Título livro Cortiça e Arquitetura Uma Edição da Euronatura, 2011. Capa Fotografia Pavilhão Centro de Portugal ( Coimbra ) Fotógrafo: Jesús García Autora Fernanda Chiebao Revisão de textos Ana Filipa Beato Cristiano Jorge Vieira da Costa Pires Eclair de Fátima Balotari Chiebao Fábio Balotari Chiebao Helder Coelho Hugo Costa Pedro Lima Gaspar Conselho consultivo Gláucio Gonçalves Ignacio García Pereda Luís Manuel da Costa Cabral e Gil Desenho gráfico Jesús García Rubén Ulloa Fotografía Jesús García Impressão Espaço Gráfico. Lda R. Coronel Luna de Oliveira, nº 6- A/B 1900-167 Lisboa Depósito legal ISBN: 978-972-98932-7-8 Centro para o Direito Ambiental e Desenvolvimento Sustentado A presente obra de investigação resultou-se do apoio e da partilha de informação e conhecimento de diversas pessoas, que, com responsabilidade, compromisso e seriedade, tornaram possível a concretização deste projeto. Primeiramente, estou muito grata à colaboração de toda a equipe da Euronatura envolvida neste trabalho, especialmente de seu idealizador, o engenheiro Ignacio García Pereda, e da investigadora e coordenadora de projetos, Stefania Mattarello. Sou agradecida ao auxílio prestado pelos membros do Conselho Consultivo e pelos revisores de texto, que, por meio da sua distinção intelectual e dos seus conhecimentos acadêmicos, contribuíram na retificação e no enriquecimento do conteúdo deste livro. Estou também muito grata a todos que contribuíram, tanto direta como indiretamente, nos processos de levamento de dados históricos referentes às instituições estudadas; aos habilidosos designers Jesús García e Rubén Ulloa Sánchez, realizadores de um trabalho digno de grande destaque; aos gabinetes de arquitetura, pela disponibilização de materiais informativos das obras investigadas, e pelos construtivos comentários e sugestões para o melhoramento desta obra; e a todos os amigos e colegas que acompanharam a finalização deste longo e laborioso projeto. Agradeço aos patrocinadores deste livro pelo apoio seu financeiro, fator essencial para transformar em realidade o sonho de ter este projeto desenvolvido e concretizado. Por fim, gostaria de exprimir a minha mais profunda gratidão pelo apoio familiar incondicional recebido durante os últimos meses de intenso trabalho, dos meus pais e do meu irmão, que, mesmo à longínqua distância, acompanharam o desfecho desta obra. O presente livro tem o intuito de informar, conscientizar, Nesse promover, assim como desmitificar, o uso da cortiça publicação do livro sobre a Junta Nacional da Cortiça nas novas e modernas propostas arquitetónicas, destacando (1936-1972), o segundo volume dessa coleção, lançado as potencialidades desta matéria-prima como material de em 2009, cuja efetuação redespertou o interesse no uso construção. Essa temática é abordada, particularmente, da cortiça na arquitetura. A Junta Nacional da Cortiça sob o ponto de vista técnico-informativo, cuja abrangência - instituição fundada nos primórdios do Estado Novo, de ação oferece um amplo leque de soluções para o uso que desempenhou um papel de capital importância no diversificado da cortiça na arquitetura, como, por exemplo, gerenciamento da indústria corticeira de Portugal por mais em revestimentos interno e externo de paredes, tetos e de 35 anos - criou, nos seus primeiros anos de existência, um pavimentos, e até mesmo no próprio design de móveis. laboratório de pesquisas absolutamente pioneiro na Europa contexto, é importante mencionar também a (Pereda, 2010). A sua prioridade no âmbito da pesquisa O interesse na cortiça pela Euronatura, Organização Não- concentrou-se na viabilização e na implementação do uso Governamental (ONG) de ambiente sem fins lucrativos da cortiça como material de construção, o que incitou fundada em 1997, com políticas dirigidas para o direito um dos seus fundadores, o engenheiro Almeida Garret, a ambiental inicia-se visitar os melhores laboratórios dos Estados Unidos com o em 2006, o ano em que foi publicado “Joaquim Vieira propósito de aperfeiçoar as técnicas de manejo da cortiça, Natividade (1899 - 1968) - Ciência e Política do Sobreiro e a incentivar o uso deste material na construção de casas e da Cortiça”. Esta obra biográfica sobre o engenheiro económicas durante o governo de António de Oliveira agrónomo e silvicultor Joaquim Vieira Natividade constitui Salazar. e o desenvolvimento sustentável, o primeiro volume da coleção “História, Cultura e Política Florestal”, da Euronatura. O terceiro e mais recente volume dessa coleção, intitulado Mulheres Corticeiras, de Stefania Mattarello, relata as experiências laborais e pessoais das mulheres do setor corticeiro, e mostra-nos que o valor e a aplicação da É importante evidenciar que os primeiros contatos diretos cortiça vão muito além do uso desta matéria-prima como com a cortiça usada na construção, realizados durante as mero isolador de garrafas de vinho. primeiras visitas aos edifícios investigados, permitiram-me considerar o seu aspecto físico, a sua integração, aplicação Este estudo investigativo deu-se nos primeiros meses e eficácia num contexto pragmático. Tais considerações de 2010, com a minha chegada à Euronatura através da serviram-me, indubitavelmente, de estímulo e orientação participação do programa Leonardo da Vinci, um programa durante o progresso dos estudos, através dos quais de estágio internacional promovido pela União Europeia. procurei ressaltar as potencialidades da cortiça como O apoio extensivo que recebi do programa mencionado material de construção. acima, e, mais tarde, de um projeto de natureza semelhante do Serviço Voluntariado Europeu (SVE), foi imprescindível No decorrer da investigação, sucedendo as pesquisas para a realização do presente trabalho. bibliográficas, foram realizadas visitas a diversas obras arquitetónicas em que a cortiça foi usada como material Para concretizar este projeto, foi selecionada uma equipa de construção, das quais se destacam as seguintes: de profissionais que constituem o Conselho Consultivo, Observatório do Sobreiro e da Cortiça, em Coruche (10 com o objetivo de lograr o maior grau de excelência e de março de 2010), Convento dos Capuchos, em Sintra exatidão dos conteúdos publicados. Para tal, tive a honra (12 de abril de 2010), Eco-cabana, em Cascais (15 de de contar com o apoio dos engenheiros Luís Manuel da abril de 2010), Armazém Quinta do Portal, em Sabrosa 2 e Ignacio García Pereda . Ademais, (21 de abril de 2010), Logadega, em Évora (17 de maio salientando meu país de origem, o Brasil, foi feito também de 2010), Colégio Pedro Arrupe, em Lisboa (18 de maio um convite ao profissional que se ocupa das questões da de 2010). Além das obras mencionadas, estão ainda arquitetura sustentável desse mesmo conselho, o arquiteto presentes neste livro descrições de outras obras; contudo, Costa Cabral e Gil 3 Gláucio Gonçalves . por razões associadas à logística do projeto, a análise in Fotografia Jesús García 1 loco restringiu-se apenas a uma parcela do número total Durante as sessões de entrevistas, quando perguntados de edifícios estudados. sobre o porquê do uso da cortiça como parte do conjunto de materiais ordinários usados na construção, os arquitetos em Deve-se notar que, a despeito de estarem incluídas algumas questão discorreram acerca da necessidade da utilização obras arquitetónicas realizadas fora de Portugal, como é de um material natural na arquitetura, que dispusesse de o caso do Pavilhão de Portugal na Expo de Shangai 2010, qualidades físicas e químicas particulares, cuja obtenção projetado pelo arquiteto português Carlos Couto, neste não contribuísse para a degradação ambiental. livro, foi dada maior atenção às obras levadas a cabo em território português. Nesse contexto, considerou-se ainda A partir das informações e do conhecimento adquiridos relevante fazer menção de algumas obras que obtiveram das incessantes leituras, do estudo e da análise in loco considerável notoriedade, mas que não foram realizadas, dos edifícios, bem como do contato próximo com os como, por exemplo, o projeto Abrigo em Cortiça (CBS - Cork autores Block Shelter, em inglês), do jovem arquiteto português responsabilidade de coordenar um estudo dessa magnitude David Mares, vencedor do concurso internacional de conduziu-me ainda a uma outra etapa, na qual fomentei o design denominado Shelter Competition, promovido pelo estabelecimento de uma relação próxima com gabinetes Museu Guggenheim de Nova Iorque, em 2009. de arquitetura e seus responsáveis. Tencionou-se, desse dos projetos investigados neste trabalho, a modo, adquirir a colaboração direta desses contatos nesta Subseguiu-se uma série de entrevistas com os autores e investigação, com a disponibilização de diversos tipos de responsáveis pelos projetos incluídos neste livro, que, com material informativo, tais como fotografias e imagens 3D muita simpatia e disposição, responderam a uma variedade de projetos arquitetônicos, e memoriais descritivos das de perguntas e relataram suas opiniões a respeito do uso da obras estudadas. cortiça na arquitetura. Uma grande parte das entrevistas foi realizada em Lisboa; as restantes aconteceram em cidades Finalmente, com no norte do país, sempre com avidez e a expectativa investigativos de alcançar as respostas para as inúmeras dúvidas que gradualmente desenvolvido, ajustado e consolidado com o surgiram com as primeiras leituras. Graças à cooperação e apoio de todos os intervenientes mencionados nesta obra, anuência dos autores, foi-me possível transmitir de forma que tem, como um de seus propósitos, o intento de divulgar correta, precisa e coerente, o conteúdo de cada projeto. o uso da cortiça - uma das grandes riquezas naturais do o adiantamento presente trabalho, dos o processos projeto portuguesas e do mundo mediterrâneo - na arquitetura. foi Evidentemente, a consolidação deste livro ressalta e reafirma a importância da difusão e do incentivo do uso dessa matéria-prima como uma alternativa ecológica portanto, sem implicações degradantes para o ambiente - de material de construção para as futuras edificações. Percorrer tal caminho significa, acima de tudo, pôr em prática o conceito de arquitetura sustentável. Fernanda Chiebao 1 É licenciado em engenharia química pelo Instituto Superior Técnico (IST) de Portugal, e Meste em química orgânica tecnológica pela Universidade Nova de Lisboa (UNL). É autor de 8 livros relacionados com a história, tecnologia, normalização e aplicação da cortiça na arquitetura, bem como com a relação cortiça-vinho. É co-autor do verbete Cork da Ullmann’s Encyclopedia of Chemical Technology. Até julho de 2009, foi autor ou co-autor de 114 trabalhos técnicos, científicos e de divulgação, publicados em Portugal e no exterior. Incluem-se ainda teses e monografias, e 125 comunicações em conferências, congressos, encontros e simpósios nacionais e internacionais. 2 É autor de dois livros sobre a história corticeira: Joaquim Vieira Natividade (1899 - 1968) e Junta Nacional da Cortiça (1936-1972), ambos publicados pela Euronatura, nos anos de 2008 e 2009, respectivamente. 3 É o arquiteto-fundador do Espaço Brasileiro de Arquitetura (EB-A), e designer de interiores, especializado em Planejamento de Empreendimentos Sustentáveis - ANAB Brasil. Escreve artigos para o jornal Estado de São Paulo, na coluna “Mercado imobiliário e sustentabilidade”, e para o sítio eletrônico do Portal Terra, no espaço “Reciclar conceitos em primeiro lugar”. É também renomado pelos projetos desenvolvidos para as empresas Esso e Angola LNG. Fotografia Jesús García 11 “ Um bom arquiteto, competente dentro do seu campo de responsabilidade, é aquele que dá uma resposta eficaz. Circunstâncias várias, entre as quais o empenho, a convicção e a resistência podem facilitar um salto qualitativo, traduzindose num edifício brillhante que se destaca ou se torna invisível. É, muitas vezes, mais difícil de conceber um edifício que se apaga. ” Álvaro Siza 14 O presente livro divide-se em dois grandes temas, A arquitetura denominada sustentável fundamenta-se em que estão patentes no seu próprio título: Cortiça e diversos parâmetros de construção, com o desenvolvimento Arquitetura. e o uso de técnicas e materiais naturais que priorizam a eficiência energética e a eco-sustentabilidade, cuja O primeiro dos temas é dedicado às características implementação resulte numa considerável atenuação do da impacto ambiental negativo oriundo das edificações. cortiça como matéria-prima, material originário, principalmente, da casca do sobreiro (Quercus suber), no qual são especificamente abordadas as suas qualidades Nesse contexto, é importante fazer menção da elevada taxa intrínsecas, bem como as técnicas usadas no processo de consumo de energia final 4 dos edifícios em Portugal, de descortiçamento. Ademais, são brevemente discutidos correspondente a cerca de 30% do consumo nacional médio o desenvolvimento histórico e as particularidades dessa de energia final. Ainda, na Europa, cerca de 40% do consumo árvore florestal na indústria corticeira em Portugal, país de energético total - segundo os valores da energia final - e maior produção, transformação e exportação de cortiça do cerca de 30% das emissões de dioxido de carbono (CO2), mundo. têm origem no parque edificado. Os dados mencionados revelam claramente a necessidade de percorrer caminhos O segundo tema, por seu turno, aborda as características alternativos, em que a prática da arquitetura sustentável, e aplicações de uma vasta gama de produtos constituídos com a utilização de materiais naturais e eco-sustentáveis de cortiça, usados no setor da construção para diversos para a redução do impacto ambiental deletério proveniente fins, dos quais são destacados os aglomerados de cortiça das construções, corresponda a uma estratégia viável e utilizados para o isolamento térmico e a absorção acústica preferencial no sector da construção 5 . num edifício. São também abordadas as singularidades da aplicação da cortiça nas edificações investigadas neste O bem-estar oferecido pelo meio físico num edifício trabalho, partindo das obras de caráter histórico às obras depende de uma série de fatores, mas, sobretudo, das contemporâneas, das quais as últimas servem de exemplos suas características ambientais, tais como temperatura, aos novos conceitos para o uso da cortiça na arquitetura. iluminação e qualidade do ar. De facto, são essas variáveis Por fim, são apresentados e discutidos os conceitos de que constituem os principais parâmetros numa abordagem arquitetura sustentável. eco-sustentável num projeto de arquitetura, e que têm 4 A energia final corresponde à quantidade de energia - como, por exemplo, a energia sob forma de eletricidade - disponível para uso em uma edificação. Estudo realizado entre dezembro de 2004 e Março de 2006 pelo Centro de Investigação sobre a Economia Portuguesa ( CISEP) 5 Pinheiro, M. D., Ambiente e construção sustentável ( Instituto do Ambiente, Amadora 2006). 15 estimulado o uso de materiais naturais na construção - em particular, para o isolamento térmico em edifícios. Nessa contextura, consideradas as particularidades da cortiça, um material natural, durável, eco-sustentável e de ampla aplicabilidade, torna-se evidente a compatilidade desta matéria-prima com os conceitos fundamentais da arquitetura sustentável. Em assentimento e incentivo ao uso de materiais naturais e renováveis - a cortiça, em particular - nas novas propostas arquitetónicas, a concretização do presente projeto tem o modesto desígnio de ampliar e partilhar o atual conhecimento relativo ao uso da cortiça na arquitetura. Para tal propósito, neste livro, a temática Cortiça e Arquitetura é apresentada e discutida com o auxílio de fotografias, ilustrações, tabelas, fórmulas matemáticas e definições, com o intento de facilitar a compreensão desta valiosa e promissora combinação para a arquitetura sustentável. 