MINISTÉRIO DA SAÚDE GRUPO HOSPITALAR CONCEIÇÃO CENTRO DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA E PESQUISA EM SAÚDE – ESCOLA GHC INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO SUL – CÂMPUS PORTO ALEGRE Curso de Especialização em Saúde Mental: Gestão, Atenção, Controle Social e Processos Educacionais COMPORTAMENTO DISRUPTIVO NA INFÂNCIA O PAPEL DOS FATORES PSICOSSOCIAIS VANESSA MACHADO DA COSTA ORIENTADOR: MARCELO BORGES LEITE PORTO ALEGRE 2013 Resumo O objetivo deste artigo é conhecer e refletir os fatores psicossociais que podem estar relacionados ao comportamento da criança com transtorno desafiador opositor, mediante uma revisão de Conteúdos. O método de acesso à literatura: artigos, teses, Livros, Revistas Científicas e teve como fonte de informação as bases de dados: Biblioteca Virtual em Saúde, Portal da Capes, Scielo, LILACS e Medline, por meio de diversas combinações de descritores. Concluímos que este transtorno corresponde aos mais comuns sintomas da juventude contemporânea evidenciados cientificamente e que sofrem diretamente influencias que se evidenciam por meio de respostas geradas nos fatores psicossociais. Palavras-Chave: Comportamento Disruptivo; Representação Social; Psicologia Social; Fator de Risco. Abstract The goal in this paper is to know and ponder the psychosocial factors that could relate to the child’s behavior with Oppositional Defiant Disorder through content review. The method of access to the bibliography: papers, thesis, books, scientific magazines and, as an information source, the following databases: BVS, Portal da Capes, SciELO, LILACS and Medline, through the combination of multiple descriptors. We concluded that this disorder matches the most common contemporary youth symptoms scientifically evinced and suffer direct influence of the answers generated in psychosocial factors. Keywords: Destructive Behavior; Social Representation; Social Psychology; Risk Factor. Introdução É necessário para um melhor entendimento do tema uma contextualização de conceitos de/a (s): transtorno desafiador opositor; significância do ser; psicologia social e as relações sociais; família contemporânea; comportamento desafiador e o desempenho escolar. *Enfermeira. Artigo entregue como requisito para obtenção do título de especialista em Saúde Mental: Gestão, Atenção, Controle Social, e Processos Educacionais da Escola GHC/IFRS, Porto Alegre – RS, Brasil. [email protected] **Médico Mestre em Saúde Coletiva e Psiquiatra. Professor e Orientador da Escola GHC/IFRS, Porto Alegre –RS, Brasil. [email protected] 3 Devemos salientar que o termo psicossocial tem sido utilizado para referir uma grande variedade de fatores psicológicos e sociais que se relacionam com a saúde e a doença mental1. Autores consideram que não existe termo mais apropriado para descrever a interação entre as características da pessoa, nomeadamente traços de personalidade, mecanismos de defesa, estados emocionais e cognitivos e os fatores sócios- ambientais. No entanto, apesar de salientarmos a importância das dimensões psicossociais da pessoa, na sua relação com a saúde e com a doença mental, não podemos, contudo, descurar a sua vertente biológica, dado que a suscetibilidade da pessoa quer genética, quer adquirida, é considerada de extrema importância para a saúde mental. Isto porque os fatores psicossociais podem interagir com a dimensão biológica e contribuir para o desenvolvimento de comportamentos inadequados2. Neste sentido, podemos considerar a saúde mental como um equilíbrio dinâmico que resulta da interação do indivíduo com os seus vários ecossistemas: o seu meio interno e externo; as suas características orgânicas e os seus antecedentes pessoais e familiares. Os estudos retrospectivos mostraram que em 50% dos casos de transtorno disruptivo começa na adolescência. Lá na frente, a trajetória de desenvolvimento deste transtorno é de grande interesse para pesquisadores e clínicos3. Entre a década de 1990 e meados dos anos 2000 nos Estados Unidos, houve um aumento dramático na taxa de diagnóstico de transtorno disruptivo em crianças e adolescentes, em paralelo com a discussão na literatura profissional sobre a apresentação