Contribuição da T.O no setor de hemodiálise do H.C. da U.F.M.G. INTRODUÇÃO: A Insuficiência Renal Crônica (IRC), é a perda progressiva e irreversível da função renal devido a fatores múltiplos como: glomerulonefrite, nefrite intersticial, nefrosclerose hipertensiva e nefropatia diabética. Geralmente, a falência renal não se instala de forma repentina, ocorrendo adaptações sistêmicas pelo tecido renal ainda não acometido, até que a insuficiência renal crônica instala-se realmente. ( RIELLA,1996 e ROMÃO Jr., 1995 ). O processo da perda da função renal é caracterizado por ROMÃO Jr. (1995) pelas seguintes fases clínicas: fase de insuficiência renal funcional, onde ocorre o início da perda função renal; fase de insuficiência renal crônica laboratorial onde os pacientes apresentam alguns sinais e sintomas de uremia*, no entanto encontram-se em boas condições clínicas; fase de insuficiência renal crônica clínica em que os pacientes apresentam perda de mais de 80% da função renal e fase de insuficiência renal crônica que é a fase terminal onde predomina a síndrome urêmica havendo perda total do controle do meio interno, indicando a necessidade de uma terapia substitutiva na forma de diálise ou transplante. A hemodiálise é um processo terapêutico que consiste na circulação do sangue num "circuito extracorpóreo, instalado em um rim artificial. O circuito é composto por uma linha, ramo ou set arterial e outra venosa, de material plástico, entre as quais se interpõe um hemodialisador, artefato de plástico que contém uma membrana hemodialisadora" (IWAMOTO, 1998) que é destinada a remover os catabólitos do organismo e a corrigir as alterações do seu meio interno. O transplante possibilita ao paciente libertar-se da dependência da máquina de hemodiálise, entretanto não é uma alternativa de fácil viabilidade devido a dificuldade em encontrar órgãos cadavéricos ou um doador familiar compatível. A IRC não é curada através do transplante renal, este apenas proporciona uma melhora na qualidade de vida uma vez que o doente não necessita da diálise (MATTA, 1993). Para ROMÃO Jr. (1995), o transplante renal ainda é considerado a melhor opção de tratamento para a IRC, uma vez que, se bem sucedido poderá proporcionar aos pacientes um retorno sem restrições à alimentação, à total liberdade de locomoção e ao ganho de tempo para realizar suas atividades normais. Apresentação do problema: A IRC é assintomática na maioria dos casos, manifestando-se apenas com a paralisação do rim. Assim, quando o paciente descobre que é portador da doença ele já necessita submeter-se ao tratamento dialítico. A manifestação da doença implica em mudanças abruptas no âmbito pessoal, familiar , profissional e social. Estas mudanças levam os pacientes a reorganizarem seus compromissos alterando horários de atividades domésticas, laborativas, escolares e de lazer. O paciente enfrenta a perda de um corpo saudável e ativo, por um corpo frágil e marcado por cicatrizes de fístulas, edemas, cortes para a introdução de catéteres, descoloração da pele, emagrecimento, dentre outros. Recebe também novas incumbências como: fazer dieta alimentar necessária ao tratamento, tomar medicações continuamente, ficar em repouso, conhecer a doença e suas limitações e lidar com as restrições físicas. (TRENTINI, 1990) Freqüentemente, o doente renal crônico sofre com a perda do emprego e da estabilidade econômica devido às restrições físicas e/ou da necessidade de dispor de longos períodos de tempo para diálise. Tal situação determina um dos principais problemas familiares quando o doente é o responsável pela manutenção financeira da família. Os contatos sociais diminuem, na maioria das vezes, devido as limitações físicas e as restrições alimentares impostas pelo próprio tratamento. Assim o paciente fica impossibilitado de participar de atividades sociais, já que a maioria estão associadas a festas e passeios. A IRC impõe ao paciente a necessidade de confiar a sua vida à uma máquina e à equipe responsável pelo tratamento. Esta situação de dependência é decorrente da própria natureza da hemodiálise e torna-se uma constante lembrança de quão frágil é sua vida. A hemodiálise oferece uma possibilidade de tratamento no entanto, apresenta riscos e efeitos colaterais, submetendo os pacientes a um estresse psíquico constante. Do paciente em tratamento hemodialítico é cobrado diariamente uma aderência a diminuição de líquidos às restrições alimentares e ao uso de medicamentos. A doença, por menos comprometedora que seja, implica em alguma mudança no estilo de vida do paciente. A diferença entre uma doença qualquer e a crônica é que esta última geralmente leva a mudanças permanentes. O acompanhamento terapêutico ocupacional busca tornar possível um descolamento do DOENTE RENAL CRÔNICO, propiciando