FABIANA DO AMARAL SERRANO NOVOS COMPOSTOS DERIVADOS DE PALÁDIO E RUTÊNIO COM ATIVIDADE ANTITUMORAL Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do título de Doutor em Ciências. São Paulo 2010 FABIANA DO AMARAL SERRANO NOVOS COMPOSTOS DERIVADOS DE PALÁDIO E RUTÊNIO COM ATIVIDADE ANTITUMORAL Orientadora: Profª. Dra. Elaine Guadelupe Rodrigues Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do título de Doutor em Ciências. São Paulo 2010 Serrano, Fabiana do Amaral Novos compostos de Paládio e Rutênio com atividade antitumoral/ Fabiana do Amaral Serrano – São Paulo, 2010. 165 folhas. Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Paulo. Programa de Pósgraduação em Microbiologia, Imunologia e Parasitologia Título em inglês: compounds Novel 1. Compostos de Paladio palladium and ruthenium antitumoral 2. Compostos de Rutênio 3. melanoma murino B16F10-Nex2 4. apoptose 5. metástase MY WAY - Frank Sinatra And now the end is near And so I face the final curtain My friend, I'll say it clear I'll state my case of which I'm certain I've lived a life that's full I traveled each and every highway And more, much more than this I did it my way Regrets, I've had a few But then again, too few to mention I did what I had to do And saw it through without exemption I've planned each charted course Each careful step along the byway And more, much more than this I did it my way Yes there were times, I'm sure you knew When I bit off more than I could chew But through it all when there was doubt I ate it up and spit it out I faced it all and I stood tall And did it my way I've loved, I've laughed and cried I've had my fill, my share of losing And now as tears subside I find it all so amusing To think I did all that And may I say, not in a shy way Oh no, oh no, not me I did it my way For what is a man, what has he got? If not himself, than he has naugth To say the things he truly feels And not the words of one who kneels The record shows, I took the blows And did it my way Aos meus pais Antonio e Lídia; Ao meu marido André Luiz. AGRADECIMENTOS Agradeço minha orientadora, Dra. Elaine Guadelupe Rodrigues, por me aceitar como aluna e pela oportunidade de desenvolver um trabalho maravilhoso. Sou grata por todos os ensinamentos ao longo desta trajetória, pela confiança depositada em mim, pela paciência, pelas conversas, pelos chás, e pelas broncas merecidas. Agradeço ao Profº Dr Luiz Rodolpho Travassos pela grande contribuição durante o desenvolvimento deste trabalho. Pelas dicas, pelas conversas, por ser o grande cientista que é. Aos Professores e colaboradores que participaram deste trabalho: - Profº Dr. Antonio Carlos Caíres, pela síntese do composto Ciclopaladado 7A; - Profº Dr. Douglas Wagner Franco e a sua aluna, Renata Osti, pela síntese dos compostos de Rutênio; - Profª Dra. Soraya Smaili e sua aluna, Priscila Monteforte, pela colaboração estabelecida para identificar o mecanismo de ação do ciclopaladado 7A; agradeço pelas reuniões esclarecedoras e por tudo que foi aprendido através desta parceria; - Profª Dra. Leny Toma e sua aluna, Vivien Coulson-thomas, por auxiliar nos experimentos (ainda que em andamento) com os compostos de rutênio sulfatados; - Aos meus amigos doutores da Unidade de Oncologia Experimental (UNONEX) Dr. Alisson Matsuo, pelo auxílio nos experimentos finais com o ciclopaladado 7A; Dra. Thaysa Paschoalin, pelos ensaios de angiogênese; Dra. Denise Arruda, por ajudar a determinar o mecanismo de ação dos compostos sulfatados. Agradeço aos professores e alunos da Disciplina de Biologia Celular, por disponibilizarem seus laboratórios e reagentes para a conclusão desta tese. Agradeço aos profissionais técnicos da Discilpina de Biologia Celular: Antonio Furlaneti (Tutis) e Luizão, pela disposição e ajuda durante os experimentos. Agradeço aos funcionários da sala de lavagem Maria e Américo. Sem eles nada disso (de verdade!) seria possível! Agradeço ao pessoal da Secretaria, que está sempre “quebrando nossos galhos”, Marcelo e Márcia. Márcia, pelas risadas, pela amizade, por me ouvir, obrigada! Agradeço meus pais Lidia e Antonio, por todo amor, pela confiança e por estarem sempre ao meu lado em todos os momentos da minha vida. Obrigada por serem meus pais....tenho muito orgulho de vocês. Tenho certeza de que vocês também estão orgulhosos de mim. Sem vocês, nada disso seria verdade...obrigada! Amo vocês! Ao meu marido André Luiz (conhecido popularmente como mor querido e/ou morzão) por ter me ajudado com problemas tecnológicos durante o desenvolvimento deste trabalho. Agradeço todos os dias pela sua carreira de analista de sistemas, que possibilita eu queimar o notebook, sumir com os dados do pen-drive, e mesmo assim você consegue recuperar todas as informações! Obrigada por todo o apoio durante esta fase da minha vida, por acreditar em mim, por achar que as coisas que eu faço são sempre “as mais bonitas”, “as melhores”, por ter certeza de que tudo o que eu faço vai dar certo........por ser meu amor! Aos meus queridos amigos que pertencem, ou algum dia fizeram parte da Unidade de Oncologia Experimental: Ana Beatriz, Andrey, Alisson, Bianca, Carla, Cíntia, Denise, Ellen, Eliana, Flávia, Filipe, Felipe, Jorge, Juliana, Karina Luana, Luis, Manoela, Mariana, Natasha, Rafael (Toddy), Tiemi, Thaysa.......espero não ter esquecido de ninguém. Gostaria de deixar explícito que todos vocês contribuíram, de alguma forma, para meu crescimento profissional e pessoal. Obrigada por me ouvirem, por estarem sempre querendo o meu melhor. Foram muitas risadas e tensões, mas todos os momentos passados juntos foram igualmente inesquecíveis. Pelos grandes amigos que eu fiz, este trabalho valeu muito à pena. Enfim.....a todas as pessoas que, de alguma forma, meu auxiliaram para a realização deste trabalho maravilhoso. Aos amigos, professores e colaboradores, muito obrigada! ÍNDICE RESUMO.........................................................................................................i ABSTRACT...................................................................................................iii 1.0 INTRODUÇÃO...............................................................................................1 1.1 Origem do Melanoma..........................................................................1 1.2 O Melanoma........................................................................................2 1.3 Dados Epidemiológicos.......................................................................3 1.4 Quimioterapia Antitumoral...................................................................4 1.5 Compostos de Coordenação..............................................................8 1.5.1 Compostos de Platina......................................................................9 1.6 Exemplos de Compostos metálicos em Ensaios Pré-clínicos..........11 1.6.1 Complexos de Ferro.......................................................................11 1.6.2 Compostos de Ouro.......................................................................12 1.6.3 Compostos de Paládio...................................................................13 1.7 Exemplos de Compostos Metálicos em Ensaios Clínicos................16 1.7.1 Compostos de Gálio.......................................................................16 1.7.2 Compostos de Rutênio...................................................................17 1.8 Apoptose...........................................................................................23 1.8.1 Apoptose mediada pela Via Extrínseca.........................................25 1.8.2 Apoptose mediada pela Via Intrínseca..........................................26 1.8.3 Alterações celulares ausadas pelo estímulo apoptótico................28 2.0 OBJETIVOS.................................................................................................33 3.0 MATERIAIS E MÉTODOS...........................................................................34 3.1 Quimioterápicos.................................................................................34 3.2 Linhagens de células tumorais e condições de cultivo......................36 3.3 Animais..............................................................................................37 3.4 Obtenção de macrófagos derivados de medula óssea.....................38 3.5 Dosagem protéica.............................................................................38 3.6 Ensaio de citotoxicidade celular in vitro.............................................39 3.7 Ensaio de inibição da citotoxicidade do complexo 7A in vitro com DTT....................................................................................................39 3.8 Ensaio de citotoxicidade in vitro em presença de inibidores de proteases: Ca074-Me (catepsina B) ou E-64 (cisteíno-proteases)...40 3.9 Quantificação da acidificação extracelular........................................40 3.10 Microscopia ótica..........................................................................41 3.11 Microscopia de Transmissão Eletrônica.......................................41 3.12 Alterações no Potencial de membrana mitocondrial....................42 3.13 Translocação da Proteína Bax-GFP em células transfectadas....43 3.14 Determinação da concentração intracelular de cálcio..................43 3.15 Ativação de caspases...................................................................44 3.16 Avaliação de condensação nuclear por microscopia de fluorescência.....................................................................................45 3.17 Ensaio de degradação de DNA....................................................46 3.18 Ensaio de TUNEL (Terminal Transferase dUTP Nick End Labeling)............................................................................................47 3.19 Detecção da translocação da fostatidilserina (PS) para a superfície celular...............................................................................48 3.20 Ensaio de Angiogênese................................................................49 3.21 Ensaio de hemólise......................................................................49 3.22 Ensaio de colonização pulmonar e tratamento com os quimioterápicos.................................................................................50 3.23 Desenvolvimento tumoral subcutâneo in vivo..............................50 3.24 Análise estatística.........................................................................51 4.0 RESULTADOS: CICLOPALADADO...........................................................52 4.1 Efeitos sobre células tumorais humanas in vitro...............................52 4.2 Efeito antimetastático do Ciclopaladado 7A......................................60 4.3 Alterações morfológicas provocadas pelo Composto 7A..................62 4.4 Interação do Ciclopaladado 7A com mitocôndrias............................64 4.5 Alterações mitocondriais observadas por microscopia de transmissão eletrônica em células de melanoma murino tratadas com C7A........72 4.6 Participação do cálcio no processo de morte induzido pelo Ciclopaladado 7A..............................................................................74 4.7 Ativação de caspases........................................................................76 4.8 Alterações nucleares e degradação de DNA induzidas pelo Cciclopaladado 7A.............................................................................78 4.9 A morte celular causada pelo Ciclopaladado 7A em células tumorais não é dependente de catepsinas......................................................81 4.10 Efeito do Ciclopaladado 7A no processo angiogênico.................84 5.0 RESULTADOS: COMPOSTOS DE RUTÊNIO............................................86 5.1 Compostos de Rutênio apresentam ação citotóxica in vitro..............86 5.2 Alterações morfológicas causadas por Compostos de Rutênio nas células tumorais in vitro.....................................................................91 5.3 Degradação de DNA provocada por Compostos de Rutênio............93 5.4 Efeito do RuImNO na angiogênese...................................................95 5.5 Estabelecimento de protocolo terapêutico in vivo para avaliação do efeito antitumoral dos Compostos de Rutênio...................................98 5.6 Determinação do mecanismo de ação do Composto RuImSO4.....108 6.0 DISCUSSÃO..............................................................................................118 6.1 Composto Ciclopaladado C7A: mecanismo de ação......................118 6.2 Compostos de Rutênio....................................................................130 7.0 CONCLUSÕES..........................................................................................138 8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................141 9.0 ANEXOS....................................................................................................164 9.1 Comitê de Ética...............................................................................164 RESUMO O melanoma é a forma mais agressiva de câncer de pele em virtude do elevado grau de proliferação, invasão e metástase das células tumorais. Menos de 10% dos pacientes com melanoma metastático sobrevivem por 5 anos. Quimioterapias com um único composto são bem toleradas, mas associadas a baixas taxas de resposta terapêutica. Associações de quimioterápicos já aprovados para uso humano também foram relacionadas a baixas taxas de resposta, sem redução da toxicidade. Logo, a identificação de novos agentes antitumorais é crítica para o tratamento do melanoma, e este trabalho buscou avaliar a atividade antitumoral de novos quimioterápicos derivados de paládio e rutênio no modelo pré-clínico de melanoma murino B16F10-Nex2. Um composto ciclopaladado, [Pd2(S(-)C2, N-dmpa)2 (µ-dppe)Cl2], denominado C7A, avaliado anteriormente pelo nosso grupo, demonstrou elevada atividade antitumoral e baixa toxicidade in vivo, porém, seu mecanismo de ação ainda não estava determinado. Neste trabalho demonstramos que este composto interage com grupos tiol presentes em proteínas da membrana mitocondrial, induzindo uma abrupta redução na acidificação extracelular, colapso do potencial de membrana mitocondrial e translocação da proteína Bax para o interior dessa organela. Evidenciamos também um aumento nas concentrações intracelulares de cálcio, proveniente de organelas celulares e do meio extracelular. Estes efeitos iniciais causaram ativação de caspases efetoras, condensação nuclear, degradação do DNA e dramáticas alterações morfológicas nessas células. Esses dados sugerem que C7A provoca uma morte celular por apoptose induzindo a via intrínseca em células de melanoma i murino B16F10-Nex2. Observou-se que células tumorais humanas são sensíveis ao C7A, e o mecanismo de ação do composto nessas células parece ser idêntico ao observado em células murinas. O ciclopaladado 7A reduziu significativamente o número de nódulos pulmonares sem toxicidade aparente, indicando sua eficiência também contra tumores metastáticos. A atividade antitumoral de diversos compostos nitrosil-tetraamina-rutênio (trans-[RuII(NH3)4(L)NO+], onde L corresponde a diferentes ligantes de estabilização, e que são doadores de óxido nítrico (NO) em meios biológicos foi avaliada. Todos os compostos testados foram citotóxicos in vitro para células tumorais murinas e humanas. Alguns compostos foram selecionados e avaliados in vivo, mostrando uma elevada toxicidade em paralelo a uma atividade antitumoral. No entanto, observou-se que os compostos onde o NO havia sido substituído por um radical sulfato, utilizados como controles dos compostos doadores de NO, apresentaram elevada atividade antitumoral e baixa toxicidade in vivo, retardando o desenvolvimento do tumor subcutâneo e prolongando a sobrevida dos animais tratados. Os compostos sulfatados também apresentaram baixa toxicidade ao reduzir o número de nódulos metastáticos dos animais tratados. Esses compostos também foram citotóxicos in vitro para células tumorais humanas, e as alterações morfológicas, externalização de fosfatidilserina, condensação nuclear e degradação de DNA observados sugerem que os compostos tetraamina rutênio sulfatados levam a célula tumoral à morte por apoptose. Ambos os quimioterápicos testados abrem novas possibilidades para o tratamento do melanoma maligno. ii ABSTRACT Melanoma is the most aggressive form of skin cancer mainly because of the high degree of tumor cell proliferation, invasion and metastasis. Less than 10% of metastatic melanoma patients show 5 years survival. Single drug chemotherapy is well tolerated but associated with low response rates. Associations of chemotherapeutic agents approved for human use are related to low response rates, without improvement on side effects. Therefore, the identification of new antitumor agents is critical to melanoma treatment, and this study aimed to evaluate the antitumor effect of novel palladium and rutheniun derived chemotherapeutic drugs in the preclinical model of murine melanoma B16F10-Nex2. A cyclopalladated compound, [Pd2(S(-)C2, N-dmpa)2 (µ-dppe)Cl2], named C7A was previously evaluated by our group. The complex showed high antitumor and low toxicity in vivo, however, the targets for this compound in tumor cells were not determined yet. In this work we demonstrated that C7A interacts with thiol proteins present in the mitochondrial membrane, leading to an abrupt reduction of extracellular acidification, collapse of mitochondrial membrane potential and Bax translocation to the interior of this organelle. It was also observed an increase in intracellular calcium concentrations, originated from cellular organelles as well as from extracellular medium. These initial effects caused activation of effector caspases, nuclear condensation, DNA degradation and dramatic morphological changes in these cells. All these data suggests that the cyclopalladated 7A induces the intrinsic pathway apoptotic cell death on B16F10-Nex2 murine melanoma cells. Human tumor cells are sensitive to this compound and mitochondria also seem to be the target for C7A iii on these cells. Cyclopalladated 7A significantly reduced the number of pulmonary nodules with no apparent toxicity, indicating that this compound is also active against metastatic melanoma lesions. Antitumor activity of several nitrosyl tetraammine ruthenium compounds with general formula (trans-[RuII(NH3)4(L)NO+], where L corresponds to different stabilization ligands, were evaluated. These compounds are nitric oxide (NO) donors in biological media. All tested compounds were cytotoxic in vitro to human and murine tumor cells. Some compounds were selected and evaluated in vivo, showing numerous side effects in association with the antitumor effect. However, it was found that the compounds where the NO was replaced by a sulfate group, used regularly as a negative control for NO-donor ruthenium complexes, showed a pronounced antitumor activity and low toxicity in vivo, delaying subcutaneous tumor development and extending survival of treated animals. Sulfate compounds also reduced the number of metastatic lung nodules with no apparent toxicity. These compounds were also cytotoxic for human tumor cells in vitro, and the morphological alterations, phosphatidylserine externalization, nuclear condensation and DNA degradation observed after cell treatment suggested that sulfate tetraamine compounds induced an apoptotic cell death. Both evaluated chemotherapeutic drugs open new possibilities for malignant melanoma iv treatment. 