PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde Departamento de Medicina Veterinária Curso de Medicina Veterinária em Betim Bruna Alves Tannure Viviane Roberta dos Santos SARCOMA DE APLICAÇÃO EM FELINOS Betim 2013 Bruna Alves Tannure Viviane Roberta dos Santos SARCOMA DE APLICAÇÃO EM FELINOS Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária em Betim da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Medicina Veterinária. Orientador: Alysson Rodrigo Lamounier Betim 2013 Bruna Alves Tannure Viviane Roberta dos Santos SARCOMA DE APLICAÇÃO EM FELINOS Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária em Betim da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Medicina Veterinária. __________________________________________ Alysson Rodrigo Lamounier – PUC Minas ____________________________________________ Bruno Divino Rocha – Centro Veterinário de Pequenos Animais ____________________________________________ Myrian Kátia Iser Teixeira - Clínica Veterinária Gato Leão Dourado Betim, 17 de junho de 2013 Dedicamos este trabalho a todos que torceram por nós, a nossos familiares e nossos queridos animais. RESUMO O sarcoma de aplicação felino (SAF) é grande desafio para o médico veterinário e proprietário do gato acometido. Qualquer tipo de aplicação subcutânea ou intramuscular, que produza inflamação localizada, provavelmente possui o potencial de causar o sarcoma em gatos susceptíveis ou geneticamente predispostos. Seu desenvolvimento pode ser imperceptível na fase inicial e posteriormente apresentar crescimento rápido. Tratando-se do paciente felino, deve-se considerar qualquer tumoração em local prévio de aplicação como tumor maligno, até que se prove ao contrário. A cirurgia é a opção mais adequada para o tratamento desses tumores, mas utilizada isoladamente não causará a cura na maioria dos gatos, sendo associada à terapia adjuvante como a radiação e/ou quimioterapia. O prognóstico depende de vários fatores, como localização do tumor, tamanho, recidiva ou metástases. Como medida profilática o médico veterinário deve optar por outras vias para administração de medicamentos e a real necessidade de vacinação, considerando o estilo de vida do gato. O objetivo do trabalho foi realizar uma revisão de literatura sobre o tema, pois essa doença ainda é muito desconhecida para muitos profissionais da área devido à baixa incidência. Palavras-chave: Gato, Neoplasia, Injeção, Terapêutica, Prognóstico. ABSTRACT The feline injection – site sarcoma (FIS) is big defiance for the veterinarian and cat owner affected. Any type of subcutaneous or intramuscular injection, producing localized inflammation probably has the potential to cause the development of sarcoma in cats susceptible or genetically predisposed. Its growth can be unnoticeable in the early stage and later present rapid growth. In the case of the feline patient, should be considered in any tumor site prior application as malignant until proven otherwise. Surgery is the most important component for the treatment of these tumors, but used alone will not cause the cure in most cats, being associated with adjuvant therapy such as radiation and / or chemotherapy. The prognosis depends on several factors such as tumor location, size, recurrence or metastasis. Prophylactic the veterinarian should opt for other means for drug administration and the real need for vaccination, considering the lifestyle of the cat. The objective was to review the literature on the theme, because this condition is still largely unknown to many professionals due to the low incidence. Keywords: Cat, Neoplasia, injection, Therapy, Prognostic. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS EGF Fator de Crescimento Epidermal FeSV Vírus do Sarcoma Felino FeLV Vírus da Leucemia Felina FGF-β Fator de Crescimento de Fibroblastos FIV Vírus da Imunodeficiência Felina PDFG Fator de Crescimento Derivado de Plaquetas SAF Sarcoma de Aplicação Felino TCF-β Fator de Crescimento Transformador Beta TGF-α Fator de Crescimento Transformador alfa VAFSTF Vaccine-Associated Feline Sarcoma Task Force SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO................................................................................................................ 9 2 METODOLOGIA............................................................................................................. 10 3 REVISÃO DA LITERATURA....................................................................................... 10 3.1 Definição......................................................................................................................... 10 3.2 Epidemiologia................................................................................................................. 11 3.3 Etiopatogenia.................................................................................................................. 12 3.4 Sinais clínicos.................................................................................................................. 