RECOMENDAÇÕES TÉCNICAS PARA A CULTURA DA VIDEIRA Nilton Nagib Jorge Chalfun1 Rafael Pio2 Fabíola Villa2 1 INTRODUÇÃO A uva é cultivada principalmente com duas finalidades: produção de sucos e fermentados, e consumo “in natura”. A cor varia conforme o tipo. Existe uvas com diferentes tonalidades de amarelo, verde, rosa, roxo e até mesmo preta. A viticultura tem se tornado importante no ramo da fruticultura, especialmente para a produção de vinhos. Atualmente, encontra-se em grande crescimento a produção de uvas de mesa, requerendo sistemas e manejo de produção adequado. O Brasil tem participação no mercado internacional de produção vitícola como exportador de vinhos, sucos e uvas de mesa. O estado de Minas Gerais é o sétimo maior produtor do Brasil, com destaque para a região sul, no segmento de uvas para vinhos. Embora esteja distribuída por diversos municípios de Minas Gerais, a viticultura vem se destacando como uma ótima alternativa para os fruticultores do sul do estado. Isso ocorre principalmente pela tradição e ______________________ 1 Professor de Fruticultura/UFLA. 2 Eng°. Agrônomo, aluno de Mestrado - Fitotecnia/UFLA. 6 pelo importante trabalho desenvolvido pelas instituições de pesquisa, que atuam na região notadamente no aspecto da propagação, manejo, portaenxertos e cultivares. 2 CLIMA E SOLO As videiras preferem, para seu maior desenvolvimento, climas secos com temperaturas entre 10º e 40°C. Em regiões onde a temperatura é mais baixa, o ciclo de produção, conseqüentemente, é menor, permitindo apenas uma safra por ano. Já em regiões com temperaturas mais elevadas, há possibilidade de se ter duas safras/ano, como é o caso do norte do estado de Minas Gerais. As uvas são muito sensíveis a ventos fortes, sendo necessária, muitas vezes a utilização de quebra-ventos. O solo tem grande influência sobre a qualidade das uvas e, conseqüentemente, dos vinhos. Adapta-se a diversos tipos de solos, com exceção dos úmidos e encharcados. Devem ser ricos em matéria orgânica, sendo os melhores aqueles de textura média. 3 ESCOLHA DA CULTIVAR O destino da produção (mesa, vinho ou suco) é fator determinante na escolha da cultivar. Sendo assim, as cultivares mais importantes dividem-se em: 7 3.1 Cultivares para mesa a) Brancas Itália (Piróvano 65) – planta é vigorosa, produtiva, muito sensível à antracnose e ao míldio. Os cachos são cônicos e semi-soltos. As bagas são grandes, de cor verde-amarelado e alongadas. Resiste bem ao transporte, podendo ser armazenada por um a dois meses em câmaras frias. Adapta-se bem a regiões quentes com baixa precipitação e, nestas condições, sob irrigação, permite até duas safras por ano. Niágara branca – produz cachos pequenos a médios, com 12 a 15 cm de comprimento, de aspecto cilíndrico. As bagas são esféricas e brancoesverdeadas. É pouco susceptível ao míldio e à antracnose e moderadamente resistente ao oídio. Embora seja uma cultivar para consumo “in natura”, também é utilizada para produção de vinhos brancos de grande aceitação pelo consumidor brasileiro. b) Rosadas Niágara rosada – vigorosa, produtiva com cachos e bagas de boa aparência. É uma das cultivares mais plantadas no Brasil para consumo “in natura” e, em algumas regiões, é também utilizada na fabricação de vinho rosado doce. Rubi (Itália Rosada) – possui bagas de coloração rosada e alto teor de açúcar. Estas características agradam ao consumidor brasileiro, tendo estimulado grandemente a expansão desta cultivar no Brasil. 