1 - Resumo - BVS SMS-SP

Propaganda
Hospital do Servidor Público Municipal
RELATO DE CASO: TIMOMA E SÍNDROME DE VEIA CAVA
SUPERIOR
SUELEM ARANTES NOGUEIRA
São Paulo
2011
SUELEM ARANTES NOGUEIRA
RELATO DE CASO: TIMOMA E SÍNDROME DE VEIA CAVA
SUPERIOR
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentada à Comissão de Residência
Médica do Hospital do Servidor Púbico
Municipal como parte dos requisitos para
obtenção o título de Residência Médica.
Área de Concentração: Clínica Médica.
Orientador: Dr. João Bosco Matos Fontes
São Paulo
2011
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE E
COMUNICADO AO AUTOR A REFERÊNCIA DA CITAÇÃO.
São Paulo, 30/08/2011
Suelem Arantes Nogueira
____________________________________________________________________
E-mail do autor: [email protected]
Suelem Arantes Nogueira.
Relato de caso: Timoma e síndrome de veia cava superior/Suelem
Arantes Nogueira;Orientador Dr. João Bosco Matos Fontes. São Paulo,
2011.
25 p. Il.; 30cm
Trabalho de Conclusão de Curso (Residência Médica), Hospital do
Servidor Público Municipal-SP.
Orientador: Dr. João Bosco Matos Fontes
Título em inglês: Case Report: Thymoma and superior vena cava
syndrome
1. Timoma
2. keyword
3. keyword
4.keyword
FOLHA DE APROVAÇÃO
Suelem Arantes Nogueira
Relato de caso: Timoma e síndrome de veia cava superior
Relato de Caso: Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado à Comissão de Residência
Médica do Hospital do Servidor Público
Municipal, para obtenção do título de
Residência Médica.
Área de Concentração: Clínica Médica
Aprovada em ______/______/______
Banca Examinadora
1º Componente
Assinatura__________________________________________________________________
2º Componente
Assinatura__________________________________________________________________
3º Componente
Assinatura:_________________________________________________________________
6
Sumário
Sumário
1 Resumo..............................................................................................................6
2 Abstract..............................................................................................................7
3 Introdução...........................................................................................................8
3.1 Tabela.........................................................................................................9
3.2 Estadiamento de Masaoka (1981)..........................................................11
4 Relato de caso...................................................................................................14
5 Discussão..........................................................................................................19
6 Referências bibliográficas...............................................................................25
7
1 - Resumo
Paciente do sexo feminino, negra, 56 anos, portadora de timoma EIII Masaoka há 8
meses aguardando estadiamento para início de quimioterapia evolui com sinais e
sintomas sugestivos de síndrome de veia cava superior . Nos exames de imagem,
radiografia e tomografia computadorizada de tórax apresentava atelectasia em
pulmão direito e compressão de via cava superior pela massa mediastinal,
confirmando o diagnóstico. Pela irressecabilidade do tumor foi optado por
quimioterapia e após o primeiro ciclo paciente evolui com melhora dos sinais e
sintomas de síndrome de veia cava e expansão de pulmão direito. Foi encaminhada
para ambulatório de oncologia para seguimento e programação dos outros ciclos de
quimioterapia. O caso descrito mostra a importância de considerar o diagnóstico de
timoma e instituir o tratamento para controle e alívio dos sintomas, quando frente a
um quadro Síndrome de veia cava superior, associado à massa mediastinal.
8
2 - Abstract
Female patient, black, 56 years old, with Masaoka’s EIII tymoma, staging for eight
months waiting to start chemotherapy, evolves with signs and symptoms of superior
vena cava syndrome. In imaging scans, radiography and thorax computed
tomography, showed right lung atelectasis and superior vena cava compression by
mediastinal mass, confirming the diagnosis. Because of tumor’s non-resectability,
was chosen the chemotherapy treatment, and after the first cycle, the patient evolves
with improvement in signs and symptoms of vena cava syndrome and expansion of
the right lung. The patient was referred to oncology clinic to continue and
programming another chemotherapy cycles. This case describe the importance of
consider the diagnosis of tymoma and apply treatment for control and relief of
symptoms faced with a mediastinal mass associated with superior vena cava
syndrome.
9
3 - Introdução
Timomas são as neoplasias mais comuns do mediastino anterior e superior
em adultos, representando cerca de 20% de todas as neoplasias mediastinais e 50%
dos tumores do compartimento anterior do mediastino.