01 18 C ortiça, parênquima suberoso originado pelo meristema súbero-felodérmico do sobreiro 6 (Quercus suber L.), constituindo o revestimento do seu tronco e ramos (Gil, 1998). O habitat natural desta espécie situa-se na zona mediterrânica Europeia e no Norte de África. Em Portugal os sobreiros encontram-se disseminados por todo o território nacional, em povoamentos puros e mistos, mas com predominância a sul do rio Tejo. Espaço florestal composto de sobreiros, denominado “montado”, é normalmente um sistema agro-silvopastoril, onde simultaneamente com produção de cortiça se faz o pastoreio e culturas agrícolas. Os montados de sobro têm sido um grande aliado para a fauna e a flora selvagens. Cite-se que 42 espécies de aves dependem destes, incluindo algumas espécies raras e em vias de extinção. Refira-se também que em apenas 1 m² de montado foram identificadas 60 espécies de plantas. Outras referências apontam o montado de sobro como o habitat de 140 espécies de plantas e 55 espécies de animais, facto eventualmente inigualável a nível europeu 7 . Para além da produção florestal e das atividades associadas à extracção de cortiça ,existem outras atividades como a caça, a apicultura, a apanha de cogumelos e ervas aromáticas e medicinais de grande importância nas regiões do montado. O contributo ambiental do montado é caracterizado pela capacidade fixadora de CO2, da adaptação em solos económicamente inviáveis, de modo a impedir o processo de desertificação, com o aumento da taxa de infiltração das águas da chuva. A extração da cortiça decorre nos meses de primavera e verão , em meados de maio até o final de agosto. Nesse período a árvore encontra-se fisiologicamente ativa na produção de cortiça, o que torna fácil a separação da camada de células de cortiça recentes do tronco. O corte é feito manualmente com machado, por golpes sucessivos ao longo de linhas verticais e horizontais, em volta da árvore, o que permite retirar a cortiça em grandes pranchas, processo importante que determinará a qualidade da matéria-prima. Logo após a extração da casca, o tronco do sobreiro é marcado com o último algarismo, referente ao ano da tiragem. Cada fase de extração da casca do sobreiro, a matéria-prima recebe denominações diferentes. A primeira a ser retirada chama-se “cortiça virgem”, uma cortiça muito irregular. A segunda designa-se por “secundeira” e, apesar de ser um pouco mais regular que a anterior, tem utilidade reduzida. Por fim, a “amadia” – a mais regular de todas, extraída a cada 9 anos. Esta é a matéria prima principal para o fabrico dos diversos subprodutos da cortiça. 19 Ao Montado só lhe foi reconhecido maior valor quando, a partir do século XVIII, passou a ser visto como gerador de um bem valioso, a cortiça, que teve uma enorme expansão, com a sua procura a partir de finais do século XIX como matéria prima para o fabrico de vedantes (Silva, 2008/2009). Entretanto, foi somente no século XX que a produção corticeira em Portugal teve grande crescimento. O aumento na produção foi acompanhado de um grande desenvolvimento da indústria de transformação da cortiça pois, em 1925, 90% deste material não sofria qualquer elaboração industrial importante. Este facto deve-se à Guerra Civil Espanhola e às confrontações armadas na Argélia, reduzindo significativamente a produção nesses países, tendo sido Portugal a responder à procura 8 . Atualmente, o desenvolvimento da indústria corticeira tem vindo a fomentar acções de reflorestação, apesar de apenas a área de montado no Alentejo e Lisboa e Vale do Tejo apresentar um crescimento positivo na última década ( Silva, 2008/2009). “ 6 Esperemos que, num futuro próximo, nós, portugueses,sejamos capazes de arrancar ao nosso sobreiro alguns segredos importantes que é muito possível que ele ainda guarde. Talvez ele um dia revele se a sua cortiça – dádiva de Deus, milagre da Natureza – pode ainda servir para algo ainda mais importante do que as rolhas e do aproveitamento do quanto deriva da sua fabricação e se assim for, oxalá que sejam portugueses a descobrir-lo 9 . ” O sobreiro é uma árvore de porte médio, com uma copa ampla e altura média de 15 a 20 metros, podendo atingir, em casos extremos, os 25 metros. A raiz principal profunda bastante no solo em busca de humidade nas camadas mais fundas, razão que lhe permite viver em regiões relativamente pouco chuvosas. ANTÓNIO, Nuno Cruz ‐ O Montado de Sobro e os seus produtos. Consult. 2001. 08.25, em http://naturlink.sapo.pt/ 7 Disponível em disponível em <www.portalflorestal.com>. Acesso 10.08.2011. 8 OLIVEIRA, Manuel Alves de; e OLIVEIRA, Leonel A Cortiça. Casais de Mem Martins, Rio de Mouro: Corticeira Amorim S.G.P.S., Printer Portuguesa, Lda., Maio, 2000. 9 PERES, Carlos Reminiscências de há 50 anos. Boletim Cortiça, Suplemento do nº600. Lisboa: Instituto dos Produtos Florestais, 1988, pp 75. 20 A primeira tiragem da cortiça, chamada “ desbóia”, pode árvore, que acelera nos dois/três primeiros meses, depois ser feita quando a árvore tem entre 25 a 30 anos. A cortiça se reduz durante o estio e parte do outono, e quase cessa extraída, denomina-se, então, cortiça “virgem” e nesta nos primeiros meses de inverno. Cerca de dois terços do primeira remoção obtêm-se cortiça dura, pouco elástica, crescimento suberoso anual realizam-se durante o primeiro irregular e compacta. Somente na terceira tiragem, quando período. a árvore tem mais de 40 anos, se consegue cortiça de qualidade superior. Ao examinarmos no microscópio, verificamos que as células da cortiça produzidas durante o período primaveril A cortiça extraída apresenta-se sob a forma de “pranchas” são mais altas do que largas e têm membranas delgadas. caso possua forma semi-tubular de grandes dimensões, A última assentada de células de cortiça, formada antes ou de “bocados” quando consistir apenas em pedaços de da árvore entrar em repouso invernal, é constituída por menores dimensões (Gil, 2005). células achatadas e com membranas espessas. Esta alteração gradual da espessura das membranas e das Como planta lenhosa, o seu ciclo anual compreende duas dimensões menores das células, produzidas no Outono, fases: a atividade vegetativa, que se inicia na primavera origina diferentes colorações na prancha, visíveis nas até ao final do outono e o período de repouso invernal, que camadas e extractos anuais. se prolonga pelos meses de novembro a fevereiro, em que a cortiça é menos produtiva. Depois do período invernal de repouso, a atividade da assentada geradora recomeça, produzindo novas Nas duas fases que caraterizam o ciclo anual desta árvore, assentadas de células durante a primavera, verão e outono somente uma delas interessa à produção suberosa, com e consequentemente paralisa-se no inverno. duração aproximada de oito meses. O desenvolvimento da cortiça acompanha a intensidade de crescimento da 21 Há alguns séculos atrás o sobreiro cobria de forma mais homogénea todo país. Na época dos descobrimentos houve o um aumento no consumo de madeira, devido ao crescimento da população e à necessidade France Atlantic Ocean da sua utilização na construção de navios, originando assim, o abate de sobreiros e a crescente colheita e comércio da Italy cortiça. Spai n Portugal produz anualmente uma média de 150 mil toneladas de cortiça, valor que representa 50% da produção mundial. Esta é a matéria prima que alimenta uma indústria de Mediterranean Sea grande importância para a economia nacional, transforma cerca de 70% da cortiça produzida no mundo 10 . North Africa A maior área florestal está localizada ao sul do rio Tejo, no Ribatejo, Alentejo e Algarve, regiões que representam quase 90% da produção nacional. Por outro lado, as indústrias corticeiras concentram-se mais nos distritos de Aveiro e Setúbal, onde a percentagem é significativa, alcançando os 75% e 13% 11 . Imagen: Rubén Ulloa Desde o início do século XX, que os governos dos países corticeiros se conscientizaram da necessidade de desenvolver políticas corticeiras, de proteção e valorização deste material. 10 FORUM Projectos, 2005. A utilização e a valorização da propriedade industrial no sector da cortiça. 11 Sector da Cortiça em números 2009. ( APCOR,Cork Information Bureau). 22 Práticas precipitadas e impróprias na gestão do montado, Unidos da América, possuidores dos melhores laboratórios como o descortiçamento prematuro e intensivo, corticeiros do mundo, desde os anos 20. foram corrigidas a partir de 1920, com o surgimento das primeiras leis que regulam as práticas de tiragem e gestão florestal. O mercado da cortiça viu-se enriquecido com algumas Além disso, o papel dos governos foi crucial em momentos descobertas realizadas na primeira metade do século XX, de perturbações económicas, como o caso da crise de quando John Smith verificou que os grãos de cortiça, em 1929. aquecimento e confinados ou comprimidos se aglomeravam, originando a cortiça aglomerada pura expandida. Nas épocas de crise, como nos anos 30 ou em épocas de guerra, como nos anos da guerra civil espanhola e da Outro avanço no sector foi a descoberta de Charles segunda guerra mundial, a cortiça passou a ser um produto Mcmanus em 1909, com a mistura de cola ou resina com estratégico, e a fileira da cortiça portuguesa ganhou grãos de cortiça, originando o aglomerado composto. notoriedade. Até esse momento, a maior parte da cortiça A fabricação de novos produtos permitiu era transformada fora do país, e a indústria nacional não resíduos gerados pela indústria rolheira. deixava de ser pequena e artesanal. A mecanização cresceu nas unidades fabris e uma maior capacidade produtiva, no caso das rolhas, foi proporcionada pelo uso de maquinarias mais eficientes. Na década de 40, com o decréscimo do sector na Catalunha (Espanha) e mais tarde nos Estados Unidos da América, Portugal ganha importância na transformação e exportação de produtos, e demarca-se como potência mundial da cortiça. Na primeira metade do século XX, a prancha de cortiça era o principal produto desta fileira nacional, sendo matéria prima destinada aos países responsáveis pela transformação do produto: Reino Unido (o grande transformador no século XIX), Espanha (Catalunha), Alemanha, França, Suíça, Rússia, Polónia, Checoslováquia, México, Japão e Austrália. Entre esses paises, se destacaram os Estados aproveitar os 23 Em épocas anteriores ao nascimento de Cristo, a cortiça Em Portugal utiliza-se a cortiça desde a constituição do já era utilizada em bóias nas artes da pesca e em sapatos, país, na construção, aplicada como isolante térmico, aplicações estas que de algum modo ainda hoje se mantêm. impedindo a entrada de frio e humidade no edifício, como Em 3000 a.C., na China utilizava-se a cortiça para aparelhos nos casos conhecidos, Convento dos Capuchos em Sintra, de pesca, tal como acontecia com os egípcios, babilónios, ano de 1560 e Carmelitas no Buçaco em 1628. assírios, fenícios e persas . Entretanto, demais obras e propriedades da cortiça serão 12 descritas no decorrer dos próximos capítulos, com o No Egito foi encontradas em sarcófagos milenares, cortiça intuito de fortalecer a imagem da cortiça como elemento utilizada como tampões nas ânforas , como forma de construtivo empregue em obras históricas e obras de vedação. Na Grécia, apesar de não se encontrarem mais caráter contemporáneo. 13 sobreiros, a sua existência no passado foi confirmada por registro da descoberta do filósofo Teofrasto ( séculos IV A cortiça faz parte da cultura humana como material a III a.C), a cortiça era também utilizada para bóias de técnico desde sempre, quer seja como vedante, isolante pesca. ou flutuador. Ainda hoje se acredita que não há melhor material natural ou sintético para substituí-la. Entretanto Entretanto, foram os romanos que alargaram o leque é necessário atualizar, explorar a matéria prima e de utilização da cortiça, na criação de cortiços para as partido das suas potencialidades, reconhecendo nela um abelhas, por ser má condutora de calor, nas redes de material promissor e projetado para o futuro. pescas, vedante de vasilhas, cobertura de habitações e até mesmo no fabrico de calçado feminino 14 . Na antiguidade a cortiça foi encontrada como material em mobiliários, em reforços de móveis e objectos de pequeno porte, tais como: berços, caixas, cofres, leitos, forros de arcas e portas. 12 Mestre, A., Campelo, M. da G.,Silva, M., Velhinho, R., 2006. Sector e materias de cortiça. (Dossier Info Cortiça, Susdesign). 13 s.f. Vaso antigo com duas asas, que servia para a conservação e o transporte dos líquidos e das sementes. Acesso: 10.08.2011 http://www.dicio.com.br/anfora/. 14 Oliveira, M.A. de; e Oliveira, L. A Cortiça. Casais de Mem Martins, Rio de Mouro: Corticeira Amorim S.G.P.S., Printer Portuguesa, Lda., Maio, 2000. tirar 02 26 O presente capítulo dedica-se à apresentação das potencialidades da cortiça na arquitetura, e à reafirmação deste material natural, eficiente e de ampla aplicabilidade, que, à face das exigências atuais do setor da construção, apresenta-se como uma alternativa apropriada e eco-sustentável de material de construção. Ademais, este capítulo tem o intuito específico de informar, com modéstia, os profissionais da área de construção sobre os benefícios da aplicação dessa matéria-prima. Entretanto é possível notar variedade de aplicabilidade da cortiça ao longo da história, quando empregada em coberturas exteriores, em casas de habitação tipo popular, em construções secundárias e abrigos temporários. Esteve presente também em coberturas em telha-vã 15 para o isolamento no interior de conventos, igrejas e aposentos no interiores de castelos. Além de, desempenhar o papel de revestimento no interior de silos, em pavimentos, paredes divisórias, paredes associadas à terra e tabiques. Como isolante acústico, esteve associada à madeira e tabiques externos. Atualmente, considerando toda a potencialidade da aplicabilidade da cortiça, pode-se dizer que, a utilização desta matériaprima como material de construção é relativamente limitada, restringindo-se, praticamente, à produção de aglomerados técnicos, usados em juntas de dilatação no intuito de atenuar as variações térmicas de estruturas em betão, e em revestimentos interiores dos edifícios - paredes, tetos e pavimentos - como isolamento térmico e acústico. Acredita-se que, isso decorra da carência de divulgação, por parte dos fabricantes, dos novos produtos em cortiça disponíveis no mercado da construção, assim como, do desconhecimento dos profissionais do setor da construção, que julgam não ter ciência das potencialidades de aplicação da cortiça. De facto, considerando as propriedades físico-químicas da cortiça e suas potencialidades de aplicação, é pertinente reconhecer e incentivar o uso desta matéria-prima renovável nas prospostas de arquitetura, a fim de minimizar o impacte ambiental deletério proveniente das edificações, em benefício tanto do ambiente, bem como da sociedade. 15 Mestre, A., Campelo, M. da G.,Silva, M., Velhinho, R., 2006. Sector e materias de cortiça. (Dossier Info Cortiça, Susdesign). 