8 c) Pretas Diamante negro (Piróvano 87) – a planta é vigorosa, produtiva e muito sensível ao oídio. Os cachos são grandes e alongados, as bagas grandes, arredondadas e de cor preta. Exige proteção dos cachos contra a insolação, por serem sensíveis à queimadura. Ferral roxa – os cachos são grandes e longos. As bagas são grandes, ovaladas e de cor rosa-escuro. O teor de açúcar, quando a uva está bem madura, é bastante elevado. É uma uva de consumo “in natura”, recomendada para regiões quentes e de baixa precipitação. Isabel (Isabella) – é a cultivar mais difundida no Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul para a produção de vinhos, devido à sua rusticidade. A planta é de grande vigor e produtiva, com cachos grandes e cilíndricos, com bagas pretas. Os frutos se prestam para fabricação de vinhos, consumo “in natura”, geléias e sucos. 3.2 Cultivares especialmente para vinho a) Vinho branco Couderc 13 – planta vigorosa, produtora de cachos médios a grandes, semi-soltos e de formato cônico. As bagas são branco-esverdadas, de formato esférico. A planta é moderadamente susceptível ao míldio e à antracnose e moderadamente resistente ao oídio. É pouco susceptível à podridão dos cachos. 9 Niágara branca – descrita junto às cultivares brancas de mesa. Riesling itálico – produz cachos de tamanho pequeno a médio, cilíndricos a cônicos e as bagas são brancas, com pontuações. Quando ocorrem chuvas na época da maturação, que é tardia, a podridão pode prejudicar a produção. Trebiano – é uma cultivar bastante vigorosa, produzindo cachos médios ou grandes, com bagas médias e esféricas, com coloração brancoesverdeado. A cultivar é susceptível ao míldio e moderadamente susceptível à antracnose e oídio. b) Vinho tinto Cabernet franc – produz cachos grandes, com bagas pretas, esféricas e pequenas. Apresenta relativa resistência ao míldio e ao oídio, sendo sensível à antracnose. Concord (Niágara preta) – planta é vigorosa e produtiva. Produz cachos de tamanho médio a grande, com bagas médias, redondas e pretas. Esta cultivar pode ser usada para mesa ou para suco. Folha de figo (Bordô) – é bastante cultivada na região Sul de Minas, rústica e produtiva. É resistente às principais doenças. A planta não tolera aplicações de produtos cúpricos em sua folhagem. Apresenta cacho pequeno a médio, com bagas médias e com maturação em fins de janeiro. 10 Isabel – descrita junto com as cultivares pretas de mesa. Jacques ou Jacquez – a planta é vigorosa, produtiva e os cachos são de tamanho médio a grande, com bagas esféricas, de cor preta. É muito sensível à antracnose, ao míldio e às podridões da uva madura. Merlot – é uma cultivar bastante cultivada no Rio Grande do Sul e considerada uma das melhores para a produção de vinho tinto. Possui vigor médio e é bastante resistente a doenças, exceto ao oídio. O cacho é de tamanho médio a pequeno e cônico. As bagas são de tamanho médio, redondas e pretas. Nos anos chuvosos, recomenda-se eliminar um pouco das folhas próximas aos cachos para se evitar a ocorrência de podridões. c) Vinho rosado Niágara rosada – descrita junto com as cultivares rosadas de mesa. 3.3 Cultivares para suco Folha de figo – descrita junto com as cultivares para vinho tinto. Concord – descrita junto com as cultivares para vinho tinto. Isabel – descrita junto com as cultivares pretas de mesa. 11 4 PROPAGAÇÃO A videira pode ser propagada por via sexual (semente) ou via assexual por meio de estacas, mergulhia e enxertia. A propagação por via sexual não é indicada para plantios comerciais, principalmente pelo longo tempo que leva para a formação das plantas e pela variabilidade conferida, sendo um processo usado somente em programas de melhoramento. 4.1 Propagação por estaquia Na propagação por estaquia em videiras, as estacas devem ser coletadas da parte mediana dos ramos maduros no período do inverno (julho e agosto). Recomenda-se aproveitar o material da poda, podendo armazenar as estacas em câmara fria (2º a 4º C), em areia ou serragem úmida (estratificação). As estacas devem apresentar comprimento de 30 a 50 cm e diâmetro semelhante ao de um lápis (0,8 cm), fazendo um corte na base da estaca próximo a um nó e, na parte de cima, um pouco acima da gema terminal. Preparada a estaca, é comum “cegar” as gemas da parte baixa da estaca, deixando-se apenas duas gemas por estaca, para evitar o excesso de brotações. No plantio, devem-se enterrar 2/3 da estaca, comprimindo o solo em volta da mesma. Logo após, irriga-se e cobre-se a estaca até a altura de sua ponta, para evitar o dessecamento. Após, seleciona-se apenas um broto terminal, eliminando-se os demais. As irrigações devem ser realizadas periodicamente, sempre que necessário. 