São tumores de crescimento lento e seu prognóstico depende da invasão
macroscópica ou microscópica das estruturas adjacentes.
Esses pacientes podem apresentar quadro clínico não muito específico: tosse,
dispnéia, dor torácica, perda de peso, queda do estado geral. Alguns são
diagnosticados por radiografias de tórax em exames de rotina que mostram
opacidade homogênea no mediastino ântero-superior ou por apresentar miastenia
gravis associada.
Grande parte dos pacientes que apresentam timoma são portadores de outras
doenças auto-imunes e síndromes sistêmicas (tabela 1) provocadas pela regulação
anormal de linfócitos ou secundários a reação cruzada de anticorpos timomaassociados com proteínas de outros tecidos. A Miastenia gravis(MG) é a doença
auto-imune com características clínicas de fraqueza muscular e provocada por antianticorpos para os receptores da acetilcolina da junção neuromuscular. Os doentes
com MG têm aumento da incidência de condições associadas, incluindo distúrbios do
timo (timoma, hiperplasia ou atrofia). A MG é assim a síndroma para-neoplásica mais
frequentemente associada a timoma, ocorrendo os tumores do timo em 10%-44%
dos doentes com MG, e esta ocorre em aproximadamente em 15% dos doentes com
timoma.
10
3.1 – Tabela - Síndromes sistêmicas associadas à neoplasia de timo
(modificada Ângelo Fernandez)




Síndromes neuromusculares:
Miastenia gravis
Distrofia miotônica
Miosite
 Síndromes hematológicas:
 Hipoplasia de células vermelhas
 Eritrocitose
 Pancitopenia
 Linfocitose de célula T
 Leucemia aguda
 Mieloma múltiplo
 Síndrome de imunodeficiência:
 Hipogamaglobulinemia
 Síndrome de deficiência de célula T
 Colagenoses e doenças auto-imunes:
 Lupus eritematoso sistêmico
 Polimiosite
 Artrite reumatóide
 Miocardite
 Alterações endocrinológicas:
 Hiperparatireoidismo
 Tireoidite de Hashimoto
 Doença de Addison
 Doenças renais:
 Síndrome nefrótica
 Nefropatia lesão mínima
11
O timoma está mais presente nas 5ª e 6ª décadas de vida, sendo menos
freqüente em pacientes abaixo de 40 anos de idade. Não há relação com sexo e raça
e existe freqüência maior dos timomas benignos (70%) que malignos (30%).
Ao contrário da maioria dos tumores epiteliais, em que se estabelece
com facilidade a separação entre benignidade e malignidade, nos timomas a sua
classificação torna-se mais difícil pela grande variabilidade da citologia e padrões
estruturais.
A maioria dos timomas é encapsulado, mas aproximadamente 30% invadem
tecido ao redor. Embora esses timomas encapsulados sejam chamados de benignos,
são potencialmente invasivos e, portanto, seriam considerados um estágio precoce
da doença maligna.
Há divergências na literatura quanto à melhor forma de estadiar e classificar
essa doença. O método mais importantes é de Masaoka et al. que determina o grau
de envolvimento da doença, clínica e histopatologicamente.
3.2 - Estadiamento de Masaoka (1981):
E I – Totalmente encapsulado
E II – Invasão capsular microscópica ou macroscópica para a gordura adjacente ou
pleura mediastínica
E III – Invasão macroscópica em órgãos vizinhos, ou seja, pericárdio, grandes vasos
ou pulmão
E IV: a - disseminação pleural ou pericárdica
b- metásteses linfáficas ou por via hematogênica
12
O prognóstico do portador de timoma se relaciona mais com a capacidade do
tumor de invadir estruturas do que de sua histologia.
Diferente de outras neoplasias, o diagnóstico de malignidade não é dado pela
histologia e sim pelas características de invasão da cápsula e das estruturas
adjacentes.
O que realmente define sua malignidade é o achado cirúrgico:
a)
invasão local (pulmão, pleura, pericárdio, grandes vasos,diafragma);
b)
metástases intra ou extratorácicas.