27 A cortiça é uma matéria-prima originária do sobreiro (Quercus suber), uma espécie quercínea mediterrânea de crescimento lento e longevidade duradoura, cujas propriedades são conhecidas desde a antiguidade. Os fenícios e os gregos, por exemplo, povos de grande distinção na navegação marítima e nas intensas atividades mercantis, já demonstravam interesse pela cortiça, que era empregada como meio vedante de ânforas 16 . Os romanos, por seu turno, faziam uso dessa matériaprima renovável como elemento flutuador em redes de pesca. Na Sardenha, a segunda maior ilha do mar mediterrâneo, as referências mais antigas sobre a utilização da cortiça remontam ao II e I milênios a.C., e revelam que alguns povoados, defendidos por muralhas e torres de fortificação, empregavam uma associação de placas de cortiça e terra para o levantamento de paredes. Deve-se notar que, apesar da extração da casca do sobreiro ser uma prática milenar, foi apenas no final do século XIX, com a descoberta, por John Smith 17 , da singular propriedade da cortiça granulada de aglutinar-se e formar aglomerados quando submetida a altas temperaturas, que a aplicação desta matéria-prima tornou-se mais ampla. Nas últimas décadas, dada a necessidade de servir-se de um material que atendesse aos requisitos de funcionalidade e conforto em uma edificação, a cortiça adquiriu, inclusivamente, um papel de destaque na arquitetura. Com a ampliação do conhecimento sobre as peculiaridades físicas da cortiça, em particular quanto à sua resistência ao desgaste, impermeabilidade e capacidade de isolamentos térmico e acústico, juntamente com o advento de técnicas inovativas para a sua aplicação nas propostas arquitetônicas, a cortiça adquiriu considerável relevância como material de revestimento. A partir da década de 1930, durante o governo de António de Oliveira Salazar, fomentou-se o uso da cortiça na construção de casas econômicas e de obras de caráter público. Dentre as obras públicas construídas durante o salazarismo, em que a cortiça foi usada como material de construção, destacamse o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e o Hospital de São João, no Porto. Ademais, o Hospital de Repouso de Lisboa, renomeado diversas vezes, e atualmente designado Hospital Pulido Valente, em homenagem ao Professor Doutor Franciso Pulido Valente, serviu-se dessa matéria-prima, nesse mesmo período, como material de revestimento para os isolamentos térmico e acústico da sua estrutura. 28 Impulsionado pelos benefícios e pelas vantagens da utilização da cortiça na arquitetura, bem como pela necessidade de elaborar produtos diversificados que destacassem a beleza natural desta matéria-prima, o mercado da indústria corticeira pôs-se a desenvolver aglomerados de cortiça para revestimentos - como, por exemplo, o aglomerado negro de cortiça - e peças de cortiça natural. Por meio da sua trituração em diferentes dimensões e da adição de pigmentos e texturas, em uma infinidade de procedimentos de fabricação, a cortiça distingue-se em uma larga gama de produtos para a construção. Com efeito, existe uma significativa quantidade e variedade de produtos de revestimentos disponíveis no mercado de materiais de construção. Contudo, é importante salientar que, devido às suas qualidades inerentes, das quais se destacam a sua durabilidade, elasticidade, impermeabilidade e qualidade de renovação natural, a cortiça apresenta-se como um material vantajoso e eco-sustentável. Além disso, considerando o seu processo inócuo de extração, a viável recuperação de subprodutos durante o seu processamento industrial, e a sua versatilidade de aplicação, essa matéria-prima apresenta-se como um material de excelência incontestável. Nesse contexto, considerando o estabelecimento e o desenvolvimento da indústria cortiçeira, e suas implicações sociais e econômicas na história contemporânea de Portugal, é importante reconhecer ainda o valor contribuitivo da cortiça no desenvolvimento urbano, na prosperidade comercial (embora, por vezes, instável), tanto regional como nacional, bem como no estímulo intelectual e cultural em defesa da presença desta matéria-prima na construção. 16 Vaso antigo com duas asas, que servia para a conservação e o transporte de líquidos e sementes. (Definição obtida do sítio eletrônico www.dicio.com.br/anfora/). 17 John Smith foi um fabricante estadunidense de coletes salva-vidas, que descobriu a propriedade aglutinante dos grânulos de cortiça quando aquecidos em elevada temperatura. P or definição, um edifício é uma construção de certa importância diversos e caráter elementos permanente, estruturais, tais composta como de paredes, coberturas e pisos, que serve para a proteção e/ou isolamento do meio externo. No que respeita à temperatura interna de uma edificação, o seu conforto térmico depende de uma série de fatores, tanto de conceitos quantificáveis, tais como temperatura, velocidade do ar atmosférico e humidade, como de conceitos não-quantificáveis, tais como hábitos, comportamento e estado mental dos ocupantes 18 . Todas essas variáveis exercem, evidentemente, influência na climatização de quaisquer ambientes. É importante ter presente que a capacidade calorífica de um edifício, bem como as condições físicas locais, influenciam, de modo significativo, na obtenção de um ambiente interior termicamente confortável. É notório que quanto maior a capacidade calorífica de um edifício, maior a sua estabilidade térmica - portanto, o seu conforto térmico - perante as variações de temperatura no exterior. Além disso, em locais de intensa radiação solar e/ou elevada humidade, deve-se considerar ainda a taxa de ventilação de superfície. Neste caso, para obter-se o conforto térmico de um edifício, é aconselhável a interposição de materiais nas suas estruturas, tais como paredes, tetos e pavimentos, de modo a facilitar a dissipação do calor e a secagem da humidade retida nas suas superfícies. Fotografia Jesús García 29 30 O isolamento térmico tem como função principal o e obrigar o reforço nas fundações, nos vigamentos dos aumento da resistência térmica da envolvente do tetos e nas estruturas. Para além disso, apresentar edifício, de forma a reduzir as trocas de calor entre o edifício resistência a ação de altas temperaturas, de modo a, não e o exterior, reduzindo as necessidades de aquecimento ser um material e arrefecimento, assim como o risco de condensações elimine nenhum tipo de odor. (Silva, 2006). Entretanto, é Neste contexto, é relevante compreender um dos conceitos isolantes térmicos são classificados quanto a sua natureza regidos pela física, que determina os três mecanismos de – mineral, vegetal ou sintética- e quanto a sua estrutura- propagação de calor : condução, convecção e irradiação. fibrosa, celular ou mista. Ademais, é notório Porém, a transmissão de calor que ocorre aglomerado negro de cortiça, material em estudo, define- nos edifícios inflamável nem combustível e que não importante evidenciar que os materiais que, o provém basicamente da propagação de calor por condução, se como um material vegetal de estrutura celular cuja a intensidade varia segundo a condutibilidade térmica apresenta coeficiente de condutividade térmica (0, 035 dos materiais empregados e da espessura do elemento da Kcal/ m.h.°C- 0, 038 Kcal/ m.h.°C), de valor inferior aos envolvente. demais materiais, apresentados na tabela a seguir. e que De facto, conferem aos isolantes térmicos as funções de Nesse contexto, as características naturais da cortiça, conservar a energia, através da redução das perdas de como a porosidade (característica medida pelo grau calor, de de compressão a que o material é exposto), previnir as condensações em superfícies com leveza, temperatura inferior ao ponto de orvalho e de reduzir as elasticidade, resistência ao fogo, à putrefação e água, flutuações térmicas dos espaços, de modo a, aumentar o contribuem para que o material desempenha o papel de conforto térmico do ambiente. bom isolante térmico. Além desses fatores positivos, a cortiça torna-se um material de fácil manuseio ao corte A definição de um bom isolante térmico , dentre outras, e a sua aplicação, o que possibilita diversos encaixes e é designada pelo baixo coeficiente de condutibilidade diferentes espessuras, com resistência mecânica elevada térmica, expresso em (w/m.°C), com peso específico (módulo de ruptura à flexão 1,5 Kg/ Km²) no desempenho relativamente baixo, a fim de, evitar o aumento das cargas das suas distintas funções. 18 Para os propósitos deste estudo, este livro trata exclusivamente dos fatores quantificáveis. 31 Material Condutibilidade térmica Kcal/mh°C O coeficiente de condutibilidade térmica do material — λ — é definido como sendo “o fluxo de calor que passa, na unidade de tempo, através da unidade de área de uma parede com espessura unitária e dimensões suficientemente Argamassa de cimento 2200 1,20 Concreto 2300 1,30 2400 1,75 Alvenaria com blocos de concreto furados 1000 0,43 temperatura unitária” (Gomes, 1962). Alvenaria com lajotas de barro 1000 0,40 Neste contexto, o valor do coeficiente Alvenaria de tijolos maciços 1400 0,52 condutibilidade térmica ( λ ) 1800 0,68 Madeira (Pinho) Fibra-cimento 2026 0,68 Madeira seca 450 0,12 a 0,18 Espuma de cimento 400 0,12 500 0,16 600 0,20 800 0,25 200 0,040 300 0,050 Cortiça 120 0,035 Ripado em madeira de pinho; tabique de terra Espumas plásticas 160 0,038 Placas de aglomerado negro de cortiça Fibras de madeira 16-25 0,030-0,035 Reboco a cal e areia Lã de vidro ou lã mineral 30-200 0,035 Argila expandida 100-200 0,050 a 0,055 Argamassa de argila expandida 200 0,085 Silicato de cálcio ou óxido de magnésio 100-200 0,046 a 0,055 grandes para que fique eliminada a influência de contorno, quando se estabelece, entre os parâmetros dessa parede, uma diferença de de depende da densidade do material, da natureza química e da humidade do mesmo. Va l o r e s p r á t i c o s p a r a c á l c u l o c o n f o r m e n o r m a DIN 4108. Isolamento térmico na construção. Fonte: http://www.texsa.com.br/Livro%2009.htm 32 A Q= K x A x (ΔT/ L) Q = intensidade do fluxo de calor em W (J/s) K = condutibilidade térmica do material A = área atravessada pelo fluxo de calor em (m²) ΔT = diferença de temperaturas ( T1-T2)V L = espessura (m) B Q= U x A x ΔT Q = taxa de energia transferida Watt (W)= J/s U = coeficiente de transferência de calor ( W/m². K) . A quantidade de calor que atravessa uma parede depende da condutibilidade térmica do material, nesse caso, representado pela letra (K), da área da parede (A), da diferença de temperatura entre o interior da habitação (T2) e exterior (T1) e da espessura da parede (L). Os valores numéricos de k variam numa larga faixa, em função da constituição química, estado físico e temperatura do material. Logo, quando o valor de K é elevado, logo o material é definido como condutor térmico e, quando o valor de K é baixo, o material é denominado isolante térmico. O coeficiente de transferência de calor está relacionado com a quantidade de energia (sob forma de calor) que passa durante um segundo em 1 m² de superfície. Esta fórmula é normalmente utilizada quando se tem diferentes materiais e espessuras. A = área (m²) ΔT = diferença de temperaturas ( T1-T2) U= K/L C K x A x (ΔT/ L) = U x A x ΔT D Q= -( λ. A). dt/de A= área en m2 R= gradiente de temperatura °C 19 Todavia, a junção das duas fórmulas, da condutividade térmica do material (K) e do coeficiente de transferência de calor (U), gera uma nova fórmula. Lei de Fourier Designado pela Lei de Fourier19 , o cálculo da transmissão de calor é determinado pelo valor da condutibilidade térmica (λ) do material em questão, considerando a área do elemento da envolvente em m², e pelo fator gradiente de temperatura. A lei de Fourier foi estabelecida em 1811 pelo matemático e físico francês Jean Baptiste Joseph, mais conhecido por barão de Fourier. Este publicou uma teoria de propagação do calor, onde introduziu as séries trigonométricas (séries de Fourier). [Consult. 2011-08-09]. Disponível em http://www.infopedia.pt/lei-de-fourier. 33 De acordo com a tabela ao lado, verificase, através dos valores apresentados, a PAREDE RESISTÊNCIA U Parede d e alvenaria de c alcáreo com 0,40m (espessura) 2,797 0,397 Parede d e betão a rmado c om 0 ,20m (espessura) isolada com espaço de ar de 8cm e 1/2 vez de tijolo furado 3,136 0,319 Madeira Parede d(Pinho) e betão a rmado c om 0 ,20m (espessura) isolada com 1 1/2 polegada de aglomerado negro de cortiça 6,549 0,153 Paredede d eaglomerado betão a rmado c om 0 ,20m Placas (espessura). Isolada com 1 polegada de negro de cortiça aglomerado negro de cortiça Ripado em madeira de pinho; tabique Parede de terra d e alvenaria de c alcáreo com 1m (espessura) Reboco a cal e areia 4,882 0,205 5,369 0,186 potencialidade do aglomerado puro de cortiça, no papel de isolante térmico, quando aplicado em paredes de alvenaria ou betão reduz consideravelmente a necessidade de utilizar espessuras superiores em paredes, na obtenção de um conforto térmico ideal no interior do edifício. Nesse contexto, como mostra a tabela, uma parede de fachada construída em betão com 20 cm de espessura e isolada com placas de aglomerado negro de 1 ½ polegadas, apresentaria uma resistência total superior a uma parede em alvenaria de calcário, com um metro de espessura. Além disso, a aplicação da placa de aglomerado negro de 1 polegada de espessura, numa parede de betão de 20 cm de espessura resultaria no aumento de 42,6 % de isolamento térmico do edifício, quando comparada a uma parede de alvenaria de 40 cm de espessura 20 . “ F o n t e : B o l e t i m J u n t a N a c i o n a l d a C o r t i ç a , 8 6 , 11 . Não é suficiente que um material isolante tenha um coeficiente de condutividade baixo, também é necessário que o conserve através do tempo e durante sua colocação definitiva. Paya, Miguel 20 Oliveira C. M., 1945. O isolamento térmico da construção urbana. Boletim Junta Nacional da Cortiça, 86, 3-9. ” 34 É de grande relevância a compreensão dos termos T corresponde ao tempo medido em segundos, V é o que envolvem os conceitos da acústica no campo volume da sala medido em m³ e A corresponde a área em arquitetónico. O primeiro termo, refere a capacidade que certos isolamento acústico m². Contudo, foi possível definir que a reverberação é o materiais de construção tempo medido da intensidade sonora a partir da queda de apresentam, na finalidade de impedirem a propagação das 60dB, no momento em que a fonte sonora é desligada. ondas sonoras de um local ao outro. Por seu turno, absorção acústica, é o termo utilizado para definir os materiais de As questões que envolvem o termo acústica são bastante construção que possuem o papel de minimizar a reflexão complexas, das ondas sonoras, consequentemente reduzindo o nível concepção de projetos deste gênero, salas de música, de reverberação. teatro, cinema, dentre outros, a realização de cálculos de facto, é importante ter presente na matemáticos e estudo dos materiais que melhor absorvem No fim do século XIX nos Estados Unidos da America, o o som, para que o tempo de reverberação da sala não seja físico Wallace Clement Sabine excessivo, de modo a evitar a audição deficiente. 21 realiza uma descoberta que revolucionou o campo da acústica arquitetónica. Tal acontecimento, definia a relação existente entre a Um dos materiais absorvedores aconselhável no tratamento qualidade acústica, as dimensões da sala e a capacidade acústico de ambientes é o aglomerado expandido de cortiça, de absorção das superfícies presentes. que através da estrutura porosa absorve parte da energia sonora incidente, de modo a, reduzir consideravelmente o Após várias experiências realizadas na sala de concertos tempo de reverberação. da Fogg Lecture Hall, no intuito de avaliar o tempo de reverberação do som sobre várias frequências, na A fim de usufruir ainda mais das propriedades do aglomerado presença de diferentes materiais, Sabine concluiu que de cortiça, fabricantes desenvolveram um novo produto o corpo humano reduzia consideravelmente o tempo de que concilia o aglomerado expandido de cortiça com a reverberação, o equivalente a seis cadeiras estofadas. fibra de coco, matéria-prima ecológica e reciclável, que Deste realizados juntos apresentam excepcionais performances acústicas, por Sabine portou a definir formalmente o tempo de na redução substancial dos níveis sonoros de impacto e reverberação, através da fórmula T= 0,161. V/A, em que aéreos. 21 modo, a importância dos estudos Wallace Clement Sabine (13 de Junho de 1868 - 10 de Janeiro1919) foi um físico norte-americano que fundou o campo da arquitetura acústica. Graduou-se pela Universidade de Ohio em 1886. Sabine foi consulente de acústica no Symphony Hall em Boston, considerada uma das três melhores salas de Concerto do mundo. Disponível em http://pt.wikipedia.org. Acesso 12.08.2011. 