NORDESTE Características gerais 1- A região geoeconômica do Nordeste brasileiro corresponde a uma área que vai da parte leste do Maranhão até o norte de Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Nessa grande região, que abrange quase 20% do território nacional, vivem cerca de 25% dos habitantes do Brasil. 1.1- O Nordeste constitui uma área de repulsão populacional, que, desde o fim do século XIX, gera migrantes que se encaminham para as demais regiões. Mas, durante vários séculos (XVI, XVII e XVIII), esse complexo regional abrigou a grande maioria da população do Brasil-Colônia e, até 1763, a capital político-administrativa na cidade de Salvador. 1.2- A idéia que fazemos do Nordeste, como uma grande região diferenciada do território brasileiro, é recente, do início do século XX. Nos períodos anteriores, havia vários “nordestes”, áreas muito diferentes e com economias regionais relativamente isoladas umas das outras: a região açucareira da Zona da Mata; a região do Maranhão e arredores, onde houve uma administração colonial diferente; e a área hoje correspondente ao Ceará e Piauí, que, durante séculos, manteve poucas ligações com o restante do Nordeste. 1.3- Quando se fala em miséria, pobreza absoluta, em insuficiência alimentar, pensa-se logo na região Nordeste. Mas isso é apenas meia verdade. Todos esses problemas sociais são encontrados também nas demais regiões brasileiras, embora no Nordeste sejam mais acentuados. O nível de vida da população nordestina é em geral muito baixo. Alem disso, existe uma classe dominante – uma pequena minoria da população – que se concentra em suas mãos parte considerável das riquezas regionais, o que faz com que um grande número de nordestinos migre, a cada ano, para as demais regiões do país, em busca de melhores condições de vida. 1.4- Dessa forma, o Nordeste, geralmente, é visto como uma região problema, áreas decadente que necessita de ajuda governamental para desenvolver-se. Mas essa região nem sempre existiu; como vimos, ela foi criada no século XX. Foi com o progresso de integração nacional, realizado a partir da industrialização do país e sua concentração em São Paulo, que o Nordeste passou a ser encarado como uma grande região, com traços em comum e individualizada no conjunto do Brasil. A industrialização brasileira, concentrada no Centro-Sul, coincidiu com a decadência econômica das áreas nordestinas e o fluxo imigratório da região, que passou a ser fornecedora de mão-de-obra para as demais regiões. 1.5- Contudo, essa imagem de região-problema, ou atrasada, não é totalmente brasileira. Existem, de fato, inúmeras áreas Nordestinas que estão entre as mais carentes do Brasil e, em média, as condições de vida da sua população – taxas de mortalidade geral e infantil, índices de escolarização, níveis de rendimento, consumo de calorias por pessoa, etc. – são um pouco mais baixas que aquelas que predominam nas demais regiões, especialmente no Centro-Sul. Por outro lado, existem também no Nordeste algumas áreas bem industrializadas ou com uma agricultura moderna: a região ao redor de Salvador; o pólo têxtil do Ceará; as áreas de cerrados (oeste da Bahia, principalmente) onde hoje se planta a soja; as áreas de fruticultura irrigada do Vale do São Francisco, notadamente ao redor das cidades de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA); etc. 1.6- Assim, mesmo quando se reconhece o Nordeste brasileiro como uma grande região com problemas em comum, ainda se podem perceber enormes disparidades econômicas e naturais entre diversas de suas áreas, o que, comumente, permite dividi-lo em quatro principais sub-regiões: Zona da Mata, Sertão, Agreste e Meio-Norte. Zona da Mata 2- A Zona da Mata é a principal sub-região nordestina: é a mais povoada, a mais industrializada e a mais urbanizada. Compreende a área litorânea que vai do Rio Grande do Norte até a Bahia. Na direção leste-oeste, a Zona da Mata é uma estreita faixa de terras que vai do litoral oriental até o planalto da Borborema. 