O que é Filosofia da Linguagem? William P. Alston A Filosofia da

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O que é Filosofia da Linguagem?
William P. Alston
A Filosofia da Linguagem está ainda menos bem definida e possui um princípio de unidade
ainda menos claro do que a maioria dos outros ramos da Filosofia. Os problemas da linguagem que são
tipicamente tratados pelos filósofos constituem uma coleção pouco conexa, para a qual é difícil encontrar
qualquer critério nítido que a distinga dos problemas de linguagem de que se ocupam gramáticos,
psicólogos e antropólogos. Podemos chegar a uma noção inicial da amplitude dessa coleção fazendo um
levantamento dos vários pontos onde, no âmbito da Filosofia, surge o interesse pelos problemas da
linguagem.
Fontes do Interesse do Filósofo pela Linguagem: A Metafísica
Vejamos, em primeiro lugar, os modos como os problemas relativos à linguagem se manifestam
nos vários ramos da Filosofia. A metafísica é a parte da Filosofia que se caracteriza, em suas linhas
gerais, como uma tentativa para formular os fatos mais genericamente universais, incluindo uma
enumeração das categorias mais básicas a que pertencem as entidades e alguma representação de suas
inter-relações. Sempre houve filósofos que tentaram chegar a alguns desses fatos fundamentais
considerando os aspectos básicos da linguagem que usamos para falar sobre o mundo. Lemos no livro X
de República de Platão : "Sempre que um determinado número de indivíduos tem um nome comum
supomos que tenham também uma idéia ou forma correspondente" ( 596 ) . Para esclarecer essa
observação algo enigmática, Platão chamou a nossa atenção para um aspecto genérico da linguagem, de
que um determinado substantivo ou adjetivo, por exemplo, 'árvore' ou 'agudo', pode ser verdadeiramente
aplicado no mesmo sentido a um grande número de coisas distintas e diferentes; a sua opinião é de que
isso só será possível se existir alguma entidade designada pelo termo geral em questão – arboridade,
agudeza - da qual compartilha cada um dos indivíduos. Caso contrário, seria impossível aplicar o termo
geral no mesmo sentido a vários indivíduso diferentes.
Encontramos também Aristóteles, em sua Metafísica, argumentando da seguinte maneira;
"E assim, poder-se-ia até levantar a questão de saber se as palavras caminhar , ter saúde , sentar ,
implicam que cada uma dessas coisas seja existente, e do mesmo modo em outros casos deste
gênero; pois nenhuma delas subsiste por si própria nem é capaz de manter-se separada da
substância mas, antes, se realmente é alguma coisa, é aquilo que anda, ou se senta ou é saudável
que é uma coisa existente. Ora, tais palavras são tidas na conta de mais reais porque existe algo
definido que lhes é subjacente (isto é, a substância, ou indivíduo), que está implícito nesse
predicado; pois nunca usamos a palavra "bom" ou "sentado" sem subentender isso". ( Livro Zeta,
capítulo 1. )
Neste caso, Aristóteles parte do fato de que nunca usamos verbos a não ser em conexão com
sujeitos, de que não dizemos "Senta", "Caminha" etc., mas, antes, "Ele está sentado" ou "Ela caminha".
Deste fato conclui que as substâncias, as "coisas", têm uma espécie independente de existência que as
ações não têm, que as substâncias são ontologicamente mais fundamentais do que as ações.
Um exemplo mais exagerado vamos encontrar no filósofo alemão do fim do século XIX,
Meinong, que parte da suposição de que toda a expressão significativa numa frase ou proposição (pelo
menos, qualquer expressão significativa que tenha a função de referir-se a algo) deve ter um referente;
caso contrário, nada haveria que pudesse significar. Logo, quando temos uma expressão obviamente
significativa que não se refere a coisa alguma no mundo real, por exemplo, "a Fonte da Juventude", na
frase "De Soto está à procura da Fonte da Juventude" , devemos supor que se referia a uma entidade
"subsistente", que não existe mas tem algum outro modo de ser. Esta doutrina, assim como a posição
platônica acima apresentada, baseia-se numa assimilação confusa de significado e referência, que
tentaremos destrinçar no primeiro capítulo.