deste transtorno em jovens4. A proporção de transtornos de comportamento diagnosticados de todos os registros de internação psiquiátrica nos Estados Unidos aumentou de 10 para 34% em crianças e de 10 para 49% em adolescentes em 08 anos. Em 1996, havia 1,3 diagnósticos com estes transtornos por 10.000 crianças e adolescentes na população em geral, enquanto que em 2004, a proporção era de 7,3 por 10.000, aumento de cerca de umas cinco vezes. Em 4 ambulatórios, o aumento foi de aproximadamente 40 vezes durante esse período5. É possível que essa juventude fosse previamente sub-diagnosticada, para explicar o grande aumento nas taxas. No entanto, outra explicação plausível é a mudança na forma como os critérios de diagnóstico foram aplicados, levando a erros de diagnóstico de outras condições como rótulo de transtorno disruptivo. Transtorno Desafiador Opositor O Transtorno Desafiador de Oposição (TDO) é um transtorno disruptivo, caracterizado por um padrão global de desobediência, desafio e comportamento hostil. Os pacientes discutem excessivamente com adultos, não aceitam responsabilidade por sua má conduta, incomodam deliberadamente os demais, possuem dificuldade em aceitar regras e perdem facilmente o controle se as coisas não seguem a forma que eles desejam. O DSMIV define o diagnóstico como um modelo de comportamento que satisfaz quatro (entre oito) critérios citados adiante por pelo menos seis meses com disfunção social ou ocupacional. A prevalência de TDO em amostras da comunidade está em torno de 6%6. A característica essencial do transtorno desafiador de oposição é um “padrão recorrente de comportamento negativista, desobediente, desafiador e hostil com as figuras de autoridades”, por pelo menos seis meses7. Para preencher os critérios diagnósticos, a criança deve apresentar quatro dos oito seguintes sintomas, com frequência (ou seja, muito mais do que a maioria das crianças da mesma idade): • perda de paciência; • raiva; 5 • ser vingativo; • discutir com adultos; • desobedecer; • aborrecer os outros; • culpar os outros pelos próprios erros ou maus comportamentos e • ser suscetível ou aborrecer-se facilmente com os outros. Para serem diagnosticados, os comportamentos devem prejudicar os relacionamentos interpessoais ou o desempenho escolar8. O transtorno de conduta (TC) é definido por violações mais graves como roubo, agressão e crueldade com animais e pessoas. Embora o TDO esteja fortemente correlacionado ao TC do ponto de vista longitudinal, um considerável subgrupo de pacientes não evolui dessa forma. O TDO é também altamente comórbido com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), estando presente em cerca de 50% desses pacientes9. DSM-V indica uma nova proposta de categoria/diagnóstico, cujo principal sintoma é a desregulação emocional. Que são amplas para a população pediátrica, pois incluem tanto internalização e externalização dos distúrbios, mas estão principalmente ligadas a transtornos depressivos. Finalmente, a evidência de tratamento inclui terapia cognitiva comportamental, especialmente intervenção parental, mas há uma necessidade premente para a pesquisa sobre o tratamento farmacológico adjuvante10. O transtorno desafiador de oposição, incluso no capítulo referente aos transtornos disruptivo, de controle do impulso e da conduta, no DSM-511 vai ser considerado um padrão de comportamento irritadiço, contestatório, desafiador ou mesmo caracterizado por atos de desforra e vingança com duração maior que seis meses e evidenciado por sintomatologia característica. 6 Tal conduta ocasiona dificuldades com companheiros e com o meio social, com impacto negativo, e o comportamento ocorre independentemente do uso de substâncias, quadros depressivos, bipolares ou psicóticos. É caracterizado também em graus, embora estes nos pareçam pouco específicos para uma classificação que se propõe a ser objetiva. Tem-se assim: • Leve: sintomas confinados a um ambiente específico, por exemplo, escola, companheiros. • Moderados: alguns sintomas presentes em, ao menos, dois ambientes. • Grave: alguns sintomas se apresentam em três ou mais ambientes. Significância do Ser O ser é o sujeito de uma produção do capitalismo