AMETROPIAS

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AMETROPIAS
Prof. Paulo Ricardo P. de Oliveira
INTRODUÇÃO
A medida da acuidade visual representa para o oftalmologista o mesmo que os batimentos
cardíacos representam para o clínico geral, desde a presença ou ausência dos batimentos até as filigranas
de alterações mínimas do ritmo cardíaco. Determinar o quanto nosso paciente enxerga, desde a percepção
de luz até a melhor agudeza visual para longe e para perto com uma vasta gama de nuances qual sejam a
de sustentação de boa visão ao esforço visual prolongado com um máximo de conforto.
Os problemas visuais são inerentes à espécie humana, principalmente nos dias atuais, quando praticamente
toda a comunicação é feita através de imagens; qualquer diminuição da visão ou desconforto no local de
trabalho implica em complementar a medida da acuidade visual com um exame de refração. A refração está
tão intimamente ligada ao oftalmologista que ele é conhecido popularmente como “oculista”: aquele que
receita os óculos. Mesmo que o paciente seja portador de qualquer outra afecção ocular, a medida da
acuidade visual com determinação da refração e exame oftalmológico completo é imperativa. Muitas vezes
não importa ao paciente que o oftalmologista opere com habilidade uma catarata, estrabismos, glaucoma,
etc. Interessa que lhe sejam receitadas lentes que o permitam enxergar bem e executar confortavelmente
seus afazeres.
ALGUNS CONCEITOS DE ÓPTICA ASSOCIADOS AS AMETROPIAS
Para se obter a imagem de um objeto dirigimos o olhar em sua direção. Para que esse objeto seja
reconhecido é necessário que o olho esteja perfeitamente capacitado a focalizá-lo sobre a retina e, partir daí será
transmitida ao cérebro a imagem para o processamento necessário. No olho normal, as imagens que chegam à
retina deverão possuir uma nitidez absoluta. Elas se sucedem rapidamente e variam de distância; os raios de luz
que atravessam os meios transparentes do olho deverão, de uma forma ideal, estar capacitados a focalizarem-se
na retina que dista aproximadamente 23 milímetros da córnea. Nessa relação de distâncias é adicionada a
acomodação, que é um mecanismo pelo qual o olho pode variar seu poder de refração. Portanto, consideramos
como refração do globo ocular as alterações que seus meios transparentes determinam nos raios de luz que o
atravessam. Convém lembrar que quando um raio de luz atravessa de maneira perpendicular a interface entre
dois meios ele não se desvia. Entretanto se o raio de luz for oblíquo à interface, ocorrerá uma mudança na sua
direção e velocidade. O grau de refração é proporcional à densidade dos meios a serem atravessados e ao ângulo
formado entre a interface e o ponto de incidência dos raios luminosos.
O globo ocular sob o ponto de vista óptico é formado por superfícies e meios refringentes. As superfícies
são: a córnea (face anterior e posterior) e o cristalino (cápsulas anterior e posterior). Os meios refringentes são: o
aquoso e o vítreo. Na realidade, a refração se faz principalmente na superfície anterior da córnea devido não
somente a diferença de índices de refração entre o ar e a córnea, como também a sua curvatura (cerca de 5,65
milímetros ou 41 dioptrias). Um esquema do olho é muito útil para a compreensão da progressão do raio de luz
vindo do exterior até sua focalização na retina.
O aparelho dióptrico do olho funciona como uma lente convergente com poder suficiente para focalizar os raios
luminosos na retina. O olho pode ser comparado a uma lente convergente de 53 dioptrias, na qual a córnea
contribuiria com 41 dioptrias e o cristalino com aproximadamente 12 dioptrias.
Numa lente convexa, os raios que atravessam perpendicularmente o centro não sofrem refração.
Como nas bordas desse tipo de lente a superfície é cada vez mais inclinada e menos espessa, os raios que
atingem a periferia da lente se desviam progressivamente para o centro. Quando um feixe de luz atravessa
uma lente convexa, todos os raios de luz convergem para o mesmo ponto situado a uma determinada
distância da lente. Este ponto é denominado o foco. As lentes convexas podem ser interpretadas como
sendo prismas unidos pelas bases.
Numa lente côncava (interpretada como dois prismas unidos pelos ápices), os raios luminosos que a
atravessam também sofrem diferentes graus de refração. Os mais centrais não se desviam, mas na periferia, que vai
se tornando cada vez mais espessa e inclinada, os raios tornam-se proporcionalmente mais divergentes.