que o paciente encontre novas possibilidades de conviver melhor com a sua doença. Tendo conhecimento dos comprometimentos e limitações que o doente renal crônico apresenta, apostamos na intervenção terapêutica ocupacional enquanto um recurso capaz de promover uma melhoria na qualidade de vida destes doentes, no âmbito social, afetivo e ocupacional. Fonte: RIELA, 1996. OBJETIVOS: Possibilitar um espaço para a simbolização dos significados da doença e do tratamento, trabalhando a falta de informação, os preconceitos e uma melhor convivência do paciente com a doença e o tratamento; Minimizar a ansiedade a que esta clientela está submetida, devido às especificidades do tratamento e às complicações do quadro clínico; Diminuir a ociosidade decorrente da debilidade do quadro clínico do tratamento hemodialítico, Estimular e desenvolver a socialização, através de atividades recreativas, lúdicas e criativas realizadas com o grupo em questão; Intervir no ambiente, introduzindo atividades enquanto elemento capaz de possibilitar ao paciente tornar-se produtivo e estabelecer uma nova relação com a equipe e o s demais integrantes do grupo. METODOLOGIA: 1)- Espaço Físico/Equipe: O centro dialítico do Hospital das Clínicas funciona no primeiro andar do referido hospital na ala oeste. O setor possui 13 (treze) máquinas de hemodiálise sendo que 10 (dez) encontra-se em duas salas conjugadas e 3 (três) estão em outra, denominada Sala Amarela que é destinada a pacientes portadores de hepatite o tipo B. A equipe é composta por: seis médicos, três enfermeiras, uma gerente de enfermagem, dois residentes de medicina, dezessete auxiliares de enfermagem, quatro técnicos de enfermagem, uma assistente social, uma nutricionista, uma psicóloga, duas secretárias e uma coordenadora administrativa. 2)- Dinâmica do setor: Os pacientes são divididos em 04 (quatro) grupos que são atendidos em dois turnos, em uma freqüência de 2 a 3 vezes por semana por um período de quatro horas, indiferentemente do sexo e da faixa etária. O grupo atendido freqüenta o setor hemodialítico às terças quintas e sábados no período da manhã. 3)- Clientela: Foram atendidos pela terapia ocupacional um total de 18 (dezoito) pacientes, sendo 8 (oito) do sexo masculino e 10 (dez) do sexo feminino. Dentre estes pacientes, ocorreram dois óbitos, um transplante e uma transferência de grupo devido às particularidades do caso. Dois pacientes freqüentam o setor hemodialítico duas vezes por semana devido às necessidades do seu quadro clínico. Alguns pacientes que receberam atendimento terapêutico ocupacional não foram incluídos neste estudo por freqüentarem o setor esporadicamente, devido a hospitalizações ou mudanças temporária de turno por motivos pessoais. 4)- Desenvolvimento do projeto: O projeto foi implantado no setor de hemodiálise do Hospital das Clínicas da U.F.M.G. devido à demanda do setor e as características da clientela atendida corresponderem aos propósitos do estudo. Este projeto foi desenvolvido no período de janeiro de 1998 a junho de 1999. Neste período houveram interrupções dos atendimentos nos meses de julho e dezembro de 1998, e janeiro de 1999, correspondendo aos recessos escolares. No primeiro semestre de 1998 realizou-se entrevistas individuais, registradas manualmente pelas acadêmicas, através das quais foram analisadas as atividades adequadas a cada paciente. Considerou-se o interesse do paciente, o quadro clínico, a adaptação para o trabalho, o universo cultural e as limitações do ambiente hospitalar. No segundo semestre de 1998 aplicou-se questionários individuais com o objetivo de coletar dados referentes à vida familiar, profissional, social e detectar mudanças surgidas a partir dos atendimentos terapêuticos ocupacionais. No primeiro semestre de 1999 realizou-se entrevistas individuais com 01 (uma) enfermeira e 10 (dez) auxiliares de enfermagem que atendem aos pacientes do setor hemodialítico e acompanharam o desenvolvimento deste projeto, sendo que estas entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas pelas acadêmicas. O objetivo foi constatar se ocorreram mudanças significativas no grupo atendido pela terapia ocupacional. 