35 Para além da contribuição do aglomerado expandido de cortiça no fenômeno de reverberação, o material possui poder absorvente no tratamento de ruídos de percussão, na atenuação da transmissão dos ruídos provenientes dos pavimentos, que através do fator elasticidade impede as trepidações exteriores, originárias das fundações e paredes de suporte do edifício. Entretanto, a fim de evitar essas vibrações decorrentes de factores externos, as placas de cortiça são aplicadas na fundação dos edifícios, em sapatas corridas ou em estruturas constituídas de materiais muito rígidos, que através da sua compressão e dilatação conseguem transformar a energia vibrática em calor. Já no que concerne às construções de grande porte como as juntas de dilatação em pontes, o aglomerado composto (granulados de cortiça e resinas) material flexível, através do processo de dilatação e compressão, impede a propagação das trepidações na construção e evita fissuras, permitindo a movimentação de materiais rígidos, sem sofrer qualquer alteração nas suas características. Com o propósito de viabilizar soluções menos dispendiosas, industrial, com o emprego do aglomerado composto, de densidade entre 180-200Kg/m³, no piso das maquinarias, com a finalidade de absorver os ruídos e consequentemente diminuir a perda de rendimento e energia, provocadas pelas vibrações transmitidas no solo e no ar. Fotografia Jesús García técnicos e especialistas na área realizaram estudos no setor Aglomerado negro de cortiça 36 Neutraliza os dois principais inimigos das instalações frigoríficas: o calor e a humidade, com utilização do aglomerado de cortiça de alta compressão. Produto resistente devido à perfeita coesão dos seus grânulos e à excelente relação que existe entre os coeficientes de dureza e elasticidade. Material que não apodrece, apresenta resistência a ácidos, não permite a proliferação de micro-organismos e retarda a ação do fogo. Existe a possibilidade de construir tectos falsos com as placas de cortiça instaladas numa estrutura com perfis em forma de T, pendurada no tecto com encaixes de ferro galvanizado. Utilizada sobretudo como material para enchimento em caixas de ar ao construir tabiques ou paredes, sendo eficaz na maior parte dos casos em separações de andares de edifícios. Produto à base de serradura da cortiça usado na cobertura de pavimentos, dando-lhes um aspecto acolhedor, como uma pasta resinosa obtida da oxidação da mistura da serradura em pó e óleo de linhaça. A sua importância encontra-se em proporcionar resistência ao desgaste e consequentemente longa duração. Elemento construtivo que constitui a fachada e não interfere na resistência da estrutura, com espessura reduzida e como painéis forrados, tem como papel principal o isolamento do local ou divisões internas e externas, além de apresentar resistência aos agentes atmosféricos e químicos. As placas adquirem um papel altamente decorativo quando apresentado num acabamento à base de tinta branca lavável, com uma superfície lisa ou estriada. Estes tectos destacam-se pela absorção de ruídos em cerca de 50 %, Na sua estrutura celular vemos células microscópicas elevada. resistência elástica permanente. As placas de cortiça evitam impedem a condensação de água, em caso de humidade fechadas e cheias de ar que conferem à cortiça uma a ressonância, fenómeno caracterizado peloconsiderável aumento de intensidade vibratória das máquinas. ISOLAMENTO INTERNO PAVIMENTO COBERTURA COBERTURA INCLINADA 38 > Vantagens O parquet de cortiça proporciona pisos > Vantagens Excelente isolamento térmico Adequado conforto acústico > Aplicação Um dos modos de realizar o isolamento térmico pelo interior consiste em aplicar as placas de cortiça, por colagem ou por fixação mecânica. A fixação do isolante à face exterior do pano interior, entre as placas de ICB e o pano exterior, mantendo-se, deste modo, um espaço de ar drenado e ventilado para o exterior. confortáveis, naturais, ecológicos, higiénicos, resistentes, macios, agradáveis e de fácil manutenção. > Flutuante A grande vantagem do produto é a facilidade de instalação. O piso flutuante apresenta várias camadas, sendo uma delas o medium density fireboard (MDF). A espessura das placas pode variar de 10,5 mm a 12 mm. > Vantagens O aglomerado de cortiça expandida (ICB) desempenhanda as funções de isolante térmico e de suporte do sistema de impermeabilização. Suas vantagens está em resistir a temperaturas elevadas e resistência mecânica ( compressão e coesão). COBERTURA COBERTURA PLANA PAREDE PAREDE FACHADA - ETICS DECORATIVA 39 > Vantagens Ótimo isolante térmico ( previne bruscas variações de temperatura) Impermeável ( não absorve água por capilaridade). Minimiza o peso da cobertura. Quando aplicada em terraços é possível obter condições favoráveis para um bom de isolamento acústico a sons de percussão (e.g.) circulação de pessoas, queda de objectos. > Vantagens > Vantagens Variedades e de composições texturas, que cores, valoriza o ambiente. Permitir a melhoria das condições de conforto térmico e acústico. > Aplicação O material pode ser fornecido em placas, com 3mm de espessura, e acabamentos supercificais em óleo, cera ou verniz. Desta forma, é aplicado à parede com auxílio de uma massa adesiva. Reduz as pontes térmicas. Diminui o risco de condensações. Aumenta a inércia térmica interior dos edifícios. Maior economia de energia. Diminuição da espessura das paredes exteriores. Reduz o peso das paredes Aumenta a protecção face às agressões dos agentes atmosféricos. Melhora a impermeabilidade das paredes. Concede uma grande variedade de soluções de acabamento. PAREDE REVESTIMENTO DA FACHADA > Vantagens Isolamento térmico de paredes simples pelo exterior evita as pontes térmicas. Aproveita a inércia térmica das paredes necessária para manter uma temperatura mais ou menos constante no interior. Solução menos dispendiosa. 02 42 O capítulo Obras irá tratar de projetos arquitetónicos que utilizaram a cortiça como parte integrante ao material de construção. Para melhor compreender a evolução da aplicação da cortiça, estas obras foram divididas em 3 grandes temas: obras históricas, obras contemporáneas e obras Cork composites. As obras históricas serviram como ponto de partida às demais obras e foram pioneiras em usufruir das características físico-químico da cortiça, na obtenção de melhores resultados no isolamento térmico e acústico nos edifícios. De facto, as construções encontradas na região do Alentejo, nos arredores de Montemor-o-Novo, cuja referência é uma das mais antigas registadas, datada no ano de 1669, empregavam a cortiça como material de construção maioritário (alvenaria de cortiça) ou integrada à outros materiais, como adobe, taipa ou pedra. Um levantamento feito na herdada da Cascata constatou três diferentes sistemas de construção, dentre os quais, dois deles utilizavam a cortiça aplicada nas paredes do palheiro da cocheira, em pedaços grandes, com os espaços preenchidos de terra e pedra e, eventualmente, pedaços menores de cortiça. Esse sistema construtivo é denominado “alvenaria de pedaços de cortiça”, caracterizado por aparentar uma parede de pedra, nas dimensões das peças e suas configurações, para além, das faces da cortiça expostas à agentes atmosféricos, adquirindo uma tonalidade cinzenta. Verificou-se também nas paredes do palheiro na herdada da Cascata, na herdada da Gralheira e na residência em Santo André, um outro sistema de construção em que a cortiça foi empregue, denominado-se “alvenaria de pranchas de cortiça” na utilização da cortiça em maiores dimensões, sendo maioritária, sob forma de pranchas e colocada na horizontal, tendo a terra como ligante. A presença da cortiça em obras históricas tem contribuído na divulgação das suas características físico-químico, através da capacidade de manter inalterada as suas propriedades isolantes, térmico e acústico, no decorrer dos anos. Seguem-se as obras de carácter contemporáneo, à essas, confere o utilizo do aglomerado puro expandido ao novo método de aplicação empregue nas alçadas do edifícios. O projeto pioneiro, Pavilhão Centro de Portugal, projetado para a feira internacional de 2000 em Hannover na Alemanha, destacou-se pela implementação do aglomerado puro expandido, sem qualquer aditivo sobre as placas, nas paredes exteriores do edifício. Por seu turno, o capítulo Obras Cork composites dedica-se a uma singela descrição de obras nacionais e internacionais, que utilizaram o aglomerado composto, produto resultante da combinação da cortiça com certos materiais, tais como a borracha, o plástico, o asfalto, o cimento, o gesso, a caseína, a resina e colas, aplicado aos pavimentos, a fim, de obter melhores resultados quanto a absorção sonora de sons de impactos e aéreos. CONveNTO DOS CAPUCHOS 1560 43 Fonte: http://palacio-de-sintra.blogspot.com O Convento dos Capuchos, cujo nome original era Convento da Santa Cruz da Serra de Sintra, localizado em Sintra, fundado por D. Álvaro de Castro (filho do vice-rei da índia) no ano de 1560. Em 1834 com a extinção das Ordens Monásticas, a comunidade Convento, o franciscana qual foi viu-se adquirido obrigada pelo “ a deixar Visconde o de Monserrate”- Joaquim José Pinheiros de Vasconcelos e posteriormente em posse do Estado Português. O projecto é caracterizado pela simplicidade, equivalente ao modo de vida dos frades franciscanos. Os ambientes internos eram compostos de celas-dormitórios, biblioteca, sala do capítulo (para reuniões), refeitório, cozinha e casa de banho, todos com dimensões muito pequenas. 44 Foi construído também em perfeita harmonia com a natureza que o circunda, incluindo o uso de materiais locais, como as enormes fragas de granitos e cortiça extraída dos sobreiros existentes. Deste modo, a cortiça teve um papel relevante como isolante térmico nos tectos, com a função de protegêlos das condensações, que se formam nos períodos de frio, além de proporcionar conforto térmico quando empregada no pavimento, portas, janelas e mobiliários. Neste caso, a fixação da cortiça era feita por pregos em tabulados corridos de madeira, sobrepostos ao construtivo como material pedras e tijolos. Contudo, devido ao mau estado de conservação, no século XX, as cascas de cortiça que cobriam todo o pavimento foram retiradas e substituídas pelas tijoleiras (pavimentação vermelha). Segundo a entrevista realizada pela arquiteta, existe um projecto em fase de estudos para a área que abrange o F o n t e : w w w. u s e f i l m . c o m Convento dos Capuchos da autoria do arquitecto João Cruz Alves, denominado “Convento de Santa Cruz da Serra de Sintra- Plano Global de reintegração”, com o propósito de restaurar o Convento e integrá-lo às atividades turística, recreativas e desportivas. Fonte: http://palacio-de-sintra.blogspot.com Entre outras obras religiosas: 1542 45 Convento da Arrábida F undado em 1542 pelo Frei Martinho de Santa Maria e construído pelo Duque de Aveiro, D. João de Lencastre ( 1501-1571), proprietário de toda a Serra. O complexo que albergaria os frades foi construído por pessoas leigas, que desconheciam o modo de vida dos frades, na construção de espaços de proporções inadequadas aos habitantes. Neste caso a cortiça foi empregada como material de revestimento das celas-dormitórios do Convento. 1628 Fonte: http://puraexperiencia.blogspot.com Convento de Santa Cruz do Buçaco F undado em 1628, pretendia ser uma obra de arte que englobasse a mata onde estava implantado. Tal responsabilidade ficaria a cargo dos monges para conservá- la e valorizá-la. Nota-se, porém, a presença da cortiça no revestimento de portas e bancos, bem como o forro de tectos e elementos estruturais. F o n t e : w w w. w i k i p e d i a . c o m 1864 CHALÉ DA CONDESSA D’EDLA 46 O Fonte : Parques de Sintra chalet da Condessa Edla foi construído pelo Rei D. Fernando II para a sua segunda mulher, Elise Hensler - Condessa d’Edla, entre 1864-1869, na zona oriental do Parque da Pena, seguindo o modelo dos Chalets de montanha das regiões Alpinas do Norte da Europa, envolvidos sempre por jardins, com inúmeras espécies botânicas proveniente de todo o mundo. Trata-se de um edifício construído com base numa planta arquitectônica rigorosamente simétrica, orientada efectivamente para o Palácio da Pena, rectangular no pavimento térreo, em forma de cruz no primeiro andar, contornado por uma varanda com alvenaria exterior, a imitar tábuas de madeira horizontais. 47 Trabalhada com arte, a cortiça torna-se decoração no contorno dos vãos de portas e janelas em forma de arcos “góticos”, incluindo uma que decorava a fachada, enquadramento silvestre. espécie de hera centenária integrando o edifício no seu Fonte : Parques de Sintra O Chalet apresentava no seu interior um grande salão, com quatro troncos de hera em estuque finamente modelados, enriquecidos por nervuras em cobre, que escalonavam os cantos das paredes e entrelaçavam nas cornijas as suas ramagens cobertas de folhas. Já um dos quartos no primeiro andar, o do Rei, contava com encastoamento feito de cortiça pintada em multicores, conferindo-lhe o espírito mourisco da Serra. Merece também destaque o quarto da Condessa, no primeiro andar, de frente para o do Rei, separando-os com o vão de escadaria com a parede pintada as Armas de Saxe e de Portugal, e já ao fim da escadaria de madeira Fonte : Parques de Sintra Após décadas de abandono, o edifício foi intencionalmente alvo de incêndio e grande parte foi destruído com a queda da cobertura, escadarias, paredes, restando apenas as estruturas autoportantes. havia uma pintura arcádica dum pastor a tocar flauta. 50 P or seu turno, Obras Contemporâneas, pretende descrever, de forma concisa, novas e modernas propostas arquitetónicas, no intuito de destacar o novo método de aplicação do aglomerado puro expandido nas alçadas dos edifícios. Neste contexto, a descrição das demais obras é resultado das entrevistas realizadas aos arquitetos ou responsáveis e da análise in loco realizada durante o processo de investigação. Desta forma, as obras selecionadas foram posicionadas no mapa, seguindo o critério definido pelo eixo Norte-Sul do país. Tais obras destacam-se por utilizar placas de aglomerado puro expandido como material de revestimento externo nas alçadas dos edifícios, sem fazer uso de qualquer produto ou material de construção aplicado sobre as placas. Esse método inovador, placas de aglomerado puro expandido, aplicado nas paredes externas, esteve presente pela primeira vez no Pavilhão Centro de Portugal, projetado para a Feira internacional de Hannover- Alemanha em 2000, o qual contribuiu para o emprego do aglomerado puro expandido às demais obras relatadas nesse exemplar. 