2.1- O clima dessa área é tropical úmido, com temperaturas médias mensais elevadas e chuvas abundantes, concentradas no outono-inverno (de março a junho). A vegetação original era a mata Atlântica, quase completamente destruída. 2.2- Durante os primeiros séculos de colonização, essa foi a principal região econômica, a mais densamente povoada do país e a mais valorizada pelos colonizadores. Ainda hoje, a maioria da população nordestina encontra-se nessa região, que apresenta elevadas densidades demográficas e na qual estão as principais metrópoles do Nordeste – Recife e Salvador. 2.3- Apesar de a Zona da Mata ser a mais rica das sub-regiões do Nordeste, nela se localizam os maiores problemas sociais da região, provavelmente por ser a sub-região mais povoada e com os maiores centros urbanos. 2.4- Nas grandes cidades, são comuns as habitações precárias, como as invasões de Salvador, os mocambos de Recife, os cortiços e as moradias antigas, que hoje estão em ruínas. É muito grande o número de subempregos e de mendigos nas ruas. No meio rural, os salários são baixíssimos, muitas vezes inferiores ao mínimo, e o trabalho é extremamente cansativo e prolongado. 2.5- Pode-se dividir a Zona da Mata nordestina em três partes distintas: Zona da Mata Açucareira, Recôncavo Baiano e Sul da Bahia. Zona da Mata Açucareira 3- A Zona da Mata Açucareira vai do Rio Grande do Norte até a parte norte da Bahia. Nessa área, predominam as grandes propriedades agrícolas – ou latifúndios –, que comumente praticam a monocultura açucareira. O cultivo de cana-de-açúcar, voltado à fabricação de açúcar para exportação, é praticado aí desde a época colonial. 3.1- O cultivo de cana foi a primeira atividade econômica realmente importante do país. Depois do apogeu, que durou do século XVI ao XVIII, a monocultura açucareira da Zona da Mata entrou em decadência a partir do século XIX. Isso se deve à grande produção de açúcar em outras partes do país, especialmente em São Paulo, e também a grande oferta do produto no mercado internacional. Recôncavo Baiano 4- Área situada ao redor da cidade de Salvador, o Recôncavo Baiano destaca-se pela extração do petróleo nacional. Atualmente, em virtude de descobertas e explorações feitas em outras áreas (principalmente na bacia de Campos, no Rio de Janeiro), o Recôncavo Baiano contribui com cerca de 35% do total produzido no país. Ocorreu aí uma razoável industrialização nos anos 1970 e 1980 – com indústrias petroquímicas, mecânicas, químicas e até automobilística –, o que fez do Recôncavo hoje a principal área industrial do Nordeste. O pólo petroquímico de Camaçari, ao norte de Salvador, é uma moderna área industrial. Sul da Bahia ou Zona do Cacau 5- Área com centro nas cidades de Ilhéus e Itabuna, o Sul da Bahia é voltado essencialmente para o cultivo de cacau, importante produto de exportação. Essa área já foi bem mais rica no passado e sofreu um esvaziamento econômico nas últimas décadas por causa da queda do preço internacional do cacau, uma planta originária da floresta Amazônica que se desenvolve melhor à sombra de outras árvores maiores (cultivo sombreado). Sertão 6- O que mais caracteriza o Sertão Nordestino é o Clima semi-árido. Os rios do Sertão nordestino são em geral intermitentes, ou seja, secam completamente durante alguns meses do ano. A grande exceção é o São Francisco, um rio perene, que corre continuamente, mesmo nos períodos de seca prolongada. 6.1- A construção de açudes ou represas em alguns rios intermitentes tenta regularizar esses cursos fluviais, tornando-os permanentes. Por exemplo: o açude de Orós, o maior do Nordeste. Suas águas alimentam o rio Jaguaribe (Ceará), que nunca deixa de correr , mesmo em épocas de seca. 6.2- No interior do sertão, encontram-se alguns locais mais úmidos, em encostas de serras ou em vales fluviais. São os brejos, as principais áreas agrícolas dessa sub-região, onde se cultivam milho, feijão e cana-de-açúcar. Em algumas áreas, como no vale do Cariri (Ceará), cultiva-se algodão de fibra longa, de alta qualidade, chamado seridó. 