que não apenas produz bens e serviços, mas também projeta a realidade psíquica, fabricando a relação do sujeito com o mundo e consigo mesmo54. É desde a perspectiva de indissociação sujeito/mundo que se toma os modos de subjetivação contemporâneos. A subjetividade resulta de um entre cruzamento de determinações coletivas de várias espécies como sociais, tecnológicas, econômicas, etc. Assim, quando o presente artigo refere-se aos modos de subjetivação, quer indicar as maneiras de sentir, amar, perceber, imaginar, sonhar, fazer, bem como de habitar, vestir-se, embelezar-se, dentre outras54, 53 e 12. Quer indicar, portanto, as diferentes expressões de como somos afetados por um mundo em constante mutação. A subjetividade é social, podendo ser assumida e vivida pelos sujeitos particularmente. O modo pelo qual os sujeitos tomam para si essa subjetividade, no entanto, oscila entre dois processos: o de uma relação de alienação e opressão, e o de uma relação de expressão e criação. No primeiro, chamado de individualização, o sujeito 7 simplesmente submete-se à subjetividade tal como a recebe. No segundo, chamado de singularização, o sujeito reapropria-se dos componentes da subjetividade, resistindo à ordem vigente13. Acompanhando as características dos dois processos descritos, à singularidade cabe a riqueza e a diferenciação que provêm dos diversos modos de viver; enquanto à individualidade cabe o produto de valores hegemônicos, ou seja, indivíduos produzidos a fornadas, "deslocáveis ao sabor do mercado", adaptados "aos tais 'tempos que correm'..."13. O capitalismo contemporâneo produz modos de subjetivação que geram “toxicômanos de identidade” que são os sujeitos que buscam, no consumo de kits de perfis-padrão ditados pelo mercado, minimizar a sensação de vazio e o medo da exclusão. Essas identidades são oferecidas pela mídia e representam personagens globalizados, vencedores, com os quais o sujeito busca se mimetizar, adotando uma linguagem clichê, seguindo uma miragem que nunca alcançará, mas que produzirá incessante busca e ansiedade13. Fatores Psicossociais, Psicologia Social e Relações Sociais Fatores Psicossociais são os acontecimentos vitais-estressores que precedem, mais frequentemente, os primeiros episódios de transtornos de humor e poderiam provocar alterações nos estados funcionais de vários sistemas neurais. Dificuldades financeiras, doenças na família, perda de uma pessoa importante, uso de drogas, entre outras podem contribuir para o desencadeamento da doença14. O termo psicossocial tem sido utilizado para referir uma grande variedade de fatores psicológicos e sociais que se relacionam com a saúde e a doença mental. Não existe termo mais apropriado para descrever a interação entre as características da pessoa, 8 nomeadamente traços de comportamento, personalidade, mecanismos de defesa, estados emocionais e cognitivos, e os fatores sócios- ambientais15. A psicologia social aborda as relações entre os membros de um grupo social, buscando compreender como o homem se comporta nas interações sociais, - estuda o condicionamento comportamental do homem nas suas relações-. Esse processo se dá a uma resposta provocada por um estímulo, um objeto ou um contexto, que os mecanismos mentais conferem a esfera social humana, enquanto por sua vez a vivência em sociedade igualmente interfere nos padrões de pensamento do homem. Esse ramo da psicologia pesquisa as relações sociais, a dependência recíproca entre as pessoas e o encontro social16. O termo Relações Sociais vem do comportamento social ou a ação social, que é voltada direta ou indiretamente para as outras pessoas e que solicita uma resposta do outro agente. As relações sociais podem estruturar comportamentos regulares ou conformar-se numa "estrutura particular de relações sociais", materializando-se em instituições particulares - tais como a família patriarcal, o código civil17. Na rede psicossocial esquematicamente, todos os sujeitos atuam em três cenários, a família, o trabalho e o consumo, onde se desenrolam as suas histórias com seus elementos, afetos, dinheiro, poderes e símbolos, cada qual com sua força e onde somos mais ou menos hábeis, mais ou menos habilitados, formando uma rede psicossocial. Esta rede é caracterizada pela participação ativa e criativa de uma série de atores, aqueles que articulam a representação subjetiva com a prática objetiva dos indivíduos em sociedade. “O ato de representação transfere o que é estranho, perturbador do universo exterior para o interior, coloca-o em uma categoria e contexto conhecidos”18. 