15 3.5 Diagnóstico...................................................................................................................... 16 3.6 Tratamento..................................................................................................................... 17 3.7 Prognóstico...................................................................................................................... 21 3.8 Prevenção........................................................................................................................ 21 4 CONCLUSÃO................................................................................................................... 22 REFERÊNCIAS.................................................................................................................. 23 ANEXO Artigo: Sarcoma de aplicação em felinos – Revisão de literatura 8 1 INTRODUÇÃO O sarcoma de aplicação felino (SAF) é grande desafio para o médico veterinário e para o proprietário do gato acometido. É uma neoplasia maligna de fibroblastos que pertence ao grupo dos sarcomas de partes moles, que correspondem a 7% de todos os tumores em pele e tecido subcutâneo que acomete os gatos (CHALITA, p. 215). Qualquer tipo de aplicação subcutânea ou intramuscular, que produza inflamação localizada, pode ter o potencial de propiciar o desenvolvimento de sarcoma em gatos susceptíveis ou geneticamente predispostos. A incidência não é conhecida com precisão, ocorrendo em igual incidência tanto em machos como em fêmeas e não há predisposição racial (CHALITA, p. 215; CARNEIRO, 2008; DALY, 2008; MORSCHBACHER, 2011; DANTAS, 2007; BURTON, 1997; MONTANHA, 2013; AMORIM, 2007; HENDRICK, 2001). Segundo Kirpensteijn (2006) existem três razões para estudar o papel das aplicações na indução desse tipo de neoplasia: primeiramente, algumas aplicações parecem causar uma reação inflamatória local considerável; segundo, os sarcomas de aplicação são um grupo distinto histopatologicamente dos sarcomatas que ocorrem com maior frequência do que os sarcomas de não aplicação; e, por último, a localização desses sarcomas é muito sugestiva de que esses provenham de uma aplicação. A patogenia exata ainda não foi elucidada, mas parece envolver a estimulação de fibroblastos e miofibroblastos, resultando em inflamação, que associada ou não a outros carcinógenos não identificados ou oncogenes, levam á transformação neoplásica e ao desenvolvimento do tumor (KIRPENSTEIJN, 2006; DANTAS, 2007; CARNEIRO, 2008; MORRISON, 2001). Estas neoplasias apresentam-se clinicamente como formações solitárias com moderada a acentuada invasão local, sendo os linfonodos regionais raramente comprometidos. Estudos recentes mostram que a recorrência local muitas vezes parece ser o problema mais difícil a resolver do que as metástases (KIRPENSTEIJN, 2006; DANTAS, 2007; CARNEIRO, 2008; MONTANHA, 2013; CHALITA, p. 216). A análise histológica e a localização da lesão são importantes para o prognóstico, sendo fundamentais para diferenciação de outras respostas inflamatórias, como, por exemplo, o granuloma vacinal (AMORIM, 2007; CARNEIRO, 2008). 9 A intervenção cirúrgica agressiva representa o tratamento de eleição para os sarcomas. Assim sendo, uma primeira excisão radical do tumor torna-se essencial. Porém mesmo quando a cirurgia é agressiva e possui ampla margem de segurança, há a possibilidade de recidiva que geralmente ocorre, em média, seis meses após a cirurgia. O prognóstico do SAF é de reservado a ruim, variando de acordo com fatores como a localização, tamanho, recidiva e metástase (CHALITA, p. 219; GRILO, 2007; AMORIM, 2007; CARNEIRO, 2008). A profilaxia pode ser feita através da avaliação do risco versus benefício sobre qualquer medicação injetável e todos os tipos de vacinas para felinos, evitando-se também várias aplicações em um mesmo local devendo estes ser cuidadosamente considerados (MONTANHA, 2013). 2 METODOLOGIA O tipo de pesquisa utilizado neste estudo foi a revisão de literatura - porque desejamos realizar uma investigação sobre o conteúdo da bibliografia publicada para aprofundamento das bases teóricas que fundamentam este tipo de estudo. Esta revisão envolveu textos publicados em todo o mundo, no período dos vinte (20) últimos anos. A população e a amostra: A população envolvida no presente estudo, foi constituída por autores cujas publicações foram dedicadas à comunicação de estudos científicos sobre o tema em questão, isto é, sarcoma de aplicação em felinos. A amostra arbitrada fica constituída pelos autores que publicaram livros, artigos, notas prévias e outros tipos de publicações científicas sobre o assunto - sarcoma de aplicação em felinos - nos últimos vinte (20) anos. 3 REVISÃO DE LITERATURA 3.1- Definição Os sarcomas de tecidos moles, dentre os quais se inclui o sarcoma de aplicação em felinos, encontram em um grupo de neoplasias que podem se desenvolver em uma grande variedade de tecidos como: (gordura, músculo, tecido fibroso, vasos e nervos), sendo definidos como proliferações mesênquimais originárias do tecido extra-esquelético e não 10 epitelial, além de excluir aqueles em vísceras, cérebro e sistema linforeticular (CHALITA, p. 215; AMORIM, 2007; MORSCHBACHER, 2011; MONTANHA, 2013). O SAF é uma neoplasia maligna de fibroblastos e é caracterizado clinicamente pelo aparecimento de um nódulo solitário firme ou massa difusa, aderido a planos profundos e em região onde foi previamente administrada vacina ou fármaco (CHALITA, p. 215; CARNEIRO, 2008; GRILO, 2007). A maioria dos sarcomas são categorizados como fibrossarcoma, porém podem ser encontrados o rabdomiossarcoma, o mixossarcoma, o sarcoma indiferenciado, condrossarcoma e o fibrohistiocitoma maligno (KIRPENSTEIJN, 2006; CARNEIRO, 2008; GUMBER, 2011, MORRISON, 2001). 