Comunicação Científica PERSPECTIVAS METODOLÓGICAS PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA NO PRIMEIRO SEGMENTO DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS GT 06 – Formação de professores de matemática: práticas, saberes e desenvolvimento profissional Letícia Vanin, Mestranda em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, [email protected] a a Marta Maria Pontin Darsie, Prof Dr da Universidade Federal de Mato Grosso, [email protected] Resumo: Este trabalho relata parte de uma pesquisa de mestrado em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, na linha de pesquisa em Educação em Ciências e Matemática, vinculada ao Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática (GRUEPEM), sob orientação da Profa Dra Marta Maria Pontin Darsie. Pretende-se realizar um estudo sobre o quê e o como os professores que atuam no 1 o segmento da EJA trabalham o ensino de Matemática. A investigação utiliza-se da metodologia qualitativa de análise interpretativa, e será realizada em dois momentos: um estudo bibliográfico indicando aspectos teóricos relacionados à EJA, à Educação Matemática na EJA, aos conteúdos e metodologias indicadas pela Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA, e também em um levantamento de pesquisas realizadas em Educação Matemática no 1o segmento da EJA. Posteriormente será realizada a pesquisa de campo, com oito professores que atuam no 1 o segmento da EJA na rede pública de ensino de Cuiabá-MT, subdividindo-se em duas etapas: análise documental e análise experimental. Neste artigo, pretendemos apresentar alguns resultados parciais referente à pré-análise de orientações didáticas metodológicas que os documentos oficiais recomendam para o ensino da Matemática na Educação de Jovens e Adultos. Palavras - chave: Educação Matemática; Educação de Jovens e Adultos; Metodologias. Introdução Ao ingressar no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, na linha de pesquisa em Educação em Ciências e Matemática, tornei-me integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática - GRUEPEM, coordenado pela professora Dra Marta Maria Pontin Darsie, que realiza pesquisas sobre a temática “Educação Matemática na Educação de Jovens e Adultos”. Comunicação Científica Uma vez participando do grupo, após algumas orientações e discussões no interior do mesmo, surgiu então meu problema de pesquisa que propõem investigar: o quê e o como os professores do 1o segmento da Educação de Jovens e Adultos trabalham na Educação Matemática? A presente pesquisa pretende realizar um estudo sobre os conteúdos e metodologias utilizadas pelos professores que trabalham a Matemática no 1o segmento da Educação de Jovens e Adultos na cidade de Cuiabá-MT. Portanto, como base conceitual para análise, tem-se as seguintes categorias: Educação de Jovens e Adultos, Educação Matemática na Educação de Jovens e Adultos, com enfoque nos conteúdos e metodologias utilizados para o ensino de Matemática no 1o segmento da EJA. Optou-se por investigar essas temáticas pela necessidade de discussões sobre o processo de numeralização na Educação de Jovens e Adultos, bem como de que modo está sendo trabalhada a Matemática pelos professores que atuam no 1o segmento da EJA, especialmente por se tratar de um público diferenciado quanto aos aspectos social, cultural e econômico. A escolha pelo 1o segmento da Educação de Jovens e Adultos como lócus de investigação da pesquisa deve-se ao fato de que analisando a produção de pesquisas brasileiras em Educação Matemática na EJA, foi possível verificar em Vanin & Darsie (2010) que das 74 (setenta e quatro) produções voltadas para essa área, apenas 7 (sete) pesquisas destinam-se especificamente ao 1o segmento da EJA. Dessa forma, observando o gráfico abaixo apud Vanin & Darsie (2010), podemos perceber que são poucos os trabalhos que contemplam o 1° segmento da EJA. Gráfico 1: Lócus de investigação das teses e dissertações produzidas no campo da Educação Matemática na EJA, por segmento, no período entre 