1 ANTONIO TIAGO MOTA PINHEIRO COMPLICAÇÕES OFTALMOLÓGICAS EM ANESTESIA Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito parcial para término da Residência Médica em Anestesiologia do Hospital Geral de Fortaleza, vinculado a Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará. Orientador: Prof. Dr. Rogean Rodrigues Nunes FORTALEZA 2016 2 ANTONIO TIAGO MOTA PINHEIRO COMPLICAÇÕES OFTALMOLÓGICAS EM ANESTESIA Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado como requisito parcial para término da Residência Médica em Anestesiologia do Hospital Geral de Fortaleza, vinculado a Escola de Saúde Pública do Estado do Ceará. Aprovada em ____/____/______ BANCADA EXAMINADORA _______________________________________ Prof. Dr. Rogean Rodrigues Nunes Corresponsável CET Hospital Geral de Fortaleza _______________________________________ Dr.a Nely Marjollie Guanabara Teixeira Anestesiologista do CET-SBA Hospital Geral de Fortaleza _______________________________________ Dr. Francisco de Lucena Cabral Junior Anestesiologista do CET-SBA Hospital Geral de Fortaleza 3 AGRADECIMENTOS À Dr.a Aglais Gonçalves da Silva Leite, pela coordenação e empenho destinado ao serviço de Anestesiologia do Hospital Geral de Fortaleza, por sua constante batalha em busca do crescimento profissional de seus aprendizes. Ao Dr. José Carlos Rodrigues Nascimento, por todo apoio que destina aos residentes sob sua orientação. Ao Prof. Dr. Rogean Rodrigues Nunes, orientador desta monografia, por todas as orientações acadêmicas, competência, resiliência e perseverança com seus alunos. A todos os preceptores em Anestesiologia dos hospitais de ensino (HGF, HGWA, HGCC, HIAS, HM, Hospital da Mulher e ICC) que, com paciência e confiança, contribuíram com ensinamentos fundamentais para minha formação. A minha mãe pelo empenho, amor, carinho e dedicação que possibilitou a realização de meus sonhos. A meu pai (in memorian) que partiu dessa vida muito cedo, mas que soube deixar belas lições que levo comigo para sempre. A minha irmã, por seu entusiasmo na vida acadêmica e pelo incentivo e carinho fraterno. Aos amigos que, com um sorriso, um abraço ou uma palavra de motivação e alegria, amenizaram os momentos mais difíceis. A todos os pacientes que, nesses anos de treinamento em Anestesiologia, confiaram suas vidas em minhas mãos. 4 RESUMO As complicações oftalmológicas perioperatórias são situações raras, porém ameaçadoras à visão do paciente. A anestesia regional orbital é a técnica de escolha nos procedimentos oftalmológicos. A execução da técnica anestésica requer conhecimentos das ciências básicas para minimizar as chances dessas complicações. São descritas as técnicas de anestesia regional orbital e as suas principais complicações de acordo com a literatura médica atual. Também são descritas complicações oculares perioperatórias em procedimentos não oftalmológicos. O bloqueio retrobulbar está em desuso por ser a técnica mais associada a complicações locais e sistêmicas. A anestesia regional mais usada em Oftalmologia no Reino Unido e da América do Norte é a anestesia subtenoniana, executada principalmente por oftalmologistas. No Brasil, a anestesia tópica e o bloqueio peribulbar são as técnicas mais utilizadas. A literatura médica atual mostra redução nas taxas de complicações oftalmológicas perioperatórias que provavelmente está relacionada ao desenvolvimento de técnicas oftalmológicas menos invasivas. Palavras-chave: Anestesia regional; Complicações oftalmológicas. 5 ABSTRACT Perioperative eye complications are rare, but they threaten patient’s vision. The orbital regional anesthesia is the technique of choice in ophthalmic procedures and the correct performance requires basic sciences knowledge to minimize the chances of these complications. Regional orbital anesthesia techniques and their main associated complications are described according to current literature. Perioperative ocular complications in nonophthalmic procedures are also described. Retrobulbar block is currently obsolete for being the most associated local and systemic complications technique. In the UK and North America centers, sub-Tenon anesthesia is preferred, performed mainly by ophthalmologists. In Brazil, topical anesthesia and peribulbar block are the most widely used techniques. Recent medical literature shows reduction in perioperative ophthalmic complication rates, probably related to the development of less invasive techniques in ophthalmic procedures. Keywords: Regional anesthesia; ophthalmic complications. 6 SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 7 CAPÍTULO 1 – CIÊNCIAS BÁSICAS APLICADAS À ANESTESIA OCULAR. ................ 8 1.1 ANATOMIA OCULAR ................................................................................................... 8 1.2 FISIOLOGIA OCULAR................................................................................................. 11 1.2.1. FORMAÇÃO E DRENAGEM DO HUMOR AQUOSO ....................................... 12 1.2.2 MANUTENÇÃO DA PRESSÃO OCULAR ........................................................... 12 1.2.3 EFEITOS DA ANESTESIA E ADJUVANTES NA PRESSÃO INTRAOCULAR ........................................................................................................................................... 13 1.3 REFLEXO ÓCULO-CARDÍACO ................................................................................. 13 1.4 CONSIDERAÇÕES ANESTÉSICAS DOS FÁRMACOS OFTALMOLÓGICOS ...... 14 1.5 FÁRMACOS OFTALMOLÓGICOS SISTÊMICOS .................................................... 16 CAPÍTULO 2 - TÉCNICAS ANESTÉSICAS EM OFTALMOLOGIA E POTENCIAIS COMPLICAÇÕES ................................................................................................................... 17 2.1 PREPARO ANESTÉSICO DO PACIENTE OFTALMOLÓGICO .............................. 17 2.2 BLOQUEIO RETROBULBAR ...................................................................................... 18 2.3 BLOQUEIO PERIBULBAR .......................................................................................... 21 2.4. BLOQUEIO SUBTENONIANO OU PARABULBAR ................................................ 22 2.5 ANESTESIA TÓPICA OCULAR .................................................................................. 23 CAPÍTULO 3 - COMPLICAÇÕES OCULARES PÓS-OPERATÓRIAS EM CIRURGIAS NÃO OFTALMOLÓGICAS .................................................................................................... 