1.0 INTRODUÇÃO O presente trabalho concentra-se na avaliação de novos quimioterápicos com atividade antitumoral no modelo de melanoma murino B16F10-Nex2 in vivo e in vitro. Foi também analisado o modo de ação destes compostos que futuramente poderão ser empregados como agentes antitumorais na clínica médica. 1.1 Origem do Melanoma O melanoma desenvolve-se a partir da transformação maligna dos melanócitos. Os melanócitos são células produtoras de melanina, que residem na camada basal da epiderme na pele humana. Os melanócitos cutâneos originam-se da alta mobilidade dos progenitores presentes na crista neural, que migram para a pele durante o desenvolvimento embrionário (Chudnovsky et al, 2005). É possível que a habilidade de rápida metastatização das células de melanoma seja uma característica semelhante à propriedade de migração dos melanócitos precursores, antes de alcançar os tecidos epiteliais (Balch et al, 1993). A homeostase dos melanócitos é regulada por queratinócitos presentes na epiderme. Em resposta à luz ultravioleta, estes queratinócitos secretam fatores que regulam a sobrevivência, diferenciação, proliferação e motilidade desses melanócitos, estimulando estas células a produzir melanina. Portanto os melanócitos têm a função de proteger a pele contra os danos causados pela luz ultravioleta (Gray-Schopfer et al, 2007). Existe uma série de fatores de 1 riscos para o desenvolvimento do melanoma. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, sensibilidade ao sol, pele clara e exposição excessiva são fatores que predispõem ao desenvolvimento do melanoma. Dessa forma, medidas preventivas para se evitar a doença devem ser tomadas, tais como, evitar a exposição prolongada ao sol, principalmente em horários onde a incidência de radiação ultravioleta (UVB) dos raios solares é maior, além do uso de equipamentos de proteção, como óculos escuros, chapéu e filtro solar. 1.2 O Melanoma O melanoma cutâneo pode ser subdividido em vários subtipos, dependendo de sua localização anatômica e do seu padrão de crescimento. Clark et al (1978) propuseram um modelo classicamente aceito para a progressão de melanomas. Os melanócitos de lesões névicas, originados direta ou indiretamente de melanócitos imaturos, poderiam se converter progressivamente em melanócitos de nevos displásicos, melanomas de crescimento radial (invasivo in situ), melanomas de crescimento vertical e finalmente melanomas metastáticos. Alternativamente, como em todos os modelos de progressão, melanócitos imaturos poderiam originar ab initio qualquer uma das formas tumorais propriamente ditas. As lesões névicas são caracterizadas por serem lesões proliferativas benignas com potencial de malignidade. Uma vez estabelecido o melanoma primário profundo (fase de crescimento vertical), subpopulações dessas células têm a capacidade para causar metástases. Nos indivíduos, estas transformações celulares se convertem em alguns sintomas característicos. A manifestação da doença na 2 pele normal se dá a partir do aparecimento de uma pinta escura com bordas irregulares, acompanhada de coceira e descamação. Em casos de uma lesão pigmentada pré-existente, ocorre um aumento no tamanho e alteração na coloração e na forma da lesão que passa a ser assimétrica com bordas irregulares (Instituto Nacional do Câncer - http://www.inca.gov.br). 1.3 Dados epidemiológicos A incidência do melanoma está aumentando drasticamente na população ocidental. Estima-se que 2 a 3 milhões de casos de câncer de pele sejam diagnosticados no mundo a cada ano, e apesar do melanoma representar aproximadamente 132.000 destes casos (cerca de 7%), esta é a forma mais agressiva de câncer de pele, e pode levar o indivíduo à morte (Gray-Schopfer et al, 2007). De acordo com o Instituto Nacional do Cancer (INCA), foram relatados no Brasil cerca de 470.000 novos casos de neoplasias em 2008. Destes, 6.000 eram casos de câncer do tipo melanoma, com taxas de equivalência entre homens e mulheres (Instituto Nacional do Câncer http://www.inca.gov.br). O prognóstico deste tipo de câncer pode ser considerado bom, se detectado nos estágios iniciais da doença. Neste caso há a possibilidade de cura através da intervenção cirúrgica. Cerca de 80% dos casos são tratados dessa maneira. Nos últimos anos houve uma grande melhora na sobrevida dos pacientes com melanoma, principalmente devido à detecção precoce do mesmo. Nos países desenvolvidos a sobrevida média dos pacientes com detecção precoce da lesão é de 73%, enquanto que em países em 3 desenvolvimento, a sobrevida média desses pacientes é de 56%. Entretanto, se detectado apenas nos estágios avançados da doença, o melanoma maligno metastático é altamente resistente às terapias disponíveis atualmente e possui um prognóstico ruim, com uma média de sobrevida de apenas 6 meses, e de 5 anos para menos de 5% dos pacientes. Dessa forma, novas estratégias de tratamento precisam ser urgentemente desenvolvidas (Gray-Schopfer et al, 2007). 1.4 Quimioterapia antitumoral Atualmente, os maiores problemas associados ao tratamento do melanoma, bem como da maioria dos cânceres, estão relacionados ao rápido crescimento tumoral e ao desenvolvimento de metástases. Portanto, a utilização de drogas que interfiram nestes dois processos é de fundamental importância clínica (Dua et al, 2007). Diferentes abordagens vêm sendo desenvolvidas para o tratamento do melanoma, incluindo quimioterapia e bioquimioterapia, como terapia simples ou ainda em combinação. A quimioterapia é considerada o tratamento padrão para o melanoma em estágios mais avançados. Entretanto, o melanoma é considerado um tumor resistente às quimioterapias. Os quimioterápicos poderiam teoricamente atingir as células metastáticas, porém os tratamentos atuais não promovem benefício terapêutico significativo (Soengas & Lowe, 2003). Vários quimioterápicos podem ser utilizados no tratamento do melanoma (Tabela 1), e o único quimioterápico aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration, USA) é a Dacarbazina (DTIC). Este quimioterápico, utilizado como terapia simples 4 permite remissão completa em apenas 5 a 10% dos pacientes tratados (Serrone et al, 2000). Termozolomide, um derivado da dacarbazina mostrou-se um agente eficaz contra metástases cerebrais, mas não demonstrou aumento significativo nos índices de sobrevida (Atkins, 2000). Ambos os agentes promovem alquilação e metilação dos ácidos nucléicos, levando à inibição da síntese de proteínas e de ácidos nucléicos (Soengas & Lowe, 2003). Outros compostos que não foram eficazes em estudos randomizados incluem as nitrosuréias (carmustina, lomunstina) que provocam quebra do DNA da célula tumoral; taxanos (taxol, docetaxol) e alcalóides da vinca (vincristina, vimblastina), que agem alterando a divisão celular, motilidade e transporte intracelular por impedir os mecanismos de despolimerização das proteínas do microtúbulo no citoesqueleto; e derivados de platina (cisplatina, carboplatina). Além disso, o melanoma é notavelmente resistente ao tratamento com outros quimioterápicos considerados padrão, como, por exemplo, doxorubicina (que age provocando quebra e inibição de síntese do DNA e ainda impede replicação do DNA) e etoposide (que atua inibindo a enzima topoisomerase II). Como existem quimioterápicos que, quando usados como terapia simples, possuem alguma atividade contra o melanoma, existe a possibilidade de se combinar dois ou mais quimioterápicos para se alcançar uma resposta antitumoral mais expressiva. No entanto, mesmo a combinação de dois ou mais quimioterápicos não promoveu um aumento significativo da sobrevida. Estudos recentes sugerem que a associação de sorafenib (um inibidor de tirosina quinase com atividade no receptor de VEGF e BRAF) e dacarbazina, droga padrão utilizada no tratamento do melanoma, pode dobrar as taxas de resposta, no entanto não aumenta a sobrevida dos pacientes. Tem sido 5 sugerido que essas duas drogas possam ainda ser combinadas com novas e efetivas drogas quimioterápicas, desenvolvendo um protocolo terapêutico que leve a um aumento real na sobrevida total dos pacientes tratados. Combinações de quimioterápicos têm sido utilizadas com sucesso no aumento da sobrevida de outros tumores sólidos como, por exemplo, no carcinoma de cólon, que atualmente utiliza a associação de fluorouracil (5FU) e leucovorin (Yang & Chapman, 2009). As células tumorais podem responder aos tratamentos com quimioterápicos de diversas formas. Kerr et al (1972) foram os primeiros a descrever alterações morfológicas, como formações de blebbing na membrana, condensação de cromatina e fragmentação nuclear, após tratamento com compostos que levam as células tumorais à morte. Estas características foram posteriormente descritas como indicativas de uma morte celular por apoptose. Atualmente, está bastante claro que apoptose é um, e não o único, dos eventos que contribuem para o efeito dos quimioterápicos convencionais (Johnstone et al, 2002). Proteínas que controlam o processo apoptótico mostram-se alvos promissores para diversos tipos de tumores, incluindo o melanoma (Reed, 2001a). Sabe-se que o melanoma é extremamente resistente a agentes quimioterápicos, e os mecanismos de resistência variam de acordo com o quimioterápico avaliado (Zigler et al, 2008). Os mecanismos de escape e resistência à quimioterápicos podem ser devidos à desregulação na via de apoptose das células tumorais, dano nas proteínas que controlam o ciclo celular e no reparo do DNA (La Porta, 2007). Soengas e Lowe (2003) postulam que uma explicação simples para as células de melanoma serem tão eficientes 6 no controle das vias de apoptose e sobrevivência celular não se dá apenas pela ação da própria célula tumoral, mas também por mecanismos oriundos das células vizinhas presentes no estroma e no microambiente tumoral. A produção de produtos inesperados e eventos autócrinos e/ou parácrinos contribuem bastante para os eventos de resistência aos quimioterápicos. Tabela 1: Quimioterápicos utilizados no tratamento do melanoma. (Yang & Chapman, 2009; Soengas & Lowe, 2003) Nitrosuréias Carmustina Lomustina Semustina Alquilação de ácidos nucléicos e proteínas Quebra do DNA Triazenos Dacarbazina Temozolomida Alquilação e metilação de ácido nucléicos Inibição da síntese de ácidos nucléicos e proteínas Antibi óticos Doxorubicina Quebra do DNA Inibição da replicação do DNA e RNA Alcalóides da Vinca Alterações na divisão celular e motilidade Alterações no transporte intracelular Vincristina Vimblastina Taxanos Taxol Paclitaxel Docetaxol Alterações na divisão celular e motilidade Alterações no transporte intracelular Drogas de Platina Mudanças na estrutura do DNA Inibição na síntese de DNA e RNA Cisplatina Carboplatina 7 1.5 Compostos de coordenação Para um futuro imediato, a combinação de modalidades terapêuticas, como cirurgia, radioterapia e quimioterapia é a melhor escolha para o tratamento das neoplasias. Entretanto, para que avanços terapêuticos sejam alcançados é necessária a descoberta de quimioterápicos mais efetivos. A maioria dos novos compostos estudados é de origem inorgânica ou produtos naturais, incluindo antibióticos, agentes alquilantes, alcalóides, enzimas e hormônios. A alta reatividade dos compostos metálicos é a razão pela qual estes compostos tem sido frequentemente usados como agentes diagnósticos ou terapêuticos (Bonati et al, 2006; Clarke, 2003, Galanski et al, 2003). O sucesso limitado da pesquisa com agentes antitumorais derivados de metais pode ter sido causado pela falta de diversidade estrutural dos compostos avaliados em ensaios clínicos, que na sua maioria são derivados do quimioterápico Cisplatina, o primeiro agente quimioterápico a ser descrito (Matesanz & Souza, 2007). A aplicação de quimioterápicos contendo átomos de metais no tratamento do câncer teve seu início em 1969, quando Rosenberg, acidentalmente, descobriu que a eletrólise de um eletrodo de platina gerou vários compostos que inibiram a fissão binária da bactéria Escherichia coli, que cresceu cerca de 300 vezes seu tamanho normal sem divisões celulares. Ao testar esses compostos em um modelo de sarcoma inoculado em ratos, observou que o composto mais ativo foi a cis-platina (cis-Pt(NH3)2Cl2) (Rosenberg et al, 1969). Esta descoberta abriu perspectivas para uma nova classe de agentes antitumorais denominados de complexos inorgânicos de coordenação. 8 1.5.1 Compostos de Platina A Cisplatina [Pt(NH3)2Cl2] é um dos agentes antitumorais mais utilizados no mundo. É um agente efetivo no tratamento de vários tipos de câncer, especialmente no tratamento de tumores testiculares, como uma taxa de cura de 90% (Zhang & Lippard, 2003). No tratamento do melanoma, a Cisplatina como agente único tem atividade que varia de 10 a 20% (Chapman & Yang, 2009). A Cisplatina entra na célula por difusão passiva (Ziegler et al, 1999) e também através de transporte ativo mediado por receptor (Ishida et al, 2002). A citotoxicidade da Cisplatina inicia-se pela ligação da droga ao DNA e formação de adutos de platina. A interação da Cisplatina com o DNA causa uma distorção significativa da sua estrutura helicoidal, resultando em inibição da replicação, transcrição e reparo desse DNA (Ziegler et al, 1999). A Cisplatina induz a apoptose por aumentar a atividade da caspase-8, aumentar a expressão de p53, quebra de Bid para sua forma truncada, ativação e translocação mitocondrial de Bax, indução de permeabilidade da mitocôndria, liberação de citocromo C no citosol, ativação da caspase-9 e consequente entrada na fase de execução da apoptose. Está também envolvida na degradação proteolítica da procaspase-3 e ativação da caspase-3, redução de Bcl-2 e aumento de Bcl-xL, todos esses fatores levando a célula a um processo de morte por apoptose (Henkels et al, 1999). Curiosamente, a ativação das duas vias de apoptose, extrínseca e intrínseca, são também responsáveis pelos efeitos tóxicos do quimioterápico (Florea et al, 2009). Há evidências que a ligação da cisplatina com alvos diferentes do DNA pode contribuir com o mecanismo de ação do composto (Fuertesa et al, 2003; Cepeda et al, 2007). 