A cirurgia é o tratamento principal destes tumores, sendo a ressecção
completa um dos mais importantes fatores de prognóstico. A radioterapia (RT) pósoperatória está indicada nos tumores com invasão das estruturas adjacentes, mesmo
que a ressecção tenha sido completa, uma vez que aumenta o controle local da
doença e a sobrevida. A quimioterapia neoadjuvante (QT) na doença avançada e
irressecável tem sido utilizada com sucesso, com ou sem RT.
A síndrome de VCS é normalmente associada com malignidade e mau
prognóstico. Esses casos incluem câncer de pulmão em estados avançados (57%),
tumores mediastinais (20%), e metástases sólidas (5%).
Timoma que leve à síndrome da VCS é raro (4%), e a causa mais comum é a
compressão extrínseca.
A síndrome da veia cava superior (SVCS) é o conjunto de sinais e sintomas
decorrentes da estase venosa no segmento braquiocefálico devido à obstrução da
13
veia cava superior, seja por trombose, compressão extrínseca, invasão direta da veia
por processos patológicos adjacentes ou combinação destes fatores.
Embora esta síndrome ainda seja considerada uma das emergências
oncológicas, raramente provoca uma situação imediata com risco de vida. Obstrução
súbita, embora muito incomum, é uma emergência real, que pode induzir um rápido
aumento da pressão intracraniana, levando a edema cerebral.
Tumores malignos como câncer de pulmão, linfomas e tumores metastáticos
são responsáveis por > 90% de todos os casos de SVCS. Outros tumores primários
do mediastino, como timoma ou tumor de células germinativas são responsáveis por
< 2% dos casos de SVCS.
No entanto, SVCS na maioria das vezes se desenvolve insidiosamente ao
longo de várias semanas, permitindo alguns mecanismos de compensação.
O paciente sofre dispnéia progressiva, ortopnéia e tosse que se agravam em
posição prona. Em pouco tempo, é capaz de respirar apenas em posição ereta e fica
impossibilitado de deitar-se. Ocorre edema progressivo da face, pescoço e membros
superiores e nota-se coloração cianótica característica da pele que se torna mais
evidente no decúbito. Conforme ocorre o aumento da pressão venosa intracraniana,
observa-se o aparecimento de cefaléia, vertigem, confusão mental, estupor e até
perda da consciência. Rouquidão, dores de cabeça, congestão nasal, epistaxe,
hemoptise, disfagia, tontura e síncope podem também estar presentes.
O diagnóstico da síndrome de veia cava superior geralmente é clínico e deve
ser confirmado por exames de imagem. Os exames de imagem não apenas
14
identificam o comprometimento da veia cava superior, como ajudam a identificar a
causa do problema, como massas mediastinais, pulmonares ou trombose.
O tratamento da SVCS deve ser direcionado para sua etiologia, portanto, o
diagnóstico preciso baseado em história clínica e resultado de biópsias é fundamental.
As opções terapêuticas incluem: tratamento clínico, tratamento rádio e quimioterápico,
tratamento endovascular e tratamento cirúrgico.
15
4 - Relato de caso
Paciente do sexo feminino, negra, 56 anos, casada, natural de Ponte
Nova/MG, procedente de São Paulo, doméstica, admitida em 01/03/2011 com
quadro de piora da dispnéia e edema em hemicorpo direito há cinco dias.
Paciente referia que há cinco dias começou apresentar piora da dispnéia que
antes era aos médios esforços e no momento em repouso associada a edema que
se iniciou em hemiface direita progredindo para pescoço e sudorese.
Como antecedente pessoal, relatou timoma irressecável (EC III) pela extensão
e contato com aorta ascendente diagnosticado em julho de 2010 (AP e imuno Imunohistoquímica: aspectos histológicos de timoma) aguardando re-estadiamento para
iniciar quimioterapia, hipertensão arterial em uso de hidoclorotiazida 25mg/dia,
histerectomia subtotal abdominal por miomatose uterina em 2001, ex-tabagista 10
anos/maço (parou há 31 anos).
Ao exame clínico apresentava-se em bom estado geral, corada, hidratada,
acianótica, anictérica, afebril, levemente dispnéica em ar ambiente com murmúrio
vesicular abolido em base direita e presente no restante do hemitórax direito e
esquerdo, sem ruídos adventícios, e freqüência respiratória de 28 incursões por
minuto. Estável hemodinamicamente, com pressão arterial 130x90 mmHg,
freqüência cardíaca e pulso 88 batimentos por minuto. Ausculta cardíaca com ritmo
regular, com bulhas normofonéticas, em 2 tempos, sem sopros audíveis.Abdome
globoso, normotenso, com ruído hidro-aéreo presente,sem massas e/ou vísceras
palpáveis. Extremidades sem alterações. Exame neurológico com Glasgow 15 sem
16
déficits focais. Em face edema +++/4+ principalmente à direita estendendo-se para
pescoço. Veias jugulares ingurgitadas.