9 Representações Sociais também são definidas como formas de conhecimento que “orientam e organizam as condutas e as comunicações sociais”, sendo estes conhecimentos, de fundamental relevância para a compreensão deste fenômeno19. Família Contemporânea A família, desde os tempos mais antigos, corresponde a um grupo social que exerce marcada influência sobre a vida das pessoas, sendo encarada como um grupo com uma organização complexa, inserido em um contexto social mais amplo com o qual mantém constante interação20. O grupo familiar tem um papel fundamental na constituição dos indivíduos, sendo importante na determinação e na organização da personalidade, além de influenciar significativamente no comporta mento individual através das ações e medidas educativas tomadas no âmbito familiar21. Pode-se dizer, assim, que esta instituição é responsável pelo processo de socialização primária das crianças e dos adolescentes22. Nesta perspectiva, a família tem como finalidade estabelecer formas e limites para as relações estabelecidas entre as gerações mais novas e maisvelhas23 propiciando a adaptação dos indivíduos às exigências do conviver em sociedade. Assim, frente a tais alterações, as tendências atuais da família moderna é ser cada vez mais simétrica na distribuição dos papéis e obrigações, ou seja, uma família marcada pela divisão do casal referente às tarefas domésticas, aos cuidados com os filhos e às atribuições externas, sujeita a transformações constantes, devendo ser, portanto, flexível para poder enfrentar e se adaptar às rápidas mudanças sociais24inerentesao momento histórico em que vivemos. No que diz respeito às relações entre pais e filhos, esse padrão também se modificou, não sendo mais baseado na imposição da autoridade e sim na valorização de 10 relacionamentos abertos, pautados na possibilidade de diálogo25, o qual é considerado um elemento importante dentro do contexto familiar, principalmente, no que se refere à convivência entre os membros da família26. A educação das crianças perdeu, portanto, seus aspectos autoritários. A criança continua sendo mantida sob a vigilância atenta da mãe, porém o processo educativo passa a ter novas exigências, como a consideração da questão da afetividade27. Considerando-se esta realidade, atualmente, verifica-se elementos contraditórios nas práticas paternas e que existem poucas regras que são determinadas, antecipadamente, para disciplinar o cotidiano das crianças28. Em relação às funções psicológicas, podem-se citar três grupos centrais: a) proporcionar afeto ao recém-nascido, aspecto fundamental para garantir a sobrevivência emocional do indivíduo; b) servir de suporte e continência para as ansiedades existenciais dos seres humanos durante o seu desenvolvimento, auxiliando-os na superação das “crises vitais” pelas quais todos os seres humanos passam no decorrer do seu ciclo vital (um exemplo de crise que pode ser mencionado aqui é a adolescência); c) criar um ambiente adequado que permita a aprendizagem empírica que sustenta o processo de desenvolvimento cognitivo dos seres humanos29. À família corresponde a um lugar privilegiado de afeto, no qual estão inseridos relacionamentos íntimos, expressão de emoções e de sentimentos. Portanto, pode-se dizer que é no interior da família que o indivíduo mantém seus primeiros relacionamentos interpessoais com pessoas significativas, estabelecendo trocas emocionais que funcionam como um suporte afetivo importante quando os indivíduos atingem a idade adulta. Estas trocas emocionais estabelecidas ao longo da vida são essenciais para o desenvolvimento dos indivíduos e para a aquisição de condições físicas e mentais centrais para cada etapa do desenvolvimento psicológico30. 