51 A casa Cork, projectada Esposende-Portugal é a pelos Arquitectos primeira Anónimos, habitação no em território nacional Português a expor a cortiça como acabamento final à vista e no seu tratamento original de fabricação. O material conquistou rapidamente adeptos Ficha técnica CASA CORK Arquitetura: na equipe de construtores: não carecendo de mão de obra especializada, Arquitectos Anónimos ® e Paulo Teodósio muito fácil ao corte e leve no transporte, comparado com os seus directos competidores, é realmente muito convincente; em grandes superfícies de revestimento pode poupar muito tempo e mão de Local: Esposende- Portugal obra. Cliente: Maria Helena Ramos/ Hernâni Lopes Uma das características mais assinaláveis do bloco de cortiça é Data da construção: 2005-2007 coberturas sem aditivos nem prescrições especiais. Área de Construção: 288 m 2 a sua aplicabilidade como encapotamento total: em paramentos e Data do projecto: 2004-2005 Área de implantação: 157,5 m 2 Estrutura: Ricardo Fonseca Fotografia: Ivo Canelas © 52 Da organização espacial, o rectângulo de 7 x 21 metros desenvolve-se em 3 pisos, sendo o piso inferior, serviços, garagem lavanderia e o piso superior pequeno quartos (reduzidos ao mínimo), aceitável na habitação corrente em Portugal. O piso intermédio é uma espécie de interlocutor: uma espinha dorsal que atravessa longitudinalmente a construção, organizando-a espacialmente: remetendo circulações para área central resgata área útil para os aposentos e para a grande sala que exibe a escada como elemento dinâmico, contradizendo ortogonalidade. Essa linha de circulação interior tem como extremos o contacto da casa com exterior, resolvendo-se a sua articulação com o terreno nas suas cotas naturais intactas. Essas passagens fazem-se por duas antecâmaras que para além de áreas de transição desfazem a excessiva ideia de corredor; funcionalmente são amigas da climatização natural interior, retendo o ar (frio ou quente) do exterior. O bloco de aglomerado de cortiça também potenciou o espírito de síntese que os arquitectos quiseram incutir de raiz: a casa re “veste-se” com apenas dois materiais encerrando-se completamente em si mesma na cortiça e na chapa perfurada como segunda pele a todos os vãos. 53 “ É, por natureza, um edifício “disciplinado”. São as próprias necessidades funcionais, espaciais e térmicas que lhe determinam a expressão. Surge isolado no espaço: disciplina extensível ao território. Ficha técnica ” ARMAZÉM Arquiteto: Álvaro Siza Porto, 18 de Novembro de 2008 Álvaro Siza S ituada em Celeirós do Douro, Sabrosa, a Quinta do Portal investiu cerca de oito milhões de euros na reestruturação das vinhas, na ampliação da adega e na construção do Armazém de Estágio e Local: Celeirós do Douro, Sabrosa - Portugal nasce nas vinhas do Douro, fundindo-se e transformando-se em Data do projecto/ construção: 2005-2008 utilizados, como o xisto e a cortiça, que acompanham as cores e o Área de Construção: 4.722,25 m 2 Envelhecimento de Vinhos. Um projecto inovador e sofisticado que Cliente: Quinta do Portal paisagem, através da própria metamorfose dos materiais naturais Área de implantação: 2.051,5 m 2 estado de espírito de cada estação do ano. Fotografia: www.skyscrapercity.com Revista Casabella, 2009 54 O sonho do proprietário da Quinta do Portal, Eugénio Branco, torna-se realidade ao oferecer uma obra-prima da arquitectura à idílica região do Douro e ao mundo. Com a conclusão do armazém de estágio e envelhecimento de vinhos da Quinta do Portal, surge mais um notável e impressionante projecto da autoria de Siza Vieira, sendo um dos dois projectos ligados ao vinho a que se associou em toda a sua carreira. Nasce, assim, um novo pólo de atracção turística no Douro, com Centro de Visitas, auditório e sala de provas. Um complemento de vanguarda e excelência ao já existente pólo turístico da Quinta do Portal, a Casa das Pipas. Uma requintada unidade de turismo rural, vencedora dos mais prestigiados prémios na área do enoturismo, como o Best of Wine Tourism 2007, na categoria de alojamento, o Galardão Internacional Chave Verde atribuído pela Associação Bandeira Azul da Europa, e mais recentemente o Best of Wine Tourism 2009 na categoria de Práticas Sustentáveis de Enoturismo. Nessa obra, o arquiteto reforça a sua capacidade em harmonizar a sua arquitetura ao contexto, às características físicas e às tradições. O desenho do volume compacto, ligado à adega existente e integrado na topografia acidentada do terreno, permite ao usuário estacionar seu veículo no interior do lote, com acesso direto na lateral do edifício, garantindo o movimento de carga e descarga sem interferir com o tráfego da via principal. 55 O projecto é composto por 4 pisos, sendo que os dois primeiros são dedicados à elaboração do vinho. O primeiro piso na realidade é um subsolo, minimizando o impacto volumétrico, utilizado no espaço para engarrafamento. No piso superior a área é dedicada ao depósito do vinho em grandes tonéis. os barris e Capacidade de vasilhas: Piso O Dependendo da disposição e níveis de empilhamento, existe capacidade em manter em stock, para além dos 19 tonéis, 1.100 a 2.000 barricas, ou seja, 640.000 a 800.000 litros. Piso 1 Mantendo a configuração a dois níveis e apenas nos corredores centrais, a capacidade é de 600 barricas (180.000 litros). Mas utilizando a capacidade máxima, com corredores laterais e a cinco níveis de empilhamento, é possível incluirmos 3.040 barricas. Os outros dois pavimentos, respectivamente os 3° e 4° andares são destinados aos visitantes para degustação dos vinhos e um auditório com sala de projecção. 56 Como material de construção são empregue no edifício, o cimento armado aparente em paredes e tectos, pilares em aço, pedra xisto, como material de revestimento aplicado na parte inferior do edifício e o aglomerado puro expandido revestindo a parte superior. Além disso, o último volume, de cor laranja, através das suas curvas apresenta a leveza, que realçam a beleza do vale português. Álvaro Joaquim de Melo Siza Vieira Nasceu em Matosinhos a 25 de Junho de 1933 e é internacionalmente conhecido como Siza Vieira. Licenciou-se na Escola Superior de Belas Artes do Porto e é actualmente o mais conceituado e premiado arquiteto contemporâneo português. Fotografia Jesús García 57 C Ficha técnica oncebido pelos arquitetos, Álvaro Siza Vieira e Eduardo Souto de Moura, com o propósito de participar PAVILHÃO CENTRO DE PORTUGAL nas típicas feiras internacionais,caracterizadas pelo utilizo Arquiteto: de pavilhões desmontáveis. Estas exposições assumem Álvaro Siza e uma importância relevante no que concerne a palcos de Eduardo Soto Moura afirmação internacional dos países participantes, através de espaços de intercâmbio cultural, de aprofundamento de cooperação entre os povos e de estímulo à investigação e ao desenvolvimento científico e tecnológico. Portugal não poderia deixar de prestar o seu contributo às questões implicadas no tema da Expo 2000. Portanto,além de proporcionar o conhecimento dos aspectos culturais, sociais, naturais e paisagísticos, pretendendo-se explorar as questões ambientais. Local: Coimbra- Portugal Data: 2000 Hannover/ 2003 Coimbra Data da Conclusão: Maio 2000 Área de Terreno: 2.051,5 m 2 Área Construida: 4.722,25 m 2 Fotografia: Jesús García 58 Por este motivo, o impacto ecológico do edifício português tornou-se uma prioridade, na compatibilização entre as atividades humanas e a natureza, entre a tradição e a modernidade e, simultaneamente evoca a luz e o mar português. O projeto apresenta seu formato é em L, com cobertura ondulada, forma orgânica, feita em tela sintética dupla, de modo a permitir a entrada de luz, assim como o isolamento térmico, a criar boas condições acústicas. Exteriormente, o Pavilhão é revestido em cortiça e parte do edifício é revestido em azulejos. Este aglomerado de cortiça oferece boas condições de durabilidade no exterior, operando como isolante térmico que interage com o meio, da alteração de cor que o material apresenta quando exposto à intempéries. Desde 2003, o Pavilhão encontra-se montado dentro de um parque, em Coimbra, servindo de apoio a atividades de exposição , música, aulas, etc. O pavilhão prima pela originalidade e pelo sucesso na harmonia entre a modernidade e o respeito pela tradição, aliando as mais altas tecnologias à inovação no uso de materiais naturais, de modo a traduzir a necessidade em consolidar a sustentabilidade, entre as relações com o Fotografia Jesús García homem, o ambiente e a tecnologia. 59 “ Pensamos que o mais interessante em arquitetura não é resolver problemas, é resolver problemas criticamente. De uma forma que questione as práticas correntes da construção e, se é permitida esta ambição, da sociedade em que vivemos. ” Plano B Arquitetos Junho 2007 A Ficha técnica Residência plano b arquitetura Arquitetura: Plano B (Eduardo Carvalho, Francisco Freire, Luís Gama) Local: Arruda dos Vinhos residência, em questão, está implantada onde anteriormente existia as ruínas de um edifício, localizada na Arruda dos Vinhos, numa reserva ecológica. Desta forma, a fim de manter a implantação existente, o projeto contou com 60 m² construção e impermeabilização. de área de Área: 60 m² Data: 2005-2008 Fotografia: Sandra Pereira; Plano B arquitetura Fonte de informação: Coelho, J.P., 2010. Casa em Arruda dos Vinhos- Plano B Arquitectos. (tese de licenciatura em Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa). 60 Os materiais de construção empregue no novo edifício A aplicação do aglomerado puro expandido de cortiça foi existente, tais como, a pedra, a terra e a madeira. Desta o qual acreditava que a aplicação de um material natural procuraram fazer analogia aos materiais aplicados na obra forma, a estrutura da casa foi composta por madeiras de eucalipto de secção 20x10cm espaçadas de 60 cm entre elas, por paredes em taipa, compostas por terra e palha, com total de 20 cm de espessura, com o propósito de absorver a humidade provocada no inverno e para o arrefecimento no verão. Planta de Fundação uma escolha feita em conjunto com o proprietário da obra, respeitaria os valores da reserva ecológica. Deste modo, o material foi aplicado na face externa das paredes, com 5 cm de espessura e fêmea. encaixado num sistema macho e 61 Seguindo a lógica do isolamento térmico, os vidros fixos da casa receberam um tratamento para evitar as grandes trocas de energia com o exterior e atingirem as características semelhantes as paredes internas com 20 cm de espessura. O conjunto de componentes da casa - laje e fundações, paredes, vãos envidraçados e cobertura - apresentam ótimos coeficientes de transmissão. Isto significa, que a casa funciona bem ao nível térmico e cumpre bem um eficiente papel. Detalhe da aplicação da cortiça 62 Tipo Espessura R Resistência térmica PAREDES EXTERIORES Chapas de policarbonato ondulado 0,004 2,9 0,0014 0,472 397,892 Estrutura metálica de tubos galvanizados 0,025x0,025 -- 0,16 -- -- 0,10 0,23 0,43 -- -- Placas de aglomerado negro de cortiça 0,05 0,045 1,11 2,421 -- Ripado em madeira de pinho; tabique de terra 0,20 0,92 0,22 -- -- Reboco a cal e areia 0,025 0,7 0,04 -- -- MDF hidrófugo 0,008 0,5 0,016 2,230 -- OSB 4 0,011 0,20 0,055 -- -- ISOLAMENTO Madeira (Pinho) PAREDES INTERIORES F o n t e : C o e l h o , J . P. , 2 0 1 0 . C a s a e m A r r u d a d o s V i n h o s - P l a n o B A r q u i t e c t o s . 63 C Ficha técnica oruche é o maior concelho produtor de cortiça. Isso se explica a construção do Observatório, nessa área. Observatório do sobreiro e da cortiça O local de implantação do edifício, zona industrial, é uma área descaracterizada arquitectónicamente, Arquiteto: pois Manuel Couceiro os edifícios envolventes não foram alvo de preocupação estética ou de composição, o que de partida desbenefecia a configuração do edifício proposto, a ter-se optado desde início por uma geometria marcante e arrojada, que adquiriu a expressão máxima nas fachadas revestidas a cortiça. Local: Coruche- Portugal O facto de estar situado na zona industrial, próximo Data do Projecto: 2006-2007 observatório a verificação diária das alterações que Fotos e esquiços: cedidas pelo próprio Arq. intervenção de manutenção, isto será de fácil acesso. Fonte de informação: Arq. Susana Couceiro das fabricas transformadoras de cortiça, permite ao Data da Conclusão: Maio 2009 ocorrem, na produção da cortiça e caso necessite, alguma Manuel Couceiro Como originalidade do Observatório encontramos o uso de cortiça como revestimento das fachadas, tornando-se novidade, reforçada por uma fachada ventilada, e criada exatamente para ser a imagem de marca do edifício, de modo a identificá-lo e associá-lo rapidamente à temática da cortiça. Foi a primeira vez que o arquiteto pensou e utilizou a cortiça, quer nas suas vertentes mais usuais (isolamentos), quer em novas aplicações e linguagens, aplicando-a com mestria e de forma inovadora, reforçando o potencial do material. O edifício começou a ser construído em Julho de 2007 e foi inaugurado em Maio de 2009, sendo o projecto de 2006/2007. O protótipo da fachada foi executado no decorrer do projecto de execução (1 ano antes da obra), para se aferir com precisão a estereotomia pretendida, indo ao encontro das dimensões fornecidas pela natureza e sem impor regras industrializadas. 65 Planta Piso 1 67 Alçada Nascente O protótipo permitiu criar uma regra para as fachadas, onde se introduziram os vãos que ficam enquadrados na esterotomia, contudo aparentemente essa lógica não é perceptível. A ideia em utilizar materiais naturais nos acabamentos e constituições do edifício, permite melhor enquadramento temático da cortiça na sua produção natural. A cor das janelas é tradicional da região e permite criar contraste com as tonalidades naturais da cortiça, denotando dinâmica e vitalidade ao edifício. O edifício adquire uma metáfora relacionada ao sobreiro, ao utilizar 2 tipos de cortiça, a virgem e a amadia, e no topo existirem uns elementos de sombreamento, como conotação à folhagem. 68 O facto do auditório ser revestido a cortiça, ter painéis com relevo e terem sido pintados frescos sobre a cortiça, também exemplifica grande inovação. Esquisso Arquiteto Manuel Couceiro 69 Ficha técnica O conceito da Eco-cabana surgiu da parceria entre a Agência Municipal de Ambiente Cascais ECO - CABANA Natura, Câmara Municipal de Cascais e Barbini Arquitectos, os quais a definiram como uma habitação de pegada ecológica mínima, decorrente do utilizo de materiais reciclados ou barbiniarquitectos Arquitetura: Barbini arquitectos recicláveis, bem como, a energias renováveis. Vencedores do concurso “Ideias Verdes”, promovido pelo Expresso e pela Água do luso em 2007, a construção do protótipo só teve início em dezembro de 2009. Localizada entre o Parque Marechal Carmona e o Museu do Mar, a eco-cabana alberga atualmente o primeiro Greenhotspot de Cascais, disponibilizando de informações e sugestões de atividades e percursos no Parque Natural Sintra-Cascais. Promotor: Câmara Municipal de Cascais e Cascais Natura Revestimento exterior em cortiça: Amorim isolamentos, S.A. Construção: Carmo Domótica: JGdomótica Energias renováveis: Alternative4U Fotografia: Barbini Arquitectos 70 A realização do protótipo serviu para apurarem questões técnicas relacionadas com o processo construtivo, que posteriormente será transposto para a criação diferentes tipologias (Open Space, T2, Camaratas, unidades de campo…). Relativamente ao método construtivo, o protótipo apresenta uma estrutura em madeira, sobre a qual é aplicado o revestimento interno em OSB 22 , e exterior em cortiça, aplicada num sistema de encaixes com fixação mecânica, de modo a ocultar o sistema de fixação. A Eco-cabana dispõe-se de sistemas de captação de energia limpa, solar e eólica e a captação de águas pluviais, através do sistema de autociclismo. Esses sistemas fazem referimento ao próprio conceito defendido pelo projeto, quanto a minimização do 22 OSB - (Oriented Strand Board) é um painel estrutural de tiras de madeira orientadas perpendicularmente, em diversas camadas, o que aumenta sua resistência mecânica e rigidez. Essas tiras são unidas com resinas aplicadas sob altas temperatura e pressão. Através desse processo de engenharia automatizado, os painéis permanentemente controlados e testados para verificar seus níveis de acordo com os padrões de qualidade. Disponível site: http://montagge.com.br. Acesso 24.08.2011. 71 impacto ambiental em áreas protegidas, a conservação e a preservação da natureza. Além disso, todos esses sistemas aplicados à eco- cabana contam com o controle energético, os chamados eco-créditos, sistema interno que auxilia os usuários a quantidade de recursos fornecidos pela natureza, que estão disponíveis para o consumo. 