1988 a abril de 2010. Fonte: VANIN & DARSIE (2010) Comunicação Científica Neste trabalho, pretendemos apresentar alguns resultados parciais referentes à préanálises de alguns documentos oficiais como a Proposta Curricular para o Primeiro Segmento da EJA (2001), os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), a Proposta Curricular para o Segundo Segmento (2002), bem como pesquisas em Educação Matemática na EJA, que apresentam orientações didáticas para o ensino da Matemática na Educação de Jovens e Adultos. Perspectivas metodológicas para o ensino de Matemática na Educação de Jovens e Adultos O ensino de Matemática em todas as modalidades de ensino tem sido alvo de grande preocupação nas últimas décadas. O baixo rendimento escolar nessa disciplina preocupa tanto os professores, quanto à sociedade em geral. No entanto, sabemos que o ensino de Matemática necessita voltar-se para a promoção e compreensão do conhecimento matemático, além da capacidade em utilizá-lo em situações do dia-a-dia, superando às simples resoluções de exercícios mecanizados, muitas vezes sem sentido para os estudantes. No contexto da Educação de Jovens e Adultos, muitos alunos manifestam baixa auto-estima em relação a sua capacidade de aprender, especialmente, a disciplina de Matemática, que tem sido apontada como uma das disciplinas que mais causou transtornos entre os jovens e adultos que abandonaram a escola durante a infância. Além disso, a Matemática sempre foi considerada para os mais inteligentes, sendo que muitos alunos não se consideram capazes de aprendê-la. Essa situação acaba ocasionando certa aversão nos alunos pela Matemática, fazendo com que acreditem que é algo difícil, distante da realidade e, que em muitos momentos, não apresenta utilidades para a vida cotidiana. Nesse sentido, como educadores matemáticos, necessitamos transformar essa ideia de que a Matemática é para poucos e, mostrar que todas as pessoas têm a capacidade de aprendê-la. Para isso, devemos buscar alternativas e estratégias que visem aumentar a motivação dos alunos para a aprendizagem da Matemática, podendo dessa forma, diminuir bloqueios apresentados por muitos alunos que temem essa disciplina. Diante disso, vários documentos oficiais e pesquisas em Educação Matemática na EJA, sugerem possibilidades metodológicas de ensino, que caminham no sentido do Comunicação Científica professor propor atividades aos alunos que os levem à construção do conhecimento matemático e a apresentar uma melhor compreensão tanto da teoria quanto da natureza dos problemas que nos deparamos cotidianamente. Dentre as perspectivas para o ensino da Matemática na Educação de Jovens e Adultos destacam-se: a Resolução de Problemas, a História da Matemática, a Modelagem Matemática, as Tecnologias de Informação e Comunicação e os Jogos. Resolução de Problemas: A resolução de problemas tem sido considerada nas últimas décadas por muitos educadores, como uma metodologia desencadeadora da aprendizagem para o ensino da Matemática em todos os níveis de ensino, e particularmente como um dos possíveis caminhos para fazer Matemática na Educação de Jovens e Adultos. Nesse sentido, a Proposta Curricular do Primeiro Segmento da EJA (2001), complementa que para a aprendizagem da Matemática torne-se mais significativa, ou seja, para que os educandos possam estabelecer relações e utilizar os conhecimentos matemáticos na interpretação da realidade em que vivem, os conteúdos matemáticos devem ser abordados nessa modalidade de ensino por meio de resolução de problemas. Nessa proposta, a resolução de problemas não constitui um tópico de conteúdo isolado, a ser trabalhado paralelamente à exercitação mecânica das técnicas operatórias, nem se reduz à aplicação de conceitos previamente demonstrados pelo professor: ela é concebida como uma forma de conduzir integralmente o processo de ensino e aprendizagem (BRASIL, 2001, p. 103). Diante disso, no Brasil e no mundo, a partir da década de 90, assume-se a resolução de problemas como um ponto de partida e