Lula: o Presidente da paz e não da guerra José Genoino* Todos nos recordamos que George W. Bush transformou a guerra em recurso permanente das negociações norte-americanas. A guerra como política econômica foi o lado mais dramático da fracassada invasão dos Estados Unidos ao Iraque. Sob o pretexto de que o Iraque possuiria armas químicas, exércitos o invadiram, trazendo instabilidade econômica, destruição da infraestrutura civil e mortes de crianças e de mulheres. Nunca é demais relembrar que a guerra como política internacional traz conseqüências as mais horrendas, pois condenam as populações a um sofrimento sem precedentes, eliminando as esperanças de gerações inteiras, mergulhando o país invadido no caos e na anomia. Logo após a invasão capitaneada pelos Estados Unidos, o mundo percebeu que a estratégia de Bush se fundava numa fraude. Não existiam as tais armas de destruição em massa e o que restou foi um cenário de terror e a evidência de que guerras se prestam a muitos interesses, menos os humanitários. Tal como ocorreu com o Iraque, a cruzada atual é a de isolar o Irã e forçá-lo a se render à estratégia norte-americana. Ocorre que o Irã já demonstrou que não se submeterá às pressões militares e que a única saída civilizada é o estabelecimento de uma política de negociação que contemple seus interesses e suas pretensões. É nesse contexto que se situa a iniciativa do Presidente Lula ao insistir em negociar com o Irã. Ao invés de se alinhar às chantagens militares, Lula oferece tratamento compatível com um país da importância geopolítica do Irã. Ou seja, ao invés da ameaça, Lula abre um canal de negociação, no qual o Irã é tratado como país soberano que é. O que há de novo nisso? Ao menos quatro perspectivas: (1) o Brasil consolida seu protagonismo na agenda política internacional; (2) inaugura-se uma política que aposta no consenso como modo de solução dos conflitos e (3) o Brasil fortalece sua reputação de parceiro confiável, com reflexos tanto políticos como comerciais; (4) a possibilidade do acordo está sendo construída sem o protagonismo das grandes potências. No concerto dos países, todos soberanos, o normal é o conflito de interesses. Aliás, essa é a razão para que se tenha estabelecido, na teoria do Estado, o conceito de soberania. Soberano é o país que é capaz de mover-se a partir de suas próprias determinações. Como todos os atores movem-se a partir dessas determinações, o conflito de interesses é ínsito à política internacional. Ora, o que cabe aos chefes de Estado? Produzir saídas para as crises decorrentes da atuação estatal em âmbito internacional. Desse modo, a tarefa de um estadista é a de produzir uma saída política para um conflito que é político. E por que a questão é política? Porque o Irã pleiteia o que todo país soberano aspira, isto é, agir com autodeterminação. Na medida em que o Irã faz valer sua soberania, não é aceitável que a única resposta que se lhe oferece seja a capitulação ou a guerra. Como a política é a arte de produzir consensos, de estabelecer caminhos que ofereçam soluções que a truculência não é capaz de produzir, o Presidente Lula oferece à comunidade internacional a oportunidade de trilhar caminhos compatíveis com a solução pacífica e política dos conflitos. A essa perspectiva política, soma-se ainda uma vantagem econômica. Há interesses econômicos e geopolíticos em jogo. Claro que o protagonismo adotado pelo Brasil, que se traduz no oferecimento ao Irã de canais privilegiados de negociação, aquecerá a relação comercial entre esses dois países, além de parcerias em diversas áreas, vez que o Irã é um país de 68 milhões de habitantes, que exerce liderança no mundo árabe, com PIB de 850 bilhões de dólares. Com essa postura, o Brasil obterá dividendos não apenas políticos, mas terá reforçado sua parceria econômica com todo o mundo árabe, gerando emprego e renda no Brasil, e influenciando mudanças na geografia econômica mundial. Assim, a política internacional do Presidente Lula, devidamente auxiliado pelo Chanceler Celso Amorim e pelo Embaixador do Brasil no Irã Antonio Luís Espinola Salgado, é uma peça no grande cenário de realizações que transformam este país em protagonista nas relações internacionais, em fomentador da autodeterminação dos povos e em artífice da paz. José Genoino é Deputado Federal pelo PT - SP.