5)- Dinâmica das intervenções da Terapia Ocupacional: Nos dois primeiros semestres, os atendimentos terapêuticos ocupacionais realizavam-se às terças, quintas e sábados, correspondendo à freqüência do grupo que participou deste estudo. No primeiro semestre de 1999 os atendimentos reduziram para duas vezes por semana, alternando-se os dias, devido à necessidade das acadêmicas em dispor de tempo para redigir o estudo. Os atendimentos tinham duração de 60 a 90 minutos, realizados individualmente ou em grupo, durante o processo hemodialítico. A escolha das atividades dependia do interesse e das limitações de cada paciente. Podemos exemplificar com uma paciente que demonstrou interesse em aprender o ponto cruz, mas devido aos déficits visuais decorrentes da ICR, não foi possível realizar tal atividade. Nos atendimentos individuais foram utilizadas atividades como: jogos de mesa ( dama, ludo, dominó, resta 1, xadrez chinês, quebra-cabeças), pintura em papel, desenho, colagem, tapeçaria, bordado e leitura. Nos atendimentos em grupo foi utilizado o jogo do bingo, aos sábados, envolvendo todos os pacientes e alguns membros da equipe. Esta atividade mobilizava os pacientes por ser um jogo popular, de fácil aprendizado e pela possibilidade de ganhar o prêmio. A escolha do prêmio pelas acadêmicas tinha o objetivo de incentivar o autocuidado ( batom, creme, perfume, espelho, etc.), a realização de atividades em casa ( linhas, tesoura, agulhas, etc.) e estimular o estudo ( lápis, caderno, giz de cera, agenda, réguas, etc). A comemoração do Natal foi realizada no dia 17 de dezembro de 1998 em conjunto com a equipe do setor, com a participação de todos os grupos atendidos na hemodiálise. A campanha intitulada "Pintando o 7 no refeitório!", desenvolvida junto aos pacientes, foi realizada no dia 15 de maio de 1999. O objetivo da campanha era tornar o ambiente do refeitório mais agradável, assim foram pintadas mesas e cadeiras com uma pequena participação dos pacientes. Acredita-se que os pacientes não participaram da atividade por , não apresentarem condições físicas, já que a mesma realizou-se após a hemodiálise. Outra hipótese pode ser a falta de interesse dos pacientes. RESULTADOS: Foi possível constatar através dos gráficos referentes à realização de atividades que apesar de 87% dos pacientes realizarem atividades domésticas, apenas 75% realizam, atualmente, atividades profissionais (remunerada). Esses dados podem estar relacionados à necessidade do paciente dispor de um tempo para o tratamento hemodialítico, que perfaz um total de 20 horas semanais, às limitações físicas decorrentes do quadro clínico e à indisposição devido à hemodiálise como náuseas, vômitos, sonolência, etc. Dentre os entrevistados, 69% realizam atividades de lazer e 81% deixaram de realizar estas atividades devido à doença. Para a maioria dos entrevistados o lazer está associado a festas e viagens, tornando-se uma dificuldade as restrições alimentares e as limitações com a locomoção. Durante os atendimentos era incentivado o retorno às atividades de lazer/sociais. Ao ser considerado os aspectos referentes ao tratamento hemodialítico, percebeu-se que 38% dos pacientes entrevistados têm conhecimento sobre a IRC, mas desejam obter maiores informações sobre a mesma. Nos atendimentos da terapia ocupacional ofereceu-se um espaço onde a falta de informação, os preconceitos e a melhor convivência do paciente com sua doença eram trabalhados através da simbolização dos significados da doença e do tratamento. Com relação à intervenção terapêutica ocupacional constatou-se uma mudança no relacionamento entre os pacientes. Algumas atividades coletivas desenvolvidas nos atendimentos, como o bingo, possibilitavam a socialização dos pacientes e destes com a equipe. Dos entrevistados 86% não realizavam nenhuma atividade durante a hemodiálise e 100% consideram importante o trabalho da terapia ocupacional no setor de hemodiálise, relatando que: "ajuda a passar o tempo mais rápido", "distrai", "não fica pensando em besteira", "dorme menos" e "aprende coisas diferentes". Através das atividades utilizadas, objetivou-se diminuir a ociosidade e minimizar a ansiedade a que esta clientela está submetida. CONCLUSÃO: Considerando os resultados obtidos, os aspectos pesquisados na literatura, e a clínica percebeu-se a importância da Terapia Ocupacional enquanto integrante da equipe que assiste ao doente renal crônico. Atendendo aos pacientes no momento em que estão sendo submetidos à hemodiálise constatou-se mudanças significativas como: simbolização dos significados da doença e do tratamento, diminuição do ócio minimização da ansiedade e melhora no relacionamento entre os pacientes e destes com a equipe. Através da utilização de atividades, foi oferecido um espaço à subjetividade onde os doentes renais crônicos pudessem viver apesar de sua doença e não por causa dela, mesmo submetendo-se a um tratamento que embora doloroso e desgastante é indispensável para sua vida. Perguntas: Você considera que ocorreram mudanças significativas no grupo atendido pela terapia ocupacional? Quais? Você considera que ocorreram mudanças no relacionamento entre os pacientes e dos pacientes com a equipe? 