um meio facilitador de se ensinar Matemática. À luz desse entendimento, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) também situam a resolução de problemas como uma metodologia para o ensino da Matemática, e defendem essa proposta, que poderia ser resumida nos seguintes princípios: • o ponto de partida da atividade matemática não é a definição, mas o problema. No processo de ensino e aprendizagem, conceitos, idéias e métodos matemáticos devem ser abordados mediante a exploração de problemas, ou seja, de situações em que os alunos precisem desenvolver algum tipo de estratégia para resolvê-las; Comunicação Científica • o problema certamente não é um exercício em que o aluno aplica, de forma quase mecânica, uma fórmula ou um processo operatório. Só há problema se o aluno for levado a interpretar o enunciado da questão que lhe é posta e a estruturar a situação que lhe é apresentada; • aproximações sucessivas ao conceito são construídas para resolver um certo tipo de problema; num outro momento, o aluno utiliza o que aprendeu para resolver outros, o que exige transferências, retificações, rupturas, segundo um processo análogo ao que se pode observar na história da Matemática; • o aluno não constrói um conceito em resposta a um problema, mas constrói um campo de conceitos que tomam sentido num campo de problemas. Um conceito matemático se constrói articulado com outros conceitos, por meio de uma série de retificações e generalizações; • a resolução de problemas não é uma atividade para ser desenvolvida em paralelo ou como aplicação da aprendizagem, mas uma orientação para a aprendizagem, pois proporciona o contexto em que se pode apreender conceitos, procedimentos e atitudes matemáticas (BRASIL: PCN, 1997, p. 33). Deste modo, trabalhar com resolução de problemas no ensino de Matemática pode tornar a aprendizagem mais significativa. Ausubel (1980) define algumas condições para que a resolução de problemas possa promover a Aprendizagem Significativa: Solucionar problemas, naturalmente, implica uma aprendizagem pela descoberta [...] A aprendizagem pela descoberta é significativa quando os aprendizes relacionam não arbitrariamente e substantivamente uma proposição problemática potencialmente significativa com a sua estrutura cognitiva, objetivando gerar uma solução que, por sua vez, é potencialmente significativa (relacionável com a estrutura cognitiva na mesma base). Engloba, portanto, sob estas condições, todos os elementos essenciais que estão implicados na aprendizagem significativa em geral: uma disposição para a aprendizagem significativa, uma tarefa de aprendizagem logicamente significativa e a disponibilidade de idéias relevantes estabelecidas na estrutura cognitiva do aprendiz (AUSUBEL, 1980, p. 472 - 473). Ainda nessa discussão, a Proposta Curricular para o Segundo Segmento do Ensino Fundamental da EJA (2002) salienta: A experiência tem mostrado que o conhecimento matemático ganha significado quando os alunos se defrontam com situações desafiadoras e trabalham para desenvolver estratégias de resolução. Daí a importância de tomar a resolução de problemas como ponto de partida da atividade matemática (BRASIL, 2002, p. 27). Ademais, o ensino da Matemática por meio da resolução de problemas pode promover, aos alunos da Educação de Jovens e Adultos, oportunidades para construção de conceitos matemáticos possibilitando situações caracterizadas pela investigação e Comunicação Científica exploração de novos conceitos, habituando-os a desenvolver estratégias de resolução às questões que os inquietam, sejam elas escolares ou da vida diária, ao invés de esperar uma resposta já pronta dada pelo professor ou pelo livro didático. Dessa forma, podemos observar que os Parâmetros Curriculares Nacionais e as propostas curriculares para a EJA concordam e incentivam a resolução de problemas para o ensino de Matemática dos jovens e adultos. História da Matemática: A Matemática, assim como qualquer outra Ciência, não é estática, ela evolui ao longo do tempo. Desse modo, para