COLÉGIO LUIZA DE MARILLAC EXTERNATO POPULAR SÃO VICENTE DE PAULO Rua Voluntários da Pátria, 1.653 - Santana - São Paulo - CEP: 02011-300 Tel/fax: 2226-6161 - www.marillac.g12.br - [email protected] República Velha: Início e Apogeu (1889-1930) Em princípio a ideia da proclamação da República era de que houvesse uma verdadeira inclusão social, algo inexiste durante o período imperial. Entretanto, o que se viu foi, desde o início uma barreira intransponível a separar os ricos dos pobres, os brancos dos negros, os brasileiros dos estrangeiros. A proclamação da República ocorreu em função do descontentamento com o Império de três grupos muito fortes politicamente, os cafeicultores paulistas, descontentes com a abolição da escravatura em 1888, sem indenização. Outro grupo eram os militares, ansiando por um poder maior desde o fim da Guerra do Paraguai, em 1870. a Igreja Católica também retirara o apoio ao Imperador pois este se recusara a afastar os maçons dos postos eclesiásticos. Dado o golpe no Império, orquestrado principalmente pelos cafeicultores e militares, a questão era, como deveria se organizar a República incipiente. Havia três projetos possíveis a serem implantados: Projeto Republicano Liberal: Defendido principalmente pelos cafeicultores paulistas, pregava a descentralização política e autonomia dos Estados. Inspirado no modelo dos EUA buscava um governo que garantisse as liberdades individuais, sistema de livre competição econômica e separação dos três poderes: Legislativo, Judiciário e Executivo assim como a separação entre a Igreja e o Estado. Projeto Republicano Jacobino: Defendido especialmente pelas classes médias urbanas, profissionais liberais, sem muita influência política ainda. Inspiravam-se na Primeira República Francesa (1792-1794) defendiam a liberdade pública de reunião e discussão. Viam ainda a necessidade de uma participação popular na administração pública; entretanto o grupo era resistente a medidas que tivessem pretensões de inclusão social dos menos favorecidos. Projeto Republicano Positivista: Baseado nas idéias de Auguste Comte era o projeto que unia os militares do exército. Com um discurso que buscava a promoção do progresso sempre dentro da ordem, contrário à revolução e que necessitava de grande influência do Estado. Segundo os positivistas cabia ao Estado a obrigação de zelar pelo bem estar do cidadão, proteger a sociedade. República da Espada (1889-1894) Governo, provisório de Deodoro da Fonseca (1889-1890) Governo provisório, até fins de 1890, visava resolver os problemas mais urgentes que afetaram o novo regime, como a falta de apoio da marinha, fortemente monarquista. O governo enfrentou problemas logo de início em função do comportamento autoritário de Deodoro da Fonseca que sendo um militar de alta patente estava acostumado a ter suas ordens obedecidas quase que imediatamente. Esse seu comportamento acaba por atrapalhar as articulações políticas necessárias a administração pública. Isso acabou afastando-o do grupo dos cafeicultores paulistas, que desejavam assumir o poder sob o argumento de que a República já estava consolidada e os militares precisavam voltar para os quartéis. Entretanto com todos os problemas Deodoro conseguiu organizar a burocracia estatal, extinguiu todas as instituições do Império, inclusive a constituição de 1824, convocou uma Assembléia Constituinte para redigir a nova Carta Magna, que ficaria pronta em 1891. Nomeou Rui Barbosa para o Ministério da Fazenda. Como a situação econômica continuava difícil de ser manejada, Rui Barbosa obteve de Deodoro, sem que seus colegas ministros soubessem, um decreto em que se realizava uma ampla reforma bancária. A atitude de Rui Barbosa se explica pelo fato de que ele acreditava que a República deveria iniciar uma nova era na economia do Brasil, deixar de ser um país agrário para tornar-se uma pujante economia industrial. Essa reforma bancária, portanto tinha como intuito maior desenvolver economicamente o Brasil. A partir da reforma passaram a existir vários bancos que emitiam papel-moeda, papel anteriormente destinado apenas ao Banco do Brasil. As emissões de dinheiro levavam a uma especulação sem precedentes na história do Brasil, pois a quantidade de cédulas circulando aumentava dia a dia. Ao mesmo tempo o governo concedia privilégios e empréstimos sem estudar a viabilidade dos projetos aprovados. Dessa maneira empresas fantasmas