24 CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 26 REFERENCIAS ....................................................................................................................... 27 7 INTRODUÇÃO A anestesia para cirurgia oftalmológica requer cuidados além da rotina de checagem de material e monitorização do paciente, sendo indicada a presença de um anestesiologista no período perioperatório mesmo nos casos de anestesia tópica.1 Conhecimentos em anatomia, fisiologia e farmacologia ocular são quesitos para o anestesiologista planejar e executar a técnica anestésica de forma satisfatória. Fármacos oftalmológicos que atuam sobre o sistema nervoso autônomo potencializam os efeitos adversos da anestesia, assim como os fármacos anestésicos e a manipulação ocular influenciam diretamente a dinâmica intraocular. Parte significativa dos pacientes dessa especialidade figuram extremos de idade e, muitas vezes, são portadores de comorbidades de interesse do anestesiologista. A população idosa apresenta alta prevalência de diabetes melito, doença arterial coronariana, hipertensão arterial sistêmica, doença pulmonar crônica, além de problemas da senilidade como a demência. Na criança, há possibilidade de prematuridade e de doenças congênitas. A lista de procedimentos oculares é extensa, mas pode ser dividida basicamente em procedimentos extraoculares e intraoculares. Essa divisão é essencial para as considerações anestésicas. Os procedimentos intraoculares requerem acinesia (relaxamento da musculatura extraocular) e controle meticuloso da pressão intraocular (PIO), enquanto que o reflexo óculo-cardíaco, embora possa se manifestar em qualquer manipulação ocular, torna-se mais relevante nos procedimentos extraoculares. O presente estudo tem o objetivo de revisar as principais complicações oftalmológicas em Anestesia a partir da literatura médica atual, visto que os livros-textos, em sua última edição, ainda apresentam referências desatualizadas. 8 CAPÍTULO 1 – CIÊNCIAS BÁSICAS APLICADAS À ANESTESIA OCULAR. 1.1 ANATOMIA OCULAR O conhecimento da anatomia ocular é necessário para a execução segura e efetiva da anestesia regional em oftalmologia. A anatomia ocular apresenta cinco subdivisões: órbita; globo ocular; musculatura extraocular; pálpebras e sistema lacrimal. O par de órbitas são cavidades de formato piramidal, cada uma com quatro paredes compostas por sete ossos. Cada globo ocular é situado anteriormente na órbita e ocupa um terço da cavidade orbitária. O restante da órbita é preenchido basicamente por tecido adiposo. A órbita tem um volume de aproximadamente 30 ml, e o globo ocular do adulto tem volume médio de 7 ml. As medidas da abertura anterior da órbita são 35 mm de altura e 45 mm de largura, com a profundidade média de cerca de 40 mm, variando com a raça e o gênero.2 No vértice da órbita, está situado o forame óptico, que detém o nervo óptico, artéria oftálmica e as fibras simpáticas originadas do plexo carotídeo, assim como estão localizadas a fissura orbital superior e a fissura orbital inferior, por onde emergem as estruturas vasculares e nervosas maiores do globo ocular. Através do forame infraorbital, localizado 4 mm abaixo da borda orbital maxilar (ou borda orbital inferior), passam o nervo, a artéria e a veia infraorbital. A fossa lacrimal contém a glândula lacrimal no terço lateral da margem supraorbital. A incisura supraorbital localiza-se na junção do terço medial com os dois terços temporais da margem supraorbital, por onde cruzam nervo, artéria e veia supraorbital. O globo ocular do adulto (figura 1) tem formato parcialmente esférico, com 23,5 mm de diâmetro médio, variando de 21 mm a 26 mm. Ao nascimento, o diâmetro ocular é de cerca de 16 mm e atinge 23 mm aos 3 anos de idade, chegando ao tamanho máximo na puberdade.2 A parede do globo é composta de três camadas: esclera, trato uveal e retina. A esclera é a camada fibrosa mais externa, formada basicamente de colágeno, que dá sustentação, rigidez e proteção ao globo ocular. A cápsula tenoniana recobre o globo ocular da córnea até o nervo óptico. Os músculos extraoculares estão inseridos no globo ocular através de aberturas na cápsula tenoniana. Na porção anterior da esclera, observa-se a córnea que é transparente, permitindo a passagem de luz para as estruturas internas. O arco formado pela córnea inicia o processo de focalização das imagens na retina. 9 O trato uveal é a camada intermediária da parede do globo ocular, em aposição direta com a esclera, ricamente vascularizado. O espaço supracoroidal é um espaço virtual entre a esclera e o trato uveal que pode ser preenchido de sangue, no caso de hemorragia, situação crítica, associada a desastre cirúrgico. A íris, o corpo ciliar e o plexo coróide compõem o trato uveal. A íris inclui a pupila que controla a quantidade de luz que entra no globo ocular pela ação de três grupos musculares: O músculo dilatador da íris, com inervação simpática com receptores α1, o esfíncter e o músculo ciliar, ambos com inervação parassimpática com receptores muscarínicos M3. Posteriormente à íris, estão situados os corpos ciliares que produzem o humor aquoso. Os músculos ciliares do corpo ciliar ajustam o formato do cristalino para acomodar o foco a várias distâncias. Os capilares coróides são ramos das artérias ciliares que nutrem a camada mais anterior da retina. Figura 1 – Estruturas do globo ocular Reprodução da imagem Globo ocular e estruturas intraoculares de Cangiani e colaboradores.3 A retina é uma membrana neurossensorial composta de 10 camadas que convertem os estímulos luminosos em impulsos neurais. Os impulsos neurais de cada olho são conduzidos pelo nervo óptico para o cérebro. O cristalino está localizado na porção anterior do olho, posterior à pupila. Promove refração dos raios luminosos, focalizando as imagens na retina. A contração ou relaxamento dos músculos ciliares levam a mudanças na espessura do cristalino para ajustar o foco das imagens na retina, em um processo de acomodação visual. Os fármacos cicloplégicos promovem relaxamento dos músculos ciliares. 