modelo do edifício real deve ser menor que o modelo de referência almejado. Figura 2.2 - Níveis de classificação de eficiência energética para edificações, abrangendo envoltória, iluminação e condicionamento de ar. Fonte: ELETROBRÁS Dentre os sistemas, o LEED, desenvolvido pelo U.S. Green Building Council (USGBC), apresentou forte destaque na América do Norte, em suas primeiras versões, certificando apenas edifícios já concluídos, mas fornecendo indicadores palpáveis às empresas 16 construtoras. A primeira versão para novas construções foi lançada no ano de 2002, e apresentou satisfatória melhora na exigência da documentação necessária. O sistema de certificação LEED, através de uma lista de itens, com pontuações para cada um deles, analisa e pontua cada seção. Ao final, é realizado o somatório dos pontos, a fim de verificar em qual das quatro seções o empreendimento está incluído. São elas, em ordem evolutiva: Certificado, Prata, Ouro e Platina. A noção de construção sustentável deve estar presente em todo o ciclo de vida do empreendimento, desde sua concepção até sua re-qualificação, desconstrução ou demolição. É necessário um detalhamento do que pode ser feito em cada fase da obra, demonstrando aspectos e impactos ambientais e como estes itens devem ser trabalhados para que se caminhe para um empreendimento que seja: uma idéia sustentável, uma implantação sustentável e uma moradia sustentável CORRÊA (2009). É relevante destacar também que com a criação dos órgãos avaliadores e certificadores mundiais, o conceito de Green Building ou High-Performance Building, passou a ser um tema mensurável. Yudelson (2009) define os edifícios verdes como aqueles que consideram e reduzem seus impactos no meio ambiente e em itens que afetem a saúde humana, utilizando menos energia e consumindo menos água que edifícios convencionais. Os impactos causados no terreno também tendem a ser menores, e ainda fornecem ar interno de melhor qualidade. 2.5 Sistema de avaliação LEED Dentre os vários sistemas de avaliação existentes no mundo, o sistema LEED – Leadership in Energy and Enviromental Design é um sistema para certificar ou ratificar a sustentabilidade e a redução do impacto ambiental das construções que adotam práticas, que levam o meio ambiente em consideração. É tido como a ferramenta mais dócil, ou facilmente aplicável ao mercado da construção, ao basear-se em racionalização de consumos. Enquanto alguns sistemas fornecem uma quantidade de informações elevadas a respeito do desempenho da edificação, o LEED apresenta apenas um simples número, representando o somatório de pontos acumulados ao longo da avaliação, facilitando o entendimento de leigos e profissionais da área. Tal ferramenta vem sendo desenvolvida e atualizada ao longo dos anos pelo USGBC – United States Green Building Council, cuja descisão mais impactante de seus membros referente ao sistema, foi que este deveria ser voltado para o mercado imobiliário, antes de ser 17 uma exigência legislativa, ou seja, apostando que a credibilidade do sistema seria vista pelos consumidores e estes seriam os responsáveis pelo sucesso do programa, uma vez que a demanda por imóveis certificados tornaria-se maior que a procura por imóveis nãocertificados. A correta aplicação dos fundamentos difundidos pelo LEED pode implicar em ganhos ambientais significantes, reduzindo significativamente o impacto negativo dos prédios, como mostra a figura 2.3. O consumo de energia elétrica pode sofrer reduções de até 30%; as emissões de CO2, chegam a cair até 35%; o uso de água potável é reduzido num intervalo de 30 a 50%; a geração de resíduos é minimizada de 50 a 90%. ENERGIA 30% EmissõesC O2 35% Uso de ÁGUA 30-50% Resíduos 50-90% Figura 2.3 – Estimativa de redução de impactos dos edifícios. Fonte: GBC BRASIL Outro fator de destaque e aceitação do LEED em relação aos outros sistemas no mercado da construção, é que o seu desenvolvimento é feito por membros da indústria, da academia e do governo, procurando atender às expectativas e necessidades de cada grupo interessado. Em março de 2007, foi criado no Brasil, o GBCB – Green Building Council Brasil, objetivando a adequação das normas de certificação à realidade brasileira, cujos trabalhos iniciaram efetivamente ao final de janeiro de 2008, segundo o seu próprio site. 18 2.6 Padrões de avaliação O LEED está atualmente em sua terceira versão, LEED v3, e atende a diversos tipos de intervenções construtivas: LEED para novas construções e grandes reformas (LEED NC), atendendo a projetos de edifícios comerciais e institucionais, incluindo edifícios de escritório, centros recreativos, plantas industriais e laboratórios. Baseado no LEED NC surgiram ramificações para atender às diversas tipologias de obra. LEED múltiplos edifícios e campus, usado em campus corporativo e campus universitário, podendo ser aplicado na construção em uma única fase ou na execução em etapas da obra; LEED Escola com requisitos específicos como acústica para as salas de aula e prevenção de mofo; LEED Saúde com requisitos para evitar ambientes com química e poluentes e proporcionar acesso a espaços abertos; LEED Retail, focando lojas de varejo com características peculiares como iluminação, segurança, energia, água, etc; LEED para edifícios existentes (LEED EB), disponível a partir de 2004 (Green Building Facts, 2009) para avaliar e medir a operação e manutenção, se reportando a tópicos como limpeza da edificação, programas de reciclagem e de manutenção externa e a melhoria dos sistemas prediais. Pode ser aplicado também a projetos já certificados pelo LEED NC e LEED C&S; LEED para interior de edifícios comerciais (LEED CI), disponível a partir de 2004 (Green Building Facts, 2009) e elaborado para atender ao locador do espaço, certificando o alto desempenho da área interna, visando a um ambiente interno mais saudável e produtivo para o trabalho. Pode ser aplicado também a projetos de lojas de varejo, LEED Retail; LEED para fachada e núcleo (LEED C&S), desenhado e lançado em julho de 2006 (Green Building Facts, 2009) para complementar o LEED CI, englobando a estrutura, fachada e sistema de ar-condicionado; LEED para residências (LEED for Homes), lançado em dezembro de 2007 (Green Building Facts, 2009) para residências unifamiliares; LEED para desenvolvimento do bairro (LEED ND), desenvolvido tendo por base o princípio de crescimento urbano estruturado. Ainda em teste piloto (Green Building Facts, 2009). 