SILÊNCIO – Expressão de comunicação Tatiane Barbosa Santos

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SILÊNCIO – Expressão de comunicação
Tatiane Barbosa Santos
Vanessa Carvalho Santos1
Prof. Me. Luiz Alberto Cesar Prata (Orientador)
RESUMO
A linguagem faz do indivíduo um ser pensante. Ela trabalha a comunicação, a expressão
e o poder de compreensão humana, capaz de apontar os aspectos culturais e sociais em
que o indivíduo está inserido, evidenciando suas marcas e traços, apenas pelo fato de
como ele a elabora, a organiza, a escolhe e a utiliza. Este artigo proporciona não só uma
reflexão sobre a necessidade de se contemplar a importância da linguagem e
comunicação para o desenvolvimento humano, como também será abordado o silêncio,
fio condutor da comunicação, ampliando o conhecimento dos leitores para mostrar que o
mesmo não pode ser considerado o nada, a falta, mas, sim, o significado. Para isso, farse-á uma pesquisa de cunho bibliográfico, privilegiando as teorias de Lyons (1987),
Orlandi (2007), ente outros, no intuito de mostrar o poder que o silêncio exerce sobre a
linguagem. Com efeito, a linguagem é a base da sociedade, tanto para o desenvolvimento
do universo intelectual, quanto elemento central no relacionamento entre as pessoas,
proporcionando interação social. Logo, estima-se observar as formas do silêncio na
construção da comunicação.
Palavras-chave: Comunicação. Linguagem. Silêncio. Interação social.
ABSTRACT
The language makes the individual a thinking. She works the communication, expression
and the power of human understanding, able to point out the cultural and social aspects in
which the individual belongs, evidencing their brands and traits, just because of how he
prepares, the organization, Chooses and uses. This article provides not only a reflection
on the need to consider the importance of language and communication for human
development, as well as the silence will be addressed, guiding communication, expanding
the knowledge of readers to show that it can not be considered anything, lack, but, yes.
Meaning. for this, research will be far-is-bibliographic nature. Research will be far-isbibliographic nature, focusing on theories of Lyons (1987), Orlandi (2007), other entity, In
order to show the power that silence has on the language. Indeed, language is the basis of
society, both for the development of the intellectual universe, as a central element in the
relationship between people, providing social interaction. Soon, estimated to observe the
forms of silence in the construction of communication.
Keywords: Communication. Language. Silence. Social interaction.
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Pós-graduandas em Estudos linguísticos e literários aplicados ao ensino de Língua Portuguesa pela
Faculdade José Augusto Vieira (FJAV).
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1 INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como ideia central salientar a importância da linguagem para
o desenvolvimento cultural e social do indivíduo, apresentando como objetivo principal a
verificação de que o silêncio comunica e que deve ser considerado peça significante no
processo comunicativo.
A linguagem, portanto, é um sistema de representações aceitas por um grupo
social, que possibilita a comunicação entre os integrantes desse mesmo grupo. Sendo
assim, os objetivos específicos deste trabalho são mostrar as definições e as principais
aplicações que circundam a linguagem, desvendando que ela também é considerada um
dos principais instrumentos na formação cultural dos indivíduos. É através dela que
melhor se manifesta o pensamento e o entendimento de ideias e conceitos gerais, além
de servir como base para a socialização e interação dos que a utilizam.
Neste artigo, estão apresentadas as concepções de linguagem e comunicação,
apresentando os papéis responsáveis pelo desenvolvimento da mente humana, bem
como da sociedade, estabelecendo, por fim, os fatores que influenciam no processo da
comunicação. Sabe-se que a comunicação é o modo pelo qual as pessoas compartilham
experiências, ideias e sentimentos, ou seja, relacionam-se, modificando a realidade onde
estão inseridas.
Considera-se que entre as palavras existem espaços ocupados pelo silêncio.
