s de s usuária a l e p o t r o f n o c epção de c Avaliação da per calcinhas ale niversidade Feev U : da an du ra G Marina A. Giongo; ail.com marinagiongo@gm Minho Universidade do : hD P h; ic nr ei H Daiane P. br daiaph@feevale. Resumo Este artigo apresenta alguns tópicos da pesquisa realizada no trabalho de conclusão de curso como requisito para graduação em Design de Moda e Tecnologia da Universidade Feevale. São apresentados conceitos de conforto e risco, bem como parâmetros associados a eles. A pesquisa observacional descritiva realizada através de conceitos da ergonomia investigou a percepção das usuárias quanto ao conforto de modelos pré-definidos de calcinha. Como resultado, o conforto psicológico se sobrepõe ao conforto físico, quando se trata deste tipo de vestimenta. Palavras-Chave: conforto do vestuário; percepção de conforto e risco; egonomia Design, Arte, Moda e Tecnologia. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 389 Avaliação da percepção de conforto pelas usuárias de calcinhas Introdução Este trabalho tem como tema a ergonomia aplicada ao vestuário para avaliação de conforto e risco no uso de calcinhas. Através da percepção do comportamento das usuárias, surgiu o problema de pesquisa: como a usuária de moda feminina percebe o conforto no uso de calcinhas? Como hipótese infere-se que o conforto físico é preterido quando o modelo de calcinha representa conforto psicológico para a usuária. Os projetos de design do vestuário que são desenvolvidos industrialmente, a partir de tabelas de medidas (antropometria estática), possuem um alcance restritivo em relação ao consumidor. Segundo Rosa e Moraes (2009), destacam-se como limitações: a íntima relação entre o produto e o corpo humano, a diversidade de estilos e segmentos do mercado consumidor e, o lançamento da maioria das peças sem testes de aceitação do consumidor, visto que se trata de um processo de alto custo, além da conseqüente facilidade com que uma nova idéia pode ser imitada ou copiada. Segundo Baxter (2003), o projeto de novos produtos envolve riscos e é preciso gerir estes riscos com competência. Sendo a calcinha um produto de moda, de característica efêmera, pode ser aplicado a esse conceito. É preciso, dentre outros tantos aspectos, garantir a qualidade dos produtos, com ferramentas de design que sejam efetivas. Pois, segundo o mesmo autor, os projetos de produtos que são aplicados de forma eficiente nas indústrias minimizam as perdas em relação à conquista e satisfação do consumidor final. Conforme Iida (2003), todos os produtos destinam-se a satisfazer necessidades humanas e, para tanto, entram em contato com o homem. Desta forma, possuem características desejáveis de qualidade. O autor coloca três características, que são: qualidade técnica, que considera a eficiência com a qual o produto executa sua função; qualidade ergonômica, que leva em conta itens de conforto e segurança como facilidade de manuseio, adaptação antropométrica e compatibilidade de movimentos; e qualidade estética, que atende a combinação de formas, cores, materiais e texturas para que os produtos sejam visualmente agradáveis. Moraes e Mont’alvão discorrem sobre a importância de projetar o produto adequado ao usuário: A abordagem ergonômica em relação ao design pode ser resumida como: ‘o principio do design centrado no usuário – se um objeto, um sistema ou um ambiente é projetado para uso humano, então seu design deve se basear nas características físicas e mentais do seu usuário humano. [...] (Pheasant, 1997, p. 12 apud Moraes e Mont’alvão, 2003, p.33). Na busca de mensurar o comportamento da consumidora frente ao uso de lingerie, é preciso identificar quais os elementos presentes no uso do produto que podem interferir na percepção de conforto e, consequentemente, no seu comportamento de compra. Design, Arte, Moda e Tecnologia. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 390 Avaliação da percepção de conforto pelas usuárias de calcinhas O valor desta pesquisa está na busca de qualidade, visto que o conforto no vestuário, dentro da área da ergonomia, é ainda pouco explorado no meio acadêmico brasileiro e não existem pesquisas quantitativas em relação à percepção de conforto no uso do produto de vestuário. O objetivo da pesquisa é identificar a percepção de conforto pelas usuárias de calcinha. Para avaliar a percepção do usuário, foi feita uma pesquisa observacional-descritiva qualitativa e quantitativa, baseada na metodologia de LINDEN (2004). Nesta pesquisa, foi realizada uma entrevista com referências verbais e de imagem para ilustrar pontos de risco relacionados ao uso do produto, bem como para identificar quais os modelos de lingerie mais utilizados pelas participantes da pesquisa. Após a entrevista, foi realizada com cada participante uma fotogrametria para identificar pontos de interferência na silhueta. Conforto O conforto, segundo Heinrich (2009) é um elemento-chave para o sucesso de produtos de vestuário. Segundo a autora “é precisamente no que diz respeito aos aspectos do conforto do vestuário que a Ergonomia desempenha um papel crucial e ao mesmo tempo muito peculiar” (Ibidem, p.2), pois o conforto percebido depende da interação ente o usuário e a roupa. “Assim, se os produtos não apresentarem as características técnicas mínimas capazes de propiciar o conforto físico isto pode causar, para além da incômoda sensação de desconforto, implicações sobre a saúde e o bem-estar do indivíduo” (Ibidem, p.3). Conforme Senthilkumar & Dasaradan (2007), o conforto é uma das características desejáveis nos produtos de moda. Para os autores, conforto não é uma propriedade têxtil, mas sim um sentimento humano, uma condição de tranqüilidade e bem-estar, que é influenciado por muitos fatores, incluindo propriedades têxteis. Designers de vestuário podem cuidar dos aspectos físicos e psicológicos de conforto por meio da seleção adequada de cores, texturas, estilo, modelagem, entre outros fatores. Linden reconhece a natureza multidimensional do conforto como resultantes das dimensões física, psicológica e fisiológica. O atendimento das três dimensões é indicação de harmonia. O autor afirma que o conforto psicológico está relacionado a questões como autoimagem, relacionamento com outras pessoas e privacidade. Os aspectos fisiológicos têm relação com o funcionamento do corpo humano que envolve ações de regulação involuntárias. Já o conforto físico corresponde à interação com a natureza e aos efeitos nas dimensões psicológica e fisiológica. (LINDEN, 2004). Broega (2007, p.3), também concorda com Hertzberg, ao passo que traz em seu trabalho o conceito de Slater, para quem o conforto é “a ausência de dor e de desconforto em estado neutro”. A autora também afirma que o conforto total do vestuário se divide em quatro aspectos fundamentais: Design, Arte, Moda e Tecnologia. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 391 Avaliação da percepção de conforto pelas usuárias de calcinhas – Conforto Termo fisiológico – estado térmico e de umidade confortável à superfície da pele, que envolve a transferência de calor e de vapor de água através dos materiais têxteis ou do vestuário; – Conforto Sensorial de “toque” – conjunto de várias sensações neurais, quando um têxtil entra em contato direto com a pele; – Conforto Ergonômico – capacidade que uma peça de vestuário tem de “vestir bem” e de permitir a liberdade dos movimentos do corpo; – Conforto Psico-Estético – percepção subjetiva da avaliação estética, com base na visão, toque, audição e olfato, que contribuem para o bem-estar total do portador. (SLATER, 1997 apud BROEGA, 2007, p.3). Para diversos autores, a sensação de conforto tem extrema ligação com emoções de valência prazerosa, entretanto é menos intenso que uma emoção. Ainda assim, as dimensões de intensidade, qualidade, tempo e a dimensão hedônica devem aparecer. Ao afirmar que o conforto é uma experiência mental, o autor defende que a aparência incide sobre o desconforto, A não ser que a experiência de sentir-se desconfortável apresente-se no ponto de valência hedônica nula (indiferença), que é previsto para essa dimensão. Contudo, embora teoricamente possa ser defendida, essa possibilidade não corresponde ao senso comum. Considerando que, normalmente, situações de desconforto e sentimentos de desconforto são tidas como essencialmente prazerosas, espera-se que o desconforto seja acompanhado ou ativado por estímulos com valência negativa na dimensão