poder conhecer sua História, é necessário ir além do campo específico do conhecimento matemático, das definições, teoremas e demonstrações. Entretanto, no contexto escolar, muitas vezes a Matemática é apresentada aos estudantes sem qualquer referência à sua história, em que apenas os procedimentos e técnicas são ressaltados, tornando-se uma atividade mecânica. Nesse sentido, a História da Matemática tem sido apontada por um número expressivo de pesquisadores matemáticos, historiadores de Matemática e investigadores de Educação Matemática, como um recurso metodológico para o ensino dessa disciplina em todas as modalidades de ensino. Dentre os principais motivos levantados por esses pesquisadores, a História da Matemática destaca-se por propiciar o estudo da construção histórica do conhecimento matemático, contribuindo para maior compreensão da evolução dos conceitos. Além disso, desperta o interesse dos alunos pelos conteúdos matemáticos que estão sendo ensinados. A luz desse entendimento, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) complementam que: Ao revelar a Matemática como uma criação humana, ao mostrar necessidades e preocupações de diferentes culturas, em diferentes momentos históricos, ao estabelecer comparações entre os conceitos e processos matemáticos do passado e do presente, o professor tem a possibilidade de desenvolver atitudes e valores mais favoráveis do aluno diante do conhecimento matemático (BRASIL, 1997, p. 35). No que se refere, por meio da História da Matemática é possível contextualizar o saber, mostrar que seus conceitos decorrem de uma época histórica, dentro de um contexto social e político. A esse respeito, a Proposta Curricular para o Segundo Segmento da EJA esclarece que: Comunicação Científica O professor pode criar melhores condições para que o aluno desenvolva atitudes e valores mais favoráveis diante do conhecimento matemático ao revelar que a matemática é uma criação humana, elaborada em diferentes culturas e momentos históricos, e ao estabelecer comparações entre os conceitos e processos matemáticos do passado e do presente. Com isto, o aluno poderá perceber-se como parte da história da produção do conhecimento matemático (BRASIL, 2002, p. 28). Essa visão da Matemática faz com que ela seja percebida pelos educandos como um saber significativo, que foi e é construído pelo homem no decorrer do tempo para responder suas dúvidas e resolver seus problemas. Além disso, explorando esse recurso, é possível conceber o ensino da Matemática em um caráter dinâmico, participativo e curioso. Nesse sentido, Miguel e Miorim (2004) entendem ser possível buscar na História da Matemática apoio para se atingir, com os alunos, objetivos pedagógicos que os levem a perceber, por exemplo: (1) A matemática como uma criação humana; (2) as razões pelas quais as pessoas fazem matemática; (3) as necessidades práticas, sociais, econômicas e físicas que servem de estímulo ao desenvolvimento das idéias matemáticas; (4) as conexões existentes entre a matemática e filosofia, matemática e religião, matemática e lógica, etc.; (5) a curiosidade estritamente intelectual que pode levar à generalização e extensão de idéias e teorias; (6) as percepções que os matemáticos têm do próprio objeto da matemática, as quais mudam e se desenvolvem ao longo do tempo; (7) a natureza de uma estrutura, de uma axiomatização e de uma prova (MIGUEL e MIORIM, 2004, p.53). No entanto, a Proposta Curricular para o Segundo Segmento da EJA esclarece que [...] Essa abordagem, entretanto, não deve se restringir a informações relativas a nomes, locais e datas de descobertas. Em muitas situações, o recurso à história pode dar respostas a alguns porquês, esclarecendo e dando significado às idéias matemáticas que estão sendo construídas nas aulas [...] (BRASIL, 2002, p.28). No contexto da EJA, o emprego da História da Matemática pode promover a oportunidade do educando observar ao longo da história, o empenho e a coragem de pessoas para superar dificuldades semelhantes àquelas