IMUNOPATOGÊNESE DA ALERGIA A PROTEÍNAS DO LEITE DE BOVINOS* LUCAS DANIEL QUINTEIRO DE OLIVEIRA, JESSÉ DOS SANTOS TEIXEIRA, CLAYSON MOURA GOMES, VALÉRIA BERNADETE L. QUIXABEIRA, HERMÍNIO MAURÍCIO DA ROCHA SOBRINHO Resumo: a alergia a proteína do leite de bovinos (APLB) é uma enfermidade comum em crianças predispostas apresentando a sua etiopatogenia mediada por mecanismos imunológicos. A APLB causa complicações que comprometem a qualidade de vida dos pacientes. Esta revisão abordará os principais fatores e mecanismos imunológicos envolvidos nesta reação adversa a alimento possibilitando um melhor entendimento da imunopatogênese da doença. estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. Palavras-chave: Alergia. Proteína do leite. Crianças. Imunopatogênese. Qualidade de vida. A alergia a proteína do leite de bovinos (APLB) é uma alergia alimentar cada vez mais prevalente e com duração mais prolongada, sendo mais comum no grupo pediátrico. Manifesta-se clinicamente por meio de sinais cutâneos e sintomas gastrointestinais principalmente nos primeiros anos de vida das crianças assim que o alimento é inserido na dieta dos lactentes (VIEIRA et al., 2010). No Brasil há uma alta prevalência desta doença, a qual induz uma variedade de alterações fisiopatológicas provocadas pela ação do sistema imunológico contra diferentes proteínas do leite bovino (proteínas de baixo peso molecular) (VIEIRA et al., 2010). Estudo realizado por Vieira et al., (2010) em 20 cidades brasileiras, demonstrou uma prevalência de 5,4% de crianças com APLB e uma incidência de 2,2%. Estima-se que no mundo 5% das crianças com menos de 5 anos de idade sejam afetados por alguma alergia alimentar em comparação a outras faixas etárias como adolescentes e adultos jovens (Boyce et al., 2010; KO- 793 LETZKO et al., 2012). A prevalência de alérgicos a alimentos nos 3 primeiros anos de vida é maior do que em outras faixas etárias (MIUKI et al., 2013; MOHSEN et al., 2012). A partir da sensibilização imunológica originada a partir do contato de leucócitos com o antígeno protéico do leite de bovinos é possível classificar as reações adversas ao alimento nas formas mediada pelo anticorpo IgE e não mediadas pela IgE, sendo fundamental diferenciá-las do processo de intolerância alimentar (DENIS; LORAS-DUCLAUX; LACHAUX, 2012). O contato antigênico com a mucosa intestinal proporcionará os estímulos celulares e moleculares que iniciam a reação adversa específica à proteína do leite bovino responsáveis pelo desenvolvimento das alterações fisiopatológicas corporais (CALDEIRA; CUNHA; FERREIRA, 2011; SICHERER; SAMPSON, 2006). O diagnóstico da APLB deve ser realizado precocemente e com cautela, uma vez que o tratamento baseia-se na exclusão do leite e derivados da alimentação do paciente. E eliminá-lo sem sua adequada substituição e suplementação pode prejudicar a qualidade nutricional e o crescimento normal das crianças. Pelo fato que a APLB ainda não tem seus mecanismos imunogênicos bem esclarecidos é fundamental descrever o envolvimento dos diferentes elementos da imunidade inata e adquirida que juntos orquestram os mecanismos que conduzem à expressão fenotípica desta doença. Este artigo de revisão é produto de análise e investigação bibliográfica realizada nas bases de dados: MEDLINE (PubMed), SCIELO e LILACS, através da consulta a artigos publicados em periódicos especializados na última década, dando ênfase a análise do conhecimento teórico referente a imunopatogenia do assunto abordado. A busca foi realizada no período de setembro de 2013 a maio de 2014, sendo utilizados, isoladamente e em combinação, os seguintes descritores: hypersensitivity to cow’s milk (CMPA); milk allergy, immunopathogenesis of cow’s milk; sensitivity to milk protein; IgE mediated CMPA. Do material pesquisado foram encontrados 105 artigos, apresentando uma diversidade entre os idiomas inglês, espanhol e português, a partir deles foram selecionados 60 artigos que apresentavam conteúdos que melhor contribuíram para o cumprimento do objetivo deste trabalho. A seleção dos artigos envolveu os seguintes critérios: clareza do assunto abordado, objetividade, relevância e pertinência ao tema. Etiologia 794 O desenvolvimento de uma reação alérgica pode ser multifatorial a partir da interação entre fatores ambientais (antígenos) e genéticos, sendo relevante destacar a predisposição genética (atopia), historia familiar de atopia, o histórico de exposição ao alérgeno, a idade da primeira reação, o preparo do alimento, a gravidade da reação ocorrida e a carga antigênica (DENIS; LORAS-DUCLAUX; LACHAUX, 2012; estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. Metodologia SPERGEL, 2013). Estudos apontam que a predisposição genética contribua para deficiência estrutural da mucosa, alteração da síntese de enzimas digestivas e imaturidade do sistema imunológico (CALDEIRA; CUNHA; FERREIRA, 2011). As reações adversas a alimentos ocorrem com maior frequencia em neonatos, principalmente devido as alterações da permeabilidade da barreira do trato gastrointestinal e sua própria imaturidade fisiológica, assim como uma deficiência na regulação da resposta imune a proteínas heterólogas (CALDEIRA; CUNHA; FERREIRA, 2011). Uma situação que normalmente ocorre é a alergia alimentar devido a não amamentação materna exclusiva, pois sabe-se que o leite materno apresenta elementos imunológicos em sua composição tais como: citocinas, enzimas e imunoglobulinas que auxiliam no processo da regulação da resposta imune nos lactentes (KALLIOMAKI et al., 1999; BOTTCHER et al., 2000). O leite materno apresente a IgA secretora (s-IgA) que é transferida da mãe para a criança: baixos níveis de s-IgA têm sido associados com aumento do risco de alergia ao leite bovino. A citocina denominada TGF-β (Fator de crescimento e transformação do tipo beta) está presente no leite humano e constitui um fator imunossupressor capaz de regular a atividade de linfócitos T e de células apresentadoras de antígenos da