A impressão inicial foi de a paciente portadora de timoma invasivo estar
apresentando síndrome de veia cava superior devido aos sinais e sintomas
apresentados pela mesma, visto que em tomografia de tórax realizada no diagnóstico
já apresentava sinais de invasão e aderência da massa mediastinal com cava
superior.
Realizado na admissão RX tórax visualizando atelectasia de pulmão direito
(figura 1) e tomografia computadorizada de tórax, abdome e pelve com contraste
para estadiamento (figuras 2, 3, 4).
Figura 1 – Radiografia de tórax em PA mostrando atelectasia de lobo
de pulmão direito.
17
Massa Mediastinal
VCS
Figura 2 – Tomografia computadorizada de tórax mostrando o contato
da massa mediastinal com veia cava superior (VCS).
Massa Mediastinal
VCS
Figura 3 - Tomografia computadorizada de tórax mostrando a compressão
da veia cava superior (VCS) pela massa mediastinal.
18
Massa Mediastinal
AD
Figura 4 – Tomografia computadorizada de tórax mostrando contato da massa
mediastinal com átrio direito (AD).
Decidido iniciar quimioterapia em 04/03/11, em que recebeu prednisona
100mg por 5 dias , ciclofosfamida 860mg, doxorrubicina 86mg, cisplatina 86mg. Ao
término do 1º ciclo de quimioterapia houve melhora do edema apresentado pela
paciente, com melhora da dispnéia. Realizado novo RX de tórax com expansão total
de pulmão direito (figura 5).
19
Figura 5 – Radiografia de tórax em PA mostrando expansão de pulmão direito
após quimioterapia.
A paciente recebeu alta e foi encaminhada para ambulatório de oncologia para
seguimento e programação de novas sessões de quimioterapia.
20
5 – Discussão
O timo desempenha um papel crítico na maturação dos linfócitos e,
consequentemente, na imunidade celular. Apresenta uma rede vascular rica, mas
não apresenta linfáticos aferentes, originando-se os linfáticos eferentes dos espaços
perivasculares, com drenagem para os nódulos cervicais inferiores e mediastínicos.
Histologicamente, o timo normal é constituído por vários lobos, com demarcação
entre um córtex, rico em linfócitos, e uma medula rica em células epiteliais.
Uma
revisão
epidemiológica
realizada
nos
EUA
pelo
Surveillance,
Epidemiology, and End Results program (SEER), sugere que os timomas ocorrem
em 0,15 por cada 100 000 pessoas-ano, a incidência aumenta desde a idade adulta
até a 7.ª-8.ª décadas de vida
O timoma é uma afecção rara, embora seja o tumor mais frequente do
mediastino anterior, compreende aproximadamente 20% a 30% das massas
mediastinais em adultos. O prognóstico do portador de timoma se relaciona mais
com a capacidade do tumor de invadir estruturas do que de sua histologia.
O diagnótico do timoma é feito por anatomia patológica através de biópsia da
lesão, sendo em 67% dos casos através de citologia de escarro, 60% por
broncoscopia, 85% biópsia de linfonodo palpável, 80% mediastinoscopia e biópsia
transtorácica.
A classificação histológica das neoplasias do timo foi alvo de discussão
intensa nos últimos anos. Apesar da controvérsia, é consensual que a célula epitelial
é o componente maligno, ou seja, a célula de origem dos timomas e carcinomas
21
tímicos. O componente linfocítico, que pode variar entre os subtipos, é considerado
benigno. Tumores com características citológicas malignas são considerados
carcinomas tímicos, enquanto o timoma maligno refere-se ao timoma invasivo
(invasão macroscópica ou microscópica da cápsula), que compreende 30-40% dos
timomas, não tendo as células características de malignidade.
