Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. Rotação dos corpos rígidos Introdução: Em algumas situações em física, não há a possibilidade de estudar o movimento como se a partícula fosse um ponto material. Citamos o movimento de um CD/DVD, o movimento de uma serra elétrica ou de uma roda gigante. Cada um deles envolve um corpo que gira em torno de um eixo que permanece estacionário em relação a algum sistema de referência inercial. A rotação ocorre em todas as escalas, desde o movimento de elétrons em torno de átomos até o movimento de galáxias inteiras. Desenvolveremos métodos especiais que analisam o movimento de corpos que giram. No mundo real, as forças que atuam nos corpos podem ainda deformá-los, esticando-os, torcendo ou comprimindo-os. Desprezaremos essas deformações, supondo que o corpo mantenha sua forma definida e imutável, cujo modelo denominamos de corpo rígido. t2 t1 Unidade: Radiano por segundo: rad/s. Velocidade angular instantânea: lim t 0 1 t 2 1 t2 t1 Unidade: Radiano por segundo ao quadrado: rad/s². Aceleração angular instantânea: lim t 0 t d dt Ângulo θ: s r s r Unidades: Radiano: Grau: Grado:100 gr – 90° rad d dt Aceleração angular média: t Aceleração angular: Velocidade angular e aceleração angular Designamos por eixo fixo aquele que permanece em repouso em relação a algum referencial inercial e que não muda de direção. 2 1 180 Velocidade angular: Velocidade angular média: t Observações: No MCU: 2 2 f T f: Freqüência. Unidade: Hertz (Hz) 1 Hz = 1/s ou rpm=(1/60)Hz T: período. r Exemplo 1 – A figura mostra o volante de um carro que está sendo testado. A posição angular dessa roda é: 2 t 3 rad s 3 O diâmetro do volante é igual a 0.36m. Ache: (a) o ângulo θ, em radianos e em graus, nos instantes t1 = 2.0 s e t2 = 5.0 s. Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. (b) Ache a distância percorrida por uma partícula na periferia do volante nesse intervalo de tempo. (c) Calcule a velocidade angular média, em rad/s e em rev/min (rpm) entre t1 = 2.0 s e t2 = 5.0 s. (d) Ache a velocidade angular instantânea para t = 3.0 s. Exemplo 2 – Calcule a aceleração angular do instantânea e a aceleração angular média entre os instantes t1 = 2.0 s e t2 = 5.0 s do exemplo anterior: 2 t 3 rad s 3 Solução: d d d d 2 2 dt dt dt dt rad 12 t 2 s 2 1 t2 t1 150 24 rad 42 2 52 s Rotação com aceleração angular constante: 0 t 0 0 t t 2 2 2 0 2 Solução: 1 2 t13 1 2 23 1 16rad rad 180 180 16 180 1 920 3 2 2 t2 2 2 53 2 250rad 180 250 180 2 14000 (b) s r s 0.18 250 16 2 0 (a) s 42m (c) 78 2 1 t2 t1 250 16 52 rad rad rev 78 60 740 s s min d 6t2 (d) dt 6 32 54 rad s Exemplo 3 – Rotação com velocidade angular constante. Uma roda de bicicleta está sendo testada em uma oficina de reparos. A velocidade angular da roda é 4.00 rad/s no instante t = 0s e sua aceleração angular é constante e igual a 1.20 rad/s2. Um raio OP da roda coincide com o eixo Ox no instante t = 0s. (a) Qual a velocidade angular da roda no instante t = 2 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. 3.00 s? (b) Qual é o ângulo formado pelo raio OP e o eixo +Ox nesse instante? Exemplo 4 – Movimento de um disco. O lançador de um disco gira com aceleração angular = 50 rad/s², fazendo o disco se mover ao longo de uma circunferência de raio 0.8m. Vamos supor que o braço do lançador possa ser tratado como um corpo rígido, logo, r é constante. Determine o componente vertical e o componente horizontal da aceleração no instante em que a velocidade angular é 10 rad/s. 3 (a) Solução: 0 t 4 1.2 3 0.40 (b) 0 0 t 0 43 2 rad s t2 1.20 32 6.6rad Solução: m s2 m acp 2 r acp 102 0.8 acp 80 2 s aT r aT 50 0.8 aT 40 2 a acp2 aT2 Aceleração tangencial, centrípeta e resultante a 802 402 m a 89 2 s Exemplo 5 – Projeto de uma hélice. Você foi solicitado para projetar a hélice de um avião que deve girar a 2400 rpm. A velocidade do avião deve ser de 75.0 m/s (270 km/h), e a velocidade da extremidade da lâmina da hélice não pode superar 270 m/s. (Isso é cerca de 0.8 vezes a velocidade do som no ar. Se as extremidades das lâminas se deslocassem com a velocidade do som, elas poderiam produzir uma enorme quantidade de ruído. Mantendo a velocidade menor que a velocidade do som obtém-se um nível de ruído aceitável.) (a) Qual é o raio máximo que a hélice pode ter? (b) Com esse raio, qual é a aceleração da extremidade da hélice? Aceleração tangencial: Aceleração centrípeta ou normal: aT r acp v2 acp 2 r r Aceleração resultante: a a a 2 cp 2 T Solução: Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. f 2400rpm f f 40Hz 2 r1 1 r2 2400 Hz 60 2 f 2 40 251.3 rad s A condição de que o espaçamento entre os dentes é o mesmo nas duas rodas dentadas é dado por: 2 r1 2 r2 r N 1 1 N1 N2 r2 N 2 2 N1 1 N 2 (a) Velocidade tangencial de um ponto P na extremidade da hélice:: vP r Velocidade do avião em relação ao ar: vA. Velocidade total: v vA2 vP2 v vA2 2 r 2 r2 v 2 vA2 2 r r 1.03m 2702 752 2512 (b) A velocidade angular da hélice é constante: acp 2 r acp 2512 1.03 acp 6.5 104 A velocidade angular de cada roda dentada é inversamente proporcional ao número de dentes. Em uma bicicleta com várias marchas, você obtém a velocidade angular mais elevada 2 da roda traseira pedalando com uma taxa 1 quando a razão N1/N2 é máxima; isso significa que você deve usar a roda dentada dianteira com maior raio (maior valor de N1) e a roda traseira com menor raio (menor valor de N2). m s2 Força que a hélice exerce: F N F m acp 6.5 104 m kg As hélices são fabricadas de materiais leves e duros, como ligas de alumínio. Exemplo 6 – Engrenagem de uma