Quanto maior o desvio produzido por uma lente, tanto maior será seu poder de vergência, que é medida em
dioptrias (d). O poder de vergência de uma lente convexa é igual a um metro dividido pela sua distância focal. Por
exemplo, uma lente tem 1d quando é capaz de fazer convergir para um metro os raios de luz paralelos que sobre ela
incidem. Se ela desvia duas vezes mais, ou seja, focaliza a meio metro terá 2d. Para se localizar um ponto focal a 10
centímetros, será necessária uma lente de 10d. No caso das lentes côncavas, em que os raios de luz não convergem
para o mesmo ponto, a sua capacidade de focalização não pode ser expressa em distância focal. Esse tipo de lente é
avaliado comparado-se a sua capacidade de divergir em relação à convergência exibida por uma lente convexa
correspondente. Por exemplo, se uma lente convexa de +2d converge os raios luminosos para meio metro além dela,
a vergência resultante será zero ou nula se lhe for sobreposta uma lente côncava de -2d.
Os raios de luz paralelos que incidem sobre um olho normal atingem a retina formando um círculo
de menor confusão, pois todos os raios não são refratados uniformemente pelo centro e pela periferia do
aparelho dióptrico. Quando nosso olho está relaxado (zero de acomodação), o ponto mais distante que pode
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ser visualizado é chamado de ponto remoto. O Ponto remoto de um indivíduo emétrope (sem defeitos de
refração) é o infinito e o infinito está conjugado com sua retina. Se os raios de luz que incidem sobre o olho
não se focalizarem sobre a retina, mas antes ou depois dela, teremos as ametropias.
EMETROPIA, MIOPIA E HIPERMETROPIA.
O olho emétrope (normal) é aquele no qual os raios de luz paralelos são trazidos a um foco na
fóvea sem o uso da acomodação. O olho hipermétrope (“visão longa”) é menor que normal e não
converge o raio de luz a um foco na fóvea sem o uso da acomodação. O ato da acomodação ou a colocação
de uma lente convexa (positiva) diante do olho ajuda a convergir à luz para um ponto da fóvea. Um olho
míope (“visão curta”) é maior que o normal e tende a focalizar a luz em frente à fóvea. Uma lente côncava
(negativa) em frente ao olho ajuda a focalizar os raios de luz para a fóvea.
O tamanho do globo ocular é o fator que condiciona o foco e o olho cresce normalmente até os 25
anos. Portanto, é fácil compreender porque uma criança hipermétrope de 10 anos de idade se torna menos
hipermétrope ou até mesmo míope por volta dos 20 anos. Por outro lado, um indivíduo emétrope pode se
tornar míope ou um paciente míope pode se tornar mais míope com o passar dos anos.
Esse é um fenômeno normal do crescimento, influenciado por uma tendência hereditária para a
miopia. Isso explica também porque exercícios ou treinamento visual não têm influência alguma sobre a
condição resultante, principalmente no tamanho do órgão. Causas mais raras de miopia e hipermetropia,
devido a alterações nos meios de refringência (diabetes, hipertiroidismo, etc.) não serão tratadas aqui.
ACOMODAÇÃO
A acomodação é um mecanismo pelo qual o aparelho focalizador do olho se ajusta a objetos de
diferentes distâncias. A contração do músculo ciliar que é enervado por fibras parassimpáticos provoca um
aumento na curvatura do cristalino e dá, ao olho, um maior poder dióptrico. Assim, os raios divergentes de
luz vindos de pontos mais próximos que o infinito são focalizados na retina. Este mecanismo é puramente
reflexo e tão bem ajustado que as pessoas não têm consciência do processo. Como a contração do
músculo ciliar aumenta a curvatura do cristalino é ainda discutido. Young e Helmholtz acreditam que a
contração do músculo ciliar, principalmente em suas fibras circulares levava consigo os processos ciliares
relaxando a zônula e ocasionando a mudança de curvatura no cristalino. A zônula é uma lâmina de tecido
formada por inúmeras fibras que sustêm o cristalino em sua cápsula. O cristalino não é elástico, mas sua
cápsula é. Quando o cristalino é retirado do olho em sua cápsula ele parece mais esférico do que quando
está no olho no estado de não acomodação. Quando a zônula se relaxa, a cápsula elástica força o cristalino
assumir uma forma mais esférica e, conseqüentemente, sua superfície anterior se torna mais convexa. A
contração do músculo ciliar causa modificação no poder refringente do cristalino. A acomodação pode ser
medida desde a infância até cerca dos 45 ou 50 anos, período no qual progressivamente diminui.