O pressuposto contido nesses padrões de argumentação metafísica tornou-se patente no
movimento filosófico do século XX conhecido como atomismo lógico, cujos expoentes mais destacados
foram Bertrand Russell e Ludwig Wittgenstein (no seu período inicial). Em sua série de artigos, "A
Filosofia do Atomismo Lógico", Russell explica com clareza o princípio;
". . . num simbolismo logicamente correto haverá sempre uma certa identidade fundamental de
estrutura entre um fato e o seu símbolo respectivo; e... a complexidade do símbolo corresponde
intimamente à complexidade dos fatos por ele simbolizados."1
Note-se que essa identidade de estrutura é postulada como válida não entre qualquer linguagem
existente e a estrutura metafísica básica do mundo, mas somente entre uma "linguagem logicamente
perfeita" e a estrutura metafísica.. A hipótese formulada é de que, quando criamos tal linguagem ou
adquirimos, pelo menos, uma idéia sumária do que essa linguagem poderia ser, estaremos então aptos a
tirar várias conclusões sobre os tipos de fatos de que a realidade é feita e a estrutura de cada um desses
fatos. Verificaremos quais diferentes tipos de proposições possuímos nessa linguagem para afirmar fatos,
por exemplo, simples frases de sujeito-predicado como "Este livro é pesado" e frases existenciais como
"Há um gato na varanda"; e veremos como esses vários tipos de proposições estão logicamente
correlacionados. Isso nos dirá quais são os tipos básicos de fatos de que a realidade é feita e como os fatos
desses vários tipos estão correlacionados.
Lógica
Outro ramo da Filosofia em que o interesse pela linguagem tem lugar preponderante é a lógica.
A lógica é o estudo da inferência; mais precisamente, é a tentativa de criação de critérios para distinguir
as inferências válidas das inválidas. Como o raciocínio se efetua pela linguagem, a análise das inferências
depende da análise dos enunciados que figuram como premissas e conclusões. O estudo da lógica revela o
fato de que a validade ou invalidade de uma inferência depende das formas dos enunciados, que
compõem as premissas e a conclusão, entendendo-se por "forma" as espécies de termos que os
enunciados contêm e o modo como esses termos estão combinados no enunciado. Assim, de duas
inferências que superficialmente parecem muito semelhantes, uma poderá ser válida e a outra inválida por
causa de uma diferença na forma de um ou mais dos enunciados envolvidos. Consideremos os seguintes
pares de inferências.
1. Joe Carpenter vende apólices de seguro em nossa cidade.
Joe Carpenter pertence à Primeira Igreja Metodista.
Portanto, Joe Carpenter não só vende apólices de seguro em nossa cidade, como pertence à Primeira
Igreja Metodista.
2. Alguém vende apólices de seguro em nossa cidade.
Alguém pertence à Primeira Igreja Metodista.
Portanto, alguém vende apólices de seguro em nossa cidade e pertence à Primeira Igreja Metodista.
Ora, 1 é, claramente, um argumento válido e 2 é, claramente, inválido. Dados os fatos de
que alguém vende seguros nesta cidade e alguém pertence á Primeira Igreja Metodista, não se segue, em
absoluto, que exista alguém de quem ambas essas coisas sejam verdadeiras. Como um desses argumentos
é válido e o outro inválido, decorre que, apesar das superficiais semelhanças gramaticais, uma frase como
a. "Joe Carpenter vende apólices de seguro em nossa cidade" é de uma forma lógica muito diferente de
uma frase como b. "Alguém vende apólices de seguro em nossa cidade". Existem outros indícios disso. A
frase b é equivalente a "Existe alguém que vende apólices de seguro em nossa cidade" e " A classe de
pessoas que vendem apólices de seguro em nossa cidade não está vazia'', mas não podemos encontrar tais
equivalentes para a frase a. Quando as premissas e conclusão da inferência 2 são colocadas numa dessas
formas, o argumento perde sua semelhança superficial com a inferência 1 e não parece de modo algum
válido.