Dessa maneira, é viável trabalhar os aspectos, sentidos e significados proporcionados
pelo silêncio, enfatizando que este se instala entre as palavras ou as atravessa,
possuindo sentido próprio ou subentendendo o sentido das palavras que aparecem na
comunicação. Tendo como suporte o livro “As formas do silêncio”, de Eni Puccinelli
Orlandi, discute-se toda a questão da significância do silêncio e seus tipos, tratando-o
como elemento essencial no processo comunicativo e não como o “vazio”, o “nada”, o
“sem sentido”.
A pesquisa é de cunho bibliográfico e foram consultados livros de autores
renomados como Lyons (1987) e Orlandi (2007) para o desenvolvimento, aprimoramento
e enriquecimento desta. Assim, observou-se que o silêncio está presente na comunicação
de maneira significativa, transmitindo mensagem ou despertando interpretações
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possíveis. Com isso, comprova-se a importância da linguagem, seja ela proferida ou
silenciada, em transmitir mensagem, entendimento, compreensão e comunicação e
promover a socialização entre as pessoas, focando em sua função de estabelecer
interação.
2 LINGUAGEM E COMUNICAÇÃO
2.1 Conceitos de linguagem
A linguagem é o objeto de estudo da linguística. Mas, o que vem a ser linguagem?
Pergunta simples e pequena, mas que desperta conceitos rebuscados. Esse
questionamento não pode ser respondido de forma concisa, pois existem vários aspectos
a serem analisados. Para se chegar a uma conclusão, será preciso discutir várias
definições propostas por teóricos renomados, podendo, assim, compreender as
características e a funcionalidade da linguagem.
O termo linguagem refere-se a todas as formas de comunicação, no seu sentido
amplo. É aplicado a todos os sistemas de comunicação, sejam naturais, como as
diferentes línguas (o português, o inglês, o espanhol e etc.), como as linguagens
corporais, de sinais, gestuais; ou artificiais, que são as linguagens criadas para suprir
algumas necessidades momentâneas, como, por exemplo, o esperanto (que foi inventado
no final do século XIX para servir à comunicação internacional, e é considerada
linguagem artificial, pois foi baseada em línguas naturais preexistentes) e a notação ou o
cálculo (criados por matemáticos, lógicos, e engenheiros).
Conforme Sapir (1929:8), “a linguagem é um método puramente humano e não
instintivo de se comunicarem ideias, emoções e desejos por meio de símbolos
voluntariamente produzidos.” (apud LYONS, 1987, p. 03). Pode-se conferir que a
denominação de linguagem, como um método puramente humano e não instintivo, alude
a um sistema utilizado exclusivamente pelos humanos e de forma precisa e nãoespontânea, usando palavras, sinais, gestos, posturas, olhares que transmitam a
mensagem de maneira coerente e satisfatória e, não de modo aleatório, com o objetivo de
estabelecer uma comunicação.
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A linguagem, segundo definição de Benveniste (1977), “é um sistema de signos
socializado”. (apud VANOYE, 2003, p.21). Percebe-se, logo de início, a questão da
funcionalidade da linguagem, remetendo à função da comunicação e sua utilidade para o
meio social, tratando-a como um sistema de signos, os quais são elementos que sozinhos
não produzem efeito, não geram entendimento, só significam junto com outros elementos.
O fascínio que a linguagem sempre exerceu sobre o homem vem desse
poder que permite não só nomear/criar/transformar o universo real, mas
também possibilita trocar experiências, falar sobre o que existiu, poderá vir
a existir, e até mesmo imaginar o que não precisa nem pode existir.
(FIORIN, 2003, p. 11).
De início, associa-se a palavra à linguagem, ao poder mágico de criar e transformar
o meio. A linguagem é a matéria do pensamento e o meio da comunicação social. Sem
linguagem não existiria civilização. Assim, como não há civilização sem linguagem, não
há civilização sem comunicação. Tudo que é produzido como linguagem é uma matéria
real, pois ela é transmitida através de sons, palavras, frases (linguagem verbal), para
expressar emoções, sentimentos. É qualquer sistema de signos que serve de meio de
comunicação, englobando a linguagem oral, escrita, visual, corporal, gestual e etc.