surgiam todos os dias. Esse período ficou conhecido como encilhamento, e trouxe um enorme prejuízo para o país, pois, se conseguir dinheiro era muito fácil, bastava criar uma empresa fictícia para alguma atividade igualmente imaginativa e pronto! Depois era só colocar as ações para serem negociadas na bolsa, como o dinheiro circulava aos montes, tinha-se a impressão de que o país mergulhara de vez na era industrial, mas, logo depois começaram as ruínas, pois as riquezas produzidas durante o encilhamento não prosperaram pois a maior parte do dinheiro conseguido era investido em banalidades, como roupas, jóias, compras de título de nobreza portugueses. Poucas foram as empresas que conseguiram sobreviver a esse período, mesmo os cafeicultores foram afetados pela inflação recorrente do plano de Rui Barbosa de aumentar a emissão de papel-moeda. Constituição de 1891 Promulgada em 24 de fevereiro de 1891, influenciada diretamente pela constituição dos EUA, adotava a República Presidencialista como forma de governo com mandato de quatro anos. O país tornava-se uma República Federativa, as províncias imperiais eram agora Estados, na época eram 20. Todos os cargos dos poderes executivo e legislativo eram ocupados por pessoas eleitas pelo povo. Os votantes eram apenas indivíduos do sexo masculino, maiores de 21 anos e alfabetizados. A Constituição, aos moldes da estadunidense, assegurava o direito à liberdade, à segurança individual e à propriedade. Ainda reconhecia que todos eram iguais perante a lei. Criava o direito ao ensino público e leigo; laicidade do Estado, liberdade de opinião e o casamento civil era o único reconhecido pelo Estado. Os ex-escravos não foram beneficiados em nada, ao contrário, implementou-se uma política de exclusão, ou ainda uma tentativa de invisibilidade, pois não se pensou em uma política agrária que beneficiassem os negros ou mesmo os trabalhadores pobres. A saída encontrada era mudar-se para as grandes cidades em busca de alguma forma de sobrevivência, o que nem sempre era possível. Governo Deodoro da Fonseca (1891) Conforme estava estabelecido na Constituição, cabia ao Congresso Nacional escolher o primeiro presidente do Brasil. Graças à pressão dos militares Deodoro foi eleito, tendo como vice presidente o candidato da chapa concorrente, Marechal Floriano Peixoto. Durante muito tempo a escolha do vice não estava atrelada à do presidente, cada candidato era escolhido individualmente. Eleito presidente Deodoro acabou formando um ministério sem apoio dos cafeicultores paulistas, o que lhe rendeu uma oposição muito forte, política e economicamente, para tentar demonstrar força Deodoro resolveu fechar o Congresso Nacional em 3 de Novembro de 1891, entretanto a medida acabou por fortalecer seus adversários políticos. Sem muitas alternativas Deodoro acabou por renunciar ao governo, sendo substituído por Floriano Peixoto. Governo Floriano Peixoto (1891-1894) De acordo com a Constituição cabia a Floriano Peixoto convocar uma nova eleição, uma vez que não havia transcorrido dois anos da posse do presidente que renunciara. Entretanto não foi o que houve, Floriano optou por continuar na presidência, para tal procurou aproximar-se de forças que poderiam lhe garantir política e militarmente essa posição. Reconvocou o Congresso Nacional, promoveu a substituição dos presidentes estaduais (atuais governadores) que haviam apoiado o golpe de Deodoro, prendeu muitos adversários políticos. Procurou também agir de maneira demagógica para conseguir o apoio da população de baixa renda, para tanto promoveu o tabelamento de preços dos alimentos, a redução de aluguéis. No campo político militar teve que enfrentar dois movimentos armados, a Revolução Federalista no sul e a Revolta da Armada na Baía de Guanabara. A Revolta da Armada, a Marinha ao contrário do exército era um reduto de monarquistas ferrenhos. Em setembro de 1893 a esquadra sob o comando do contra almirante Custódio de Melo, a alegação era que Floriano não obedecia a Constituição. O diretor da Escola Naval, almirante Saldanha da Gama apoiou o movimento. Os confrontos na Baía de Guanabara não surtiram bons resultados para os revoltosos Custódio de Melo dirigiu-se para Desterro (atual Florianópolis) onde, aliando-se aos federalistas instalou um governo provisório. Em 1895 terminou a Revolta da Armada, quando os revoltosos foram derrotados pelas forças do governo, os