3. Há alguém que vende apólices de seguro em nossa cidade.
Há alguém que pertence à Primeira Igreja Metodista.
Portanto, existe alguém que vende apólices de seguro em nossa cidade e pertence à Primeira Igreja
Metodista.
Fica evidenciado em tais exemplos que uma importante parte da lógica consiste da classificação
de enunciados em função de sua forma "lógica" (isto é, aspectos da forma que são relevantes para a
avaliação da inferência). E essa classificação requer, por seu turno, uma classificação dos tipos de termos
que entram nos enunciados, pois uma diferença formal assenta, muito freqüentemente, numa diferença
entre os tipos de termos envolvidos. No exemplo precedente, a diferença de forma lógica entre as frases a
e b assenta numa diferença fundamental entre um nome próprio como "Joe Carpenter", que tem a função
de selecionar um determinado indivíduo, e uma locução como "alguém", que tem uma função muito
diferente.
A Epistemologia
O ramo da Filosofia conhecido como Epistemologia ou Teoria do Conhecimento envolve a
linguagem em certos pontos, sendo o mais importante o problema do conhecimento a priori. Temos um
conhecimento apriorístico quando sabemos algo sem que esse "algo" esteja fundamentado na experiência.
Parece que temos um conhecimento desse gênero na matemática e talvez em outras áreas também; e o
fato de termos tal conhecimento parece ter deixado os filósofos freqüentemente perplexos. Como é que
podemos saber com toda a certeza, independentemente de observações, medidas etc., que os ângulos de
um triângulo euclidiano, todos somados, são iguais a 180 graus? Ou que 8 mais 7 é sempre e
invariavelmente igual a 15? Como podemos estar certos de que nenhuma experiência jamais desmentirá
essas convicções? Uma resposta que tem sido freqüentemente dada é que, em tais casos, o que estamos
afirmando é verdadeiro por definição ou verdadeiro em conseqüência das significações dos termos
envolvidos. Quer dizer, faz parte do que significamos com o uso de "8", "7", "15", "mais" e "igual'' que 8
mais ~ igual a 15; e negar esta afirmação seriamente implicaria a mudança de significação de um ou mais
desses termos. A propriedade desta explicação do conhecimento a priori é e tem sido objeto de
considerável controvérsia; mas, quer a posição se justifique ou não, é evidente que, mesmo considerandoa seriamente, somos levados inevitavelmente a indagações por que um termo tem um certo significado P
como é que um enunciado pode ser verdadeiro em virtude de certos termos possuírem o significado que
possuem.
Reforma da Linguagem
Há também motivos filosóficos de interesse pela linguagem que nada têm a ver com os
problemas de um ou outro ramo da Filosofia mas, sim, com os tipos de atividade a que os filósofos são
levados em muitos ramos da matéria. Um destes é a reforma da linguagem. Os pensadores de muitos
campos são propensos a se queixarem de deficiências da linguagem, mas os filósofos têm estado mais
preocupados, e com razão, com esse gênero de problema do que a maioria. A filosofia é muito mais uma
atividade puramente verbal do que uma ciência que reúne e colige fatos sobre reações químicas,
estruturas sociais ou formações rochosas. A discussão verbal é o laboratório do filósofa, onde ele submete
suas idéias a teste. Não surpreende, portanto, que o filósofo seja especialmente sensível às imperfeições
em seu principal instrumento. As queixas filosóficas sobre a linguagem têm tomado variadas formas.