hedônica. Dessa forma, a aparência pode afetar positiva ou negativamente o desconforto, de forma inversa aos seus efeitos no conforto. (LINDEN, 2004, p. 91) Dessa forma, para o autor “o desconforto decorre de uma ativação negativa, de natureza fisiológica ou física” (LINDEN, idem, p.90), o que implica em um sentimento de carga hedônica negativa. É difícil descrever o conforto de forma positiva, mas o desconforto pode ser facilmente descrito, em termos como: pinica, coceira, quente e frio. Portanto, uma definição amplamente aceita para o conforto é liberdade da dor e do desconforto como um estado neutro (Senthilkumar & Dasaradan, 2007). Os autores ainda destacam algumas definições para o conforto sensorial, que é percebido através de várias sensações quando um tecido entra em contato com a pele, para o conforto de movimento, que é a capacidade de um tecido de permitir liberdade de movimento e moldar o corpo, conforme a exigência, e para o apelo estético, que inclui os cinco sentidos ativados pela roupa e contribui para o bem-estar do usuário. Para este estudo relativo à percepção de conforto no uso de calcinhas, somente serão analisadas as percepções de conforto físico e psicológico e não será enfoque o conforto Design, Arte, Moda e Tecnologia. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 392 Avaliação da percepção de conforto pelas usuárias de calcinhas fisiológico. Neste contexto, serão considerados aspectos de conforto psicológico o prazer, a imagem corporal e o bem-estar emocional, que têm relação com o uso de lingerie; e aspectos de conforto físico as interferências corporais identificadas na silhueta bem como sensação de desconforto, provocadas pelo atrito e pressão no contato da roupa íntima com o corpo. Destaca-se que estes últimos são fatores influenciadores do conforto fisiológico (LINDEN, 2004, p.80), porém, novamente, aqui se considera o conforto físico, por conta das conseqüências identificadas na silhueta corporal. Figura 1 - Imagem corporal Modelo para Avaliação da Percepção de Conforto Conforme o método proposto por Linden (2004, p. 257), “a avaliação de conforto no uso de produtos é mediada pelos valores pessoais, de acordo com a valência hedônica da experiência e com os seus potenciais efeitos sobre a integridade pessoal”. O comportamento de uso e não uso é explicado pela dimensão hedônica e pelos quatro tipos de prazer determinados por Tiger (1992, apud LINDEN, 2004): prazer físico, psicológico, social e ideológico. Assim, usar uma calcinha que proporciona desconforto aparente pode estar relacionado com o prazer psicológico. Não usar o mesmo modelo de calcinha por sentir desconforto no uso pode estar relacionado ao prazer físico. Na figura 2, modelo proposto por Linden (2004), em que a percepção do risco está ligada a aparência e a percepção da usabilidade e da funcionalidade, que são modelos mentais decorrentes da experiência de uso. Já na figura 3, está representado o modelo para percepção de conforto apresentado por Linden. Figura 2 - modelo para relação do conforto no uso do produto de acordo com as necessidades do consumidor Design, Arte, Moda e Tecnologia. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 393 Avaliação da percepção de conforto pelas usuárias de calcinhas Fonte: LINDEN, 2004, p.260. Conforme o modelo de avaliação de conforto e risco no uso de produtos sugerido por Linden, a avaliação se dá a partir de características do produto, fórmula de estímulo e referência dominante para o usuário. A avaliação pode ocorrer em diferentes níveis de processamento e gera, afinal, respostas afetivas que podem ser emoções prazerosas, desprazerosas ou sentimento de indiferença. Figura 3 - modelo para percepção de conforto e risco Fonte: LINDEN, 2004, p. 261 Linden (2004) supõe que o uso do calçado de salto alto e fino e bico fino é motivado pela aparência. Além disto, apenas 10% das mulheres consideram que este tipo de calçado é seguro e confortável, além de ter boa aparência, o que corrobora com a suposição do autor. Supõe-se que para o uso de calcinhas, este comportamento seja semelhante, visto que lingerie e calçados femininos são elementos da moda que são ícones do imaginário fetichista e sensual, o que pode justificar um resultado semelhante a esta pesquisa. Métodos e Técnicas aplicadas A metodologia utilizada para esta pesquisa consistiu em revisão bibliográfica e aplicação em campo de ferramentas para avaliação da percepção de conforto. Tais ferramentas foram aplicadas a partir dos métodos de Marconi e Lakatos (1999) e Linden (2004) para a entrevista e AREZES et Al (2006) para a fotogrametria. Design, Arte, Moda e Tecnologia. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 394 Avaliação da percepção de conforto pelas usuárias de calcinhas Os participantes desta pesquisa foram recrutados seguindo o tipo de amostra não probabilística. Este tipo de amostra foi eleito por enquadrar-se nas limitações inerentes a esta pesquisa, tais como tempo e métodos de pesquisa. Foram avaliadas 40 voluntárias na etapa de aplicação em campo. Este número de participantes está de acordo com o proposto por Iida (2005, p. 113), que afirma ser uma amostra representativa em pesquisas de design um número de 30 a 50 indivíduos. Participaram apenas alunas do Curso de Design de Moda e Tecnologia da Universidade Feevale com idade entre 18 e 28 anos, considerado o ano de nascimento (1982 a 1992); altura entre 1,55m e 1,80m e massa entre 45 kg e 75 kg, dentro das faixas de Índice de Massa Corpórea (IMC) consideradas abaixo do peso e peso normal. Parâmetros de peso e altura foram considerados apenas os declarados pelas entrevistadas, não foram aferidas as medidas e massas. Estes parâmetros visaram garantir que as participantes da pesquisa não estivessem acima do peso, com base no IMC, o que poderia afetar as condições de avaliação de interferência na silhueta. Para avaliar a percepção das usuárias de calcinhas quanto ao conforto e o risco no uso do produto, foi proposta a execução de fotogrametria como método para verificar, através da imagem, a ocorrência de interferência corporal na silhueta das entrevistadas e, desta forma, confrontar com a percepção declarada pelas usuárias. Resultados e Discussões A hipótese do trabalho foi parcialmente confirmada. Isto porque a usuária percebe o risco apresentado – interferência na silhueta –, porém o conforto físico é de fato preterido em função do conforto psicológico. Das 40 participantes da pesquisa, 30 afirmaram que trocariam o modelo de calcinha para evitar formação de marca na silhueta. Entretanto, a figura 4 mostra um comparativo entre uso e percepção de conforto das usuárias, que revela que o modelo percebido como mais confortável é o menos utilizado e que o modelo percebido como o maior causador de marca na silhueta é o segundo mais utilizado. Design, Arte, Moda e Tecnologia. São Paulo: Rosari, Universidade Anhembi Morumbi, PUC-Rio e Unesp-Bauru, 2010 395 Avaliação da percepção de conforto pelas usuárias de calcinhas Figura 4 - comparativo entre uso e percepção de conforto Fonte: executada pelo autor. Além disso, o conforto é item recorrente nos critérios de escolha, entretanto a estética tem valor praticamente igual. Este resultado vai ao encontro do estudo da semântica de produtos que afirma que o ser humano responde ao que as coisas significam para ele, não as qualidades físicas destas, conforme Linden e Kunzler (2001). É válido ressaltar que esta pesquisa poderia ser mais aprofundada com o uso de software específico para sobrepor e cruzar as imagens obtidas, o que geraria dados mais concretos para a avaliação da interferência corporal. Aqui se observou, a princípio, apenas a percepção das usuárias, porém há a perspectiva de continuar o desenvolvimento deste tipo de investigação acerca do conforto de vestuário, principalmente de moda íntima, que é um dos setores industriais mais produtivos do Brasil. Para tanto, é preciso gerar conhecimento e novas tecnologias para a indústria de vestuário e é pertinente o questionamento: Como agregar conforto físico e psicológico ao design de produto de moda íntima? Referências AREZES, P., Barroso, M., Cordeiro, P., Costa, L., Miguel, A. Estudo Antropométrico da População Portuguesa. Lisboa: Instituto para a Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, 2006. BROEGA, A. A avaliação do conforto como um parâmetro de controle de qualidade no processo têxtil. 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