líderes, Custódio de Melo e Saldanha Marinho, depois de se refugiarem em um navio português uniram-se aos revoltosos do sul para continuar a luta contra Floriano Peixoto, seu único ponto em comum. A Revolução Federalista ocorrida de 1893 a 1895, teve como principal ponto de partida a disputa política local entre os grupos políticos dominantes, iniciou-se no Rio Grande do Sul, chegou a Santa Catarina passando ao Paraná onde ocorreram os confrontos mais duros com as forças governistas levando à derrota do grupo revoltoso pelas forças governistas. No Rio Grande do Sul havia dos grupos dominantes, os “pica-paus”, comandados por Júlio de Castilhos, seu principal ponto era a defesa de um governo federal centralizado, aos moldes do exercido por Floriano Peixoto. Já os “maragatos” liderados por Gaspar Silveira Martins, defendiam um governo parlamentarista. Como os maragatos nunca tiveram unidade de ação, nem de objetivos, jamais puderam contar com todo o efetivo de suas forças. Havia ao menos três grupos distintos lutando juntas, a republicana, de Custódio Melo, as monarquistas de Saldanha da Gama e as separatistas de Gumercindo Saraiva. De fevereiro a julho de 1893 os rebeldes conquistaram muitas vitórias. Graças à aliança com Custódio de Melo, da Revolta da Armada invadiram Santa Catarina e na capital, Desterro (atualmente Florianópolis) fundaram um governo revolucionário. Após ocupar Santa Catarina os revolucionários tencionavam atacar o Paraná, em três frentes: Paranaguá, Tijucas do Sul e Lapa, somente depois atacariam Curitiba. Após a conquista do Paraná São Paulo seria a próxima conquista dos federalistas. Após a compra de uma frota de guerra dos EUA Floriano partiu para a contra ofensiva, os federalistas foram derrotados em todas as frentes. A repressão foi extremamente violenta por parte do governo, quase todos os líderes foram executados sem qualquer julgamento, totalmente fora da ordem constitucional que Floriano afirmava defender. Em Desterro, que fora a capital dos federalistas o coronel Moreira César recebeu o apelido de corta-cabeças, pelo grande número de federalistas decapitados. A cidade de Desterro acabou tendo o nome mudado para Florianópolis em homenagem ao presidente Floriano Peixoto. Com a supressão das revoltas Floriano governou até o último dia de seu governo, recebendo a alcunha de “Marechal de Ferro”. Governo de Prudente de Morais (1894-1898) Primeiro presidente civil e eleito pelo voto direto da população. Foi o legítimo representante dos interesses dos cafeicultores paulistas. Sua gestão foi marcada pela cautela e por compromissos visando a unificação política do país. Ao assumir encontrou o país com sérias dificuldades financeiras conseqüências dos gastos com as guerras, do endividamento externo e grande déficit governamental. Enquanto Floriano Peixoto em seu governo, na política externa, adotou medidas protecionistas, ou seja, aumentando os impostos das importações, com a intenção de incentivar a indústria nacional, Prudente de Morais, fiel aos interesses de classe, adotou uma política antiprotecionista, pois para os oligarcas paulistas, o Brasil deveria continuar sendo um país agrário, exportador de matérias-primas e importador de produtos manufaturados. Para piorar a situação de seu governo, Prudente de Morais teve que enfrentar uma crise no preço do café, principal produto de exportação do Brasil naquele momento. Em 1890 o valor médio da saca exportada era de 4,09 libras, em 1896 passou a 2,91 libras chegando em 1897 a 1,48 libra. Essa crise gerou um ambiente de intranqüilidade, especialmente entre os cafeicultores, próximos ao governo de Prudente. Durante o governo de Prudente de Morais o Brasil enfrentou alguns problemas sociais, que serão explorados mais adiante, como a questão de Canudos, problemas urbanos, especialmente no Rio de Janeiro, capital federal relacionados à habitação para os pobres. Foi também durante o governo de Prudente de Morais que o Brasil ganhou a disputa com a Argentina pelo território das Missões, em uma contenda que fora arbitrada pelo presidente dos EUA Grover Cleveland, que declarou o Brasil como vencedor da querela. Governo de Campos Sales (1898-1902) Igualmente paulista, Manuel Ferras de Campos Sales foi eleito em 1898. sua primeira ação como presidente eleito foi uma viagem à Europa para tentar um acordo para aliviar a dívida externa e tentar obter novos empréstimos. Com seu ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho, o presidente eleito negociou muito com os bancos ingleses até chegar a um acordo sobre a dívida, conhecido com funding-loan, que estipulava: A aceitação, por parte dos credores, de uma moratória de três anos no pagamento da dívida brasileira; O empréstimo de nova quantia, para isso o governo Campos Sales ofereceu, como garantia, as receitas da Estrada de Ferro Central do Brasil, do serviço de abastecimento de água do Rio de Janeiro e, se fosse necessário, a renda de todas as alfândegas do território nacional. Para atingir as metas necessárias para pagar a dívida, Campos Sales impôs ao país uma enorme recessão que acabou punindo os mais humildes. O presidente também acabou por se destacar politicamente com seu plano de controle da máquina eleitoral conhecido como “Política dos Governadores”. Foi através desse movimento que a política paulista garantiu sua permanência no poder durante toda a República Velha. A política dos governadores baseava-se no seguinte: o presidente apoiava os governadores estaduais e seus aliados e em troca eles garantiam a eleição para o congresso dos candidatos oficiais. Isso garantia a continuidade das grandes famílias (ricas e poderosas) no poder. Era uma troca entre os governantes estaduais e o Governo Federal. Esta troca funcionava graças: 1) À Comissão de Verificação 2) Ao Coronelismo Comissão de Verificação A aceitação dos resultados era feita através desta comissão. Era formada por deputados que recebiam as atas eleitorais (livros de votação dos eleitores) para verificar se houve ou não fraude. A partir daí a fraude eleitoral passou a ser feita pela própria comissão, que podia determinar quem devia ser reconhecido como vencedor das eleições. Coronelismo Os coronéis eram fazendeiros que utilizavam a sua riqueza para garantir a vitória nas eleições dos candidatos que apoiavam. Quando as vontades dos coronéis não eram atendidas, eles garantiam a vitória nas eleições usando a violência. Foi nesse momento que se instalou a chamada política do café com leite, que revezava políticos paulistas e mineiros na presidência da República. Recebeu esse nome em função da maior riqueza paulista ser o café e Minas Gerais, o Estado com maior número de eleitores ser o maior produto de leite do Brasil. Governo de Rodrigues Alves (1902-1906) Em 1902 outro paulista assumiu o governo, Francisco de Paula Rodrigues Alves, conselheiro do Império que aderira à República desde início. Logo no início de seu governo, para realizar as obras que desejava obteve enormes empréstimos em bancos europeus, o que aumentou ainda mais a dívida externa brasileira. Dentre as várias obras realizadas pelo presidente estão as de remodelação do Rio de Janeiro, como a construção de um moderno porto, de estradas de ferro, do Teatro Municipal, da Biblioteca Nacional, da Fortaleza da Lage. Suas reengenharias urbanas na capital federal também tiveram grande impacto. Para os ricos, melhorou o aspecto da cidade além de lhes proporcionar ganhos enormes, para os pobres, piorou suas vidas, expulsando-os do centro da cidade, onde viviam em cortiços e casas de aluguel, para viverem nas periferias e nos morros, dando origem às favelas. Governo de Afonso Pena (1906-1909) Mineiro, monarquista, foi eleito para a Constituinte e em 1891 elegeu-se senador por Minas Gerais. Escolhido governador mineiro em 1892 mudou a capital de Ouro Preto para a, planejada, Belo Horizonte. Em 1903 foi eleito vice presidente da República, para governar com Rodrigues Alves, em substituição a Francisco Silviano de Almeida Brandão, falecido em setembro de 1902 sem tomar posse. Os três objetivos do presidente eleito foram: incentivo à indústria através de medidas protecionistas, povoamento do território, pelo incentivo á imigração e a reforma do sistema monetário. Diante da agitação dos operários urbanos foi promulgada a lei Adolpho Gordo, que autorizava a expulsão do país de líderes sindicais estrangeiros. Mesmo assim em 1º de Maio de1907 houve uma greve geral em São Paulo. Buscou também diminuir a força das oligarquias estaduais, foi o primeiro presidente a morrer no Palácio do Catete, sede do governo federal. Foi sucecido por seu vice, Nilo Peçanha, que governou de 1909 a 1910. Durante o governo de Nilo Peçanha foi criado o Ministério da Agricultura e o Serviço de Proteção ao Índio. Sua administração foi marcada pelas articulações que