6.3- As secas, um fenômeno climático periódico, constituem provavelmente a imagem que mais tem caracterizado o Nordeste em filmes, romances, canções, noticiários de imprensa. Essas imagens são, às vezes, exageradas e dão origem a fantasias ou mitos. É comum, por exemplo, ouvirmos dizer que as secas constituem a principal causa do subdesenvolvimento nordestino e do deslocamento de migrantes dessa região para São Paulo ou Rio de Janeiro. Nada disso é verdadeiro. 6.4- Com ou sem secas, o Nordeste – ou pelo menos uma parte dele – continuaria sendo a região mais pobre do país, pois essa pobreza tem causas históricas, e não climáticas ou naturais. Ela se deve à decadência das atividades tradicionais da região, como a agroindústria açucareira e o cultivo de algodão, paralelamente à industrialização do Centro-Sul do país. 6.5- Além disso, as secas ocorrem principalmente no Sertão, onde vive uma pequena parcela da população nordestina. Na área mais povoada e onde se situam as principais metrópoles – a Zona da Mata –, não ocorrem secas. Ao contrário, em certas ocasiões, os índices de pluviosidade chegam a ser bem elevados, com enchentes periódicas em Recife, Maceió e outras importantes cidades da região. 6.6- A maioria dos nordestinos que deixam a sua região em direção às metrópoles do Centro-Sul não sai do Sertão, mas da Zona da Mata. Portanto, o verdadeiro motivo dessa migração não é a seca, mas a estrutura fundiária. Há uma extrema concentração das propriedades agrárias no Nordeste, ou seja, um pequeno número de grandes proprietários possui considerável parcela dos solos bons para a agricultura. É por não terem terras para trabalhar que os nordestinos deixam sua própria região. 6.7- No entanto, sendo um fenômeno natural, a seca constitui uma justificativa bem mais simples e cômoda para a pobreza nordestina do que as razões sociais. A própria classe dominante local culpa a seca pela precária condição de vida da maioria dos nordestinos. Por meio da intensa divulgação dos efeitos dramáticos da seca pelos meios de comunicação, certos grupos dominantes no Nordeste – políticos, fazendeiros e empresários – acabam conseguindo verbas e auxílio do governo. No entanto, eles utilizam esses recursos muito mais para servir aos seus interesses particulares do que à população pobre que sofre com a falta de água, os chamados flagelados da seca. 6.8- Por exemplo, aproveitando-se da seca, alguns empresários nordestinos deixam de pagar suas dívidas bancárias ou contraem novos empréstimos sob condições especiais, e certos fazendeiros constroem com dinheiro público açudes e estradas em suas terras particulares. A essas formas de tirar proveito das secas chama-se indústria da seca, que beneficia apenas as pessoas poderosas, sem contribuir para resolver os terríveis problemas da população pobre. 6.9- Nos últimos anos, algumas áreas do Sertão nordestino conheceram um processo de modernização, especialmente ao redor do rio São Francisco, onde grandes projetos de irrigação criaram uma agroindústria (produção de frutas, vinicultura, etc.), as cidades que mais se destacaram são Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), na realidade interligadas, uma vez em que estão em margens opostas do rio. E na parte oeste da Bahia – onde existe o cerrado no lugar da caatinga – desenvolveu-se uma moderna agricultura de grãos (principalmente soja), que se estende até o sul do Piauí e do Maranhão. Agreste 7- O Agreste é uma faixa de terras bastante estreita na direção leste-oeste e alongada na direção norte-sul, situada entre o Sertão semi-árido (a oeste) e a Zona da Mata úmida (a leste). É uma área de transição entre essas duas sub-regiões. Seu clima não é tão seco como o do Sertão, nem tão úmido quanto o da Zona da Mata. Na sua porção oeste, geralmente, chove menos do que na parte leste. Sua vegetação, em alguns locais, assemelha-se à mata Atlântica; em outros, à caatinga. 