9 O sucesso clínico da Cisplatina é limitado pela grande quantidade de efeitos colaterais e pela rápida indução de células tumorais resistentes ao quimioterápico. Para contornar esses problemas, novos compostos derivados de platina foram desenvolvidos para que apresentassem uma melhora no desempenho farmacológico e um grande espectro de atividade antitumoral. Vários compostos de platina foram aprovados para uso na terapêutica antitumoral, como por exemplo, carboplatina, oxaliplatina, nedaplatina e lobaplatina, todavia, estes novos complexos não demonstraram vantagens com relação à Cisplatina, principalmente com relação aos efeitos de toxicidade gastrointestinal e hematológicos induzidos (Zhang & Lippard, 2003). A resistência das células à Cisplatina e seus análogos está associada a um aumento na atividade do sistema de reparo do DNA e também com a captura e inativação do composto por componentes macromoleculares do sangue e/ou tiol-proteínas que atuam como redutoras, podendo modular a sensibilidade das células ao quimioterápico (Timerbaev et al, 2006). Mais importante, somente um número limitado de tumores podem ser tratados com quimioterápicos contendo platina (Galanski et al, 2005). Estas desvantagens, sem soluções aparentes, com relação aos complexos de platina estimulam a pesquisa de novos compostos coordenados com outros íons metálicos, diferentes da platina. Embora poucos compostos com metais diferentes da platina tenham sido aprovados para uso como agentes quimioterápicos antitumorais, existe um considerável progresso no desenvolvimento destes agentes (Ott & Gust, 2007). Até o momento, apenas o composto trióxido de arsênico (ATO) foi aprovado para o uso na clínica. Este composto, relativamente antigo proveniente da medicina chinesa, foi 10 redescoberto e demonstra uma completa remissão em pacientes com leucemia promielocítica aguda (Soignet et al, 1998). O uso deste composto foi aprovado pelo FDA (Food and Drug Administratrion, USA) em 2000, para o tratamento da leucemia, mieloma e para pacientes com alto risco de desenvolver neuroblastoma (Bahlis et al, 2002; Munshi et al, 2001). Este composto, em baixas concentrações, causa inativação da proteína de fusão oncogênica PMLRARα, enquanto que em altas concentrações induz as células ao processo apoptótico, causando quebra no DNA e estresse oxidativo (Dilda & Hogg, 2007). Complexos de titânio, gálio e rutênio estão sendo preparados e testados, sendo que alguns deles já estão em ensaios clínicos de fase II e III (Alama et al, 2009). Em fase pré-clínica estão complexos de ferro, cobalto, ouro e paládio, que demonstram uma promissora atividade antitumoral, mas também complexos de outros metais estão em avaliação, como bismuto, antimônio, estanho, vanádio, rádio e cério (Ott & Gust, 2007). 1.6 Exemplos de compostos metálicos em ensaios pré-clínicos: 1.6.1 Complexos de Ferro Os primeiros complexos de ferro que mostraram alguma atividade antitumoral foram os sais de ferroceno, picrato e tricloroacetato, com o íon ferro em estado de oxidação +III (Köpf-Maier et al, 1984). Estes compostos apresentaram atividade antiproliferativa in vitro, e in vivo no modelo utilizando animais desenvolvendo tumor de Ehrlich, observando-se uma redução de 48% no tamanho dos tumores subcutâneos dos animais tratados com o composto 11 (Köpf-Maier, 1985) A atividade citotóxica destes compostos não é baseada na ligação direta com o DNA, e sim à capacidade de formar espécies reativas de oxigênio, que acarreta em dano ao DNA (Ott & Gust, 2007). Mais recentemente, outros compostos contendo ferro foram sintetizados e testados, mostrando efeito apoptótico ou antiproliferativo in vitro, como por exemplo, um derivado ferroceno do tamoxifeno (Ott & Gust, 2007). 1.6.2 Compostos de Ouro Compostos contendo átomos de ouro são bastante conhecidos devido a sua aplicação clínica no tratamento da artrite reumatóide, sendo também agentes antitumorais. Complexos de ouro mostram um enorme espectro de atividade antitumoral in vitro, especialmente em linhagens tumorais resistentes à cisplatina. Estudos demonstram que, ao contrário da cisplatina, o DNA não é o primeiro alvo destes compostos. A sua citotoxicidade é mediada pela capacidade de alterar as funções mitocondriais e inibir a síntese de proteínas (McKeage, 2002). Pillarsetty e colaboradores (2003) relataram a atividade de um complexo de ouro (I), sobre células de carcinoma de cólon humano. Neste caso houve um prolongamento na fase G1 do ciclo celular. Complexos de ouro (III) são candidatos promissores como agentes antitumorais. Ensaios de citotoxicidade in vitro demonstram intensa atividade antiproliferativa em linhagens celulares humanas de gliobastoma (Ott & Gust, 2007). 12 1.6.3 Compostos de Paládio Antes dos estudos desenvolvidos por Khan et al (1991), os compostos de paládio possuíam pouca ou nenhuma aplicação como agentes antitumorais, devido a sua extrema instabilidade em fluidos biológicos. Entretanto, complexos ciclopaladados são mais estáveis, além de menos tóxicos, sugerindo que podem ter uma atividade antitumoral mais específica in vivo (Navarro-Ranninger et al, 1993). A atividade citotóxica de diversos compostos ciclopaladados foi testada in vitro contra várias linhagens tumorais humanas, e os resultados mostraram que a maioria desses complexos são mais eficientes que a cisplatina, carboplatina e oxaliplatina, levando as células a um processo de morte por apoptose (Caires, 2007) Em colaboração com o Prof. Antonio Carlos Favero Caires, da Universidade de Mogi das Cruzes, foram sintetizados diversos compostos ciclopaladados. Esses complexos ciclopaladados foram obtidos a partir dos agentes de ciclometalação N, N-dimethyl-1-phenethylamine (dmpa), phenyl-2pyridinyl-acetylene e 1-phenyl-3-N,N-dimethylamine-propine, que foram complexados ao ligante bifosfínico dppe [1, 2 ethanebis (diphenylphosphine)] (Rodrigues et al, 2003). Os compostos foram testados in vitro e in vivo no modelo de melanoma murino B16F10-Nex2, com o objetivo de avaliar uma possível atividade antitumoral. A sublinhagem de melanoma murino B16F10-Nex2 é pouco imunogênica e possui a capacidade de desenvolver-se in vivo tanto como um tumor subcutâneo ou ainda como nódulos metastáticos pulmonares, quando administrado intravenosamente. 13 De acordo com o esperado, os compostos ciclopaladados sintetizados foram mais estáveis em ambientes biológicos, permitindo a utilização de doses baixas, reduzindo a toxicidade. Três dos compostos sintetizados apresentaram atividade citotóxica in vitro com baixas doses, menores que 1,25 µM. Entretanto, uma resposta efetiva contra o tumor in vivo depende de vários parâmetros, incluindo metabolismo e clearance da droga, concentração plasmática e acesso às células tumorais. Características estruturais dos compostos podem afetar drasticamente as suas propriedades antitumorais. Quando testados in vivo, apenas o complexo [Pd2(C2,N-S(-)(dmpa)2(µ-dppe)Cl2] (Figura 1), denominado 7A, (mas não o seu estereoisômero [Pd2(C2,N-R(-)(dmpa)2(µ-dppe)Cl2]), provocou um retardo no desenvolvimento do tumor, aumentando significativamente a sobrevida dos animais tratados (Rodrigues et al, 2003). O complexo 7A causou degradação de DNA, mas não aumentou os níveis das caspases 1 e 3, sugerindo a indução de um processo apoptótico caspase-independente in vitro. Principalmente, o complexo demonstrou efeito no metabolismo respiratório da célula, causando um colapso no gradiente de prótons mitocondrial, como demonstrado por uma abrupta e total redução na acidificação extracelular em tempo curto de incubação, cerca de 100 minutos (Rodrigues et al, 2003). Mais importante, não foi observada toxicidade em camundongos inoculados com doses crescentes do complexo, chegando a 240ng/kg, dose 6 vezes maior que a dose terapêutica utilizada (40ng/kg). Esses resultados introduziram os complexos ciclopaladados-dppe como promissores quimioterápicos antitumorais, estrutural para sua ação in vivo. 14 com elevada especificidade Outro complexo ciclopaladado, derivado do N,N-dimethyl-1- phenethylamine e o ligante de coordenação 1,1’-bis(diphenylphosphine) ferrocene, apresentou atividade antitumoral in vitro contra células leucêmicas humanas. O complexo [Pd2(C2,N-S(-)(dmpa)(dppf)Cl2] mostrou-se um potente inibidor reversível da atividade da Catepsina B (Bincoletto et al, 2005), (Figura 1). Ratos inoculados subcutaneamente com tumor de Walker e tratados com uma dose do composto tiveram 90% do crescimento tumoral inibido. Por outro lado, esse complexo ciclopaladado não protegeu ratos desenvolvendo ascites após inoculação do tumor de Erlich, embora tenha apresentado baixa toxicidade (Bincoletto et al, 2005). O complexo ciclopaladado-dppf induziu apoptose em linhagem celular de leucemia humana (HL60) por uma via nãoclássica (Bincoletto et al 2005), e quando foi testado em células de leucemia K562, foi sugerido uma via de apoptose dependente da permeabilização da membrana de lisossomos, sendo essa organela o alvo inicial da droga e a catepsina B liberada no citoplasma atuaria como mediador do processo de morte celular (Barbosa et al, 2006). Esses resultados introduziram o complexo ciclopaladado-dppf como um novo agente antitumoral. Curiosamente, esse ciclopaladado não apresentou efeito in vivo contra o melanoma murino B16F10-Nex2, embora tenha apresentado efeito citotóxico in vitro contra essa linhagem tumoral. 15 A B [Pd2(C2,N-S(-)(dmpa)2(µ-dppf)Cl2] [Pd2(C2,N-S(-)(dmpa)2(µ-dppe)Cl2] Figura 1: Representação esquemática dos compostos ciclopaladados. (A) Ciclopaladado 7A, com atividade antitumoral in vitro e in vivo contra o melanoma murino B16F10-Nex2. (B) BCP, com atividade in vitro contra células leucêmicas humanas e inibitória sobre Catepsina B. 1.7 Exemplos de composto metálicos em ensaios clínicos: 1.7.1 Compostos de Gálio Toxicidade e atividade antitumoral dos sais de gálio foram descritas no início da década de 70 (Hart & Adamson, 1971), e desde então, várias outras propriedades biológicas vêm sendo relatadas. O mecanismo de ação do gálio está relacionado à inibição da enzima ribonucleotídeo redutase, que catalisa a conversão entre ribonucleotídeos e desoxirribonucleotídeos (Louie & Meade,1999). Assim como o Fe(II), o gálio também é transportado pela transferrina e é encontrado principalmente nos lisossomos das células. Dessa forma, a toxicidade do gálio eleva-se bastante devido ao aumento do transporte através da transferrina (Collery et al, 2002). Além de ser bastante eficiente nas 16 fases de crescimento exponencial dos tumores, estes compostos também apresentam atividade nas fases estacionárias do crescimento tumoral e este efeito depende exclusivamente do tempo de exposição das células tumorais aos quimioterápicos (Collery et al, 2002; Rasey et al, 1982). Ensaios clínicos de fases I e II estão sendo realizados utilizando nitrato e maltolato de gálio. Nitrato de gálio, quando administrado intravenosamente, não foi efetivo no tratamento de diversos tipos de câncer, entre eles melanoma e câncer de mama. Mas em estudo de fase II para o tratamento de carcinoma urotelial metastático utilizando uma combinação de nitrato de gálio, vimblastina e ifosfamida, observou-se uma resposta antitumoral em 67% dos pacientes. Entretanto, efeitos colaterais bastante acentuados foram relatados e os pacientes ficaram protegidos em média por apenas vinte semanas (Einhorn et al, 1994). O complexo gálio 8-quinolinolato (KP46), em estudo de fase I, demonstrou atividade antitumoral em carcinoma de células renais; uma resposta parcial foi observada em um paciente, enquanto que dois pacientes mantiveram a doença estabilizada por 11 meses (Hofheinz et al, 2005). 1.7.2 Compostos de Rutênio Alternativamente aos compostos de platina e paládio, uma nova classe de quimioterápicos, complexos de rutênio, vem sendo testada com sucesso, contra diferentes tipos de tumores desde a década de 1970 (Ott & Gust, 2007). Estes compostos apresentem menor citotoxicidade comparados à cisplatina, são bem tolerados in vivo e podem ser uma alternativa na quimioterapia do 17 câncer, substituindo ou em associação aos tradicionais compostos de platina (Kostova, 2006). Complexos de Ru (III) mantém o estado de oxidação do metal até alcançar o tumor, onde a baixa concentração de oxigênio permite a ativação pela redução para Ru (II). Estudos demonstram que a atividade antitumoral destes compostos depende exclusivamente deste processo de redução (Clarke, 2003), que in vivo pode ser induzido por glutationa ou outros agentes redutores presentes nos tecidos (Ott & Gust, 2007). A atividade antitumoral dos complexos de rutênio envolve interação com o DNA, mas outros mecanismos adicionais também são possíveis. A forte capacidade de ligação com a albumina e transferrina influencia muito a biodistribuição destes compostos. Uma importante característica destes compostos é a capacidade de inibir o processo angiogênico e metaloproteases presentes na matriz, consequentemente interferindo na formação de metástases in vivo (Alama et al, 2009). Entre os diversos complexos de rutênio (III) que estão sendo testados em ensaios clínicos, os mais promissores são os compostos KP1019 (trans[tetrachlorobis(1H-indazole)ruthenate(III)] e NAMI-A, abreviatura do nome New Anti-tumour Metastasis Inhibitor –A, [(ImH)trans-Ru(Im)(Me2SO)Cl4). KP1019 apresenta efeitos inibitórios na proliferação celular in vitro e, quando é internalizado nas células, induz apoptose predominantemente por ativação do processo apoptótico através da via intrínseca mitocondrial, causando estresse oxidativo e dano ao DNA. A captação do KP1019 pelas células é mediada por mecanismos dependentes ou independentes da 18 transferrina (Piccioli et al, 2004). Após incubação das células com este agente, 55% do rutênio intracelular é encontrado na região do núcleo da célula. Este valor é significativamente elevado, se compararmos com a cisplatina, um outro composto de metal, onde apenas 10% do metal intracelular é encontrado no núcleo das células (Heffeter et al, 2004). Resultados promissores em ensaios clínicos de fase I são demonstrados utilizando este composto. Cinco de seis pacientes com tumores sólidos, submetidos a este quimioterápico permaneceram com a doença estabilizada. Apenas alguns efeitos colaterais foram observados (Clarke, 2003). O complexo de rutênio NAMI-A pertence a uma classe de compostos de rutênio sintetizados com o objetivo de, seletivamente, atingir a massa de um tumor sólido e somente ser ativado no microambiente tumoral, reduzindo a toxicidade para os tecidos normais. Quando foi testado sobre linhagens tumorais in vitro, mostrou-se pouco efetivo. Apesar desta baixa atividade in vitro, NAMI-A apresenta atividade antitumoral bastante significativa in vivo (Pluim et al, 2004). Em estudo clínico de fase I, observou-se que a infusão de NAMI-A (300mg/dia; cinco dias durante três semanas) mostrou-se segura para 24 pacientes com câncer de pequenas células progressivo de pulmão, sendo que um paciente permaneceu estável por 21 semanas (Rademaker-Lakhai et al, 2004). Este efeito antitumoral é atribuído a propriedades anti-metastáticas deste agente, que in vivo, demonstra efeito antiangiogênico pela inibição do fator de crescimento para células endoteliais (VEGF), que pode ser resultado da inativação do óxido nítrico (Vacca et al, 2002). Em colaboração com o Dr Douglas Wagner Franco, da Universidade de São Paulo – Campus São Carlos, foram testados in vitro e in vivo vários 19 compostos nitrosil-tetraamina rutênio, sendo que a particularidade destes compostos é a capacidade de serem doadores de óxido nítrico. Compostos capazes de liberar óxido nítrico podem ter uma grande aplicação e serem úteis no estudo da ação fisiológica do óxido nítrico em diversos sistemas (Oliveira et al, 2007). A descoberta de diversas funções biológicas para o óxido nítrico (NO) tem estimulado e facilitado o desenvolvimento de alvos farmacêuticos. Processos biológicos mediados pelo óxido nítrico incluem neurotransmissão, regulação da pressão sanguínea e respostas imnunológicas. Além disso, o óxido nítrico é um excelente ligante para íons metálicos. Como conseqüência, complexos de metais nitrosilados demonstram grande valor terapêutico (Zang & Lippard, 2003). O óxido nítrico pode ter ações dicotômicas durante o desenvolvimento de diferentes tumores. Em alguns modelos o óxido nítrico tem efeito antineoplásico (inibindo metástases, e levando as células tumorais ao processo de apoptose) ou pode ter efeito pró-neoplásico (causando progressão, invasão e angiogênese). Acredita-se que os efeitos biológicos mostrados pelos doadores de NO dependem da meia-vida da droga utilizada e do tipo celular exposto ao composto (Huerta et al, 2008). A diversidade de efeitos biológicos do óxido nítrico tem estimulado estudos para compreensão de sua interação com complexos de metais de transição para a síntese compostos que funcionariam como liberadores de NO, e uma melhor compreensão nos mecanismos associados com a formação e 20 dissociação dos complexos nitrosil levará à síntese de compostos mais efetivos em condições biológicas (Zanichelli et al, 2007). A fórmula geral dos compostos nitrosil-tetraamina rutênio testados é [RuII(NO+)(NH3)4L]3+ (Figura 2), onde L corresponde a diferentes ligantes, que determinam a velocidade de liberação do NO em meio aquoso (Toledo et al, 2005). Esses compostos apresentam baixa toxicidade, alta solubilidade e estabilidade em água/meios aquosos na presença de oxigênio, e são ativados para a liberação do NO por agentes redutores presentes em meios biológicos (Zanichelli et al, 2006). Dois dos complexos de rutênio doadores de NO, trans[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3 e trans-[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3, apresentaram efeitos anti-proliferativos e tripanocidas contra o parasita Trypanosoma cruzi, protegendo 80% dos animais tratados, e esses efeitos foram dependentes do NO liberado (Silva et al, 2007). Os compostos eliminaram também formas amastigotas do parasita de ninhos formados no miocárdio, e observou-se que a diferença entre a dose efetiva 50% (ED50) e a dose letal 50% (LD50), calculadas para camundongos Balb/c para ambos os complexos, foi bastante elevada (Silva et al, 2009). 