ACUIDADE VISUAL
Alguns testes têm sido propostos para a determinação da acuidade visual, usando figuras de objetos
diferentes, círculos e sinais, letras e números. Snellen foi o primeiro a construir teste elaborado de tal forma
que a acuidade visual pudesse ser avaliada e expressa numericamente.
Muitas medidas de acuidade relativa têm sido propostas na tentativa de registrar o seu valor como uma
fração. Mas a maioria das medidas comumente usadas compara a acuidade do paciente com a média de um
indivíduo emétrope que é capaz de enxergar um objeto de 20 polegadas situado a 20 pés de distância. Esse
sistema, chamado 20/20, é o mais usado em países de língua inglesa (Inglaterra, Estados Unidos, Austrália, etc.).
No Brasil esse sistema corresponde ao 6/6, o que se baseia na equivalência do sistema métrico.
Os testes de Snellen para perto são construídos dentro dos mesmos moldes que para a distância.
Uma carta comum para perto é o teste de Jaeger. Este teste para a acuidade visual é fortemente
influenciado pela iluminação das cartas-teste. Certo aumento na acuidade é notado com o aumento da
iluminação.
ERROS DE REFRAÇÃO
Na ausência de doenças nervosas ou retinianas, de opacidades da córnea, cristalino e vítreo, e,
considerando que o globo ocular é de tamanho normal, o olho não acomodado irá receber e focalizar os
raios de luz em uma imagem nítida na fóvea. Esta condição é chamada emetropia (visão na medida
exata). Emetropia é melhor considerada como uma condição ideal já que todos os adultos têm algum grau
de erro de refração.
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Variações do estado emétrope, não devidas a opacidades ou doença, são denominados em conjunto com as
ametropias (“visão não na medida adequada”). As principais formas de ametropias são hipermetropia (“hiperopia
ou visão longa”), miopia (“visão curta”), astigmatismo (não em um ponto) e presbiopia (“vista cansada”). Variações
menos importantes são a anisometropia (diferença entre os erros de refração dos dois olhos) e aniseicônea
(diferença entre o tamanho das imagens percebidas entre os dois olhos).
SINAIS E SINTOMAS NÃO VISUAIS
Além dos distúrbios causados por erros de refração, um grande número de sintomas poderá ocorrer.
Esses sintomas são especialmente importantes no diagnóstico de erros de refração em crianças. Sinais e
sintomas como o piscar de olhos excessivo, o franzir da testa para enxergar ou para ler, esfregar os olhos, apertar
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os olhos entrefechá-los para visualizar objetos à distância, inclinar a cabeça, fotofobia, hiperemia e lacrimejamento.
Adultos poderão se queixar de “fadiga ocular” causada pelo esforço da acomodação. Dor de cabeça, tonturas e,
ocasionalmente, náuseas poderão ter sua origem em erros de refração.
HERANÇA DE ERROS DE REFRAÇÃO
Erros de refração de toda a espécie tendem a ser herdados, mas não de uma maneira
definitivamente previsível. Uma razão importante para isso é que o número de variáveis que influenciam a
refração é grande, tais como a curvatura da córnea, profundidade da câmara anterior, comprimento do olho
e forma do cristalino.
MIOPIA SIMPLES (VISÃO CURTA)
Na miopia simples, os raios de luz são trazidos a um foco em frente à retina. Assim, o ponto distante do
olho, que está no infinito na emetropia e na hipermetropia, está a uma distância finita a menos de 20 pés ou 6
metros, de acordo com o grau de miopia. Na miopia de uma dioptria, por exemplo, o ponto distante do foco nítido
está a um metro do olho, à medida que a miopia aumenta, o ponto distante se aproxima (razão inversa).
A miopia pode ser causada pelo globo ocular grande (miopia axial) ou por um aumento do poder de
refração dos meios refringentes (miopia refrativa). A maioria dos casos é axial. A hereditariedade tem um
papel importante na miopia. A miopia geralmente aumenta durante a adolescência e se estabiliza por volta
dos 25 anos, independentemente de fatores externos, tais como: excesso de leitura, iluminação, descanso,
vitaminas, equilíbrio endócrino, exercícios, etc.