7.1- Na verdade, o Agreste é uma área relativamente alta (500 a 800 m). Corresponde à região do planalto da Borborema, com altitudes mais elevadas que as das demais sub-regiões do Nordeste. Constitui uma espécie de barreira, impedindo a penetração para o interior do ventos úmidos que vêm do Oceano Atlântico e perdem sua umidade nas chuvas freqüentes que ocorrem na parte oriental do Nordeste, na Zona da Mata e na porção leste do Agreste. 7.2- Ao contrário das demais sub-regiões do Nordeste, onde predominam as grandes propriedades, no agreste prevalecem as pequenas propriedades, os minifúndios. Aí, a atividade econômica mais importante é a agricultura, desenvolvida na forma de policultura (cultivo de vários produtos), aliada à pecuária leiteira semi-intensiva. Os principais cultivos do agreste são: algodão, café e agave (planta da qual se extrai o sisal, fibra utilizada para fabricar tapetes, bolsas, cordas, etc.). 7.3- Existem no Agreste algumas importantes cidades comerciais, centros urbanos com intenso comércio, que constitui sua principal atividade econômica. São as chamadas capitais regionais do Agreste, entre as quais se destacam a Campina Grande, na Paraíba, Feira de Santana, na Bahia, Caruaru e Garanhuns, em Pernambuco. Meio-Norte 8- O Meio-Norte, como o próprio nome diz, constitui numa área de transição entre o Norte (Amazônia) e o Nordeste, especialmente o Sertão. Apesar de todo o Maranhão e todo o Piauí tradicionalmente serem considerados Meio-Norte ou Nordeste ocidental, na verdade somente a área que vai da bacia do rio Grajaú, a oeste, até a bacia do rio Parnaíba, a leste, pode, de fato, ser considerada Meio-Norte, ou área de transição entre o Sertão semi-árido e a Amazônia úmida. A parte Ocidental do Maranhão é Amazônica, com um clima mais úmido e matas equatoriais semelhantes à floresta Amazônica. E a maior parte do Piauí é sertaneja, com clima semi-árido e vegetação de caatinga. 8.1- Portanto, a área situada entre o Sertão e a Amazônia é tão-somente uma faixa de terras que ocupa alguns vales fluviais: os rios Grajaú, Mearim e Itapecuru, no Maranhão, e o rio Parnaíba, que serve de divisa entre o Maranhão e o Piauí. 8.2- Nessa faixa de terras encontra-se a mata dos Cocais, paisagem típica do Meio-Norte.. a Zona dos Cocais é, de fato, considerada uma vegetação de transição entre a caatinga e a floresta amazônica. É constituída por palmeiras como a carnaúba e, principalmente, o babaçu. 8.3- A economia dessa sub-região baseia-se no extrativismo vegetal e na agricultura. 8.4- Do caule do babaçu se extrai o palmito, e de suas sementes um óleo utilizado na fabricação de cosméticos e aparelhos de alta precisão. Do caule da carnaúba, pode-se retirar uma cera, e de seu caroço é extraído um óleo. Tanto a cera quanto o óleo de carnaúba são utilizados na fabricação de ceras, velas, lubrificantes, etc. 8.5- A agricultura do Meio-Norte é tradicional, baseada no algodão, na cana-de-açúcar e no arroz. Mas existem algumas poucas áreas que se modernizaram bastante nessa sub-região, especialmente no Maranhão. 8.6- Cabe destacar, nesse aspecto, o complexo minerometalúrgico interligado ao programa grande Carajás, no Maranhão, com a estrada de ferro Carajás para serem exportados pelo porto de Itaqui, ao redor da qual se criaram usinas de ferro-gusa e de alumínio. 8.7- A principal cidade é São Luís, Capital do Maranhão, com edifícios antigos que simbolizam um passado mais rico e um presente em decadência. Na verdade, o Meio-Norte, já teve o seu período de esplendor econômico no século XVIII e parte do século XIX, quando o cultivo e a exportação do algodão lhe renderam vultosos recursos financeiros que aí foram parcialmente investidos. ATIVIDADES I- Explique por que o Nordeste é considerado como a região-problema do Brasil. Essa imagem é de todo verdadeira ou apenas parcialmente? Justifique. II- Por que, apesar de ser a mais rica das sub-regiões nordestinas, a Zona da Mata concentra a maior parte dos problemas sociais do Nordeste? III- Explique o que é o Sertão, quais são as suas características naturais ou fisiográficos e o que significa a expressão indústria da seca. IV- Caracterize as sub-regiões do Nordeste. Explique porque o Nordeste constitui uma área de repulsão populacional.