3.2- Epidemiologia Os sarcomas de partes moles correspondem a 7% de todos os tumores em pele e tecido subcutâneo que acometem os gatos, destes o fibrossarcoma, uma neoplasia maligna de fibroblastos, é o tipo histológico mais frequente, que correspondendo a 36% dos tumores nessa espécie. Animais que apresentam idade próxima aos oito anos são mais acometidos por fibrossarcomas solitários, mas hoje sabemos que esta neoplasia pode ocorrer em qualquer idade, geralmente são firmes de crescimento lento, que podem ocorrer em qualquer parte do corpo, e não estão associados ao vírus do sarcoma felino (FeSV). A infecção pelo FeSV caracteriza-se pelo desenvolvimento de uma forma agressiva de fibrossarcoma múltiplo, em gatos abaixo de cinco anos de idade, obrigatoriamente infectados pelo vírus da leucemia felina (FeLV) (CHALITA, p. 215; GRILO, 2007; CARNEIRO, 2008; DALY, 2008 ). A incidência do SAF em felinos não é conhecida com precisão, apesar de se ter uma estimativa de um a três casos para cada 10.000 gatos vacinados. A baixa prevalência dessa neoplasia em relação à quantidade de vacinas administradas sugere fatores inerentes a cada animal. Embora a aplicação das vacinas anti-rábicas e contra a leucemia felina (FeLV) sejam as mais implicadas no aparecimento do tumor, existem relatos da ocorrência desse tipo de neoplasia após a aplicação de fármacos, tais como: antibióticos, insulina, dexametasona, lufenuron, terapia de fluidos, assim como implantação de microchips e reutilização de seringas (AMORIM, 2007; DALY, 2008; HAUCK, 2003; MONTANHA, 2013; CARNEIRO, 2008; MORRISON, 2001; MORSCHBACHER, 2011). 11 Em relação ao período de tempo do aparecimento dos tumores e ao número de doses de vacinas aplicadas, foi mostrado em um estudo retrospectivo que o risco do gato desenvolver sarcoma pós-vacinal após a administração de apenas uma dose de vacina na região cervical ou interescapular foi de 50%, comparando a animal não vacinado nessa região. O risco para os gatos vacinados duas vezes foi 127% maior, enquanto que três ou mais vacinações resultaram em aumento no risco de 175%. O período de latência de desenvolvimento do sarcoma de aplicação varia de três meses a três anos. (CARNEIRO, 2008; DANTAS, 2007; MORRISON, 2001; KIRPENSTEIJN, 2006). Os sarcomas de aplicação ocorrem em igual incidência tanto em machos como em fêmeas e não há predisposição racial evidente (CHALITA, p. 215; MORSCHBACHER, 2011; DANTAS, 2007; BURTON, 1997; MONTANHA, 2013; AMORIM, 2007; HENDRICK, 2001; CARNEIRO, 2008; DALY, 2008 ). Os sarcomas de aplicação ocorrem mais comumente no subcutâneo, podendo se estender para a musculatura, acometem qualquer parte do corpo, sendo os locais mais comumente afetados os membros, a região cefálica e a região cutânea torácica, enquanto os sarcomas de não-aplicação ocorrem com maior frequência na derme. A taxa de metástase é de aproximadamente 22,5%, embora estudos recentes mostrem que a recorrência local muitas vezes parece ser o problema mais difícil a resolver que as metástases com uma taxa de 60%, e 86% delas ocorrem em menos de seis meses após a excisão do tumor primário. Porém a detecção precoce e remoção cirúrgica radical do tumor têm prolongado o intervalo livre da doença e reduzido à taxa de recidiva (KIRPENSTEIJN, 2006; CARNEIRO, 2008; GUMBER, 2011, MORRISON, 2001; HAUCK, 2003; CHALITA p. 215-216). 3.3- Etiopatogenia O fibrossarcoma no local de aplicação em gatos desenvolve-se após a aplicação freqüente de substâncias injetáveis, geralmente no mesmo sítio de injeção. As razões específicas para a gênese neoplásica em locais de aplicação ainda não foram elucidadas. O SAF é normalmente caracterizado por infiltrado inflamatório com predominância de linfócitos e macrófagos em torno da lesão, e o seu desenvolvimento pode ser precedido por uma resposta inflamatória exacerbada no local da administração. A teoria mais aceita é de que a inflamação crônica causada por um incidente traumático, como uma injeção ou vacinação, pode levar a formação de tumor local, em animais geneticamente predispostos. Isto se deve ao 12 fato de serem encontradas na avaliação histológica algumas zonas de transição de granuloma inflamatório para sarcoma, sugerindo que a resposta inflamatória a antígenos antecede o desenvolvimento de sarcomas em gatos. Não se sabe