mucosa intestinal, e ainda é capaz de aumentar a capacidade da criança de produzir anticorpos da classe IgA contra β-lactoglobulina, caseína, gliadina e ovalbumina reduzindo as reações alérgicas alimentares que, normalmente, são mediadas pelo anticorpo da classe IgE (KALLIOMAKI et al., 1999; BOTTCHER et al., 2000). A composição de ácidos gordurosos polinsaturados e poliaminas parece afetar a alerginicidade versus imunoproteção do leite materno (DUCHENK et al., 2000). Altos níveis de proteína catiônica eosinofílica têm sido associados com aumento da incidência de alergia ao leite de vaca e dermatite atópica (OSTERLUND et al., 2004). Dessa forma dieta de exclusão do leite bovino é capaz de induzir o aumento do risco de retardo do crescimento, distúrbios alimentares e problemas psicossociais (DAMBACHER et al., 2013). estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. Diagnóstico e Manifestações Clínicas O diagnóstico da APLB é baseado numa história clínica e na definitiva ausência de sintomas após eliminação do leite bovino da dieta da criança e da mãe que amamenta, e da recorrência de sintomas idênticos durante a reintrodução do leite bovino (FIOCCHI et al., 2010). De acordo com Fiocchi et al., (2010) para um diagnóstico adequado de uma alergia alimentar questões como o contato precoce, a natureza dos sintomas, a frequência de sua manifestação, o tempo entre a ingestão e o aparecimento dos sintomas, a quantidade de leite necessária para provocar sintomas, o método de preparação de leite, a reprodutibilidade da reação, o intervalo de tempo desde a última reação e a influência de fatores externos sobre as manifestações clínicas da alergia são fundamentais. A monitorização dos níveis séricos de anticorpos IgE, que na maioria dos casos, costumam estar elevados e os níveis de anticorpos IgG4 podem se apresentar baixos e devem ser levados em consideração para uma possível suspeita de APLB (SAVILAHTI et al., 2012). 795 Baseando nas principais sociedades que discutem critérios de epidemiologia, diagnóstico, sintomatologia e tratamento da (APLB), responsáveis por elaborar as regulamentações referente a conduta clínica diante das alergias alimentares. Estas estão representadas pelo Guideline do European Society for Paediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition (ESPGHAN) de agosto de 2012, DRACMA da World Allergy Organization de abril de 2010 e Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar de 2007, escrito em conjunto pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (ASBAI). De acordo com estas sociedades os sintomas podem ser classificados em: Gastrointestinais, Respiratórios e Cutâneos/ Dermatológicos. (BRASIL, 2008; FIOCCHI et al., 2010; KOLETZKO et al., 2012). Sabe-se que as formas de alergia alimentar do tipo IgE-mediadas constituem mais de metade dos casos de APLB, apresentando habitualmente sintomatologia imediata que ocorrendo poucos minutos após a ingestão, onde pode apresentar quadros que variam desde apenas sintomas cutâneos (erupções na pele, pruridos), gastrintestinais (vômito, diarreia), respiratórios (chiados no peito e espirros) e até quadros de anafilaxia. Entretanto, a APLB é uma das poucas alergias onde pode ocorrer a remissão completa do quadro, podendo a maioria dos alérgicos adquirir tolerância ao leite e seus derivados, geralmente durante a adolescência ou idade adulta (CAFFARELLI et al., 2010; CIANFERONI; MURARO, 2013; KOLETZKO et al., 2012). 796 Os mecanismos imunológicos implicados no aparecimento da alergia alimentar ainda não estão totalmente elucidados, mas estima-se que resultam de uma ausência de tolerância oral, ou seja, a existência de uma resposta ativa do sistema imunitário a um antígeno apresentado pela mucosa gastrintestinal. Nos doentes alérgicos, porém, essa resposta pode ocorrer naturalmente ou ser induzida. É interessante ressaltar que a não reatividade aos antígenos encontrada nesta situação não representa ausência de inflamação local do trato gastrointestinal (TGI), mesmo na ausência de doença, evidenciando que o processo de tolerância oral é ativo na tentativa de supressão da resposta imunológica a antígenos alergênicos (SOLÉ et al., 2012). São vários os mecanismos responsáveis pela aquisição de tolerância oral, como a indução de energia clonal de linfócitos, a deleção clonal das células T efetoras e a supressão celular ativa (SPERGEL, 2013). Alguns fatores como a idade do indivíduo, predisposição genética (especialmente alterações dos cromossomos humanos 11q e 5q), natureza do antígeno, a integridade e fisiologia da barreira físico-química do TGI (muco, enzimas e epitélio), a microbiota intestinal, os movimentos peristálticos, a acidez gástrica e de sucos digestivos e a ação do sistema imune de mucosas do TGI (GALT), que inclui várias células imunocompetentes da mucosa intestinal contribuem para o desenvolvimento da tolerância oral e o comprometimento da sua eficácia na tolerância a antígenos alimentares (PERON et al., 2009; SOLÉ et al., 2012; SPERGEL, 2013). De fato a tolerância oral, é considerada uma das estratégias de regulação da resposta imune a antígenos ambientais geralmente não nocivos para o organismo huma- estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. Tolerância Oral estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. no. Uma população de células T CD4+ efetoras denominadas de células T reguladoras (T reg) são fundamentais para supressão ou controle do processo inflamatório devido a sua capacidade de inibir a atividade de vários leucócitos a partir do contato célula-célula (T reg x Leucócitos) e produção de citocinas imunossupressoras, tais como a Interleucina-10 (IL-10) e o TGF-β (COUPER et al., 2007; IZCUE; POWRIE, 2008). É certo que esse é um processo natural que ocorre no organismo humano, principalmente no período de lactação, onde a mucosa intestinal é exposta a baixas doses de antígenos (PERON et al., 2009). Em indivíduos atópicos é observado um elevado nível sérico de IgE nos primeiros 