64º Congresso Nacional de Botânica Belo Horizonte, 10-15 de Novembro de 2013 CORES VERSUS RECURSO: DECISÃO FÁCIL PARA AS ABELHAS? 1* 1 1 Fernanda B. Leite , Vinícius L. G. Brito , Marlies Sazima 1 Departamento de Biologia Vegetal, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas *[email protected] Introdução Plantas que co-ocorrem e possuem sobreposição da fenologia reprodutiva associada à similaridade das características florais podem atrair os mesmos polinizadores [1] e, consequentemente, influenciar a dinâmica das populações de visitantes florais [2]. A constância dos polinizadores em uma espécie de planta pode ser influenciada por diversos fatores, como grau de similaridade floral entre as espécies sincronopátricas [3] e variação espacial do recurso [4]. O objetivo deste estudo foi entender o papel da cor das flores e da quantidade e qualidade do recurso na frequência de visitação das abelhas em cinco espécies sincronopátricas do gênero Tibouchina (Melastomataceae): Tibouchina clavata, T. fothergillae, T. granulosa, T. heteromalla e T. langsdorffiana. Metodologia O estudo foi realizado no Núcleo de Desenvolvimento Picinguaba (NDP) do Parque Estadual da Serra do Mar, localizado no município de Ubatuba (23º22’ S e 44º48’ W), litoral norte do Estado de São Paulo. As frequências de visitas das abelhas foram registradas diretamente no campo, totalizando 42 horas de observações para cada espécie de planta. As reflectâncias das flores entre 300nm e 700nm foram obtidas através de espectrofotômetro (Portable diode array spectrophotometer USB4000-UV-VIS) [5]. As análises estatísticas foram feitas utilizando o software R [6]. Resultados e Discussão T. langsdorffiana foi a espécie mais visitada (15,61 visitas/flor/dia), sendo que T. fothergillae e T. heteromalla receberam poucas visitas (0,03 e 0,21, respectivamente), como mostrado na figura 1. A cor das pétalas das cinco espécies é aparentemente diferente ao olho humano. Quando analisamos as cores considerando a capacidade visual das abelhas, verificamos que também há diferença significativa entre essas cores. Assim, as abelhas conseguem distinguir as flores destas espécies pela cor. Desta forma, a frequência de visitas das abelhas a flores de diferentes espécies está relacionada à cor das pétalas e, provavelmente também à quantidade e qualidade do recurso, no caso, o pólen. T. langsdorffiana é a espécie com a cor mais distinguível das outras, além de apresentar grande quantidade de pólen e alta viabilidade (conteúdo citoplasmático), enquanto as espécies menos visitadas (T. fothergillae e T. heteromalla) apresentam pouco pólen e viabilidade quase nula. Figura 1. Número de visitas/flor/dia nas cinco espécies de Tibouchina no Núcleo Picinguaba, Ubatuba, SP. Conclusões Com relação à cor, as abelhas polinizadoras conseguem diferenciar visualmente as espécies estudadas. Portanto, a cor é um fator importante na frequência de visitas das abelhas nestas espécies; além disso, a quantidade e a qualidade do recurso (pólen) provavelmente também são atributos decisivos na visita das abelhas. Agradecimentos Agradecemos a Leonardo Ré Jorge pelo suporte estatístico e às agências PIBIC/CNPq, Fapesp e CNPq, pelo apoio financeiro. Referências Bibliográficas [1] Gross, C. L. 1992. Floral traits and pollinator constancy: foraging by native bees among three sympatric legumes. Australian Journal of Ecology 17: 67-74. [2] Brito, V.L.G.; Pinheiro, M.; Sazima, M., 2010. Sophora tomentosa e Crotalaria vitellina (Fabaceae): biologia reprodutiva e interações com abelhas na restinga de Ubatuba, São Paulo. Biota Neotropica 10: 185–192. [3] Waser N.M. 1986. Flower constancy: definition, cause, and measurement. American Naturalist 127: 593–603. [4] Thomson, J. D. 1983. Component analysis of community-level interactions in pollination systems. Handbook of Experimental Pollination Biology - Scientific & Academic Editions, New York: 451-60. [5] Chittka, L.; Kevan, P.G. 2005. Flower colour as advertisement. Practical pollination biology. Enviroquest Ltd., Cambridge, ON, Canada: 157–196 [6] R Development Core Team (2011). R: a language and environment for statistical computing. R Foundation for Statistical Computing, Vienna, Austria. ISBN 3-900051-07-0, URL http://www.R-project.org/.