72 73 Ficha técnica A Adega da Logowines situa-se numa faixa de ADEGA LOGOWINES Arquitetura: terreno, com 3,5 ha, pertencente à Herdade da Leonor Duarte Ferreira/ Miguel Passos Pimenta em São Miguel de Machede no Concelho de de Almeida /pmc Arquitectos Évora. Com uma configuração rectangular de 110m por 27m, compõe-se um volume revestido a painéis de cortiça, interceptado por 3 “caixas” cinza, que organizam as principais zonas funcionais da adega. por dois pisos, estando um deles parcialmente enterrado com intuito de aproveitar as melhores condições climatéricas/ambientais para a produção, vinificação, conservação e estágio de vinho. Data do Projecto: 2005/2007 Data da Obra: 2007/2009 Área de implantação: 3.102m 2 A adega tem o total de 3780,00 m² de construção, distribuídos Local: Herdade da Pimenta, São Miguel de Machede, Évora Portugal Área de Construção: 3.780m 2 Estruturas: João Prego Paisagismo: Filipa Cardoso de Menezes / Catarina Assis Pacheco / Fe C Arquitetura Paisagística Especialidades: Procale Construtor: Prediobra Fiscalização: Procale Fotografia: PMC Arquitectos 74 Implantação do edifício A adega assume-se como uma ligação formal entre as Interiormente, a grande nave com 9,5m de pé direito livre, dado às fachadas, com uma forte marcação de linhas produção inovador, com cubas sobrepostas, que potenciam tradições do lugar e a dinâmica dos nossos dias. O ritmo horizontais, com recurso a várias espessuras dos painéis de revestimento em cortiça, onde se fundem as fenestrações para iluminação natural interior é reforçado pelo natural foi projectada com o objectivo de desenvolver um método de o sistema de gravidade, evitando a contínua bombagem do vinho durante as várias fases do processo de vinificação. comportamento do material escolhido, provocando um jogo A zona de recepção do vinho localizada no piso superior, de um edifício evolutivo, que sofre mutações ao longo do no piso semienterrado e onde se pode encontrar um de texturas, tons e sombras, que contribuem para a ideia tempo, numa clara alusão ao processo de maturação do vinho durante o período de fabricação. separa as áreas de vinificação e conservação, localizadas pequeno laboratório de apoio ao funcionamento da adega. O volume, ao nível do piso inferior, está equipado ainda com uma sala de estágio para 400 meias pipas, um armazém de estágio de garrafas, uma linha de enchimento e um armazém de secos e expedição com 700,00m2. Um laboratório central, para análise e provas, uma sala de refeições e os vestiários/ balneários para os funcionários, formam as restantes áreas técnicas do conjunto edificado. 75 Piso 1, Piso 0 e Alçada 76 No piso superior, que ocupa a área das duas “caixas” localizadas a nascente, fica a área de enoturismo e zona administrativa, com espaço de recepção, zona de provas, um ponto de vendas, e conjunto de gabinetes e salas de reunião. Estes espaços têm forte relação com o exterior, quer através dos grandes envidraçados que abrem sobre as vinhas existentes na envolvente do edifício, quer através do pátio interior, preparado para ser utilizado diariamente num ambiente acolhedor e intimista, trabalha ou visita a adega. para quem 77 “ Ficha técnica Mar enquanto corpo uno, transparente, com brilhos e reflexos, que funciona como elemento de ligação entre continentes; Continentes que surgem como corpos maciços, pousados sobre a leveza do mar. COLEGIO PEDRO ARRUPE Arquitetura: ” Gonçalo Rangel de Lima Jorge Matos Alves Pedro Neto Ferreira A ideia para este projecto nasce do pressuposto de uma vertente educacional com ligação ao mar e à sustentabilidade. Mar enquanto elemento de ligação entre continentes; continentes que surgem enquanto corpos sustentáveis. Local: Lisboa- Portugal Cliente: ALRISA - Sociedade Imobiliária, S.A. Data da construção: 2009-2010 Área de Construção: 17.500 m2 Fotografia: fornecidas pelo GJP Arquitectos Paisagismo: Jardim do Paço 78 O desenvolvimento do edifício baseia-se num conjunto de blocos independentes, interligados por uma membrana transparente, exteriores que cria cobertos, um conjunto garantindo as de passadiços necessidades de circulação. Esta pele envolve o piso térreo de todos os blocos e circula entre eles, criando a ilusão de um embasamento unificado, sobre o qual pousam alguns corpos de aspecto mais encerrado e pesado. Na concretização desta ideia, foram adoptados 2 materiais, o tijolo de vidro e o aglomerado negro de cortiça. Piso 1 e Piso 2 79 O tijolo de vidro, na caracterização do mar no embasamento, surge como material transparente, com reflexo e com brilho, que permite a passagem de luz, onde deixa ver e ser visto, numas zonas mais, noutras menos, consoante o tijolo mais liso e transparente ou translúcido. Como o próprio mar, não é homogéneo, embora aparente ser. Detalhe da aplicação da cortiça A cortiça surge como revestimento exterior das fachadas nos pisos superiores dos blocos, que parecem pousar sobre o embasamento em tijolo de vidro. A escolha deste aglomerado remonta à preocupação com a sustentabilidade, por ser um material natural, que garante não só uma excelente capacidade de isolamento térmico, como funciona perfeitamente como revestimento exterior, interagindo com as condições atmosféricas e clareando ou escurecendo, com o sol ou a chuva, respectivamente. Esta capacidade remete-nos para a imagem dos continentes em mudança, em evolução, em transfiguração. As coberturas vegetais são outro tema a abordar neste projecto, também com a preocupação da sustentabilidade. 80 Na concretização desta ideia, foram adoptados Esta capacidade remete-nos para a imagem negro de cortiça. em transfiguração. 2 materiais, o tijolo de vidro e o aglomerado dos continentes em mudança, em evolução, O tijolo de vidro, na caracterização do mar As transparente, preocupação da sustentabilidade. no embasamento, com surge como reflexo, com material brilho, permite a passagem de luz, deixa ver e ser visto, numas zonas mais, outras menos, consoante o tijolo mais liso e transparente ou translúcido. Como o próprio mar, não é homogéneo, embora aparente ser. A cortiça surge como revestimento exterior das fachadas nos pisos superiores dos blocos, que parecem pousar sobre o embasamento em tijolo de vidro. A escolha deste aglomerado remonta à preocupação com a sustentabilidade, por ser um material natural, que garante não só uma excelente capacidade de isolamento térmico, como funciona perfeitamente como revestimento exterior, que interage com as condições atmosféricas, clareando ou escurecendo, com o sol ou a chuva. coberturas vegetais são outro tema a abordar neste projecto, também com a 81 “ Portugal, uma praça para o mundo; Portugal, energias para o mundo Ficha técnica ” PAVILHÃO PORTUGUÊS Arquitetura: Carlos Couto A Expo 2010 teve como tema “Melhor Cidade, Melhor Qualidade de Vida”, foi maior evento internacional organizado pela China, depois dos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008. O evento contava a presença de mais de 240 países e organizações internacionais numa área de 528 hectares, ao longo das duas margens do rio Huangpu, afluente do rio Yangtze, que atravessa Shanghai. Local: Shanghai, China Data da Conclusão: Maio 2010 Construtora: PAL Asia Consult, sediada em Macau. Área construída: 2000 m² Fotos: www.portugalexpo2010.com.pt 82 O arquiteto português Carlos Couto criou uma obra de 2000 m² revestida em aglomerado puro de cortiça, como meio de reforçar os conceitos de inovação e as boas práticas ambientais, integrando-os sustentabilidade. ao conceito de “Portugal, uma praça para o mundo; Portugal, energias para o mundo”. O edifício reflete o conceito de sustentabilidade nas cidades contemporáneas, realçando-o como elemento-chave das políticas nacionais em termos económico-ambiental. Deste modo, situado numa posição privilegiada da 83 Expo, o edifício concebido em forma de paralelepípedo ponteagudo, possuía no seu interior seis áreas funcionais: área Protocolar, área Expositiva, Centro de negócios, área comercial, área administrativa e área técnica. Entretanto, a área expositiva abordava questões que envolviam relações históricas entre Portugal e a China, através de documentos, réplicas e obras de arte. 02 86 D ezenas de milhões de células prismáticas por centímetro cúbico, preenchidas com um gás semelhante ao ar atmosférico, são o que conferem à cortiça a eficácia no isolamento a ruídos de impacto, e a particular resistência e resiliência à compressão, que lhe permite recuperar quase completamente a sua forma e tamanho originais após um choque ou deformação. A cortiça granulada, com as suas propriedades inerentes, aglutina-se quando unida quimicamente a certos materiais, tais como a borracha, o plástico, o asfalto, o cimento, o gesso, a caseína, a resina e colas, formando uma combinação homogénea denominada aglomerado composto, constituinte de uma ampla gama de produtos usados para diversos propósitos. Dos aglomerados compostos resultantes da combinação da cortiça com os materiais mencionados acima, destaca-se a mistura da cortiça com a borracha - conhecida pelo termo inglês cork rubber. 87 N o que respeita ao isolamento acústico numa O segundo tipo, transmissão de ruídos aéreos, é referente mensuráveis que requerem redução para a obtenção de um cómodos contíguos de um edifício, cuja fonte sonora faz edificação, existem dois tipos de transmissão de ruído ambiente agradável e cumpridor de legislação: transmissão de ruídos de impacto e transmissão de ruídos aéreos. O primeiro tipo refere-se à transmissão de ruídos causados à propagação de ruídos produzidos no exterior ou em vibrar o ar diretamente. São exemplos de ruídos aéreos, as ondas sonoras provenientes da televisão, do rádio e de conversas em voz alta. por qualquer tipo de impacto desferido contra uma superfície Para a atenuação do nível sonoro de ruídos aéreos, é ou o contato e atrito da sola dura de um calçado com o o uso de materiais construtivos de massa e espessuras de separação, como por exemplo, o bater de uma porta pavimento. Este tipo de transmissão de ruídos é uma parte da construção que vibra primeiramente e, que transmite, em seguida, essas vibrações ao meio edificado através da propagação de ondas sonoras difundidas por corpos sólidos. A redução efetiva da transmissão de ruídos de impacto e das vibrações resultantes desse impacto faz-se com a interposição de um elemento elástico, como por exemplo, aconselhável, no caso da construção de paredes duplas, distintas, intercalados com Segundo os de elevada porosidade. códigos absorventes construção em acústicos Portugal, de a intensidade sonora da transmissão de ruídos de impacto deve ser inferior a 60 decibéis (dB), enquanto que para a transmissão de ruídos aéreos, o valor do isolamento deve ser superior a 50 decibéis (dB). o aglomerado de cortiça, entre o piso e a laje do edifício, de modo a garantir uma completa independência de contato entre essas duas superfícies. A intensidade do nível sonoro da transmissão de ruídos marginais - potências sonoras originárias das estruturas adjacentes - por sua vez, é reduzida com a aplicação do aglomerado de cortiça na descontinuidade entre a betonilha do piso e as paredes circundantes. F o n t e : w w w. l a r g e m i n d . p t 88 A Amorim Cork Composites (ACC) é uma subsidiária da Com efeito, são apresentados e discutidos neste trabalho indústria da cortiça e uma das mais internacionais empresas em que foram utilizados produtos AcoustiCORK ® , do tipo Corticeira Amorim, S.G.P.S., S.A., a líder mundial da portuguesas. Ademais, seguidora de padrões ambientais e sócio-económicos rigorosos relativamente à extração dessa matéria-prima renovável de valor inestimável, a Amorim Cork Composites (ACC) empenha-se na pesquisa alguns projetos, tanto de âmbito nacional como internacional, Underlay, como uma alternativa aos produtos de origem sintética, para a obtenção de um técnico no isolamento sonoro. melhor desempenho e no desenvolvimento tecnológico a fim de desenvolver produtos inovadores e de alto valor acrescentado, incluindo a produção de materiais em cortiça para a construção. Os materiais em cortiça desenvolvidos pela Amorim Cork Composites (ACC) são classificados de acordo com os propósitos aos quais se prestam, nas seguintes categorias: AcoustiCORK ® (para isolamento a ruídos de impacto e isolamento térmico), ExpandaCORK (para absorção da dilatação em elementos de betão), Isophone (para absorção sonora e revestimento de parede) e ACM - Acoustic Core Materials (para painéis modulares). Neste capítulo, serão abordadas exclusivamente as particularidades dos produtos AcoustiCORK ® , que estão, por sua vez, subdivididos nos tipos aplicativos Underlay 23 , Underscreed e Underfloor heating, dos quais o primeiro tipo receberá o maior enfoque. 23 F o n t e : w w w. l a r g e m i n d . p t O termo underlay de cortiça refere-se ao produto obtido da combinação da cortiça com a resina, comumente instalado abaixo de diversos tipos de pavimento, tais como flutuante, parquet, cerâmico, vinílico e alcatifa, e que proporciona a redução do ruído de impacto, melhoramento no isolamento térmico e maior conforto ao caminhar. 89 N o projeto deste bar-café, em São Martinho do Porto, optou-se por utilizar o produto AcoustiCORK ® T61, com o intuito de reduzir o nível sonoro de ruídos de impacto dos pavimentos cerâmicos, melhorar o seu isolamento térmico e a sua absorção acústica, bem como reforçar a sua resistência à compreesão para prevenir o surgimento de fissuras na sua estrutura. Ficha técnica Bohémia Café Localidade: São Martinho do Porto, Região de Lisboa e Vale do Tejo Produto: AcoustiCORK ® T61 - 5mm Propriedade acústica do produto: ∆Lw: 16dB Propriedades térmicas do produto: condutividade térmica, 0,043 W/m°K; resistência térmica, 0,132 m²°K/W 90 O Cacou Caffé é um estabelecimento moderno localizado na cidade de Aveiro, em Portugal. Com tendências minimalistas, este edifício possui o produto AcoustiCORK® T11 Underlay aplicado na parte inferior do seu pavimento de madeira colada, um subpavimento constituído de cortiça aglomerada, que concede ao piso uma redução significativa na transmissão de ruídos de impacto e um aumento de sua capacidade de isolamento térmico. Uma particularidade na estruturação deste produto está na utilização de uma barreira sonora periférica de 45mm de altura, a fim de reduzir a intensidade de propagação de ruídos de impacto lateral. Ficha técnica Cacou CafFé Localidade: Aveiro, Região Centro, Sub-região do Baixo Vouga Produto: AcoustiCORK ® T11 - 3mm Propriedade acústica do produto: ∆Lw: 26dB Propriedades térmicas do produto: condutividade térmica: 0,043 W/ m°K; resistência térmica: 0,077 m²°K/W. 91 N este edifício residencial lisboeta foi aplicado o produto AcoustiCORK ® T11, de 12mm de espessura, colocado na parte inferior do pavimento, com o propósito de conferir ao piso uma melhoria da sua capacidade de isolamento térmico. Ficha técnica Edifício Residencial Localidade: Largo das Belas Artes, Lisboa, Região de Lisboa e Vale do Tejo Produto: AcoustiCORK ® T11 - 12mm Propriedade acústica do produto: ∆Lw: 26dB Propriedades térmicas do produto: condutividade térmica: 0,043 W/ m°K; resistência térmica: 0,077 m²°K/W 92 O Novotel, um luxuoso hotel de 4 estrelas na capital da Turquia, utiliza um sub-pavimento AcoustiCORK ® C11, material natural e eco-sustentável, capaz de reduzir consideravelmente a transmissão de ruídos de impacto nos pavimentos flutuantes. Quanto à sua estruturação, o produto AcoustiCORK ® C11 é aplicado sobre uma película de polietileno de baixa densidade que cobre toda a superfície dos pavimentos, bem como as paredes circundantes e as juntas laterais, com alturas pré-definidas de 50mm e 100mm, respectivamente. Ficha técnica Novotel Localidade: Istambul, Turquia Produto: AcoustiCORK ® C11 - 2mm Propriedade acústica do produto: ∆Lw: 20dB Propriedades térmicas do produto: condutividade térmica, 0,043 W/ m°K; resistência térmica, 0,051 m²°K/W 93 C oncluída no ano de 2009, a construção do estádio Green Point foi motivada pela eleição da Cidade do Cabo como sede do Campeonato do Mundo de Futebol de 2010. Neste complexo de grandes dimensões, foi utilizado o produto AcoustiCORK ® T11, como subpavimento das estruturas em madeira laminada colada que cobre os corredores de acesso às salas