2 anos de vida, este fator que tem sido associado ao desenvolvimento de possíveis sensibilizações aos antígenos protéicos alimentares pela capacidade de indução de resposta inflamatória na mucosa intestinal (SUH et al., 2011). De acordo com Peron et al., (2009) a APLB ocorre no organismo que não desenvolveu tolerância oral. Portanto é fundamental que nos primeiros anos de vida ocorra a exposição a antígenos alimentares que sejam apresentados adequadamente ao sistema imune (de forma não imunogênica), desencadeando a ativação e expansão clonal de células T reguladoras, assim possibilitando a supressão ou regulação da resposta imunológica antígeno-específica e induzindo a tolerância oral (COUPER et al., 2007). A microbiota intestinal é um dos componentes da imunidade natural que atua no processamento de antígenos alimentares reduzindo sua alergenicidade. Acredita-se que os probióticos (microrganismos vivos) contribuem para restauração da permeabilidade intestinal, para o equilíbrio da microbiota, na melhora das funções de barreira do epitélio intestinal e na modulação da resposta inflamatória, sendo, portanto, um importante fator indutor da tolerância imunológica a antígenos alimentares (PERON et al., 2009). Como já foi ressaltado anteriormente é sabido que nos primeiros anos de vida os lactentes possuem a barreira intestinal imatura e mais permeável, juntamente com a produção insuficiente de IgA e de enzimas como as proteases, deste modo tornando o epitélio mais suscetível à penetração dos antígenos estranhos, facilitando a sensibilização e diminuindo a imunidade local. (Garside; Millington; Smith, 2004; ÁLVAREZ; BONFANTE; CANO, 2009). Entretanto, é de extrema importância a amamentação nos primeiros seis meses de vida e que esta não seja substituída neste período, pois a transferência de IgA via lactação é fundamental para suprimir a insuficiência desta imunoglobulina no recém-nascido. Esse é um cuidado necessário para o desenvolvimento da mucosa do TGI, estimulação da imunidade e para a obtenção da tolerância imunológica (SICHERER; SAMPSON, 2006). Aspectos Imunológicos As reações adversas imunomediadas na APLB geralmente são desencadeadas por antígenos protéicos do leite de vaca, como as caseínas, e do soro como a β-lactoglobulina e α-lactoalbumina, moléculas com potencial alergênico (SOLÉ et al., 2008). O leite bovino contém proteínas termoestáveis, resistentes à ação de ácidos e proteases que expressam sítios alergênicos que são reconhecidos por células do sistema imune e por anticorpos (IgE, IgA) podendo desencadear uma resposta imune celular ou humoral antígeno-específica em indivíduos geneticamente predispostos (SOLÉ et al., 2012). 797 Antes da ação do sistema imunológico na mucosa intestinal, algumas estruturas auxiliam para inibir a sensibilização antigênica, como o próprio epitélio, a lâmina prória e posteriormente elementos imunitários presentes no tecido linfóide associado à mucosa (GALT/MALT, placas de Peyer), estes atuam em conjunto em prol da manutenção da homeostasia intestinal (RUITER; SHREFFLER, 2012). A resposta imune aos antígenos alimentares é mediada inicialmente por constituintes da imunidade inata e posteriormente por componentes da imunidade adquirida. 798 A imunidade natural no TGI é mediada por barreiras físico-químicas (epitélio e moléculas efetoras), células apresentadoras de antígenos - APC (células dendríticas e macrófagos), células M, células de Paneth e linfócitos intraepiteliais. Os tecidos mucosos possuem tecidos linfóides secundários organizados logo abaixo da barreira epitelial, os quais armazenam linfócitos B, linfócitos T e APCs. Estes componentes estão ilustrados na figura 1 (RUITER; SHREFFLER, 2012). A barreira físico-química gastrointestinal constitui a primeira linha de defesa da mucosa do TGI, possui células epiteliais e leucócitos responsáveis por detectar, reconhecer e responder a proteínas com potencial alergênico, podendo deflagrar processos inflamatórios. O epitélio e leucócitos presentes na mucosa quando ativados por algum antígeno alimentar são capazes de secretar uma grande diversidade de mediadores pró-inflamatórios (citocinas, quimiocinas aminas vasoativas, etc.) com o objetivo de intensificar a resposta imune e eliminar o agente agressor tecidual. Entretanto, a deficiência na regulação da inflamação da mucosa intestinal pode comprometer o funcionamento do órgão ocasionando dificuldade de absorção de nutrientes, alterações da motilidade intestinal devido ao aumento da síntese de muco e comprometimento estrutural da mucosa (SICHERER; SAMPSON, 2006; VANDENPLAS et al., 2012). Além dos leucócitos e células epiteliais, a microbiota intestinal, os sucos gástrico e entérico, as secreções biliares e pancreáticas e a própria motilidade intestinal são componentes que conferem imunidade natural ao TGI. O muco é uma substância surfactante produzido pela mucosa do TGI, constituído de diferentes mucinas que atuam na formação de uma barreira química que facilita a eliminação de bactérias patogênicas (FARHADI et al., 2003). As células epiteliais do TGI secretam substâncias químicas tais como: citocinas, peptídeos antibacterianos, enzimas antimicrobianas e defencinas que são de grande importância para manter a integridade e defesa da mucosa (Dommett, Zilbauer, Bajaj-Elliott, 2005). Esse conjunto de elementos moleculares possibilita de certa forma, a criação de um ambiente tolerogênico evitando-se o desenvolvimento de reações imunológicas contra antígenos alimentares, auxiliando também na digestão e absorção de nutrientes (RUITER; SHREFFLER, 2012). Com base no estudo de Garrett et al., (2010) as células presentes no epitélio e na lâmina própria das vilosidades intestinais tais como as células absortivas secretoras de citocinas e células M auxiliam na apresentação de antígenos e as células de Paneth secretam peptídeos antimicrobianos. Além disso, a mucosa intestinal possui as placas estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. Imunidade