19 Os pontos estão distribuídos na seção de novas construções de acordo com o Quadro 2.2: Quadro 2.2. Sistema de Classificação LEED – Versão 3 – para C&S Categoria Pontuação máxima Terrenos Sustentáveis 28 pontos Eficiência no uso da água 10 pontos Energia e Atmosfera 35 pontos Materiais e Recursos 13 pontos Qualidade Ambiental Interior 12 pontos Inovações e Processos de Projeto 6 pontos Prioridades Regionais 6 pontos TOTAL MÁXIMO DE PONTOS 110 pontos Fonte: Adaptado de Green Building Council Brasil A partir dos pontos obtidos, pode-se classificar o empreendimento segundo o LEED-CS (Core and Shell) em concordância com o Quadro 2.3. Quadro 2.3. Pontuação Necessária para Classificação Classificação Pontos necessários Platina 80 a 110 pontos Ouro 60 a 79 pontos Prata 50 a 59 pontos Certificado 40 a 49 pontos Não-Certificado 00 a 39 pontos Fonte: Adaptado de Green Building Council Brasil O critério de avaliação terrenos sustentáveis concerne à prevenção da poluição na atividade da construção civil, bem como se a localização escolhida para instalação do empreendimento está em local permitido, privilegiando espaços verdes, abertos, e que proporcione aos moradores o uso de transportes alternativos, como ônibus, veículos de baixa emissão e bicicletas. 20 Em seguida, apresenta-se o critério de eficiência no uso da água, focado principalmente na redução do consumo e reutilização da água consumida. Propõe-se atingir os requisitos do critério através da instalação de equipamentos de baixo consumo, como torneiras e chuveiros com sensores infravermelhos ou de pressão, além de vasos sanitários com duplo acionamento. Equipamentos de igual importância, são tanques para armazenamento de águas pluviais e sistema de irrigação projetado e automatizado, alinhado a um projeto de paisagismo que contemple o uso de espécies regionais, que necessitam de menos água. Tratando de eficiência energética, os utilizadores do imóvel devem estar atentos às manutenções preventivas da rede através da elaboração de um plano de comissionamento avançado de energia, especificando os dispositivos, acessórios e condições para execução dos testes, em acordo com as normas e procedimentos requeridos. O sistema de refrigeração não poderá em hipótese alguma utilizar gases com presença de CFC, visto que este produto causa imensa degradação ambiental. A arquitetura da edificação deve contemplar a ventilação e iluminação natural, para que o uso desnecessário de refrigeração e iluminação artificial seja minimizado. As especificações das lâmpadas das áreas comuns devem ser de LED ou fluorescentes compactas do tipo T5. O Projeto deve ainda prever a geração e o uso de energias renováveis, destacando a eólica e a eletrovoltaica, através da instalação de equipamentos geradores de energia. Quanto aos materiais e recursos utilizados no imóvel, deve ser adotado durante a construção, a estocagem e coleta de materiais reutilizáveis, se possível e caso seja aplicável, manter partes da construção já existente no terreno, reutilizar materiais destinados ao bota fora, utilização de materiais recicláveis na construção, de materiais extraídos, processados e fabricados na região, uso de materiais rapidamente renováveis e de madeira certificada. Em relação à qualidade ambiental interior, o projeto deverá estabelecer o mínimo de qualidade do ar interior dos edifícios, contribuindo para conforto e bem estar dos usuários. Proibir o consumo do tabaco nas áreas comuns internas do edifício, e instalar área apropriada, ao ar livre e respeitando o afastamento mínimo da edificação, para tal. Promoção do uso de materiais durante a construção com baixa emissão de contaminantes do ar, como tintas e vernizes. O critério de inovações de projeto dá oportunidade às equipes de projeto, a obtenção de pontos devido aos desempenhos excepcionais. Como exemplo, deve-se tomar a iniciativa da C. Rolim Engenharia, que instituiu o compromisso verde. Tal iniciativa 21 divulgada no site da empresa, afirma que para cada metro quadrado de terreno construído será plantado uma árvore em local público da cidade, como forma de compensar as emissões de poluentes e aumentar a cobertura vegetal da cidade. Por fim, prioridades regionais, na qual são contempladas as diversidades regionais de países extensos como o Brasil, onde a aplicação de certos materiais não devem ser utilizados em todas as regiões. 