VIP, com o intuito de atenuar o nível sonoro da transmissão de ruídos de impacto e simultaneamente, melhorar o isolamento térmico do piso. Ficha técnica Estádio Green Point Localidade: Cidade do Cabo, África do Sul Produto: AcoustiCORK ® T11 - 3mm Propriedade acústica do produto: ∆Lw: 26dB Propriedades térmicas do produto: condutividade térmica: 0,043 W/ m°K; resistência térmica: 0,077 m²°K/W. 94 A T61 torre Al Habtoor, um enorme arranha-céu localizado na cidade de Abu Dhabi, possui o produto AcoustiCORK ® utilizado como subpavimento para pavimentos cerâmicos, com o intuito de melhorar o isolamento acústico de ruídos de impacto, e prevenir o aparecimento de fissuras no piso. Ficha técnica Torre Al Habtoor Localidade: Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos Produto: AcoustiCORK ® T61 - 5mm Propriedade acústica do produto: ∆Lw: 16dB Propriedades térmicas do produto: condutividade térmica: 0,043 W/ m°K; resistência térmica: 0,132 m²°K/W. 02 98 A noção de arquitetura sustentável, inserida no contexto da arquitetura e envolvendo o ambiente e o edificado, reveste-se de grande atualidade e apresenta como ponto de partida o desenvolvimento do conceito de construção sustentável e dos seus benefícios. O conceito de desenvolvimento sustentável deve ser intrínseco à dinâmica de construção sustentável, abrangendo aspectos ambientais, sociais e economicos. A procura de equilíbrio deve ser efectuada através de maior eficiência, reduzindo a intensidade em materiais e energia e valorizando a dinâmica ambiental (Pinheiro, 2006). O sector da construção apresenta impactes ambientais importantes, associadas aos aspectos negativos das quatros fases associadas a um qualquer edificio - concepção, construção, operação e desactivação. Importa assim, disponibilizar alternativas simples adaptadas ao local e alternativas aos materiais de construção que auxiliem a concretização de projectos de carácter sustentável. De um ponto de vista ambiental, a sustentabilidade passa pelo desenvolvimento de projectos termicamente mais eficientes, através de melhores condições ambientais interiores, obtidas com um menor consumo energético, conduzindo a um menor impacte ambiental. “ Por desenvolvimento sustentável entende-se o desenvolvimento que satisfaz as necessidades actuais sem comprometer a capacidade das gerações futuras para satisfazerem as suas próprias necessidades. ” (World Commission on Environment and Development, 1987) “ N 99 Todos podemos fazer alguma coisa, e o que fizermos agora conta mais do que em qualquer outro momento da história. ” John Elkington e Julia Hailes o final do século XIX, surge um novo material de Para amenizar os resultados negativos causados ao ambiente, para as crescentes exigências funcionais dos materiais sobre Sustentabilidade [“The First International Conference Porém, com o passar dos anos, foram surgindo defeitos e aborda as questões relativas à construção sustentável, se julgava económico e eterno, revelou as suas fraquezas: do emprego de recursos renováveis e da maximização da construção, o betão, que aparentava ser a solução realizou-se em 1994 a primeira Conferência Internacional – economia, resistência e durabilidade (Mateus, 2004). on Sustainable Construction”], na Flórida, E.U.A., que anomalias no betão armado e este material, que de início com o objectivo de propor ambientes saudáveis, através (a) a sua limitada durabilidade, muito dependente de reutilização de recursos naturais. os elevados consumos energéticos dispendidos durante o Entretanto, o termo “construção sustentável” é usado – e durante as operações de demolição e de reciclagem, descrever as responsabilidades das indústrias para com o exigidos por esta tecnologia (Mateus, 2004). de construção, os produtos e o processo de construção É somente em meados do século XX que se iniciam as novo critério de sustentabilidade. salubridade. A partir do início dos anos 80, observa-se um Este novo conceito introduziu uma nova composição em que prevalecem as questões do bem-estar material, determinado por apenas três factores: qualidade, tempo onerosas intervenções de manutenção e de reabilitação; (b) fabrico dos materiais que o compõem – cimento e agregados pela primeira vez pelo professor Kibert 24 bem como, (c) a elevada quantidade de recursos naturais tema sustentabilidade. A prioridade era analisar os materiais primeiras preocupações associadas a em 1994, para das edificações tradicionais para então compará-los com o questões de grande aumento no progresso tecnológico e económico, no triângulo adaptado à indústria da construção – antes independentemente dos prejuízos causados à natureza. e custo – e que passa a abranger aspectos referentes, 24 Charles Kibert : professor na Faculdade de Projecto, Construção e Planeamento da Universidade da Florida. É co-fundador da Cross Creek Initiative, empresa sem fins lucrativos que tem como objetivo implementar os princípios da sustentabilidade na construção. Disponível em : www.fec.unicamp.br/. 25 Agenda 21 local: é um documento resultante da CNUMAD, também conhecida como cimeira da Terra, que decorreu no Rio de Janeiro em 1992. A Agenda 21 é um documento de referência que define medidas orientadoras necessárias neste século para que se concretize a transição para a sustentabilidade (Pereira, 2009). 100 por exemplo, à qualidade ambiental. Desta forma, a construção sustentável soma a essas temáticas as preocupações ambientais relacionadas com o consumo footprint], desenvolvida por W. Rees e Matis Wackernagel (Wackernagel e Rees, 1995). de recursos naturais, as emissões de poluentes, a saúde O cujo desafio principal é o de contribuir para a qualidade de valores estatísticos, seguidamente convertidos em valores e a biodiversidade, o que constitui um novo paradigma, vida, para o desenvolvimento económico e para a equidade social (Agenda 21). A Agenda 21 25 local é um processo participativo e multi- sectorial, com vista a atingir os seus objectivos ao nível local, através da preparação e implementação de um plano estratégico de acção a longo prazo, dirigido às prioridades locais, respeitando (Pinheiro, 2006). o desenvolvimento sustentável Em Portugal, grande parte dos municípios desenvolve e implementa a Agenda 21 Local, a qual, por vezes, tem sido conceito de pegada ecológica tem por base a caracterização das actividades e dos respectivos fluxos em espaciais. Estes valores podem ser comparados com a disponibilidade de espaço existente no país ou no mundo, de forma a suportar as restantes actividades, com a obtenção de uma indicação da eventual sustentabilidade. Através destes cálculos é possível comparar as necessidades da humanidade com a capacidade bioprodutiva e regenerativa do planeta, de modo a avaliar a sustentabilidade praticada atualmente. Entretanto, o mínimo de sustentabilidade só ocorre quando a pegada ecológica da humanidade for menor que a capacidade biológica produtiva do planeta ( Pinheiro, 2006). designada por Plano Municipal de Ambiente: declaração de Assim, a construção sustentável de novos edifícios, das acções delineadas sejam feitas com o consentimento dos poderá dar inicio a uma etapa decisiva, no sentido de intenções que permite assegurar que as realizações das actores locais. As atividades humanas, a procura de áreas construídas e recursos que motivam, exercem pressão sobre o espaço e respectivas infra-estruturas e da renovação dos existentes melhorar o desempenho ambiental das cidades e da qualidade de vida dos seus cidadãos. Os estudos realizados pelo United States Green Building 26 afeta o ecossistema. De entre as abordagens existentes Council , a partir dos conceitos de construção sustentável, o eventual efeito daqui resultante, destacam-se as que qualidade de vida e da saúde dos ocupantes de escritórios surgidas nos últimos anos, no sentido de compreender tentam comparar o consumo e a pressão das actividades com o território necessário para as suportar. Neste caso, encontra-se a designada pegada ecológica [ecological 26 apontaram resultados significativos como a melhoria da em edifícios verdes de 2% a 16% mais produtivos e também no progresso da aprendizagem de 40% dos estudantes em escolas, que apresentavam a iluminação natural como U.S. Green Building Council : organização sem fins lucrativo. Disponível em http://www.usgbc.org/. Acesso: 12.08.2011. 101 Atualmente 50% da população global vive em centros Quando se abordam os efeitos da construção, muitas vezes pessoas passam cerca de 90% do seu tempo nos edifícios negativos e incomodidades associados à obra em si, isto é, urbanos e estima-se que, no continente europeu, as (Tirone, 2009). O sector construtivo é o grande responsável pela emissão dos gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera (valor centra-se a análise numa parte importante dos efeitos à fase de construção, quando grande parte dos benefícios se associam à fase de operação. Esta percepção pode conduzir a uma abordagem reducionista (Pinheiro, 2006). estimado em 40%). Esta situação deve-se essencialmente A primeira fase do ciclo de vida do edifício corresponde aplicação em obra e à energia consumida nas fases de provavelmente a fase mais importante do processo, na à produção de materiais de construção, à sua posterior construção, operação e manutenção (Tirone, 2009). Em Portugal os resíduos de construção e de demolição atingem os 4.555.000 ton/ano dos quais apenas menos de 5% são reutilizados 27 . É através destes dados alarmantes, que a área da construção civil tenta procurar respostas com a utilização de materiais sustentáveis, que possuam capacidade de entrar no ciclo produtivo com maior aproveitamento e menos consumo de energia, até o términe do tempo de vida do edifício. Os impactes dos edifícios, tal como as infra-estruturas, reflectem-se de formas diferentes nas fases do seu ciclo de vida: Concepção- Construção- Operação- Desativação 26 27 à etapa de planeamento e concepção de projeto. É qual se inclui o levantamento das condições que permitem executar o projeto e suas atividades de licenciamento, com uma escala temporal medida em meses, podendo por vezes atingir alguns anos. As decisões referentes ao local, fornecedores, materiais de construção, necessidade energética, entre outras, serão refletidas nas fases posteriores do ciclo de vida da construção. Para evitar que os impactes ambientais associados a má gestão dessa primeira fase interfiram direta ou indiretamente nas demais etapas, é importante considerar os seguintes requisitos: • Optar por materiais de origem local • Ter atenção aos materiais de origem reciclada • Verificar se os materiais são ambientalmente certificados • Preferir materiais que possam ser renováveis • Lembrar sempre que os materiais têm um tempo de vida U.S. Green Building Council : organização sem fins lucrativo. Disponível em http://www.usgbc.org/. Acesso: 12.08.2011. Amoeda, R., 2009. Projectar para a Desconstrução. ( Conferências, Ordem dos Arquitectos, Secção Regional Norte). 102 limitado e que um dia terão de ser substituídos, optando Após a conclusão da fase de concepção, inicia-se a etapa • Estudar a escolha de madeiras de origem certificada, e das soluções fundamentais previstas na primeira fase por soluções de fácil renovação geralmente com origem em florestas controladas • Consultar o valor no Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) 28 isolamento térmico adequado à região para o • Promover a redução da transmissão de calor e frio através de caixilharias e vidros • Permitir ventilação através das caixilharias • 29 Garantir o isolamento junto ao solo com materiais que não apodreçam com a humidade • Definir cores claras na fachada e cobertura • Evitar tintas no interior que emitam COV’s (compostos orgânicos voláteis) • Gerir os resíduos produzidos em obra. Além destas considerações, importa mencionar outros fatores simples que contribuem para a elaboração de projetos mais sustentáveis e que privilegiem questões de conforto e economia. Entre eles, destacam-se: - Optimização da iluminação, da ventilação, do conforto energia e aquecimento 28 alternativas construtivas bem definidas na fase anterior, o resultado é visível na fase de construção, favorecendo uma baixa produção de resíduos em obra. A fase de construção é determinada pelas ações que vão desde o início da construção propriamente dita até à ocupação pelo proprietário, envolvendo questões do processo construtivo, associado à intervenção do local, alteração do uso do solo, consumo de matérias-primas, energia e água, e as prováveis alterações no ambiente natural ou construído. Esta fase origina os impactes mais relevantes e alterações significativas no ambiente num curto período de tempo, se analisarmos os efeitos causados na ocupação do solo, na alteração dos ecossistemas e na paisagem. No caso das estruturas edificadas, estima-se que o impacte 20% do impacte de um edifício, em todo o seu ciclo de vida - Uso de telhados e muros verdes - Captação de energia solar de modo a convertê-la para um melhor desempenho do edifício. Assim, com as ambiental devido aos materiais represente cerca de 10- - Captação e reaproveitamento de águas pluviais acústico e térmico da construção, que envolve a aplicação das estratégias em (Edwards e Bennet, 2003). A etapa seguinte do ciclo de vida do edifício é a fase de operação, que se estende desde a ocupação pelos indivíduos até ao final da utilização do empreendimento. RCCTE: é um dos três Decretos-Lei, DL 80/2006, que no seu conjunto faz a transposição para Portugal da Directiva, enquadrando o SCE ( Sistema Nacional de Certificação Energértica e Qualidade do Ar Interior nos Edifícios). Freitas, V. P., 2007. 29 Caixilharias: conjunto de caixilhos (moldura de madeira ou metal para painéis) de uma construção. Disponível em http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa-ao/ caixilharia. Acesso: 12.08.2011. 103 Nesta etapa podem incluir-se as operações de manutenção e A última fase do ciclo de vida da construção é a desativação No decorrer dos anos, na fase de ocupação e de utilização do acréscimo de produção de resíduos, em função da forma renovações pontuais, com carácter periódico e preventivo. edifício, lenta mas progressivamente, o impacto ambiental torna-se expressivo, levando em conta que a maior parte dos equipamentos de climatização e de refrigeração (ar condicionado, frigoríficos), libertam no ar resíduos que causam danos significativos. É, pois, durante a fase de operação do edificado que se verifica a maior intensidade de emissões de GEE (Gases de Efeito de Estufa), se comparados à fase de construção, associada essencialmente a consumos aquecimento de água e produção de resíduos. energéticos, Em Portugal segundo dados do balanço energético nacional de 1999, a operação dos edifícios corresponde a cerca de 22% do consumo final de energia. Representa um consumo total de 3,5 Mtep (milhões de toneladas equivalente de petróleo), sendo 13% dos edifícios residenciais e os restantes 9% referentes aos de serviços (DGE, 2002:6). O ambiente interior – onde se incluem o conforto, a saúde e a segurança dos utilizadores associados aos edifícios – é também um aspecto importante a ser considerado no impacte ambiental. Cerca de 30% de todos os edifícios novos e remodelados apresentam baixa qualidade do ar interior, devido a emissões nocivas, a deficientes condições de humidade e de ventilação, as quais geram o aparecimento de agentes patogénicos (Augenbroe e Pearce, 1998; Bourdeau et al, 1998). do edifício e traduz-se num processo importante no de eliminação ou de substituição. Os principais impactes negativos gerados por esta fase decorrem do nível de energia, de emissões de ruídos e de vibrações, e da produção de resíduos provenientes dos materiais construtivos. Em síntese, as pressões humanas sobre o ambiente são crescentes e as actividades de criação de ambientes construídos são elevadas. Os edifícios, em particular se considerados no seu ciclo de vida, são uma das áreas mais importantes em termos ambientais. Os impactes da construção no ambiente global, bem como dos edifícios, ainda não estão totalmente difundidos na indústria da construção e nas autoridades públicas (Gaspar, 2004). 