12 4.2 Propagação por mergulhia Para se propagar a videira por mergulhia, basta enterrar uma planta ou seus ramos no solo. Quando os ramos apresentarem a formação de raízes, cortam-se estes da planta, tendo assim uma estaca já enraizada. É um processo de propagação muito pouco usado na cultura da videira. 4.3 Propagação por enxertia a) Enxertia por garfagem A enxertia por garfagem é feita nos meses de julho e agosto, podendo ser realizada por meio de garfagem por fenda cheia ou simples. Se os porta-enxertos apresentarem diâmetro semelhante ao dos garfos, utilizase a garfagem em fenda simples; caso o diâmetro seja maior, utiliza-se a garfagem em fenda cheia. No momento da enxertia, o porta-enxerto é cortado rente ao solo, após fendido no sentido de seu diâmetro. Nesta fenda, introduz-se o garfo com duas gemas, cortando duplo bisel e colocando de modo que um dos lados da casca coincida perfeitamente com a casca do porta-enxerto. A seguir, amarra-se firmemente com fita plástica ou com barbante de algodão, cobre-se o local da enxertia com terra, para evitar a dessecação. Após o pegamento, faz-se o desamarrio. 13 b) Enxertia de mesa A enxertia de mesa apresentava baixo pegamento e pouco desenvolvimento das plantas jovens no campo. Atualmente, com os avanços tecnológicos obtidos nas etapas do processo de enxertia de mesa, conseguese a produção de mudas de videira em larga escala e com um baixo custo, tornando este método um dos mais usados em viveiros comerciais. As principais etapas da enxertia de mesa são: 1- Coleta do material: retirar partes de ramos, entre julho e agosto, com diâmetro entre 10 a 15 mm, podendo armazenar este material até 30 dias em geladeira. 2- Preparo do material e enxertia: se os ramos estiverem armazenados em geladeira, retirar dois dias antes de se fazer a enxertia de mesa. Utilizar como cavaleiro ou enxerto, ramos com mesmo diâmetro dos cavalos ou porta-enxertos. O método de enxertia de mesa mais utilizado é o tipo ômega, realizado com uma ferramenta própria, que permite um bom número de enxertos por dia. Após a realização da enxertia, mergulhar o ponto de enxertia em parafina na temperatura entre 60 a 70°C , resfriando logo em seguida em água fria. 3- Enraizamento: colocar o material em caixas de madeira ou plástico com altura de 40 cm, com capacidade entre 300 e 500 enxertos, em pé, de modo que o porta-enxerto fique para baixo, colocando no fundo da caixa substrato formado de uma parte de areia e uma de terra. Após enraizados, colocar as 14 mudas em sacos plásticos ou bandejas de isopor, sendo posteriormente levadas para o campo. A- porta-enxerto ou cavalo; B- enxerto ou cavaleiro. Figura 1: Enxertia tipo omega. 5 IMPLANTAÇÃO DA CULTURA 5.1 Escolha e preparo da área Na escolha da área para implantar a viticultura, verificar a proximidade do vinhedo de fontes de água e de estradas, para permitir a fácil comercialização da produção. Deve-se evitar proximidades de áreas úmidas, baixadas, terrenos muitos declivosos (acima de 20%), solos compactados e rasos, que dificultam a incorporação dos corretivos e fertilizantes. Em solos muitos leves (arenosos), recomenda-se incorporar matéria orgânica anualmente com a aplicação dos fertilizantes, para melhorar a retenção de umidade e dos próprios fertilizantes. 15 As etapas de preparo do terreno para a implantação do vinhedo são: a) Limpeza da área: dependendo do local, realizar o desmatamento e roçada, destoca e retirada dos restos vegetais, raízes e pedras. Essa operação deve ser realizada, no mínimo, seis meses de antecedência ao plantio; b) Subsolagem ou aração profunda: o ideal é realizar a subsolagem cruzada, sendo a primeira no sentido do declive, ou uma aração profunda de 25 cm; c) Análise do solo: realizar a análise do solo pelo menos três meses antes da implantação das videiras. Deve-se retirar amostras das camadas de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm; d) Calagem: a aplicação de calcário deve ser realizada dois meses antes da implantação das videiras, aplicando e incorporando o calcário na área total do terreno. A dosagem a aplicar deve ser referente a necessidade corretiva, procurando elevar o pH a 6,0. 5.2 Abertura, preparo de cova e adubação de plantio O espaçamento depende de vários fatores, tais como: topografia do terreno, exposição, vigor da cultivar/porta-enxerto, fertilidade do solo e sistema de condução. Não se recomendam distâncias entre fileiras menores que 2 m. O sistema de espaldeira requer espaçamentos menores do que o sistema em latada. Em geral, os espaçamentos mais comuns são de 2 a 3 m entre fileiras e 1,5 a 3 m entre plantas na fileira. Estes espaçamentos 16 correspondem a densidades que variam entre 1.111 plantas/ha a 3.333 plantas/ha. As covas devem apresentar dimensões próximas a 50 x 50 x 50 cm. A adubação pode ser feita em área total, sendo incorporados os fertilizantes por meio de gradagens. No caso de plantio em covas, realizar a abertura trinta dias antes do plantio, fazendo-se a adubação apenas do solo da cova. Em geral, invertem-se as camadas do solo da superfície (A) e do fundo da cova (B), utiliza-se metade do calcário com esterco curtido (20 litros) na parte inferior e a outra metade com adubo mineral, na porção superior da cova. A adubação de plantio deve ser realizada segundo a análise de solo. Recomenda-se adicionar 4,5 g de zinco mais 1,0 g de boro por cova. Figura 2: Abertura e preparo de cova para plantio da videira. 17 6 SISTEMAS DE CONDUÇÃO Os sistemas de condução da videira mais utilizados no Brasil são a latada e a espaldeira. Na escolha de qual sistema de condução a ser utilizado, devem-se levar em consideração alguns fatores, como: a) número de plantas por ha; b) tipo de clima da região; c) poda de formação; d) tipo de poda anual a ser utilizada; e) operações em verde (podas). 6.1 Latada, pérgula ou caramanchão É o sistema de condução mais utilizado no do Rio Grande do Sul e no nordeste brasileiro. Este sistema permite altas produções, pois possibilita grande crescimento vegetativo da planta. Cada latada deve ter, no máximo, 200 m de comprimento, que é uma área equivalente a 4 ha, e altura de 2 m. O espaçamento entre linhas e entre plantas deve ser 3 x 3 m ou 4 x 2 m. Na construção da latada, inicia-se pela colocação das cantoneiras (10 x 15 x 230 cm) nos quatro cantos da latada, devendo ser amarradas a dois rabichos (15 x 15 x 120 cm) no lado externo da cantoneira, para suportar bem a pressão. Após, são colocados os postes externos (10 x 15 x 230 cm) em todo o contorno da latada, espaçados de 3 a 4 m, inclinados 60° para o lado externo da latada e amarrados com um rabicho cada. Em seguida, 18 colocam-se os postes internos (10 x 10 x 230 cm) a cada 5 m na linha de plantio. Após a instalação dos mourões, coloca-se o aramado. Os postes devem ser ligados entre si por três fios de arame n° 8 bem enrolados entre si, formando o cordão primário. Após, instalam-se os cordões secundários de fios n° 8, ligando os postes internos entre si. Finalmente, coloca-se a malha ou rede, que é formada de fios n° 12 ou 14, ligada entre os postes a uma distância de 50 cm de cada, passada entre os cordões primários e secundários. Neste sistema, deixa-se a muda enxertada se desenvolver em haste única até alcançar o aramado. No 2º ano, poda-se esta haste, deixando-se duas gemas acima do aramado, para mudas de pouco vigor, ou 4 a 6 gemas para mudas de alto vigor. As brotações localizadas abaixo destas deverão ser eliminadas. As gemas selecionadas darão novas brotações, que serão distribuídas e amarradas sobre a estrutura da latada. A- cantoneira; B- poste externo; C- poste interno; D- rabicho; B- E- cordão primário; F- cordão secundário; G- malha ou rede. Figura 3: Sistema de condução tipo latada Fonte: Informe Agropecuário (1998). 19 6.2 Espaldeira Este sistema é muito utilizado na região Sul de Minas e em São Paulo. Na espaldeira, a ramagem e a produção ficam na vertical, sendo a sua construção semelhante a uma cerca. A construção da estrutura e o manejo da planta são mais simples neste sistema do que na latada. O comprimento da espaldeira deve ser, no máximo, de 100 m, altura de 1,8 m e espaçamento entre linhas de 3 a 5 m. Colocam-se os mourões externos (10 x 12 x 250 cm) no final de cada linha de plantio, amarrando um rabicho (15 x 15 x 120 cm) por poste. Após colocam-se os mourões internos (10 x 10 x 230 cm) a cada três plantas ou a cada 6 ou 8 m. Neste sistema, colocam-se três fios de arame galvanizado. O primeiro fica a 1 m do solo, o segundo a 1,4 m e o terceiro a 1,8 m do solo, utilizando fios n° 12 para o primeiro fio e n° 14 para o segundo e terceiro fios. Para a formação da planta, o ramo é conduzido até o primeiro fio. Em seguida, faz-se o desponte, deixando apenas duas gemas laterais, conduzindo os braços na horizontal até encontrar o braço da outra planta. Em seguida, faz-se o mesmo procedimento para o segundo e terceiro fios. Figura 4: Sistema de condução tipo espaldeira. Fonte: Informe Agropecuário (1998). 20 7 TRATOS CULTURAIS 7.1 Poda A poda é uma prática que deve sempre ser utilizada na cultura da videira, tanto para a formação da planta quanto para a formação dos ramos produtivos. Uma vez que a produção ocorre em ramos do ano, é necessário forçar a emissão de novos ramos a cada ciclo, formando os ramos produtivos. A poda tem por finalidade básica o equilíbrio entre as partes vegetativas e produtivas da planta, regulando a produção e melhorando as condições fitossanitárias. a) Poda de inverno ou poda seca É realizada durante o inverno, nos meses de julho a agosto. É dividida em dois tipos de podas: poda de formação e de frutificação. 1- Poda de formação A poda de formação da videira tem a função de formar os braços da planta. Em geral, a formação da videira é concluída em dois anos após o plantio. 21 2- Poda de frutificação A poda de frutificação ou de produção é também realizada durante o repouso da planta, objetivando preparar a planta para a safra posterior. Nesta operação, reduz-se o volume da copa, retirando ramos não-frutíferos ou ramos do ano anterior e mantendo somente aqueles ramos que poderão dar novos frutos. b) Poda de verão ou poda verde É realizada no verão. Divide-se em: 1- Desbrota Na operação de desbrota, devem ser eliminadas todas as brotações que surgem no caule da videira. Essa operação é realizada quando as brotações atingem cerca de 8 a 15 cm. Nunca deixar duas brotações na mesma gema, eliminando sempre as mais fracas. 2- Desfolha Durante o período de crescimento dos ramos, realiza-se a desfolha, que tem como objetivo eliminar o excesso de folhas, melhorar a ventilação e a incidência de insolação na videira. A quantidade de folhas a ser eliminada irá depender da quantidade de folhas que tem a planta. Deve-se tomar cuidado para não retirar a folha oposta ao cacho, para evitar exposição do mesmo ao sol. 22 3- Eliminação das gavinhas e desnetamento Durante a fase de crescimento da planta, deve-se retirar as gavinhas e os netos (ramos terciários que surgem nas axilas das folhas). 