10 No núcleo do globo ocular, está a cavidade vítrea preenchida pelo humor vítreo de aspecto gelatinoso. O humor vítreo está aderido aos 3 mm mais anteriores da retina, assim como aos vasos de maior calibre e ao nervo óptico. O humor vítreo pode tracionar a retina causando hemorragia e/ou descolamento de retina. A musculatura extraocular é constituída por seis músculos de cada globo ocular. Quatro músculos retos – superior, inferior medial e lateral, e dois músculos oblíquos, superior e inferior. O ânulo de Zinn, no vértice da órbita, é a origem dos músculos retos. Apenas o músculo oblíquo inferior tem origem fora do tendão comum no vértice da cavidade orbitária e surge da face maxilar da parede nasal da órbita, com inserção na superfície inferoposterior do globo ocular, perto da mácula. Os músculos se projetam anteriormente e estão inseridos à parede do globo ocular no plano equatorial (figura 2). Os músculos retos delimitam o espaço intraconal e extraconal, que é um conceito prático para a realização da anestesia regional ocular. Os músculos extraoculares são inervados pelos nervos oculomotor, troclear e abducente. O músculo levantador da pálpebra está sobreposto ao músculo reto superior e tem inervação motora pelo n. oculomotor. Figura 2 – Musculatura extraocular Reprodução da imagem Vista frontal da órbita direita, mostrando o trajeto dos músculos extrínsecos do olho de Cangiani e colaboradores.3 O sistema lacrimal é composto pelas glândulas lacrimais que promovem a formação contínua do filme lacrimal mantendo a umidade e lubrificação da superfície anterior do globo ocular e pelo sistema de drenagem lacrimal composto pelo orifício, canalículos, saco lacrimal e ducto lacrimal que drenam para a cavidade nasal. Parte da absorção sistêmica de fármacos oftalmológicos ocorre na mucosa nasal a partir desse sistema de drenagem. Os efeitos sistêmicos de colírios no perioperatório podem ser minimizados pela compressão do 11 ducto lacrimal, próximo à carúncula, durante a instilação conjuntival. Disfunção do sistema de drenagem leva à necessidade de intervenção cirúrgica, a dacriocistorrinostomia, que é a anastomose do saco lacrimal diretamente na mucosa nasal. A conjuntiva é a membrana mucosa que cobre a superfície do globo e parte posterior das pálpebras. Ela apresenta capacidade absortiva e é um local comum de administração de fármacos oftalmológicos. As pálpebras protegem os olhos do meio externo. Cada pálpebra é composta de quatro camadas – conjuntiva, placa cartilaginosa tarsal, camada muscular orbicular e levantador da pálpebra, pele. Através do piscar das pálpebras, o filme lacrimal é espalhado pela superfície do olho, mantendo a córnea umidificada. O ato de piscar eleva momentaneamente a PIO entre 5 mmHg e 10 mmHg. Essa variação de pressão pode ser suficiente para causar extrusão do conteúdo ocular no período intraoperatório de procedimentos intraoculares. Nesse contexto, pode-se realizar o bloqueio do nervo facial para obter a acinesia da pálpebra em complemento à anestesia regional orbital. A inervação ocular sensitiva e motora do olho e anexos é complexa. Um ramo do n. oculomotor se dirige para a raiz motora do gânglio ciliar, que controla o esfíncter da pupila e o músculo ciliar. A inervação mais complexa das estruturas oculares ocorre pela divisão oftálmica do n. trigêmeo, que se divide em nervos frontal, lacrimal e nasociliar após entrar na órbita pela fissura orbital superior. O ramo zigomático do n. facial se divide em ramos superiores para o músculo frontal e músculo orbicular palpebral superior e ramos inferiores para o músculo orbicular palpebral inferior, promovendo a oclusão palpebral, enquanto que a abertura palpebral se faz sob o controle do n. oculomotor. A vascularização do globo ocular e da órbita é feita por ramos de ambas as carótidas externas e internas. A artéria oftálmica emerge da carótida interna e emite a artéria central da retina e a irrigação para o globo e estruturas periorbitais. A drenagem venosa da órbita é realizada pelas múltiplas anastomoses das veias oftálmicas superiores e inferiores. A drenagem venosa do globo ocular e do nervo óptico é feita principalmente pela veia central da retina. Todo o sistema venoso ocular é tributário do seio cavernoso. 1.2 FISIOLOGIA OCULAR Na perspectiva do anestesiologista, a fisiologia da formação e drenagem do humor aquoso são de maior relevância para a correta manipulação da pressão intraocular. 12 1.2.1. FORMAÇÃO E DRENAGEM DO HUMOR AQUOSO Dois terços do humor aquoso é formado na câmara posterior pelos corpos ciliares por processo ativo envolvendo a anidrase carbônica e o sistema citocromo-oxidase. O terço restante é formado por filtração passiva do humor aquoso dos vasos na superfície anterior da íris. O volume da câmara posterior é de 60µL e da câmara anterior é de 250µL.2 No epitélio ciliar, o íon sódio é transportado ativamente para o humor aquoso da câmara posterior. Bicarbonato e cloreto são transportados passivamente concomitantes ao íon sódio. Esse mecanismo ativo torna a pressão osmótica do humor aquoso maior que a do plasma. Esse gradiente de osmolaridade promove a formação de humor aquoso numa taxa de 2 µL.min-1. O humor aquoso flui da câmara posterior para a câmara anterior pela abertura pupilar, banhando o cristalino e o epitélio posterior da córnea. Quando a pupila dilata, reduz o espaço de Fontana para circulação do humor aquoso e a resistência do fluxo de saída aumenta, e o acúmulo de humor aquoso eleva a PIO. Como a midríase é indesejada nos casos de glaucoma de ângulo fechado e de ângulo aberto, soluções oftalmológicas com agentes mióticos são usados em pacientes com glaucoma. Na periferia da câmara anterior, o humor aquoso é drenado pela rede trabecular, canais de Schlemm e pelo sistema venoso episcleral. O sistema venoso conflui para a veia cava superior, até chegar ao átrio direito. Qualquer obstrução venosa no trajeto do olho ao átrio direito impede a drenagem aquosa, elevando a pressão intraocular. 1.2.2 MANUTENÇÃO DA PRESSÃO OCULAR A pressão intraocular (PIO) varia normalmente de 10 mmHg a 22 mmHg. Acima de 25mmHg é considerada alterada. A manutenção da pressão intraocular se faz por um conjunto de fatores: O conteúdo líquido (principalmente humor aquoso); volume sanguíneo intraocular (principalmente venoso); pressão extraocular (contração muscular, congestão venosa, compressão extrínseca) e midríase. O volume sanguíneo intraocular influencia a pressão intraocular principalmente pela dilatação e vasoconstrição das camadas esponjosas do plexo coróide. Alterações na pressão arterial tem menor efeito na PIO do que flutuações na pressão venosa. Na hipertensão arterial crônica, após um período de adaptação, ocorre redução do volume sanguíneo total, mantendo a PIO constante. 