O estadiamento atualmente mais utilizado é o proposto por Masaoka et al
(Figura 3.2). O estadiamento está correlacionado com o prognóstico, com uma
sobrevivência aos 5 anos de 96% para o estádio I, 86% para o estádio II, 69% para o
estádio III e 50% para o estádio IV. Este estadiamento é pós-cirúrgico, uma vez que
a invasão da cápsula é apenas corretamente avaliável no exame patológico.
A taxa de recorrência descrita na literatura é de 3 a 12% para o estádio I, 13 a
33% para o estádio II e 27 a 47% para o estádio III.
Os timomas são tumores radiossensíveis e a eficácia da RT já é amplamente
conhecida. O papel da RT é mais bem definido em relação a cada estádio. Na
doença em estádio I de Masaoka, a RT não está recomendada. Neste caso, a
recorrência é baixa e não está indicada terapêutica adjuvante. Por outro lado, a
recorrência do timoma invasivo após a ressecção completa é de aproximadamente
30%, com tempo médio para a recorrência de 3,8 anos. Assim, nos doentes em
estádios II e III está indicado RT adjuvante pós-operatória, com redução de
recorrências de 28% para 5% após a ressecção cirúrgica completa. RT adjuvante é
recomendada a todos os doentes com estádios II, III, IVa e nos pacientes não
cirúrgicos (irressecável) com estádio avançado. A dose total utilizada tem variado
22
entre 30 e 60 Gy, em frações de 1,8 ou 2,0 Gy ao longo de 3 a 6 semanas e não
houve melhora com doses superiores a 60 Gy.
Os timomas são tumores relativamente quimiossensíveis, e a experiência com
a QT têm aumentado. Os fármacos mais ativos são a cisplatina e a ifosfamida. Um
estudo recente do MD Anderson reportou grande eficácia na combinação de CAP
(ciclofosfamida, doxorrubicina, cisplatina) + prednisolona, quando utilizada como QT
de indução na doença irressecável.
Aproximadamente 50 a 70% dos doentes com doença localmente avançada
ou metastática são candidatos a terapêutica de segunda linha
Timoma que leve à síndrome de veia cava superior é raro (4%), sendo a
causa mais comum a compressão extrínseca, normalmente associada com
malignidade e mau prognóstico.
Ressecção total seguida por radioterapia é o tratamento de escolha para todos
os timomas, exceto tumores em estágio IA (de Masaoka), que podem ser tratados
somente com cirurgia.
Pacientes apresentando timomas no estádio III (Masaoka), mesmo que
potencialmente ressecáveis tem melhor perspectiva com tratamentos combinados e
quimioterapia neoadjuvante (baseada em cisplatina).
A invasão grosseira de órgãos mediastinais como traquéia, grandes artérias e o
coração, ou a presença de extensas metástases pleurais bilaterais podem ser contraindicações para a ressecção completa e indicações de neo-adjuvância.
23
O prognóstico a longo prazo é variável, mas sem dúvida, o estadiamento e a
ressecção cirúrgica completa têm um papel importante na perspectiva de longa
sobrevida e intervalo livre de doença.
A síndrome de veia cava superior é ocasionada pela obstrução (compressão,
invasão, trombose ou fibrose) da veia cava superior, em que massas tumorais
localizadas em mediastino médio e anterior, habitualmente à direita da linha média,
podem levar a obstrução. Raramente é uma emergência verdadeira. Dentro das
neoplasias, apesar de serem responsáveis por 2 a 5% dos casos, os timomas
merecem destaque.
A maioria dos timomas invasivos apresenta sintomas como febre, sudorese,
associado aos sintomas secundários à compressão do tumor, tais como dispnéia,
disfagia e tosse. Em alguns casos, quando há invasão cardíaca, podemos observar
desenvolvimento de insuficiência cardíaca direita, sendo um diagnóstico diferencial a
ser considerado na presença de massa auricular direita, sendo que em casos graves
é responsável pela SVCS.
Como descrito no caso, na admissão, a paciente apresentava-se com
sudorese, dispnéia ao repouso e na radiografia de tórax, atelectasia do lobo direito
do pulmão.
Estudos radiológicos podem demonstrar a presença de massa no mediastino
anterior,
que,
dependendo
da
extensão,
pode
se
prolongar
para
outros
compartimentos do mediastino. A tomografia tem um papel importante para
determinação do estadiamento da doença. Na TC de tórax do caso, foi observada
24
extensão do tumor para os três compartimentos do mediastino, confirmando-se a
compressão da veia cava superior e definindo-se o estadiamento da doença.