ainda quais são os gatos com genética para a doença, pois, essas alterações cromossômicas ainda não foram localizadas, necessitando de mais estudos. Esses tumores se caracterizam por pleomorfismo, alta taxa mitótica e área central necrótica. (DANTAS, 2007; CARNEIRO, 2008; MORRISON, 2001; KIPERNSTEIJN, 2006; MONTANHA, 2013; CHALITA, p.216). Sabe-se que existe uma correlação entre a aplicação de vacinas e o desenvolvimento de sarcomas, pois a distribuição desses tumores coincide com os locais comumente utilizados para vacinação, especificamente nas regiões cervical, interescapular e terço médio femoral caudal de membros pélvicos. As vacinas que tiveram maior relação causal com o desenvolvimento subsequente de tumor foram de quatro tipos: tríplice felina (rinotraqueíte, calicivirose e panleucopenia), quádrupla felina (tríplice + clamidiose) vacina contra leucemia felina (FeLV) e anti-rábica. Dentre estas vacinas a que foi fortemente associada com o surgimento de sarcoma em felinos foi a da leucemia felina (FeLV) em primeiro lugar, seguida da anti-rábica (HENDRICK, 2001; CARNEIRO, 2008; GUMBER, 2011; MORRISON, 2001; MORSCHBACHER, 2011; CHALITA, p. 215). Atualmente existem algumas teorias sobre o surgimento do SAF. Como a composição do adjuvante das vacinas (alumínio), e envolvimento da deposição de altas concentrações de antígeno no tecido subcutâneo. O adjuvante, outros componentes da vacina, ou um fármaco, como dexametasona, penicilina e lufenuron, pode causar uma resposta inflamatória local exacerbada, persistente, que perdura por mais de um mês, resultando em proliferações de fibroblastos e miofibroblastos, que podem sofrer alterações neoplásicas. Entretanto, outros tipos de lesão inflamatória também podem desenvolver sarcoma, como: trauma ocular ou uveíte crônica, traumatismos locais constantes por fio cirúrgico não absorvível, bem como implantes metálicos (MORSCHBACHER, 2011; CHALITA, p. 215-216; OCHÔA, 2008; CARNEIRO, 2008; HENDRICK, 2001). A temperatura das vacinas parece estar significavelmente associada à formação de tumores. A temperatura mais baixa foi correlacionada com maior risco. Alguns pesquisadores acreditam que a presença do alumínio pode ser apenas uma marca de vacinação prévia e que outros componentes podem estar induzindo a inflamação ou um aumento da resposta inflamatória. O conhecimento dos adjuvantes é uma informação confidencial do produtor, 13 portanto não se sabe quais outros ingredientes podem predispor à reação inflamatória (CHALITA p. 216; KIPERNSTEIJN, 2006; HAUCK, 2003; CARNEIRO, 2008). A maioria dos sarcomas em locais de injeção contém fibroblastos e miofibroblastos. Esses dois tipos celulares estão envolvidos com a resposta cicatricial que ocorre após as inflamações crônicas. Pode ocorrer reação inflamatória exacerbada. Uma reação inflamatória exacerbada gera proliferação descontrolada de fibroblastos e miofibroblastos, de caráter maligno. Acredita-se que quando essas células ou suas precursoras são estimuladas antigenicamente ou através do adjuvante vacinal, elas sofrem alterações e, em associação a carcinógenos ou oncogenes, se transformam em células malignas e há o desenvolvimento do sarcoma (AMORIM, 2007; MONTANHA 2013; CHALITA, p.216; NIETO, 2003; HAUCK, 2003; HENDRICK, 2001; GRILO, 2007). Miofibroblastos ativados pelo tumor formam uma cápsula que envolve os nódulos tumorais, prevenindo a penetração mecânica de linfócitos T e macrófagos, o que explica a presença destes agregados na periferia do tumor (CARNEIRO, 2008). De acordo com Ochôa (2009) as citocinas e os radicais livres oxidantes liberados pelas células inflamatórias, a alteração dos fatores de crescimento e de seus receptores, o FeSV, a ativação de oncogenes, as mutações dos genes supressores tumorais e dos genes envolvidos na apoptose interrelacionados com as características genéticas do gato produzirão efeitos mitogenéticos e perda da homeostasia celular, aumentando a possibilidade de transformação neoplásica de células tão lábeis e heterogêneas como os miofibroblastos e fibroblastos. Existem evidências de que alguns fatores como: fator de crescimento de fibroblastos (FGF-b), fator de crescimento transformador–alfa (TGF-alfa) e fator de crescimento derivado de plaquetas, participem do processo de desenvolvimento tumoral (AMORIM, 2007; GRILO, 2007; MARTINS, 2008; CARNEIRO, 2008; KIPERNSTEIJN, 2006; HAUCK, 2003). Identificou-se, por imuno-histoquímica, grande quantidade de receptores para fatores de crescimento em sarcoma de aplicação, como: o fator de crescimento derivado de plaquetas (PDFG), o fator de crescimento epidermal (EGF) e o fator de crescimento transformador – beta (TCF-beta). Isso não foi observado ou obteve-se resposta fraca em sarcomas não relacionados à aplicação (HAUCK, 2003; CARNEIRO, 2008; HENDRICK, 2001; NIETO, 2003). Alguns estudos apontam a mutação no gene p53 como uma das vias para o surgimento do sarcoma de aplicação e as diferentes formas com que alguns gatos respondem ao estímulo inflamatório. O funcionamento do gene p53 previne a