bicicleta. Como relacionar as velocidades angulares das duas rodas dentadas de uma bicicleta com o número de dentes de cada roda? Energia do movimento de rotação Um corpo girando constitui-se de massas em movimento. Podemos escrever a energia dese movimento em termos da velocidade angular do corpo: A energia cinética total do corpo é a soma das energias cinéticas de todas as partículas do corpo: N N 1 1 2 K mi vi2 K mi ri i 1 2 i 1 2 1 N K mi ri 2 2 2 i 1 Momento de Inércia Definimos como momento de inércia, o produto pela massa com o quadrado de sua distância ao eixo de rotação. A palavra momento dá a idéia de que I depende da maneira como que a massa do corpo é distribuída no espaço. N I mi ri 2 i 1 Unidade: kg.m2. K 1 I 2 2 Exemplos associados a momento de inércia: Solução: v1 v2 1 r1 2 r2 4 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. Observação: O momento de inércia de um corpo depende da localização e da orientação do eixo. Exemplo 7 – Momento de inércia em relação a diferentes eixos de rotação. Um engenheiro está projetando uma parte de uma certa máquina que consiste em três conectores pesados ligados por suportes leves,. Os conectores podem ser considerados como partículas pesadas conectadas por hastes com massas desprezíveis. (a) Qual é o momento de inércia desse corpo em relação a um eixo perpendicular ao plano do desenho passando no ponto A? (b) Qual é o momento de inércia desse em torno de um eixo que coincide com a haste BC? (c) Se o corpo gira em torno de um eixo perpendicular ao plano do desenho e passa por A, com velocidade angular = 4.0 rad/s, qual é a sua energia cinética? 5 Solução: (a) A partícula no ponto A está sobre o eixo. Sua distância r é 0. Assim: N I mi ri 2 i 1 I 0.1 0.52 0.2 0.42 I 0.057kg m2 (b) As partículas em B e em C estão sobre o eixo. Para elas, r = 0. Assim: N I mi ri 2 i 1 I 0.3 0.42 I 0.048kg m2 1 2 1 2 (c) K I 2 K 0.057 42 K 0.46 J Momento de inércia de figuras: Teorema dos eixos paralelos Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. 20 rad s v r v 20 0.06 I P ICM M d 2 v 1.2 Exemplo 9 – Desenrolando um cabo. Um cabo leve, flexível e não deformável, é enrolado várias vezes em torno da periferia de um tambor, um cilindro sólido com um diâmetro de 0.120m e massa igual a 50 kg, que pode girar em torno de um eixo estacionário horizontal mantido por mancais sem atrito. A extremidade livre do cabo é puxada por uma força constante de módulo igual a 9.0 N deslocando-se uma distância de 2.0 m. Ele se desenrola sem deslizar fazendo o cilindro girar. Se o cilindro inicialmente está em repouso, calcule sua velocidade angular e a velocidade escalar final do cabo. Solução: Existe atrito entre o cabo e o cilindro: é isso que faz o cilindro girar assim que puxamos o cabo. Porém, como o cabo não desliza, não existe nenhuma velocidade relativa de deslizamento entre o cabo e o cilindro, e nenhuma energia mecânica é perdida em virtude do atrito. A variação de energia cinética do cilindro é igual ao trabalho W = F s realizado pela força F = 9.0 N que atua em um deslocamento s = 2.0 m; portanto, W = 9.2 = 18J. De acordo com a tabela de momentos de inércia: I 1 M R2 2 1 I 50 0.62 I 0.090 kg m2 2 Como o cilindro está inicialmente em repouso, pelo teorema trabalho-energia: W K 2 K1 W 1 1 I 2 I 02 2 2 Como o corpo está em repouso: 0 0 2W 2 18 I 0.090 m s Exemplo 10 – Desenrolando um cabo II. Em uma experiência de laboratório para testar a conservação da energia mecânica de rotação, enrolamos um cabo leve e flexível em torno de um cilindro maciço de massa M e raio R. O cilindro gira com atrito desprezível em torno do eixo horizontal estacionário. Amarramos a extremidade livre do cabo a um objeto de massa m e libertamos o objeto sem velocidade inicial a uma distância h acima do solo. À medida que o objeto cai, o cabo se desenrola sem deslizar nem se esticar, fazendo o cilindro girar. Calcule a velocidade do objeto que cai e a velocidade angular do cilindro no instante que o objeto atinge o solo. Solução: Inicialmente, o sistema não possui nenhuma energia cinética (K1 = 0). Consideramos a energia potencial igual a zero quando o objeto está no nível do solo. Logo, U1 = m.g.h e U2=0. (Podemos ignorar a energia potencial gravitacional do cilindro, visto que sua altura não varia). Assim, o atrito não realiza trabalho, logo: WF U 2 K2 U1 K1 0 O cabo não realiza trabalho total, porque em uma extremidade a força e o deslocamento estão no mesmo sentido, e na outra extremidade a força possui sentido contrário ao do deslocamento. Logo, o trabalho total do cabo é igual a zero. Imediatamente antes de o objeto colidir com o solo, tanto o objeto quanto o cilindro possuem energia cinética. A energia cinética total K2 nesse instante é: K2 1 1 m v2 I 2 2 2 6 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. I 1 M R 2 cilindro 2 v R A velocidade da massa que cai deve ser igual à velocidade tangencial de um corpo na periferia do cilindro. Usando essas relações e igualando a energia total inicial com a energia total final, teremos: U 2 K2 U1 K1 1 11 v 0 m g h m v 2 M R 2 2 22 R 1 1 m g h m M v2 2 2 v 2 2g h M 1 2m Exemplo 11 – Uso do teorema dos eixos paralelos. Uma das partes de uma articulação mecânica possui massa igual a 3.6 kg. Medimos seu momento de inércia em relação a um eixo situado a uma distância de 0.15 m do seu centro de massa e encontramos o valor IP = 0.132 kg.m2. Qual o momento de inércia em relação a um eixo que passa pelo seu centro de massa Icm? Velocidade angular final: v R Observe que: M m v 0 M m v 2g h Veja que v não depende