3. Questionário 1) Nome:____________________________________________________________ Endereço:__________________________________________________________ _________________________________________________Tel:______________ Data de Nasc.: ____/____/____ sexo:________ naturalidade:_________ estado civil:______________ escolaridade:__________________ profissão:____________________________ Registro n º :__________________ 2) Quantas pessoas moram em sua casa?____________________ 3) Como é o seu relacionamento em sua casa? __excelente __bom __razoável __ruim 4) Você realiza alguma atividade em casa ou fora de casa que contribua para o funcionamento da rotina doméstica? __sim __não Qual (is)?____________________________________________________ ____________________________________________________________ 5) Se a resposta anterior for negativa: Anteriormente você realizava alguma atividade em casa ou fora de casa que contribuísse para o funcionamento da rotina doméstica? __sim __não Qual (is)?____________________________________________________ ____________________________________________________________ 6) Atualmente, você realiza alguma atividade profissional? __sim __não Qual?________________________________________________________ 7) Você já realizou alguma atividade profissional? __sim __não Qual?________________________________________________________ 8) Atualmente, existe alguma atividade que o faz sentir-se bem? __sim __não Qual (is)?______________________________________________________ 9) Atualmente você realiza alguma atividade de lazer? __sim __não Qual (is)?______________________________________________________ 10) Você deixou de realizar algum tipo de atividade de lazer que realizava anteriormente? __sim __não Qual (is)?______________________________________________________ 11) Existe algum tipo de atividade que você realizava antes e considera que não pode realizar hoje devido à doença? __sim __não Qual (is)?______________________________________________________ 12) Você sabe qual o motivo que o faz submeter-se à hemodiálise? __sim __não 13) Você sabe o que é insuficiência renal crônica? __sim __não 14) Você sabe o que é hemodiálise? __sim __não 15) Há quanto tempo você realiza hemodiálise?____________________ 16) Você gostaria de obter maiores informações sobre a sua doença? __sim __não 17) Você é informado pela equipe acerca dos procedimentos aos quais será submetido? __sim __não 18) Como você considera o atendimento da equipe do setor de hemodiálise? __excelente __bom __razoável __ruim 19) Você sabe como deve ser sua dieta? __sim __não 20) Se a resposta for positiva, a ingestão de líquidos é limitada? __sim __não 21) Você conversa sobre sua doença com outras pessoas? __sim __não 22) Após iniciar o tratamento, houve mudança no seu relacionamento com as outras pessoas? __sim __não 23) Você considera que o tratamento limita sua rotina? __sim __não Em quê? _____________________________________________________ ____________________________________________________________ 24) Como era o seu relacionamento com os outros pacientes do setor de hemodiálise? __excelente __bom __razoável __ruim 25) Atualmente, como é o seu relacionamento com os outros pacientes do setor de hemodiálise? __excelente __bom __razoável __ruim 26) Antes de dar início aos atendimentos da Terapia Ocupacional, você realizava algum tipo de atividade durante a hemodiálise? __sim __não Qual (is)? ___________________________________________________ ___________________________________________________________ 27) Dentre as atividades utilizadas nos atendimentos da Terapia Ocupacional: De qual (is) você mais gosta?___________________________________ Qual (is) você menos gosta?____________________________________ Qual (is) atividades gostaria de fazer?_____________________________ 28) Você considera importante o trabalho da Terapia Ocupacional durante a hemodiálise? __sim __não Porquê? ___________________________________________________ __________________________________________________________ 29) Você acredita que ocorreram mudanças durante as sessões de hemodiálise após o início dos atendimentos da Terapia Ocupacional? __sim __não Quais?____________________________________________________ __________________________________________________________ 30) Os atendimentos da Terapia Ocupacional trouxeram alguma mudança na sua rotina diária? __sim __não Quais?____________________________________________________ _________________________________________________________ 4.MATERIAIS UTILIZADOS PELA TERAPIA OCUPACIONAL: ATIVIDADES Tapeçaria Bordado Pintura Desenho Colagem Jogos MATERIAL DE CONSUMO -Telagarça -Lãs -Etamine -Linhas -Tinta para tecido -Tinta guache -Saco de linhagem -Papel ofício -Papel carbono -Liquibrilho -Lápis de cor -Giz de cera -Papel ofício -Papel ofício branco e colorido -Cola -Papel cartão -Palito de picolé MATERIAL PERMANENTE -Tesoura -Agulha -Agulha -Tesoura -Bastidor -Pincéis -Apontador -Estilete -Tesoura -Dama -Ludo -Bingo -Dominó -Quebra-cabeça -Resta 1