21 A NO L B N N N HO N O N N CH3 Imidazol (imN) Pyridina (Py) 4-Picolina (4-Pic) H2N O Isonicotinamida (isN) NH2 Nicotinamida (Nic) O N N NH2 L-histidina (L-his) Figura 2: Representação esquemática dos compostos de Rutênio. A. Fórmula geral do composto doador de óxido nítrico [RuII(NO+)(NH3)4L]3+; B. Estrutura dos ligantes. 22 1.8 Apoptose Nos últimos anos tem ficado claro que existem várias modalidades de morte celular, tais como apoptose, entosis, catásfrofe mitótica, necrose, necroapoptose e piroapoptose. De acordo com um Comitê específico formado para estudos em morte celular, o Nomenclature Comitee on Cell Death (NCCD, Kroemer et al 2009), regras foram estabelecidas para a correta denominação da morte celular, e vários fatores devem ser analisados para a correta classificação da mesma. O processo de apoptose é largamente caracterizado por uma resposta antiproliferativa aos agentes quimioterápicos e, portanto é o modelo prevalente para se explicar o sucesso da maioria das terapias antitumorais (Portugal et al, 2009). Apoptose é o processo de morte celular programada mais bem definido. Este mecanismo de “suicídio celular” programado é essencial para o desenvolvimento embrionário, funções do sistema imune e manutenção da homeostase em organismos multicelulares (Jacobson et al, 1997). A desregulação da apoptose está implicada em várias condições patológicas, incluindo doenças neurodegenerativas, autoimunidade e câncer (Okada & Mak, 2004). Esse mecanismo de morte celular é mediado por uma família de cisteíno proteases conhecida como caspases (Alnemri et al, 1996). As caspases estão presentes em sua forma inativa em células saudáveis, na forma de enzimas precursoras, com pouca ou nenhuma atividade proteolítica. Entretanto, um estímulo apoptótico pode induzir ativação de caspases (Creagh et al, 2003) 23 Existem duas vias apoptóticas que podem ser iniciadas pela ativação das caspases: uma via extrínseca, mediada por receptores presentes na superfície celular, e uma via intrínseca, onde eventos extra e intracelulares induzem alterações mitocondriais que culminam no processo de morte celular (Figura 3). Figura 3: Esquema das vias de apoptose. Taylor CR. et al, 2008 24 1.8.1 Apoptose mediada pela Via Extrínseca A morte celular induzida através da ativação da via extrínseca ocorre pela interação de um ligante a um receptor específico, localizado na membrana celular. Procaspases são convertidas em caspases ativas após a ativação desses receptores pelos seus respectivos ligantes (Van Cruchten & Broeck, 2002). Os ligantes mais bem conhecidos são o ligante de Fas e o Fator de Necrose Tumoral α (TNFα) (Saikumar et al, 1999). O Fas ligante interage com um receptor Fas, enquanto que TNFα liga-se ao TNFR1. Ambos os receptores apresentam um domínio citoplasmático responsável pela transdução do sinal de apoptose. Este domínio citoplasmático é também conhecido como “domínio de morte” (death domain ou DD) (Boldin et al, 1995). O acoplamento do receptor de morte com seus respectivos ligantes provoca o recrutamento de proteínas adaptadoras, FADD e TRADD. Este recrutamento provoca o acúmulo de várias moléculas de caspase-8, promovendo assim o seu autoprocessamento e ativação (Taylor et al, 2008). TRADD medeia a apoptose através da ligação com FADD, portanto, eventualmente ambas Fas e TNFR1 utilizam FADD para transdução do sinal de morte celular. A transdução do sinal mediada pelos dois receptores acontece via caspase-8 (Enari et al, 1995). Procaspase-8 liga-se ao o domínio de morte FADD e torna-se ativada em caspase-8. TRADD ativa caspase-8 indiretamente, através da associação com o FADD. A ativação das caspase-8 efetora é essencial para as alterações morfológicas típicas do processo apoptótico (Shiokawa et al, 1997). 25 1.8.2 Apoptose mediada pela Via Intrínseca A apoptose mediada por receptores não é o único mecanismo de morte celular programada. Alguns agentes citotóxicos e radiação causam apoptose por uma via que envolve a mitocôndria e, mais especificamente, a proteína mitocondrial Citocromo C (Van Cruchten & Broeck, 2002). A ativação do processo apoptótico desencadeado por alterações mitocondriais é conhecido como morte celular através da via intrínseca. As barreiras para indução de apoptose dependem da integridade das membranas mitocondriais, responsáveis por manter isolada uma grande variedade de proteínas apoptóticas na sua forma ativa, confinadas no espaço inter-membranar mitocondrial (Armstrong, 2006). O estímulo apoptótico induz aumento da permeabilidade mitocondrial, permitindo liberação de agentes proapoptóticos (tais como Citocromo C) no citosol. O Citocromo C liga-se à proteína Apaf-1, recrutando e ativando caspase-9, formando assim o complexo apoptossomo (Li &Yuan, 2008). Uma vez que o Citocromo C liberado, a cascata de ativação de caspases torna-se irreversível (Goldstein et al, 2000). O complexo apoptossomo e caspase-9 ativam a caspase 3 e/ou caspases 6 e 7, desencadeando eventos proteolíticos que culminam em uma desintegração celular coordenada (Acehan et al, 2002). Portanto as caspases 3, 6 e 7 são consideradas caspases executoras do processo apoptótico, enquanto que caspase-9 age apenas como um regulador do processo (Green & Kroemer, 1998). Alterações mitocondriais, como a estimulação para a produção de espécies reativas de oxigênio, inibição do metabolismo respiratório e 26 consequente diminuição dos índices de ATP, perda do potencial de membrana e liberação de agentes proapoptóticos são eventos envolvidos no processo de morte celular (Bras et al, 2005). Portanto, podemos afirmar que permeabilização da membrana mitocondrial é um fator crucial para a indução do processo apoptótico pela via intrínseca. A permeabilização da membrana mitocondrial resulta em dissipação no potencial de membrana, um parâmetro indispensável para as funções essenciais desta organela, tais como, transporte de íons, biogênese e produção de energia (Gordon et al, 2000; Smaili et al, 2000). Este evento de permeabilização da membrana mitocondrial é regulado por genes pertencentes à família Bcl-2 (Yip & Reed, 2008). A família consiste em proteínas antiapoptóticas do grupo Bcl-2 e proteínas proapoptóticas do grupo Bax e proteínas da família BH3 (Danial, 2007). As proteínas antiapoptóticas da família Bcl-2, tais como Bcl2 e Bcl-XL seqüestram as proteínas com domínio BH3 impedindo assim a formação de um complexo proapoptótico (Li & Yuan, 2008). O grupo das proteínas proapotóticas inclui constitutivamente à predominantemente a proteína mitocôndria. no Bax Já e a compartimento Bak. Bak proteína Bax citoplasmático está associada está localizada na sua forma monomérica, em células viáveis (Carvalho et al, 2004). Após algum estímulo apoptótico, uma fração significante desta proteína forma dímeros e se transloca para a membrana mitocondrial (Wolker et al, 1997). A translocação de Bax para a mitocôndria está associada com liberação de Citocromo C e colapso no potencial de membrana mitocondrial (Smaili et al, 2001). 27 Estudos demonstram que a proteína Bax e outros membros proapoptóticos da família Bcl-2 podem modular os estoques de cálcio no retículo endoplasmático e também causar alterações no conteúdo de cálcio na matriz mitocondrial (Nutt et al, 2001; Pan et al, 2000). Além disso, a integridade da membrana mitocondrial é alterada pela captação excessiva de cálcio (Andreyev et al, 1998). Bax e outra proteína, Bak, podem translocar para o retículo endoplasmático, depletando cálcio e ativando caspase-12 (Zong et al, 2003). Entretanto, ainda são necessários estudos mais avançados para entender a função de Bax e outras proteínas proapoptóticas no retículo endoplasmático, interação mitocondrial e redistribuição do cálcio entre estas organelas durante o processo apoptótico (Carvalho et al, 2004). Alterações no cálcio citosólico podem ocasionar a apoptose. Algumas dessas alterações incluem mudanças na captação do cálcio pelas mitocôndrias promovido por estímulos apoptóticos, a qual aumenta a probabilidade de ativação do poro de transição de permeabilidade. Depleção dos estoques de cálcio intracelular também está relacionada com indução de apoptose, já que uma diminuição nas concentrações de cálcio provocado pelo aumento da captação deste íon pelas mitocôndrias determina a quantidade de liberação de Citocromo C (Gogvadze et al, 2008) e apoptose (Pinton et al, 2001). 1.8.3 Alterações celulares causadas pelo estímulo apoptótico Além das diferentes alterações bioquímicas e moleculares que uma célula sofre ao receber determinado estímulo apoptótico, existem também algumas características que definem uma célula em processo de morte celular 28 por apoptose. Estas características baseiam-se em alterações da estrutura celular levando às alterações clássicas do processo de morte induzido por apoptose. Após a ativação das caspases, estas têm a capacidade de clivar constituintes do citoesqueleto celular. Estes substratos incluem microfilamentos de actina como, por exemplo, a própria actina, e proteínas associadas à actina, tais como, miosina, espectrina, α-actinina, gelsolina e filamina (Browne et al, 2000). Algumas proteínas de microtúbulos também são substrato para as caspases, incluindo tubulinas e proteínas associadas aos microtúbulos (Adrain et al, 2006). Proteínas dos filamentos intermediários também são afetadas (Ku et al, 1997). A proteólise dos constituintes do citoesqueleto provavelmente contribui para o arredondamento e retração da célula nos estágios iniciais da apoptose. O enfraquecimento do citoesqueleto provoca a formação de blebbing na membrana celular, uma característica de células em apoptose (Cotter et al, 1992). Outra característica importante das células nos estágios iniciais do processo apoptótico é a capacidade de liberação da matriz extracelular. Estas células tipicamente se retraem das células vizinhas e perdem o contato com a matriz. Este processo de descolamento envolve mecanismos dependentes de caspases que, provavelmente tem como objetivo facilitar a remoção das células apoptóticas pelos fagócitos (Rosenblatt et al, 2001). Outra forma de facilitar o trabalho dos fagócitos é a geração dos chamados corpos apoptóticos. Estas estruturas provavelmente são uma conseqüência do processo dirigido pela actina-miosina para a formação dos blebbings (Cotter et al, 1992) Esta é talvez a forma mais segura de se quebrar uma célula em diversos pedaços para que 29 estas possam ser engolfadas com facilidade. Isso tem como objetivo minimizar possíveis falhas na fagocitose da célula morta a fim de se evitar liberação de sinais de perigo que podem provocar ativação do sistema imune inato (Taylor et al, 2008). Apesar da importância da fagocitose, não está claro como a célula apoptótica é reconhecida pelos fagócitos. O exemplo melhor caracterizado de ligante fagocítico é o fosfolipídio de membrana fosfatidilserina. A fosfatidilserina está confinada internamente na membrana plasmática de células saudáveis, mas esta se transloca para a face externa da membrana após um estímulo proapoptótico, induzindo assim a fagocitose (Martin et al, 1995). Esta translocação também é caspase-dependente, mas como estas cisteínoproteases promovem esta translocação ainda não foi definido (Martin et al, 1996). Alterações nucleares também estão presentes no processo de apoptose. Apesar da fragmentação nuclear ser uma das características mais marcantes da apoptose, permanece desconhecido o motivo pelo qual o núcleo fragmentase e se dispersa ao longo da célula durante este processo de morte celular (Taylor et al, 2008). A fragmentação nuclear depende da desintegração da lâmina nuclear e do colapso do envelope nuclear. O primeiro destes eventos envolve a proteólise das proteínas laminas A, B e C através das caspases (Rao et al, 1996). O citoesqueleto de actina também tem um papel na fragmentação nuclear. Por causa das ligações entre o citoesqueleto de actina e do envelope nuclear, ocorre destruição nuclear durante apoptose (Croft et al, 2005). A clivagem da proteína lamina por si só não é suficiente para causar a fragmentação nuclear na ausência da força contrátil do citoesqueleto de actina, 30 mas pode enfraquecer a membrana nuclear, permitindo que o envelope nuclear se rompa (Croft et al, 2005). Na fragmentação do núcleo, os microtúbulos do citoesqueleto têm sido implicados na dispersão de fragmentos nucleares na membrana plasmática para a formação dos blebbings (Moss et al, 2006). Um dos primeiros sinais bioquímicos a ser identificado como característico de um processo apoptótico é a degradação do DNA genômico em fragmentos (ladder of fragments) (Wyllie, 1980). Este padrão de fragmentação é resultado da clivagem da cromatina em sítios internucleossomais mediada por endonucleases. E este processo é tipicamente acompanhado de condensação da cromatina (Schulze-Osthoff et al, 1994). A fragmentação do DNA durante o processo apoptótico exclui qualquer outra possibilidade de divisão celular, tornando cromatina mais gerenciável para posterior eliminação por células fagocíticas (Taylor et al, 2008). Pelo exposto nesta Introdução, fica claro que as alternativas terapêuticas disponíveis para o tratamento do melanoma apresentam efeitos limitados, logo, o desenvolvimento de novos agentes que atuem inibindo o desenvolvimento tumoral é de extrema importância. Além da descoberta de novas drogas, é fundamental compreender o modo de ação das mesmas, para que os mecanismos de resistência da célula tumoral ao quimioterápico, tão frequentemente induzidos durante o tratamento, possam ser compreendidos e eventualmente contornados. Resultados anteriormente obtidos pelo nosso grupo sugeriram que o ciclopaladado 7A, que apresentou um interessante efeito terapêutico in vivo, 31 induz nas células tumorais uma morte por apoptose caspase-independente, levando ao final do processo à degradação de DNA de células tratadas (Rodrigues et al, 2003). No entanto, como o mecanismo de ação do ciclopaladado 7A ainda não foi totalmente elucidado, é de nosso interesse determinar os eventos que precedem a degradação de DNA observada nas células tumorais após tratamento com o ciclopaladado 7A. Além disso, poucos trabalhos na literatura exploram o efeito anti-tumoral de compostos de Rutênio, e mais especificamente, compostos de Rutênio doadores de óxido nítrico. Foi nosso interesse o estudo desses compostos no tratamento do melanoma murino experimental, assim como a determinação do seu mecanismo de ação, tendo em vista que o efeito do óxido nítrico no desenvolvimento tumoral ainda não está elucidado. 32 2.0 OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho foi a avaliação de novos compostos organometálicos derivados de Paládio e Rutênio em ensaios pré-clínicos. Os objetivos específicos foram: • Avaliar os efeitos citotóxicos do Complexo ciclopaladado 7A, [Pd2(S(-)C2, N-dmpa)2 (m-dppe)Cl2], sobre linhagens celulares tumorais humanas; • Avaliar a atividade do Ciclopaladado 7A no modelo metastático de melanoma murino B16F10-Nex2; • Elucidar o mecanismo pelo qual o Ciclopaladado 7A causa a morte das células tumorais; • Avaliar a atividade in vitro dos compostos tetraamina nitrosil Rutênio e os respectivos equivalentes sulfatados sobre células de melanoma murino B16F10-Nex2 e sobre células tumorais humanas; • Avaliar a atividade in vivo dos compostos tetraamina Rutênio previamente selecionados como ativos in vitro no modelo subcutâneo de melanoma murino B16F10-Nex2; • Investigar o mecanismo pelo qual os compostos tetraamina Rutênio causam a morte das células tumorais. 