2.7 Processo de certificação O processo de certificação tem início com o registro do projeto junto ao sistema. Em seguida, é feita a coleta de informações necessárias para apresentação ao LEED. De posse das informações, se faz necessário o preenchimento de memoriais e a preparação de algumas plantas para serem enviados ao organismo certificador. Esta etapa deve ser inteiramente realizada na fase de projeto do empreendimento, ou seja, a obra não deve ter sido iniciada até o momento. Após iniciada a obra, há uma nova coleta e envio de documentos, estes referentes às atividades desempenhadas na construção. A fase final da certificação tem início com o treinamento dos usuários para ocupação do edifício, seguido pelo uso e operação da edificação, para então realizar-se a análise final para certificação. A figura 2.4 mostra o fluxograma do processo de certificação: Figura 2.4 – Fluxograma de registro de projetos Fonte: Autor 22 Kibert (2008) informa que até a metade do ano de 2006, nos EUA, pouco menos de quatrocentos empreendimentos foram certificados no LEED-NC, contra mais de três mil registrados. A representatividade dos empreendimentos LEED no Brasil vem aumentando significativamente a cada ano, principalmente após a criação do GBC Brasil. A figura 2.5 mostra que o número de registros – no ano e acumulado – supera em muito o número de certificados LEED nos mesmos parâmetros, fortificando a idéia de que para obter a certificação o que o sistema exige deve rigorosamente ser cumprido. Os projetos certificados antes da criação do GBC Brasil, aparecem na figura: Figura 2.5 – Registros e certificações LEED no Brasil. Fonte: GBC BRASIL 2.8 Estimativas de custos para a certificação A imagem de certificações e etiquetagens para muitas empresas construtoras e incorporadoras representa apenas um novo centro de custo a fim de atender exigências de bancos, clientes ou legais. Um dos obstáculos para a implementação de projetos sustentáveis é o modelo atual de contratação, locação e venda, pois as empresas incorporadoras e construtoras não necessariamente receberão os benefícios de economia de recursos gerados no empreendimento. O quadro a 2.4 estima o custo da certificação de empreendimentos no sistema LEED. 23 Quadro 2.4. Estimativa de custos para certificação Até 4.645,0 m² Registro do Projeto US$600,00 Até 46.451,0 m² Mais de 46.451,0 m² US$600,00 US$600,00 US$1.500,00+ US$15.000,00 junto ao USGBC Análise de Projeto US$1.500,00 US$0,32/m² Certificação Obra US$750,00 US$750,00+ US$7.500,00 US$0,016/m² Consultoria De 0,5 a 1,0% De 0,5 a 1,0% De 0,5 a 1,0% (Não obrigatória)* do custo da obra do custo da obra do custo da obra *Recomenda-se a contratação do consultor, que é um profissional treinado e qualificado pelo LEED, para tramitar toda a documentação junto ao conselho Fonte: Adaptado de GBC BRASIL O USGBC estima ainda que as melhorias implementadas a fim de obter a certificação de empreendimentos nos padrões LEED, variam de acordo com o nível de certificação que o projeto deseja obter, como segue disposto no quadro 2.5: Quadro 2.5. Estimativa de custos para certificação – por nível Nível de Certificação Estimativa de custo Certificado De 0,5 a 1,0% do custo da edificação Prata De 1,0 a 2,0% do custo da edificação Ouro De 2,0 a 4,0% do custo da edificação Platina De 4,0 a 7,0% do custo da edificação Fonte: Adaptado de GBC BRASIL Neste capítulo foram abordados conceitos e considerações sobre sustentabilidade, consumo energético, desperdício e perdas na construção civil, justificando a criação dos organismos certificadores de construções sustentáveis. Mostrou-se também a atuação de alguns sistemas no Brasil, em especial o sistema estudado neste trabalho, o LEED. 24 3. METODOLOGIA Neste capítulo será apresentado o empreendimento a ser avaliado neste trabalho, bem como a forma como será realizado o estudo de caso. 3.1 Descrição do Empreendimento O empreendimento em questão é de um complexo de quatro edifícios residenciais, com projetos aprovados pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, e obras iniciadas no mês de julho de 2008 e conclusão prevista em julho de 2011. Cada edifício é composto por 16 pavimentos, divididos em pavimento térreo com seis unidades e salão de festas, catorze pavimentos tipo com sete unidades cada, um pavimento coberta com cinco unidades, caixa d’água e laje de segurança. Cada torre conta ainda com dois elevadores sociais e um de serviço. As áreas comuns do empreendimento estão equipadas com 02 portarias, 872 vagas de estacionamento – distribuídas entre pavimento térreo e três andares de edifício garagem, salão de festas, academia, salão de jogos, vestiários para funcionários diaristas, piscina, quadras de esporte, praças de convivência, equipamentos de ginástica, riacho artificial, pistas de skate, e pista de cooper. A incorporadora disponibilizou para seus clientes cinco opções de planta, com cozinha/serviço e dois banheiros cada, e variando o número de dormitórios, de um a três, dimensões da sala de estar e jantar e existência ou não de escritório, perfazendo uma área privativa de 57,03m². O sistema construtivo é convencional, com fundações profundas do tipo hélicecontínua monitorada, estrutura em laje nervurada (61x61x21cm) unidirecional, em concreto armado protendido (89,00m³ por laje) sem vigamento de bordo, somente três vigas externas para contraventamento, com utilização de fôrmas de pilares em madeira, cimbramento e escoramento metálico. Alvenarias periféricas de vedação são em bloco cerâmico, internas em blocos de gesso alveolares, pavimentação em cerâmica (PEI-5), esquadrias internas de madeira e externas em alumínio natural com vidros verdes. As áreas molhadas – varandas e banheiros – são impermeabilizadas com manta asfáltica. O revestimento externo é em textura com detalhes em cerâmica. A figura 3.1 mostra a planta de situação do empreendimento, onde é possível observar a projeção de cada uma de suas quatro torres residenciais e do edifício garagem, bem 25 como das áreas de estacionamento descobertas. Observa-se também as áreas de lazer, com piscina, quadras e pista de cooper. Figura 3.1 – Planta de situação do empreendimento Fonte: Fornecido pela Incorporadora responsável 3.2 Estudo de caso A partir da metodologia do sistema LEED, para fachada e núcleo, Core and Shell (CS), versão 3.0, apresentada anteriormente, será feita a análise de cada um dos pré-requisitos e critérios necessários