Inata estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. de Peyer que constituem ser um órgão linfóide associado à mucosa intestinal, repleta principalmente de APCs, especialmente de células dendríticas e também de linfócitos B que atuam na captura, transporte via linfática, apresentação de antígenos para os linfócitos T, induzindo uma resposta imunológica antígeno-específico (SICHERER; SAMPSON, 2006). A função primordial do sistema imune inato é identificar estruturas moleculares altamente conservadas que são características de todos os micro-organismos e que são reconhecidas por receptores específicos expressos nas células que compõem a imunidade inata, denominados receptores de reconhecimento de padrões (PRR). Uma importante classe dos PRR são os receptores similares a Toll (Toll-like receptors - TLR) que são moléculas expressas pelas células de defesa do hospedeiro, responsáveis pelo reconhecimento de estruturas microbianas e na geração de sinais, que levam à produção de mediadores pró-inflamatórios (GOMES FERRAZ et al., 2011; Abreu, 2010). Convém ressaltar que APCs como as células dendríticas e macrófagos expressam uma grande diversidade de PRR, especialmente de TLR na sua superfície, sendo relevante destacar que estas células estão amplamente distribuídas nos epitélios e na lâmina própria das mucosas do organismo humano, sendo um importante elemento imunológico relacionado com o reconhecimento, captura, processamento e apresentação de antígenos para os linfócitos T (KUMAR et al., 2012). Segundo Abreu (2010) o perfil de citocinas produzidas durante uma resposta imunológica da mucosa contra um antígeno protéico, como o perfil Th2 (IL-4, IL-13, IL-18), pode induzir alterações da funcionalidade das células T, induzindo ou não respostas para desencadear uma sensibilização antigênica capaz de levar a produção de anticorpos da classe IgE. Deste modo os TLR são um importante elo entre os estímulos antigênicos e a regulação da expressão gênica celular associada à resposta imune a antígenos alimentares, visto que são amplamente expressos nas APCs são as células que respondem inicialmente aos antígenos em qualquer via de entrada do organismo. Os TLR reconhecem antígenos expressos em micro-organismos denominados padrões moleculares associados aos patógenos (PAMPs). Recentemente foi abordado o papel da microbiota intestinal na diferenciação das células dendríticas, onde tem sido ressaltado, o papel do receptor TLR-4 (Toll-like receptor 4) expresso na membrana citoplasmática de células dendríticas da mucosa do TGI, o qual faz o reconhecimento de Lipopolissacarídeo (LPS) de bactérias gram-negativas induz amadurecimento deste leucócito e provoca uma imunidade mediada por células T antígeno-específicas do tipo Th1 (IFN-γ,TNF-α) (WILLS-KARP; KAPSENBERG, 2010; GASIOROWSKI et al., 2013). Alguns receptores TLR são expressos na superfície celular, como os TLR-1, TLR-2, TLR-4, TLR-5 e TLR-6, enquanto outros são expressos nas vesículas membranosas endocíticas ou até mesmo em outros compartimentos intracelulares, como é o caso dos TLR-3, TLR-7, TLR-8 e TLR-9. A localização celular dos TLR está relacionada ao padrão molecular dos seus ligantes, que irá induzir ativação dos mecanismos responsáveis pela sinalização citoplasmática celular (AKIRA; UEMATSU; TAKEUCHI, 2006). 799 800 estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. As células dendríticas (DC) da mucosa do TGI, localizam-se, principalmente, no sub-epitélio e atuam no reconhecimento, captura, transporte e apresentação de antígenos que entram em contato com a mucosa. Podem migrar para sítios distantes como a lâmina própria, linfonodos mesentéricos e outros tecidos linfóides. A interação das DC com os linfócitos constitui uma forma de mediação entre o sistema imunitário inato e o adaptativo, determinando ser um importante componente no processo de sensibilização e tolerância imunológica (RUITER; SHREFFLER, 2012). A interação entre moléculas co-estimulatórias das DC (B7, CD40) e de células T CD4+ (CD28 e CD40L), induz a ativação celular e produção de citocinas. A interleucina-4 (IL-4) promove a diferenciação de células T CD4+ “naive” em células Th2 (Células T helper 2), as quais induzem a produção do anticorpo IgE pela células B, anticorpo que participa da patogenia das alergias alimentares (RUITER; SHREFFLER, 2012). Gasiorowski et al., (2013) observaram que após inibição do receptor CD300 (antigen-like family member E), expresso nas membranas de células dendríticas, desencadeiam funções inibitórias, que influenciam diretamente na atividade dos ITAMs (motivos de ativação de tirosina), podendo inibir a ativação de linfócitos B e T, determinando ser um novo mecanismo fundamental, na regulação da resposta imunológica (GASIOROWSKI et al., 2013). É importante ressaltar que a diferenciação de linfócitos T virgens dentro dos órgãos linfóides secundários é dependente do contato destas células com as APCs, da natureza bioquímica do antígeno e das citocinas que predominam no microambiente durante o contato destas células com as APCs (RUITER; SHREFFLER, 2012). Já os mastócitos estão no tecido conjuntivo e expressam receptores de alta afinidade para a região Fc dos anticorpos da classe IgE (FceRI). Após sensibilizado pela IgE, permite a ligação cruzada de antígeno a IgE presente na sua superfície celular induzindo a liberação mediadores como: aminas vasoativas (histamina), mediadores lipídicos (leucotrienos, prostaglandinas), enzimas proteolíticas e citocinas (IL-3, IL-5 e IL-13), que estimulam a ativação de eosinófilos, basófilos e linfócitos B (UNTERSMAYR; JENSEN-JAROLIM, 2006; NOWAK; NOELLE, 2010; VITALITI et al., 2012). Os eosinófilos e os basófilos são leucócitos sanguíneos que migram para os tecidos durante um processo inflamatório. Quando sensibilizados pelo complexo anticorpos IgE e antígeno, via receptor Fc na superfície celular, degranulam liberando mediadores pró-inflamatórios como, a histamina, leucotrienos e prostaglandinas que são