A linguagem pode ser dominada pelo indivíduo e pela sociedade, mas sendo
conduzida pela visão de mundo do falante, envolvendo laços socias, históricos e culturais
que esse falante carrega. Ou seja, ao transmitir a mensagem, o indivíduo organiza suas
palavras de acordo com o meio em que está inserido, com o conhecimento de mundo que
possui e com suas raízes. É por meio da linguagem que o ser humano organiza e dá
forma às suas experiências. A linguagem revela aspectos históricos, sociais e culturais
de uma sociedade. É a partir dela que se constrói uma memória, uma história.
2.2 Comunicação – Teoria e aplicações
A comunicação humana é um processo que envolve uma troca de informações e
de conhecimentos, utilizando a linguagem como suporte primordial para estabelecer essa
troca informacional, produzindo, dessa maneira, uma infinidade de mensagens com o
intuito de se comunicar, permitindo que haja uma interação entre as pessoas.
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Sabe-se que existem vários tipos de comunicação: através da fala, de gestos com
as mãos, de um sorriso, através da escrita, pelos jornais, revistas, cartazes, panfletos,
propagandas, cartas, telegramas, mensagens utilizando aparelhos eletrônicos, pela
televisão, telefone, rádio, computador, por e-mails. Enfim, existem vários modos de
efetuar uma comunicação, vários meios de ficar atualizado e informado com os outros e
com o mundo.
De acordo com Fiorin:
Todos nós nos acostumamos a considerar a comunicação muito
importante (Quem não se comunica se estrumbica), seja para o mundo
globalizado de hoje, seja para o mundo de sempre, já que fundadora da
sociedade. (2003, p.25).
Nota-se, de imediato, a importância da comunicação perante a sociedade.
Necessária para a socialização dos indivíduos, para a convivência e a interação entre
eles, mantendo-os em relação de contato permanente. É a comunicação que move a
sociedade.
Toda comunicação tem por objetivo a transmissão de uma mensagem, e
se constitui por um certo número de elementos, indicados no esquema
abaixo:
(VANOYE, 2003, p.01)
Percebe-se, a identificação dos elementos constitutivos da comunicação, que são
essenciais para a realização da mesma. Emissor ou destinador, o que produz a
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mensagem; receptor ou destinatário, o que recebe a mensagem; mensagem, o conjunto
das informações produzidas que serão transmitidas; canal de comunicação, é por onde a
mensagem passa; o código é o conjunto de signos que são combinados na transmissão
de uma mensagem; e o referente, como o próprio nome diz, designa ao que a mensagem
se refere, é o contexto ou o assunto da mensagem.
Considera-se que para a comunicação tornar-se eficaz, é viável que ela apresente
características de um processo interativo, de um relacionamento interpessoal e não
carregue marcas de uma transferência unilateral de informações, pois sua definição
principal está relacionada a um processo onde há troca de ideias e de experiências
compreendidas entre os indivíduos. Essa compreensão é necessária, o receptor recebe a
mensagem e esta deve ser decodificada, interpretada e compreendida por ele, para que
haja uma relação comunicativa duradoura e recíproca.
3 O SILÊNCIO: fio condutor da comunicação
Falar sobre o silêncio é complicado, é uma tarefa difícil, pois é um tema complexo
que necessita de constantes reflexões, pensamentos, análises e impressões. Para
apresentar os seus sentidos e suas formas, será preciso tomá-lo como objeto de reflexão
e relacioná-lo com o dizer e o não-dizer.
Para compreender o silêncio, deve-se associá-lo ao ato de falar. Só assim, pode-se
verificar a significação do silêncio, que foi percebida pelo homem, no decorrer de sua
história, criando a linguagem para evitá-lo, ou seja, entende-se que primeiro existiu o
silêncio, para depois o homem criar a linguagem, observando que o silêncio é dotado de
sentido.
É fácil encontrar conceitos sobre o silêncio, que o retrata como mero complemento
de linguagem, colocando-o em posição secundária, como se o silêncio só servisse para
ocupar as lacunas deixadas pela linguagem no processo da comunicação. Então, a
linguagem não ocupa todo o espaço comunicativo, e o silêncio serve somente para
preencher esses “buracos”, para preencher o vazio? Ou o silêncio é o fio condutor da
comunicação, é o real da linguagem, apresenta o próprio significado? Essas questões
serão analisadas e comentadas nesse trabalho, enfocando a importância do silêncio,
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ampliando o conhecimento dos leitores, para mostrar que o mesmo não pode ser
considerado o nada, a falta, o vazio, mas, sim, o significado.