4- Desponte É realizado uma ou duas vezes no ciclo. Realiza-se o primeiro desponte alguns dias antes da floração, eliminando-se a gema apical da planta. O segundo desponte é feito de 60 a 80 dias após a realização do primeiro. O desponte do cacho é feito com a finalidade de eliminar a porção basal, para melhorar a sua conformação e aparência. 5- Desbaste dos cachos O desbaste de cachos tem a finalidade de equilibrar a produção e a conformidade dos cachos. Para isso, retira-se o excesso de cachos da planta. É realizado em duas fases: a primeira é feita com a retirada dos cachos florais e a segunda retirando-se os cachos novos depois dos frutos se formarem. 6- Raleio de bagas Tem a função de eliminar o excesso de bagas e produzir cachos de melhor aspecto e qualidade. 23 Esta prática pode ser realizada em duas fases: na primeira, o raleio é realizado com pente plástico na pré-floração, quando os botões florais soltam-se facilmente do cacho; na segunda fase, é realizado um segundo raleio, com o pente plástico na fase de frutificação, quando as bagas estão do tamanho de uma ervilha. Deve-se ter o cuidado de não passar o pente nos dias chuvosos e eliminar somente o excesso de botões. 7- Anelamento O anelamento consiste na remoção de um anel da casca do caule ou dos ramos de 3 a 6 mm de espessura. O anelamento tem o objetivo de: - aumentar o pegamento dos frutos; - aumentar o tamanho das bagas; - antecipar a maturação; - melhorar a coloração dos frutos. 7.2 Controle de plantas invasoras Como em qualquer outra espécie frutífera, as invasoras ou plantas daninhas devem ser mantidas sob controle para evitar perdas na produção ou na qualidade do produto. Podem ser adotados, na cultura da videira, diversos tipos de manejo do solo relativos ao controle de invasoras, sendo os tipos básicos: solo coberto, solo parcialmente coberto e solo limpo. No sistema de solo coberto, a cobertura pode ser obtida por manutenção da vegetação natural, com leguminosas, com restos de culturas ou com plástico preto, em toda ou na maior parte da área do vinhedo. 24 Podem ser, também, adotadas formas de cobertura parcial do solo, mantendo-se limpas as linhas e as entrelinhas, faixas de vegetação nativa roçada, com cobertura morta, adubos verdes ou plástico em uma faixa distante 80 cm de cada lado da planta. No sistema de solo limpo, a planta não sofre concorrência de invasoras, mas o solo fica mais sujeito à erosão. Por isso, esta técnica somente deve ser usada em área planas ou de baixíssima declividade. O solo pode ser mantido limpo com capinas, gradeações ou uso de herbicidas. 7.3 Nutrição e adubação Há dois tipos básicos de adubação da videira: a de correção e a de manutenção. A adubação de correção é realizada para corrigir a fertilidade do solo e repor os nutrientes absorvidos pela planta durante o ano. Deve ser feita com base na análise de solo, com amostras retiradas nas camadas de 0 a 20 e 20 a 40 cm. A adubação de manutenção ou de produção tem o objetivo de repor os nutrientes extraídos pela planta, compreendendo nitrogênio, fósforo e potássio. Esta adubação é geralmente feita incorporando-se os fertilizantes ao solo por meio de uma valeta feita entre as linhas das plantas. Esta adubação é efetuada no período de repouso (julho-agosto, na maioria das regiões produtoras) das plantas. Para um melhor aproveitamento dos adubos, estes devem ser aplicados em duas etapas, dentro do período recomendado. 25 A adubação orgânica pode ser utilizada, pois favorece tanto as características químicas quanto físicas e biológicas do solo, além de reduzir a quantidade de fertilizantes químicos. 