visavam às eleições presidenciais de 1910. Pinheiro Machado, político gaúcho, articulou a campanha de Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro da Fonseca. Como Hermes era um político inexperiente isso acabou sendo a forma encontrada pelo político gaúcho de manter-se no poder e, tentar, habilitar-se como candidato em 1914. São Paulo não tivera tempo de articular uma campanha a tempo para lutar contra a hermista. A saída foi apoiar Rui Barbosa, o político baiano fez uma campanha denominada de “civilista” que apelava para a necessidade de se manter um governo civil. Acabou derrotado por Hermes da Fonseca muito em função da máquina eleitoral que estava a favor do militar. Governo Hermes da Fonseca (1910-1914) Talvez o governo de Hermes da Fonseca tenha sido o mais desastrado da República Velha. Sem experiência política o marechal sofreu por desconhecer as regras políticas. Essa inexperiência convinha ao político gaúcho Pinheiro Machado, que o manipulou da maneira que melhor lhe convinha. Procurando se fortalecer o senador gaúcho articulou uma trama política, visando enfraquecer o acordo entre os governos estaduais e seus inimigos. Tal trama ficou conhecida como a “Política das Salvações”. A intenção era acabar com a “política dos governadores” e substituir as oligarquias dominantes por grupos ligados ao governo hermista. Todavia tal estratégia se mostrou desastrada e colocou os governadores contra o governo central. Além dos problemas criados com as elites econômicas e política o governo Hermes da Fonseca ainda teve um desgaste popular muito grande, enfrentando duas revoltas, a primeira em 1910 a Revolta da Chibata em seguida a Guerra do Contestado que durou de 1912 até 1916. A política econômica foi outro desastre, sem qualquer acerto acabou por entregar o país mais endividado ao seu sucessor. Venceslau Brás, seu sucessor acabou sendo eleito com facilidade, dado o caos em que estava a administração pública durante o governo Hermes da Fonseca. Com a eleição de Venceslau, vice de Hermes, a política do café com leite voltou a funcionar. Venceslau Brás (1914-1918) O governo de Venceslau começou durante a Primeira Guerra Mundial, ou seja, cenário de recessão para o mundo todo. Em relação ao conflito em si o Brasil manteve-se neutro até 1917, nesse ano ocorreram alguns afundamentos de navios brasileiros creditados aos alemães. Essa ação fez o país declarar guerra às Potências Centrais (Alemanha, Áustria-Hungria, Turquia). A participação do Brasil no conflito foi de patrulhamento das águas africanas. Além disso foi enviado à Europa uma missão médica, e muitos oficiais do Exército Nacional integraram as forças aliadas. A Primeira Guerra Mundial acabou forçando uma crescente industrialização no país, uma vez que as importações estrangeiras e as dificuldades de comunicação. Também no governo Venceslau ocorreu a “pacificação” do Contestado e a promulgação do Código Civil Brasileiro. No final de seu governo o país foi atingido por uma epidemia de “gripe espanhola”, que matou oito mil pessoas em São Paulo e 17 mil no Rio de Janeiro. Essa epidemia acabou vitimando o presidente eleito Rodrigues Alves e vice Delfim Moreira assumiu e convocou novas eleições. Nilo Peçanha, presidente do Rio de Janeiro, lançou a candidatura de Rui Barbosa, que recebeu amplas adesões. Porém, as classes conservadoras receavam as ousadas concepções liberais de Rui Barbosa. Para impedir a eleição de Rui Barbosa o PRM (Partido Republicano Mineiro) e o PRP (Partido Republicano Paulista) resolveram aceitar uma candidatura de conciliação, a do paraibano Epitácio Pessoa. Além da candidatura, e provável eleição, de Epitácio Pessoa paulistas e mineiros acertaram que o próximo candidato a presidente seria o mineiro Artur Bernardes e seu sucessor seria um candidato paulista. Governo de Epitácio Pessoa (1919-1922) Epitácio Pessoa procurou compor seu ministério com pessoas de sua confiança e que acreditava serem capacitados para os cargos. Causou profundo mal-estar nas Forças Armadas ao entregar as pastas da Guerra e da Marinha para civis. No plano econômico, a queda das exportações e dos preços do café obrigaram o presidente a efetuar grandes empréstimos no exterior. Aristocrático, Epitácio Pessoa gastou uma fortuna para comemorar o centenário da Independência com o objetivo de impressionar os convidados estrangeiros. A cidade foi limpa, os mendigos afastados um processo de