13 1.2.3 EFEITOS DA ANESTESIA E ADJUVANTES NA PRESSÃO INTRAOCULAR Os fármacos anestésicos, assim como as manobras de laringoscopia e bloqueios regionais alteram a pressão intraocular. Durante a anestesia, uma elevação da PIO pode produzir perda visual permanente. Se a incisão do globo ocorrer com a PIO excessivamente elevada, há risco de ruptura de capilares e consequente hemorragia. Após a incisão do globo ocular, a PIO assume a pressão atmosférica e qualquer aumento súbito da pressão pode produzir prolapso da íris e do cristalino ou perda de vítreo. Em situações que não permitem variações da pressão intraocular, como no trauma ocular penetrante, as manobras de laringoscopia e intubação traqueal devem ser realizadas em plano anestésico profundo, uma vez que a PIO pode elevar-se mesmo sem reação perceptível do paciente à intubação. Condições anestésicas que elevam a PIO: Succinilcolina, hipoxemia, hipercapnia e cetamina. A succinilcolina é um bloqueador neuromuscular despolarizante que produz fasciculações e contrações tônicas da musculatura extraocular, vasodilatação coroidal e relaxamento da musculatura lisa orbital, com pico de elevação médio de 8 mmHg da PIO 1 a 4 minutos após a administração venosa e retorno a linha de base da PIO após 7 minutos. O pré-tratamento com bloqueadores neuromusculares adespolarizantes é controverso, e a succinilcolina é contraindicada em pacientes com trauma ocular penetrante. A hipoventilação, e consequente hipoxemia e hipercarbia, elevam a PIO, pois ocorre alteração na pressão intracraniana secundária à vasodilatação. Estudos4 da década de 1970 com cetamina inicialmente mostraram elevação da PIO, mensurada por tonometria de indentação. Porém, ao usar a tonometria de aplanação, método mais sensível, não foi observada elevação da PIO. Mesmo assim, o nistagmo e blefarospasmo produzidos pela cetamina tornam esse agente pouco indicado em oftalmologia. A hiperventilação promove vasoconstrição e redução do fluxo sanguíneo cerebral, reduzindo a PIO. A hipotermia está associada à redução na formação de humor aquoso e vasoconstrição, com efeito líquido de redução da PIO. 1.3 REFLEXO ÓCULO-CARDÍACO Inicialmente descrito em 1908 por Aschner e Dagnini, o reflexo óculo-cardíaco (ROC) consiste na redução da frequência cardíaca em resposta à pressão e à tração sobre 14 estruturas da órbita e do globo ocular. Pode ser desencadeado ainda por bloqueio retrobulbar, trauma ocular e por pressão sobre o ápice da órbita após enucleação. A via aferente é trigeminal e a via eferente é vagal. A manifestação mais comum é a bradicardia sinusal, mas outras disritmias podem ocorrer, incluindo ritmo juncional, bloqueio atrioventricular, bigeminismo ventricular, ritmo idioventricular e assistolia. A maior incidência envolve crianças pelo maior tônus vagal. A prevenção do ROC com agentes anticolinérgicos é ineficaz, inclusive com relatos de disritmias mais graves e refratárias. Os bloqueios regionais orbitais têm reconhecido efeito protetor contra o reflexo óculo-cardíaco, com as desvantagens dos riscos inerentes a esses procedimentos, inclusive de desencadear o ROC. A abordagem inicial no caso de arritmia é interromper o estímulo sobre o olho e imediatamente assegurar a ventilação adequada do paciente. A frequência e o ritmo geralmente retornam aos valores iniciais em até 20 segundos. Com a estimulação repetida, ocorre fadiga do reflexo. Em casos de ROC persistente, alguns autores advogam o uso de anticolinérgicos. 1.4 CONSIDERAÇÕES ANESTÉSICAS DOS FÁRMACOS OFTALMOLÓGICOS Agentes anticolinesterásicos de longa duração como ecotiofato, usados como agentes mióticos em pacientes com glaucoma, prolongam a ação da succinilcolina. Esse agente miótico é absorvido na circulação sistêmica após instilação no saco conjuntival. A atividade da pseudocolinesterase plasmática pode estar reduzida a menos que 5% do normal após 1 mês de terapia e requer 4 a 6 semanas para retornar aos valores normais após a interrupção da droga. O ciclopentolato é um agente midriático comum, que apresenta efeitos colaterais neurológicos, como disartria, desorientação e reações psicóticas francas. Esses efeitos são mais comuns com soluções a 2% do que a 1%. Em crianças já foram descritos casos de convulsão, portanto são recomendadas soluções de 0,5% a 1%. Epinefrina tópica ocular a 2% é usada como agente midriático no perioperatório, mas promove efeitos sistêmicos de hipertensão, angina, taquicardia sinusal e arritmias além de nervosismo. Solução oftalmológica de fenilefrina produz midríase e vasoconstrição. Em doses tópicas usuais, efeitos colaterais são incomuns, mas estão descritos efeitos sistêmicos como hipertensão arterial, cefaleia e bradicardia. Pacientes com doença arterial coronariana são 15 suscetíveis à isquemia severa, infarto do miocárdio e disritmias após administração de colírio de fenilefrina a 10%. Crianças apresentam resposta sistêmica dramática à instilação ocular de fenilefrina, inclusive com relato de edema agudo de pulmão.5,6 Dessa forma, é recomendado o uso de solução a 2,5% de fenilefrina em crianças e também em idosos. O uso de fenilefrina é contraindicado após incisão ocular no perioperatório. Apraclonidina é um agente alfa-2 agonista de uso oftalmológico no tratamento de glaucoma e aplicado como vasoconstritor em cirurgia de estrabismo. Apresenta molécula mais polar que a clonidina, sendo menos lipofílica, com menor potencial de atravessar a barreira hemato-encefálica e, portanto, com menos risco de hipotensão. No entanto, o efeito agonista periférico do fármaco nos receptores α1 e α2 pode produzir vasoconstrição pronunciada, aumentando o retorno venoso e causando hipertensão arterial.6 Colírio de atropina é usado como agente midriático e cicloplégico. Absorção sistêmica pode ser suficiente para produzir disritmias como taquicardia supraventricular e fibrilação atrial. Timolol é um betabloqueador adrenérgico não seletivo muito usado na forma tópica no tratamento de glaucoma, com melhor aceitação dos pacientes do que outras drogas. Os efeitos sistêmicos podem ocorrer pela absorção conjuntival significativa da droga, inclusive produzindo bradicardia severa em pacientes com distúrbios de condução cardíaca. Timolol foi descrito como causa de exacerbação de miastenia gravis e de ocorrência de apneia pós-operatória em neonatos e lactentes. A injeção intravítrea do gás hexafluoreto de enxofre é usada durante o reparo de descolamento de retina, para auxiliar mecanicamente a aderência da retina. Se usado na presença de óxido nitroso, a bolha de hexafluoreto de enxofre pode inflar e causar rápido aumento da pressão intraocular, atingindo valor máximo em 24 minutos. Na presença de 70% de óxido nitroso, 1,0ml de ar se expande para 2,85ml em 1 hora; essa expansão é ainda maior com o hexafluoreto de enxofre que tem difusão mínima. Recomenda-se suspender a administração de óxido nitroso 15 minutos antes da injeção vítrea de gás. Para pacientes que necessitem de anestesia geral após injeção intravítrea de gás, a recomendação é evitar a administração de óxido nitroso por 5 dias após a injeção de ar e evitar por 10 dias após a injeção de hexafluoreto de enxofre. 