8 IRRIGAÇÃO A irrigação do vinhedo é uma prática que visa ao aumento da produção. Os dois sistemas de irrigação para videira com maior eficiência são o gotejamento e a microaspersão. Sendo ambos métodos de irrigação localizada, permitem a aplicação controlada de água e nutrientes (fertirrigação), com menor risco de problemas fitossanitários, além de poderem ser automatizados. Ao longo do ciclo da cultura, a planta apresenta uma sensibilidade variável à falta de água, principalmente no início do período de brotações. A produção e a qualidade dos frutos são mais afetados pela falta de água durante a fase de formação e crescimento dos cachos e das bagas. 9 DOENÇAS a) Antracnose Esta doença é também conhecida por carvão ou olho de passarinho. O ataque se dá sobre toda a planta, formando-se cancros de bordas negras e centro mais claros nos brotos, ramos e gavinhas. Nas folhas, aparecem 26 pequenas manchas escuras, que podem perfurar a folha. Nas bagas, formamse manchas arredondadas e escuras. O ataque na floração causa escurecimento e morte de flores. O controle é feito por meio de diversas medidas, incluindo o plantio em áreas com baixa umidade, protegidas dos ventos frios, poda hibernal e arranquio e enterrio dos ramos com sintomas. Caso tenha havido ataque intenso da doença no ciclo anterior, o tratamento com calda sulfocálcica durante o período de inverno auxilia no controle no próximo ciclo. b) Míldio Esta doença é uma das mais importantes da cultura. O ataque ocorre sobre as folhas, brotos, flores, bagas e ramos herbáceos. Observa-se, inicialmente, uma mancha de aspecto oleoso, seguida da formação de uma penugem branca na parte inferior da folha. A folha atacada acaba secando, causando a desfolha precoce da planta. O ataque durante a floração reduz significativamente a produção. O controle deve ser preventivo, quando aparecerem os primeiros sintomas nas folhas, com uso de produtos orgânicos, sistêmicos e cúpricos. c) Oídio Também conhecida por cinza ou mufeta, esta doença é de grande importância em regiões de clima quente. Causa rachadura das bagas, com exposição das sementes em ataques mais severos, além de serem formadas manchas, depreciando a sua qualidade para consumo “in natura”. A aplicação de enxofre proporciona bom controle desta doença, devendo 27 aplicar nas horas mais frescas do dia. Deve-se cuidar, entretanto, com a sensibilidade das plantas de algumas cultivares ao enxofre, tais como Niágara, Concord e Herbemont. d) Fusariose É uma doença que ataca as plantas por meio do solo. Os sintomas são a murcha das folhas e morte dos ramos, podendo ocorrer a morte da planta. O controle químico é oneroso e pouco eficiente. A prática mais efetiva para o controle é a eliminação da planta doente, queimando-a posteriormente e fazendo uma calagem profunda no local afetado. Deve-se evitar o plantio em áreas úmidas, fazer a correção do solo e usar mudas ou material de propagação sadios. e) Podridão amarga Esta doença se manifesta principalmente nos cachos. Os frutos colhidos são contaminados e apodrecem durante o transporte e armazenamento. Em geral, os demais fungicidas que são aplicados para o controle de outras doenças também controlam a podridão amarga. f) Viroses A videira pode ser atacada por mais de 20 vírus diferentes, sendo os mais importantes no Brasil: enrolamento da folha, entrenós curtos, entumescimento dos ramos, mosaico das nervuras e mosaico do ‘Traviú’. 28 Conforme a região, outras viroses podem ser mais importantes. O controle das viroses só pode se obtido com uso de mudas ou material de propagação sadios, obtendo-se este material de viveiristas ou, preferencialmente, de instituições de pesquisa. 