para que a simulação da certificação do empreendimento ocorra. Ao final da análise, será apresentado um checklist resumo, sintetizando o desempenho da edificação. Em seguida, serão apresentadas sugestões de melhoria, que caso implementadas, gerariam uma maior quantidade de pontos para o empreendimento. Para que o processo de certificação ocorra, alguns pré-requisitos, cujo atendimento é obrigatório, são estabelecidos ao início de cada um dos sete critérios de avaliação. Para efeito da pesquisa, consideraremos que o empreendimento em cheque atende a todos os pré-requisitos. A análise será executada por meio da verificação ao atendimento aos requisitos dispostos em cada crédito. Caso o empreendimento atenda aos requisitos mínimos de cada crédito, lhe será atribuído a pontuação total do crédito em questão. É válido ressaltar que para o sistema LEED, não é possível a obtenção parcial de créditos, ou seja, caso um critério tenha valor de 1 ponto, e o empreendimento não atenda a este critério por completo, o empreendimento então não poderá pontuará neste critério. 26 Em cada critério de avaliação, alguns documentos, projetos arquitetônicos, projetos complementares e memoriais descritivos, devem ser consultados para se confirmar o atendimento aos requisitos. A forma de apresentação padrão dos créditos se dá através de três tipos de documentos: declaração padrão LEED – que é um formulário padrão do sistema – plantas e memoriais descritivos de projetos e sistemas, e cálculos. Como não se teve acesso às declarações padrão LEED, a apresentação das justificativas para obtenção dos créditos se dará ao longo desta seção, em conjunto com os documentos complementares. 27 4. RESULTADOS Neste capítulo os critérios de avaliação do sistema LEED serão aplicados ao empreendimento, justificando a obtenção ou não dos pontos. Ao final será preenchida uma tabela resumo, com a pontuação de cada critério, e o total de pontos obtidos. Por fim, serão propostas melhorias a serem implementadas no empreendimento para elevação da pontuação obtida. 4.1 4.1.1 Sustentabilidade do Espaço Pré-requisito 1 – Prevenção da poluição na atividade da construção Tem por objetivo a redução da poluição gerada pelas atividades da construção, através do controle de erosão do solo, sedimentação dos cursos da água e a geração de poeiras. A confirmação do atendimento ao requisito vem pelo fato de que os padrões locais de controle de erosão e sedimentação são mais exigentes que a exigência do sistema. 4.1.2 Crédito 1 – Seleção do local do empreendimento O empreendimento não está implantado em áreas não apropriadas, reduzindo o impacto ambiental da implantação, atendendo às seis exigências previstas nesta seção. 4.1.3 Crédito 2 – Densidade urbana e conexão com a comunidade Segue a figura 4.1, contendo foto de satélite ressaltando a localização do empreendimento com dez serviços básicos listados em um raio de 800m. 28 Legenda: 1: Correios 2: Centro Comercial 9 10 11 12 7 85 6 12 3: Clínica Médica 4: Salão de Beleza 5: Supermercado 6: Restaurante 7: Academia 3 40 8: Farmácia 9: Igreja 10: Escola 11 e 12: Parada Ônibus Figura 4.1 – Mapa de serviços básicos Fonte: GOOGLE 4.1.4 Crédito 3 – Remediação de áreas contaminadas O terreno escolhido para instalação da edificação não apresentava nenhuma contaminação, portanto, nada foi feito no aspecto de descontaminação do solo. 4.1.5 Crédito 4.1 – Alternativa de transporte, acesso ao transporte público Observam-se duas paradas de ônibus bastante próximas ao empreendimento. Uma a 10m e outra a 130m. A figura 4.1 – Mapa de serviços básicos apresentada anteriormente indica as localizações. 4.1.6 Crédito 4.2 – Alternativa de transporte, bicicletário e vestiário O empreendimento está equipado com vestiário para funcionários diaristas, mas embora dispondo de grandes áreas comuns, a instalação de bicicletário não está prevista, fazendo com que a obtenção da pontuação neste crédito não seja possível. 29 4.1.7 Crédito 4.3 – Alternativa de transporte, uso de veículos de baixa emissão Não há no estacionamento do empreendimento nenhuma vaga preferencial demarcada para veículos de baixa emissão, embora existam dez vagas reservas, cujo uso não foi ainda definido. 4.1.8 Crédito 4.4 – Alternativa de transporte, redução da área de estacionamento Embora o estacionamento do empreendimento contemple vagas de garagem para todos os ocupantes, tais demarcações não levam em conta vans e vagas para rodízio de automóveis e programas que incentivem rodízio entre os moradores. 4.1.9 Crédito 5.1 – Desenvolvimento do espaço, proteção e restauração do habitat De acordo com os projetos: - Área do terreno = 16.378,62m² - Área das edificações = 5.418,55m² - Área verde = 6.443,15m² - Área do terreno – área da edificação = 10.960,07m² Como o empreendimento está localizado em uma área urbanizada, este crédito pede que se restaure e proteja no mínimo 50% da área do terreno, excluindo a projeção do edifício, com vegetação nativa e adaptada. A taxa do empreendimento é de 58,79%. 4.1.10 Crédito 5.2 – Desenvolvimento do espaço, maximizar espaços abertos De acordo com os projetos: - Requisito de zoneamento local = 16.378,62m² x 30% = 4.913,60m² - Área a ser acrescida ao zoneamento local = 4.913,60 x 0,25 = 1.228,40m² - Área mínima de área verde no terreno = 4.913,60 + 1.228,40m² = 6.142,00m² - Área verde do terreno = 6.443,15m² > 6.142,00m² (mínimo requisitado) 4.1.11 Crédito 6.1 – Controle da enxurrada, controle da quantidade Não está previsto no empreendimento, um plano de gerenciamento de águas, visando o controle da quantidade de águas pluviais. 30 4.1.12 Crédito 6.2 – Controle da enxurrada, controle da qualidade Não está previsto no empreendimento, um plano de gerenciamento de águas, visando o tratamento de águas pluviais. 