que eles próprios possam estar vivenciando. Ainda nessa discussão, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997) acrescentam que os: [...] conceitos abordados em conexão com sua história constituem-se veículos de informação cultural, sociológica e antropológica de grande valor formativo. A História da Matemática é, nesse sentido, um Comunicação Científica instrumento de resgate da própria identidade cultural (BRASIL, 1997, p.35). Deste modo, a inclusão dos conhecimentos históricos da Matemática nas aulas dessa disciplina pode contribuir enormemente com o público da Educação de Jovens e Adultos, dando mais sentido e significado aos conteúdos estudados. Modelagem Matemática: A modelagem matemática, segundo Bienbemgut e Hein (2002) é considerada como sendo a arte de expressar situações-problema do nosso dia-a-dia por intermédio da linguagem matemática, e é tão antiga quanto à própria Matemática, pois já era utilizada pelos povos antigos que procuravam resolver os problemas de sua existência, buscando conhecê-los e compreendê-los. Nesse sentido, a modelagem matemática apresenta-se como uma metodologia alternativa para o ensino da Matemática que pode ser utilizada em todas as etapas escolares, e veio a ser explorada para tentar explicar, interpretar e compreender os mais diversos fenômenos do nosso cotidiano. De acordo com Bienbemgut e Hein (2002), a modelagem matemática tenta “traduzir situações reais para uma linguagem matemática, para que por meio dela se possa melhor compreender, prever e simular ou, ainda, mudar determinadas vias de acontecimentos, com estratégias de ação, nas mais variadas áreas de conhecimento.” (BIENBEMGUT e HEIN, 2002, p.7) No que se refere à aplicação da modelagem matemática como metodologia de ensino, Burak (1998) apresenta cinco passos que visam promover o sentido e a formação do conhecimento matemático: 1- Escolha do tema: o professor incentiva e oferece oportunidades de escolha de um tema que faça parte da vivência do aluno ou que seja de interesse do grupo e sobre esse tema eles realizam a pesquisa. 2- Pesquisa exploratória: permite aos alunos a coleta de todos os dados que julguem relevantes ao tema de pesquisa e conhecimento. 3- Levantamento dos problemas: de posse dos dados coletados pela pesquisa exploratória, há a elaboração e esquematização dos problemas pertinentes ao tema. 4- Resolução dos problemas: paralelamente a etapa anterior, é desenvolvido a resolução dos problemas, nessa etapa surge a necessidade dos conteúdos matemáticos ou modelos matemáticos que ajude na compreensão e resolução da situação. Comunicação Científica 5 – Análise crítica: permite aos alunos o desenvolvimento de sua criticidade, reflexão, coerência, enfim, a relação e adequação dos resultados com a realidade, adequabilidade, coerência e equixibilidade do resultado (BURAK, 1998, p.32). Deste modo, os passos sugeridos por Burak (1998) para o desenvolvimento das atividades de modelagem no ensino da matemática, possibilitam ao professor trabalhar o ensino de matemática de maneira diferenciada, numa perspectiva construtivista, pois proporciona aos alunos aprenderem matemática de forma contextualizada, integrada e relacionada a outros conhecimentos e outras áreas de estudo. Nesse sentido, não é por acaso que encontramos vários exemplos de trabalhos pedagógicos utilizando a modelagem matemática no âmbito da Educação de Jovens e Adultos, mesmo sem este recurso metodológico estar presente na proposta curricular para a EJA. De acordo com Fonseca1: Na EJA, aliam-se a necessidade dos alunos em adquirirem instrumental para resolver seus problemas e a própria disponibilização e diversidade de informações e recursos que o próprio aluno adulto traz para a sala de aula, adquiridos em sua vivência social, familiar, profissional, esportiva, religiosa, sindical, etc. (FONSECA, p.7) Além disso, há outros fatores que possibilitam e facilitam o trabalho com a modelagem na EJA. Um deles é em relação aos currículos, que por serem um pouco mais flexíveis que no ensino