16 1.5 FÁRMACOS OFTALMOLÓGICOS SISTÊMICOS A acetazolamida administrada via oral ou endovenosa inativa a anidrase carbônica e interfere com a bomba de sódio. O efeito resultante é a redução da formação de humor aquoso e redução da PIO. No entanto, os efeitos na anidrase carbônica dos túbulos renais promovem a perda de água e dos íons bicarbonato, sódio e potássio na urina, provocando hiponatremia, hipocalemia e acidose metabólica. Soluções hipertônicas como dextran, ureia, manitol, sorbitol elevam a pressão osmótica do plasma, reduzindo a formação de humor aquoso e reduzindo a PIO. Manitol é a solução mais utilizada com essa finalidade, com a vantagem de menos efeitos colaterais, com pico de ação de 30 a 45 minutos e duração de ação por 5 a 6 horas, usada na dose de 1,5g.Kg-1 por via endovenosa. Como efeito colateral, ocorre rápida expansão do volume intravascular por efluxo da água intracelular, com sobrecarga renal e cardíaca, além de resultar em hiponatremia dilucional. 17 CAPÍTULO 2 - TÉCNICAS ANESTÉSICAS EM OFTALMOLOGIA E POTENCIAIS COMPLICAÇÕES 2.1 PREPARO ANESTÉSICO DO PACIENTE OFTALMOLÓGICO A atenção à anamnese do paciente com a pesquisa de comorbidades, além do uso de colírios e de medicações sistêmicas é fundamental. Em cirurgia de catarata, a prevalência de hipertensão arterial sistêmica, diabetes e doenças geniturinárias é alta, e até 40% dos pacientes oftalmológicos são diagnosticados com comorbidades durante a avaliação préanestésica.7 A solicitação de exames pré-operatórios se baseia na condição clínica do paciente, programação cirúrgica e técnica anestésica para o procedimento. A maioria das cirurgias oftalmológicas são eletivas e, se o paciente é considerado clinicamente instável, o procedimento pode ser adiado até a avaliação clínica e tratamento das comorbidades. A taxa de mortalidade perioperatória em cirurgias oftalmológicas é baixa8, com a população portadora de condições preexistentes graves apresentando o maior risco. Pacientes com ptose congênita e estrabismo podem ter risco mais alto de hipertermia maligna, devendo o anestesista tomar as medidas preventivas possíveis.9 Pacientes em uso de anticoagulantes merecem atenção particular do oftalmologista e do anestesiologista. Pelo risco de hemorragia retrobulbar ou intraocular durante a cirurgia, a interrupção da anticoagulação ou a terapia antiagregante plaquetária é recomendada em alguns casos. Por outro lado, o risco de interrupção do tratamento da doença de base com antiagregante/anticoagulante expõe o paciente ao risco de desenvolver isquemia cerebral, infarto do miocárdio ou embolia pulmonar.10 Estudo com 55000 casos11 mostrou que pacientes usando clopidogrel ou cumarínico apresentaram maior risco de complicações hemorrágicas menores na anestesia regional ocular, mas sem complicações potencialmente ameaçadoras à visão. Embora não pareça ter aumento significante da incidência de eventos hemorrágicos maiores com anestesia regional periorbital em pacientes em uso crônico de antiagregantes plaquetários ou anticoagulantes, a avaliação cuidadosa dos riscos e benefícios deve ser feita caso a caso, e, se necessário, após consultar o clínico assistente. Uma meta-análise12 de 2008 revelou que continuar o uso de cumarínico especificamente em pacientes com catarata foi associado com risco aumentado de sangramento, mas quase todos autolimitados e clinicamente irrelevantes, sem nenhum caso de sangramento que comprometesse a acuidade visual. Em pacientes com doença arterial coronariana portadores de stents, a conclusão é que o risco de eventos 18 trombóticos é muito superior do que o risco complicações por sangramento, portanto idealmente deve-se postergar a cirurgia oftalmológica de maior risco de sangramento até a conclusão da terapia antiagregante.13 As condições necessárias para o procedimento oftalmológico seguro são acinesia ocular, analgesia profunda, sangramento mínimo, minimizar ou abolir o reflexo óculocardíaco, prevenção da hipertensão intraocular, além de um despertar suave do paciente, sem sintomas de náusea ou vômitos, sem tosse ou manobra de Valsalva. Atingir essas condições requer a ativa participação do anestesiologista. A escolha da técnica anestésica, principalmente entre anestesia regional ou anestesia geral deve ser individualizada. As maiores considerações na escolha da técnica anestésica incluem o tipo e a duração do procedimento, avaliação da coagulação do paciente, capacidade de cooperação e comunicação do paciente e preferência da equipe cirúrgica.14 Por exemplo, anestesia regional isolada não é a escolha ideal para o paciente com deficiência auditiva, ou para pacientes com claustrofobia, ansiedade ou distúrbios cognitivos, assim como existem outras contraindicações relativas, como tosse crônica, tremores e impossibilidade de permanecer em decúbito dorsal. Estudo no Reino Unido, com mais de 55000 cirurgias de catarata entre 2001 e 2006, mostrou que 56% dos bloqueios regionais foram realizados por oftalmologistas, e a técnica subtenoniana foi usada em 47% dos casos, seguido pela técnica peribulbar em 19% dos casos.15 A oferta de oxigênio suplementar por cânula nasal ou oxigenação indireta do ambiente com fluxo de 2L.min-1 de O2 a 100% previne a hipoxemia em pacientes cobertos pelos campos cirúrgicos, porém favorece o acúmulo de oxigênio, que é indesejável durante o uso do eletrocaltério, por risco de combustão. A presença de campos cirúrgicos impermeáveis leva ao acúmulo de gás carbônico sob o campo. Para prevenir os efeitos adversos hipercapnia decorrente da reinalação de gás carbônico – taquicardia e elevação da PIO – a instalação de um sistema de sucção sob os campos cirúrgicos é recomendada a todos os pacientes submetidos à cirurgia oftalmológica. 