Senhor Presidente, Senhoras Deputadas, Senhores Deputados Duas Candidaturas, Dois Projetos José Serra lançou sua candidatura a presidente da República em Salvador. A candidatura dele navega em ambiguidades, entre ser e não ser da oposição, e tenta apresentar o Governo de Fernando Henrique Cardoso como aquele que inaugurou as políticas do Governo Lula. A estratégia de Serra é frágil e o discurso em Salvador representa falta de projeto político. Voltemos no tempo, à campanha vencedora de Lula nas eleições de 2002. O lema da campanha de Lula era que a “esperança venceria o medo”. O medo a que a campanha de Lula se referia dizia respeito à continuidade de um governo caótico com privatizações, sem parâmetros mínimos de governabilidade, e vulnerável às crises internacionais. Vivíamos em um país desacreditado internacionalmente, com desemprego crescente, com inflação galopante, com a economia estagnada, sem política econômica, sem esperança para os jovens, sem perspectivas, sem alegria. Já o Governo Lula inaugurou no Brasil uma era de acertos que pode ser resumido em dois acontecimentos: o crescimento do PIB de 9% no último trimestre e as políticas públicas, como o Luz para Todos, o Bolsa Família e o Prouni. É que pela primeira vez em sua história recente o Brasil teve crescimento comparável ao crescimento da China e ao 1 invés de o governo trocar a ajuda aos mais necessitados por uma política economicista, tal crescimento foi acompanhado por políticas públicas que possibilitaram que 22 milhões de pessoas fossem resgatadas da miséria. Vejam bem: o que está em jogo na sucessão do Governo Lula é a continuidade de um projeto que seja capaz de erradicar a miséria no nosso país, coordenar uma economia extremamente diversificada com distribuição de renda e situar o Brasil adequadamente na geopolítica internacional. É isso que está em jogo na eleição de Dilma: um projeto para o país que contemple as especificidades regionais, a complexidade social e econômica e, ao mesmo tempo, que possa o Governo Federal utilizarse desse desenvolvimento econômico para cuidar de quem mais precisa, auxiliando essas pessoas a saírem da miséria, promovendo sua inclusão social, e garantir que os ganhos econômicos signifiquem conforto, educação e acesso aos bens a essa nova classe média, de modo que esses ganhos sejam incorporados definitivamente às suas vidas. Assim sendo, somente a eleição de Dilma poderá aprofundar o processo que o Governo Lula iniciou, transformando o Brasil em um país para todos. Esse processo se situa entre a universalização das políticas públicas e uma forte mobilidade social. Destaco a seguir, quatro programas estruturais que serão aprofundados pelo Governo Dilma: (1) crescimento sustentável da economia; (2) expansão do mercado interno; (3) universalização das políticas públicas e (4) protagonismo internacional. Qual é a grande novidade do Governo Lula? Promover de modo sustentável um ciclo virtuoso, no qual crescimento econômico e controle da inflação se coadunassem com distribuição de renda. Significativas desse processo de crescimento foram a política industrial, que gerou, por exemplo, o ressurgimento da indústria naval brasileira, e a política agrária, que conduziu a agricultura brasileira a recordes de produtividade, 2 bem como o fomento à agricultura familiar. Esse ciclo virtuoso representou uma mudança de mentalidade, por que a atividade econômica se expandiu e se consolidou na exata medida do aumento do crédito e do emprego. Assim, na medida em que a atividade produtiva se expandia, era necessário que o governo oferecesse as condições para que essa expansão fosse sustentável, continuada e socialmente justa. Desse modo, inaugurou-se uma política econômica que tinha como alguns de seus pilares o aumento real do salário mínimo, a disponibilidade de crédito capaz de financiar a produção industrial, uma política agrícola capaz de gerar superávit na balança comercial e uma infraestrutura que promovesse o crescimento econômico. Esse crescimento sustentável da economia teria de ser bem coordenado de modo a conjugar a criação de emprego e renda no Brasil. Por isso, na medida em que se realizava uma redefinição da atividade econômica, houve também expansão do mercado interno, consolidandose assim o programa de distribuição de renda. No Governo FHC, o Brasil existia para 30% da população. Já no Governo Lula o aumento real do salário mínimo e os programas sociais como o Bolsa Família que geraram o mais sólido e concreto processo de transferência de renda da história do Brasil. Foi justamente essa transferência de renda que possibilitou que o Brasil enfrentasse sem problemas a mais grave crise econômica que o mundo enfrentou desde 1929. Por que isso? Precisamente porque a consolidação de um mercado interno blindou o Brasil contra as crises na economia internacional. É que, na medida em que mais brasileiros comiam, que mais brasileiros adquiriam os bens indispensáveis à vida moderna, podemos inaugurar um ciclo virtuoso no qual transferência de renda gerava expansão da atividade econômica, que por sua vez propiciava o 3 excedente necessário para que o Governo Lula promovesse a inclusão de mais pessoas. Ao mesmo tempo, foram adotadas medidas de apoio ao crescimento, aumento do salário mínimo e diminuição da carga tributária. Essa é a novidade do Governo Lula: estabelecer um ciclo virtuoso no qual o crescimento econômico está atrelado à transferência de renda. Desse modo, quanto mais o setor produtivo no Brasil expande suas atividades, mais pessoas delas se beneficiam. As políticas públicas do Governo Lula obtiveram sucesso porque manejaram as complexas alavancas da economia moderna, atrelando-as ao desenvolvimento do ser humano. É nesse sentido que o atual e inédito desenvolvimento econômico brasileiro dever ser entendido como Economia Política. Chegamos assim ao novo protagonismo do Brasil na geopolítica internacional. Nesse sentido, é examinado, a seguir, o papel que o Brasil desempenhou no caso do Irã. No concerto dos países, isto é, das soberanias, o normal é o conflito de interesses. Aliás, essa é a razão para que se tenha estabelecido, na teoria do Estado, o conceito de soberania. Soberano é o país capaz de mover-se a partir de suas próprias determinações. Como todos os atores se movem a partir dessas determinações, o conflito de interesses é ínsito à política internacional. Ora, o que cabe aos chefes de Estado? Encontrar saídas para as crises decorrentes da atuação estatal em âmbito internacional. Desse modo, a tarefa de um estadista é a de buscar uma saída política para um conflito que é político. E por que a questão é política? Porque o Irã pleiteia o que todo país soberano aspira, isto é, agir com autodeterminação. Na medida em que o Irã faz valer sua soberania, não é aceitável que a única resposta que se lhe oferece seja a capitulação ou a guerra. Como a política é a arte da disputa e de produzir consensos, de estabelecer caminhos que ofereçam soluções onde a truculência não é capaz de produzir bons resultados, o Brasil, de Lula oferece à comunidade 4 internacional a oportunidade de trilhar caminhos compatíveis com a solução pacífica dos conflitos. A essa perspectiva política, soma-se ainda uma vantagem econômica. Claro que o protagonismo adotado pelo Brasil, que se traduz no oferecimento ao Irã de canais alternativos de negociação, aquecerá a relação comercial entre esses dois países, além de parcerias em diversas áreas, vez que o Irã é um país de 68 milhões de habitantes, que exerce liderança no mundo islâmico, com PIB de 850 bilhões de dólares. Com essa postura, o Brasil obterá dividendos não apenas políticos, mas terá reforçado sua parceria econômica com todo o mundo islâmico, gerando emprego e renda no Brasil. Por tudo isso é que Dilma Rousseff representa a continuidade com avanços do projeto democrático e popular. Brasília, 30 junho de 2010. Deputado José Genoino PT/SP 5