proliferação de células cancerígenas, 14 regulando a expressão de genes e promovendo apoptose em células defeituosas. Alterações ou mutações desse gene são importantes na gênese tumoral. Quando o gene p53 está ausente ou mutado, as células são capazes de prosseguir com o DNA danificado, através do ciclo celular, o que pode levar a doenças malignas. Segundo Carneiro (2008) algumas pesquisas demonstraram que em tecido tumoral foram encontrados níveis mais elevados de p53 mutado. O papel que essa mutação desempenha, ainda é mal compreendido, mas um estudo revelou que gatos com expressão citoplasmática de p53 tinham um menor tempo de recidiva do que os gatos com expressão nuclear de p53. Existe um potencial para que o gene p53 seja utilizado como indicador de prognóstico (HENDRICK, 2001; MORSCHBACHER, 2011; NAMBIAR, 2001; BANERJI, 2007; KIPERNSTEIJN, 2006; SÉGUIN, 2002; CARNEIRO, 2008). Pesquisas ainda estão sendo realizadas para elucidar a etiologia do sarcoma de locais de injeção felino. Em 1996, foi formada nos Estados Unidos a VAFSTF (Vaccine-Associated Feline Sarcoma Task Force). A VAFSTF financiou projetos de pesquisa sobre a epidemiologia, etiopatogênese, tratamento e prevenção da doença, além de promover a educação de veterinários e proprietários de gatos, divulgar as recomendações sobre os protocolos de vacinação atuais e orientar sobre como proceder quando houver a presença de um granuloma inflamatório pós-vacinal. Dentre suas conclusões, destaca-se que existem poucos estudos científicos suficientes para estabelecer uma relação de causa e efeito entre a administração de vacinas e a formação de sarcomas em gatos (AMORIM, 2007). 3.4- Sinais Clínicos A presença de uma massa em um local comumente utilizado para injeções subcutâneas e intramusculares deve alertar o clínico para a possibilidade de ocorrer o SAF, que deve ser considerada quando uma massa de qualquer tamanho persistir no sítio de aplicação por mais de três meses; quando for maior que dois centímetros, independente do tempo decorrido em relação à aplicação; ou quando ela aumentar de tamanho um mês após a aplicação. Quase a metade dos gatos acometidos possui tumores maiores do que quatro centímetros, protuberantes, palpáveis e com consistência de semifirme a firme, com uma forma solitária ou difusa, podendo apresentar dor ou não (CARNEIRO, 2008; AMORIM, 2007; FERNANDES, 2009). Normalmente ocorre no membro pélvico, flanco, tórax, 15 dorsolateral, região intraescapular, escápula, face lateral de membros pélvicos ou das coxas (MONTANHA, 2013). Seu crescimento pode ser imperceptível na fase inicial e posteriormente apresentar crescimento rápido, seguindo de ulceração e infecção bacteriana secundária. No inicio não há sinais sistêmicos, à medida que a doença avança, os sinais inespecíficos vão surgindo, como depressão e inapetência. O paciente pode apresentar sintomas graves em caso de metástases (CHALITA, p.217). 3.5- Diagnóstico No diagnóstico da doença, é imprescindível considerar o histórico, os sintomas, o exame físico e os exames complementares. Recomenda-se anotar sempre na ficha clínica do paciente o local onde foram feitas manipulações de vacinas ou de outros medicamentos e, no caso de surgimento de qualquer tumoração, descrever o local, a forma, o tamanho e o tempo transcorrido após a última aplicação. Tratando-se do paciente felino, deve-se considerar qualquer tumoração em local prévio de aplicação como tumor maligno, até que se prove ao contrário. O diagnóstico definitivo é dado pela biópsia e pelo exame histopatológico (DANTAS, 2007; MONTANHA, 2013; TAVARES, 2007). A biópsia incisional é o método mais recomendado para o diagnóstico definitivo, pois diferencia o sarcoma de um granuloma vacinal. É recomendado não excisar a massa antes da biópsia, pois é provável que ocorra recidiva local e ela se torne cada vez mais agressiva com as tentativas subsequentes de excisão. O ideal é que a amostra inclua três a cinco lugares diferentes da massa tumoral para que haja material suficiente e um diagnóstico acurado. Diferente da biópsia incisional, a biópsia excisional é indicada para neoplasias pequenas, mas é contra indicada neste tipo de sarcoma, pois se o tumor não for completamente removido, a chance de recorrência local é grande e diminui o tempo livre da doença e o tempo de sobrevivência. Entretanto, a avaliação do tamanho do tumor é importante, pois se no caso seja pequeno, a cirurgia imediata é mais prática. (AMORIM, 2007; AXIAK, 2012; GRACE, p.315). O exame histopatológico deverá identificar o tipo de sarcoma, avaliar o grau de malignidade, a presença ou não de invasão hemolinfática e invasão tecidual, além da adequação das margens cirúrgicas. Segundo Carneiro (2008), o SAF possui características únicas quando comparado ao sarcoma de não aplicação. A maioria é representada pelo acentuado pleomorfismo celular e nuclear, alta atividade mitótica, grandes áreas de necrose, 16 denotando seu comportamento agressivo. Há geralmente infiltrado inflamatório periférico representado por linfócitos e