higienização total. Ainda como uma forma de controlar os operários baixou uma lei de Repressão ao Anarquismo. O governo Epitácio marca um momento crucial na história do poder da oligarquia cafeeira. A modernidade brasileira, que entra nos anos 1920 com bastante vigor, rejeita as velhas fórmulas. Com o crescimento das cidades e da indústria, uma classe média e um proletariado mais consciente gritam por mais espaço e poder. Esse grito veremos mais adiante pode ser resumido no movimento tenentista, que vai se estender por toda a década de 20 envolvendo vários Estados brasileiros. Governo de Artur Bernardes (1922-1926) A eleição do mineiro Artur Bernardes, de 47 anos, não foi fácil. Ao contrário de seus antecessores que foram candidatos únicos, Artur Bernardes precisou derrotar uma coligação que reuniu outros Estados, o Exército, em especial os do movimento Tenentista, e alguns grupos organizados das populações urbanas, que lançaram o nome de Nilo Peçanha como candidato a presidente. Embora vencedor, o que prova que a máquina eleitoral continuava ativa, o presidente mineiro teve de enfrentar problemas ainda antes da posse. Eleito em março, já em julho, a Revolta Tenentista, tentou evitar que ele assumisse. Artur Bernardes governou o tempo todo sob estado de sítio. Seu governo foi marcado pela repressão. As insatisfações espocavam o tempo todo por vários locais do país. As autoridades, representantes da política do café com leite, tentavam manter-se no poder através do uso da violência. As medidas repressivas foram a censura à imprensa e o envio de presos políticos para a região Norte. Governo de Washington Luís (1926-1930) Carioca de nascimento fez sua vida política no Estado de São Paulo. Tão logo assumiu Washington Luís procurou acalmar os ânimos, para tanto suspendeu o Estado de sítio, mas não concedeu anistia política aos tenentes exilados. No plano político procurou calar a oposição com a chamada Lei Celerada, que punha fim à liberdade de imprensa e permitia a aplicação de penas aos chamados “Crimes ideológicos”. Duas grandes preocupações assinalaram seu governo, reformulação das finanças nacionais e a política de construção de estradas, sob o lema “Governar é abrir estradas”. A questão social continuava desalentadora. As organizações sindicais eram sufocadas por uma legislação repressiva, o que se agravou ainda mais com a crise de 1929 que afetou, igualmente, a economia. A sucessão de Washington Luís foi extremamente agitada. Devendo apontar para a sucessão um candidato mineiro ele acaba optando por Júlio Prestes, paulista, quebrando a política do café com leite. Os mineiros acabaram formando uma aliança com os outros Estados da federação e lançaram como candidato o gaúcho Getúlio Vargas, tendo como vice João Pessoa, da Paraíba. Apesar de todo o apoio, a máquina eleitoral funcionou mais uma vez, a última na República do café com leite, e elegeu o candidato do governo, Júlio Prestes. Porém, ele nem chegou a assumir, a revolução ganharia as ruas, e os derrotados, que já estavam procurando estabelecer alianças com os vencedores viram a chance de mudarem o resultado das eleições e iniciaram uma ofensiva. Getulio Vargas liderando o movimento chegou ao Rio de Janeiro e os revoltosos, depuseram Washington Luís e impediram a posse de Júlio Prestes. Chegava ao fim, depois de mais de trinta anos, a República do café com leite. Movimentos Sociais e Culturais na República Velha Ao longo do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, o Brasil rural, mergulhado na miséria, analfabetismo, injustiças sociais e intensa religiosidade, viu nascer diversos movimentos messiânicos. Esses movimentos tiveram enredo parecidos: o povo pobre segue um líder carismático; organiza-se em comunidades em busca de um reino celeste na Terra, crê no fim dos tempos e com a volta de Cristo. Tachadas por políticos, Igreja, imprensa e parte da sociedade como fanáticas, essas comunidades foram atacadas e destruídas. Os movimentos messiânicos traziam uma utopia social muito próxima dos movimentos revolucionários, ou seja, de mudança das estruturas econômicas e sociais, visando criar uma nova ordem que acabasse com as injustiças. Canudos Na segunda metade do século XIX, a economia nordestina passou por profunda depressão, em virtude da decadência da lavoura açucareira. As secas tão comuns ajudavam a intensificar o quadro de miséria. Antonio Conselheiro acaba