moléculas vasoativas. Os eosinófilos produzem a eotaxina que auxilia no deslocamento para o alvo inflamatório e na atividade da célula Th2 que secreta IL-5 que atuará no recrutamento e ativação de eosinófilos (UNTERSMAYR; JENSEN-JAROLIM, 2006; RUBIO et al., 2011; KUMAR et al., 2012). Em suma a imunidade natural é fundamental para o reconhecimento e apresentação antigênica (APCs), indução do processo de tolerância imunológica, regulação do processo inflamatório na mucosa do TGI, indução da ativação e diferenciação de células T antígeno-específica, determinando o perfil de resposta imune celular (Th1, Th2, Th17, T reg). A resposta imune da mucosa intestinal a antígenos alimentares na APLB é ilustrada na figura 1, logo abaixo. estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. Figura 1: Resposta imune a antígenos alimentares alérgenos na mucosa intestinal Fonte: Modificada de Ruiter; Shreffler, (2012). Legenda: Representação das estruturas, elementos e células constituintes da mucosa do intestino humano. Células apresentadoras de antígenos - APC (células dendríticas e macrófagos) presentes no epitélio intestinal e células epiteliais expressam receptores para antígenos, tais como os TLR (Toll-like receptors) capazes de reconhecer proteínas do leite de vaca. A mucosa também é composta de células M, linfócitos intraepiteliais e mastócitos. Associada à mucosa intestinal há vasos linfáticos e sanguíneos, órgãos linfóides secundários como as Placas de Peyer e linfonodos. O reconhecimento e ativação das APC pelo antígeno leva a liberação de mediadores pró-inflamatórios (citocinas, quimiocinas, histamina, leucotrienos, etc.) que atuam ativando o endotélio vascular permitindo a infiltração de leucócitos sanguíneos (eosinófilos, basófilos, linfócitos, etc.) para a mucosa. As células dendríticas ativadas pelo antígeno migram para a circulação linfática e apresentam o antígeno para as células T CD4+ induzindo a uma resposta imune celular específica. A diferenciação das células T CD4+ em células Th2 induzem produção de IL-4 que auxilia na ativação de linfócitos B e produção de IgE específica para o antígeno alimentar. A IgE passa para a mucosa durante um processo inflamatório e ativa mastócitos os quais secretem mais mediadores pró-inflamatório que contribuem para as manifestações clínicas da APLB. Imunidade Adaptativa A imunidade adaptativa é desenvolvida a partir do contato de linfócitos T e linfócitos B com antígenos, geralmente, apresentados via moléculas do Complexo Prin- 801 802 estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. cipal de Histocompatibilidade (MHC). Para que ocorra a diferenciação das células T “naive” em células T efetoras (LT CD4+ ou LT CD8+). É necessário o estimulo destas células, por parte das citocinas e antígenos específicos capazes de interagir com o seu receptor de antígeno (TCR) (GOSWAMI; KAPLAN, 2012). Os linfócitos B podem ser ativados, diretamente, via receptor de antígenos (BCR), por meio da sensibilização direta entre antígeno e o linfócito B, na ausência da apresentação de antígenos pelas APC, deixando de ser uma resposta T independente. Embora quando o antígeno é reconhecido pela célula B é de natureza protéica necessita-se que este seja internalizado, processado em peptídeos e apresentado via moléculas do MCH classe II para os linfócitos T CD4+ auxiliares, para que ocorra uma ativação apropriada e produção de anticorpos específicos de alta afinidade pelo antígeno (HARWOOD; BATISTA, 2008). A imunidade humoral na mucosa do TGI é mediada por células B e anticorpos direcionados a micro-organismos no lúmen, dificultando a colonização e infecção de bioagentes patogênicos no epitélio da mucosa. Essa função é mediada pelos anticorpos IgA diméricos que são secretados para o lúmen intestinal, além dos anticorpos das classes IgG e IgM, secretados pelos plasmócitos intestinais (CERUTTI; RESCIGNO, 2011). A IgA é produzida e secretada em maior quantidade do que qualquer outra classe de anticorpo nos tecidos linfóides da mucosa (GALT e Linfonodos mesentéricos) do TGI. A produção de IgA contra antígenos específicos nas mucosas é dependente do auxilio por células M e por células apresentadoras de antígenos (células dendríticas), da ativação de células T, e em última análise da mudança de isotipo de anticorpo pelas células B. Várias citocinas, incluindo o TFG-β, a IL-5, IL-6 e IL-10 são fundamentais na estimulação intestinal para a produção de IgA (MANTIS; ROL; CORTHÉSY, 2011). A interação entre linfócitos T CD4+ e APC, na mucosa do TGI, promove a modulação e ativação de linfócitos B e diferenciação de células T CD4+ naive em linfócitos T helper 2 (Th2) produtores de IL-4. A partir da sensibilização sucessiva dos linfócitos B, no TGI, por antígenos alimentares, ocorre a indução da produção de IgE especifica ao alérgeno pelos plasmócitos, que cooperam para uma resposta de células Th2, as quais secretam citocinas (IL-4, IL-5, IL-13) (MIUKI ABE JACOB et al., 2013). Os anticorpos IgE interagem, via porção Fc receptor, na superfície dos mastócitos permitindo a ligação do anticorpo com o alérgeno, gerando ativação celular com consequente secreção de mediadores inflamatórios que contribuem para o desenvolvimento dos sinais clínicos alérgicos (MESQUITA JÚNIOR et al., 2010; VITALITI et al., 2012). A imunidade celular específica no intestino envolve diferentes subpopulações de linfócitos T sendo influenciada de várias maneiras pelas APC, as quais secretam diferentes citocinas que contribuem para a ativação e diferenciação das células T (LT CD4+ ou LT CD8+). A maior parte das células T intra-epiteliais é composta de células T CD8+, já na lâmina própria há um predomínio de células T CD4+. (GARRETT; GORDON; GLIMCHER, 2010). Dentre as diferentes subpopulações de células T CD4+ efetoras (Células T auxiliares) presentes no TGI convém ressaltar as seguintes: Th2, Th9, Th17 e T reguladoras (T reg). estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. A resposta imunológica celular nas