SORRISOS: RESSIGNIFICANDO O ADOECIMENTO NO AMBIENTE HOSPITALAR 1 Isabela Dias Aderaldo de Lírio, Faculdade da Alta Paulista Jéssica Rodrigues Costa, Faculdade da Alta Paulista Camila Aparecida de Oliveira Lima, Faculdade da Alta Paulista Mônica Tablas Martinez, Faculdade da Alta Paulista 2 Leandro Anselmo Todesqui Tavares, Faculdade da Alta Paulista O presente trabalho parte da experiência de estágio para formação de psicólogo na área hospitalar, realizado por um grupo de supervisão de quatro alunos de uma faculdade do interior paulista. Os atendimentos no hospital foram realizados e orientados por supervisões semanais, sendo a abordagem psicanalítica a norteadora do estágio. Frente à experiência vivida no ambiente hospitalar e verificando-se a pouca existência de práticas sensibilizadoras que possibilitassem a externalização das angústias e ansiedades geradas neste ambiente, deu-se início ao projeto “Por um Sorriso”. O projeto vem com a proposta de ressignificar, juntamente com o sujeito e sua família, a forma de ver a doença e o sofrimento advindo desta. Exatamente com essa preocupação se deu início ao desenvolvimento do projeto baseado no trabalho dos “Doutores da Alegria”, uma organização que trabalha com a paródia do palhaço que brinca de ser médico, levando alegria e riso ou utilizando a arte para a mesma finalidade. Essa terapia do riso foi propagada a partir de 1960, com o médico americano Hunter Adams, que ficou conhecido como “Patch Adams”, este que é fundador do Instituto Gesundheit, nos Estados Unidos, onde se pratica medicina gratuita e cujo tratamento inclui alegria e humor, sob a ideologia de que rir é o melhor remédio e é contagioso. Segundo pesquisas científicas realizadas na Inglaterra e Estados Unidos, comprovou-se que a risada reforça as defesas 1 Graduandos em Psicologia, Faculdade da Alta Paulista, [email protected]; [email protected]; [email protected] e [email protected]. 2 Psicólogo, Doutorando, Docente da Faculdade da Alta Paulista, [email protected] imunológicas e reduz o stress, apenas o fato de saber que se vai presenciar uma situação engraçada já se é capaz de aumentar os níveis de endorfinas e de hormônio do crescimento, além de diminuir as taxas de cortisol e adrenalina. Durante o período de hospitalização o paciente modifica sua rotina, perdendo muitas vezes sua individualidade, visto que é submetido a regras institucionais, passando por procedimentos invasivos que acabam por gerar ansiedades e desconfortos. Isso implica para o sujeito uma reedição da castração, de perdas e lutos (FREUD [191416]/1996) e a manifestação de mecanismos de defesa que são potencializados pela internação. O objetivo do projeto “Por um Sorriso” foi o de promover um espaço lúdico que possibilite o advento do sujeito (FINK, 1998) inconsciente, provocando ainda o estreitamento do laço social entre os pacientes, familiares e a equipe médica. Através das práticas artísticas e com a utilização do material gráfico, teve-se como intuito promover a descontração e a ressignificação do lugar de adoecido do paciente, diminuindo assim as angústias decorrentes do processo de hospitalização e encontrando no sorriso e nas expressões lúdicas benefícios que possibilitem ao paciente uma maior disposição para o enfrentamento da doença. A proposta do projeto é criar uma possibilidade de expressão da subjetividade no contexto hospitalar e dar outros sentidos a hospitalização, como um lugar em que é possível promover destino ao pathos por meio de uma experiência subjetiva compartilhada (BERLINK, 2008). A intervenção se deu por meio de visita semanal, compreendendo a ala de internação do SUS, maternidade e pediatria, abrangendo-se os pacientes hospitalizados sem distinção de sexo, idade ou patologia. Com o objetivo de se levantar conhecimentos que possibilitassem uma maior compreensão da temática e uma atuação eficaz por parte das estagiárias, buscaram-se, através de pesquisa bibliográfica, dados