33 3.0 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Quimioterápicos: Complexo ciclopaladado 7A (C7A): O composto ciclopaladado foi obtido através da síntese de N,N-dimethyl-1-phenethilamida, complexado com o ligante 1,2 ethanebis (diphenylphosphina), conforme descrição detalhada em Rodrigues et al, (2003). Fórmula molecular C44H52N2Cl2P2Pd2, com rendimento de síntese de 92%. O complexo ciclopaladado foi sintetizado pelo Prof. Antonio Carlos F. Caires, Centro Interdisciplinar de Investigação Bioquímica, da Universidade de Mogi das Cruzes. Compostos de Rutênio: Todos os compostos de Rutênio foram sintetizados pela aluna Renata Osti, sob orientação do Prof Douglas Wagner Franco, do Departamento de Química e Física Molecular, Universidade de São Paulo, campus São Carlos. Os compostos de partida para a síntese dos complexos de rutênio, trans-[Ru(NH3)4SO2Cl]Cl, trans- [Ru(NH3)4(P(OEt)3)2](PF6)2 e K[Ru(Hedta)Cl], foram preparados seguindo procedimentos descritos na literatura (Vogt et al, 1965). A partir desses compostos de partida, foram sintetizados os seguintes compostos testados neste trabalho: 34 A) trans-[Ru(NH3)4L(SO4)]+ : Os compostos trans-[Ru (NH3)4 L (SO4)]+ (L: py = piridina; 4-pic = 4-picolina; isn = isonicotinamida; nic = nicotinamida; ImN = imidazol; L-his = L-histidina) foram preparados dissolvendo-se 100 mg do complexo trans-[Ru(NH3)4SO2Cl] Cl em 3,5 ml de solução de NaHCO3 10-2 mol.l-1 previamente desaerada, e em seguida excesso de 10 vezes do ligante L foi adicionado (2 vezes para a L-his). A mistura permaneceu em reação sob atmosfera de argônio durante 20 minutos. Em seguida, 1 ml de HCl 6 mol.l-1 e 2,5 ml de H2O2 30 % foram adicionados. Acetona (aproximadamente 70 ml) foi acrescentada, e a mistura permaneceu em refrigerador por 12 horas. O sólido foi coletado por filtração, lavado com acetona, seco e estocado sob vácuo e na ausência de luz. B) trans-[Ru(NO)(NH3)4L]3+ : Os compostos trans-[Ru(NO)(NH3)4L]3+ (L: py = piridina; 4-pic = 4-picolina; isn = isonicotinamida; nic = nicotinamida; ImN = imidazol; L-his = L-histidina) foram preparados a partir dos respectivos complexos do tipo trans-[Ru (NH3)4 L (SO4)]Cl. Inicialmente, 100 mg dos sulfatos compostos são dissolvidos em 3 ml de solução de HCF3COO pH 5,4 desaerada, e reduzidos com amálgama de zinco por 30 minutos (50 minutos para complexo com piridina) para gerar trans-[Ru(NH3)4L(H2O)]2+. A esta solução foram adicionados 0,10 g de NaNO2 e 1,3 ml de solução desoxigenada de HBF4 5 mol.l-1. A solução resultante foi mantida sob atmosfera de argônio por 1 hora, após este período 100 ml de etanol desoxigenado foram adicionados. O sólido foi coletado por filtração, lavado com etanol, seco e estocado sob vácuo e na ausência de luz. 35 C) trans-[Ru(NO)(NH3)4P(OEt)3](PF6)3 : Dissolveram-se 0,20 g de trans[Ru(NH3)4(P(OEt)3)2](PF6)2 em 200 ml de solução desoxigenada de CF3COOH 0,001 mol.l-1. A mistura permaneceu em reação por 6 horas sob fluxo de argônio, a 40 oC. Acompanhou-se a formação da banda em 316 nm (ε = 650 M1 ) por UV-visível. Evaporou-se o excesso de solvente em evaporador rotatório (a 40 oC) até volume de aproximadamente 3,0 mL, transferiu-se para 2,0 mL de solução 2,0 mol.l-1 de CF3COOH, previamente desoxigenada. Adicionaram-se 0,200 g de NaNO2. A solução adquiriu uma coloração rósea. Acrescentaram-se 0,300 g de NH4PF6 e deixou-se no refrigerador até a formação de sólido cristalino róseo. Coletou-se por filtração, lavando-se com éter. O complexo foi seco e estocado a vácuo e ao abrigo da luz. D) [Ru(NO)Hedta] : O complexo [Ru(NO)Hedta] foi preparado dissolvendo-se 500 mg de K[Ru(Hedta)Cl] em 20 ml de uma solução 10-2 mol.l-1 de HCl em balão de fundo redondo. O balão foi tampado e permaneceu sob atmosfera de argônio durante 30 minutos. Após este tempo, NO e argônio foram borbulhados na solução durante 3 horas e 30 minutos. Etanol foi adicionado à mistura e o nitrosilo composto formado precipitado na forma de um sólido de cor lilás o qual foi então isolado, seco e armazenado sob vácuo e protegido da luz. 3.2 Linhagens de células tumorais e condições de cultivo: Foram utilizadas células de melanoma murino B16F10-Nex2, uma sublinhagem da linhagem 36 B16F10 (Fidler et al, 1975 que mantém as características da linhagem original de baixa imunogenicidade e alta eficiência na implantação in vivo (Freitas et al, 2004). Células tumorais humanas isoladas de adecarcinoma de mama (SKBr-3 e ZR753A), adenocarcinoma de cólon (HCT-8 e LS-180), leucemia promielocítica (HL-60), adenocarcinoma de cérvix uterino (HeLa, CasKi e SiHa), melanoma (Me91 e SKMel-25) e glioblastoma (U-87 ) foram utilizadas. Para os ensaios de angiogênese, foi utilizada a linhagem de células endoteliais humanas isoladas de veia de cordão umbilical (HUVECs). Todas as células foram cultivadas in vitro em meio RPMI-1640, suplementado como 10mM de HEPES, 24mM de bicarbonato de sódio, 40mg/ml de gentamicina, pH 7.2 e 10% de soro fetal bovino. Para manuseio das células, foram utilizados PBS (140mM NaCl, 2.7mM KCl, 10mM Na2HPO4, 1.8mM KH2PO4, pH 7.4) para lavagem e, PBS/EDTA (PBS com 0,02% de EDTA) para liberação das células dos frascos e placas de cultura. 3.3 Animais: Camundongos C57Bl/6 machos (6 a 8 semanas) foram obtidos do Centro de Desenvolvimento de Modelos Experimentais (CEDEME), da Universidade Federal de São Paulo. Os animais foram mantidos em microisoladores, com água, ração e serragem autoclavadas, e em estantes ventiladas (Alesco, Brasil). Os experimentos envolvendo animais foram desenvolvidos com aprovação do Comitê de Ética para Experimentação Animal da Universidade Federal de São Paulo, projeto registrado sob número 1507/09. 37 3.4 Obtenção de macrófagos derivados de medula óssea: Precursores de macrófagos presentes na medula óssea foram coletados de ossos femurais de animais C57BL/6. Os ossos foram retirados e em seguida lavados em álcool 70%, álcool iodado e PBS. As epífises foram cortadas e a medula foi coletada por pressão positiva com o auxílio de uma seringa de 10ml contendo meio de diferenciação (meio RPMI acrescido de 30% de “meio L” e 20% de soro fetal bovino). O meio L é constituído do sobrenadante das células L929, que secretam constitutivamente CSF e G-CSF. O sobrenadante destas células foi coletado, testado para garantir a ausência de Mycoplasma, e em seguida, utilizado para a constituição do meio de diferenciação. Utilizamos placas de Petri próprias para cultura celular (Corning) para diferenciar os macrófagos in vitro. As células foram incubadas durante 4 dias em estufa a 37°C e 5% de CO2, sendo então adicionados mais 10ml de meio de diferenciação. No sétimo dia, as células diferenciadas foram coletadas. O meio metabolizado foi aspirado para a adição de meio de troca (meio RPMI acrescido de 25% de “meio L” e 15% de soro fetal bovino). A placa permaneceu a 4°C por 1 hora, ou até que os macrófagos diferenciados estivessem soltos da placa. A partir daí, as células foram utilizadas para os ensaios. 3.5 Dosagem Protéica: O método de Bradford foi utilizado para quantificação protéica (Bradford, 1976), adaptado a uma micrométodo. 10mg do Corante Commasie Brilliant Blue G-250 (Sigma) foram diluídos em 5mL de etanol absoluto (Merck) seguido da adição de 10mL de ácido ortofosfórico (Merck), e completando-se o volume para 100mL com água destilada. Após agitação a solução foi filtrada e protegida da luz. Para quantificação da proteína, 100µL de 38 reagente foi adicionado a 20µL da amostra, previamente diluída ou não, com leitura imediata. A cada dosagem construiu-se uma curva padrão (de 0,2 a 1,0µg) a partir de uma solução de PBS/BSA 1mg/ml e a leitura da absorbância foi feita em espectofotômetro de placas em 620nm (Titertek Multiskan MCC/340 MKII). 3.6 Ensaio de citotoxicidade celular in vitro: Células B16F10-Nex2 (1x104/poço), células tumorais humanas (2x105/poço), macrófagos murinos (1x105/poço) e células HUVECs (5x103) foram cultivadas em placa de 96 poços (TPP) e tratadas com diferentes concentrações do complexo 7A e com compostos de rutênio. Após 24h de incubação a 37°C, os poços foram lavados com PBS e o número de células viáveis aderentes foi determinado em câmara de Neubauer, utilizando o corante de exclusão Trypan Blue (Invitrogen). Gráficos de concentração da droga versus número de células viáveis foram construídos, e a Concentração Inibitória 50% (IC50) foi calculada usando-se o Programa Microsoft Excel, do software Microsoft Office. 3.7 Ensaio de inibição da citotoxicidade do complexo 7A in vitro com DTT: Células B16F10-Nex2 (104/poço) foram plaqueadas em placa de 96 poços (Corning). Após 24h de incubação, as células foram pré-tratadas ou não com 2mM de DTT por 10 minutos. As células foram lavadas com solução de PBS e incubadas com uma dose elevada do Complexo 7A (10µM). Após 1h e 2h as células viáveis foram coletadas com PBS-EDTA e contadas em presença de Trypan Blue. 39 3.8 Ensaio de citotoxicidade in vitro em presença de inibidores de proteases: Ca074-Me (catepsina B) ou E-64 (cisteíno-proteases): Células B16F10-Nex2 (104/poço) foram plaqueadas em placa de 96 poços (Corning). Após 24h de incubação, as células foram pré-tratadas ou não com diferentes concentrações de Ca074-Me (L-3-trans-(Propylcarbamyl)oxirane-2-carbonyl)-Lisoleucyl-L-proline methyl Ester) ou E-64 (trans-epoxysuccinyl-L-leucylamido-[4guanido]butane), ambos da Sigma, por 2 horas. As células foram lavadas com solução de PBS e incubadas com uma dose elevada de compostos 7A (10µM). Após 24h, as células foram destacadas com PBS-EDTA e as células viáveis foram contadas utilizando Trypan Blue em Câmara de Neubauer. 3.9 Quantificação da acidificação extracelular: Células tumorais humanas (HCT-8, Siha e Skmel25) foram plaqueadas (3x105/poço) em cubetas transwells com poros de 3.0 µm (Corning Costar) e os transwells foram mantidos em placas de cultura de 12 poços (Corning) por 12h antes do experimento. A taxa de acidificação extracelular de células tratadas e não tratadas foi determinada utilizando-se um microfisiômetro Cytosensor (Molecular Devices). As cápsulas contendo as células aderentes tratadas ou não foram transferidas para câmaras sensoras e mantidas em RPMI com baixo tamponamento e 1% BSA, a 37ºC. O meio de perfusão (50 µl/min) contendo as drogas (C7A ou Cisplatina, usada como controle positivo) ou não (controle negativo) foi bombeado através das câmaras de cada sensor com ciclos de 90 seg de fluxo, seguido de um período de 30 seg sem fluxo de meio. Durante os 40 períodos sem fluxo, os prótons H+ liberados pelas células se acumulam no sensor e são quantificados. 3.10 Microscopia ótica: Células B16F10-Nex2 (1x104/lamínula) foram cultivadas em lamínulas estéreis com diâmetro de 13mm em placas de cultura de 12 poços. Após 24 horas as células foram tratadas com C7A (1µM) por diferentes intervalos de tempo, sendo o tempo máximo de 25 minutos. Após o tratamento, as lamínulas foram lavadas com PBS e as células fixadas com paraformaldeído 4% em PBS. As lamínulas foram fixadas em lâminas e analisadas por microscopia ótica utilizando-se um microscópio (Nikon Eclipse E600 (aumento de 40x). 3.11 Microscopia Eletrônica de Transmissão: Células B16F10-Nex2 (105 células/lamínula) foram cultivadas em lamínulas com diâmetro de 13mm em placas de 12 poços. O complexo 7A foi adicionado na concentração de 1µM e incubado por apenas 15 minutos, tempo suficiente para que a droga provoque alterações morfológicas nas células, sem que as mesmas se soltem naturalmente do substrato. As células foram fixadas em 2,5% de glutaraldeído em tampão cacodilato de sódio 0,1 M, pH 7,4. A pós-fixação foi realizada com tampão cacodilato de sódio contendo 1% de tetróxido de ósmio, 0,08 % de ferricianeto de potássio, 5 mM de cloreto de cálcio, durante 60 minutos ao abrigo da luz. A desidratação foi feita com diluições em série crescente de acetona e a infiltração em resina Epoxi Polybed (Polysciences). Cortes ultrafinos foram obtidos por ultramicrotomia, coletados em grades (malha 300) 41 e contrastados em acetato de uranila e citrato de chumbo. A análise ultraestrutural foi feita em Microscópio Eletrônico de Transmissão Zeiss EM900, no Centro de Microscopia Eletrônica (CEME) da UNIFESP. 3.12 Alterações no potencial de membrana mitocondrial (∆ ∆Ψm) : Células B16F10-Nex2 (5x104/poço) foram plaqueadas em lamínulas redondas de 25mm de diâmetro. Estas lamínulas foram previamente tratadas com poli-lisina (0,1mg/ml). Para o preparo das lamínulas, estas foram lavadas com álcool 70%, seguida de lavagens com água destilada. Após este processo, cobrimos as lamínulas com poli-lisina e incubamos em temperatura ambiente por 1 hora. Retiramos a poli-lisina e deixamos por 30 minutos sob a luz ultravioleta, dentro do fluxo laminar para esterilização. Após este procedimento, as células foram plaqueadas. As lamínulas foram adaptadas em câmara de Leiden para acondicionamento no microscópio. As células foram incubadas com o indicador de fluorescência potenciométrico, tetrametilrodamina-etil-éster (TMRE, 50nM. Molecular Probes) por 15 minutos em temperatura ambiente, na presença ou ausência do inibidor DTT (2mM). As lamínulas foram então colocadas no microscópio e as células foram tratadas com o Complexo 7A (1µM). Na fase final do experimento, adicionamos o desacoplador mitocondrial FCCP (5µM). Este reagente provoca uma rápida queda no potencial de membrana mitocondrial, sendo utilizado como controle positivo do experimento. A fluorescência do TMRE foi adquirida em tempo real, (548nm de excitação e 585nm de emissão), a 1 quadro / 6 segundos, usando o microscópio invertido Nikon TE 300. As mitocôndrias foram identificadas individualmente, onde as 42 regiões de interesse foram desenhadas sobre cada organela para a determinação da variação do potencial de membrana mitocondrial. 3.13 Translocação da Proteína Bax-GFP em células transfectadas: Células B16F10-Nex2 (5x104/lamínula) foram plaqueadas em lamínulas com 25mm de diâmetro, pré-tratadas com poli-lisina (0,1mg/ml). Em seguida, as células foram transfectadas com plasmídeo contendo inserto da quimera proteica BaxGFP (Green Fluorescent Protein) utilizando Lipofectina (Invitrogen), segundo instruções do fabricante. O plasmídeo Bax-GFP foi construido como descrito em (Wolter et al, 1997) e gentilmente cedido pela Profª Dra Soraya Smaili, Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de São Paulo. As lamínulas contendo as células transfectadas foram adaptadas em câmara de Leiden e incubadas com C7A (1µM). A translocação de Bax-GFP foi observada em tempo real (458nm de emissão e 488 nm de excitação) a 1 quadro / 6 segundos. As imagens foram visualizadas em microscópio de luz (Nikon E8000, Nikon, Osaka, Japan) e analisadas no programa Image Pro-Express (Media Cybernetics, MD, USA). 3.14 Determinação da concentração intracelular de Cálcio: Células B16F10-Nex2 (5x104/lamínula) foram plaqueadas em lamínulas redondas de 25mm de diâmetro, previamente tratadas com poli-lisina (0,1mg/ml) e acondicionadas na câmara de Leiden. As células foram incubadas em meio com o indicador de fluorescência Fura-2-AM (2µM) e Pluronic F127 (20%) por 30 minutos em tampão contendo 130mM NaCl, 5.36mM KCl, 0.8mM MgSO4, 43 1mM Na2HPO4, 25mM glicose, 20mM HEPES, 1mM piruvato de sódio, 1.50mM CaCl2, 1mM ácido ascórbico, pH7.3. Para os ensaios com tampão livre de cálcio, utilizamos o mesmo protocolo descrito acima, porém sem a adição do CaCl2. Após este período, as células foram tratadas com o complexo 7A (1µM) e a leitura da fluorescência do Fura-2 foi realizada em dois comprimentos de onda de excitação, 340 e 380nm. O cálculo da razão 340/380 indica a quantidade de Fura-2 que se encontra no citosol na forma complexada com Cálcio (340nm) em relação à quantidade de Fura-2-AM que se encontra na forma livre (380nm). As imagens foram visualizadas em microscópio invertido (Nikon TE300, Nikon, Osaka, Japan) e analisadas no programa Image ProExpress (Media Cybernetics, MD, USA). 3.15 Ativação de caspases: Para avaliar a atividade de caspases após tratamento com drogas, utilizamos dois métodos: um método colorimétrico e outro por citometria de fluxo. O método colorimétrico foi realizado utilizando um kit denominado Caspase Colorimetric Protease Assay (Invitrogen). Este kit permite a avaliação qualitativa da atividade de caspase-2, caspase-3, caspase6, caspase-8 e caspase-9. Resumidamente, células B16F10-Nex2 (5x106) foram cultivadas e tratadas in vitro com o complexo 7A (1µM) por 5 minutos. Para o controle positivo, o mesmo número de células B16F10-Nex2 foram incubadas em exposição à luz ultravioleta por 7 minutos. Em seguida, as células foram coletadas da placa com o auxílio de um cell scraper e centrifugadas a 5.000g. Após a centrifugação, as células foram ressupendidas em 50µL do tampão de lise, fornecido pelo kit, e incubadas no gelo por 10 minutos. Centrifugamos a 10.000g por 1 minuto e o sobrenadante foi 44 transferido para um novo tubo. A concentração proteica da amostra foi avaliada pelo método de Bradford e a amostra foi diluída em tampão de lise a uma concentração de 1mg/ml. Adicionamos 50µL do tampão de reação, contendo 10mM de DTT, fornecido pelo kit e incubamos com os respectivos substratos referentes às caspases 2, 3, 6, 8 e 9 (VDVAD, DEVD, VEID, IETD, LEHD) durante 2 horas a 37ºC. A leitura da absorbância foi feita em comprimento de onda de 405nm em espectofotômetro de placas (Titertek Multiskan MCC/340 MKII). O aumento da atividade das caspases foi determinado pela comparação direta com os níveis de caspases presentes no controle não tratado. A caspase-3 foi também quantificada por citometria de fluxo. Células B16F10nex2 (1x106) foram tratadas por 12h com o ciclopaladado 7A ou Camptotensina (10µM), como controle positivo. As células tratadas foram lavadas duas vezes com PBS e ajustadas para 1x106 células por amostra. Em seguida, as células foram incubadas com anticorpos anti-caspase-3 (Promega) diluído 1:000 em PBS/BSA 1% por 1 hora, no gelo, protegido da luz. A atividade foi avaliada por citometria de fluxo, onde foram capturadas 10.000 células. A marcação foi analisada através do citômetro de fluxo FACSCalibur (Becton-Dickinson), com análise dos resultados pelo software CellQuerst®. 