2.2 BLOQUEIO RETROBULBAR O bloqueio retrobulbar foi o “padrão ouro” da anestesia ocular no começo do século XX, até a formalização do bloqueio peribulbar da técnica subtenoniana.16 É um procedimento muito efetivo em estabelecer rápida anestesia e acinesia ocular, no entanto, essa 19 técnica está em desuso pelas complicações associadas, com incidência na ordem de <1 em 1000.15,17 A técnica do bloqueio consiste na inserção da agulha via transcutânea ou via transconjuntival na junção do terço médio com o terço lateral da borda orbital inferior, imediatamente acima da rima orbital. Para reduzir o risco de penetração do globo ocular, é descrita a elevação do globo ocular com a ponta do dedo indicador antes da inserção da agulha. A agulha então é introduzida paralela ao assoalho da órbita, com o bisel de frente para o globo ocular. Conforme a agulha avança, o olho é inspecionado para identificar qualquer movimento para baixo, que pode indicar contato da agulha com o globo ocular. Além disso, pode-se realizar um movimento de vaivém no plano horizontal para detectar qualquer movimento concomitante do olho por contato da agulha. Uma vez que a ponta da agulha tenha ultrapassado o equador do olho, a agulha é redirecionada sutilmente para cima e medialmente, no sentido da parte inferior da fissura orbital superior. A profundidade da agulha deve ser avaliada cuidadosamente para evitar inserção excessiva. Uma vez a agulha no espaço intraconal, a seringa é aspirada para assegurar ausência de sangue por punção vascular. Aproximadamente 2 ml a 5 ml de anestésico local é lentamente injetada, com leve movimentação em retirada da agulha para prevenir loculação do anestésico local. Após a retirada da agulha, é realizada firme pressão por alguns minutos sobre o olho com a pálpebra fechada para garantir a dispersão do anestésico local e auxiliar no retorno da pressão intraocular ao valor basal.18 Hemorragia retrobulbar é considera a complicação mais comum, com incidência de até 1% a 2% dos casos em estudos mais antigos.19 Estudos recentes mostram diminuição na incidência, para cerca de 0,002% dos casos.15 A fonte do sangramento pode ser arterial ou venosa. Uma hemorragia retrobulbar arterial se manifesta pela ocorrência aguda de proptose e oftalmoplegia externa, com sinais externos de hemorragia subconjuntival e palpebral. O principal fator de risco é a fragilidade vascular (diabetes, ateromatose), sendo mais relevante do que distúrbios de coagulação. 16 Algumas vezes, pode desencadear o reflexo óculo- cardíaco. Dependendo da severidade da hemorragia, pode haver perda da visão quando há atraso no reconhecimento e tratamento. Perfuração ocular (orifício de entrada e de saída) ou penetração ocular (somente orifício de entrada) podem resultar em trauma significante para o olho e perda visual. Sinais e sintomas incluem dor severa, perda visual súbita, presença de moscas volantes, hipotonia com baixa PIO, perda do reflexo vermelho e hemorragia vítrea. Elevação da PIO após a penetração 20 ocular é resultado da injeção intraocular de anestésico local e pode resultar em disfunção temporária da retina. Fatores de risco para perfuração ocular no bloqueio retrobulbar e peribulbar incluem miopia axial (diâmetro do globo > 26,0mm),20 estafiloma posterior, múltiplas injeções, paciente não cooperativo durante o procedimento. Estafilomas são mais frequentes em grandes míopes. Estão localizados principalmente no polo posterior do globo (casos de perfuração no bloqueio retrobulbar) e na região inferior do globo (casos de perfuração na punção inferior lateral). Portanto, a medida do comprimento axial do globo (biometria) deve ser avaliada, pelo menos em míopes. Comprimento axial ocular maior que 26 mm permanece uma clássica contraindicação de bloqueio regional orbital.16 Oclusão vascular da retina (venosa ou arterial) é complicação relatada em bloqueio retrobulbar.21 Os mecanismos propostos incluem trauma vascular direto pela agulha, embolização acidental, compressão vascular por distensão da bainha do nervo óptico, hemorragia retrobulbar, vasoespasmo e finalmente efeito compressivo direto ou farmacológico do anestésico local. Neuropatia óptica/Perfuração do nervo óptico consiste na disfunção do nervo óptico que pode ocorrer por trauma direto pela agulha ou por efeito compressivo da hemorragia retrobulbar.22 Penetração da bainha do nervo óptico pode levar tanto à lesão do nervo óptico como à oclusão vascular. Perda visual por lesão nervosa se manifesta por perda da acuidade visual, redução de campo visual, perda de diferenciação de cores e falha aferente no teste reflexo luminoso pupilar. A profundidade da órbita e o comprimento da agulha são fatores de risco mais importantes nos bloqueios retrobulbar e peribulbar. É desaconselhável usar agulhas maiores que 35 mm, e usar preferencialmente agulhas de até 31,5 mm para bloqueio retrobulbar.23 A posição do olhar é outro fator importante a ser considerado durante a realização do bloqueio. Recomenda-se que o olho esteja com o olhar em posição neutra ou com o olhar para baixo e para dentro. Diplopia tem como mecanismo proposto para essa complicação o trauma muscular direto, contratura Volkmann-símile e miotoxicidade do anestésico local. O músculo extraocular mais afetado nos bloqueios orbitais é o reto inferior, embora lesões dos músculos reto superior e oblíquo inferior também estejam descritas. Ptose após cirurgia de catarata não é incomum e apresenta múltiplos fatores etiológicos. É atribuída principalmente ao trauma do complexo do músculo reto superior e músculo elevador da pálpebra, mas outros fatores podem estar implicados, incluindo ptose pré-existente, injeção de anestésico local na pálpebra superior na realização do bloqueio de 21 nervo facial, injeção retrobulbar, injeção peribulbar na pálpebra superior na posição de 12 horas, compressão ou massagem ocular, tração com espéculo palpebral, flap conjuntival superior extenso, tampão ocular prolongado ou apertado no período pós-operatório e edema palpebral pós-operatório.24 Estudo19 de 1990 declarava que o desenvolvimento de ptose póscatarata é multifatorial e nenhum aspecto isolado da cirurgia era considerado causador. Embora os anestésicos locais sejam claramente miotóxicos, a injeção de anestésico local não pode ser isolada como causa primária de ptose pós-operatória, pois essa também ocorre em pacientes submetidos ao mesmo procedimento sob anestesia geral. Amaurose e acinesia contralateral são indicadores que a solução de anestésico local se espalhou além da órbita em direção ao sistema nervoso central, através da bainha do nervo óptico, espaço subdural ou subaracnóide para o quiasma óptico, nervo óptico