O Conjunto CFESS/CRESS na luta pela Reforma Urbana: uma pauta com urgência política A plataforma de lutas por cidades justas e com igualdade substantiva, defendida pelos movimentos sociais e segmentos organizados da sociedade brasileira, desde a Constituição Federal de 1988, vem consolidando avanços e conquistas, estabelecendo princípios e diretrizes para as políticas públicas urbanas. A constituição das cidades no Brasil expressam os efeitos do modelo de desenvolvimento urbano, perverso e desigual, adotado ao longo da história brasileira. Caracterizam-se por profundas desigualdades econômicas, sociais, políticas, culturais e ambientais, marcadas pelo caráter predatório da industrialização, destruição dos recursos naturais, despejo de diferentes populações de suas terras e moradias de origem, desemprego e baixos salários, trabalho informal, precarização da educação e saúde, pobreza nas áreas urbanas e criminalização dos movimentos sociais. As raízes desse processo estão relacionadas à modernização conservadora e excludente do Brasil, marcada por uma urbanização que combinou um gigantesco processo migratório do campo para as cidades com a expansão dessas últimas através da periferização, com a reprodução da força de trabalho pela via da subsistência e espoliação territorial. Em consequência, as condições de vida nas cidades brasileiras têm se deteriorado nas últimas décadas, expressando a fragilidade na consolidação dos direitos conquistados historicamente. O aprofundamento dos problemas sociais, relacionados à sobrevivência cotidiana de trabalhadores e trabalhadoras, o aumento da exploração e a consequente concentração da riqueza explicitadas na forma privada de apropriação do solo urbano, na desigualdade de acesso ao uso dos equipamentos públicos, na segregação sócio espacial e nas precárias formas de moradia, revelam as determinações históricas de constituição das cidades do país. A questão urbana assume um lugar de destaque na chamada questão social, demandando estratégias de articulação política com vistas à construção de alianças em direção à construção de outra sociabilidade. Por outro lado, as cidades são também espaços de disputas na perspectiva de construção de outra ordem social, justa e igualitária. A conquista do marco legal, que defende cidades justas e igualitárias, sem discriminação de gênero, idade, raça, etnia e orientação política e religiosa, é resultado de lutas dos movimentos sociais e de setores da sociedade compromissados com a perspectiva da construção de uma nova ordem societária, sem dominação-exploração de classe, etnia e gênero. O tema da Conferência Nacional “QUEM MUDA A CIDADE SOMOS NÓS: REFORMA URBANA JÁ”, exige articular uma direção política na defesa do direito à cidade como direito de tod@s, no compromisso com uma gestão democrática e participativa, no uso dos recursos disponíveis e das fontes de financiamento de forma transparente. É nessa perspectiva que o Serviço Social brasileiro, através das organizações políticas da categoria profissional e das ações cotidianas dos assistentes sociais, tem pautado a Reforma Urbana e a construção de uma agenda política que se soma à luta dos movimentos sociais e segmentos organizados da sociedade brasileira para romper com as profundas desigualdades sociais, econômicas, políticas, culturais e ambientais, na defesa de cidades justas sob os pressupostos da igualdade e da liberdade. Na perspectiva do Serviço Social brasileiro o direito à cidade está diretamente articulado a defesa de uma Seguridade Social pública, na perspectiva da transversalidade das políticas sociais. A necessidade da articulação das políticas sociais de proteção social com as políticas urbanas coloca-se numa dupla dimensão: como uma agenda de luta pelo direito à cidade, e como possibilidade da formação de consciência crítica em relação à desigualdade social no Brasil. O que defendemos é o direito à cidade, articulado aos direitos ao trabalho, à saúde, à previdência, à assistência social, ao acesso à justiça, educação, à diversidade humana, à liberdade de orientação sexual, à livre identidade de gênero e à cultura, ao lazer, à segurança pública e à participação popular. Nesse sentido, tendo em vista a construção de espaços urbanos nos quais a moradia, o transporte público, o saneamento e infraestrutura urbana respondam a uma dimensão de universalização do acesso, qualificada pela integração das políticas, o Serviço Social brasileiro incorpora a defesa do Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano, cujas bases sociais e políticas estão na participação popular e no controle social. Trata-se de uma agenda política estratégica, cuja relevância está na potencialização dos espaços de controle democrático, na universalização das políticas urbanas, na ampliação dos direitos, na socialização da política, na transparência e na redistribuição dos recursos. Estamos convencidos que a seguridade social e a questão urbana expressam hoje campos de luta estratégicos, e o Serviço Social tem importante contribuição a dar nestas áreas, pela experiência profissional e pela reflexão acumulada. Do ponto de vista do Serviço Social brasileiro, a luta para romper com a desigualdade social demanda a incorporação da defesa do direito à cidade, nas dimensões urbana e rural. Neste sentido, faz-se necessário reafirmar a participação nos conselhos de políticas, conferências e fóruns de reforma urbana; articulação e apoio às lutas dos movimentos sociais pelo direito a terra, pela moradia digna, pelos direitos dos povos originários, quilombolas, população em situação de rua e catadores de materiais recicláveis; a garantia da participação popular nas discussões no âmbito do planejamento das intervenções urbanas, conforme determina o Estatuto da Cidade, através de audiências públicas, assembleias locais, reuniões distritais; a integração à luta junto com os movimentos sociais em defesa da mobilidade urbana; enfim, retomando o lema da Conferência Nacional “QUEM MUDA A CIDADE SOMOS NÓS: REFORMA URBANA JÁ”, que aos trabalhadores seja garantido o direito de mudar as cidades e ao reconstruí-las, que elas sejam espaços livres das opressões, das formas de dominação e exploração. Conselho Federal de Serviço Social (membro da Coordenação Nacional do Fórum Nacional da Reforma Urbana) e Conselhos Regionais de Serviço Social Junho de 2013.