3.16 Avaliação de condensação nuclear por microcopia de fluorescência: Células B16F10-Nex2 (1X104) foram plaqueadas em lamínulas de 13mm de diâmetro e tratadas com o complexo 7A (1uM, por no máximo 25 minutos) ou com compostos de rutênio trans-[Ru (NH3)4 ImN (SO4)]+ (444uM, por 24h). As células foram marcadas com Hoescht 33342 (thyhidrocloride thihydrate, Sigma Chemical) durante 15 minutos e depois visualizadas em microscopia de 45 fluorescência (microscópio invertido Nikon TE 300), excitado em 350nm e com emissão em 450nm. Avaliamos a porcentagem das células com características nucleares alteradas, tais como, condensação nuclear, núcleo picnótico e maior intensidade de fluorescência. Foram contadas pelo menos 200 células por lamínulas, em triplicatas. A partir destes dados, a porcentagem de células com alterações nucleares foi calculada. 3.17 Ensaio de degradação de DNA: células B16F10-Nex2 (1x105/poço) foram cultivadas em placa de 12 poços e tratadas com o complexo 7A (1µM, por 24h) ou com compostos de rutênio trans-[Ru (NH3)4 ImN (SO4)]+, (444µM, por 24h. Após 12h de incubação a 37°C, todas as cél ulas, aderentes ou em suspensão foram coletadas e o seu DNA foi extraído utilizando o protocolo de extração com tampão TELT [Tris-HCl 50mM pH8.0 (Gibco), 4% de Triton X-100 (LKB), EDTA 2.5mM pH 9.0 (Pharmacia) e 2.5M de LiCl (Merck)], para lise das células. O material foi centrifugado a 12.000g por 10 minutos. Ao sobrenadante adicionou-se igual volume de fenol (Gibco, pH 7.5), homogeneizando bem e centrifugando-se por 15 minutos a 12.000g. A fase aquosa foi transferida para novo tubo e a este adicionou-se igual volume de Clorofórmio (Merck), centrifugando-se por 15 minutos a 12.000g. Adicionou-se ao sobrenadante 0,1 volume de acetato de sódio 3.0M e 2.5 volume de etanol absoluto (Merck), incubando-se o material a -20ºC por 24h. Após este período, o material foi centrifugado a 12.000g por 15 minutos, e ao precipitado adicionou-se 500uL de etanol 70% (Merck) para lavagem. O material foi centrifugado a 7.500g e em seguida o mesmo foi seco em temperatura ambiente. Depois de seco, o precipitado foi ressuspendido em água contendo RNAse (50ug/mL). Ao final da 46 extração, o material foi quantificado por espectofotômetro a 260nm. Para verificação da degradação do DNA, 1µg de DNA de cada amostra foi separado eletroforeticamente em gel de agarose 0.8% (Pharmacia) contendo 2µL de brometo de etídio. A corrida foi realizada a 100V por aproximadamente 40 minutos. 3.18 Ensaio de TUNEL (Terminal Transferase dUTP Nick End Labeling): A fragmentação de DNA também foi analisada utilizando o “In Situ Cell Death Detection kit, AP” (Roche Molecular Biochemicals, Mannheim, Germany) de acordo com as instruções do fabricante. Esta técnica fundamenta-se na marcação direta de fragmentos terminais de DNA (porção 3' -OH), caracteristicamente relacionados com a fragmentação do DNA nuclear. As células foram plaqueadas (1 x 104) em lamínulas de 13mm e incubadas por 24 h a 37° C em presença de meio RPMI com 10% SFB para adesão das células na lamínula. As células foram incubadas com o composto de Rutênio trans-[Ru (NH3)4 ImN (SO4)]+ por 24 h. Após o tempo de incubação, as células foram lavadas 3 vezes com PBS em temperatura ambiente e em seguida fixadas com 2% de paraformaldeído por 30 minutos. Após a fixação das células foi realizada a permeabilização da membrana celular, utilizando 0,1% Triton X-100 por 30 minutos. As células foram lavadas 3 vezes com PBS e incubadas por 1h com os reagentes do kit (“enzyme solution” e “label solução” na proporção 1:9) a 37° C ao abrigo da luz. As células foram lavadas novamente e incubadas com 1mg/mL de DAPI por 10 minutos em temperatura ambiente. As lamínulas foram aderidas às lâminas na presença de Vectashield (Vector) e em seguida, as 47 células foram observadas em um microscópio de fluorescência microscópio (Nikon TE 300). O DAPI foi observado no comprimento de onda de 454-488nm e a fluorescência do ensaio de TUNEL foi observada no comprimento de onda de 515-565nm. 3.19 Detecção da translocação da fosfatidilserina (PS) para a superfície celular: Para a determinação da translocação da PS para a superfície celular após tratamento com o quimioterápico, foi utilizado o kit Annexin V-FITC Apoptosis Detection Kit (Sigma), onde as células são coradas com Anexina VFITC e iodeto de propídio (PI), seguido por análise em citômetria de fluxo (FACS). Células B16F10Nex2 (1x106) foram cultivadas em placas de 6 poços e incubadas o composto trans-[Ru (NH3)4 ImN (SO4)]+ (444uM) por 12 horas a 37° C e 5% CO2. Células não tratadas foram utilizadas como controle. Após incubação, células tratadas e não tratadas foram liberadas da placa com tripsina, centrifugadas, coletadas e lavadas 3 vezes com PBS. As células foram ressuspendidas em tampão “Binding Buffer” (Sigma) contendo 10 mM HEPES/NaOH, pH 7.5 e 140 mM de NaCl e 2.5 mM CaCl2. Posteriormente as células foram incubadas à temperatura ambiente com 0.5 µg/mL de Annexin-V e 2 µg/mL de iodeto de propídio por 10 minutos. Durante o período de incubação as amostras foram protegidas da luz. A determinação da fluorescência foi realizada em Citômetro de Fluxo Becton-Dickinson, com análise dos resultados pelo software CellQuest®. Células viáveis não apresentam nenhuma marcaçao fluorescente. Células em processo de morte por apoptose caracterizam-se pela marcação com o conjugado Anexina V- 48 FITC. Células duplamente marcadas foram consideradas como células nas fases finais da apoptose e/ou em processo de necrose. 3.20 Ensaio de Angiogênese: Para observação dos efeitos do complexo 7A e dos compostos de rutênio no processo angiogênico, foi realizado ensaio in vitro com células endoteliais isoladas de veias de cordão umbilical humano (HUVEC). Alíquotas de Matrigel (BD) foram descongeladas e 10uL foram aplicados em placas de 96 poços com o auxílio de ponteiras geladas. As células HUVEC (5x103) foram associadas aos compostos a serem testados em 10uL de meio RPMI 0.2% SFB e em seguida adicionadas sobre o Matrigel. A concentração dos compostos utilizada neste ensaio foi previamente padronizada em ensaios de citotoxicidade celular sobre as células HUVECs, conforme descrição no item 3.6. Após 24h de incubação, os poços foram fotografados em um aumento de aproximadamente 8X com o auxílio de uma Câmera digital Sony Cyber-shot. O resultado foi expresso em número de formações pró-angiogênicas (anéis fechados) contadas visualmente nas fotografias. Células não tratadas foram utilizadas como controle. 3.21 Ensaio de hemólise: Para verificar a toxicidade do ciclopaladado C7A, hemácias humanas foram obtidas a partir da fração celular de sangue de indivíduo normal, coletado na presença do anticoagulante citrato de sódio e centrifugado a 3.000 rpm por 10 minutos. As células foram lavadas duas vezes e ressuspendidas em PBS-BSA (1%). Os eritrócitos (3x107) foram incubados em placas de 96 poços de fundo em “U” a 37ºC por 2 horas, sob agitação, na 49 presença de diferentes concentrações do complexo 7A. Após incubação, a placa foi centrifugada a 2.000 rpm por 10 minutos. Os níveis de hemoglobina no sobrenadante foram determinados por leitura em espectrofotômetro a 405 nm e comparados com o controle positivo obtido pela lise total utilizando-se 0.2% de Triton X-100. Os resultados foram expressos em porcentagem de hemólise em relação ao controle sem tratamento. 3.22 Ensaio de colonização pulmonar e tratamento com os quimioterápicos: Para o ensaio de colonização pulmonar, 1x105 células B16F10-Nex2 foram inoculadas endovenosamente pela veia da cauda dos animais. A partir do dia seguinte, os animais foram tratados com 200ng/kg do composto 7A, três vezes por semana. Após 13 dias, os animais foram sacrificados e os pulmões retirados para contagem dos nódulos pulmonares. Utilizamos o mesmo protocolo para o tratamento com os compostos de Rutênio. 3.23 Desenvolvimento tumoral subcutâneo in vivo: camundongos C57Bl/6 foram injetados subcutaneamente com 5x104 células B16F10-Nex2 (lavadas e diluídas em PBS). No dia seguinte, iniciou-se o tratamento com diferentes concentrações do Composto de rutênio trans-[Ru (NH3)4ImN(SO4)]+, administrados intraperitonealmente, três vezes por semana até o sacrifício dos animais. Os tumores foram medidos também três vezes na semana e o volume tumoral foi calculado usando a seguinte fórmula: V = 0.52 x D12 x D2, onde D1 e D2 correspondem respectivamente ao diâmetro menor e maior da massa tumoral. 50 3.24 Análise estatística: A análise estatística foi realizada com Teste t de Student do Programa Microsoft Excel, do software Microsoft Office, considerando os valores iguais ou menores de p<0.05 como significativos. Os valores de média e desvio padrão foram obtidos utilizando o mesmo programa. 51 4.0 RESULTADOS: CICLOPALADADO 7A 4.1 Efeitos sobre as células tumorais humanas in vitro Em estudo anteriormente publicado pelo nosso grupo, observou-se a atividade antitumoral do complexo 7A in vitro e in vivo contra o modelo de melanoma murino B16F10-Nex2. Nesse trabalho, demonstrou-se que o ciclopaladado 7A causou o colapso da atividade respiratória das células B16F10-Nex2, sugerido pelo decréscimo abrupto na acidificação celular em curtos tempos (Rodrigues et al, 2003). Para avaliar se esse composto também seria eficaz contra tumores humanos, foi testada a ação citotóxica do complexo 7A in vitro, contra várias linhagens celulares tumorais humanas. Observou-se que o ciclopaladado 7A foi citotóxico in vitro de modo dose-dependente contra células tumorais humanas em doses muito baixas quando comparadas a um agente quimioterápico regularmente utilizado no tratamento do câncer, a Cisplatina (Tabela 1). Enquanto a maioria das linhagens celulares avaliadas apresentou um IC50 acima de 100 µM para a Cisplatina, essas mesmas células apresentaram um IC50 menor que 0,5 µM para o Ciclopaladado 7A. Somente 2 linhagens testadas apresentaram IC50 igual ou acima de 1 µM para o C7A, a linhagem HL-60 de leucemia promielocítica e a linhagem U-87, de glioblastoma. O IC50 dessas 2 linhagens foram 70 e 150 µM para a Cisplatina, respectivamente. 52 No trabalho anterior foi realizado um teste de toxicidade in vivo do C7A, onde doses crescentes do ciclopaladado foram injetadas em camundongos C57Bl/6, e ao final do tratamento, vários órgãos foram coletados desses animais e uma análise histopatológica não demonstrou alterações teciduais, sugerindo uma baixa toxicidade do composto. No tratamento in vivo foi utilizada a dose de 40ng/Kg, 3 vezes por semana, e no teste de toxicidade chegou-se à dose de 240ng/kg (Rodrigues et al, 2003). Foram realizados testes de toxicidade in vitro, complementares ao já realizado in vivo, e observou-se que o ciclopaladado não afetou a viabilidade de macrófagos murinos após 6h de incubação (Figura 1) ou eritrócitos humanos (Tabela 2) tratados com até 50µM do composto. Esses resultados sugerem que o Ciclopaladado 7A tem atividade citotóxica contra células tumorais humanas in vitro e este composto apresenta baixa toxicidade contra células normais. 53 Tabela 1: Citotoxicidade in vitro do complexo 7A e do quimioterápico Cisplatina sobre o melanoma murino B16F10-Nex2 e células tumorais humanas. Cada linhagem celular foi testada com diferentes doses do composto, e a IC50 foi calculada como descrito em Materiais e Métodos. IC50 Complexo 7A (µM) IC50 Cisplatina (µM) Melanoma murino B16F10-Nex2 0,42 176 Carcinoma de cólon humano LS-180 HCT-8 0,26 0,22 > 200 > 200 Carcinoma de mama humano SKBr-3 ZR753A 0,26 0,34 66 > 200 Carcinoma do cervix uterino humano HeLa CasKi SiHa 0,3 0,24 0,19 68 140 > 200 Melanoma humano Me91 SK-Mel 25 0,14 0,15 156 > 200 Leucemia promielocítica humana HL-60 1,0 70 Glioblastoma humano U-87 3,5 150 54 Número de células viáveis (x104) 0 1 5 10 20 50 C7A (µM) Figura 1: O complexo 7A não foi citotóxico para macrófagos murinos in vitro. Macrófagos maturados a partir de progenitores de medula óssea foram incubados com diferentes concentrações do ciclopaladado 7A. Após 6h, as células viáveis foram contadas com o auxílio do corante de exclusão Trypan Blue. 55 Tabela 2: Porcentagem de hemólise causada por diferentes concentrações do ciclopaladado 7A. Hemáceas coletadas de voluntários sadios humanos foram incubadas por 2h com C7A, e a concentração de hemoglobina no sobrenadante foi avaliada por leitura espectrofotométrica em 405 nm. Controles utilizados foram hemáceas sem tratamento e hemáceas tratadas com 0.2% de Triton X-100. A porcentagem de hemólise foi calculada em relação ao controle sem tratamento. % de hemólise Hemáceas sem tratamento 0 Triton X-100 100 Hemáceas + C7A 0,5µM 0 Hemáceas + C7A 1µM 0 Hemáceas + C7A 2,5µM 0 Hemáceas + C7A 5µM 0 Hemáceas + C7A 10µM 0 Hemáceas + C7A 20µM 0 56 Como foi demonstrado anteriormente que o mecanismo de ação do complexo 7A sobre células de melanoma murino B16F10-Nex2 envolvia o bloqueio da respiração celular, com a diminuição da acidificação extracelular, esse parâmetro foi avaliado em algumas linhagens celulares tumorais humanas. A acidificação extracelular foi avaliada utilizando-se um equipamento específico, o Cytosensor Microphysiometer (Molecular Devices), onde a droga é injetada nas células em pulsos, alternadamente a pulsos de meio sem droga quando o pH do meio extracelular é quantificado. Esse sistema quantifica alterações na acidificação extracelular em tempo real, que podem ser o resultado de alterações na demanda de energia ocorrida em células viáveis, respondendo a um estímulo, ou de alterações na troca de sódio-hidrogênio que ocorre na membrana celular durante o controle homeostático do pH intracelular. Como se observa nos gráficos da Figura 2, enquanto o controle negativo mantém valores estáveis durante todo o experimento, o ciclopaladado 7A provoca uma queda abrupta na acidificação extracelular nas 3 linhagens tumorais humanas testadas. Em 1h ou menos, a taxa de acidificação extracelular diminuiu cerca de 80% nas células tratadas com o C7A, como observado anteriormente com as células murinas B16F10-Nex2. Como esperado, a Cisplatina não provocou alterações significativas no pH extracelular das células analisadas, uma vez que o IC50 dessa droga nessas linhagens foi muito alto, maior do que 200 µM. O ciclopaladado 7A afeta tanto células de melanoma murino como células tumorais humanas muito rapidamente, inibindo o seu metabolismo, particularmente a geração de prótons na cadeia respiratória, sugerindo que a 57 mitocôndria pode ser um alvo do quimioterápico nas células tumorais, e que o mecanismo de ação do C7A tanto em células tumorais murinas como humanas pode ser o mesmo. 58 Acidificação (%) Tampão Cisplatina C7A Acidificação (%) Tempo (min) Tampão Cisplatina C7A Acidificação (%) Tempo (min) Tampão Cisplatina C7A Tempo (min) Figura 2: Complexo 7A diminui os níveis de acidificação extracelular em células tumorais humanas. As células foram plaqueadas em placas de transwell durante 24h e mantidas em meio RMPI completo com 10% de soro fetal bovino. As cubetas foram então ajustadas no Cytosensor Microphysiometer e o sistema foi calibrado durante 20 minutos com meio RPMI contendo 1% de BSA. As drogas, C7A (10µM) e Cisplatina (200µM), foram diluídas no mesmo meio, adicionadas no tempo zero e inoculadas em pulsos durante todo o experimento. 59 4.2 Efeito antimetastático do Ciclopaladado 7A A atividade antitumoral do complexo 7A foi anteriormente demonstrada no tratamento do melanoma primário, onde células de melanoma murino B16F10Nex2 foram inoculadas subcutaneamente, e o volume tumoral, assim como a mortalidade, nos animais tratados ou não foram acompanhadas (Rodrigues et al, 2003). Para verificar o efeito antimetastático do ciclopaladado 7A, camundongos C57BL/6 foram inoculados intravenosamente com células B16F10-Nex2 e a colonização pulmonar por essa linhagem tumoral foi avaliada após 13 dias. Os animais receberam doses de 200ng/kg do composto a partir do primeiro dia após a inoculação das células tumorais, 3 vezes por semana. Após 13 dias, os animais foram sacrificados e os pulmões coletados para a contagem de nódulos pulmonares. Em comparação ao grupo controle, que receberam apenas injeções de PBS, notamos uma redução significativa no número de nódulos pulmonares nos animais tratados com o ciclopaladado 7A, mostrando que o protocolo utilizado reduziu significativamente a formação de nódulos pulmonares (Figura 3). Esse resultado sugere que o ciclopaladado 7A tem uma importante ação antimetastática no melanoma murino B16F10-Nex2. 