contralateral e parte superior do tronco cerebral. A injeção intratecal de anestésico local é uma complicação potencialmente letal, que ocorre quando o anestésico local se dispersa para o líquor que envolve o tronco cerebral, por causa de perfuração da bainha meníngea que envolve o nervo óptico. Estudos antigos25,26 mostravam incidência de 1:350 a 1:500 no bloqueio retrobulbar, porém, na anestesia atual, essa complicação é rara. O início dos sintomas varia de 2 minutos a 40 minutos após o bloqueio retrobulbar. Tipicamente ocorre perda gradual da consciência e apneia num período de até 7 minutos, sem convulsões ou colapso cardiovascular. Eventualmente o anestésico local pode se dispersar para regiões pontinas e causar manifestações cardiovasculares. A severidade dessa complicação não é previsível, mas apresenta evolução favorável, desde que haja manutenção dos sinais vitais e controle da ventilação pulmonar.23 2.3 BLOQUEIO PERIBULBAR O bloqueio peribulbar é uma alternativa segura para evitar as complicações oculares e neurológicas do bloqueio retrobulbar, mantendo efetividade semelhante.27,28 Na anestesia peribulbar, a agulha não entra no espaço intraconal, reduzindo riscos de perfuração ou penetração no globo ocular, injeção intradural, lesão de nervo óptico ou hemorragia retrobulbar. É um bloqueio mais fácil de proceder, com menor dor à injeção em relação ao bloqueio retrobulbar e, muitas vezes, promove acinesia palpebral pela dispersão anterior de anestésico local na órbita, normalmente dispensando o bloqueio do nervo facial. As desvantagens incluem necessidade de maior volume de anestésico, equimose palpebral, maior tempo de latência – 8 a 12 minutos e necessidade de injeções adicionais. 22 Comparativamente ao bloqueio retrobulbar, a anestesia peribulbar requer agulhas com menor comprimento, da ordem de 25 mm,29 um maior volume de anestésico local, de cerca de 8 a 12 mL, e uma trajetória diferente da agulha na órbita.30 Embora o ponto de referência na rima orbital inferior seja o mesmo do bloqueio retrobulbar, na junção do terço médio com o terço lateral da borda orbital inferior, a agulha então é direcionada ligeiramente para a lateral e menos superiormente atrás do olho, permanecendo no espaço extraconal. Estudo de 1994, com mais de 16000 pacientes31 submetidos ao bloqueio peribulbar, mostrou incidência de 0,74% de hemorragia retrobulbar, e de 0,006% de perfuração ocular, sem casos de perda visual significante em nenhum dos pacientes. Em um estudo de 2012, com 33,363 casos de bloqueio peribulbar32, a incidência total de complicações foi de 0,12% (41 casos) divididos em complicações sistêmicas - 18 casos (0,053%) e complicações relacionadas à agulha - 23 casos (0,068%). Todos os casos de perfuração estiveram associados a estafiloma posterior. Assim como no bloqueio retrobulbar, estão descritos casos de amaurose e acinesia bilateral transitória após bloqueio peribulbar unilateral. 2.4. BLOQUEIO SUBTENONIANO OU PARABULBAR Na sua forma simplificada, o procedimento inicia-se com a anestesia tópica da conjuntiva. Com uma tesoura romba, faz-se uma incisão na conjuntiva e cápsula tenoniana até alcançar a esclera, de preferência, no quadrante ínfero-nasal. Após visualização da esclera desnuda, com uma cânula romba é colocada e avançada posteriormente no espaço subtenoniano, acompanhando o formato do globo ocular em direção ao espaço intraconal inferior. Um volume pequeno de anestésico local (<1 ml) é injetado lentamente para abrir espaços posteriores da órbita, permitindo uma segunda injeção de maior quantidade de solução anestésica. Volumes de 5 ml a 7 ml são efetivos em promover alto grau de acinesia do globo e da pálpebra. É um bloqueio que pode ser usado além de cirurgias de catarata, como nos procedimentos vitreoretinianos, estrabismo33 e cirurgias para glaucoma.34 Hemorragia subconjuntival e quemose podem ocorrer, e outras complicações incluem hemorragia orbital, trauma da veia vórtex, diplopia, oclusão da artéria central da retina, neuropatia óptica traumática e perfuração ocular. Não há relatos de complicações sistêmicas dessa técnica.29 23 2.5 ANESTESIA TÓPICA OCULAR Consiste na administração tópica de solução de anestésico local diretamente no olho. Com o avanço nas técnicas microcirúrgicas e no desenho das lentes intraoculares, essa técnica ganhou popularidade nas cirurgias de catarata. Os agentes anestésicos usados atualmente incluem colírios com bupivacaína a 0,75%, tetracaína a 0,5% e lidocaína a 2% ou 4% ou lidocaína na forma de gel. A forma em gel tem a vantagem da conveniência de menor número de aplicações, ação sustentada e efeitos lubrificantes.35 A principal vantagem da anestesia tópica é evitar os riscos associados às técnicas com injeção intraorbital, com benefício de ser segura em pacientes em uso de anticoagulantes, menor necessidade de ansiolíticos venosos, rápido início de ação, retorno imediato da visão, ausência de equimose peripalpebral, ausência de diplopia pós-operatória. Por outro lado, estudos sugerem pior controle da dor com a anestesia tópica. A dor e o desconforto relatados pelo paciente durante o procedimento ocorrem em cerca de 30% dos casos e estão frequentemente relacionadas à manipulação da íris e do corpo ciliar. A aplicação intracameral de lidocaína a 1% sem conservantes promove melhor conforto ao paciente.36 Apesar do baixo risco do procedimento, ainda precisam ser estabelecidos critérios para a seleção de pacientes candidatos à anestesia tópica. Com exceção da facoemulsificação, outros procedimentos, como a extração manual extracapsular de catarata, a acinesia ainda é necessária.37 Complicações da anestesia tópica são confinadas ao olho, e incluem: toxicidade ao epitélio da córnea, maior dificuldade nas condições operatórias por falta de acinesia ocular e palpebral (com aumento no risco de ruptura da cápsula posterior),37 além da dor intraoperatória. A injeção intracameral de lidocaína pode resultar em cegueira transitória pela toxicidade retiniana e do nervo óptico.1,36 24 CAPÍTULO 3 - COMPLICAÇÕES OCULARES PÓS-OPERATÓRIAS EM CIRURGIAS NÃO OFTALMOLÓGICAS A abrasão de córnea é a lesão ocular mais comum após cirurgia não oftalmológica. Essa lesão ocorre tanto por contato inadvertido da córnea com alguma superfície (campos cirúrgicos, máscara facial, dedos do anestesiologista) durante o preparo do paciente para a cirurgia como por exposição e ressecamento da córnea por cerramento inadequado da pálpebra (lagoftalmo) durante a cirurgia.39 O uso