104 “ O clima urbano é produzido pela acção do homem sobre a natureza e relaciona-se com a produção de condições diferenciadas de conforto / desconforto térmico, a poluição do ar, as chuvas intensas, as inundações e os desmoronamentos de vertentes dos morros – eventos de grande custo social ” Fotografia Jesús García Lombardo,1985. 105 P ara compreender melhor o funcionamento de um edifício é necessário considerar os seus elementos “envolventes” (paredes, coberturas, pavimentos, janelas e portas), que desempenham o papel de filtrar a passagem de luz, ar, ruídos e energia entre o exterior e interior. Assim, através dos cálculos específicos de balanço térmico, é possível contabilizar as trocas de calor que ocorrem no edificado. O conforto térmico depende de factores quantificáveis – temperatura e velocidade do ar, humidade, etc., e de factores não quantificáveis (ocupantes) – estado mental, hábitos, educação, etc. Assim, as preferências de conforto das pessoas variam bastante consoante a sua adaptação particular ao ambiente local (Khedari et al, 2000). A intensa transformação do meio natural através do processo de urbanização causou os mais evidentes e graves impactes na contaminação e na transformação do clima urbano, gerando uma inevitável perda de qualidade de vida dos habitantes das cidades. Com o objectivo de obter um ambiente interior dos edifícios termicamente confortável para os seus ocupantes, as normas sobre conforto térmico são actualmente uma ferramenta essencial. Inicialmente estas normas tinham como principal preocupação definir as condições de conforto térmico, sem ter em conta os consumos energéticos necessários para atingir o conforto. Devido aos cada vez mais evidentes problemas ambientais e à necessidade de um desenvolvimento sustentável, estas normas de conforto térmico têm de considerar formas de o atingir com o menor consumo energético possível (Nicol e Humphreys, 2002). A necessidade de isolamento térmico nos edifícios é cada vez mais notória, uma vez que os requisitos de conforto térmico e de eficiência energética estão cada vez mais restritos quanto à qualidade do ambiente interior do edifício e ao impacto ambiental. 106 C omo abordado no capítulo cortiça na construção com Pelo contrário, durante o Inverno, a necessidade é de acontece sempre no sentido de um elemento de temperatura insolação, fazendo uso de materiais que possuam grande o tema isolamento térmico, a transmissão de calor elevada para o de temperatura mais baixa, assim a quantidade de calor que o elemento “quente” cede, é igual a quantidade de calor que o elemento “frio” recebe. aquecimento e a intenção é a de aproveitar o máximo de capacidade calorífica, através do isolamento térmico, no exterior do edifício, de modo a manter o calor interno e reduzir a condensação na face interna das paredes. A energia dispendida de uma habitação está diretamente Julgando a importância das duas estações do ano, existem envolventes, perante as condições climáticas externas. a compreensão do comportamento do edifício nestas relacionada com o nível de isolamento dos elementos Assim sendo, quando o material construtivo não for isolante, é aconselhável a aplicação um isolante térmico que reforce duas fórmulas distintas que podem ser aplicadas para estações do ano. a capacidade do material construtivo e que proteja o interior das condições ambientais externas. VERÃO A cortiça caracteriza-se por apresentar um coeficiente de condutividade térmica relativamente baixo. A título de exemplo, refira-se que um dos produtos derivados da cortiça, o aglomerado de cortiça expandido, aplicado como isolante térmico, possui o coeficiente de condutibilidade λ=0,035 W/m.°C 30 de 90-140 Kg/ m³. e uma massa volúmica aparente seca É através do balanço energético dos edifícios, nos períodos Q aquec.= Qcond. + Qvento + QGI + Qrad.sol Q aquec.= necessidades de aquecimento Qrad.sol = ganhos térmicos devidos à radiação solar QGI= ganhos térmicos devidos aos equipamentos de Verão e de Inverno, que os fluxos de calor se distinguem. interiores. térmico nas edificações, a necessidade é de arrefecimento, Qcond.= trocas de calor No verão, quando a insolação se torna causa do desconforto adoptado pelos métodos de sombreamento por vegetação, isolamento exterior, ventilação natural, isolamento térmico em coberturas, entre outros. 107 INveRNO A Q arref.= Qcond. + Qvento - QGI - Qrad.sol humidade nos edifícios é muito problemática, originando a redução da eficiência energética, aumento Q aquec.= necessidades de aquecimento dos gastos em manutenção, problemas de durabilidade e Qrad.sol = ganhos térmicos devidos à radiação solar acção da humidade é o factor com maior peso na limitação redução do conforto. A degradação dos edifícios devida à da sua vida útil. A humidade nos edifícios pode ter origem QGI = ganhos térmicos devidos aos equipamentos em (Ashrae, 1997) 32 : interiores. • Humidade de construções : refere-se à humidade que se Qcond.= trocas de calor manifesta imediatamente na fase posterior à construção, referente ao processo de maturação do betão. • Humidade do terreno : proveniente do solo, através das fundações ou paredes por ascensão capilar. Para responder às crescentes exigências de conforto • Humidade de precipitação : infiltração provocada pela preocupações com o consumo de energia e com a protecção • Humidade de condensação : humidade proveniente da dos edifícios, de modo a minimizar as trocas de calor com • Humidade por causas fortuitas : causas acidentais, higrotérmico 31 , que estão intimamente associadas às ambiental, é necessário isolar termicamente a envolvente o exterior, com a consequente redução das necessidades de aquecimento/arrefecimento e diminuição dos riscos de ocorrência de condensações (Freitas, 2002). acção da chuva e do vento. saturação do vapor de água. inundações, tubos partidos, etc. Dentre todas as causas de humidades referidas anteriormente, a mais frequente nos edifícios é a humidade de condensação. De forma a evitar a ocorrência das condensações é necessário ventilar – diminui os níveis de humidade interiores; e isolar – aumento da temperatura das paredes e consequentemente diminuição do grau de saturação (Silva, 2006). 31 32 Higrotérmico : Relativo à água e ao calor. Disponível em : http://www.priberam.pt. Acesso 23.08.2011. Ashrae: American Society of Heating, Refrigeration and Air-Conditioning Engineers. Organização internacional fundada em 1894 tem a missão de promover os aparelhos de aquecimento, ventilação, ar condicionado e refrigeração para servir a humanidade e também a sustentabilidade através da investigação, dos padrões de escrita, publicação e educação. Disponível em: http://www.ashrae.org/. Acesso 23.08.2011. 108 A s pontes térmicas podem ser entendidas como o fluxo de calor que passa perpendicularmente às superfícies, A inércia térmica é um fenómeno que se refere às transferências calor a capacidade elementos, aumentando o risco de condensação e o contrariar as variações de temperatura no seu interior, ou devido a (Ben-Nakhi, 2003): • Alterações nas propriedades térmicas da envolvente do edifício na direcção lateral – interface entre os elementos estruturais e os materiais de enchimento de paredes; • Alterações de espessura da construção – um envidraçado inserido numa parede; • Diferença entre a área superficial interior e exterior – calorífica térmica volumétrica crescimento de bolor. As pontes térmicas podem ocorrer capacidade e através da condução térmica e da diferença de temperatura, reduzindo de certa forma a temperatura superficial dos (ou de volumétrica). A inércia térmica de um edifício é a capacidade do mesmo de seja, de reduzir a transferência ou transmissão de calor. Isto acontece devido à sua capacidade de acumular calor nos elementos construtivos. A velocidade de absorção e a quantidade de calor absorvida determina a inércia térmica de um edifício. Ela influencia o comportamento do edifício, tanto de Inverno, ao determinar a capacidade de utilização dos ganhos solares, como de Verão, ao influenciar a capacidade do edifício absorver os picos de temperatura. Considerando as acções térmicas exteriores que variam cantos; periodicamente (temperatura, radiação solar), o efeito da do edifício – tubagem de água quente. conforto térmico. • Produção de calor dentro de um elemento da construção inércia termica torna-se imprescindível para alcançar o A fim de minimizar ou evitar os efeitos negativos das pontes A inércia térmica é determinada em função da massa resistência térmica pontual, com a aplicação de isolamento um corpo de maior calor específico acumula ou liberta a térmicas, primeiramente aconselha-se um reforço da no local de ocorrência, ou, como segunda opção, a aplicação de materiais isolantes ou não em toda envolvente, com o propósito de aumentar a resistência da mesma. térmica do edifício, ou seja, do calor armazenado. Assim, mesma quantidade de energia, com menor variação de temperatura. Para a maioria dos materiais de construção, o calor específico está situado entre 0.85 a 0.95 KJ/Kg.ºC, excepto a madeira, cujo calor específico está situado entre 1.7 a 3.0 KJ/Kg.ºC (Silva, 2006). 109 Por motivo de complexidade de cálculo do efeito da Ventilação natural: é o movimento de ar dentro de um da necessidade da utilização de sistemas de equações controlado por meio de aberturas, como portas, janelas, inércia térmica no comportamento térmico do edifício e dinâmicos, de forma a conseguir contabilizar todos os fluxos energéticos ao longo do tempo, este capítulo limitase apenas às descrições acima apresentadas. ambiente, provocado por ventos externos e que pode ser etc. A quantidade de ar que passa através das aberturas depende da diferença de temperatura interior e exterior. As janelas, além de proporcionarem iluminação natural, permitem controlar a quantidade de ar que entra no edifício. As aberturas presentes nos telhados são protegidas por uma cobertura, que impede a entrada de chuva e reversão do ar que sai. Ventilação forçada: denominada ventilação mecânica, ocorre com a introdução de ventiladores, condutas de admissão e de exaustão. Um ventilador pode insuflar ar A num ambiente, tomando ar externo, ou extrair ar desse ventilação dos edifícios é cada vez mais um factor com enorme importância no desempenho energética das mesmo ambiente para o exterior. Quando um ventilador funciona no sentido de extracção do ar de um ambiente é habitações. Principalmente com a mudança das técnicas comumente designado por exaustor (Oliveira). foi aumentada a estaqueidade da envolvente dos edifícios, Inovar na Arquitectura, no campo da sustentabilidade, ( Silva, 2006). que de construção, em que, para reduzir as perdas de calor, reduzindo assim a taxa de infiltração de ar nas habitações As trocas de ar entre o edifício e o exterior podem ser divididas em dois mecanismos – Ventilação e Infiltração. Enquanto a infiltração é entrada de ar fortuito, através de fendas ou aberturas não intencionais, a ventilação é entrada de ar intencional entre o edifício e o exterior, através das janelas, grelhas. A ventilação pode ainda ser classificada como natural ou forçada (Ashrae, 1997): significa adoptar novas práticas, métodos ou tecnologias, sejam inovadoras ou que produzam resultados inovadores na relação do Homem com o meio ambiente. 110 ” Fotografia Jesús García “ Inovar na Arquitectura, no campo da sustentabilidade, significa adoptar novas práticas, métodos ou tecnologias, que sejam inovadoras ou que produzam resultados inovadores na relação do Homem com o meio ambiente. C 111 om o presente livro pretendeu-se abordar e discutir as qualidades intrínsecas da cortiça, matéria-prima originária, principalmente, da casca do sobreiro (Quercus suber), bem como reafirmar a importância desta árvore florestal no desenvolvimento histórico da indústria corticeira em Portugal. O contributo ambiental do montado, sistema de caráter agrossilvipastoril de elevada biodiversidade, é caracterizado pela sua capacidade fixadora de dioxido de carbono (CO2) e pela sua adaptação a solos economicamente inviáveis. Além disso, pelo fato dos seus processos vitais aumentarem a taxa de infiltração das águas da chuva no solo, o que impedem os processos naturais de desertificação, o montado apresenta-se como um grande aliado na preservação da fauna e da flora selvagens. Até alguns séculos atrás, a distribuição do sobreiro em Portugal estendia-se por todo o seu território, em um modo praticamente uniforme. Atualmente, a maior área florestal do país, na qual se encontra essa espécie quercínea, restringe-se às regiões localizadas a sul do rio Tejo - Ribatejo, Alentejo e Algarve -, e perfaz quase 90% da produção nacional de cortiça. Não obstante o desflorestamento dos últimos séculos, Portugal destaca-se como o maior produtor, transformador e exportador de cortiça do mundo. Sob o ponto de vista técnico-informativo, o conteúdo do presente trabalho apresentou e discutiu as potencialidades e as vantagens da aplicação da cortiça na arquitetura. Ademais, por meio de exemplos de obras de caráter histórico e contemporâneo em que a cortiça foi usada como material de construção, tencionou-se ainda reafirmar e incentivar o uso desta matéria-prima como uma alternativa eco-sustentável nas propostas arquitetônicas. É notória a presença da cortiça na cultura de povos antigos, tais como os fenícios, os gregos e os romanos, que já demonstravam interesse por esta matéria-prima renovável, seja como meio vedante, isolante ou como elemento flutuador. Embora a extração da cortiça seja uma prática milenar, foi apenas no final do século XIX, quando do desenvolvimento de uma técnica, por John Smith, para a produção do aglomerado puro expandido de cortiça, que o mercado corticeiro foi fortalecido, enriquecido e ampliado. Posteriormente, no decorrer do século XX, certos acontecimentos históricos, tais como a Guerra Civil Espanhola e a Guerra da Argélia, propiciaram o aumento da produção de cortiça em Portugal, e, subsequentemente, um desenvolvimento significativo do setor industrial para a transformação desta matéria-prima. 112 Nas últimas décadas, dada a necessidade de servir-se de um material que atendesse aos requisitos de funcionalidade e conforto em uma edificação, o mercado da indústria corticeira pôs-se a desenvolver aglomerados de cortiça para revestimentos - como, por exemplo, o aglomerado negro de cortiça - e peças de cortiça natural. É sabido que o setor da construção é o principal responsável pela emissão de gases do efeito estufa (GEE) na atmosfera, com uma parcela correspondente a 40% do total das emissões de gases causadores do efeito estufa. Isto deve-se essencialmente à produção de materiais de construção, à sua posterior aplicação em obras e à energia consumida nas fases de construção, operação e manutenção ( Tirone, 2009). Considerando a viabilidade e a idealidade do uso de materiais ecológicos e renováveis, é sensato, e, sobretudo, necessário percorrer caminhos eco-sustantáveis na arquitetura, que priorizem a redução do consumo energético, e, consequentemente, a atenuação do impacto ambiental deletério oriundo das edificações. Neste contexto, é relevante ter presente as potencialidades de aplicação da cortiça na arquitetura sustentável, que, dadas as suas singularidades inerentes, das quais se destacam a sua durabilidade, elasticidade, impermeabilidade e qualidade de renovação natural, apresenta-se como um material de construção por excelência. 114 Referência do capítulo Introdução 7- Mestre, A., Campelo, M. da G.,Silva, M., Velhinho, R., 2006. Sector e materias de cortiça. 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