tornando-se pregador religioso e atraindo centenas de pessoas. Os desentendimentos com a Igreja, e as autoridades além do temor das classes dominantes de enfrentar uma revolta popular propiciaram a Guerra de Canudos. A primeira expedição, composta de pouco mais de cem homens, foi facilmente repelida pelos sertanejos. A segunda, fracassou igualmente, pois os sertanejos colocaram em prática uma bem-sucedida guerra de guerrilhas, atacando, retrocedendo, esquivando-se, mas procurando debilitar as forças do exército, com grande sucesso. A terceira expedição, comandada por Antonio Moreira César, tinha 1200 homens e farto material bélico. Mais uma vez a guerra de guerrilhas deu resultados. Moreira César morreu em combate. Os sobreviventes fugiram sem qualquer organização, com a única intenção de salvar a própria vida. A derrota e a morte de Moreira César repercutiram intensamente em todo o país. Os republicanos raicais viam, no movimento de Canudos, uma tentativa de restaurar a monarquia. Diante dessa situação alarmant, organizou-se a quarta expedição, que seria comandada pelo general Artur Oscar, composta por 1900 homens. Mais tarde outra coluna, viria reforçar ainda mais a expedição. Mais de cinco mil homens foram enviados pelo ministro da Guerra. A cidade foi derrotada, aqueles que conseguiram fugir foram capturados, vendidos como trabalhadores domésticos nas grandes cidades, mulheres foram estupradas pelos soldados e a boa sociedade republicano pode descansar, o último reduto monarquista fora eliminado. Guerra do Contestado Entre 1912 e 1916, ocorreu na região contestada entre Paraná e Santa Catarina. Entretanto a guerra não foi por causa dos limites, mas foi uma disputa pela posse da terra entre os sertanejos e os latifundiários locais. Explorados, os sertanejos pelos latifundiários, acabaram sendo expulsos de suas terras pelo governo, pelas companhias estrangeiras e pelos oligarcas locais, deram início a uma guerra popular. A principal causa dessa guerra foi a concessão de extensas áreas de terras ao grupo de Percival Farquhar, que construía a estrada de ferro São Paulo – Rio Grande do Sul, a qual cortava a área contestada. Antes, porém os sertanejos foram expulsos de suas terras, o que causou a revolta. A rebelião sertaneja revestiu-se mais uma vez, de caráter religioso, pois, dentro das limitações históricas em que viviam a ideologia tinha um cunho místico. O beato, dessa vez, chamava-se José Maria e era tido como monge, santo e curador. O conflito envolvendo os seguidores do monge e as forças governamentais ocorreu na área disputada juridicamente por Paraná e Santa Catarina, região rica em pinherais e erva mate, espécies nativas. Expulsos de suas terras, insatisfeitos com a dura realidade em que viviam, os sertanejos passaram a acompanhar o monge José Maria, este após se desentender com um homem forte de Curitibanos, mudou-se para os Campos do Irani, no município de Palmas, em território paranaense. Assim que chegou a notícia a Curitiba, os jornais passaram a divulgar que o monge estava a serviço do governo de SC para ocupar as terras paranaenses, o que não correspondia à verdade. Imediatamente as forças legais do Paraná rumaram para a região, no conflito o monge José Maria e a liderança do governo, coronel João Gualberto morreram. Mais tarde os sertanejos voltaram a reunir-se, acreditando na ressurreição do monge. Depois de muitos confrontos com a polícia, e sem que houvesse um vencedor, o governo federal enviou tropas federais, que de início foram derrotadas pelos revoltosos, mas aos poucos as tropas federais foram cercando a área contestada, com isso foram vencendo os sertanejos pela fome e sede. Ao final das contas os sertanejos foram derrotados e os grupos dominantes mais uma vez tiveram controle sobre a população em sua totalidade. Revolta da Vacina Em 1904, durante o governo de Rodrigues Alves, aprovou-se a lei da vacina obrigatória, uma lei em si benéfica para a população, entretanto da forma como foi apresentada foi a gota d’água que o povo esperava para se rebelar. A indignação popular devia-se a fatores como a carestia dos produtos de alimentação, a falta de habitação, causada pela reforma urbana da capital federal, sem contar com a manipulação da população por adversários do governo que viram na revolta uma forma de ganhar politicamente. A revolta ocorreu em novembro de 1904, ocorreram enfrentamentos com a polícia, bondes