Temos os filósofos da intuição mística, como Plotino e Bergson, que consideram a linguagem
intrinsecamente inadequada à formulação da verdade fundamental. Segundo esse ponto de vista, só
podemos realmente apreender a verdade mediante uma união, sem palavras, com a realidade; as
formulações lingüísticas só nos proporcionariam, na melhor das hipóteses, perspectivas mais ou menos
desvirtuadas. Mas, com maior freqüência, os filósofos não se mostram propensos a renunciar à
conversação, nem mesmo em teoria. As queixas, em geral, têm sido dirigidas contra algum estado ou
condição corrente da linguagem, e a implicação é de que deveriam ser tomadas providências para
remediar essa situação, Esses filósofos podem ser, metodicamente, divididos em dois grupos, Há os que
mantêm que a "linguagem vulgar'', a linguagem da conversação cotidiana, é perfeitamente adequada aos
fins filosóficos, e que o mal reside no fato de se desviar da linguagem vulgar sem que se providencie,
realmente, um meio qualquer de dar sentido ao desvio. Encontramos exemplos desse tipo de queixas ao
longo da história da Filosofia, como foi o caso dos protestos de Locke contra o jargão escolástico;
entretanto, foi em nossa própria época que tais reclamações se converteram na base de um movimento
filosófico - o da "filosofia da linguagem comum". Em sua mais vigorosa forma, tal como observamos nas
últimas obras de Ludwig Wittgenstein, ela sustenta que todos ou, pelo menos, a maioria dos problemas da
Filosofia promanam do fato de os filósofos terem usado mal alguns termos decisivos, como "saber",
"ver", "livre", "verdadeiro" e "razão". Foi porque os filósofos se afastaram do uso ou usos comuns desses
termos, sem os substituir por algo inteligível, que acabaram por cair em enigmas insolúveis sobre se
podemos saber o que outras pessoas estão pensando ou sentindo; se realmente vemos, de modo direto,
qualquer objeto físico; se agimos sempre livremente; se temos sempre alguma razão para supor que as
coisas acontecerão de uma maneira ou de outra no futuro. Segundo Wittgenstein, o papel do filósofo que
chegou a essa conclusão é o papel de um terapeuta; sua tarefa consiste em remover as "limitações
conceptuais'' em que caímos.
Em segundo lugar, há os que, ao contrário, sustentam que o problema decorre do fato de ser a
própria linguagem vulgar inadequada para fins filosóficos, em vista de sua indefinição, ambigüidade,
caráter vago e inexplícito, dependência do contexto e de sua natureza propícia a interpretações ilusórias
ou equívocas. Esses filósofos, como Leibniz, Russell e Carnap, consideram ser sua tarefa a construção de
uma linguagem artificial ou, pelo menos, a delineação de uma linguagem tal em que esses efeitos sejam
remediados. Como acentuamos antes, esse empreendimento é, por vezes, estimulado pela convicção de
que é possível, pela estrutura dessa linguagem, entender todos os fatos sobre a estrutura metafísica da
realidade.
Para os nossos propósitos, o interesse principal por essas queixas e esquemas de reforma reside
no modo como as concepções gerais da linguagem e da significação estão neles envolvidas. Até a posição
mística pressupõe uma certa noção da natureza da linguagem; de outro modo, não disporíamos de base
alguma para sustentar que a linguagem é intrinsecamente incapaz de servir como formulação adequada da
verdade. As outras posições envolvem, necessariamente, concepções mais positivas das condições em que
a linguagem é significativa e desempenha adequadamente suas funções. Assim, o critério de
verificabilidade da significação, ao qual dedicaremos a maior parte de um capítulo, promana de uma
posição do gênero descrito em último lugar.