alergias, ocorre a partir de um desequilíbrio entre subpopulações de linfócitos T CD4+ denominados Linfócito T helper 1 (Th1) e Linfócito T helper 2 (Th2), estas se diferem de acordo com o perfil de citocinas produzidas (Th1: IL-2, IFN-γ, TNF; Th2: IL-2, IL-4, IL-5, IL-13) (GARRETT; GORDON; GLIMCHER, 2010). A subpopulação Th1 propõe uma defesa contra patógenos microbianos e induz a inflamação, relacionada a uma hipersensibilidade tardia e enquanto as Th2 são células que se envolvem, principalmente, na indução da síntese de IgE contra micro-organismos, helmintos e alérgenos (DENIS; LORAS-DUCLAUX; LACHAUX, 2012). Quando a proteína alergência complexa ou intacta é apresentada pela APC, já na forma de peptídeos através das moléculas do MHC de classe II, aos clones de linfócitos T que estão na placa de Peyer ou nos gânglios linfáticos mesentéricos, desencadeia uma reação imunológica induzindo ativação de linfócitos T e B, resultando na produção de citocinas e de anticorpos específicos (UNTERSMAYR; JENSEN-JAROLIM, 2006). A resposta imunitária ocorre devido à sensibilização das células T e B pelo alérgeno e ação de citocinas na mucosa e em receptores específicos de citocinas nos leucócitos. A atividade da IgE via receptor FceRI fixada em mastócitos, após exposições no organismo ao alérgeno, induz a sua degranulação e liberação de mediadores pró-inflamatórios que estão relacionados ao surgimento dos sinais e sintomas típicos dos processos alérgicos (ÁLVAREZ; BONFANTE; CANO, 2009). O perfil de células Th9 depende de IL-4 e TGF-β para ser gerado, a partir de células T naive, e está associado ao controle de parasitos intestinais como as células Th2, porém, parece estar relacionado com exacerbação das condições patológicas em alergias e doenças autoimunes (TAKAMI; LOVE; IWASHIMA, 2012). As células Th9 são grandes produtoras da IL-9, assim como as Th2 e Th17 que a produzem em algumas situações (infecção) que tem como função estimular a síntese de citocinas que mantêm a atividade da resposta alérgica (SOROOSH; DOHERTY, 2009). A IL-9 atua em mastócitos induzindo recrutamento e degranulação. Também pode atuar na diferenciação de células T CD4+ em Th2 e Th17. Age na mucosa intestinal induzindo contrações da musculatura lisa e alteração da permeabilidade da mucosa intestinal (NOWAK; NOELLE, 2010). Como a IL-9 pode favorecer a expressão de IL-17 a combinação destes dois perfis poderia formar um tipo de resposta mais patogênica, embora IL-9 e TGF-β também favoreçam a diferenciação de células T reguladoras (GOSWAMI et al., 2012). Células T CD4+ naive, após estimulo de IL-6, TGF-β e IL-23, podem se diferenciar em células Th17, as quais são produtoras, principalmente, de IL-17A, IL-17F e IL-22 (SOROOSH; DOHERTY, 2009; GOSWAMI et al., 2012). As principais fontes da citocina IL-23 são as APC (Células Dendríticas e Macrófagos), esta citocina se liga ao seu receptor (IL-23R/CD212) expresso na superfície das células Th17 auxiliando na manutenção da produção de IL-17, já a IL-22 é produzida pelas próprias Th17 e atuam sobre células epiteliais estimulando a produção de defensinas (BETTELLI et al., 2008). A manutenção da integridade da mucosa intestinal é dependente da ação das citocinas IL-17 e IL-22, pois estas interagem com receptores da mucosa, proporcionando a síntese de mucinas e beta-defencinas, importantes na proteção da mucosa. (SOROOSH; DOHERTY, 2009; GOSWAMI et al., 2012; NOWAK; NOELLE, 2010). 803 Todavia, a IL-17 está envolvida também na inflamação e na capacidade de induzir a produção de citocinas Th2 e proliferação de eosinófilos (NOWAK; NOELLE, 2010; KUMAR et al., 2012). As citocinas da família IL-17 são potentes indutoras da inflamação, induzindo à infiltração celular e produção de outras citocinas pró-inflamatórias (WEI et al., 2009). De acordo com Sicherer e Sampson (2006) os tecidos linfóides da mucosa do TGI apresentam importante papel na indução das células T reguladoras, as quais são uma importante fonte de TGF-β e IL-10 (citocinas imunossupressoras), atuando na função de mediador da tolerância imunológica e controle do processo inflamatório. As células T reguladoras (marcadores fenotípicos: CD4+CD25+FoxP3+) estão presentes numa proporção 5% a 10% na circulação periférica, podendo variar de acordo ao grau de sensibilização do sistema imunológico (TAKAMI; LOVE; IWASHIMA, 2012). Nos órgãos linfóides secundários, expressam as moléculas CD62L, CD44 e receptor para quimiocina CCR7, responsáveis pela circulação destas entre os tecidos linfóides. Também podem expressar outros marcadores fenotípicos tais como: CD69, CD103 e CD38, e proporcionar a síntese de IL-10, a expressão do fator de transcrição nuclear Foxp3 e de (BLIMP-1) que é uma proteína de maturação de linfócitos B e pode ser expressa em algumas T reg, atuando como regulador na diferenciação de linfócitos B, apresentando influencia em processos inflamatórios (CRETNEY; KALLIES; NUTT, 2013). As células T reg são abundantes no GALT e evitam reações inflamatórias contra micro-organismos. Muitas das células T reg são provavelmente induzidas no intestino em resposta aos antígenos encontrados localmente e fatores tais como o ácido retinóico e o TGF-β que contribuem para a sua geração (IZCUE; POWRIE, 2008). Possuem um importante papel na regulação imunológica, destacando-se os mecanismos de controle da resposta imune adaptativa. Essas células são imprescindíveis no controle da resposta imunológica a antígenos próprios e não próprios (SIQUEIRABATISTA et al., 2012). 