4.1.13 Crédito 7.1 – Redução da ilha de calor, áreas cobertas A pavimentação do térreo do estacionamento do empreendimento, bem como dos passeios e pista de cooper é de piso intertravado com malha aberta, ou seja, permeável e de cor cinza claro. 4.1.14 Crédito 7.2 – Redução da ilha de calor, áreas descobertas Os telhados da edificação são de alumínio natural, atendendo às especificações de índice de refletância e emitância dos materiais pré-estabelecidos. 4.1.15 Crédito 8 – Redução da poluição luminosa O empreendimento não dispõe de projeto luminotécnico previamente definido. 4.1.16 Crédito 9 – Guia de projetos e construções sustentáveis para ocupantes É disponibilizado pela construtora o manual do proprietário e manual do síndico para cada uma das unidades, contendo informações relevantes em como plantas de estrutura, instalações e formas de utilização e manutenção do imóvel voltadas a reduzir o consumo de água e energia. 4.2 4.2.1 Uso racional da água Pré-requisito 1 – Redução do uso da água em 20% Objetiva a redução do consumo de água do edifício em 20%, frente ao consumo médio padrão. O empreendimento teria obrigatoriamente que se adequar a este pré-requisito. 4.2.2 Crédito 1 – Uso eficiente da água no paisagismo O empreendimento não conta com projeto de irrigação, embora disponha de uma grande área verde, com plantas de pequeno e grande porte. 31 4.2.3 Crédito 2 – Tecnologias inovadoras para águas servidas O empreendimento não possui sistema de tratamento de esgoto próprio nem utiliza louças sanitárias dotadas de tecnologia que venha a reduzir a geração de esgoto, como por exemplo válvulas de duplo fluxo. 4.2.4 Crédito 3 – Redução do consumo de água No Brasil, louças e metais sanitários dispostos de tecnologia por pressão ou temporizador possuem custo elevado, não estando portanto disponíveis em linhas de produtos mais básicas, como as utilizadas no empreendimento. 4.3 4.3.1 Energia e atmosfera Pré-requisito 1 – Comissionamento dos sistemas de energia Objetiva verificar se os sistemas prediais de energia (climatização, iluminação, água quente e energia limpa) estão instalados, calibrados e desempenhando conforme a demanda do cliente e do projeto. Para isso, é necessário a elaboração de um plano de manutenção preventiva, nomeando um profissional responsável para tal, bem como a definição dos critérios a serem inspecionados, com emissão de relatório final. Segundo o Manual do Síndico, no empreendimento analisado a verificação deverá ocorrer sob coordenação do síndico administrador do condomínio, mas este manual não requere a elaboração de um plano preventivo, tampouco emissão de relatório final. 4.3.2 Pré-requisito 2 – Performance mínima de energia Estabelece um nível mínimo de eficiência energética para os sistemas prediais propostos, atendendo às previsões obrigatórias da norma ASHRAE/IESNA Standard 90.12004. 4.3.3 Pré-requisito 3 – Gestão dos gases refrigerantes Não permite que sejam usados fluidos refrigerantes à base de CFC, nos sistemas de base de aquecimento, ventilação, ar-condicionado e refrigerantes de projeto. No Brasil, isso não é permitido desde a assinatura do Protocolo de Montreal. 32 4.3.4 Crédito 1 – Otimização do desempenho no uso de energia Este crédito não foi avaliado, pois, para sua avaliação, se faz necessário uma simulação computacional de energia, para demonstrar que o edifício projetado tem desempenho superior à referência dada pela ASHRAE/IESNA Std. 90.1-2004. Coelho (Carimbo verde, REVISTA TÉCHNE, edição 155, ano 2010) aponta que a principal dificuldade enfrentada no processo de certificação é encontrar profissionais capacitados para fazer simulações de desempenho energético dos prédios a fim de coprovar a eficiência do edifício. Estão disponíveis softwares gratuitos e pagos, sofisticados e simples, porém, todos requerem a inserção correta dos dados para que os resultados obtidos sejam confiáveis. 4.3.5 Crédito 2 – Geração local de energias renováveis Nenhum método de geração de energia local foi projetado para o empreendimento, mesmo dispondo de grandes áreas comuns. 4.3.6 Crédito 3 – Melhoria no comissionamento Não há registros oficiais da nomeação de um profissional responsável por melhorar o comissionamento do empreendimento após o início de sua utilização, bem como efetuar as revisões e manutenções necessárias. Contudo, no manual do síndico, elaborado e entregue ao condomínio pela construtora, recomenda-se que tais ações sejam lideradas pelo síndico do condomínio. 4.3.7 Crédito 4 – Melhoria no uso de gases refrigerantes Uma vez que o uso de gases refrigerantes possui controle rígido por parte das autoridades brasileiras, os equipamentos de climatização projetados para o condomínio seguem as especificações previstas em normas técnicas. 4.3.8 Crédito 5.1 – Medições e verificações Não está previsto no empreendimento um plano de medições e verificações dos sistemas de medição. 4.3.9 Crédito 5.2 – Medições e verificações: medição individual 33 O empreendimento conta com medidores individuais de água e esgoto, energia e gás para cada unidade. 4.3.10 Crédito 6 – Energia verde, mínimo 35% do consumo O empreendimento não será dotado de nenhuma forma de geração de energia verde, como eólica ou fotovoltaica. 4.4 4.4.1 Materiais e recursos Pré-requisito 1 – Depósito e coleta de materiais recicláveis A coleta seletiva é praticada no pavimento térreo de cada torre, onde há uma área facilmente acessível para estocagem e segregação de resíduos recicláveis (papel e papelão, vidros, plásticos e metais). 4.4.2 Crédito 1.1 – Reuso do edifício, manter paredes, forros e coberturas O empreendimento a ser instalado propõe a demolição completa da edificação existente, sem aproveitamento algum, com exceção dos muros de demarcação do terreno e rede de drenagem de águas pluviais, não sendo possível portanto, a pontuação neste crédito. 