A Filosofia como Análise
A questão final diz respeito à noção de que a tarefa primordial, senão integral, da Filosofia
consiste na análise conceptual. A análise de conceitos básicos foi sempre uma preocupação dominante
dos filósofos. Nos Diálogos de Platão, Sócrates é representado como se passasse a maior parte do tempo
fazendo perguntas como "0 que é justiça?" e "0 que é sabedoria?" As obras de Aristóteles foram
dedicadas, em grande parte, a tentativas para chegar à definição adequada de termos como "causa",
"bem", "movimento'' e "conhecimento". Tradicionalmente, tem-se considerado que, por mais importante
que seja essa atividade, é ainda preliminar às tarefas básicas do filósofo - as de chegar a uma concepção
adequada da estrutura fundamental do mundo e a um adequado conjunto de normas para a conduta e
organização social humanas. Mas, em nosso tempo, vem-se fixando a convicção de que o método usado
na Filosofia, que pode ser sucintamente definido como reflexões de gabinete, sem a suplementação de
observações ou experimentações especiais, não é realmente suficiente para produzir quaisquer conclusões
substantivas sobre a natureza do mundo ou as condições em que a vida é bem ou mal vivida; e de que o
que está apto a produzir é a clareza no tocante aos conceitos básicos em cujos termos pensamos no
mundo e na vida humana. Essa transferência maciça do centro de gravidade da atividade filosófica é de
particular relevância para a filosofia da linguagem, por causa de uma concomitante mudança da própria
idéia da análise conceptual. Há três maneiras muito diferentes de formular um problema em filosofia
analítica, quer estejamos tratando de causação, verdade, conhecimento ou obrigação moral. Tomando o
problema do conhecimento para nosso modelo, podemos dizer que ; 1. estamos investigando a natureza
do conhecimento; 2. estamos analisando 0 conceito de conhecimento; ou 3. estamos tentando tornar
explícito o que uma pessoa está dizendo quando afirma saber que uma coisa é dessa ou daquela natureza.
É possível que 1 e 2 sejam metodologicamente falazes. 1 sugere, falsamente, que a tarefa consiste em
localizar e examinar uma certa entidade chamada "conhecimento", uma entidade que existe e é o que é
independentemente do nosso pensamento e discurso. Infelizmente, ninguém descobriu até hoje uma
técnica aceitável para localizar e examinar tais entidades. 2 está sujeito a nos desorientar se não for
simplesmente reconhecido como uma forma alternativa de 3, pois sugere que a tarefa consiste em analisar
introspectivamente algo chamado "conceito" e descobrir as partes que o compõem e o modo como estão
reunidas. Também, neste caso, parece não ser possível desenvolver uma técnica objetiva para fazer tal
coisa. Aumenta a convicção de que mesmo quando um filósofo, ao tratar do conhecimento, formula os
seus problemas como 1 ou 2, o que ele realmente faz, à medida que os seus resultados têm qualquer valor,
é refletir sobre os vários aspectos do uso de "saber" e seus cognatos.
Assim, à medida que a Filosofia consiste em análise conceptual, está sempre interessada na
linguagem. E, se toda ou grande parte da tarefa do filósofo é fazer ressaltar as características do uso ou da
significação de várias palavras ou formas de enunciado, então ser-lhe-á essencial proceder de acordo com
alguma concepção, geral da natureza do liso e da significação lingüísticos. Isso se torna ainda mais
importante quando os filósofos analíticos se envolvem em persistentes debates sobre o que uma certa
palavra significa ou sobre se duas expressões ou formas de expressão têm o mesmo ou diferente
significado. Há sérias divergências na filosofia analítica sobre se ``Eu sei que p" significa o mesmo que
"Eu acredito que p, tenho bases adequadas para acreditar e p é o caso"; sobre se "A é a causa de B''
significa. simplesmente, que A e B estão, de fato, regularmente associados; sobre se "estar triste'' significa
o mesmo que "Eu estou triste" e "Ele está triste"; e se qualquer enunciado teórico na ciência pode ter o
mesmo significado de alguma combinação de relatos de observação. Quando tais discussões não são
resolvidas pelo nosso senso intuitivo do que significam as expressões lingüísticas, o filósofo é forçado a
desenvolver alguma teoria explícita do que significa para uma expressão lingüística ter um determinado
sentido, e das condições em que duas expressões terão a mesma significação. Assim, à medida que a
Filosofia é concebida, primordialmente, como análise conceptual, a filosofia da linguagem ocupa uma
posição central na teoria do método filosófico.
Problemas da Filosofia da Linguagem
Tendo visto alguns dos pontos, nos setores mais centrais da Filosofia, em que somos,
naturalmente levados para uma análise explícita dos problemas respeitantes à linguagem, podemos agora
passar a um breve exame preliminar desses problemas. Como acentuei antes, não seria realista esperar
uma unidade compacta nesse assunto. Mas se podemos concordar em considerar a análise conceptual
como o âmago da filosofia, então podemos também conceder um lugar de destaque, entre esses
problemas, à tarefa de uma análise adequada dos conceitos básicos que usamos ao pensar em linguagem.
Embora não haja razão para que um filósofo não ponha suas ferramentas analíticas em ação para trabalhar
qualquer dos conceitos básicos relacionados com a linguagem, a tendência tem sido, entretanto, para se
concentrar nos conceitos semânticos, por exemplo, o conceito da significação linguística e seus cognatos,
identidade de significações etc. Isso se deve, em parte, ao fato de muitas das preocupações filosóficas
enumeradas na primeira parte desta introdução levarem, naturalmente, a que se levantem interrogações
sobre a natureza da significação e, também em parte, porque o fato de uma certa palavra ter uma
determinada significação talvez pareça misterioso, no sentido de que freqüentemente dá origem ã reflexão
filosófica. Grande parte deste livro será dedicada á análise de conceitos semânticos.
Seria ilusório sugerir que a filosofia da linguagem. mesmo como é praticada pelos filósofos
analíticos, esteja limitada à análise conceptual, ao esclarecimento dos conceitos básicos referentes à
linguagem. Há várias outras tarefas que os filósofos tipicamente se impõem. Ë a classificação de atos
lingüísticos, "usos" ou "funções" da linguagem, tipos de indefinição, tipos de termos, várias espécies de
metáforas. Existem estudos sobre o papel da metáfora na ampliação da linguagem; sobre as inter-relações
entre linguagem, pensamento e cultura; e sobre as peculiaridades do discurso poético, religioso e moral. A
criação de linguagens artificiais tem sido sugerida para vários propósitos. Há meticulosas investigações
sobre as peculiaridades de determinados tipos de expressões, como os nomes próprios e as expressões
referentes de plural; e de determinadas formas gramaticais, como a forma sujeito-predicado. Alguns
desses problemas se situam na fronteira entre a Filosofia e disciplinas mais especiais e todos eles
poderiam ser tratados em uma ou outra dessas disciplinas. Assim, a Psicologia poderia assumir a tarefa de
distinguir entre diferentes tipos de comportamento lingüístico e poder-se-ia esperar que a lingüística
descritiva fornecesse classificações de tipos de expressões. Mas, se esses problemas pertencem, em
princípio, às disciplinas mais especiais, eles pertencem aos seus fundamentos; e a Filosofia tem tido,
tradicionalmente, muitas relações com os problemas de elevado nível nas ciências, especialmente quando
essas ciências estão nas fases iniciais de construção. Terei alguma coisa a dizer sobre alguns desses
problemas. Este livro foi escrito partindo de uma certa orientação filosófica - aquela que é designada, em
suas linhas mais gerais, pela expressão "filosofia analítica". Há muita especulação em torno da
linguagem, partindo-se de pontos de vista muito diferentes e, nesse caso, os problemas assumem
configurações bem diversas. Não é possível nem conveniente que num volume desta dimensão se
examinem todos os tópicos filosóficos da linguagem. A título de compensação, incluí na bibliografia
algumas sugestões de leituras sobre esses outros tópicos.
Notas
1 Logic and Knowledge, ediçâo organizada por R. C. Marsh (Londres; George Allen & Unwin, Ltd.,
195b).
In Alston, W. P. (1972): Filosofia da Linguagem, Rio de Janeiro: Zahar, pgs. 13-24
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