Determinação indireta de ploidias em combinações genômicas entre Pennisetum purpureum Shum. e Pennisetum glaucum (E.) Leck SANTOS, F. C1; SCARPA, A. L. M2; FREITAS, A. S2; DAVIDE L. C3 e PERERIRA, A. V.4 Introdução O potencial produtivo do capim-elefante (Pennisetum purpureum Schum.), associado a outras características favoráveis de forrageira, tais como boa qualidade, palatabilidade, vigor e persistência, tem estimulado não só o cultivo dessa espécie como também trabalhos de melhoramento genético, visando o desenvolvimento de cultivares para utilização sob pastejo e para capineiras (Souza Sobrinho et al., 2005). Uma das alternativas do programa de melhoramento do capim-elefante é a obtenção de híbridos a partir do cruzamento com o milheto, o que é possível devido a proximidade genética existente entre essas duas espécies. O capim-elefante é alotetraploide com 2n = 4x = 28 cromossomos e genomas A’A’BB e o milheto é diploide com 2n = 2x = 14 cromossomos e genomas AA. O cruzamento entre essas espécies resulta na obtenção de híbridos triplóides estéreis com 2n = 3x = 21 cromossomos (genomas AA’B), propagados vegetativamente, porém, de grande potencial forrageiro, tendo em vista serem tão produtivos e mais palatáveis que o próprio capim-elefante (Hanna, 1999). A fertilidade do híbrido tem sido resgatada por meio da duplicação cromossômica para a obtenção de hexaploides férteis com 2n = 6x = 42 cromossomos (genomas AAA’A’BB) (Hanna, 1999, Abreu 2006, Barbosa 2007, Campos 2009). Novas combinações genômicas também foram obtidas pelo retrocruzamento dos híbridos hexaploides com seus parentais tetraploide (capim-elefante) e diploide (milheto), com o intuito de produzir híbridos pentaploides com 2n = 5x = 35 cromossomos (genomas AA’A’BB) e tetraploides com 2n = 4x = 28 cromossomos (genomas AAA’B), respectivamente. A determinação do nível de ploidia em plantas submetidas à duplicação cromossômica pode ser realizada diretamente por meio da contagem do número de cromossomos em células mitóticas ou meióticas, ou através da citometria de fluxo. A análise citogenética, apesar de muito eficiente, é um procedimento laborioso e demorado, sendo desvantajosa quando se trata de análises de grande número de plantas. A citometria de fluxo, apesar de ser relativamente mais fácil que a análise citogenética, exige equipamentos mais sofisticados. Outro método usado para a identificação do nível de ploidia, também conhecido como método indireto, é a caracterização citoanatômica e morfológica, ou seja, a avaliação de determinadas características da planta, como aspectos morfológicos, diâmetro do grão de pólen, número de cloroplastos por par de células-guarda, e tamanho e densidade dos estômatos foliares. Esse método pode ser útil para inferir o nível de ploidia de plantas submetidas à indução de poliploidia, sendo a análise estomática a mais citada na literatura (Vandenhout et al., 1995; Magallanes et al., 1996; Souza & Queiroz, 2004). 1 Mestranda em Genética e Melhoramento de Plantas –Lavras UFLA – DBI email:[email protected] Graduanda em Biologia – Iniciação Científica Voluntária – Lavras UFLA – DBI – email:[email protected] 3 Profa. Dra. de Biologia –Lavras UFLA – DBI – email:[email protected] 4 Dr. e Pesquisador da Embrapa Gado de Leite – JF – email: [email protected] 2 XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 2883 A análise estomática é uma metodologia fácil e simples, que possibilita a identificação de supostos poliplóides e testemunhas diplóides de um ensaio, através da contagem e medição comparativa de estômatos, uma vez que o comprimento dos mesmos normalmente