11 No que tange à função social da família, o cerne está na transmissão da cultura de uma dada sociedade aos indivíduos, bem como na preparação dos mesmos para o exercício da cidadania31. Sendo assim, é a partir do processo socializador que o indivíduo elabora sua identidade e sua subjetividade32, adquirindo, no interior da família, os valores, as normas, as crenças, as ideias, os modelos e os padrões de comportamento necessários para a sua atuação na sociedade33. Ressalte-se que as normas e os valores que introjetamos no interior da família permanecem conosco durante toda a vida, atuando como base para a tomada de decisões e atitudes que apresentamos no decorrer da fase adulta. Além disso, a família continua mesmo na etapa adulta, a dar sentido às relações entre os indivíduos, funcionando como um espaço no qual as experiências vividas são elaboradas34. Em um estudo comparando mães de crianças em risco de TDO com mães de crianças sem sintomas elevados de TDO, relataram que as mães de crianças com risco de TDO informaram mais disfunção familiar, sentiam-se menos competentes como mães, sugeriram menos soluções para os problemas comportamentais da criança, demonstrou um enfoque menos assertivo no manejo do mau comportamento da criança e relataram mais transtornos internalizantes do que o fizeram as mães de crianças sem sintomas elevados de TDO35. Crianças com TDO apresentam significativamente mais disfunção familiar até do que controles psiquiátricos. Há uma clara relação entre TDO e sofrimento e mau funcionamento familiares. Infelizmente, devido à natureza transversal da maioria desses estudos, é difícil definir a direção da associação entre desagregação familiar e TDO36. Estudos naturalísticos demostram que ao avaliar a eficácia de um programa em grupo de treinamento de pais (TP) na redução dos sintomas de TDO e transtorno de conduta (TC) em crianças brasileiras com TDO, a maioria dos pacientes continuou 12 preenchendo critérios para TDO, mas a gravidade dos seus sintomas de TDO diminuiu 48,75%. A diferença entre as médias na escala de gravidade de sintomas desafiadores opositivo foi estatisticamente significativa (p = 0,031). O número de critérios de TC preenchido pelos pacientes também foi largamente reduzido37. Quando se avalia uma família com conflitos e crianças com transtorno desafiador de oposição, os membros da família devem ser entrevistados sobre: Conteúdo dos problemas em casa; O Processo pelo qual os membros da família se comunicam, resolvem problemas e tentam conseguir o que querem (o conteúdo é, em geral, “o quê”, e o processo, em geral, “como”). As questões relacionadas ao conteúdo podem se concentrar no que cada membro gosta e não gosta, no assunto das discussões, nos métodos usados para que os outros membros da família concordem com algo, no que acontece antes e depois de uma discussão ou desobediência, e na percepção que cada membro tem dos problemas familiares38. Vários padrões familiares podem ser disfuncionais e levar a problemas de comportamento nas crianças. Essas famílias apresentam muitas vezes ansiedade de separação, tensão, superproteção e hostilidade. Uma família isolada evita contato com pessoas de fora. As crianças passam a maior parte do tempo com os pais e participam de poucas atividades extracurriculares39. As famílias normalmente apresentam problemas específicos de comunicação, como acusações, interrupções, a comunicação é por meio de terceira pessoa, fazem preleções ou dão ordens em lugar de simples comunicações, usam digressões, remoem o passado, são intelectualizados, fazem ameaças, fazem gozações, monopolizações das conversas e silêncio40. As famílias disfuncionais concentram-se, além disso, em problemas passados, irresolutos ou excessivamente complicados, que não são facilmente solucionáveis. Velhas mágoas como um caso amoroso do passado ou um incidente na escola podem ser 13 constantemente trazidas á tona, não para resolver problemas, mas para punir o ofensor. As estratégias de solução de problemas também podem oscilar, pois os membros da família: • Coagem uns aos outros a aceitar sua própria solução pessoal; • Oferecem soluções vagas ou que servem a eles próprios, • Demonstram inflexibilidade ou • Frustram-se com o processo e desistem. Os padrões das famílias disfuncionais estão relacionados, além