oram irados, lojas depredadas houve tiroteios nas ruas, pessoas foram mortas ou feridas, muitos foram presos. Entretanto o governo, para por fim à revolta revogou a obrigatoriedade da vacina. A Revolta da Chibata (1910) Apesar de possuir uma marinha bastante moderna para o período o Brasil ainda era muito atrasado no que se referia ao tratamento dos marujos. Para a manutenção da disciplina havia o regime da chibata. Os marinheiros faltosos eram açoitados sob o rufar de tambores, e o castigo era assistido pelos demais. O estopim da revolta foi o castigo aplicado a Marcelino Rodrigues Menezes, enquanto levava 250 chibatadas, os companheiros se revoltaram, liderados pelo cabo João Cândido. Marinheiros de outros encouraçados também aderiram, esse fato ocorreu poucos dias depois da posse do presidente Hermes da Fonseca. As exigências dos rebeldes eram o fim das chibatadas e anistia aos rebeldes. O governo atendeu as exigências diante do poder de fogo dos revoltosos. Entretanto uma nova revolta, agora na Ilha das Cobras, fez com que o governo reprimisse esses revoltosos de maneira violenta e, ainda se voltasse para os líderes da Revolta da Chibata e os prendesse e mandasse para o Acre cumprir prisão por insubordinação. Greve Geral 1917 De 1903 a 1909 houve ascensão do movimento grevista. De 1911 a 1912, em decorrência do desmantelamento de sindicatos e da expulsão de estrangeiros, a onda grevista sofre uma certa depressão. Em 1917 ocorreram várias greves em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outras cidades. Em São Paulo, no mês de julho, 70 mil trabalhadores pararam. A repressão policial foi das mais violentas, porém os operários responderam à altura, ergueram barricadas, e os tiroteios se alastraram pela cidade toda. O comitê de defesa do proletariado exigiu 35% de aumento, proibição para o trabalho de menores de 14 anos, abolição do trabalho noturno para mulheres e menores de 18 anos, jornada de 8 horas, respeito ao direito de associação, congelamento dos preços de alimentos e redução de 50% no valor dos aluguéis. Depois de muita conversação o governo ofereceu um aumento de 20%, comprometeu-se com os grevistas a não dispensa-los e prometeu tomar medidas contra a carestia. Depois de muitas discussões os operários aceitaram terminar a greve, que durara uma semana. Tenentismo No início dos anos 20 o descontentamento dos jovens militares, a maioria oriunda da classe média, era muito grande. Mas não eram só os militares que reclamavam: os intelectuais, as populações das cidades e até as oligarquias dos Estados de fora da política do café com leite ansiavam por mudanças. Os militares criticavam os civis que detinham o poder acusando-os de atolar o país na corrupção e egemônico a. Segundo os militares só o exército poderia conduzir o país para a trilha do progresso e da moralidade. Nas eleições de 1922 os militares apoiaram o candidato derrotado, Nilo Peçanha. Derrotados pela máquina eleitoral corrupta da República, os jovens oficiais iniciaram um movimento sedicioso com a intenção de evitar a posse de Artur Bernardes. Em 5 de julho de 1922 um grupo de militares, sob a liderança de Siqueira Campos, não se rendeu ao governo e marchou em direção ao Palácio do Catete, sede do governo federal. Segundo a imprensa eram 18, por isso o episódio ficou conhecido como os 18 do Forte. No calçadão de Copacabana houve enfrentamento com as forças do governo e os revoltosos foram massacrados. Os levantes contra o governo federal continuaram, no Rio Grande do Sul, em São Paulo, o movimento tinha alcance nacional. Entretanto, como estavam menos articulados e sem o mesmo poder de fogo das tropas governistas, os tenentes acabavam sempre sendo derrotados. Sempre tendo que se retirar, as colunas gaúcha e paulista encontraram-se no Paraná. Os gaúchos liderados por Luís Carlos Prestes acabaram por dar origem à Coluna Prestes. A Coluna Prestes percorreu mais de 25 mil quilômetros pelo interior do Brasil. A marcha empreendida pela coluna não era uma retirada militar, mas uma forma de manter vivo o movimento revolucionário em todo o território nacional. Depois de muitos conflitos com as forças do governo, com muitas baixas, doentes, fracos, os revoltosos se retiraram para a Bolívia, mas seu trabalho estava feito, ajudou a derrubar a, chamada, República Velha, a questionar o poder das velhas oligarquias mineira e paulista. Conforme veremos mais adiante.