10 PRAGAS a) Filoxera É um pequeno pulgão que suga o sistema radicular e as folhas, podendo matar a planta. O maior prejuízo ocorre nas cultivares viníferas plantadas de “pés -francos”. Nas folhas, os sintomas são galhas na parte inferior das mesmas, podendo deformá-las. Nas raízes, são formadas galhas em forma de gancho. O controle é feito por meio do uso de porta-enxertos resistentes e, no caso de matrizes de porta-enxertos, inseticidas sistêmicos. b) Cochonilhas Atuam sugando ramos e formando colônias de cor branca ou marrom. Durante o inverno, os insetos formam carapaças sobre si, reduzindo a eficiência do controle. O controle é feito manualmente por raspagem ou poda dos ramos infestados ou, em ataques intensos, com uso de inseticidas após a colheita. 29 c) Mosca-das-frutas Os maiores prejuízos são causados pelas larvas no interior das bagas. Os danos causados pela mosca das frutas vão desde a perfuração da casca da baga até a total destruição da polpa da mesma. O controle é feito por meio de iscas tóxicas ou pulverização em área total, conforme o monitoramento feito com uso de armadilhas. d) Formigas Causam danos significativos principalmente no período de formação da planta, época em que deve ser dada grande atenção ao controle destes insetos. Como controle, utilizar iscas tóxicas, como o mirex. 11 COLHEITA E PÓS-COLHEITA Os cachos devem ser colhidos maduros, sendo o ponto de colheita um dos aspectos fundamentais para a obtenção de frutos de qualidade. A maturação dos cachos, em média, ocorre de 110 a 130 dias do início da vegetação ou de 85 a 90 dias do início da floração. As características dos frutos na colheita e o seu manejo variam conforme o destino da produção. Uvas destinadas à indústria devem ser colhidas no estádio adequado de maturação. A colheita é feita manualmente. Os cuidados a serem tomados na colheita referem-se ao manuseio do cacho, com um mínimo de dano às bagas. O manuseio inadequado e grosseiro dos 30 frutos provoca rachadura das bagas, o que se torna uma eficiente “porta de entrada” para fungos. Os cuidados na pós-colheita a serem tomados são os seguintes: - o transporte para o barracão deve ser feito com cuidado; - realizar toalete dos cachos (eliminação dos cachos contaminados por fungos e danificados), retirando as partes com defeitos; - selecionar os cachos por peso e diâmetro das bagas; - embalar individualmente os cachos em caixas de papelão de 6 kg, em camada única; - colocar uma folha de papel glassine ou de seda sobre os cachos para promover proteção. A produtividade média da uva pode chegar a 30 ou 40 t/ha/ano, dependo das condições climáticas, irrigação e, principalmente, do manejo adequado. 12 CUSTO DE PRODUÇÃO A determinação de custos de produção se revela de suma importância na agricultura, não somente como um componente para a análise da rentabilidade da unidade de produção, mas também como parâmetro de tomada de decisão e de capitalização do setor rural. Em relação à cultura da videira, os custos de produção devem ser abordados de duas maneiras: custos anuais de produção (que são variáveis, de acordo com a idade das plantas) e os custos anuais com as safras e suas respectivas despesas. 31 O custo de produção de um hectare de videiras para mesa, uvas tipo Itália, gira em torno de US$ 1.270,20 no primeiro ano de cultivo e US$ 3.481,05 para a manutenção da videira no segundo ano de cultivo. 32 13 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BRASIL. Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária. Uva para exportação: aspectos técnicos da produção. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1996. 53 p. (EMBRAPA-SPI. Série Publicações Técnicas FRUPEX, 25). FRÁGUAS, J. C. Preparo e manejo do solo e adubação para videira. Lavras: EPAMIG, 1997. 4 p. (EPAMIG. Circular Técnica, 76). FREGONI, M. Viticoltura generale: compendi didattici e scientifici. Roma: Reda, 1987. 728 p. INFORME AGROPECUÁRIO. Viticultura. Belo Horizonte: EPAMIG, v. 10, n. 177, set. 1984. 128 p. INFORME AGROPECUÁRIO. Viticultura tropical. Belo Horizonte: EPAMIG, v. 19, n. 194. 1998. 100 p. MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO NACIONAL. Uva de mesa. Brasília, 2000. 4 p. (FrutiSéries, 5).