ACHADOS CLÍNICOS
O sintoma mais evidente é a incapacidade de reconhecer objetos à distância, tais como quadro
negro, objetos no trânsito. Muitas crianças míopes, entretanto, nunca tendo experimentado a visão à
distância, não têm consciência do que está faltando e, geralmente, descobrem ser míopes através dos
testes de rotina na escola. O franzir dos olhos num esforço para enxergar é comum, já que a acuidade é
melhorada pela pequena abertura das pálpebras, semelhante ao orifício estenopéico. Isto dá um foco melhor
pela eliminação dos raios de luz periféricos que entram nos olhos, permitindo apenas aos raios de luz mais
axiais alcançar a retina e proporcionar uma imagem mais clara.
O franzimento às vezes, resulta em dor de cabeça por fadiga e irritação da pálpebra e é
freqüentemente associado à fotofobia. Crianças míopes podem se aproximar muito do material de leitura
para trazer o ponto focal distante mais para perto do que seria de se esperar em emétropes.
TRATAMENTO
Lentes côncavas (negativas) para divergir os raios luminosos, focalizando-os na retina. Tais lentes
vão proporcionar ao míope uma visão “normal” e não devem ser considerado um “apoio” que irá formar um
“hábito” e que por isso deverá ter seu uso descontinuado. Lentes corretoras não “fortalecem” nem
“enfraquecem” os olhos, mas permitem ao sistema visual ver mais claramente e mais confortavelmente.
CURSO E PROGNÓSTICO
A miopia tende a aumentar durante a adolescência e se estabilizar por volta dos 25 anos de idade.
Ao contrário do que se possa imaginar, o grau e o progresso da miopia não são afetados pelo uso dos
óculos e nem tampouco pelo desuso. Exercícios oculares também não surtem nenhum efeito uma vez que o
tamanho do globo ocular ou o poder refringente dos meios não pode ser alterado desta forma.
MIOPIA MALIGNA OU DEGENERATIVA
Como a miopia é freqüentemente progressiva, o termo “miopia progressiva” é falho para esta
condição especial, que pode ser mais corretamente denominada de miopia degenerativa, já que o
diagnóstico está baseado nas alterações da retina e de coróide ao exame oftalmoscópico. Miopia
degenerativa é muito menos comum que a miopia simples. Foi comprovada a maior incidência em mulheres
e em algumas raças e grupos étnicos; exemplos chineses, árabes e judeus. Essa condição é, sem dúvida,
geneticamente determinada, sendo geralmente recessiva. É mais comum no sul da Europa e nos Estados
Unidos. Têm sido descritos dois tipos: a miopia maligna congênita e a de desenvolvimento. A patologia é a
mesma em ambos os casos.
ACHADOS CLÍNICOS
As manifestações da miopia degenerativa são as mesmas que as da miopia simples, exceto que,
em virtude das alterações degenerativas serem mais graves, a acuidade visual não consegue ser devolvida
ao normal com o uso de lentes côncavas. As alterações podem não ter relação com o grau de miopia.
Desse modo, miopias de pequeno grau poderão apresentar alterações degenerativas marcantes, enquanto
que uma alta miopia de 6 a 20 dioptrias pode não apresentar alterações significativas. O diagnóstico é
sempre feito pelo exame oftalmológico.
AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E ACHADOS SERÃO OS SEGUINTES:
a) Alterações da papila óptica: um crescente temporal é visto oftalmoscópicamente onde a coróide se
afasta da borda da papila, deixando exposta à esclera branca. A borda nasal da papila pode estar
estirada, distorcendo o curso dos vasos.
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b) Alterações de coróide e retina: a coróide está adelgaçada e estirada, com áreas de atrofia e alterações
pigmentares.
c) Alterações na esclera: pode haver um estiramento e adelgaçamento na esclera formando o que se chama de
estafiloma. O local mais comum é o pólo posterior do olho.
d) Alterações no vítreo: degeneração fibrilar e deslocamento posterior do vítreo são comuns.
Fundamentalmente, deve-se ter em mente que, nessa condição ocorre um adelgaçamento
generalizado com atrofia das túnicas do olho.
TRATAMENTO
Lentes côncavas devem ser usadas enquanto a acuidade visual possa ser corrigida. As complicações,
como, por exemplo, os descolamentos de retina, devem ser tratados especificamente.
CURSO E PROGNÓSTICO
As alterações degenerativas podem afetar grandemente a função visual.
O adelgaçamento
e a atrofia da coróide são, quase sempre, acompanhados de perda da função retiniana, na área envolvida.
Alterações de mácula, hemorragias coróideas, descolamento de retina, opacidades degenerativas do vítreo,
e alguma incidência de glaucoma e catarata.