disso, a distorções cognitivas dos pais e dos jovens. As distorções dos pais podem ser de “ruínas”, “obediência”, “perfeccionismo”, “auto culpabilização” e “intenção maligna”. “Ruína” é a crença de que um jovem deve obedecer a todas as ordens dadas por um dos pais. “Perfeccionismo” é a crença de que o jovem sempre conhece e toma as decisões corretas quanto aos eventos do cotidiano. “Auto culpabilização” é a crença de que é sempre dos pais quando a criança comete um erro. “Intenção maligna” é a crença de que o jovem apresenta um mau comportamento só para aborrecer ou provocar raiva nos pais. Comportamento Desafiador de Oposição Todas as crianças passam por fases difíceis que muitas vezes poderiam ser descritas como “de oposição”, especialmente quando se está cansado, com fome, estressado ou chateado. Quando eles estão assim podem discutir, conversar, desobedecer e desafiar os pais, professores e outros adultos. Há também momentos no desenvolvimento normal que o comportamento de oposição é esperado, como por exemplo, entre dois a três anos de idade ou até mesmo na pré-adolescência. Entretanto, o comportamento hostil se torna uma preocupação quando é frequente e consistente, que se destaca quando comparado com 14 outras crianças da mesma idade e nível de desenvolvimento e quando ela afeta a família da criança, social e a escola. Problemas de comportamento na infância têm sido relatados como umas das queixas mais frequentes em clínicas de psicologia sejam públicas ou privadas, constituindo-se em desafio para os profissionais da área de Saúde Mental. Consideram-se problemas de comportamento aqueles comportamentos socialmente inadequados, representando déficits ou excedentes comportamentais que prejudicam a interação da criança com pares e adultos de sua convivência. Esses problemas de comportamento são decorrentes de uma quantidade significativa de eventos negativos provenientes da família, desencadeando danos no desenvolvimento da criança, em uma das fases cruciais de sua vida, tornando-se assim, fator condicionante para o desenvolvimento de problemas de comportamento na infância53. Segundo, Simone Barbosa Pasquini, Psicóloga, crianças com transtorno desafiador opositor (TDO), geralmente apresenta um padrão contínuo de comportamento não cooperativo, desafiante, desobediente e hostil incluindo resistência à figura de autoridade. O padrão de comportamento pode incluir: •Frequentes acessos de raiva •Discussões excessivas com adultos, muitas vezes, questionando as regras •Desafio e recusa em cumprir com os pedidos de adultos •Deliberada tentativa de irritar ou perturbar as pessoas •Culpar os outros por seus erros e mau comportamento •Muitas vezes, ser suscetível ou facilmente aborrecido pelos outros •Frequente raiva e ressentimento •Agressividade contra colegas 15 •Dificuldade em manter amizades •Problemas acadêmicos. Embora não haja nenhuma causa claramente compreendida, acredita-se ser uma combinação de genética e ambiente, incluindo: •Disposição natura de uma criança •Limitações ou atraso no desenvolvimento da capacidade de uma criança no processo de pensamento e sentimento •Falta de fiscalização •Inconsistência ou disciplina severa •Abuso ou negligencia •Desequilíbrios de certas substâncias químicas do cérebro, tais como a serotonina. Este problema é bastante comum, ocorrendo entre 2% e 16% das crianças e adolescente. Em crianças menores é mais comum em meninos, mas durante a adolescência ocorre com frequência em ambos os sexos. O inicio é geralmente gradual e aumenta a gravidade dos problemas de comportamento ao longo do tempo41. Segundo teorias sócias ambientais, a violência e a agressividade seriam aprendidas. De acordo com a teoria da aprendizagem social, as crianças aprendem valores e normas do grupo social ao qual pertencem, através de suas próprias vivências e testemunhos do comportamento do seu grupo social. Se os seus comportamentos forem recompensados ou punidos de forma adequada, se a criança tem exemplos positivos dos pais e não testemunha conflitos familiares, ela conseguirá desenvolver cognições e habilidades sociais que lhe permitirão interpretar dados sociais, conduzindo-a a um comportamento adequado e não violento42. Do ponto de vista sócio ambiental, indivíduos mais agressivos apresentam déficits no processamento das informações sociais, ou seja, na habilidade de codificar informações, interpretar e considerar riscos e benefícios de suas ações43. 