regular, favorecem maior autonomia na definição da programação a ser cumprida. Outro fator a ser considerado é que o público da EJA é ideal para trabalhar com soluções de problemas reais, pois geralmente o que esperam encontrar é uma Matemática que dê conta de suas necessidades imediatas, úteis ao seu dia-a-dia. Tecnologias da Informação e Comunicação: No âmbito escolar, as novas tecnologias trouxeram grande impacto sobre a Educação desenvolvida nos dias atuais, criando novas formas de aprendizado e disseminação de conhecimentos, além de proporcionar ao processo de ensino e 1 Disponível em > www.anped.org.br/reunioes/25/mariaconceicaofonsecat18.rtf Comunicação Científica aprendizagem um ambiente onde professores e alunos possam trocar novas experiências e ter acesso à informação. Nesse sentido, as tecnologias tornam-se uma alternativa para o ensino da Matemática, podendo auxiliar na aproximação da Matemática com a realidade, pois de acordo com D’Ambrosio2, “a incorporação de toda a tecnologia disponível no mundo de hoje é essencial para tornar a matemática uma ciência de hoje”. Ainda nessa discussão, os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) vem nos dizer que o uso dos recursos tecnológicos pode trazer significativas contribuições para a reflexão sobre o processo de ensino e de aprendizagem de Matemática à medida que: Relativizam a importância do cálculo mecânico e da simples manipulação simbólica, uma vez que por meio de instrumentos esses cálculos podem ser realizados de modo mais rápido e eficiente. Evidenciam para os alunos a importância do papel da linguagem gráfica e de novas formas de representação, permitindo novas estratégias de abordagem de variados problemas. Possibilitam o desenvolvimento, nos alunos, de um crescente interesse pela realização de projetos e atividades de investigação e exploração como parte fundamental de sua aprendizagem. Permitem que os alunos construam uma visão mais completa da verdadeira natureza da atividade matemática e desenvolvam atitudes positivas diante de seu estudo (PCN, 1998, p.43-44). Dessa forma, a inserção das novas tecnologias no ensino da Matemática como computadores, softwares, calculadoras, calculadoras gráficas dentre outras, tem sido de grande valia, pois torna a Matemática mais atrativa e de melhor compreensão, além de enriquecer e fazer com que o processo de aprendizado seja mais dinâmico e interessante. Jogos: Os jogos, enquanto atividades lúdicas e educativas, podem ser considerados estratégia facilitadora do ensino e aprendizagem da Matemática, pois ao mesmo tempo em que se trabalha conceitos matemáticos, trabalha-se uma maneira diferente e prazerosa de se aprender matemática, podendo desse modo tornar as aulas dessa disciplina mais significativas, superando a formalidade que a envolve. A esse respeito, Darsie (1998) pontua que: 2 Disponível em> http://www.ima.mat.br/ubi/pdf/uda_004.pdf Comunicação Científica O jogo pode não ser o único, mas pode ser um dos elementos fundamentais para que o ensino e a aprendizagem possam superar os indesejáveis métodos da decoreba do conteúdo pronto, acabado e repetitivo, que tornam a educação escolar tão maçante, sem vida e sem alegria (DARSIE, 1998, p. 48). À luz desse entendimento, a Proposta Curricular para o Segundo Segmento da EJA (2002) esclarece que o uso de jogos no ensino da Matemática na EJA pode favorecer: [...] a criatividade na elaboração de estratégias de resolução de problemas e a busca de soluções. Eles propiciam a simulação de situações-problema que exigem soluções vivas e imediatas, estimulando o planejamento das ações; e possibilitam a construção de uma atitude positiva perante os erros, uma vez que as situações sucedem-se rapidamente e podem ser corrigidas de forma natural, no decorrer da ação, sem deixar marcas negativas (BRASIL, 2002, p.29). Nesse sentido, a situação do jogo propicia um ambiente favorável à motivação dos educandos, seja em qualquer faixa etária, facilitando à aprendizagem de conceitos matemáticos e o raciocínio