804 Conforme discutido anteriormente a predisposição genética, as características antigênicas de alguns alimentos e as alterações à nível da mucosa do intestino parecem ter importante papel na imunopatogênese da ALPB. Existem mecanismos de defesa principalmente na mucosa do TGI que impedem a penetração do alérgeno alimentar e consequente sensibilização da resposta imune. Acredita-se que alimentos de natureza protéica podem provocar reações cruzadas, ou seja, alimentos diferentes, porém que compartilham epítopos comuns pode induzir respostas alérgicas semelhantes no mesmo individuo (SICHERER; SAMPSON, 2006; Kumar et al., 2012). O mecanismo imunológico que leva ao desenvolvimento de alergia ao leite de bovinos ainda não está totalmente esclarecido, pois existem diferentes mecanismos que contribuem para a patogênese, entretanto sabe-se que há dois principais mecanismos descritos na base desta doença, as reações mediadas por IgE e não mediadas por IgE (Kumar et al., 2012). O estímulo de células T por antígenos alimentares e interação desta célula com moléculas co-estimulatórias e citocinas induz a ativação de estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. Imunopatologia da APLB estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. fatores de transcrição nuclear que são determinantes para o equilíbrio entre a resposta imune Th1 e Th2, envolvidos na mudança da resposta imune para o perfil Th2 importante nas reações alérgicas. Estudos demonstram que em indivíduos geneticamente predispostos a sensibilização de células T naive vai conduzir a uma resposta do tipo Th2 com a secreção de citocinas específicas deste perfil celular (LONGO et al., 2008; KUMAR et al., 2012; VITALITI et al., 2012; MIUKI et al., 2013). Nestes casos, uma resposta mediada por células determina alterações locais com a liberação de citocinas específicas e ativação de linfócitos Th2 (secretores de IL-4, IL-5, e IL-13), que promovem a produção de IgE e amplificam a resposta inflamatória recrutando eosinófilos, mastócitos, neutrófilos e outros leucócitos, causando alteração morfológica e funcional da mucosa (VITALITI et al., 2012). Acredita-se que a patogênese das reações não mediadas por IgE é assegurada por reações mediadas pelas células Th1, pelas interações entre os linfócitos T, mastócitos e os neurônios que em conjunto alteram a função da musculatura lisa e motilidade intestinal. Parece que subpopulações de linfócitos T desempenham um papel chave em reacções alérgicas a proteínas do leite de vaca, sobretudo aquelas não mediada por IgE, e as células T reg estão na base de tolerância oral a alergia alimentar, a fim de que por um padrão alterado do sistema imune conduz a reações atópicas, que não são explicadas por uma resposta específica IgE (VITALITI et al., 2012). O controle das reações inflamatórias pode ser realizado mediante a indução da supressão de APC, onde propõem a inibição da diferenciação de células Th1 e Th2, esse processo ocorre a partir da ação da T reg, que secreta IL-10, atuante nas células da imunidade inata e adquirida. E causando alteração direta nas células B, alterando a produção de IgE e induzindo produção de IgG4 e IgA. E também pode atuar na ativação de mastócitos, basófilos, eosinófilos e na funcionalidade das células do tecido conjuntivo (AKDIS; BLASER; AKDIS, 2005). As células T reg expressam a molécula inibitória da co-estimulação CTLA-4, favorecendo a inibição da ativação de APC. Para manter todo esse controle a partir das T reg e de outras células T CD4+ é fundamental a ação direta de citocinas como de IL-2, IL-10, TGF-β, IL-35 no microambiente da sensibilização antigênica (CRETNEY; KALLIES; NUTT, 2013). Vandenplas et al., (2012) relatam que as reações não mediadas por IgE tendem a se tornar tolerantes mais rapidamente. Fato explicado quando o nível de IgE sérica mostra ser proporcional a persistência da reação alérgica. Desta forma é possível ter mais clareza ao argumentar que as reações não mediadas por IgE são consideradas adversas, pois desenvolvem a hipersensibilidade sem qualquer interferência da IgE (KUMAR et al., 2012). Por tanto a intolerância pode ser um exemplo de reação não mediada por IgE, onde o organismo inicia uma resposta anormal a um alimento ou aditivo, sem envolvimento de mecanismos imunológicos (VANDENPLAS et al., 2007). Sendo caracterizada pela incapacidade de digerir hidratos de carbono como a lactose. E podendo ser causada por meio de alguma alteração que comprometa as vilosidades intestinais e pela insuficiência ou ausência da enzima lactase (VANDENPLAS et al., 2012). Devido aos danos a saúde, causados pelas reações alérgicas, a avaliação laboratorial da atividade da IgE, é de grande importância, principalmente em crianças, 805 causando alterações fisiológicas que podem comprometer o seu desenvolvimento no futuro. Os testes laboratoriais são realizados com o objetivo de classificar o tipo de atividade alérgica, que o individuo possa desenvolver ao utilizar alimentos específicos, como o leite bovino. Quando positivos, os testes apresentam uma associação com as manifestações alérgicas, constatadas por meio de métodos como: duplo cego, placebocontrolado, teste cutâneo e dosagens de IgE (VANDENPLAS et al., 2007). Em estudo realizado em crianças com ALPB, foi observado significativa concentração sérica de IgG4 alérgeno-específica e elevados níveis de IgE tanto para β-lactoglobulina quanto para α-caseína. Portanto é possível supor que a IgG4 poderá ser considerado futuramente um possível marcador para avaliar a alergenicidade e tolerância a antígenos alimentares (SAVILAHTI et al., 2012). Normalmente as crianças superam a sensibilização pelas proteínas do leite de bovinos em aproximadamente 3 anos de idade, caso não ocorra, pode surgir casos de alergia persistente. Desta forma é provável que ocorra, o risco de desenvolver outras atopias como: asma, eczema atópico, rinoconjuntivite e alergia ao ovo (MORIN et al., 2011). Todavia foi observado que com amadurecimento fisiológico e imunológico do organismo, crianças mais jovens tende a reagir mais facilmente aos alérgenos. Observa-se na prática pediátrica que indivíduos de 1 ano de idade conseguirem adquirir tolerância em 75 % das situações e outros 90% somente aos 4 anos (DAMBACHER et al., 2013). Em resumo para que a ALPB se desenvolva é necessário a predisposição genética de uma resposta imune mais acentuada contra o alérgeno, dieta contendo proteínas com capacidade alergênica, falha nos mecanismos