macrófagos. Na avaliação histológica, há mais necrose, inflamação, tecido de granulação, invasão, pleomorfismo acentuado, presença de osteóide, condróide, substância mixóide, maior desorganização das células mesenquimais e da matriz. Os macrófagos geralmente possuem material azulado no interior, identificado como alumínio e oxigênio (CHALITA, p.218; GUMBER, 2011; MORSCHBACHER, 2011; VASCELLARI, 2003). A imunohistoquímica demonstra a origem mesenquimal, com vimentina positivos, além da marcação para fibra muscular (actina músculo-específica e actina músculo liso), revelando uma origem miofibroblástica. A origem do miofbroblasto é desconhecida, mas parece ser fase de transição do fibroblasto em macrófago, que ocorre durante o processo de cicatrização (CHALITA, p.218; VASCELLARI, 2003). A citologia auxilia a distinguir se um determinado processo possui natureza neoplásica ou inflamatória. Sugere que se trata de um sarcoma, mas não identifica o tipo e sua histogênese (GRILO, 2007). Segundo Axiak (2012) a punção aspirativa por agulha fina, citologia e biópsia Tru-Cut não são recomendadas para suspeita de sarcoma, por causa da intensa inflamação encontrada neste tipo de tumor, levando ao resultado falso negativo. Na área afetada deve ser feito radiografia e ultrassonografia para identificar lise óssea e a extensão do tumor ao longo dos planos teciduais. Deve-se usar radiografia no tórax e ultrassonografia no abdomen, para evidência de metástases. A tomografia computadorizada ou a ressonância magnética são métodos que podem fornecer o tamanho, a localização, relação com o grupo muscular e delineá-lo em relação ao osso e ao feixe vasculonervoso principal e outros tecidos, auxiliando no planejamento cirúrgico e possível tratamento (MONTANHA, 2013; MORSCHBACHER, 2011; TAVARES, 2007). Para avaliar o estado geral de saúde do paciente suspeito deve incluir os exames de hemograma, bioquímica completa, urinálise e teste para detecção do vírus da imunodeficiência felina (FIV) e para leucemia felina (FeLV). Apesar desses vírus não estarem associados ao desenvolvimento do tumor, o curso da doença pode ser alterado devido ao comprometimento do sistema imunológico (MORSCHBACHER, 2011). 3.6- Tratamento A avaliação geral da saúde do paciente é essencial antes de planejar o tratamento. Os SAFs são tumores difíceis de serem tratados e ainda há vários estudos em busca de um 17 protocolo ideal e efetivo, sendo o melhor tratamento a intervenção cirúrgica, a qual poderá ou não utilizar uma terapia adjuvante, como a radiação e/ou quimioterapia (MORRISON, 2001; MORRISON, 2005) A excisão cirúrgica é a opção mais apropriada para o tratamento destes tumores, mas usada isoladamente, não levará a cura na maioria dos gatos. Devido à extrema infiltração e invasão de tecidos adjacentes, é necessário que seja feita uma ressecção ampla e profunda, removendo-se no mínimo três centímetros de margem de segurança ao redor da massa tumoral, incluindo o plano abaixo do tumor. Em seres humanos e animais maiores, uma excisão radical ou em bloco é geralmente possível, enquanto em gato isto não ocorre, exceto aqueles tumores localizados na porção distal dos membros ou em extremidades que podem ser amputadas. Quando possível qualquer osso na área do tumor também deve ser removido, como exemplo, borda escapular dorsal e processos espinhosos dorsais (CARNEIRO, 2008; GRACE, p. 316; MOORE, 2004; SÉGUIN, 2002). De acordo com Séguin (2002) uma estimativa de aproximadamente 45% dos gatos com tumores localizados nos membros tratados com a amputação foram considerados curados, enquanto que menos de 10% dos gatos tratados com cirurgia de excisão ampla ou marginal foram considerados curados. Alguns autores consideram a simples retirada cirúrgica raramente curativa, mesmo quando agressiva. As recidivas locais ocorrem em 30% a 60% dos casos, podendo ocorrer apenas duas semanas após o ato cirúrgico, mas geralmente levam seis meses aproximadamente para reincidir. Em vista disso, outros tratamentos, como a radioterapia e quimioterapia são associadas ao pré ou pós operatório (CARNEIRO, 2008; CHALITA, p. 220; HAMPEL, 2007). O tratamento do tumor primário dependerá principalmente do seu tamanho, sendo que os tumores pequenos e médios (dois a quatro centímetros) apresentam maior probabilidade de cura. Os tumores grandes não são removíveis com segurança necessária para a certeza de que um único procedimento cirúrgico será suficiente (CHALITA, p. 220; DANTAS, 2007). Segundo Morrison (2005), com uma excisão radical, o tempo médio para a primeira recidiva foi de 325 dias, enquanto a excisão marginal foi de 79 dias. Uma nova técnica foi reportada usando o músculo longíssimo dorsal para reconstruir defeitos musculares causados pela cirurgia excisional. Esta técnica permite tentar assegurar margens cirúrgicas limpas e, ao mesmo tempo, resultado estético (MORRISON, 2005). 