4.4.3 Crédito 1.2 – Reuso do edifício, manter 50% dos elementos interiores não-estruturais O empreendimento a ser instalado propõe a demolição completa da edificação existente, rejeitando aproveitamento inclusive de materiais internos, como pisos, paredes não estruturais e forros. 4.4.4 Crédito 2 – Gestão de resíduos da construção Está previsto para a construção do empreendimento, um plano de de gerenciamento de resíduos da construção civil (PGRCC). Entretanto, neste PGRCC não está explícito o reaproveitamento e a reciclagem dos resíduos da construção, pois o destino final é de responsabilidade da empresa responsável pela retirada, transporte e descarrego do material em local apropriado. 4.4.5 Crédito 3 – Reuso de materiais, no mínimo 5% do custo dos materiais 34 Embora estejam previstos a utilização de alguns materiais reutilizados, devido à ordem de grandeza do valor do empreendimento, esta taxa não supera os 5% mínimos necessários. 4.4.6 Crédito 4 – Conteúdo reciclado Não há previsão registrada da utilização de materiais reciclados (pré ou pós- consumo). 4.4.7 Crédito 5 – Materiais regionais, extraído, processado e fabricado regionalmente Os materiais extraídos, processados e fabricados a uma distância de até 804km não superam os 10% mínimos do custo total de materiais orçados para o projeto. 4.4.8 Crédito 6 – Materiais de rápida renovação, no mínimo 2,5% do total utilizado Embora estejam previstos a utilização de alguns materiais de rápida renovação, devido à ordem de grandeza do valor do empreendimento, esta taxa não supera os 2,5% mínimos necessários. 4.4.9 Crédito 7 – Madeira certificada, no mínimo 50% do custo de madeira total utilizado A madeira utilizada no empreendimento é certificada em mais de 50% do seu total. 4.5 4.5.1 Qualidade ambiental interna Pré-requisito 1 – Desempenho mínimo da qualidade do ar interno As áreas ventiladas de forma natural, atendem às exigências de localização e tamanho de abertura das janelas, uma vez que o projeto de arquitetura foi aprovado para construção pela Prefeitura Municipal de Fortaleza. 4.5.2 Pré-requisito 2 – Controle do fumo É proibido fumar nas áreas comuns do interior do edifício, bem como a vedação entre as unidades e as áreas comuns está garantida. 4.5.3 Crédito 1 – Monitoramento do ar externo 35 Não está previsto o monitoramento da performance operacional do sistema de ventilação com ajuste operacional do edifício. 4.5.4 Crédito 2 – Aumento da ventilação Não há previsão de instalação de um sistema para aumento da ventilação no interior do edifício. 4.5.5 Crédito 3 – Plano de qualidade do ar, durante a construção Não está prevista a existência de um plano de gerenciamento de construção QAI (Qualidade do Ar Interno). 4.5.6 Crédito 4.1 – Materiais de baixa emissão – adesivos e selantes Todos os adesivos e selantes aplicados na obra atendem às limitações e restrições que concerne a componentes químicos estabelecidos pelos seguintes padrões: South Coast Air Quality Management District e Green Seal Standard. 4.5.7 Crédito 4.2 – Materiais de baixa emissão – tintas e vernizes Todas as tintas e vernizes utilizados na obra atendem às limitações e restrições que concerne a componentes químicos estabelecidos pelo padrão Green Seal Standard. 4.5.8 Crédito 4.3 – Materiais de baixa emissão – carpetes O material carpete não será utilizado como pavimentação em nenhum setor do empreendimento. 4.5.9 Crédito 4.4 – Materiais de baixa emissão – madeiras compostas e agrofibras Não está previsto o uso de materiais que contenham resina sem adição de uréia- formaldeído. 4.5.10 Crédito 5 – Controle interno de poluentes e produtos químicos Este projeto não conta com sistema de entrada, não sendo possível seguir este crédito. 36 4.5.11 Crédito 6 – Controle de sistemas, conforto térmico O empreendimento não pode obter este crédito por não contar com sistema mecânico de ventilação em suas áreas comuns. 4.5.12 Crédito 7 – Conforto térmico, projeto Todos os apartamentos do edifício são voltados para o nascente e protegidos pela caixa de elevador e caixa de escada, além da parede do hall social, reduzindo, portanto, o aquecimento de paredes internas por incidência solar. 4.5.13 Crédito 8.1 – Iluminação natural e paisagem, para 75% dos espaços As áreas comuns no interior do edifício possuem alvenaria de vedação com altura de 1,30m, ou estão vedadas por esquadrias de alumínio com vidro, permitindo, portanto, a entrada de iluminação natural no interior do edifício. 4.5.14 Crédito 8.2 – Iluminação natural e paisagem, para 90% dos espaços A meta foi atingida no crédito anterior, não sendo suficiente para este crédito. 4.6 4.6.1 Inovação e processos do projeto Crédito 1.1 a 1.5 – Inovação ou performance exemplar Não foi encontrado no projeto do empreendimento nenhum item que pudesse atender ao especificado neste crédito. 4.6.2 Crédito 2 – Profissional acreditado LEED O empreendimento não conta com a consultoria e o auxílio de nenhum profissional acreditado LEED. 4.7 4.7.1 Créditos regionais para o Brasil Crédito 1.1 – Adequação da acessibilidade externa e interna O acesso à edificação pode ser feito por meio de rampas com inclinação máxima atendendo à legislação brasileira. 37 4.7.2 Crédito 1.2 – Plano de impacto ambiental do empreendimento Não há registros da elaboração de um plano deste caráter para o empreendimento. 4.7.3 Crédito 1.3 – Redução do consumo de água – medição setorizada A medição de água no empreendimento é feito de forma setorizada e individual, onde cada unidade possui seu próprio medidor. 4.7.4 Crédito 1.4 – Aquecimento solar – redução de 50% ou 100% do consumo Não há previsão de instalação de sistema de aquecimento solar no empreendimento. 