De acordo com Aurélio:
Si.lên.ci:osm. 1. Estado de quem se cala. 2. Interrupção de
correspondência epistolar. 3. Ausência de ruído. 4. Sossego, calma. 5.
Sigilo, segredo. Interj. 6. Para mandar calar ou impor sossego. (2000,
p.636).
Observa-se que o autor não empregou a característica significante ao conceituar o
silêncio. Essa propriedade é desconhecida por muitos ou valorizada por poucos.
Normalmente, apresentam o silêncio como falta, ausência de ruído, sossego, calma, ou
seja, um estado vazio. Pensa-se que o silêncio são apenas os espaços que completam as
lacunas deixadas pela linguagem, mas essa definição é afirmada e defendida até o
momento em que se desconhece a verdadeira e minuciosa composição do silêncio: a
significação.
Neste estudo, pretende-se visar o silêncio como ponto integrante da comunicação,
que apresenta suas utilidades, seus sentidos, desmitificando o conceito de que ele é
apenas a ausência, inserindo a noção significativa do silêncio, fator imprescindível para a
comunicação. Desse modo, Orlandi afirma que, “o silêncio, como dissemos, não é
transparente. Ele é tão ambíguo quanto as palavras, pois se produz em condições
específicas que constituem seu modo de significar.” (2007, p.101).
Nota-se a multiplicidade do silêncio e dos seus sentidos. Do mesmo modo, que as
palavras são múltiplas, os silêncios também os são, apresentando significados e
interpretações variadas. Discuti-se que o silêncio, o vazio, o nada e o nunca são
instâncias ou palavras que causam estranhamento, despertando opiniões contraditórias
acerca de sua aceitação e compreensão. Assim, o silêncio pode ser considerado um lugar
nulo, de fato, inexistente, mas um vazio cheio de significados, com sons e palavras
implícitas.
O silêncio é assim a “respiração” (o fôlego) da significação; um lugar de
recuo necessário para que se possa significar, para que o sentido faça
sentido. Reduto do possível, do múltiplo, o silêncio abre espaço para o que
permite o movimento do sujeito. (ORLANDI, 2007, p.13).
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Segue-se a linha de pensamento da autora, buscando analisar os sentidos
silenciados que são possíveis de serem percebidos. Através dessa citação, fica
esclarecido que o silêncio pode ser considerado um “lugar” onde o significado é capaz de
se efetivar e se movimentar, ocasionando em possíveis compreensões dos seus sentidos.
Dessa forma, procura-se entender a matéria simbólica específica do silêncio para alargar
a relação das pessoas com as palavras. Assim, refletir sobre a essência do silêncio é
notar a presença de significados.
3.1 As formas do silêncio
Defende-se a informação que há sentido no silêncio. Pensando nessa afirmação, é
viável que haja uma compreensão dessa tal significância. Para entender essas
significações, propõe-se pensar o silêncio em suas formas. Destacam-se duas delas: o
silêncio fundador (ou fundante) e a política do silêncio (ou silenciamento).
Acredito que o mais importante é compreender que: 1. há um modo de
estar em silêncio que corresponde a um modo de estar no sentido e, de
certa maneira, as próprias palavras transpiram silêncio. Há silêncio nas
palavras; 2. o estudo do silenciamento (que já não é silêncio mas “por em
silêncio”) nos mostra que há um processo de produção de sentidos
silenciados que nos faz entender uma dimensão do não-dito
absolutamente distinta da que se tem estudado sob a rubrica do “implícito.”
(ORLANDI, 2007, p.12).
