Formação - Seminário Internacional Fazendo Gênero

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Questões de gênero e educação ST. 58
Carla da Silva
Drª Mirian Faury (Orientadora)
PUC Campinas
Palavras-chave: Formação Profissional, Estagio e Genero
Formação profissional, estágio e gênero: aspectos da questão
INTRODUÇÃO
A Formação Profissional tem como tarefa qualificar indivíduos a exercerem uma profissão,
que contemple uma demanda especifica, cabendo às instituições de ensino, a preparação e a
formação do estudante para a vida profissional.
O trabalho profissional em Serviço Social foi e é basicamente exercido no meio de
mulheres e por mulheres; a grande maioria dos usuários atendidos foi e é composta por
pessoas do sexo feminino. (Faury, 1998).
Atuação profissional de Serviço Social se reporta à intervenção no meio social, o que
aumenta a responsabilidade do profissional e do estudante de propor e construir políticas públicas,
sociais e de atendimento que contemplem esta demanda.
Este trabalho é resultado de pesquisa que levantou questões sobre a formação profissional
dos estudantes de Serviço Social, na área de gênero, examinando os conhecimentos subjacentes ao
exercício da prática da/do assistente social, associados á execução de políticas publicas na área de
gênero.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Os procedimentos metodológicos utilizados foram a pesquisa bibliográfica com
levantamento e análise de documentos, bem como a realização de pesquisa quantitativa e
qualitativa, com o instrumento de coleta de dados, através de questionários, respondidos pelos
participantes.
A pesquisa foi aplicada com discentes de Serviço Social, durante o Encontro Nacional de
Estudantes de Serviço Social – ENESS, que se realizou no período 24 a 29 Julho de 2005 na
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, em Recife – Pernambuco. A pesquisa pretendia
atingir quatro estudantes de cada região do país, totalizando 28 participantes, de acordo com a
divisão da Executiva Nacional de Estudantes de Serviço Social – ENESSO. No entanto, pela
dinâmica do encontro e pela a ausência de estudantes de determinadas regiões no encontro, não foi
possível aplicar os questionários com todos durante o evento. Assim utilizamos o recurso de enviar
os questionários por e-mail, e obtivemos um retorno de 60% dos questionários enviados.
Pela dificuldade de se estabelecer contato com discentes de algumas regiões, não foi
possível atingir a proposta de 28 participantes, sendo assim, a pesquisa totalizou 18 participantes de
diferentes escolas. Todas as VII regiões da ENESSO foram contempladas, pelo menos com um
representante de cada região. Os participantes da pesquisa foram escolhidos aleatoriamente.
DESENVOLVIMENTO
A Formação Profissional, para o curso de Serviço Social, tem uma longa trajetória de lutas e
conquistas, travadas pela categoria e pelos estudantes, tendo sempre uma visão de qualificação e
aperfeiçoamento, pois a responsabilidade de se formar um profissional para o social, se torna cada
vez mais difícil. Levando em consideração que o Brasil tem diversidade de culturas, e necessidades
regionalizadas, gerando diversos problemas sociais e conjunturais, a necessidade de profissionais
atuando no social aumenta, e ao mesmo tempo, exige o aprofundamento de uma gama de teorias e
práticas vividas e aprendidas no decorrer da Formação Profissional. Por este motivo a preocupação
das escolas de Serviço Social, em formar profissionais capacitados para atuar nesta conjuntura se
torna um ponto prioritário, no sentido de rever a historia vivenciada por esta categoria,
relacionando-a com os tempo de hoje, para verificar os avanços e desafios, da Formação
Profissional do Assistente Social.
Podemos perceber que a discussão de gênero dentro das universidades brasileiras, começou
durante a ditadura militar. As universidades se expandiram, assim como o ingresso da mulher nesta
instituição. Nesta época houve a institucionalização do divórcio, que permitiu o repensar de novos
parâmetros de vida para as mulheres da classe media, que estavam à procura de um projeto de
identidade e autonomia. Estes novos ideais perpassam as questões sociais antes impostas e agora
revistas, como o casamento, a maternidade, o lar, a educação entre outros.
Vários cursos superiores, começam a perceber esta demanda e passam a discutir e planejar,
como trabalhar o conceito de gênero nas salas de aulas, considerando que somente a educação muda
e transforma a sociedade, e que esta educação, está vinculada à educação formal.
O Serviço Social também começa a perceber estes novos ideais da sociedade, bem como as
mudanças da população, e passa a debater estes questionamentos dentro da categoria, nos fóruns a
respeito das mudanças de currículo e formação profissional.
Pensar a partir da categoria teórica gênero nos dá a possibilidade de entender as relações
entre os sexos também no âmbito da cultura, do simbólico, das representações, e isso é
muito importante quando se pensa em educação, porque, quando trabalhamos nessa área,
reconstruímos a cultura, os valores, os símbolos nas novas gerações, transmitindo ou
recriando, reproduzindo ou transformando as hierarquias, as diferentes importâncias
atribuídas socialmente àquilo que é associado ao masculino e ao feminino. (Faria, et
al.1999, p.09).
Hoje a política educacional está vinculada a um sistema neoliberal que tem como objetivo os
valores econômicos intensamente associados à masculinidade: competitividade, desempenho,
racionalidade tecnológica, eficácia, produtividade. Tais objetivos associados às características
masculinas, levam à discriminação da mulher.
Estes conceitos demonstram que é necessário mudar as estruturas educacionais e se voltar à
discussão de gênero, dentro das salas de aula, preparando os alunos para atuarem na sociedade de
maneira igualitária.
O curso de Serviço Social é composto majoritariamente por mulheres e a clientela atendida
também é composta por mulheres. Atuação profissional se reporta à intervenção no meio social, o
que aumenta a responsabilidade do profissional e do estudante de propor e construir políticas
públicas, sociais e de atendimento que contemplem esta demanda.
Estudar a questão de gênero dentro da sala de aula significa elevar o nível de criticidade do
estudante e prepará-lo para o enfrentamento destas questões em campos de estágios e
posteriormente na vida profissional.
As transformações societárias das ultimas décadas, e a exigência de um novo olhar sobre
esta temática, possibilitou a abertura da discussão e da produção de pesquisas sobre a temática de
gênero.
A discussão sobre gênero, no curso de Serviço Social, iniciou-se por volta de 1993, com a
aprovação da Lei de Regulamentação da Profissão, que prevê um amplo debate e aprendizagem
sobre a questão, por entender que a profissão de Assistente Social, atua direta ou indiretamente
sobre esta temática, e que cabe ao profissional propor, executar e discutir políticas públicas e sociais
voltadas para a questão das mulheres, com o levantamento de demandas emergentes provindas do
campo de trabalho e dos campos de estágios.
Surgem desta relação bipolar: vivência pessoal x formação – ação profissional, as várias
identificações, no cotidiano, das necessidades sociais – objeto da intervenção do Serviço
Social. Nessa intersecção de vivências e ações, situa-se o gênero como objeto de reflexão e
ação do Assistente Social. (Faury, 2003, p.113).
A Formação Profissional do Assistente Social deve perpassar pelos estudos e pesquisas
voltadas à questão de gênero, pois são os discentes de hoje os atuantes profissionais de amanhã.
Ressaltamos que este debate está sendo fomentado pela categoria, há pouco tempo, e que são
poucas as escolas de Serviço Social, que tem o tema estudos de gênero como disciplina, sendo ele
de suma importância, pelo fato de que se torna necessário o conhecimento da história e do
cotidiano, para uma atuação eficaz, sobre os problemas enfrentados por esta demanda emergente
hoje.
A Formação Profissional do Assistente Social tem como objetivo, preparar o aluno, para a
atuação direta e indireta nas questões sociais assim, tem por obrigação contemplar a questão de
gênero, por entender que não se transforma a realidade, superficialmente e sim integralmente, sendo
que este debate tem que ser começado e consolidado durante a Formação Profissional do estudante.
RESULTADOS DA PESQUISA
Os estudantes pesquisados representam 71% do sexo feminino e 29% do sexo masculino,
com a faixa etária predominando entre 19 e 23 anos 72%. Entre 24 a 27 anos, correspondem a 16%,
11% tem a faixa etária entre 28 e 30 anos. Estes discentes na sua maioria, são provenientes de
Faculdades Federais que representam 45%, Faculdades Privadas 45% e 10% vem de Faculdades
Estaduais.
A grande maioria, 67% dos estudantes informou que a discussão sobre gênero está presente
nas Universidades, porém em forma de seminários, oficinas, palestras, núcleos de estudos e debates,
apenas 2 estudantes de universidades diferentes, relataram que têm gênero como disciplina.
Estudos de Gênero entre a maioria dos entrevistados é apresentado como disciplina
optativa, o que demonstra que precisamos evoluir neste tema, trazer para os bancos universitários a
discussão e o debate. Significativos 33% responderam que não têm esta disciplina e muito menos
qualquer outro recurso que propicie debate a respeito.
Nos campos de estágios a questão de gênero e discutida por 57% dos pesquisados, em forma
de atendimento preferencial, discussão em grupos, atendimento individual, entre outros recursos
que os pesquisados citaram.
Com referência à questão se o tema Gênero influencia a atuação profissional no Campo de
Estágio, 50% dos alunos responderam que sim, vejamos relato:
“No campo de assistentes sociais, as mulheres são grande maioria. Muitas vezes isso é visto
como um trabalho” fácil”, já que quem exerce são as mulheres. Acho que as assistentes sociais
lidam com essa questão cotidianamente.”
Identificamos que a questão do preconceito é visível: os argumentos utilizados em sua
maioria são que os profissionais de Serviço Social por serem majoritariamente mulheres,
caracterizam um trabalho que é visto como algo peculiar, não se levando em conta as atribuições e
as competências estipuladas para o exercício da profissão. Isto mostra que devemos discutir e
levantar questões para eliminar os preconceitos, começando pelas universidades.
Os pesquisados, questionados a respeito de que se estudar gênero era importante para a
formação profissional respondem todos que têm a ciência da importância da questão de gênero, para
a formação profissional do Assistente Social, o que demonstra um grande avanço entre os discentes
que expuseram suas opiniões. Acima de tudo, nenhum participante se colocou ou demonstrou falta
de interesse sobre este assunto ou qualquer tipo de preconceito, pelo contrário, todos colocaram a
importância de se discutir, debater e construir um olhar critico sobre este assunto.
Com referência à questão do curso de Serviço Social ser um curso majoritariamente de
mulheres, e a pesquisa ter 29% dos participantes do sexo masculino, isto não interferiu em nada nas
respostas, o que mostrou um amadurecimento por parte dos estudantes homens sobre este tema, e
surpreendeu pela forma das respostas serem bem elaboradas e propositivas. O interesse maior por
parte dos estudantes foi inclusive sobre a oportunidade que esta discussão possibilitou sobre um
desabafo, perante a omissão das faculdades sobre este assunto e a vontade de discutir e aprender
mais sobre o tema.
A sociedade ainda carrega traços machistas, que oprimem e excluem as mulheres,
principalmente na questão trabalhista, onde este problema se torna cada vez mais visível, mas
estamos caminhando para a mudança e podemos perceber isto claramente nesta pesquisa. Os
homens assim como as mulheres demonstraram preocupação e interesse sobre este assunto, o que
nos remete a pensar que estamos caminhando, mas como tudo é um processo, temos que continuar a
lutar e ter paciência para combater o preconceito constituído durante séculos por nossa sociedade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos destacar que os pesquisados são de diversas partes do Brasil, o que enriqueceu o
trabalho, sabemos que o Brasil é rico em diversidade, desigualdades sociais e culturais. Percebemos
que embora existam estas diferenças, elas não foram explicitadas pelos alunos, pelo contrário, o
perfil do estudante é praticamente igual em todo território nacional, o que não trouxe muitas
divergências entre as questões apresentadas.
A questão de gênero foi levantada pelos estudantes como algo emergente a ser discutido e
trabalhado, principalmente para o Assistente Social que trabalha direta ou indiretamente com esta
problemática. A maior preocupação dos estudantes é que as faculdades não conseguem perceber
este assunto emergente, obrigando o aluno a buscar conhecimentos fora da sua grade curricular, o
que dificulta o debate devido ao dia a dia do estudante.
Os discentes levantaram questões preocupantes em relação a valores morais que permeiam a
questão de gênero e aparecem até mesmo entre colegas de sala de aula e profissionais, por este fato
os pesquisados demonstraram que precisamos transformar esta realidade com estudos e discussões
dentro e fora das salas de aula.
Referências
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mulheres. Rio de Janeiro: Coleção Gênero/ Rosa dos Tempos, 1997.
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Brasil, MEC/ Inep.Escolaridade das mulheres supera a dos homens. Brasília, 1999.
Brasil. Lei nº 9.394, 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional
(Lei de Diretrizes e Bases da Educação – LDB). Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil.
Brasília, 23 Dez. 1996.
Coletânea de Leis, decretos e regulamentos para a instrumentação do (a) Assistente Social
“Legislação Brasileira para o Serviço Social”, São Paulo, CRESS, 2004.
Faria, Nalu. et allii. Gênero e Educação. São Paulo: Sempre viva/ Organização Feminista, 1999.
Faury, Mirian. Assistentes Sociais e a Temática relações de gênero. Cadernos de Serviço Social,
FSS / PUC Campinas. Campinas: ano. VII, nº 11, 1997.
Faury, Mirian. Estudando as questões de gênero em serviço social. Revista Pro – Posições –
Faculdade de Educação – UNICAMP. Campinas: vol. 14, nº 01, 2003.
Faury, Mirian. Feminismo e Serviço Social. Cadernos de Serviço Social FSS / PUC Campinas.
Campinas: ano. VIII, nº 13, 1998.
Iamamoto, Marilda. Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e formação profissional. São
Paulo: Cortez, 2005.
Shallat, Lezak; Paredes, Ursula. Conceitos de Gênero no Planejamento do Desenvolvimento: Uma
abordagem básica. Canadá, 1995.
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