18 A radioterapia pode ajudar a controlar o crescimento do tumor, para não se estender além da massa e para os tecidos adjacentes. Contudo, usada isolada não cura, devendo ser associada com uma cirurgia agressiva. Se a radiação for prevista, um oncologista de radioterapia deve ser consultado para guiar sobre a marcação do leito cirúrgico e para identificação posterior. A radioterapia antes ou depois da remoção cirúrgica tem trazido bons resultados no controle do tumor, conforto do paciente e aumentando o intervalo de reicidivas, embora a cura nem sempre aconteça. A radioterapia, caso seja pós cirúrgica, deve ser iniciada de duas a quatro semanas após a remoção do tumor (DANTAS, 2007; GRACE, p. 316; ECKSTEIN, 2009; HAHN, 2007; HENDRICK, 2001). Estudos indicaram que o tempo médio de sobrevivência de gatos tratados com radioterapia antes da cirurgia foi de 600 dias, enquanto os gatos tratados com radioterapia após a cirurgia foi de 730 dias. O tempo de sobrevivência é calculado pelo intervalo do início da radioterapia até a morte ou últimos dados do paciente ainda vivo. Mas a combinação de radioterapia com cirurgia agressiva ainda falha em muitos pacientes. Por esta razão, pelos altos custos e pelo tempo do tratamento, muitos donos não aceitam este método de tratamento (ECKSTEIN, 2009; HAHN, 2007). A quimioterapia isoladamente também não deve ser considerada definitiva. No entanto, quando usada antes da cirurgia, pode reduzir o tamanho do tumor e facilitar a ressecção cirúrgica, em casos de sarcoma de alto grau histológico de malignidade, com o intuito de evitar que possíveis metástases e recidivas aconteça. Esta ferramenta terapêutica pode ser benéfica para tumores incompletamente excisados, recidivantes ou para aqueles com doença metastática. Para tumores não operáveis, a quimioterapia oferece efeito paliativo e aumenta o conforto do paciente (CARNEIRO, 2008; FERNANDES, 2009; GRACE, p. 316; MORSCHBACHER, 2011). A utilização de diversos tipos de protocolos quimioterápicos resultou em resposta parcial e, em alguns casos, remissão total do tumor, embora este fenômeno seja pouco frequente. Os sarcomas são considerados poucos responsivos a quimioterapia, mas há alguns medicamentos que têm mostrado atividade benéfica, como doxorrubicina, mitoxantrona, carboplatina e ciclofosfamida. A droga mais usada é a doxorrubicina isolada ou associada com ciclofosfamida (CARNEIRO, 2008; GRILO, 2007; MACY, 2001; MACY, 1999; MORRISON, 2001; MORSCHBACHER, 2011; SÉGUIN, 2002). Segundo Grilo (2008) o protocolo que resulta em algumas remissões, são combinações de doxorrubicina na dosagem de 1mg/kg, por via intravenosa, a cada 21 dias e 19 ciclosfamida na dosagem de 200 a 300mg/m², por via oral, no 10° dia do início do tratamento; ou o uso de agente único, a carboplatina na dosagem de 250 mg/m² por via intravenosa, a cada três ou quatro semanas. Ambos tratamentos possuem quatro ciclos (LEONARDOS, 2006). Relativamente aos efeitos adversos dos quimioterápicos, a utilização da doxorrubicina em gatos tem sido associada a lesão renal, mielossupressão, anorexia e perda de peso. Com a utilização de carboplatina, descrevem-se sinais gastrointestinais (anorexia e vômito), toxicidade hematológica (neutropenia e anemia), perda das vibrissas e toxicidade renal. Os gatos são relativamente resistentes ao desenvolvimento de cardiopatia induzida por doxorrubicina. No Brasil, a quimioterapia pode e deve ser indicada, pois a radioterapia ainda não é viável para todos. (ANJOS, 2009; CARNEIRO, 2008; FERNANDES; 2009). O uso de imunoestimulantes tem grande importância por causa do aparente desenvolvimento de mediadores inflamatórios na sua patogênese (GRILO, 2007). A Imunoterapia tumoral baseia-se na especificidade do sistema imunitário para o tratamento da neoplasia e recorre à utilização de proteínas ativadas biologicamente, com o objetivo de alterar as respostas imunes específicas e não específicas do paciente. O sistema imune é capaz, sob certas circunstâncias, de reconhecer e eliminar células tumorais (HAMPEL, 2007). O imunoestimulante mais conhecido é o Acemannan, extrato da planta Aloe Vera, que promove a libertação, pelos macrófagos, de interleucina-1, interleucina-6, factor de necrose tumoral-α e interferon-γ. Embora esteja comercialmente disponível, seus efeitos terapêuticos têm sido inconsistentes, sendo necessário estudos adicionais (FERNANDES, 2009; GRILO, 2007). Apesar de promissores resultados, a imunoterapia ainda não é utilizada na rotina do tratamento do sarcoma de aplicação no Brasil e no mundo. Isso se deve ao baixo interesse comercial e o custo da técnica (CARNEIRO, 2008). O tratamento de suporte deve incluir analgesia apropriada (fentanil 2,5mg/kg a cada 72 horas, ou opióides), suporte nutricional e, se necessário, uma terapêutica antiemética (cloridrato de metoclopramida 1-2mg/ kg a cada 8 horas). Os antiinflamatórios não esteróidais diminuem a reação inflamatória no tecido tumoral e também podem inibir o crescimento do tumor, sendo indicado o piroxicam, na dosagem de 1-2mg/kg, por via oral, a cada 48 horas. A fluidoterapia melhora a integridade vascular periférica prejudicada pelos tratamentos de quimioterapia e das anestesias múltiplas usadas em radioterapia/quimioterapia (FERNANDES, 2009; GRACE, p. 316). 