Percebe-se, de imediato, que existe uma preocupação em compreender os
sentidos estabelecidos pelo silêncio, que só podem ser verificados e distinguidos através
de suas duas formas essenciais. Uma explica que o silêncio em si já possui sentido,
denominada como silêncio fundador, que não recebe esse nome por dar origem ou
fundar o sentido, mas por possuir o sentido em suas entranhas, por apresentar seu
caráter necessário e próprio. A outra forma (silenciamento) faz referência e relação entre
o dizer e o não-dizer, associando o que pode ser dito ao que não pode ser dito,
precisando, dessa maneira, ser silenciado.
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3.1.1 O silêncio fundador
Verifica-se que a base do silêncio é o sentido, e que ele não fala, mas consegue
transmitir significado. O sentido estabelecido pelo silêncio deve ser compreendido e não
traduzido. Não se pode traduzir o silêncio em palavras como acontece com a língua. Se
isso acontecer, o silêncio perde suas propriedades essenciais, ou seja, se o indivíduo
tentar falar pelo silêncio, interpretando-o e limitando-o com palavras, o silêncio pode
perder significados importantes que deveriam ser compreendidos pelo receptor. Observase que, no silêncio fundador, a construção do imaginário é necessária na produção dos
sentidos.
[...] o silêncio não é ausência de palavras; ele é o que há entre as palavras,
entre as notas de música, entre as linhas, entre os astros, entre os seres.
Ele é o tecido intersticial que põe em relevo os signos que, estes, dão valor
à própria natureza do silêncio que não deve ser concebida como um
“meio”. O silêncio, diz o autor, é o “intervalo pleno de possíveis que separa
duas palavras proferidas: a espera, o mais rico e o mais frágil de todos os
estados...” O silêncio é “eminência”. (BUSSET (1984), apud ORLANDI,
2007, p.68).
Deste modo, reconhece-se que o silêncio fundador tem como base a significação,
que ele pode interagir com as palavras, atravessando-as ou preenchendo-as, gerando
uma nova compreensão que ainda não tenha sido percebida somente pelas palavras,
produzindo os sentidos estabelecidos pelo silêncio. Sem esquecer que esses sentidos
podem ser polissêmicos, ou seja, quanto mais se diz, mais o silêncio se apropria e ainda
mais tem o que dizer. Sendo assim, o processo da comunicação só pode ser realmente
completo se houver uma relação entre palavra, silêncio e sentido.
3.1.2 A política do silêncio (Silenciamento)
Outra forma de compreender o silêncio é através da política do silêncio ou
silenciamento, que se fragmenta em duas formas de existência: o silêncio constitutivo e o
silêncio local. A política do silêncio faz relação ao dito e ao não-dito, ou seja, ela só se
realiza por meio do que pode ou não pode ser dito.
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Com efeito, a política do silêncio se define pelo fato de que ao dizer algo
apagamos necessariamente outros sentidos possíveis, mas indesejáveis,
em uma situação discursiva dada. (ORLANDI, 2007, p.73).
Observa-se que a política do silêncio depende exclusivamente do ato discursivo,
defendendo que, ao falar, o indivíduo produz sentidos que anulam determinados
significados que provavelmente não eram para serem esclarecidos por meio de palavras
e, sim, silenciados, eliminados do processo discursivo. Nota-se que essa forma de
silêncio propõe uma relação de subordinação do silêncio com o dito, onde as palavras
silenciam os sentidos não desejados.
4 SILÊNCIO – Expressão de comunicação
O silêncio como parte integrante da comunicação é essencial para uma
compreensão eficaz de todos os significados envolvidos no processo comunicativo, pois
os sentidos podem estar expressos tanto nas palavras quanto nos silêncios. Quando se
afirma que o silêncio apresenta sentido, incomodam-se os que lidam com a linguagem,
porque muitos não possuem esclarecimento para novas possibilidades, ou seja, causa um
estranhamento afirmar que a falta de sons, palavras, expressões, possa significar, já que
se está acostumado a perceber a linguagem por meio de seus códigos sonoros ou
escritos.
Chegamos então a uma hipótese que é extremamente incômoda para os
que trabalham com a linguagem: o silêncio é fundante. Quer dizer, o
silêncio é a matéria significante por excelência, um continuum significante.