16 Em um estudo longitudinal, identificaram como principais preditores sociais do comportamento agressivo e violento: pobreza, criminalidade na família, criação precária, reprovação escolar, déficit de atenção e hiperatividade e comportamento antissocial na infância44. No Brasil, avaliaram os principais determinantes sócios ambientais do comportamento agressivo. Concluíram que desigualdades socioeconômicas, baixos salários, baixa renda familiar, ausência de políticas públicas integradas e condizentes com as necessidades da população em relação à saúde, educação, moradia e segurança, a prioridade no desenvolvimento econômico em detrimento do social e intenso apelo ao consumo, conflitando com o empobrecimento do país, estão relacionados a um aumento no risco de comportamento extremamente agressivo, como o homicídio45. De acordo com alguns autores, esses comportamentos apresentam características comuns que os distinguem de outros tipos de manifestações comportamentais, e podem ser agrupados de acordo com a definição de problemas de externalização. Os problemas de externalização estão ligados à manifestação da agressividade, impulsividade e de comportamentos delinquentes; já os problemas de internalização envolvem depressão, ansiedade, retraimento social e queixas somáticas46. Assim, enquanto os problemas de internalização estão relacionados aos transtornos do humor e transtornos de ansiedade, os problemas de externalização estão associados ao desenvolvimento do transtorno da conduta e ao transtorno desafiador opositivo47. Diversos autores usam os termos “internalização” e “externalização” que foram introduzidos para refletir o fato de que problemas de externalização envolvem conflitos com o ambiente, enquanto problemas de internalização envolvem conflitos com o self. Essas duas categorias refletem uma distinção detectada em inúmeras análises multivariadas 17 de problemas comportamentais e emocionais de crianças e adolescentes, que demonstraram a existência de tipos de problemas contrastantes48. Os jovens também apresentam distorções cognitivas como “justiça”, “ruína”, “autonomia” e “aprovação”. “Justiça” é a crença de que os pais não são justos ao aplicar as regras. “Ruínas” é a crença de que as regras familiares arruinarão o Status da criança perante os amigos ou na vida em geral. “Autonomia” é a crença de que uma criança deve fazer o que quer. “Aprovação” é a crença uma criança não devem fazer nada que aborreça os pais40. Desempenho Escolar Os sintomas de crianças com transtorno desafiador de oposição são geralmente vistos em várias configurações, mas são mais perceptíveis em casa ou na escola. Estudos compararam pacientes com TDO a pacientes com TDAH, a um grupo com essa comorbidade e a controles. Encontraram que pré-escolares com TDO e TDAH tinham os mais altos escores de dificuldades com colegas e déficits de desenvolvimento49. Demonstraram que crianças com TDO e TDAH tiveram um desempenho pior em termos de funcionamento social do que crianças somente com TDAH ou com TDO e do que controles sem esses transtornos. Crianças com TDO demonstraram menor dificuldade com aprendizado do que crianças com TDAH50. Autores Americanos destacaram que crianças que apresentavam somente TDO tiveram maior recusa à escola do que as que tinham TDAH e mesmo do que o grupo comórbido. Também encontraram que TDO estava relacionado com disfunção social em comparação aos controles psiquiátricos51. 