do raio do cilindro! Solução: I P I cm M d 2 I cm I P M d 2 I cm 0.132 3.6 0.152 I cm 0.051 kg m2 Cálculos de momento de inércia. Quando um corpo rígido não pode ser representado por massas puntiformes, podemos escrever a relação integral: I r 2 dm corpo Dependendo de como a massa está distribuída, podemos definir as densidades: Densidade Símbolo Definição Unidade Linear Superficial Volumétrica M L M A M V kg m kg m2 kg m3 7 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. Para o caso unidimensional, podemos definir: dm dm dl dl I r 2 dl Solução: Escolhendo um elemento de massa de uma seção reta da barra com comprimento dx situado a uma distância x do ponto O. Assim, se a densidade linear é uniforme: corpo Para corpos bi e tridimensionais, veja a tabela a seguir. Tabela - Definições de Momentos, Momentos de inércia e centro de massa. Corpos Bidimensionais (Figuras Planas) Centro de Massa ( xm , y m ) xm x dA R dA xm x dV ym y dA R dA dV y dV R dV R R zm z dV R dV R Momentos Lâmina Sólido M y xm M xy zm M x ym M xz ym M yz xm Momentos de Inércia Figuras Planas y dA 2 Ix R 2 R Io, Iz ( x R Corpos Tridimensionais ( y 2 z 2 ) dV 2 z 2 ) dV 2 x 2 ) dV R x dA Iy ( x R 2 y 2 ) dA L h I h x2 M M dx I L L R R ym dm M M dm dx dx L L I r 2 dm corpo Corpos tridimensionais R ( xm , y m , z m ) ( y R Exemplo 12 – Barra delgada uniforme, eixo ortogonal ao seu comprimento. A figura mostra uma barra ou vara delgada uniforme de massa M e comprimento L. Determine seu momento de inércia em relação a um eixo passando pelo ponto O, a uma distância arbitrária h de uma de suas extremidades. I L h x 2 dx h 3 x Lh M x L 3 x h 1 I M L2 3L h 3h 2 3 o Se o eixo passar pela extremidade esquerda: h = 0: 1 I M L2 3 o Se o eixo passar pela extremidade direita: h = L: 1 I M L2 3 o Se o eixo passar pelo centro: h=L/2: I 1 M L2 12 Exemplo 13 – Cilindro maciço ou oco girando em torno de seu eixo. A figura mostra um cilindro oco e uniforme com comprimento L, raio interno R1 e externo R2 e massa M. Calcule o momento de inércia em relação ao eixo de simetria do cilindro. 8 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. R 2 2 I 2 R x 2 dx 2 0 8 5 I R 15 M M 4 V R3 3 3M 4 R3 8 5 I R 15 Solução: dm dV dm 2 r L dr I r 2 dm corpo R2 r 2 r L dr I 2 R1 R2 I 2 L r 3dr I L 4 R1 R 4 2 R14 8 5 3M R 15 4 R3 2 I M R2 5 I Exemplo 14 – Esfera homogênea de raio R e eixo passando pelo centro. A esfera abaixo poderia ser uma bola de bilhar. Determine seu momento de inércia. Solução: r R2 x2 dm dV dm r 2 dx I 2 r dm corpo dm R 2 x 2 dx Para um disco: dI dI 1 2 R2 x2 dI 2 1 2 r dm 2 R x dx 2 R2 x2 2 2 dx 2 Exemplo 15 – Movimento de um CD/DVD. Em um compact disc ou digital video disc, as informações são gravadas digitalmente em uma série de pits (―buracos‖) e flats (regiões de áreas planas) sobre a superfície do disco, representando uma série de binários 0 ou 1, que serão lidos pelo compact disc player e convertidos em ondas sonoras. Os pits e as flat areas são detetados por um sistema de um laser e lentes. O comprimento de um certo número de zeros e uns gravados é o mesmo ao longo de todo o disco, próxima a borda ou próximo ao seu centro. Para que o comprimento da região gravada de ―0s‖ e ―1s‖ sempre passe pelo sistema de leitura lentes e laser no mesmo período, a velocidade linear da superfície do disco na região de leitura deve ser constante. Em um aparelho de CD típico, a velocidade de leitura é da ordem de 1.3 m/s. Encontre a velocidade angular do disco quando a informação está sendo lida do interior (first track) em r = 23 mm e no exterior (final track) r = 58 mm. 9 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. Solução: 1.3 rad i i 56.5 2 v 2.3 10 s i ri 1.3 22.4 rad e e 5.8 102 s 56.5 fi fi 8.99 Hz i 2 fi 2 f 22.4 f 3.565Hz e e 2 fi (rpm) f ( Hz ) 60 fi 539.4rpm f e 213.9rpm 10 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. Dinâmica do Movimento de Rotação Introdução: Ao usarmos uma chave de roda para retirar o parafuso para trocar o pneu de um automóvel, a roda inteira pode começar a girar, a menos que você descubra um meio de mantê-la firme. O que ocorre com a força que você realiza sobre a chave de roda que ocasiona a rotação da roda? De modo geral, o que produz a aceleração angular em um corpo que gira? Uma força pode puxar, empurrar mas para produzir um movimento de rotação é necessária uma ação giratória ou de rotação. Analisaremos uma nova grandeza física, o torque, que descreve a ação giratória da força. Desenvolveremos um novo princípio de conservação, a lei da conservação do momento angular, que é extremamente útil para entender o movimento de rotação do corpo rígido e de corpos não rígidos. Uma aplicação interessante é o movimento de um giroscópio, que se comporta de acordo com a dinâmica do movimento de rotação. 11 Torque Definimos como torque, ou momento da força F em relação a um ponto O como sendo o produto da distância l perpendicular entre o ponto O e a linha de ação da força e o módulo da força F l Em notação vetorial: r F Unidade: N.m F : F . Assim: Exemplo 1 – Um bombeiro hidráulico, incapaz de afrouxar a conexão de um tubo, encaixa um pedaço de sucata (―uma alavanca‖) sobre a haste da chave de grifa. A seguir ele usa seu peso de 900 N para ficar em pé na extremidade da alavanca. A distância entre o centro da conexão e o ponto onde o peso atua é igual a 0.80 m, e o eixo da alavanca faz um ângulo de 19° com a horizontal. Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. Calcule o módulo, a direção e o sentido do torque que ele aplica em torno do centro de conexão. Solução: I O ângulo entre r e F é igual a 190°. Assim, o braço l da alavanca é: l 0.8 sen109 l 0.76m F l 900 0.76 680N m 12 Torque e aceleração angular de um corpo rígido. A relação fundamental para a dinâmica da rotação de um corpo rígido pode ser feita se imaginarmos que o corpo constituí de um número grande de partículas. Escolhemos para o eixo de rotação o eixo Oy; a primeira partícula de massa m1 está a uma distância r1 do eixo. Assim, a segunda lei de Newton para o movimento tangencial é: F1,tan m1 a1,tan F1,tan r1 m1 r12 Somando sobre todas as partículas: m r 2 i i i Segunda lei de Newton para o movimento de rotação: Exemplo 2 – Desenrolando um cabo. A figura mostra a mesma situação mostrada no exemplo do capítulo anterior. Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. R T I R T Um cabo é enrolado diversas vezes em torno de um cilindro sólido uniforme que pode girar em torno de seu eixo. O cilindro possui diâmetro igual a 0.120 m e massa de 50 kg. O cabo é puxado com uma força de 9.0 N. Supondo que o cabo seja desenrolado sem se dilatar e sem deslizar, qual sua aceleração? Solução: F l 9 0.060 0.54N m 1 I M R2 2 1 I 50 0.062 2 I 0.09 kg m2 I 0.054 rad 6.0 2 0.090 s Exemplo 3 – Desenrolando um cabo II. Suponha a mesma situação mostrada no exemplo anterior. Ache a aceleração do objeto de massa m e a aceleração angular do cilindro. y R 1 T M a 2 a atan R 1 m g M a ma 2 g a M 1 2m 1 T M a 2 1 g T M M 2 1 2m M g M 2m g T T 2 m M 2 2 2m M 2m mM T g 2m M Exemplo 4 – Um cavaleiro de massa m1 desliza sem atrito ao longo de um trilho de ar horizontal. Ele está ligado a um objeto de massa m2 por meio de um fio de massa desprezível. A polia é uma casca cilíndrica (ligada ao centro por raios de massa desprezível) com massa M e raio R, e o fio faz o cilindro sem deslizar nem dilatar. Ache a aceleração angular da polia e a tensão em cada parte do fio. Solução: As equações de movimento para o cavaleiro e o objeto são: Solução: F 1 M R2 2 a m g T m a O peso Mg e a força normal N não possuem torque em relação ao eixo de rotação. Assim: I F x F y T1 m1 a1 m2 g T2 m2 a2 Momento de inércia da polia em torno do eixo: I M R2 13 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. Considerando positivo o sentido da rotação dos ponteiros do relógio, a equação do movimento da polia é: I T R T R M R 2 1 2 Como o fio não dilata nem desliza, temos as relações cinemáticas adicionais: a1 a2 R Juntando as equações, teremos: T1 m1 a1 m2 g T2 m2 a2 T T M a 1 2 1 Somando eliminando-se T1 e T2: equações e Movimento combinado de rotação translação: Relações envolvendo energia. e a1 as três 14 m2 g m1 m2 M Substituindo na relação acima: m1 m2 g m1 m2 M m M m2 g T2 1 m1 m2 M T1 Todo movimento de um corpo rígido pode ser sempre dividido em um movimento de translação do centro de massa e outro de rotação em torno do centro de massa. A energia cinética do corpo possui duas parcelas: uma devida à translação do centro de massa e outra devida à rotação: K 1 1 2 M vcm I cm 2 2 2 Condição para rolamento sem deslizamento: vCM R Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. 3 2 M vcm 0 4 4 vcm g h 3 0 M g h Exemplo 5 – Enrolamento de uma casca cilíndrica. Uma casca cilíndrica oca de raio R e massa M rola sem deslizar com uma velocidade vCM ao longo de uma superfície plana. Qual a sua energia cinética? Solução: Exemplo 7 – Competição entre corpos girando. Em uma demosntração durante a aula de física, o professor faz uma ―competição‖ de vários corpos rígidos redondos, deixando-os rolar do alto de um plano inclinado. Qual a forma do corpo que alcança primeiro a parte inferior? 15 1 1 2 M vcm I cm 2 2 2 2 1 1 v 2 K M vcm M R 2 CM 2 2 R 2 K M vcm K Exemplo 6 – Velocidade de um ioiô. Um ioiô é feito enrolando-se um fio diversas vezes em torno de um cilindro de massa M e raio R. Mantém-se presa a extremidade enquanto o cilindro é liberado sem velocidade inicial. O fio se desenrola, mas não desliza nem se dilata à medida que o cilindro cai e gira. Use considerações de energia para achar a velocidade do centro de massa vCM do cilindro sólido depois que ele caiu a uma distância h. Solução: K1 0 U1 M g h U 2 0 1 1 2 K 2 M vcm I cm 2 2 2 K1 U1 K2 U 2 1 1 2 0 M g h M vcm I cm 2 0 2 2 Chamando de: I cm c M R 2 2 1 1 v 2 M g h M vcm c M R 2 cm 2 2 R 1 1 2 2 M g h M vcm M vcm c 2 2 1 2 gh 2 M g h M vcm 1 c vcm 2 1 c Solução: 1 1 2 M vcm I cm 2 2 2 vCM 1 I M R2 R 2 K 1 1 1 v 2 K 2 M vcm M R 2 CM 2 2 2 R 3 2 K 2 M vcm 4 Aplicando a conservação da energia: K1 U1 K2 U 2 2 Todos os cilindros sólidos possuem a mesma velocidade no ponto inferior do plano, mesmo quando possuem massas e raios diferentes, pois eles possuem o mesmo valor da constante c. Todas as esferas sólidas possuem a mesma velocidade na base do plano. Quando menor o valor de c maior a velocidade do corpo quando ele chega na parte inferior do plano. Observando a tabela de momento de inércia, vemos que a ordem de chegada do plano é: Qualquer esfera maciça, qualquer cilindro maciço, qualquer esfera oca com parede fina ou casca esférica e, finalmente, qualquer casca cilíndrica. Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. Exemplo 8 – Aceleração de um ioiô. Ache a aceleração de cima para baixo do ioiô e a tensão no fio. 1 M acm 2 1 2 T M g 2 3 2 T M g 3 T Exemplo 9 – Aceleração de uma esfera rolando. Uma esfera de bliche sólida rola sem deslizar para baixo de uma rampa ao longo de uma guia. O ângulo de inclinação da rampa em relação à horizontal é . Qual é a aceleração da bola? Considere a bola uma esfera homogênea sólida, desprezando seus orifícios. Solução: A equação para o movimento de translação do centro de massa é: F y M g T M acm O momento de inércia em relação a um eixo que passa pelo centro de massa: 1 I M R2 2 Somente a força de tensão possui torque em relação a um eixo que passa pelo centro de massa é: T R I cm T R 1 M R2 2 Como o fio se desenrola sem se deslizar: vCM R aCM R aCM R 1 M R 2 acm 1 T M acm 2 M g T M acm 1 M g M acm M acm 2 1 M g M acm M acm 2 3 2 M g M acm acm g 2 3 T Solução: A figura mostra o diagrama de corpo livre, mostrando o sentido positivo das coordenadas. Usando o momento de inércia da esfera sólida: I 2 M R2 5 Equações de translação e rotação do centro de massa e chamando de f a força de atrito: F x M g sen f M acm f R I Como: aCM 2 M R2 5 aCM R R cm f R Substituindo, teremos: 2 M acm 5 M g sen f M acm 2 M g sen M acm M acm 5 2 M g sen M acm M acm 5 7 5 M g sen M acm acm g sen 5 7 f 16 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. f 2 2 5 M acm f M g sen 5 5 7 2 f M g sen 7 Coeficiente de atrito: 2 M g sen f 7 N M g cos 2 tg 7 Trabalho e potência no movimento de rotação Podemos escrever: dW Ftan ds ds R d dW Ftan R d dW d 2 Podemos desenvolver: d d dt dW I d d d dt dW I 2 W I d 1 1 1 I 22 I 12 2 2 dW d dt dt P Wtot P 6000 Hz 60 f 100Hz f 6000rpm rad s 1.49 105 200 1 dW I d dW I P 2 f 2 100 200 W d dW d Exemplo 10 – Um anúncio fazendo propaganda da potência desenvolvida pelo motor de um automóvel afirma que o motor desenvolve 1.49.10 5W para uma rotação de 6000 rpm. Qual é o torque desenvolvido pelo motor? Solução: 237N m Exemplo 11 - Um motor elétrico desenvolve um torque constante de = 10 N.m sobre o esmeril montado no seu eixo motor. O momento de inércia é I = 2.0 kg.m². Sabendo que o sistema começa a se mover a partir do repouso, calcule o trabalho realizado pelo motor em 8.0 s e a energia cinética no instante final. Qual a potência média desenvolvida pelo motor? Solução: I I 10 rad 2 2 s t rad 5 8 40 s 1 1 K I 2 K 2 402 K 1600 J 2 2 1 1 t 2 5 82 160rad 2 2 W W 10 160 W 1600 J W 1600 P P P 200W t 8 17 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. A potência instantânea P = não é constante, porque cresce continuamente. Porém podemos calcular o trabalho total por: t2 t2 W P dt W dt t1 t1 t2 8 W t dt 10 5 tdt t1 dL vmv r ma dt 0 dL r F dt dL dt 0 W 50 2 t 8 t 2 W 1600 J 18 t 0 Momento angular Uma grandeza análoga ao momento linear p de uma partícula é o momento angular, que representamos por L . Definimos como: Lrp Para um corpo rígido de i partículas, o momento angular de cada uma será: Li mi vi ri Li mi ri i ri Li mi ri 2 i L m v r sen L mv l Pode-se mostrar que a taxa de variação do momento angular é igual ao torque da força resultante: dL dr dp pr dt dt dt mdv dL dr mv r dt dt dt L Li L mi ri 2 i L I Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. 19 Exemplo 12 – A hélice da turbina de um motor a jato possui momento de inércia 2.5 kg.m² em torno do eixo de rotação. Quando a turbina começa a girar, sua velocidade angular em função do tempo é dada por 400 t 2 rad s3 (a) Calcule o momento angular da hélice em função do tempo e ache seu valor em t = 3.0 s. (b) Determine o torque resultante que atua sobre a hélice em função do tempo e calcule seu valor para t = 3.0 s. Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. Solução: 2 (a) L I L 2.5 400 t L 1000 t 2 kg m2 L t 3 1000 32 L 9000 s dL (b) 1000 2t dt 2000 t t 3 2000 3 6000 N m Conservação do momento angular Princípio da conservação do momento angular: Esse princípio vale em todas escalas, desde o sistema atômico como o planetário e decorre da equação: dL dt dL Quando i 0 0 dt i Podemos escrever também: I1 1 I 2 2 Exemplo 13 – Qualquer um pode ser bailarino. Um professor de física acrobata está de pé sobre o centro de uma mesa girante, mantendo seus braços estendidos horizontalmente com um haltere de 5.0 kg em cada mão. Ele está girando em torno de um eixo vertical completando uma volta a cada 2.0 s. Calcule a nova velocidade angular do professor quando ele aproxima os dois halteres do seu estômago e discuta como isso modifica a sua energia cinética. Seu momento de inércia (sem os halteres) é igual a 3.0 kg.m² quando seus braços estão distendidos para fora, diminuindo para 2.2 kg.m² quando suas mãos estão próximas do seu estômago. Os halteres estão inicialmente a uma distância de 1.0 m do eixo e a distância final é igual a 0.20 m. Considere o halteres como partículas. 20 Solução I I prof I halteres I1 3 2 5 12 I1 13kg m2 I 2 2.2 2 5 0.22 I 2 2.6kg m2 f 1 1 rad f Hz 2 f T 2 s I1 1 I 2 2 I 13 rad 2 1 1 2 2 5 I2 2.6 s I 13 f 2 1 f1 f 2 0.5 f 2 2.5Hz I2 2.6 1 1 K1 I1 12 K1 13 2 K1 64 J 2 2 1 1 2 K 2 I 2 22 K 2 2.6 5 K1 320 J 2 2 Exemplo 14 – A figura mostra 2 discos, um deles é o volante de um motor e o outro é um disco ligado a um eixo de transmissão. Seus momentos de inércia são IA e IB, respectivamente; inicialmente eles estão girando com a mesma velocidade angular A e B, respectivamente. A seguir empurramos os dois discos um contra o outro aplicando forças que atuam ao longo do eixo, de modo que sobre nenhum dos dois discos surge torque em relação ao eixo. Os discos permanecem unidos um contra o outro e atingem uma velocidade angular final . Deduza uma expressão para . Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. K2 K2 Solução: O único torque que atua sobre cada disco é o torque que cada disco exerce sobre o outro disco; não existe nenhum torque externo. Logo o momento angular total do sistema dos dois discos é o mesmo antes e depois de eles serem unidos. No equilíbrio final eles giram juntos como se constituíssem um único corpo com momento de inércia: I I A IB A conservação do momento angular fornece: I A A I B B I I I A A B B I I A A I B B I A IB 1 I A IB 2 2 1 0.04 0.02 1002 2 K2 300 J Um terço da energia foi perdida na ―colisão angular‖, o análogo rotacional de uma colisão linear completamente inelástica. Não deveríamos esperar conservação da energia cinética, embora a força externa resultante e o torque resultante sejam nulos, porque existem forças internas não conservativas (forças de atrito) que atuam enquanti os dois discos começam a girar unidos e tendem a girar com uma velocidade angular comum. Exemplo 16 – Momento angular em uma ação policial. Uma porta de largura 1 m e massa de 15 kg é articulada com dobradiças em um dos lados de modo que possa girar sem atrito em torno de um eixo vertical. Ela inicialmente não está aberta. Um policial dá um tiro com uma bala de 10 g e velocidade de 400 m/s exatamente no canto da porta. Calcule a velocidade angular da porta imediatamente depois que a bala penetra na porta. A energia cinética se conserva? Exemplo 15 – No exemplo anterior, suponha que o volante A tenha massa de 2.0 kg, um raio de 0.20 m e uma velocidade angular inicial de 200 rad/s. Calcule a velocidade angular comum final depois que os discos ficam em contato. A energia cinética se conserva nesse processo? Solução: 1 1 mA rA2 I A 2 0.22 I A 0.040kg m2 2 2 1 1 2 I B mB rB I B 4 0.12 I B 0.020kg m2 2 2 IA I A A I B B I A IB 0.04 50 0.02 200 0.04 0.02 rad 100 s 1 1 K1 I A A2 I B B2 2 2 1 1 K1 0.04 502 0.02 2002 2 2 K1 450 J Solução: Considere um sistema formado pela porta juntamente com a bala em seu interior. Não existe nenhum torque externo em torno do eixo definido pelas dobradiças, de modo que o momento angular em torno desse eixo deve se conservar. O momento angular da bala é: L m v l L 0.01 400 0.5 L 2kg m2 s O momento angular final é: L I I I porta Ibala I mp d 2 3 mbala l 2 21 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. 15 12 I 0.010 0.52 3 I 5.0025kg m2 mv L L I I 2 rad 0.40 5.0025 s A colisão entre a porta e a bala é inelástica porque forças não conservativas atuam durante o impacto da bala. Logo, não esperamos que haja conservação da energia cinética. Para conferirmos, calculamos a energia cinética inicial e final: 1 1 K1 m v 2 K1 0.010 4002 2 2 K1 800 J 1 K2 I 2 2 1 K 2 5.0025 0.42 2 K2 0.40 J L 3.6 105 kg m2 s kˆ (c) L I 1 L m R 2 kˆ 2 1 L 1200 202 0.75 kˆ 2 L 1.8 105 kg m2 s kˆ Exemplo 18 - A máquina de Atwood tem dois corpos de massa m1 e m2 ( sendo m1 maior que m2), ligados por um cordel de massa desprezível que passa por uma polia cujos rolamentos não oferecem atrito. A polia é um disco uniforme, de massa M e raio R. O cordel não escorrega na polia. Determinar a aceleração angular da polia e a aceleração dos dois corpos pela equação: N i 1 i , ext dL dt A energia cinética final é apenas 1/2000 da energia cinética inicial. Exemplo 17 - Determinar, em cada caso, o momento angular para as seguintes situações: (a) um carro de 1200 kg percorre no sentido anti-horário um círculo com 20 m de raio com velocidade de 15 m/s. (b) o carro mencionado desloca-se com velocidade v 15 m s iˆ sobre a reta y = y0 =20m, paralela ao eixo x. (c) um disco, no plano xy, com raio de 20 m e a massa de 1200 kg, girando a 0.75 rad/s em torno do seu eixo, que coincide com o eixo z. Solução: (a) L r p L r m v kˆ L 20 1200 15 kˆ L 3.6 105 kg m2 s kˆ (b) r x iˆ y ˆj r x iˆ y0 ˆj p m v p p iˆ L r p L x iˆ y0 ˆj p iˆ L y0 p kˆ Solução: dL i ,ext dt i 1 Lz Lp L1 L2 N Lz I m1 v R m2 v R z ,res m1 g R m2 g R dL z ,res Z dt d m1 g R m2 g R I m1 v R m2 v R dt m1 g R m2 g R I m1 a R m2 a R 22 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. 1 a M R 2 m1 m2 a R 2 R m1 m2 a g 1 M m1 m2 2 m1 m2 g R Exemplo 19 – Um disco gira em torno de um eixo sem atrito, que coincide com o respectivo eixo de simetria, com velocidade angular inicial i, como mostra a figura. O seu momento de inércia em relação ao eixo é I1. Num certo instante, o disco cai sobre o outro, de momento de inércia I2, montado sobre o mesmo eixo. Graças ao atrito entre as duas superfícies em contato, os dois discos atingem uma velocidade angular comum aos dois, f. Calcular essa velocidade angular. Solução: A velocidade angular final está relacionada com a inicial pela conservação do momento angular: L f Li I1 I 2 f f I1 i I1 i I1 I 2 Exemplo 20 – Um carrossel com 2 m de raio e 500 kg.m2 de momento de inércia gira em torno de seu eixo, sem atrito, completando uma volta a cada 5 s. Uma criança, com 25 kg, está inicialmente no centro do carrossel e depois caminha até a borda. Calcular a velocidade angular que terá, então, o carrossel. I m m R 2 f I m i Im i Im m R2 500 f i 500 25 22 5 f i 6 5 1 1 rev f f 6 5 6 s f Exemplo 21 – A criança mencionada no exemplo anterior corre com velocidade 2.5 m/s sobre uma tangente à beira da plataforma do carrossel, que está imóvel, e pula para a plataforma. Calcular a velocidade angular final da criança no carrossel. Solução: Momento angular inicial da criança correndo em relação ao centro da plataforma do carrossel: Li m v R Expressão do momento angular final do sistema criança-carrossel em termos da velocidade angular final f: Lf m r 2 Im f Igualando as expressões: m R L f Li 2 Im f m v R mv R m R2 Im rad f 0.208 s f Solução: Pela conservação do momento angular: L f Li I sis , f f I sis ,i i I sis I m I c I m m r 2 Exemplo 22 – Uma partícula de massa m descreve, com velocidade v0, um círculo de raio r0 sobre a superfície de uma mesa