1 O Ensino de Geografia: a prática de ensino segundo as lembranças do (a)s professores (as) Prof. M.e. Amarildo Gomes Pereira Este texto tem por objetivo apresentar os enunciados publicados no Fórum I pelos docentes participantes desde curso e tecer algumas reflexões sobre o ensino de geografia. O conteúdo de suas de suas falas provém das recordações das aulas de Geografia quando alunos e alunas. Observando os enunciados, identificamos indícios de uma prática de ensino, com relação à utilização da cartografia com fim em si mesmo. Ou seja, as atividades desenvolvidas, em sua maioria, consistiam em reproduzir, copiar, desenhar, contornar e colorir mapas, desarticuladas de análises e compreensão da realidade. Apresentamos a seguir algumas falas: “[...] tínhamos um caderno brochura pequeno, onde fazíamos mapas, muitos mapas, e naquele tempo usávamos o carbono [...] fazíamos mapas só por fazer, nunca me lembro de analisarmos, ou mesmo simplesmente responder algumas questões, simplesmente fazíamos”. (Kelly) “[...] preenchimento do Atlas Mapa Mudo” (Edson). “[...] a professora nos fazia "desenhar" mapas no papel de seda. [...]” (Rosangela). “[...] me lembro do uso de atlas, cópias com papel de seda, carbono, ampliações [...]” (Sílvia). “[...] me lembro de fazer muitas cópias de mapas em papel de seda... Tive vários cadernos de mapas! Não critico esta prática, pois tive um bom aprendizado.” (Marta) “[...] costumávamos desenhar mapas e interpretá-los (p.e. Localizar os estados, países, etc.)”. (Mary) “[...] o que ficou marcado foi os mapas copiar com papel de seda, contornar com canetinhas, pintar regiões [...]”. (Maria Rosimeire.). “[...] as aulas eram em cima de mapas, com papel de seda, estudando as 5 regiões, pintando igual como eram apresentado á todos nós [...]” (Maria Simone) “[...] cópia de mapas em papel de seda e [...]” (Camila) “[...] cópias de mapas utilizando carbono e pintura.” (Renata) “[...] desenvolvia vários trabalhos com leituras e confecção de mapas” (Bruna) “[...] muita cópia, decoreba e folhas de seda para confecção de mapas [...]” (Juliana) “Me lembro de desenhar muitos mapas [...]” (Janaína) “[...]Copiar mapas e pinta-los.” (Salete). “[...] copiar em papel de seda e passar para o caderno [...]” (Sandra). Os conteúdos das frases a cima apontam para uma prática de ensino baseada na concepção da Geografia onde saber fazer por parte do aluno se destacava. Embora houvesse aprendizagens, o papel principal era preparar o aluno localizar informações, capacidade importante, mas que ficava aquém do que se espera do ensino de Geografia atualmente: formar pessoas capacitadas de compreender a realidade por meio da leitura crítica dos mapas. O copiar, desenhar, 2 colorir, etc. por si só não conduz ao aprendizado de ler e interpretar um mapa e nem tão pouco compreender o espaço geográfico. No ensino fundamental do 1º ao 5º ano, a elaboração e reprodução de mapas são atividades importantes para que o aluno compreenda o processo de sua elaboração, o que contribuirá para depois conseguir ler e interpretá-lo. Iremos compreender melhor este aspecto durante as próximas leituras. Mas deve ser consideradas apenas como uma etapa do processo que se inicia no 1º ano e conclui-se no 9º ano. Outro aspecto do ensino da geografia, conforme as lembranças dos professores referem-se à utilização das atividades baseadas na localização de lugares ou objetos nos mapas ou de responder as questões de questionários. Quanto a essas capacidades podemos observar que no passado eram muito exploradas pelos professores. “[...] nunca me lembro de analisarmos, ou mesmo simplesmente responder algumas questões simplesmente, fazíamos [...]” (Kelly) “[...] tínhamos que decorar nomes dos estados brasileiros e capitais [...] decorávamos capitais dos países [...]” (Edson). “[...] utilizávamos o Atlas geográfico Escolar para localizar as informações sobre mapas, escala latitude, longitude, interpretação das legendas e etc. [...]” (Sandra). “[...] tínhamos que fazer as questões e as respostas tinham que ser iguais as do professor [...]” (Cintia). “[...] Também me lembro de responder questionários sobre todos os textos lidos, os quais precisava decorar para ir bem nas provas. [...]” (Marta). “[...] costumávamos desenhar mapas e interpretá-los (p.e. Localizar os estados, países, etc.)” (Mary). “[...] uma competição para decorar os estados e as respectivas capitais brasileiras [...]” (Camila). “[...] desenvolvia vários trabalhos com leituras e confecção de mapas e localização.” (Bruna). “[...] muita cópia, decoreba e folhas de seda para confecção de mapas. [...]” (Juliana). “[...] era maçante, e quando trabalhava com mapa, todo mundo queria sumir, ainda mais quando trabalhava com latitude e longitude“[...] tínhamos que decorar e responder da mesma maneira que o professor, não