20 3.7- Prognóstico O prognóstico do SAF depende de vários fatores, como a localização do tumor, tamanho, se há metástase ou recidiva a tratamentos anteriores como, por exemplo, cirurgias prévias sem sucesso. Portanto o prognóstico é desfavorável quando os tumores são grandes e localizados em áreas de difícil excisão. (CARNEIRO, 2008; GRILO, 2007). Os pacientes mais jovens têm o prognóstico um pouco melhor que os mais idosos, pelo motivo que estes beneficiarem pouco da quimioterapia adjuvante. O alto grau de malignidade e a localização profunda foram os fatores que mais influenciaram na mortalidade específica pela doença (TAVARES, 2007). Melhores resultados foram observados em gatos submetidos à excisão cirúrgica com margem ampla. Os animais amputados apresentaram melhores resultados comparados com aqueles que foram submetidos à excisão local em qualquer parte do corpo (KIRPENSTEIJN, 2006). A habilidade do cirurgião também é um fator de prognóstico importante. Gatos que fazem apenas uma cirurgia também possuem maior tempo de sobrevivência (média de 469 dias) do que aqueles que são submetidos a mais de um procedimento cirúrgico (média de 345 dias) (MORSCHBACHER, 2011). 3.8- Prevenção Algumas medidas profiláticas têm sido propostas como: diminuir a utilização de aplicações injetáveis, reservarem as vias injetáveis para casos inevitáveis e dar prioridade para a via subcutânea, pois a formação da massa é facilmente observada pelo proprietário. As aplicações devem ser evitadas em felino que possuem histórico de reações inflamatórias exacerbadas e/ou sarcoma (CARNEIRO, 2008). Outra medida seria selecionar os animais a serem vacinados, considerando os patógenos nos quais estão expostos e se estes promovem zoonoses. A tríplice felina é considerada uma vacina essencial para os gatos, recomendando-se um intervalo entre doses de três anos para animais adultos, pois este é o tempo de duração dos anticorpos produzidos pela vacina no organismo, segundo a VAFSTF. Lembrando, que este protocolo só deve ser adotado para felinos que não tem acesso à rua ou que residem em locais com baixo risco de contrair a infecção, caso contrário, a vacinação é anual. No Brasil, o vírus da raiva é endêmico, sendo que a vacinação é obrigatória e anual, impedindo este intervalo. As vacinas 21 contra Clamidiose e de Leucemia Felina (FeLV) são consideradas não essenciais e devem ser administradas de acordo com o risco individual. Vacinas atenuadas sem adjuvantes ou as mortas com adjuvantes são recomendadas, pois não causam reação exuberante (CARNEIRO, 2008; GRILO, 2007; JONES, 2009; MACY, 2001). O médico veterinário deve padronizar os locais de aplicação, para que em caso de surgimento de um sarcoma, identificar prontamente qual aplicação poderia ser responsável pelo desenvolvimento de tumor naquele local. Nos Estados Unidos o protocolo de vacinação sugere que a vacina antirrábica seja aplicada na face lateral ou distal do membro pélvico direito, a tríplice ou quádrupla felina na face lateral ou distal do membro torácico direito e a vacina contra FeLV seja aplicada na face lateral ou distal do membro pélvico esquerdo (AKIAK, 2012; CHALITA, p. 222). Embora, exista um real risco da ocorrência do sarcoma no local de aplicação, os proprietários dos gatos devem ser educados tanto para o risco do desenvolvimento como para a prevenção da doença, permitindo que os próprios tomem decisões sobre a frequência e a administração das vacinas, e que seja possível uma detecção precoce e uma terapêutica apropriada destes sarcomas (FERNANDES, 2009). 4 CONCLUSÃO É sabido que o SAF tem baixa incidência, mas representa um grave problema e o médico veterinário deve ficar atento à ocorrência de alguma reação inflamatória no local em que foi aplicado vacina ou qualquer tipo de medicamento. Cabe ao profissional ter o bom senso de avaliar cada paciente e seu estilo de vida, bem como a necessidade de imunização e a via de aplicação de medicamentos. Por ser um tumor de patogenia desconhecida e o tratamento ineficaz na maioria das vezes, o diagnóstico precoce, as melhores opções terapêuticas, as medidas preventivas e conhecimento da situação atual são extremamente importantes para resultados promissores contra este tipo de sarcoma. 22 REFERÊNCIAS ANJOS, T. M. Peculiaridades farmocológicas, fisiológicas e terapêuticas em medicina felina. 2009. 72f. Dissertação (especialização em Medicina Veterinária)- Universidade Paulista, Departamento de Pequenos Animais, Belo Horizonte. AKIAK, S. Feline injection-site sarcoma. NAVC Clinician’s Briet, New York, p. 71-73, 2012. AMORIN, F. V. Sarcoma de locais de injeção. Acta Scientiae Veterinariae, Porto Alegre, v. 35, p. 221-223; 2007. BANERJI, N.; KAPUR, V.; KANJILAL, S. Association of germ-line polymorphisms in the feline p53 gene with genetic predisposition to vaccine-associated feline sarcoma. Journal of Heredity, Minnesota, 2007. BURTON, G.; MASON, K. V. 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