MIOPIA ADQUIRIDA
Alguns casos de miopia não poderão ser enquadrados nas categorias acima. Caso haja a história de
turvamento visual rápido, à distância, sem história prévia, algumas considerações devem ser feitas :
DIABETES MELLITUS
O diabetes mellitus não controlado tende a produzir erros de refração, miopia ou hipermetropia,
provavelmente como resultado de alteração dos fluidos dos tecidos, na substância do cristalino. O controle
do diabetes através dos meios médicos apropriados geralmente anula este estado.
CATARATA
Num estágio inicial da catarata podará haver alteração dos fluidos no interior do cristalino que modificarão seu
poder de refração, miopizando-o, mas sem afetar a sua transparência.
HIPERMETROPIA
A hipermetropia ou hiperopia ou “visão longa” caracteriza-se pelos raios de luz paralelos obterem seu foco,
atrás da retina, quando a acomodação está relaxada.
O resultado é uma visão não nítida a qualquer
distância. Um esforço acomodativo acima do normal traz a imagem para o foco. A hipermetropia pode ser causada
por encurtamento do globo ocular ou enfraquecimento do poder refringente da córnea e cristalino.
Hipermetropia fisiológica se apresenta em cerca de 80% das crianças ao nascimento. Isto é devido
ao pequeno tamanho do olho, parcialmente compensado pelo fato das crianças terem o cristalino mais
convexo do que os adultos. Cerca de 5% das crianças nascem míopes e cerca de 15% emétropes. Desde
os dois até os 25 anos há um decréscimo gradual da hipermetropia. A maioria das pessoas permanece
ligeiramente hipermétrope na vida adulta.
ACHADOS CLÍNICOS
Exceto em graus elevados de hipermetropia, a visão é normal para além de 20 pés (6 metros). Se o
esforço para a acomodação não for muito grande, a visão para perto pode também não estar diminuída
(hipermetropia latente). Se o esforço acomodativo for muito grande, algumas vezes o paciente se queixa de
tensão ocular que se manifesta através de dor de cabeça, dor nos olhos e náusea. Em casos de
hipermetropia elevada (alta hipermetropia) a visão pode ser mantida para longe, apenas através de um
grande esforço acomodativo e a visão para perto é turva mesmo após um esforço máximo. A hiperopia pode
ser confundida com miopia quando a criança segura um livro próximo aos olhos para obter uma imagem
maior, quando a letra impressa fica turva. Em crianças, os sintomas não visuais, como dor de cabeça e o
desinteresse pela leitura estão associados a graus de hipermetropia de alto a moderado.
A hipermetropia pode ser corrigida através da prescrição de lentes convexas, para aumentar o
ângulo de incidência dos raios de luz que entram na córnea e cristalino. A correção de hipermetropia, em
crianças, com graus baixos, sem sintomas e sem estrabismo, raramente é necessária.
CURSO E PROGNÓSTICO
A maioria das crianças com hipermetropia não necessita de lentes corretoras a menos que se apresente
esotropia (estrabismo convergente). Como a capacidade acomodativa cai após a quarta década de vida, uma
correção parcial pode ser necessária para a leitura. Bifocais ou dois pares de óculos são geralmente necessários
após os 45 anos.
ASTIGMATISMO
Astigmatismo é a visão distorcida causada por uma diferença entre o poder refringente nos diversos
meridianos do olho. O astigmatismo pode ser regular ou irregular. O Astigmatismo regular pode ser a favor
da regra ou contra a regra.
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A maioria dos casos é causada por uma irregularidade entre as superfícies da córnea, mas o
cristalino também pode causar astigmatismo (ex. na idade avançada, devido a alterações por catarata). A
hereditariedade também tem seu papel no astigmatismo, assim como na miopia e na hipermetropia.
No astigmatismo regular os poderes refringentes variáveis nos diferentes meridianos da córnea
podem ser reduzidos a dois meridianos principais, formando entre si um ângulo de 90 graus. No
astigmatismo a favor da regra, o mais comum, o meridiano mais curvo (com arco de menor raio) é o vertical.
No astigmatismo contra a regra, o meridiano mais curvo (com arco de menor raio) é o horizontal.
O astigmatismo irregular é devido a saliências desiguais na córnea ou cicatrizes que provocam uma
medida irregular e arcos de tamanho e formato irregulares, tornando a sua correção muito difícil e a visão do
paciente muito comprometida.
O astigmatismo pode ser ainda de natureza miópica ou astigmatismo miópico, quando as imagens
geradas por ambos meridianos da córnea formam-se em ambos planos anteriores e diversos à retina.