podíamos mudar uma palavra que a resposta era (meio certo).Como lembro disso.” (Luciana). “[...] tinha que decorar os estados e suas capitais, tinha chamada oral e tudo. Mas geografia passou a ter mais significado para mim com o Profº Edmar, ele nos fazia analisar os mapas, havia mapas pendurados nas paredes, aprendi a interpretar as legendas, as aulas eram sempre acompanhadas de informações sobre os lugares estudados, eu adorava!” (Janaína). “[...] Aprendíamos a interpreta-los, localizar pontos no mapa, latitudes, longitudes. [...]” (Salete). “[...] para terem ideia num trabalho sobre mapas (copiar em papel de seda e passar para o caderno) ele deu nota baixa para a sala toda com exceção de uma aluna [...]” (Sandra). 3 Contudo, como diz a expressão não devemos “jogar a bacia coma criança dentro”. É preciso atentar para o fato de que algumas das capacidades citadas tornarem importantes para processo de alfabetização cartográfica. Com relação à atividade de localizar. Trabalhar com a cartografia somente para localizar objetos não significa estar ocorrendo aprendizagem. A localização de objetos faz parte do processo de aprendizagem da leitura de mapas. Localizar se constitui parte da alfabetização cartográfica desenvolvida, principalmente, do 1º ao 5º ano. Os alunos nesta fase precisam ser ensinados a localizar em mapas, lugares, objetos, etc. Porém, à medida que estes se inserem no ensino fundamental do 6º ao 9º ano, a atividade de localizar um determinado estado brasileiro, por exemplo, precisa ser acompanhada de questões que os levem a desenvolver raciocínios mais profundos. Localizar um estado na região Norte ou Sudeste é importante, mas é necessário desenvolver a consciência do que isso significa. Quais implicações isso tem para a sociedade, ou seja, é necessário inserir outras questões, que os ajudem a pensar os diversos espaços. Já no que se refere à expressão decorar, poderemos também tecer algumas reflexões. O ensino com foco na memorização é considerado tradicional por muitos autores, porém, não podemos negar a necessidade de estarmos nos baseando, em muitos momentos, em informações contidas em nossa memória. Existem momentos em que estamos analisando algum objeto, só dispomos como referencial para consulta, a nossa memória. É comum encontramos na sala de aula alunos que não conseguem recordar nem mesmo o tema da aula anterior. Por outro lado, não estamos dizendo que o professor deva fazer uma lista de coisas e trabalhar para que o aluno memorize, mas invocar sempre ou provocar a busca de assuntos, conhecimento, informações que já foram trabalhados. Um procedimento que pode ser importante é iniciar a aula recordando o assunto já tratado. Isso servirá para verificar o que e o quanto os alunos assimilaram e a partir daí dar continuidade ou não com o próximo assunto. Isso ajudará ainda, o aluno a entender que precisa valorizar o que já foi ensinado, não é possível ao professor retomar todo o assunto já ensinado. E por fim, responder questionários. A utilização do questionário não é por todo ultrapassado. A sistematização das aprendizagens de um determinado assunto poder ser feito por meio de um questionário. É possível ensinar os alunos a realizar 4 sínteses de textos por meio de questões norteadoras. Contudo, não dá para ficar animado com um aluno que tenha respondido corretamente todas as questões do questionário. Não é possível precisar se houve aprendizagem de fato somente por meio de um questionário. Identificar respostas de questões em texto não garante a formação de conceitos, que implica o domínio de um conhecimento que poderá ser utilizado para analisar outras situações em outros contextos. Considerações Acredito que essas reflexões podem nos auxiliar a pensar o ensino de geografia enquanto ciência que cuja finalidade principal é proporcionar a compreensão da realidade em que vivemos e, a partir daí, atuar de forma crítica para transformá-la. No ensino de geografia nas escolas o papel do professor consiste em promover a aprendizagem e o desenvolvimento de alunos críticos e comprometidos com a transformação do mundo em que vivem. Auxiliá-los a interpretar a realidade do mundo atual e nela atuar sobre o ponto de vista da espacialidade. Para isso, entre outras coisas, deve criar situações favoráveis para a apreensão de conceitos geográficos e desenvolver competências que possam auxiliar no conhecimento mais profundo do mundo em que vivem. Desta forma, as atividades de desenhar, colorir, localizar informações nos mapas fazem parte do processo da alfabetização cartográfica, principalmente do 1º ao 5º ano, mas não podem ter um fim em si mesmo. A leitura e interpretação dos mapas constituem em instrumentos para se compreender o espaço geográfico constituído historicamente pelo homem, portanto, passível de transformação.