60 A Controle 7A B Figura 3: O tratamento de camundongos C57Bl/6 inoculados com células de melanoma murino com o Complexo 7A reduziu significativamente a formação de nódulos pulmonares in vivo. Células B16F10-Nex2 foram inoculadas intravenosamente em camundongos C57Bl/6. Os animais foram tratados intraperitonealmente com 200ng/kg do complexo 7A, em dias alternados durante 13 dias. No 13º dia os animais foram sacrificados e o número de nódulos pulmonares foi determinado. (A) Pulmões representativos dos animais controle e tratados com C7A. (B) Quantificação dos nódulos pulmonares em animais tratados e não tratados com o complexo 7A. Animais estão representados individualmente em cada grupo e a linha horizontal representa a média, com a barra de desvio padrão. p<0.05 61 4.3 Alterações morfológicas provocadas pelo Composto 7A: Resultados preliminares anteriores sugeriram que o ciclopaladado 7A leva células tumorais à morte por indução de apoptose. O tratamento de células B16F10-Nex2 com C7A levou à degradação do DNA celular, de forma independente de caspases 1 ou 3 (Rodrigues et al, 2003). Iniciamos os estudos para determinação dos mecanismos pelos quais o composto 7A causa morte das células tumorais pela avaliação das alterações morfológicas sofridas pelas células tratadas. Células B16F10-Nex2 foram cultivadas em lamínulas, tratadas com o quimioterápico e analisadas por microscopia. Como pode ser observado na Figura 4, células B16F10-Nex2 tratadas com a droga apresentam alterações morfológicas em tempos bastante curtos. Na presença da droga, observa-se uma retração do citoplasma e um aumento da granulosidade citoplasmática, já visíveis após 5 minutos de tratamento. A condensação nuclear fica mais evidente aos 15 minutos de incubação com a droga (Figura 4D). Esses aspectos morfológicos são característicos de eventos apoptóticos em células aderentes (Casciola-Rosen et al, 1994). 62 A B C D Figura 4: Alterações morfológicas após tratamento com o complexo 7A (10µM), observadas em microscopia óptica, como descrito em Materiais e Métodos. Células B16F10-Nex2 (5x103 células/lamínula) foram incubadas com 10µM do ciclopaladado 7A. Mudanças na morfologia celular foram observadas após 5 (B), 10 (C) e 15 (D) minutos de tratamento; (A) Células não tratadas. Barra de aumento: 200µm 63 4.4 Interação do Ciclopaladado 7A com mitocôndrias A inibição da geração de prótons pela cadeia respiratória provocada pelo composto 7A sugeriu que a mitocôndria das células tumorais poderia ser afetada pelo quimioterápico, e desta forma, avaliamos diversos parâmetros ligados a essa organela após tratamento com o C7A. O primeiro parâmetro estudado foi o potencial de membrana mitocondrial (∆Ψm) em células tratadas. Para isso, as células tumorais foram pré-tratadas com TMRE, reagente fluorescente capaz de atravessar membranas íntegras, rapidamente seqüestrado por mitocôndrias ativas e utilizado para medir o potencial de membrana dessas organelas. As células vivas foram então observadas em microscópio de fluorescência sem fixação, desde antes da adição do quimioterápico, e as mitocôndrias de várias células na presença da droga foram acompanhadas. Em condições de repouso, previamente à adição do complexo 7A, as mitocôndrias aparecem regularmente distribuídas como estruturas alongadas ao longo do citoplasma celular, com um alto valor de ∆Ψm (Figura 5A). Após a adição do complexo 7A, observou-se uma rápida redução dos valores de ∆Ψm, que se mantiveram até o momento que o FCCP foi adicionado, reagente responsável pela promoção do colapso máximo de potencial de membrana mitocondrial. As várias mitocôndrias de cada célula foram analisadas individualmente, e nas Figuras 5B, 5C e 5D estão representados gráficos que mostram as diferentes variações do ∆Ψm observadas após o tratamento com o C7A. Na Figura 5B está representada uma mitocôndria com colapso do ∆Ψm, efeito observado em 88% das mitocôndrias das células tratadas (Tabela 3). Na Figura 5C observa-se o perfil 64 de uma mitocôndria com aumento do ∆Ψm, o que foi observado em 11% das organelas analisadas (Tabela 3). E por fim, na Figura 5D está representado o perfil de organelas não responsivas à droga C7A, que correspondem somente a 1% das organelas analisadas no ensaio (Tabela 3). Esse resultado demonstrou que quase a totalidade das mitocôndrias analisadas foi afetada pelo ciclopaladado 7A, sofrendo uma diminuição ou elevação do ∆Ψm, o que leva a uma inibição do processo respiratório e da produção de energia para a manutenção da viabilidade celular. 65 A + C7A B16F10 -Nex2 + FCCP B 500 400 300 200 100 0 Intensidade de Fluorescência 1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100 C7A 1µM FCCP 5µM C 6000000 5000000 4000000 3000000 2000000 1000000 0 1 2500000 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100 C7A 1µM FCCP 5µM 2000000 D 1500000 1000000 500000 0 1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100 C7A 1µM FCCP 5µM 7A 1µM FCCP 5µM Imagem Figura 5: Tratamento das células B16F10-Nex2 com o complexo 7A provoca colapso no potencial de membrana mitocondrial (∆Ψm). (A) Imagem representativa da ∆Ψm após adição de C7A e FCCP. As fotos mostram uma das 100 imagens adquiridas a 1 quadro/6 segundos com objetiva de 40X, representativa do colapso de ∆Ψm. Barra de aumento: 20µm. Em B, C e D, gráficos representativos mostrando o colapso do potencial de membrana, aumento do potencial de membrana e mitocôndrias não responsivas, respectivamente. As setas indicam o momento de adição das drogas. 66 Tabela 3: Porcentagem de mitocôndrias totais que apresentaram variação no ∆Ψm após tratamento com o ciclopaladado 7A. C7A (%) Colapso do 88 ∆Ψm Aumento do 11 ∆Ψm Não 1 responsivas Foram também analisados outros parâmetros para confirmar a participação da mitocôndria na morte celular pela via intrínseca provocada pelo C7A. Um dos eventos pró-apoptóticos mais importantes que levam a um processo de morte celular pela via intrínseca é a translocação da proteína Bax. Bax é um membro pró-apoptótico da família Bcl-2 localizado predominantemente no compartimento citosólico em células viáveis. Quando a célula sofre qualquer estímulo apoptótico, uma fração significativa da proteína Bax é translocada para a membrana externa mitocondrial (Wolter et al, 1997). Para verificar se o tratamento com o ciclopaladado 7A induz a translocação da 67 proteína Bax para as mitocôndrias, células de melanoma murino foram transfectadas com um plasmídeo expressando a proteína quimérica fuorescente GFP-Bax, e realizou-se um ensaio em microscopia vital, aonde as células são mantidas viáveis e observadas, não fixadas, em tempo real. Como mostra a Figura 6, o complexo 7A provoca translocação de Bax para as mitocôndrias da célula. Após 2h30min, é possível visualizar a translocação da proteína Bax, caracterizada pela presença de intenso pontilhado ao longo da célula. A translocação de Bax para a mitocôndria está associada com a liberação do citocromo C da mitocôndria e ao colapso do potencial de membrana mitocondrial (Smaili et al, 2001). 68 0h A 3h 0´ B 1h30´ 30´ 1h 2h 2h30´ 3h 1h 30´ Figura 6: Complexo 7A promove translocação da proteína GFP-Bax citoplasmática para mitocôndrias em células de melanoma murino. Células B16F10-Nex2 transfectadas com a proteína GFP-Bax foram incubadas com o complexo 7A. A translocação da proteína próapoptótica Bax do citoplasma para as mitocôndrias foi observada em microscopia de fluorescência vital, com objetiva de 40X. (A) Imagem representativa de um campo onde todas as células transfectadas e tratadas com C7A sofreram translocação de Bax após 3h. Barra de aumento: 20µm. (B) Imagem representativa de uma única célula isolada em diversos tempos. 69 Recentemente foi demonstrado por Santana et al (2009) que o ciclopaladado 7B [Pd(C2,N-(R(+)dmpa)(dppe)].Cl, um enantiômero do complexo 7A, interage com grupos tióis em proteínas da membrana mitocondrial, catalisando ligações cruzadas desses grupos e levando à permeabilização mitocondrial, em ensaios utilizando mitocôndrias isoladas de fígado de rato. Para verificar se C7A poderia apresentar esse mesmo efeito, células B16F10Nex2 foram incubadas, in vitro, com C7A na presença de DTT, um agente redutor dos grupos tióis. Observamos que, na presença de DTT, o efeito citotóxico do ciclopaladado foi completamente suprimido e as células permaneceram viáveis mesmo após 2 horas de incubação com o quimioterápico (Figura 7A). O efeito do DTT na alteração do potencial de membrana mitocondrial causado pelo C7A também foi avaliado. Como mostrado nas Figuras 7B e 7C, o DTT inibiu completamente o colapso de potencial de membrana causado pelo C7A, inibindo a redução da fluorescência do indicador TMRE. Surpreendentemente, a análise individual das mitocôndrias nesse ensaio demonstrou que 85% das células que receberam o tratamento com DTT apresentaram organelas não responsivas ao ciclopaladado (Tabela 4). Somente 15% das células apresentaram aumento ou diminuição do ∆Ψm. Esses resultados sugerem que o complexo 7A interage diretamente com as proteínas presentes na membrana mitocondrial, provocando um colapso no potencial de membrana mitocondrial, translocação de Bax, com posterior liberação de citocromo C, confirmando a morte celular através da via intrínseca mitocondrial. 70 A 1 hora B C7A + DTT + FCCP 20.000.000 15.000.000 10.000.000 5.000.000 0 1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100 C Intensidade de Fluorescência B16F10 -Nex2 2 horas Imagem 7A 1µM + DTT FCCP 5µM Figura 7: Efeito in vitro do complexo 7A é completamente inibido pela adição de DTT. (A) Ensaio de citotoxicidade in vitro em presença e ausência de DTT. Células B16F10-Nex2 foram pré-incubadas com 2mM de DTT durante 15 minutos. Em seguida, as células foram tratadas com 10µM de C7A durante 1 ou 2 horas. A porcentagem de células viáveis foi comparada às células sem tratamento. (B) Imagens representativas da ∆Ψm após pré-incubação das células B16F10-Nex2 com DTT e C posterior tratamento com C7A e FCCP. As fotos mostram 3 de 100 imagens adquiridas a 1 quadro/6 segundos com objetiva de 40x. Barra de aumento: 20µm. (C) Representação gráfica da intensidade de fluorescência do ensaio. As setas indicam o momento de adição das drogas. 71 Tabela 4: Porcentagem de mitocôndrias totais que apresentaram variação no ∆Ψm após tratamento com o ciclopaladado 7A na presença de DTT. C7A +DTT (%) Colapso ∆Ψm 6 Aumento ∆Ψm 9 Não responsivas 85 4.5 Alterações mitocondriais observadas por microscopia eletrônica de transmissão em células de melanoma murino tratadas com C7A Como demonstrou-se que o ciclopaladado 7A afeta as mitocôndrias das células B16F10-Nex2, provocando um colapso do potencial de membrana totalmente inibido por DTT, e a translocação de Bax, estudamos também a morfologia dessas organelas após o tratamento com o quimioterápico. Observou-se que as mitocôndrias das células tumorais tratadas com 1µM de C7A por 15 minutos mostram-se alteradas, sem a disposição típica das cristas mitocondriais. Observou-se também que o citoplasma das células tratadas encontrava-se menos elétron-denso, e que a integridade da membrana plasmática foi mantida (Figura 8). 72 Esse resultado comprova o efeito do ciclopaladado 7A sobre as mitocôndrias da célula tumoral, induzindo um processo apoptótico intrínseco. A B M M MP N N Figura 8: Microscopia de transmissão eletrônica das células B16F10-Nex2 tratadas com o ciclopaladado 7A. (A) Células não tratadas. (B) Células tratadas com 1µM de C7A, por 15 minutos. N: núcleo; M: mitocôndria; MP: membrana plasmática. Barra da escala 0.5µm 73 4.6 Participação do cálcio no processo de morte induzido pelo Ciclopaladado 7A. A homeostase do cálcio, que se mantém em concentrações muito baixas intracelularmente, na ordem de nanomolar, é importante para a fisiologia celular e sua regulação depende de um sistema complexo (Haak et al, 2000). Alterações na concentração de cálcio podem desencadear apoptose, ou ainda exacerbar um estímulo apoptótico prévio. Avaliamos então se o tratamento com o complexo 7A poderia aumentar a concentração de cálcio intracelular, colaborando assim com a cascata pró-apoptótica. Células B16F10-Nex2 foram incubadas com o fluoróforo Fura-2AM, que permite a quantificação do cálcio intracelular. Quando as células foram incubadas em tampão contendo cálcio, observou-se que o tratamento das células de melanoma murino com o complexo 7A provoca um aumento significativo de cálcio intracelular. E quando as células tumorais foram incubadas em tampão desprovido de cálcio, observou-se também um aumento do cálcio intracelular, embora em menor intensidade (Figura 9). Esse resultado sugere que o tratamento com o ciclopaladado 7A induza a liberação de cálcio de organelas celulares (mitocôndrias, retículo endoplasmático), mas que também uma pequena concentração de cálcio extracelular é internalizada, o que potencializa o efeito apoptótico causado pelo quimioterápico. 74 B + Cálcio - Cálcio 100 50 80 40 60 30 40 20 20 10 0 0 -20 -40 0 100 200 300 400 500 -10 0 50 100 150 200 250 300 350 Imagem Razão de Fluorescência(340/380 nm) Razão de Fluorescência (340/360nm) A 100 80 * 60 40 20 0 + Cálcio - Cálcio . Figura 9: Ciclopaladado 7A induz liberação de cálcio intracelular. (A) Representação gráfica da variação da concentração de cálcio intracelular em células B16F10-Nex2 marcadas com o indicador Fura-2AM e tratadas com C7A em meio contendo ou não cálcio. Células tumorais foram pré-incubadas com FURA-2AM e tratadas no tempo 0 com C7A (B) Gráfico que representa a média da concentração do cálcio em 50 células analisadas ; *p<0,05 75 4.7 Ativação de caspases Um dos eventos característicos da apoptose é a ativação de caspases. Como nossos resultados sugerem uma morte celular por ativação da via intrínseca mitocondrial, avaliamos o perfil de caspases ativadas nestes eventos de morte celular gerados pelo ciclopaladado. O complexo 7A é capaz de ativar a caspase-3, como observado em ensaio de citometria de fluxo, de maneira bastante semelhante ao controle positivo, Actinomicina D (Figura 10A). Avaliando-se a ativação de outras caspases, agora por um método colorimétrico (Figura 10B), observou-se que o tratamento com o ciclopaladado 7A ativou todas as caspases avaliadas, caspase 2, 3, 6, 8 e 9, da mesma forma que o tratamento com a luz UV (controle positivo no ensaio). A ativação de caspases pode levar à degradação do DNA celular, levando assim a célula à morte. 76 C7A Actinomicina D A C2 C1 Ativação de Caspase 3 (%) B Controle UV 7A Figura 10: O tratamento com o ciclopaladado 7A ativa caspases nas células B16F10-Nex2. (A) Ativação de caspase 3 nas células B16F10-Nex2 após 24h de incubação com Actinomicina D (10µg) ou C7A (10µM). C1, células B16F10-Nex2 sem nenhum tratamento. C2, células B16F10-Nex2 incubadas somente com anticorpos anti-caspase 3. Amostras foram analisadas por citometria de fluxo. (B) Ativação de caspases quantificada por ensaio colorimétrico, após tratamento com C7A (10µM) ou exposição à luz UV, como descrito em Materiais e Métodos. Controle, células sem nenhum tratamento. 77 4.8 Alterações nucleares e degradação do DNA induzidas pelo Ciclopaladado7A Células B16F10-Nex2 foram incubadas com o corante fluorescente Hoechst 33342, que se liga ao DNA, com o objetivo de avaliar se o complexo 7A provoca alterações nucleares. Foram consideradas as seguintes alterações nucleares: aumento na intensidade de fluorescência do indicador Hoescht 33342 e presença de núcleos picnóticos. Observamos que o composto ciclopaladado 7A induz alterações nucleares de modo tempo dependente (Tabela 4). Na Figura 11A, observa-se que as células B16F10-Nex2 não tratadas apresentam núcleos corados e com pouca ou nenhuma condensação nuclear. Entretanto, o tratamento das células com o complexo 7A deixa os núcleos bastante fluorescentes, sugerindo uma intensa condensação nuclear, e ainda alguns núcleos picnóticos. Em seguida, foram realizadas extrações do DNA genômico de células B16F10-Nex2 após tratamento com o complexo 7A. Através desta metodologia é possível visualizar degradação do DNA característica de processo apoptótico, observando-se fragmentos com pesos moleculares múltiplos de 200 pares de bases, resultante da atividade da nuclease CAD (caspase-activated deoxyribonuclease), que é ativada por caspase-3. Podemos observar na Figura 11B que o DNA extraído das células tratadas com o C7A apresentou padrão semelhante ao observado em células que sofreram apoptose, tratadas com Actinomicina D (controle positivo do ensaio). 