horizontal sem atrito. A partícula está presa a um fio que passa por um buraco na mesa, no centro do círculo. O fio é lentamente puxado para baixo, de modo que a partícula acaba descrevendo um círculo de raio rf. 23 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. r rf L20 W 2 m r2 W r r0 L 1 1 2 m rf2 r02 2 0 (a) Calcular a velocidade final em termos de r0, v0 e rf. (b) Calcular a tensão T no fio quando a partícula descreve um círculo de raio rf em termos de m, r e do momento angular L0 m v0 r0 . (c) Calcule o trabalho feito pela partícula pela tensão Exemplo 23 – Uma barra de massa M e comprimento d pode girar em torno de um eixo fixo a uma de suas extremidades. Uma bola de massa plástica, com massa m e velocidade v, atinge a barra a uma distância x do eixo e fica grudada na barra. T, integrando T dr de r0 até rf. Dar a resposta em termos de r0, rf e L0. Solução: (a) A conservação do momento angular relaciona as velocidades final à inicial e os raios inicial e final: L f L0 m v f rf m v0 r0 v f (b) Como r0 v0 rf F ma i i v2 r m v f rf m v0 r0 L0 T m v Achar a razão entre a energia final e a energia inicial do sistema. L0 mr 2 L0 2 v mr T m T m r r 2 L T 03 mr (c) O trabalho é: dW T dr dW Tr dr L20 Tr m r3 dW 2 0 Solução: 1. Energia cinética depois da colisão em termos do momento angular Li e do momento de inércia I´do sistema bola-massa: Ef 2 0 L L dr W dr 3 3 mr m r r0 2 I 2. Conservação do momento angular para relacionar Li a m, v e x: L f Li L f Li m v x 3. O momento de inércia I´: 1 I m x2 M d 2 3 4. rf L2f As expressões de Lf e de I´na equação de Ef ficam: Ef L2f 2 I Ef m v x 2 1 2 m x2 M d 2 3 24 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. 3 m2 v 2 x 2 Ef 2 3m x 2 M d 2 (h) 5. A razão entre a energia cinética depois da colisão e a energia inicial da bola de massa plástica é então: 3 m2 v 2 x 2 E f 2 3m x 2 M d 2 1 Ei m v2 2 Ef 3m x 2 Ei 3m x 2 M d 2 Exemplo 24 – Calcule o torque de cada força em relação ao ponto O em cada caso: F = 10N L = 4m (g) F1=180N F2 = 26N F3 = 14N (a) 40 N m kˆ 34.6 N m kˆ (c) 20 N m kˆ (d) 17.3 N m kˆ (e) 0 kˆ (f) 0 kˆ (g) F 1.62 N m kˆ ; F 2.34 N m kˆ 1 2 ˆ F3 1.78 N m k (h) F F F 5.3 7.5 0 N m kˆ ; 1 2 3 0.726 N m kˆ (b) 25 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. e o linear são grandezas vetoriais. Em particular, precisamos da relação geral entre o torque resultante de que atua sobre um corpo e a taxa de variação momento angular L , dada por dL dt . Vamos inicialmente aplicar essa equação ao caso em que o volante não está girando. Tomamos a origem sobre o ponto O do pivô e supomos que o volante seja simétrico, com massa M e momento de inércia I em torno do eixo do volante. O eixo do volante está inicialmente na direção ao longo do eixo Ox. As únicas forças que atuam sobre o giroscópio são a força normal Giroscópios e precessão Se o eixo do volante for inicialmente colocado horizontalmente e depois largado, sua extremidade livre começará a cair sob a ação da gravidade, se o volante inicialmente não estava girando. Porém, quando o volante está inicialmente girando, o que ocorre é basicamente diferente. Um movimento possível é o movimento circular uniforme do eixo em um plano horizontal combinado com o movimento de rotação do volante em torno desse eixo. Esse movimento surpreendente, que não é intuitivo, denomina-se precessão. A precessão ocorre na natureza, assim como nas máquinas que giram, como no caso do giroscópio. A Terra sofre precessão: seu eixo de rotação ( o eixo que liga o pólo norte ao pólo sul) muda constantemente de direção, e a direção desse eixo só retorna exatamente à posição inicial depois de um ciclo completo de precessão que dura 26000 anos. que atua sobre o pivô N e o peso w do volante que atua no centro de massa, situado a uma distância r do pivô. A força normal possui torque nulo em relação ao pivô e o peso possui torque na direção do eixo Oy , como indicado na figura a seguir. Inicialmente não existe rotação e o momento angular inicial Li 0 .Pela equação: dL dt A variação dL do momento angular em um intervalo de tempo curto dt é: dL dt Para estudar o estranho fenômeno da precessão, devemos nos lembrar que o torque, o momento angular Essa variação está na direção Oy porque também está. À medida que decorre cada intervalo de tempo dt, o 26 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. momento angular varia em incrementos adicionais dL na direção Oy porque a direção do torque é constante. O aumento crescente do momento angular horizontal significa que o giroscópio gira para baixo com velocidade crescente em torno do eixo Oy até que ele atinja o suporte ou então que caia na mesa onde ele se apoia. Vamos agora analisar o que ocorre quando o volante está inicialmente girando, de modo que o Li não é igual a. Uma vez que o volante gira em torno do eixo de simetria Li está ao momento angular inicial longo desse eixo. Porém, cada variação de momento angular dL é perpendicular ao eixo, porque o torque r é perpendicular ao eixo. Isso faz com que a No instante indicado na Figura (a), o giroscópio L . Depois de um intervalo de tempo curto dt, o momento angular passa para L dL possui momento angular a variação infinitesimal do momento angular e dL dt que é perpendicular a L . Como indica o diagrama vetorial da Figura, isso significa que o eixo do volante do giroscópio girou de um ângulo pequeno d dado por: dL d L direção do eixo varie, porém seu módulo não varia. As variações de dL ocorrem sempre no plano xy horizontal, de modo que o vetor momento angular e o eixo do volante que com