pertinentes a questão levantada. Posteriormente, criou-se um cronograma de visitas e definiram-se as atividades a serem desenvolvidas, bem como o método e materiais que seriam utilizados. O método utilizado para realização desta prática constitui-se no acolhimento, espontaneidade e sensibilidade por parte das estagiárias, culminando no desenvolvimento de uma escuta analítica (TOREZAN, 2003) a partir das expressões lúdicas de pacientes hospitalizados e familiares. Os aspectos relacionados ao estado emocional afetam significativamente a recuperação, pois o sujeito não pode ser visto somente com olhar biológico, mas também psíquico e social. Portanto, é necessário práticas humanizadas dentro do contexto hospitalar, que valorizem a promoção de saúde do indivíduo, considerando as múltiplas facetas que o envolvem. Mediante as visitas já realizadas a intervenção feita no contexto hospitalar permitiu um despertar sensibilizador através da arte e do sorriso, possibilitando ainda um espaço para a expressão de conteúdos latentes dos pacientes, familiares e da equipe de saúde. É importante levantar que cada indivíduo é singular, respondendo de forma também particular a intervenção proposta. Através do desenvolvimento de tal atividade foi possível identificar as diferentes formas de enfrentamento da doença e ainda as defesas desencadeadas neste processo, mobilizando algumas vezes até uma postura de indiferença frente às atividades propostas. O psicanalista no hospital tem o papel de acolher as angústias geradas pelo adoecimento e hospitalização, no desenvolvimento de uma escuta analítica, uma escuta que se volta ao sujeito do inconsciente. Procura-se amenizar o sofrimento advindo da doença através do resgate da subjetividade do individuo, da ressignificação da experiência de internação, implicando o sujeito como coresponsável em seu processo de cura. Palavras-chave: Sorrisos, Hospital, Psicanálise. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAUJO, T. C. C. F.; GUIMARÃES, T. B. Interações entre voluntários e usuários em onco-hematologia pediátrica: um estudo sobre os “palhaços-doutores”. Estudos e Pesquisas em Psicologia, Rio de Janeiro, Ano 9, n. 3, p. 632-647, 2º Sem. 2009. BERLINK, M. T. Psicopatologia Fundamental. São Paulo: Escuta, 2008. COSTA-MOURA, F. A psicanálise é um laço social. In: ALBERTI, S.; FIGUEIREDO, A. C. (orgs). Psicanálise e saúde mental: uma aposta. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 2006. p. 149-153. FINK, B. O sujeito lacaniano: entre a linguagem e o gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998. FRANÇANI, G.M.; ZILIOLI, D.; SILVA, P.R.F.; SANT’ANA, R.P.de M.; LIMA, R.A.G. Prescrição do dia: infusão de alegria. Utilizando a arte como instrumento na assistência à criança hospitalizada. Rev. latinoam. enfermagem, Ribeirão Preto, v. 6, n. 5, p. 27-33, dezembro 1998. FREUD, S. (1914-1916). Luto e melancolia. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XIV. Rio de janeiro: Imago, 1996. FREUD, S. (1916) Sobre a transitoriedade. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XIV. Rio de janeiro: Imago, 1996. OLIVEIRA, R. R.; OLIVEIRA I. C. S. Os doutores da alegria na unidade de internação Pediátrica: Experiências da equipe de enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm, v.12, n. 2, p. 230-236, junho 2008. SILVA, P. H; OMURA, C. M. Utilização da risoterapia durante a hospitalização: um tema sério e eficaz. Revista Unisa. Disponível em: http://www.unisa.br/graduacao/biologicas/enfer/revista/arquivos/2005-12.pdf Documento base para gestores e trabalhadores do SUS. Disponível em: http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/doc_base.pdf TOREZAN, Z. C. F.; ROSA, A. C. Escuta Analítica no Hospital Geral: implicações com o desejo do analista. In: Psicologia, Ciência e Profissão. 2003. pag 84-91. Homepage da organização Doutores da Alegria. http://www.doutoresdaalegria.org.br/conheca/sobre-os-doutores/ Disponível em: