32 Quarta-feira 9 Março 2005 -1,0% Economia Variação das novas encomendas à indústria As novas encomendas dirigidas à indústria nacional nos últimos três meses terminados em Janeiro caíram 1% face ao período homólogo, segundo o INE. Apesar da queda, a taxa de variação nos últimos 12 meses duplicou face ao mês anterior. Tanto as encomendas do mercado nacional como externo contribuíram para esta recuperação da taxa anual. O emprego no sector caiu 3,6% em Janeiro face ao mesmo mês do ano anterior, mas manteve-se estável na taxa anual. As remunerações subiram 0,7% e o número de horas trabalhadas recuou 2,8%. Economista analisa política orçamental dos últimos cem anos Emprego 25 de Abril marca viragem para finanças insustentáveis As finanças públicas portuguesas têm, de acordo com um estudo agora publicado, um percurso sustentável desde 1903, mas insustentável quando se analisam apenas os últimos 30 anos. Q DÍVIDA PÚBLICA SÉRGIO ANÍBAL [email protected] A EVOLUÇÃO HISTÓRICA das Finanças Públicas portuguesas afinal faz prever a sua sustentabilidade futura, mas apenas quando analisados em conjunto os últimos cem anos. A partir da adopção do regime democrático em 1974, parece verificar-se “uma viragem para um percurso insustentável da política orçamental portuguesa”. Um estudo do economista Carlos Marinheiro, intitulado “Sustentabilidade da política orçamental portuguesa numa perspectiva histórica”, analisa a evolução dos principais indicadores das contas públicas desde o início do século passado e conclui que a manterem-se no futuro as mesmas características o percurso será sustentável. No entanto, para além destas boas notícias, o autor, professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, chega também a conclusões mais negativas e menos surpreendentes: quando a análise é feita apenas para o período mais recente de 1975 até 2003, as finanças públicas portuguesas já apresentam uma evolução que não é sustentável. O autor, no estudo publicado no instituto económico alemão CESifo, analisou a sustentabilidade das finanças públicas portuguesas realizando testes de cointegração e raízes unitárias. De uma forma simples, o que é feito, utilizando uma base de dados de grande dimensão, é verificar se a série é ou não estacionária. Se for estacionária, significa que depois de algum desvio mais forte, acaba por verifica-se sempre a tendência de retorno à média. Neste caso pode concluir-se que a evolução registada aponta para a sustentabilidade das políticas adoptadas. Foi isto que se concluiu dos indicadores retirados do período de 1903 até 2003. Nos últimos cem anos, as- Fonte Carlos Fonseca Marinheiro, “Sustainibility of Portuguese Fiscal Policy in Historical Perspective” Q DESPESAS E RECEITAS Fonte Carlos Fonseca Marinheiro, “Sustainibility of Portuguese Fiscal Policy in Historical Perspective” sistiu-se por várias vezes a uma subida preocupante de indicadores como o défice ou a dívida pública, mas a estes períodos, seguiram-se movimentos de correcção mais ou menos rápidos que colocam as contas outra vez no caminho certo. Necessidade de continuar os esforços de consolidação. No período mais curto de 1975 a 2003, e que coincide com a adopção de um regime democrático em Portugal já não é possível chegar à mesma conclusão. O aumento da dívida pública que se verifica desde a revolução de Abril foi justificado pela necessidade de recuperar do atraso económico e social em que se encontrava o país, após mais de 40 anos de Estado Novo em que o equilíbrio orçamental foi uma das palavras de ordem, com a dívida O “default” português de 1890 O Estado português já atravessou várias crises financeiras, algumas delas nos últimos 30 anos, mas a mais grave, por ter levado mesmo ao não cumprimento dos compromissos de pagamento da juros da dívida, ocorreu nos finais do século XIX. O Estado, na altura de dimensão muito reduzida (as receitas públicas representavam menos de 5% do PIB), iniciou um plano de construção de infra-estruturas extremamente ambicioso. O Governo esperava que o resultado fosse, a prazo, um aumento significativo das receitas fiscais que permitisse mais tarde pagar as dívidas acumuladas. Estas perspectivas optimistas não se concretizaram e a verdade é que em 1891, o encargo com o pagamento de juros da dívida pública representava já mais de metade das receitas obtidas. Durante o período de 1890 a 1893, o Estado teve grandes dificuldades em fazer face aos compromissos com os credores internacionais, situação que apenas ficou resolvida com o reescalonamento e perdão de 38% da dívida em 1902. Jornal de Negócios pública a atingir o valor mínimo de 15,2% do PIB em 1974. Mas agora, 30 anos passados, com a dívida pública de novo a ultrapassar os 60% do PIB e com a convergência com o resto da Europa ainda por fazer, torna-se mais uma vez necessário realizar correcções na política orçamental. “Este último período parece sinalizar uma mudança para um percurso insustentável na política orçamental portuguesa. Por isso, os resultados [deste estudo] sugerem que os esforços de consolidação orçamental devem, de facto, ser continuados em Portugal”, afirma Carlos Marinheiro. No seu trabalho, o economista recorreu a indicadores sobre as Finanças Públicas portuguesas desde 1852 que estão na óptica da contabilidade pública, apenas para o subsector Estado e não considerando o recurso a receitas extraordinárias de grande dimensão nos últimos anos. A análise foi feita a partir de 1903. Para os anos anteriores confirmouse que a política orçamental era insustentável, o que na prática foi verificado com o facto de Portugal, no final do século XIX ter falhado o pagamento da sua dívida. Imigrantes contribuíram com 5% para o Produto português UM INVESTIGADOR do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) revelou ontem que os imigrantes contribuíram com 5% para a riqueza produzida em Portugal entre 1998 e 2001. “Os imigrantes são necessários para o desenvolvimento do país porque produziram 5% da riqueza portuguesa”, disse Eduardo Sousa Ferreira, à margem do seminário dedicado ao tema “Actividade Sectorial e Regional dos Imigrantes”, que decorreu no ISEG. O docente adiantou ainda que “Portugal necessita de mão-de-obra estrangeira, caso pretenda produzir mais”. Apesar da taxa de desemprego ser elevada em Portugal, a dos imigrantes é “sempre mais baixa”, porque, segundo o investigador, “os estrangeiros vêm para o país fazer aquilo que os cidadãos nacionais normalmente não querem fazer”. Os imigrantes trabalham predominantemente no sector secundário, nomeadamente na construção civil, hotelaria, restauração e serviços. Eduardo Sousa Ferreira apontou a existência de discriminação, uma vez que os imigrantes trabalham no sector secundário, o mais violento. “Essa discriminação passa por fracas condições de trabalho, baixos salários e por contratos de trabalho precários”, disse, acrescentando que “os imigrantes só vão superar essa discriminação quando estiverem integrados e quando se souberem defender em Portugal”. O investigador do ISEG considerou igualmente que “nunca existiu no sector secundário uma formação tão elevada como actualmente” devido aos imigrantes de leste. Por isso, defendeu que “Portugal deveria reconhecer a formação profissional dos imigrantes Leste para o desenvolvimento da sua economia”. “Quem é pedreiro deveria trabalhar como pedreiro. Quem é médico deveria trabalhar como médico”, afirmou. No entanto, a valorização profissional dos cidadãos oriundos dos países de Leste vai provocar “tensões sociais” com os imigrantes dos países de língua oficial portuguesa (PALOP), uma vez que vivem há mais tempo em Portugal, e com os próprios portugueses, sublinhou. Segundo as últimas estatísticas oficiais, em 2003, havia em Portugal cerca de 500.000 imigrantes legalizados. Lusa