de lubrificante ocular ou pomada aplicada ao olho, assim como o fechamento palpebral com esparadrapo diminuem o risco de abrasão de córnea. Estudo mostrou aumento na incidência de abrasão de córnea em cirurgias laparoscópicas e robóticas nos últimos 10 anos. As causas ainda são desconhecidas, mas os mecanismos potenciais são o aumento da pressão intraocular decorrente da posição de Trendelenburg acentuado39 e o edema conjuntival secundário ao aumento da pressão venosa central e da PIO, levando à semiabertura palpebral.41 Lesão química superficial iatrogênica da córnea pode ocorrer por excesso de solução antisséptica no rosto durante o preparo do paciente. Os sintomas de abrasão de córnea são sensação de corpo estranho ocular, lacrimejamento, fotofobia, e dor exacerbada com a movimentação ocular e com o ato de piscar. Os casos de lesão abrasiva da córnea devem ter avaliação precoce do oftalmologista, e o tratamento consiste no repouso ocular com tampão e uso de pomada antibiótica. A regeneração geralmente ocorre em 24 horas, porém há possibilidade, ainda que mínima, de sequela permanente. Sintomas visuais leves após a anestesia, como fotofobia ou diplopia são comuns. Visão borrada no período pós-operatório imediato pode ser efeito residual de fármacos anticolinérgicos usados no perioperatório. A hemorragia retiniana, também conhecida como retinopatia de Valsalva, referese à hemorragia que ocorre em pessoas saudáveis, relacionada às alterações hemodinâmicas de manobras de vômitos ou despertar agitado da anestesia. São hemorragias venosas autolimitadas com completa resolução de alguns dias até poucos meses. Embora a completa resolução seja a norma, em casos de sangramento no nervo óptico, hemorragia massiva ou atrofia óptica pode ocorrer, com dano visual permanente. Nos casos de hemorragia massiva, a vitrectomia é uma medida auxiliar. 25 A isquemia retiniana pode ocorrer por sangramento arterial secundário a trauma. Nesses casos, a fundoscopia revela exsudatos algodonosos, um sinal de isquemia conhecido como retinopatia de Purtscher, com mau prognóstico visual. A isquemia da retina pode ocorrer também por elevação da pressão intraocular por compressão extrínseca, como durante a ventilação com máscara facial. Nesses casos, a pressão intraocular elevada comprime a artéria central da retina com isquemia retiniana e do nervo óptico. Os episódios de hipotensão sistêmica favorecem esse fenômeno. A neuropatia óptica isquêmica (NOI), apesar de ser evento muito raro, é a causa mais comum de perda visual após cirurgia não-oftalmológica. Os sinais e sintomas são perda da acuidade visual central, defeitos do campo visual, discromatopsia e defeito pupilar aferente relativo. Exceto pela neuropatia óptica glaucomatosa, a NOI é a causa mais comum de disfunção do nervo óptico no idoso. A etiologia é a insuficiência vascular para o nervo óptico. A forma anterior é a mais comum, caracterizada pelo edema do nervo óptico secundário à má perfusão pelos ramos das artérias ciliares posteriores que suprem a cabeça do nervo óptico.42 Já a forma posterior se manifesta pela disfunção óptica com nervo óptico de aparência normal, progredindo para palidez do nervo óptico em 4 a 6 semanas.43 A causa é a insuficiência vascular de ramos da artéria oftálmica que nutrem a porção intraorbital do nervo óptico.42 No contexto perioperatório, a neuropatia óptica isquêmica anterior está mais associada à cirurgia de coluna e cirurgia cardíaca, enquanto a NOI posterior é associada à cirurgia de coluna e cirurgia de cabeça e pescoço.44 . Em estudo retrospectivo, pacientes com NOI posterior pósoperatória tiveram pior prognóstico com maior perda visual e perda visual profunda final.43 A cegueira cortical é resultado do insulto bilateral aos lobos occipitais. A maioria dos casos está descrita em cirurgia cardíaca, cirurgias cervicais e cirurgia de coluna.45 O exame neurológico é normal, exceto pela profunda perda visual, confusão e desorientação e, às vezes, negação de sintomas visuais (síndrome de Anton). Glaucoma agudo pode se desenvolver no intraoperatório, sendo condição extremamente rara. A aplicação tópica ocular de agentes midriáticos é sabidamente contraindicada em pacientes com glaucoma pelo risco de descompensação da pressão intraocular. No entanto, o uso sistêmico de drogas anticolinérgicas, como atropina e escopolamina, é seguro e liberado para pacientes com glaucoma. Glaucoma agudo perioperatório é um evento raro e multifatorial, ainda pouco compreendido. Não há evidências sugerindo se está relacionado ao tipo de anestesia, à duração do procedimento, à quantidade de fluidos infundidos ou à pressão arterial sistêmica. 26 CONCLUSÃO Mudanças significativas ocorreram, nos últimos 20 anos, no campo da Oftalmologia e da Anestesiologia, aumentando a segurança dos procedimentos e reduzindo o tempo cirúrgico. O desenvolvimento de lentes intraoculares dobráveis permitiu realizar incisões menores sem necessidade de sutura e menor manipulação ocular. Esses avanços promoveram a aplicação de diversas técnicas anestésicas, com redução significativa da morbidade da anestesia oftalmológica, confirmada pela literatura atual. As complicações oftalmológicas em Anestesia são raras, mas potencialmente graves. O anestesiologista deve estar atento às possíveis complicações da anestesia regional orbital, pois o reconhecimento imediato das complicações oftalmológicas e sistêmicas pode evitar a deterioração da situação do paciente. Reafirma-se a necessidade de uma monitorização criteriosa dos pacientes submetidos à anestesia em procedimentos cirúrgicos oftalmológicos e a rápida disponibilidade de equipamento de suporte cardiovascular e respiratório com o qual são realizados esses procedimentos. As complicações oculares em cirurgias não oftalmológicas devem ser prontamente identificadas pela equipe médica para o correto manejo clínico, com a avaliação oftalmológica precoce. 27 REFERENCIAS 1. BERTRAND RHC, GARCIA JBS, OLIVEIRA, CMB et al. Anestesia tópica associada à sedação para facoemulsificação: experiência com 312 pacientes. Rev. Bras. Anestesiol. [online]. 2008, vol.58, n.1, pp. 23-34. ISSN 1806-907X. 2. BAYES, J; BASTA, S. J. Anesthesia for ophthalmic surgery. In: Longnecker DE, Newman MF, Brown DL et al. Anesthesiology. 2a ed. New York, McGraw-Hill, 2012; pp. 1206-1225. 3. CANGIANI, LM; NAKASHIMA, ER; GONÇALVES, TAM et al. Atlas de técnicas de Bloqueios Regionais. Rio de Janeiro. 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