lógico-dedutivo. Na Educação de Jovens e Adultos, a utilização de jogos no ensino da Matemática se justifica, pois pode contribuir para a participação dos jovens e adultos em atividades coletivas, desenvolvendo a socialização e aumentando as interações dos indivíduos com outras pessoas, podendo dessa forma resgatar a respeitabilidade e elevar a auto-estima dos educandos dessa modalidade de ensino. Além disso, pode favorecer a criatividade na elaboração de estratégias de resolução de problemas e na procura de soluções, bem como possibilitar atitudes positivas perante os erros, uma vez que as situações sucedem-se rapidamente e podem ser corrigidas naturalmente. Dessa forma, ao jogar, os educandos apresentam um melhor desempenho e atitudes positivas frente a seus processos de aprendizagem desenvolvendo a autoconfiança, a capacidade de pensar, concentrar, analisar, refletir, levantar e analisar hipóteses, bem como testá-las e avaliá-las. Além disso, a utilização de jogos no ensino da Matemática possibilita que essa disciplina seja redescoberta pelos alunos, em que eles possam ser agentes ativos na construção do seu próprio conhecimento, pois além de desenvolver habilidades, o jogo estimula o pensamento reflexivo dos educandos. Análise dos dados apresentados Diante dos dados apresentados, pode-se concluir que as perspectivas metodológicas para o ensino de Matemática na Educação de Jovens e Adultos ressaltam a construção de Comunicação Científica conceitos matemáticos pelos alunos, onde eles se tornam sujeitos ativos, deixando de ter uma posição passiva diante da sua aprendizagem. Além disso, as propostas apresentadas se complementam, e juntas podem proporcionar um ensino de Matemática de maior qualidade e com mais sentido para os educandos da EJA. Nesse sentido, é indispensável diversificar essas metodologias nas aulas de Matemática de acordo com as especificidades das turmas, desenvolvendo uma forma rica de se apresentar os conceitos matemáticos. No entanto, para a utilização adequada dessas metodologias, é indispensável que os profissionais da educação sintam a necessidade de transformar sua postura referente à sua prática, ou seja, devem tomar consciência de suas ações e descobrir maneiras de fazer com que seus alunos realmente aprendam pela Matemática, auxiliando-os na construção efetiva de conhecimentos, que, por sua vez, trarão maior compreensão da realidade. Referências Bibliográficas AUSUBEL, D. P, Novak, J. D. & Hanesian, H. Psicologia Educacional. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980. BIEMBENGUT, M.S.; HEIN, N. Modelagem Matemática no Ensino. Editora Contexto: São Paulo, 2002. BRASIL. Ministério de Educação e do Desporto. Parâmetros curriculares nacionais: Matemática. Brasília: SEF, 1997. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Educação para Jovens e Adultos: ensino Fundamental: Proposta Curricular – 1o segmento, (coordenação e texto final Vera Maria Massagão Ribeiro); São Paulo: Ação Educativa; Brasília: MEC, 2001. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Matemática /Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC /SEF, 1998. BRASIL. Proposta curricular para a Educação de Jovens e Adultos: segundo segmento do ensino fundamental (5ª a 8ª série) – Introdução. Brasília: MEC/SEF, 2002. v. 1. BURAK, D. Formação dos pensamentos algébrico e geométrico: uma experiência com a modelagem matemática. Pró-Mat Paraná, Curitiba , v, 1, no 1, p.32-41, 1998. DARSIE, M. M. P. A Reflexão Distanciada na Construção dos Conhecimentos Profissionais do professor em curso de Formação Inicial. Tese de Doutorado. USP. São Paulo, 1998. Comunicação Científica MIGUEL, Antonio; Miorim, M. A. História na Educação Matemática: propostas e desafios. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. VANIN, L. DARSIE, M. M. P.. Investigação Quantitativa de Pesquisas Brasileiras em Educação Matemática Realizadas no Primeiro Segmento da EJA: distribuição espacial e temporal, temáticas e metodologias. Disponível, cd XIV EBRAPEM, Campo Grande-MS, 2010.