O real da significação é o silêncio. (ORLANDI, 2007, p.29)
Nessa perspectiva, é lançada uma reflexão cabível, onde tudo tem sentido, nada
está no mundo por acaso. Com a linguagem não é diferente, todos os seus elementos
(linguagem verbal, não-verbal, silêncio) significam. Assim, “a linguagem é conjunção
significante da existência e é produzida pelo homem, para domesticar a significação”
(ORLANDI, 2007, p.32), colocando que no campo comunicativo o oposto do silêncio é a
fala. Esta divide, organiza o silêncio, já que ele apresenta como marca, a dispersão.
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É viável afirmar, segundo Orlandi, que:
O homem está “condenado” a significar. Com ou sem palavras, diante do
mundo, há uma injunção à “interpretação”: tudo tem de fazer sentido
(qualquer que ele seja). O homem está irremediavelmente constituído pela
sua relação com o simbólico. (2007, p.29-30).
Um ponto que deve ser evidenciado é a incompletude proporcionada pela fala, o
que possibilita vários sentidos precedidos pelo silêncio. No momento em que “o dizer”
deixa espaços vagos a serem completados, o silêncio logo se instala, ocasionando,
assim, uma multiplicidade de sentidos, ou seja, quanto mais faltam palavras, mais o
silêncio se aloja e significa.
Sabe-se que a linguagem gestual está orientada pela fala. Mesmo estando em
silêncio, as pessoas podem utilizar expressões faciais, gestos, procurando apresentar
uma expressão que “fala”. Pode-se “falar” sem necessariamente falar, pois estando mudo,
em silêncio, o pensamento continua e as expressões fluem.
Assim, os indivíduos possuem uma cultura, que trata o silêncio como fator
secundário. Aceita-se que o homem em silêncio não possui sentido, com isso o ser
humano fala para ocupar esse silêncio, dando importância aos elementos sonoros da
linguagem e considerando o silêncio como o vazio.
Através dessas reflexões, pretende-se mudar a opinião dos leitores em relação ao
silêncio, mostrando que ele é elemento constitutivo do sentido e peça importante para o
processo da comunicação, excluindo, de fato, o caráter não-visível, obscuro, contínuo e
não calculável adquirido pelo silêncio, corroborando a perspectiva comunicativa trazida
por ele que acaba transformando-se em linguagem, ou seja, em comunicação.
5 CONCLUSÃO
Fica claro que o silêncio é considerado parte integrante do processo comunicativo,
parte essa que também significa e que estabelece interpretações cabíveis no processo
comunicativo. O silêncio contribui de forma significativa para a comunicação, ele faz
sentido.
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Precisou-se analisar todo processo comunicativo, conceituando linguagem e
comunicação, verificando os pontos integrantes dessas vertentes no intuito de comprovar
que o silêncio também possui as marcas da linguagem. Desse modo, pode-se pensar em
linguagem como a maior criação da inteligência humana, forma de acessar o mundo e o
pensamento, tornando provável a compreensão e apreensão das características dos fatos
e objetos da realidade.
A linguagem é, antes de tudo, comunicação, expressão e compreensão, possuindo
caráter comunicativo
que
está
estreitamente
ajustado
com
o
pensamento e,
consequentemente, com o silêncio. Sendo assim, esses elementos comunicativos,
linguagem e silêncio, trabalham uma funcionalidade básica, a qual consente a interação e,
ao mesmo tempo, constitui o pensamento, aguça a esperteza, aperfeiçoa a forma e o
modo de viver no mundo.
Assim, por meio de análises e reflexões, observou-se que o silêncio e linguagem
andam juntos. Ele pode atravessar as palavras esbanjando novos sentidos e
interpretações, ou simplesmente, ele próprio significar. Não é o nada, mas sim o sentido.
Então, ao invés de pensar o silêncio como “falta”, como “nada”, pode-se, ao contrário,
pensar o silêncio como significado, na perspectiva de abolir o pensamento negativo e de
implantar uma visão positiva em relação a ele, evidenciando a sua utilidade na
comunicação e a sua importância para o desenvolvimento humano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio século XXI escolar: o
minidicionário da língua portuguesa. 4ª ed. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
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