4.7.5 Crédito 1.5 – Gestão de resíduos da construção – limitar o desperdício Faz parte do sistema de gestão de obras da construtora responsável pela execução da obra, o uso de indicadores de desempenho, dentre os quais há um para monitorar a quantidade de entulho gerados por período. A limitação do desperdício na obra é feita também por meio do controle de estoque de materiais, pré-calculado para disponibilização do material no local de trabalho. 4.7.6 Crédito 1.6 – Reuso dos materiais – projetar para o desmonte Não há registro de projetos para desmobilização futura da obra. 4.8 Checklist do projeto A partir da análise estratificada de cada crédito realizada anteriormente, é possível preencher o cheklist representado no Quadro 4.1 a seguir, sintetizando a simulação do processo de certificação. 38 Quadro 4.1 – Checklist do Projeto LEED 2009 – C&S Nome do Projeto: JARDINS RESIDENCE CLUB Data: SETEMBRO/2010 17 0 S N S 1 5 0 6 0 0 0 1 1 0 0 1 1 0 1 0 Sustentabilidade do Espaço ? 0 S S 0 0 Uso racional da água ? 0 N Pré-Requisito 1 Prevenção da poluição na atividade da construção Crédito 1 Seleção do terreno Crédito 2 Densidade urbana e conexão com a comunidade Crédito 3 Remediação de áreas contaminadas Crédito 4.1 Alternativa de transporte - Acesso ao transporte público Crédito 4.2 Alternativa de transporte - Bicicletário e vestiário Crédito 4.3 Alternativa de transporte - Uso de veículos de baixa emissão Crédito 4.4 Alternativa de transporte - Redução área de estacionamento Crédito 5.1 Desenvolvimento do espaço - Proteção e restauração do habitat Crédito 5.2 Desenvolvimento do espaço - Maximinizar espaços abertos Crédito 6.1 Controle da enxurrada - Controle da quantidade Crédito 6.2 controle da enxurrada - Controle da qualidade Crédito 7.1 Redução da ilha de calor - Áreas cobertas Crédito 7.2 Redução da ilha de calor - Áreas descobertas Crédito 8 Redução da poluição luminosa Crédito 9 Guia de projetos e construção sustentáveis para ocupantes Pré-Requisito 1 Redução do uso da água em 20% Crédito 1 Uso eficiente de água no paisagismo 0 Redução de 50% 0 Uso de água não potável ou sem irrigação 0 0 Crédito 2 Tecnologias inovadoras para águas servidas Crédito 3 Redução do consumo de água 0 30% de redução 0 35% de redução 0 40% de redução 5 S S S S 0 0 N Pontos Possíveis: 28 0 Energia e atmosfera ? Pré-Requisito 1 Comissionamento dos sistemas de energia Pré-Requisito 2 Performance mínima de energia Pré-Requisito 3 Gestão dos gases refrigerantes Crédito 1 Otimização do desempenho no uso de energia 1 5 1 6 2 3 2 1 1 1 1 1 1 1 1 Pontos Possíveis: 10 2a4 2 4 2 2a4 2 3 4 Pontos Possíveis: 35 3 a 21 39 Quadro 4.1 – Checklist do Projeto (Continuação) LEED 2009 – C&S Nome do Projeto: JARDINS RESIDENCE CLUB Data: SETEMBRO/2010 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 1a4 4 2 2 3 3 2 12% Prédios novos ou 8% Prédios reformados 14% Prédios novos ou 10% Prédios reformados 16% Prédios novos ou 12% Prédios reformados 18% Prédios novos ou 14% Prédios reformados 20% Prédios novos ou 16% Prédios reformados 22% Prédios novos ou 18% Prédios reformados 24% Prédios novos ou 20% Prédios reformados 26% Prédios novos ou 22% Prédios reformados 28% Prédios novos ou 24% Prédios reformados 30% Prédios novos ou 26% Prédios reformados 32% Prédios novos ou 28% Prédios reformados 34% Prédios novos ou 30% Prédios reformados 36% Prédios novos ou 32% Prédios reformados 38% Prédios novos ou 34% Prédios reformados 40% Prédios novos ou 36% Prédios reformados 42% Prédios novos ou 38% Prédios reformados 44% Prédios novos ou 40% Prédios reformados 46% Prédios novos ou 42% Prédios reformados 48% Prédios novos ou 44% Prédios reformados Geração local de energia renovável Crédito 2 0 1% Energia Renovável 0 2 0 3 0 1 S S 0 0 N Crédito 3 Melhoria no comissionamento Crédito 4 Melhoria no uso gases refrigerantes Crédito 5.1 Medições e verificações Crédito 5.2 Medições e verificações: medição individual Crédito 6 Energia verde - Mínimo 35% do consumo 0 Materiais e recursos ? Pontos Possíveis: 13 Pré-Requisito 1 Depósito e coleta de materiais recicláveis Crédito 1.1 Reuso do edifício - Manter paredes, forros e coberturas 0 0 0 0 0 Reuso de 25% Reuso de 33% Reuso de 42% Reuso de 50% Reuso de 75% 1a5 1 2 3 4 5 40 Quadro 4.1 – Checklist do Projeto (Continuação) LEED 2009 – C&S Nome do Projeto: JARDINS RESIDENCE CLUB Data: SETEMBRO/2010 0 Crédito 1.2 0 Crédito 2 Reuso do edifício - Manter 50% elementos interiores não estruturais Gestão de resíduos da construção 0 Destinar 50% para reuso 0 Destinar 75% para reuso 0 0 Crédito 3 Reuso de materiais - no mínimo 5% do custo dos materiais Crédito 4 Conteúdo reciclado 0 No mínimo 10% (pos-consumo + ½ pre-consumo) 0 No mínimo 20% (pos-consumo + ½ pre-consumo) 0 Crédito 5 Materiais Regionais, extraído, processado e fabricado regionalmente 0 No mínimo 10% Extraído, Processado e Fabricado Regionalmente 0 No mínimo 20% Extraído, Processado e Fabricado Regionalmente 0 1 5 S S S 0 0 0 1 1 0 1 0 0 1 1 0 0 N 0 0 0 0 Crédito 6 Materiais de Rápida renovação, no mínimo 2,5% do total utilizado Crédito 7 Madeira Certificada, no mínimo 50% custo de madeira total utilizado 0 Qualidade ambiental interna ? Desempenho mínimo da qualidade do ar interno Pré-Requisito 2 Controle do fumo Crédito 1 Monitoramento do Ar Externo Crédito 2 Aumento da Ventilação Crédito 3 Plano de Qualidade do Ar, durante a construção Crédito 4.1 Materiais de baixa emissão, adesivos e selantes Crédito 4.2 Materiais de baixa emissão, tintas e vernizes Crédito 4.3 Materiais de baixa emissão, carpetes Crédito 4.4 Materiais de baixa emissão, madeiras compostas e agrofibras Crédito 5 Controle interno de poluentes e produtos químicos Crédito 6 Controle de sistemas, conforto térmico Crédito 7 Conforto térmico, projeto Crédito 8.1 Iluminação natural e paisagem, para 75% dos espaços Crédito 8.2 Iluminação natural e paisagem, para 90% dos espaços Crédito 1.1 Inovação ou Performance exemplar Crédito 1.2 Inovação ou Performance exemplar 1a2 1 2 1 1a2 1 2 1a2 1 2 1 1 Pontos Possíveis: 12 Pré-Requisito 1 0 Inovação e processos do projeto 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Pontos Possíveis: 6 1 1 41 Quadro 4.1 – Checklist do Projeto (Continuação) LEED 2009 – C&S Nome do Projeto: JARDINS RESIDENCE CLUB Data: SETEMBRO/2010 0 0 0 0 3 0 1 0 1 0 1 0 31 0 Crédito 1.3 Inovação ou Performance exemplar Crédito 1.4 Inovação Crédito 1.5 Inovação Crédito 2 Profissional Acreditado LEED® 0 Créditos regionais para o Brasil 1 1 1 1 Pontos Possíveis: 6 Crédito 1.1 Adequação da acessibilidade externa e interna Crédito 1.2 Plano do impacto ambiental do empreendimento Crédito 1.3 Redução do consumo de água - medição setorizada Crédito 1.4 Aquecimento solar - redução de 50% ou 100% do consumo Crédito 1.5 Gestão de resíduos da construção - limitar o desperdício Crédito 1.6 Reuso dos materiais - projetar para o desmonte 0 Total Certificado: 40 a 49 pontos 1 1 1 1 1 1 Pontos Possíveis: 110 Prata: 50 a 59 pontos Ouro: 60 a 79 pontos Platina: 80 a 110 pontos Como a pontuação obtida pelo empreendimento foi menor que o mínimo necessário, não é possível que este empreendimento com seu projeto original seja certificado no sistema LEED. 4.9 Melhorias a serem implementadas Esta seção propõe algumas melhorias que, caso implementadas garantirão a certificação do empreendimento no sistema LEED. No total, caso aplicadas, as melhorias somam um total de 16 pontos a serem somados nos pontos obtidos na análise anterior. 4.9.1 Melhorias no critério Espaço Sustentável A instalação de bicicletário para um mínimo de 15% dos ocupantes do empreendimento garante a obtenção de 2 pontos; 42 Limitar 5% da capacidade do estacionamento para veículos de baixa emissão e veículos de baixa eficiência, assegura 3 pontos; A instalação de energia fotovoltaica e eólica no empreendimento, através da instalação de aerogeradores e placas captadoras de energia solar, garantem 4 pontos. 4.9.2 Melhorias no critério Uso Racional da Água O desenvolvimento de um paisagismo com uso eficiente da água, através da escolha de espécies de plantas que requerem um baixo consumo de irrigação, aliados a um sistema de irrigação eficiente, com reaproveitamento de água pluviais e reaproveitamento de águas servidas (recicladas), contribui com 2 pontos; Instalação de uma estação de tratamento de esgoto, para tratar no mínimo 50% do esgoto gerado no empreendimento, a padrões terciários de águas servidas, visando a reutilização desta água pelo sistema de irrigação; 2 pontos; Optar pelo uso de louças e metais de baixo consumo, como os vasos sanitários com caixa acoplada de descarga de 3 ou 6 litros, torneiras com acionamento por presença ou por pressão; 2 pontos. 4.9.3 Melhorias no critério Materiais e Recursos Incluir no plano de gestão de resíduos sólidos, a reciclagem de materiais provenientes de embalagens, como caixas de cerâmica, sacos de argamassa, cimento e etc., resíduos de construção e demolição, como tijolos, argamassas, concretos e etc.; 1 ponto. 43 5. CONCLUSÃO A necessidade de certificar ambientalmente empreendimentos da indústria da construção civil se faz cada vez mais imprescindível. Entretanto, deve-se observar que os sistemas certificadores devem exigir e avaliar soluções específicas de acordo com normas, costumes e técnicas construtiva de cada país. O sistema LEED, embora disponibilize uma quantidade de pontos para particularidades brasileiras, ainda é quase que em sua totalidade voltado ao atendimento de normas técnicas norte-americanas, fazendo com que alguns itens da avaliação sejam vistos como inviáveis de se cumprir, ou algumas vezes, sem sentido de serem avaliados. É válido ressaltar também que o sistema conta com alguns critérios de complexidades distintas, mas de pontuação semelhante. A certificação do empreendimento estudado em seu projeto original, não foi obtida, contudo, observa-se que embora a lista de critérios a se cumprir seja extensa, muitos são de baixa complexidade. Percebe-se também a grande importância dos arquitetos e engenheiros projetistas, visto que diversos critérios avaliam especificações e desempenho do produto. O sistema LEED conta ainda com alguns critérios que vão contra a tendência de mercado, ao solicitar redução da área de estacionamento e reuso de paredes, forros e coberturas dos edifícios existentes. 5.1 Dificuldades observadas Dentre as dificuldades encontradas para a realização deste trabalho, destacam-se como as mais relevantes, a dificuldade de acesso às normas técnicas e documentações legais exigidas para comparativos dos projetos. Também a falta de detalhamento dos projetos elaborados para execução do empreendimento. 5.2 Sugestões para trabalhos futuros Como sugestão para trabalhos futuros, recomenda-se a tomada de preços para implementação das melhorias exigidas pelo sistema, bem como a estimativa financeira das economias futuras a serem obtidas pelos usuários e a realização de estudos de simulação no consumo de energia. 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOSSIAÇÃO NACIONAL DE ARQUITETURA BIOECOLÓGICA. Site oficial www.anabrasil.org/arquitetura CORRÊA, L. R. Sustentabilidade na Construção Civil. 2009. Tese (Especialização em Engenharia Civil) – Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução n. 307 de 5 de julho de 2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. C. ROLIM ENGENHARIA. Site oficial www.crolim.com.br CSILLAG, D., JOHN, V. M. 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