Não há estudos controlados, randomizados, que demonstrem o melhor
esquema terapêutico para tratamento de timomas invasivos, estudos pequenos
demonstram que, quando possível, quimioterapia redutora associada à ressecção
cirúrgica, radioterapia pós-operatória e consolidação com quimioterapia seriam a
melhor conduta. Quando muito invasivo, a cirurgia se torna uma medida mais difícil
na emergência, optando-se por quimioterapia ou radioterapia como tratamento
paliativo. É utilizado nos tumores metastáticos refratários a QT, análogos da
somatostatina, como o octreótido, com prednisona. Quando há uma importante
obstrução com compressão total da veia cava superior e crescimento intraluminal do
tumor, tratamento endovascular pode ser uma opção.
No caso descrito, optou-se por quimioterapia para citorredução, desobstruindo
o local para diminuição dos sintomas e expansão do pulmão direito. Paciente após
quimioterapia apresenta melhora dos sintomas com expansão pulmonar, e
encaminhada para o serviço de oncologia para programação de novos ciclos
quimioterápicos e avaliação da resposta ao esquema proposto.
Não foi observado desenvolvimento de doença paraneoplásica (miastenia
gravis, endocrinopatias, aplasia de células vermelhas, entre outras), a qual se
encontra presente em 40% dos casos. Também existe a possibilidade de
desenvolvimento de uma neoplasia concomitante, não presente no caso descrito.
A raridade dos timomas levanta problemas em relação à sua classificação e
adoção da melhor estratégia de tratamento.
25
O caso descrito mostra a importância de considerar o diagnóstico de timoma e
instituir o tratamento para controle e alívio dos sintomas, quando frente a um quadro
Síndrome de veia cava superior, associado à massa mediastinal.
26
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAGHERI, R., RAHIM, M., REZAEETALAB, F., AKBARI, H. SHOJAIAN, R. Malignant
superior vena cava syndrome: Is this a medical emergency? Annals of Thoracic
Cardiovascular Surgery. v.5, n.2, 2009.
CERVANTES, A., CHIRIVELLA, I. Oncological emergencies. Annals of Oncology
15 (Supplement 4): iv299–iv306, 2004. doi:10.1093/annonc/mdh943
CHIOU, G.T., CHEN, C.L., WEI, J., HWANG, W.S. Reconstruction of superior vena
cava in invasive thymoma. Chest Journal. v.2, n.97, p.502-503, 1990. Disponível
em: http://chestjournal.chestpubs.org/content/97/2/502. Acesso em: 16/06/2011.
DUBASHI, B., CYARIC, S. TENALI, S.G. Clinicopathological analyses and outcome
of primary mediastinal malignancies – A report of 91 cases fron single institute.
Annals of Thoracic Medicine. v.4, n.3, p.140-142. 2009. Disponível em:
http://thoracicmediceine.org. Acesso em: 16/06/2011.
HALFDANARSON, T.R., HOGAN, W.J., MOYNIHAN, T.J. Symposium on oncology
pratice: hematological malignancies. Oncologic emergencies: Diagnosis and
treatment. Mayo Clinic Proceedings. v.6, n.81, p.835-848, 2006.
27
HIGDON, M,. HIGDON, J.A. Treatment of oncology emergencies.American Family
Physician. v.74, n.11, p1873-1880, 2006. Disponível em: www.aafp.org/afp
PÊGO-FERNANDES, P.M., EBAID, G.X., GALIZIA, M.S., MARCHIORI, P., SUSO,
F.V., JATENE, F.B. Timoma: discussão sobre tratamento e prognóstico. Journal
of Pneumology. v.6, n.27, p.289-294, 2011.
SONCINI DA ROSA, G.R., TAKIZAWA, N., SCHIMIDT, D., SUGITA, M. Surgical
treatment of superior vena cava syndrome caused by invasive thymoma. Revista
Brasileira de Cirurgia Cardiovascular. v.2, n.25, p.257-260, 2010.
SOUSA, B., ARAÚJO, A., AMARO, T., AZEVEDO, I., SOARES, M., SOUSA, O.
Timomas malignos – A experiência do IPO do porto e revisão de literatura.
Revista Portuguesa de Pneumologia. v.13, n.4, p.553-585, 2007.
Download