aumenta com o número de cromossomos. O objetivo deste trabalho é verificar a eficiência do método anatômico em distinguir diferentes ploidias resultantes do cruzamento Pennisetum purpureum Shum. e Pennisetum glaucum (E.) Leck. Material e Métodos Foram avaliados 14 genótipos de Pennisetum sp. (Tabela 1 e 2): dois híbridos interespecíficos triploides de Pennisetum purpureum x Pennisetum glaucum (CNPGL 92-176-3 e CNPGL 94-49-6); quatro híbridos interespecíficos tetraploides de P. purpureum x P. glaucum (HCM-4x-1; HCM-4x-2; HCM-4x-3 e HCM-4x-4); três híbridos interespecíficos pentaplóides de P. purpureum x P. glaucum (HCM-5x-1; HCM-5x-2 e HCM-5x-3); dois híbridos interespecíficos hexaploides de P. purpureum x P. glaucum (HCM-6x-1 e HCM-6x-2); um genótipo da população de híbridos hexaplóides de P. purpureum x P. glaucum (cultivar Paraíso) e dois genótipos tetraplóides de Pennisetum purpureum (cultivares Pioneiro e Cameroon). As plantas integram a população de trabalho do programa de melhoramento genético conduzido pela Embrapa Gado de Leite-Juiz de Fora-MG e foram cultivadas no Campo Experimental de Coronel Pacheco-MG. Para as análises anatômicas, folhas totalmente expandidas, localizadas no segundo nó do perfilho, foram coletadas e fixadas em solução de F.A.A., por 72 horas. Amostras foliares na parte mediana da planta foram utilizadas para realização dos cortes manuais paradérmicos, os quais foram corados com safranina 0,5%. Lâminas semipermanentes foram montadas em água glicerinada 50%. Avaliou-se a densidade estomática, índice estomático, diâmetros polar e equatorial e número de células epidérmicas, a partir de observações da epiderme das faces abaxial e adaxial. O índice estomático (%) foi determinado com base no número de estômatos e células epidérmicas por unidade de área e calculado pela fórmula: índice estomático= nº de estômatos/ (nº de estômato + nº de células epidérmicas) x 100. Para as mensurações foram montadas três lâminas de cada combinação genômica, sendo sete campos analisados por lâmina, totalizando três repetições com a média das 7 medidas de cada lâmina. As imagens foram analisadas com o programa Image tool®. O delineamento foi inteiramente casualizado e as análises estatísticas realizadas no programa SAS, considerando as variáveis nas epidermes das face (abaxial e adaxial), para cada genótipo. Resultados e Discussão Todas as combinações genômicas apresentaram estômatos em forma de halteres e alinhados, típicos de monocotiledôneas (Thompson & Estes, 1986). Comparando os 14 genótipos, todas as variáveis foram significativas ao nível de 5% (p<0,05) nas duas faces epidérmicas: abaxial e adaxial. Na região abaxial três hexaploides(6x) e um pentaploide(5x) estão entre as maiores médias do diâmetro polar e equatorial dos estômatos, conforme observado na TABELA 1. XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 2884 Para número de células epidérmicas, um genótipo tetraplóide (4x) destacou-se com a maior media que os demais, 998,720 célula/mm². Já em relação à densidade estomática todas as ploidias foram encontradas no grupo de maiores médias (TABELA 1). Estes resultados não estão de acordo com os encontrados por Heichel (1971). Esse autor realizou cruzamentos entre duas linhagens de milho com freqüências estomáticas diferentes e concluiu que, pelos padrões de segregação, as freqüências estomáticas e das células epidérmicas estão sob o controle de um mesmo sistema genético. Com relação ao índice estomático, foram encontrados tanto tetraplóides, pentaploides como hexaplóides nas maiores médias observadas (TABELA 1). Na região adaxial (TABELA 2) também houve diferença significativa em todas variáveis (p<0,05), sendo que os hexaploides e pentaploides apresentaram as maiores medias para diâmetro polar e para diâmetro equatorial. Número de células, densidade estomática e índice estomático não permitiram discriminar as combinações genômicas (TABELA 2). É sabido que o aumento no nível de ploidia é diretamente proporcional ao tamanho dos estômatos, mas vários trabalhos têm demonstrado que a avaliação indireta do nível de ploidia, como a análise estomática, pode não corresponder a essa hipótese, uma vez que os fatores ambientais também estão envolvidos (Magallanes et al.,1996; Motonobu et al., 1997; Kim & Kim , 2003 e Souza & Queiróz, 2004). Além disso, o método indireto de identificação da ploidia através da anatomia, segundo alguns autores, possibilita apenas a distinção entre indivíduos poliplóides e diplóides, não sendo útil para separar, por exemplo, triplóides de tetraplóides (Magallane 1996; Sari; 1999). Mesmo assim, a sua aplicação é importante, uma vez que o descarte das plantas diplóides possibilitará considerável redução do número de plantas a serem submetidas à análise citogenética, reduzindo custos e acelerando o processo de seleção (Souza; Queiroz, 2004). Conclusão As maiores ploidias (6x e 5x) agruparam-se nas maiores médias para as características diâmetro polar e equatorial dos estômatos, embora não tenha sido possível identificar as diferentes combinações genômicas por meio das outras características anatômicas da epiderme. Agradecimento Á FAPEMIG e ao CNPq pelo apoio financeiro. A Embrapa Gado de Leite pela colaboração com o projeto. TABELA 1 – Anova apresentando somente as quatros maiores médias das variáveis diâmetro polar (DP), diâmetro equatorial (DE), número de células (NC), densidade estomática (DES) e índice estomático (IE) da região abaxial. DP CG 50.327 a 45.850 a b 45.673 a 42.387 a b b c c d P DE CG 4 6X 35.087 a 3 5X 30.810 a b 11 6X 6 6X 28.907 a 28.710 a b b c c P NC CG P DES CG 4 6X 998.720 a 10 4X 147.530 a 6 6X 726.620 b 7 5X 127.550 a b 11 6X 3 5X 715.990 704.930 b b 12 4X 14 4x 126.270 a 119.900 a b b c P IE CG P 12 4X 98.99 a 7 5X 98.436 a b 13 5X 10 4X 14 4x 8 3X 98.35 a 98.09 a b b 11 6X 9 4X CG - combinação genômica P- ploidia XXVIII Congresso Nacional de Milho e Sorgo, 2010, Goiânia: Associação Brasileira de Milho e Sorgo. CD-Rom 2885 TABELA 2 - Anova apresentando somente as quatros maiores médias das variáveis diâmetro polar (DP), diâmetro equatorial (DE), número de células (NC), densidade estomática (DES) e índice estomático (IE) da região adaxial. DP P DE 48.587 4 6X a 47.010 13 5X a b 46.043 3 5X a b c 44.570 11 6X a b c d P NC 34.720 4 6X a 32.057 11 6X a b 30.820 6 6X a b 27.437 3 5X a b c P DES 752.130 12 4X a 725.770 2 4X a b 704.080 7 5X a b 699.400 8 3X a b P IE P 139.030 14 4x a 98.690 8 3X a 130.738 9 4X a 98.680 2 4X a c 118.195 12 4X a b 98.666 3 5X a c 111.393 11 6X a b 98.576 4 6X a c CG - combinação genômica P-ploidia Referência Bibliográfica: Abreu, J.C.; Davide, L.C.; Pereira, A.V.; Barbosa, S. Mixoploidia em híbridos de capim elefante x milheto tratados com agentes anti-mitóticos. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.41, n.11, p.1629-1635, nov. 2006. Barbosa, S.; Davide, L.C.; Pereira, A.V.; Abreu, J.C. Duplicação cromossômica de híbridos triploides de capim elefante e milheto. Bragantia, Campinas, v.66, n.3, p.365372, jul. 2007. Campos, J.M.S.; Davide, L.C.; Salgado, C.C.; Santos, F.C.; Costa, P.N.; Silva, P.S.; Alves, C.C.S.; Viccini, L.F.; Pereira, A.V. 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