18 Discussão Nessa investigação crítica do conteúdo encontramos como resultado que há evidências consistentes de que os fatores psicossociais influenciam no comportamento desafiador opositor, interagindo com a dimensão biológica e contribui para o desenvolvimento de comportamentos inadequados. Os estudos examinados acumulam evidências de que as transformações sociais estão na base de diversos problemas psicológicos contemporâneos, na organização social, na estrutura e funcionamento das famílias nos últimos tempos, nas relações particularmente do modelo sócio ambiental. Isto estabelece umaassociação de fenótipos (caracteristica) de desregulação do emocional que são amplas e incluem tanto internalização e externalização de distúrbios, momentos, sofrimentos. Neste contexto se percebe que o contexto psicológico estabelece relações entre o ambiente físico e social do trabalho e as percepções do mesmo por parte do sujeito. Verifica-se uma grande influência por parte das características estáveis da personalidade sobre o modo de perceber a realidade, a forma de responder perante a realidade percebida e o modo como essas respostas incidem sobre a saúde e o bem estar psicológico. Crianças desafiadoras e conflitos familiares podem se desenvolver por meio de processos coercitivos de reforços positivos e negativos, equivocadamente diferenciados. A mãe (ou pai) pode dar uma ordem como “limpe o quarto!” para uma criança que responde “não”. A mãe pode, então, desculpar o comportamento da criança, culpar alguém pela sua desobediência, “suborná-la” para que faça a tarefa, ou fazer a tarefa por ela. A 19 criança recebe, assim, reforço positivo pela desobediência, e o padrão desafiador continua e piora. O reforço negativo também se aplica: a mãe (ou pai) pode dar uma ordem que o filho rejeita: a criança e a mãe elevam a voz e gritam à medida que a mãe tenta forçar a criança a obedecer; a mãe pode usar punição física para forçar a obediência, mas isso, em geral é ineficaz; por fim, ela pode desistir de tentar fazer a criança obedecer. A criança recebe, assim, reforço negativo pela desobediência, pois a mãe cedeu e a aliviou de fazer uma tarefa como limpar o quarto. Ao longo do tempo, a criança aprende que a desobediência ou os acessos de birra obrigam os pais a cederem. Os membros da família, portanto, coagem uns aos outros para conseguir o que querem52. Considerações Finais Foram incluídos e revisados 54 publicações cientificas: 46 artigos, 3 teses, 6 livros, havendo equivalência de quantidades de idiomas, entre Português e Inglês. Dentro dessas publicações foram utilizados como critérios de exclusão publicações em outras línguas que não focem português e inglês, que não tivessem como tema: transtorno desafiador opositor, significância do ser, psicologia social e as relações sociais, família moderna, comportamento opositor e desafiadores e relações e desempenho escolar. Mesmo que tivessem os mesmos descritores das publicações que fizeram parte desta pesquisa. O total de publicações investigada fechou em 89, incluindo as bases de dados pesquisadas: Biblioteca Virtual em Saúde, Portal da Capes, SciELO, LILACS e Medline. Assim são evidenciados cientificamente que o transtorno desafiador de oposição possui os mais comuns sintomas da juventude contemporânea, e que sofrem diretamente 20 influencias que se evidenciam por meio de respostas geradas nos fatores psicossociais, que são percebidos através de acontecimentos e circunstâncias dinâmicas significadas pelo ser. É importante salientar que estes sintomas disruptivos e descontrole dos impulsostambém fazem parte do quadro clínico de várias psicopatologias de comportamento como o de conduta. Os resultados analisados até o presente sugerem a necessidade de novas investigações, que busquem terapia comportamental cognitiva, experiências de processo que orientem a organizar das condutas e das comunicações sociais principalmente no período da infância, psicoeducação parental, pois conforme as investigações de conteúdo podem afirmar que a família ainda mantém seu papel específico de exemplo de moral e adequação no contexto social em que se insere uma criança apesar das transformações significativas vivenciada nas últimas décadas. REFERENCIAS 1. Binik, Y. (1985). Psychosocial Predictors of Sudden Death: A Review and Critique. Social Scien ceand Medicine (7): pp. 667-680. 2. Fonseca, A.F. Psiquiatria e Psicopatologia. Lisboa: Fundação Calouste Goul benki an, 1985. 3. Kessler R. C, Berglund P., Demler O., Jin R., Merikangas K. R., Walters E. E. Lif et imepreval ence and age-of-onset distributions of DSM-IV disorders in the National Comorbidity Survey Replication. 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