ele se move estão sempre em um plano horizontal. Em outras palavras, o eixo não cai — ele apenas sofre precessão. Caso isso ainda lhe pareça difícil, pense em uma bola presa a um fio. Se a bola estiver inicialmente em repouso e você puxar o fio para você, a bola também se deslocará para você. Porém, se a bola estiver inicialmente se movendo e você puxá-la perpendicularmente à direção do seu movimento, ela se moverá em um círculo em torno de sua mão: ela não se aproximará de sua mão. No primeiro caso a bola possuía momento angular zero; quando você aplica uma força F orientada para você durante um intervalo de tempo dt, a bola adquire um momento linear dp Fdt que também está orientado para você. Porém, quando a bola já possui um momento linear p , uma variação do momento angular dp perpendicular a p produzirá uma variação da direção do movimento, e não uma variação do módulo da sua velocidade. Troque p por L e F por neste raciocínio, e você verá que a precessão é simplesmente o análogo relacional do movimento circular uniforme. A taxa com a qual o eixo se move. d/dt, denominase velocidade angular de precessão escalar: representando essa grandeza por , achamos: dL L d wr dt dt L I Portanto a velocidade angular de precessão é inversamente proporcional à velocidade angular da rotação em torno do eixo. Um giroscópio que gira rapidamente realiza uma precessão lenta; caso o atrito nos mancais faça diminuir a velocidade angular do volante, a velocidade angular de precessão aumenta. A velocidade angular de precessão da Terra é muito lenta ( l rev/26000 anos) porque sua velocidade angular em torno do eixo, ou velocidade angular de spin é muito grande, e o torque devido às influencias gravitacionais do Sol e da Lua é relativamente pequeno. A medida que o giroscópio realiza uma precessão, seu centro de massa se move em um círculo de raio r sobre um plano horizontal. Seu componente vertical da aceleração é zero, de modo que a torça normal de baixo para cima N exercida pelo pivô deve ter módulo pre cisamente igual ao peso. O movimento circular do centro de massa com velocidade angular necessita de F orientada para o interior do círculo, com 2 módulo F M r . Essa força também deve ser uma força fornecida pelo pivô. Uma hipótese básica que lidemos em nossa analise do giroscópio foi que o vetor momento angular L está associado somente com o momento angular de spin do volante e e puramente horizontal. Contudo, existirá também um componente vertical do momento angular associado com o movimento de precessão do 27 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. giroscópio. Ignorando isso estamos tacitamente supondo que a precessão é lenta, isto é, que a velocidade angular de precessão é muito menor do que a velocidade angular de spin . Como a Equação anterior de mostra, um valor elevado de automaticamente fornece um valor pequeno de , de modo que essa aproximação é razoável. Quando a precessão não é lenta, efeitos adicionais mostram que surge um movimento ondulado de cima para baixo, denominado nutação do eixo do volante, que se superpõe com o movimento de precessão. Você pode ver o movimento de nutação ocorrendo em um giroscópio à medida que sua velocidade angular de spin diminui, de modo que aumenta, e o componente vertical de L não pode ser mais desprezado. Dessa maneira, o giroscópio serve como referência de direção, mas não de posição. Ou seja, é possível movimentar um giroscópio normalmente no espaço sem qualquer trabalho além do necessário para transportar sua massa. A resistência surge contrária a forças que atuem de maneira a rotacionar seu eixo de rotação a qualquer configuração não paralela à sua posição original. Assim, um veículo munido de um giroscópio e sensores apropriados pode medir com precisão qualquer mudança em sua orientação, exceto rotações que ocorram no plano de giro dos discos do giroscópio. Por essa razão, normalmente são utilizados dois giroscópios perpendiculares de modo a integralizar a possibilidade de detecção de variações na orientação. É usado como auxiliar em navegação de helicópteros radio controlados, corrigindo automaticamente o curso. As agências espaciais utilizam um aparelho baseado no giroscópio conhecido como giroscópio humano para o treinamento de astronautas. O astronauta utiliza o peso como motor e tem a sensação de "driblar a gravidade". Somente depois de estar apto ao Giroscópio humano o astrounauta estará pronto para fazer viagens espaciais. Adaptado de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Giroscópio Sears & Zemansky, Young, Física, V 1, Ed. Pearson 10a Edição. Giroscópio é um dispositivo que consiste de um rotor suspenso por um suporte formado por dois circulos articulados, com juntas tipo cardan. Seu funcionamento baseia-se no princípio da inércia. O eixo em rotação guarda direção fixa em relação ao espaço. O giroscópio veio a substituir a bússola na navegação marítima. Na aviação, serve de girocompasso e piloto automático, permitindo o vôo em condições de visibilidade zero. Nos vôos espaciais o dispositivo é fundamental para a orientação das espaçonaves. O giroscópio consiste essencialmente em uma roda livre, ou varias rodas, para girar em qualquer direção e com uma propriedade: opõe-se a qualquer tentativa de mudar sua direção original. Exemplo facilmente observável é que, ao girar a roda de uma bicicleta no ar e tentar mudar a direção de seu eixo bruscamente, percebe-se uma enorme reação. 28 Física 2 – Capítulo 1 – Rotação de corpos rígidos e Dinâmica do Movimento de Rotação Prof. Dr. Cláudio Sérgio Sartori. 29