de imunidade do TGI e incapacidade de desenvolvimento de tolerância oral. Atualmente um tratamento capaz de modular a resposta imune na APLB introduzido na prática médica é a imunoterapia específica para alergia alimentar. Este consiste na administração de quantidades muito pequenas de alérgeno, por via oral, sublingual ou epicutânea, de forma controlada. Esta nova abordagem tem sido estudada em ensaios clínicos randomizados e tem demonstrado efeito imunomodulatório (ocasionando a redução na reatividade de mastócitos e dos níveis de IgE alérgeno-específicos, acompanhados por elevação nos níveis de IgG4 alérgeno-específico), assim como na dessensibilização, um estado onde a exposição diária ao alérgeno alimentar eleva a dose capaz de induzir reação (Skripak et al., 2008; Longo et al., 2008). Este é um grande avanço no tratamento de alergias alimentares, pois a dessensibilização reduz a probabilidade de anafilaxia e reações fatais em exposições acidentais, entretanto é importante destacar que, até o momento, este é um efeito transitório e que depende inteiramente da exposição diária ao alérgeno. CONCLUSÃO 806 As doenças alérgicas são complexas e multifatoriais, sua gênese e expressão clínica dependem da interação entre fatores genéticos e ambientais. estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. Imunoterapia Alérgeno Específica – Leite de Bovinos estudos, Goiânia, v. 41, n. 4, p. 793-812, out./dez. 2014. A prevenção da alergia alimentar em indivíduos predispostos, com historia familiar de atopia, pode ser adquirida a partir do aleitamento materno adequado e da terapia com probióticos, as quais são capazes de melhorar as funções de barreira do epitélio intestinal e a modular a resposta inflamatória. O tratamento nutricional da APLB envolve a dieta de exclusão de leite bovino e derivados, ressaltando-se os cuidados necessários na suplementação alimentar para o desenvolvimento fisiológico adequado da criança. Devido às chances de reações graves que podem ocorrer em indivíduos mais sensíveis impõe-se a necessidade de novos planos terapêuticos para o controle das alergias alimentares. Reações de hipersensibilidade na APLB são caracterizadas pela sequência de apresentações do antígeno alimentar à células imunitárias, acarretando a rápida liberação de mediadores pró-inflamatórios por células especificas, responsável pelo desenvolvimento da clínica da APLB. Constitui uma patologia causada em indivíduos não tolerantes, e que tem algum comprometimento imunológico devido ao desequilíbrio entre células Th1 e Th2, proveniente do comprometimento da defesa estrutural ou química da mucosa. Por isso a tolerância da mucosa do TGI é importante, para inibir esse tipo de sensibilização. O desenvolvimento da tolerância é proveniente da exposição da mucosa a pequena concentração de antígenos, especificamente nos primeiros anos de vida, caracterizada por alta atividade de células T reg As respostas de hipersensibilidade induzidas por antígenos alimentares mediadas por IgE podem ser o resultado de falta da indução ou quebra dos mecanismos de tolerância oral no trato gastrintestinal, que ocorrem em indivíduos geneticamente predispostos. Embora exista a discussão de mecanismos de hipersensibilidade não mediados por IgE, as evidências que dão respaldo ao seu papel são restritas, sendo a resposta de hipersensibilidade celular tipo IV (mediada por células T e macrófagos), a mais relacionada com alergias alimentares, e nela a resposta clínica pode ocorrer de várias horas até dias após a ingestão do alimento suspeito. Esta resposta celular pode contribuir para reações aos alimentos induzidas por proteínas alimentares, mas existem poucos estudos comprovando esse mecanismo imunológico. Este tema tem sido pouco discutido nos cursos de graduação na área de saúde do Estado de Goiás, principalmente no que se diz respeito aos mecanismos imunopatogênicos das alergias alimentares. O conhecimento adequado destes mecanismos fornecerá embasamento aos acadêmicos e profissionais da saúde para promover educação em saúde para orientação da dieta das gestantes, amamentação adequada, dicas de suplementação alimentar e outras terapias alternativas que possam garantir a qualidade de vida dos pacientes portadores da ALPB. Immunopathogenesis MILK PROTEIN ALLERGY TO CATTLE. Abstract: the allergy to milk protein of cattle (AMPC) is a common disease in predisposed children presenting its pathogenesis mediated by immunological mechanisms. The AMPC cause complications that affect the quality of life of patients. This review will describe the key factors and mechanisms involved in this adverse reaction to food enabling a better understanding of the immunopathogenesis of disease. 807 Keywords: Allergy. Milk protein. Children. Immunopathogenesis. Quality of life. Referências ABREU, M. T. Toll-like receptor signalling in the intestinal epithelium: how bacterial recognition shapes intestinal function. Nature Reviews Immunology, v. 10, n. 1, p. 131144, 2010. AKDIS, M.; BLASER, K.; AKDIS, C. A. Regulatory T cells in allergy: novel concepts in the pathogenesis, prevention, and treatment of allergic diseases. The journal of allergy and clinical immunology, v. 116, n. 5, p. 961-968 , nov./2005. AKIRA, S.; UEMATSU, S.; TAKEUCHI, O. Pathogen recognition and innate immunity. Cell, v. 124, n. 4, p. 783-801, 24 mar. 2006. ÁLVAREZ, J. R. U.; BONFANTE, C. H.; CANO, J. M. Factores epidemiológicos en la inmunopatogénesis de la alergia a los alimentos epidemiological factors in food allergy immunopathogenesis. 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CLAYSON MOURA GOMES Professor nos Departamentos de Medicina e Biomedicina da PUC Goiás. VALÉRIA BERNADETE L. QUIXABEIRA Professora no Departamento de Biomedicina da PUC Goiás. HERMÍNIO MAURÍCIO DA ROCHA SOBRINHO Doutorando em Medicina Tropical e Saúde Pública no IPTSP-UFG. Mestre em Medicina Tropical. Professor nos Departamentos de Medicina e Biomedicina da PUC Goiás. E-mail: [email protected] 811