Classifica-se como astigmatismo hipermetrópico quando ambos as imagens formam-se atrás da retina,
mas em diferentes níveis ou planos.
No astigmatismo misto ou composto uma parte da imagem encontra seu foco em um plano anterior à
retina e outra parte da imagem encontra seu foco em plano posterior à retina.
ACHADOS CLÍNICOS
Em graus moderados de astigmatismo, poderão não haver sintomas, ou apenas astenopia com o
uso prolongado dos olhos. A pessoa com astigmatismo tenta conseguir uma imagem mais clara através de
uma rápida mudança de foco (acomodação) que tem como resultado, a fadiga. Com graus maiores de
astigmatismo, uma acuidade visual mais clara pode ser impossível a qualquer distância. O astigmatismo
poderá ser descoberto através de triagem na escola ou através da descoberta de alguma impossibilidade
visual junto aos colegas. A criança com astigmatismo tende a levar o material de escola mais próximo aos
olhos. Há também uma tendência a franzir os olhos, como na miopia, para obtenção de melhoria no foco.
TRATAMENTO
O erro de refração é tratado com uma lente cilíndrica, convexa ou côncava, orientada no meridiano adequado
(eixo) para a obtenção do efeito corretivo desejado. Graus pequenos de astigmatismo são fisiológicos e não
necessitam correção. Graus moderados de astigmatismo irregular devido a ceratocone ou astigmatismo corneanos
que não podem ser corrigidos com lentes comuns são freqüentemente beneficiados com o uso de lentes de contato,
as quais tendem a restabelecer a superfície regular da córnea, facilitando a visão.
CURSO E PROGNÓSTICO
A maioria dos erros de refração moderados é relativamente constante no decorrer da vida. O
astigmatismo irregular, devido a ceratocone, geralmente progride até um grau de não mais ser possível corrigi-lo.
Nesses casos, se faz necessário um transplante de córnea.
PRESBIOPIA
No nascimento, a substância do cristalino é mole e flexível e é facilmente alterada em sua forma pela ação
do músculo ciliar (acomodação). No decorrer da vida há um endurecimento gradual desta substância, começando
pelo núcleo que se torna mais resistente até que, por volta dos 40 anos, a média das pessoas com visão normal tem
dificuldade em focalizar objetos próximos para ler. Isto constitui a presbiopia e não um aumento na hipermetropia, pois
é dado pela baixa no poder de acomodação.
ACHADOS CLÍNICOS
Os sintomas ocorrem com os trabalhos de perto. Há o turvamento dos objetos próximos, o
desconforto, a fadiga com a tentativa de execução desses trabalhos. Pessoas com a visão normal podem se
queixar de um turvamento dos objetos distantes, por poucos minutos após fixá-los, devido a um retardo de
relaxamento de acomodação. Mais comumente, a pessoa nota que tem que afastar objetos para melhor vêlos.
TRATAMENTO
Feita a refração é prescrita uma lente que corrige o erro refrativo básico, complementado com uma
lente convexa adequada para a leitura (adição) que traz o ponto próximo dentro de um raio de visão
adequado às necessidades do indivíduo. Já que essa lente irá turvar a visão para longe, os pacientes
necessitarão de óculos bifocais, dois pares ou mesmo de multifocais para satisfazerem suas necessidades.
CURSO E PROGNÓSTICO
Em geral, aos 42 a 45 anos, costuma-se necessitar da primeira correção para perto. Essa primeira
correção supre a deficiência no poder acomodativo na época. Uma nova prescrição será necessária a cada
dois anos, aproximadamente. Como esse poder diminui subseqüentemente nos anos vindouros, várias
alterações no poder das adições de leitura podem ser necessárias até os 60 anos, período no qual os óculos
realizam a maior parte da mudança de foco requerida para o trabalho próximo.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CULLON, JR. R.D.. CHANG, B., FRIEDBERG, M. A., RAPUANO, C. J. (1999) The Wills Eye Manual of
Diagnosis and Treatment of Eye Disease - Office and Emergency Room. 3rd Edition, The
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KANSKI, J.J. (2000) Oftalmologia Clínica, 3a edição, Rio Med Livros Ltda, 521p.
PAVAN-LANGSTON, D. (1996) Manual of Ocular Diagnosis and Therapy. 4th edition, Little, Brown &
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VAUGHAN, D., ASBURY, T. & RIODAN, E.P. (1998) General Ophthalmology. 5th edition, Appleton and
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