78 Esse resultado corrobora a ativação da caspase 3 com a consequente ativação da nuclease CAD, e que o tratamento com o ciclopaladado 7A leva células tumorais à morte por apoptose. Tabela 4: Porcentagem das células B16F10-Nex2 que apresentaram alterações nucleares como aumento na intensidade da fluorescência e núcleos picnóticos após o tratamento com o ciclopaladado 7A. Tempo (min) % 0 5 10 25 6.5 12.5 41 85 79 A Figura 11: Alterações nucleares e degradação de DNA causada pelo complexo 7A. (A) Imagens representativas das células murinas tratadas com C7A durante 0, 5, 10 e 25 minutos. O aumento da fluorescência das células marcadas com Hoechst 33342 indica condensação nuclear. As setas representam alterações nucleares tais como: aumento na intensidade de fluorescência e presença de núcleos alongados e/ou picnóticos. (B) Células B16F10-Nex2 foram tratadas durante 24h com C7A (10µM) ou Actinomicina D (Act D, 10µg). B16F0-Nex2, células sem tratamento. O DNA celular foi extraído, separado por eletroforese em gel 0.8% e visualizado pela coloração por brometo de etídio. STD: Marcador de peso molecular, fragmentos de 1Kb (Invitrogen). Barra de aumento: 20µm. 80 C7A 25` Act D 10` B B16F10 -Nex2 5` STD 0` 4.9 A morte celular causada pelo ciclopaladado 7A em células tumorais não é dependente de catepsinas Um dos ciclopaladados sintetizados, denominado Ciclopaladado 6B (Rodrigues et al, 2003), apresenta atividade antitumoral contra células leucêmicas in vitro, levando as células tumorais à morte através de um processo de apoptose por liberação de enzimas lisossomais. Este quimioterápico induz a liberação de catepsina B das organelas lisossomais, e catepsinas vem sendo implicadas na regulação das vias intrínseca e extrínseca de apoptose, assim como cogita-se que as mesmas tenham uma atividade enzimática direta sobre caspases. Para verificar se o efeito do ciclopaladado 7A poderia envolver a participação de enzimas lisossomais nas células de melanoma murino B16F10-Nex2, catepsinas foram inibidas previamente ao tratamento com o quimioterápico. Primeiramente, foi utilizado o inibidor de cisteíno-proteases E-64, capaz de atravessar a membrana das células tumorais. Após pré-incubação com o inibidor na concentração de 200, 300 ou 400µM por 120 minutos, as células foram tratadas com 1µM de C7A e a viabilidade celular foi avaliada. Como pode ser observado na Figura 12A, o pré-tratamento com E-64 não conseguiu prevenir a morte celular causada pelo complexo 7A, sugerindo que enzimas lisossomais não estejam envolvidas no processo de morte causado pelo C7A. O mesmo ensaio foi realizado utilizando um inibidor seletivo de catepsina B, o CA-074-Me (N-(L-3-trans-Propylcarbonyl-oxirane-2-carbonyl)-L-isoleucyl-L- proline methyl ester), derivado metilado e permeável do composto CA-074 (Figura 12B). Novamente, não se observou inibição do efeito do C7A. 81 As concentrações utilizadas nos ensaios descritos foram previamente determinadas como não tóxicas para células B16F10-Nex2, e são concentrações capazes de inibir seletivamente a atividade enzimática nessas células in vitro (Paschoalin, T. Comunicação pessoal). Esses resultados mostram que catepsinas não participam no processo de morte induzido pelo C7A. 82 número de células viáveis (x104) A 60 50 40 30 20 10 0 Controle 7A 1µM 200µM 350µM 500µM 200µM 350µM 500µM E-64 + 7A E-64 B 50 45 40 n° de células viáveis (x104) 35 30 25 20 15 10 5 0 Controle 7A (1µM) 10µM 5µM 2.5µM 10µM 5µM 2.5µM Figura 12: Atividade do ciclopaladado 7A sobre células tumorais não é 7A + Ca074-Me Ca074-Me dependente de catepsinas. Células B16F10-Nex2 foram pré-incubadas com inibidores e tratadas com C7A por 24h. A viabilidade celular foi derminada com Trypan Blue. (A) Diferentes concentrações de E-64 foram usadas na presença ouE-64 não de 1 µM de C7A. (B) Diferentes concentrações de Ca074-Me foram usadas na presença ou não de 1 µM de C7A. 83 4.10 Efeito do Ciclopaladado 7A no processo angiogênico Além da atividade direta sobre as células tumorais, o composto 7A pode afetar também o processo angiogênico. Este fenômeno caracteriza-se pela formação de novos vasos sanguíneos no ambiente tumoral, favorecendo assim o crescimento do tumor in vivo. Para este estudo, foi padronizado um ensaio in vitro em nosso laboratório (Paschoalin et al, 2007) onde utiliza-se células endoteliais do cordão umbilical humano (HUVECs) em presença de Matrigel. O Matrigel consiste em matriz extracelular secretada por células de sarcoma murino, que contém uma série de componentes presentes na matriz, como, por exemplo, laminina e colágeno IV, capazes de ativar a formação de neo-vasos por células endoteliais. Primeiramente, determinou-se a atividade citotóxica direta do ciclopaladado 7A in vitro sobre as células HUVECs, na ausência do Matrigel. Na Figura 13A observa-se que o complexo 7A é bastante tóxico para a linhagem de células endoteliais HUVEC, pois a concentração de 1µM é próxima do IC50 do quimioterápico. A concentração de 0.5 µM corresponde aproximadamente ao IC20 do C7A para essa linhagem celular. Desta forma, utilizamos as concentrações de 0,5 e 0,2 µM para verificar a capacidade de inibição da formação estruturas pró-angiogênicas no ensaio padronizado. Observou-se que a concentração de 0,5 µM do C7A, que inibiu 20% do crescimento da linhagem de células HUVEC in vitro, inibiu 100% da formação de estruturas pró-angiogênicas in vitro, sugerindo que o ciclopaladado 7A 84 possa também apresentar um efeito sobre a angiogênese tumoral in vivo, além da atividade citotóxica direta sobre as células tumorais. 1,4 A 1,2 Abs 570 nm 1 0,8 0,6 0,4 0,2 0 0 0,1 0,2 0,5 1 2 5 B No. estruturas pré-angiogênicas C7A (µM) 60 50 40 30 20 10 0 0 0,2 0,5 1 C7A (µM) Figura 13: Efeito do ciclopaladado 7A sobre a angiogênese. Diferentes concentrações de C7A foram diluídas em meio contendo 0,2% de SFB e adicionadas a 5x103 células HUVEC. (A) Citotoxicidade do complexo 7A sobre as células HUVECs in vitro. (B) Representação gráfica do número de estruturas pró-angiogênicas contadas por poço. As células foram cultivadas em placa de 96 poços contendo Matrigel, como descrito em Materiais e Métodos 85 5.0 RESULTADOS: COMPOSTOS DE RUTÊNIO 5.1 Compostos de Rutênio apresentam ação citotóxica in vitro Em colaboração com o Prof. Dr. Douglas Wagner Franco, foram testados compostos tetraamina rutênio doadores de óxido nítrico, que apresentam a fórmula geral trans-[Ru(NH3)4L(NO)], onde L é um ligante de estabilização do complexo e os grupos imidazol, isonicotinamida, L-histidina, piridina ou picolina foram testados (Borges et al, 1998). Alguns destes compostos, como por exemplo, trans-[Ru(NO)(NH3)4isn] (BF4)3 e trans-[Ru(NO)(NH3) 4imN] (BF4)3 já foram testados em modelo experimental de doença de Chagas, aonde observou-se que estes compostos eram capazes de lisar o parasita Trypanossoma cruzi in vitro e in vivo (Silva et al, 2009). Os compostos conseguiram eliminar ninhos de amastigotas no tecido do miocárdio, com uma dose de 400nmol/kg, garantindo a sobrevivência de todos os animais infectados. Além disso, estes compostos tetraamina rutênio doadores de óxido nítrico foram também eficientes na indução de vasodilatação, já que estes agentes induziram um efeito relaxante nos anéis da artéria aorta (Zanichelli et al, 2007). A ação do óxido nítrico é bastante variada no câncer, já que a literatura relata funções antineoplásicas versus proneoplásicas (Mocelin et al, 2007) Portanto, a atividade final do óxido nítrico no câncer é dependente do microambiente, incluindo o tipo de célula exposto ao composto, concentração intracelular final e duração da exposição intracelular ao óxido nítrico (Huerta et al, 2008). Alguns estudos demonstram que o óxido nítrico apresenta 86 propriedades antiapoptóticas em células de melanoma, enquanto que outros trabalhos sugerem que o óxido nítrico pode inibir metástases, diminuindo a resistência ao quimioterápico (Ekmekcioglu et al, 2005). Para verificar se os compostos tetraamina rutênio sintetizados com o objetivo de liberar NO apresentavam atividade antitumoral no modelo experimental de melanoma, células B16F10-Nex2 foram incubadas por 24h na presença dos diferentes compostos de rutênio sintetizados. As células viáveis pós-tratamento foram contadas e os valores de IC50 foram calculados. Como pode ser observado na Tabela 1, a maioria dos compostos nitrosados causaram redução na viabilidade da linhagem celular analisada. Com exceção do composto Ru(NO)Hedta, todos os compostos nitrosados apresentaram IC50 abaixo de 100 M. Os 3 compostos sulfatados testados, sintetizados com os mesmos ligantes para controle dos compostos doadores de NO, apresentaram IC50 acima de 100 µM, chegando a 1 mM. Baseando-se nos valores de IC50 e na estrutura dos compostos testados, escolhemos apenas três para seguir com os ensaios in vivo. Selecionamos dois compostos doadores de óxido nítrico. São eles: trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3, por apresentar o IC50 mais baixo dos compostos testados (1 M), trans- [Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3, pelo seu valor intermediário de IC50 (74 M), e como controle negativo dos experimentos, escolhemos um composto sulfatado, incapaz de liberar óxido nítrico, mas com o mesmo ligante de um dos compostos selecionados, trans-[Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl, com um valor de IC50 bastante elevado, 444 µM. 87 Em seguida, um ensaio de citotoxicidade celular in vitro sobre linhagens tumorais humanas foi realizado com os dois compostos selecionados: trans[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3 e o seu controle sulfatado trans- [Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl. Analisando as Tabelas 2 e 3 observa-se que ambos os compostos são citotóxicos contra células tumorais humanas. Entretanto, as células tumorais humanas parecem ser mais resistentes ao composto doador de óxido nítrico do que as células de melanoma murino, uma vez que os IC50 para as células humanas ficaram em torno de 300 µM enquanto para as células murinas foi de 74 µM. Já para o composto sulfatado, os valores de IC50 foram semelhantes, tanto para as células murinas como para as células humanas. Esses resultados mostram que compostos de rutênio doadores de óxido nítrico, além de atividades anti-parasitária e angiogênica, também apresentam atividade antitumoral in vitro sobre células de melanoma murino e linhagens tumorais humanas. 88 Tabela 1. Valores de IC50 dos compostos trans-[RuIII(NO+)(NH3)4(L)]3 e alguns compostos sulfatados, sintetizados como controle, testados em células de melanoma murino B16F10-Nex2 COMPOSTOS DE RUTÊNIO IC50 (µM) trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3 1 trans-[Ru(NO)(NH3)44-pic](BF4)3 6 trans-[Ru(NO)(NH3)4nic](BF4)3 20 trans-[Ru(NO)(NH3)4P(OEt)3](PF6)3 33 trans-[Ru(NO)(NH3)5](BF4)3 44 trans-[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3 74 trans-[Ru(NO)(NH3)4py](BF4)3 86 [Ru(NO)Hedta] > 4000 trans-[Ru(NH3)4isn(SO4)]Cl 137 trans-[Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl 444 trans-[Ru(NH3)4L-his(SO4)]Cl 1000 89 Tabela 2. Valores de IC50 do composto trans-[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3 em células tumorais humanas tratadas in vitro. Linhagens tumorais humanas IC50 (µM) A2058 335 HCT 287 Siha 333 Tabela 3. Valores de IC50 do composto trans-[Ru(NH3)4imN](SO4)]Cl em células tumorais humanas tratadas in vitro. Linhagens tumorais humanas IC50 (µM) SKMel25 338 SKMel28 297 HCT 271 LS180 399 Siha 272 MDA 319 MCF-7 459 U-87 389 HL-60 436 90 5.2 Alterações morfológicas causadas por Compostos de Rutênio nas células tumorais in vitro Para determinar o mecanismo de ação pelo qual os compostos de rutênio nitrosados poderiam estar levando as células tumorais à morte, foram primeiramente analisados os aspectos morfológicos das células B16F10-Nex2 tratadas com um dos compostos doadores de óxido nítrico, o trans[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3, daqui para frente denominado de RuImNO e com o composto controle trans-[Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl, denominado RuImSO4. Após o tratamento das células por 24h com as doses de IC50 já mostradas na Tabela 1, pode-se observar alterações morfológicas bastante significativas (Figura 1). As células incubadas na presença do composto RuImNO mostram uma completa destruição celular, com perda da integridade de membrana, liberação do conteúdo citoplasmático, e intensa formação de debris. Essas características morfológicas sugerem a indução de um processo necrótico pelo composto nitrosado. Por outro lado, as células de melanoma murino tratadas com o composto RuImSO4 mostram uma retração citoplasmática, com a manutenção da integridade da membrana plasmática, sugerindo a indução de um processo apoptótico de morte celular. 91 200X 400X Controle RuImNO RuImSO4 Figura 1: Alterações morfológicas nas células tumorais murinas após o tratamento com os compostos trans-[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3 (RuImNO) e trans-[Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl (RuImSO4). Células B16F10-Nex2 (5x103 células/poço) foram incubadas com os valores de IC50 dos respectivos compostos. Mudanças na morfologia celular foram observadas após 24h de incubação, em microscópio ótico NiKon Eclipse E600, em aumentos de 200 e 400 X, em contraste de fase, como descrito em Materiais e Métodos. Barra de aumento: 20µm. 92 5.3 Degradação de DNA provocada por Compostos de Rutênio Em seguida, foi avaliada a integridade do DNA após o tratamento com os compostos RuImNO e RuImSO4. O DNA genômico foi extraído das células B16F10-Nex2 após o tratamento com o IC50 dos compostos por 24h. Pode-se observar na Figura 2 que o DNA extraído das células tratadas apresentou padrão de degradação semelhante ao observado em células que sofreram apoptose induzida por 10 µM de Camptotensina, conhecido agente indutor de apoptose. 93 - 1 B 6 F 0 vd a Z vd a - Z - Z + Z + m n IO N + + stC a n m p o ie IN m n O stC a n m p o ie B16F10-Nex2 + RuImSO4 - - B16F10-Nex2 + Captotensina e N 2 x+ vd a a vd B16F10-Nex2 Standard 1 B 6 F 0 m n IO N B16F10-Nex2 + RuImNO - B16F10-Nex2 + Captotensina B16F10-Nex2 Standard a tn S d r e N 2 x stC a n m p o ie stC a n m p o ie e N 2 x+ N xe 2 + - - 1 B 6 F 0 0 1 F 6 B = 0 N 1 F xB 6 e 2 + Figura 2: Degradação de DNA causada pelos compostos RuImNO e RuImSO4. Células B16F10-Nex2 foram tratadas durante 24h RuImNO (74µM), RuImSO4 (444µM) e Camptotensina (10µM). O DNA celular foi extraído e separado por eletroforese em gel 0.8% e visualizado pela marcação por brometo de etídio. Standard: Marcador de peso molecular, fragmentos de 1Kb (Invitrogen). B16F10Nex2, células controle não tratadas. 94 5.3 Efeito do RuImNO na angiogênese Existem vários relatos na literatura demonstrando o papel do óxido nítrico na progressão tumoral, principalmente promovendo a angiogênese no microambiente tumoral, facilitando o crescimento do tumor in vivo (Bonavida et al, 2006; Ambs et al, 1998). Entretanto, existem relatos que, dependendo da concentração, o óxido nítrico pode inibir o desenvolvimento tumoral (Huerta et al, 2008). Desta forma, analisamos o efeito do composto RuImNO no processo angiogênico in vitro. Inicialmente, foi analisado se o composto apresentava ação direta in vitro sobre as células HUVECs, na ausência do Matrigel. A Figura 3A mostra que o composto RuImNO não apresenta atividade inibitória significativa sobre a viabilidade das células endoteliais humanas nas concentrações utilizadas, de 10 a 500 µM. Na concentração mais alta houve uma redução de cerca de 25% na viabilidade celular quantificada por MTT. Para a verificação do efeito do complexo RuImNO no processo de angiogênese, foi utilizado um ensaio in vitro, padronizado em nosso laboratório por Paschoalin et al , 2007, com as concentrações de 25, 100 e 250µM do complexo, e cultivo das células em presença de Matrigel. Após 18h de incubação, o número de estruturas pré-angiogênicas foram contadas como descrito em Materiais e Métodos (Figura 3B) e representadas graficamente como mostrado na Figura 3C. Observa-se que nas concentrações de 100 e 250µM, o composto RuImNO foi capaz de inibir significativamente a formação de novos vasos, sugerindo que in vivo o complexo de Rutênio doador de NO 95 pode também apresentar um efeito desenvolvimento tumoral. 96 antiangiogênico, interferindo no Abs (570nm) A 0 B B 10 25 50 100 250 500 RuImNO (µM) 250 µ M C 100 µ M 25 µ M nº de estruturas pré-angiogênicas Controle 0 250 100 25 RuImNO (µM) Figura 3: Efeito do composto RuImNO sobre a angiogênese. O quimioterápico foi diluído em meio contendo 0.2% de SFB em diferentes concentrações e incubado na presença de 5x103 células HUVEC. As células foram adicionadas em placa de 96 poços contendo Matrigel. (A) Citotoxicidade in vitro do composto sobre as células HUVECs. (B) Fotos representativas da formação de estruturas pré-angiogênicas após 18h de incubação na presença de Matrigel. (C) Representação gráfica do número de estruturas pré-angiogênicas contadas. Cada ponto foi feito em triplicata. 97 5.4 Estabelecimento de protocolo terapêutico in vivo para avaliação do efeito antitumoral dos Compostos de Rutênio Foram realizados ensaios in vivo com os dois compostos de rutênio doadores de NO selecionados pelos valores de IC50 obtidos in vitro, como descrito anteriormente. Camundongos C57Bl/6 foram desafios subcutaneamente com 5x104 células B16F10-Nex2. No dia seguinte após o desafio, os animais foram tratados com injeções intraperitoneais com diferentes doses dos seguintes compostos: trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3 ou RuIsnNO, e trans- [Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3, ou RuImNO. Ambos os compostos apresentam estruturas químicas bastante semelhantes, possuindo um átomo de Rutênio complexado a 4 moléculas de NH3, que se liga ao NO e a um ligante que estabiliza a estrutura. A diferença entre os dois é o ligante que estabiliza a molécula: o composto RuImNO possui um grupo Imidazol como ligante, enquanto que o composto RuIsnNO possui o grupo isonicotinamida. Foram usadas as concentrações de 100nmol e 500nmol por dose, por animal para o composto RuImNO e de 10 e 100nmol por dose, por animal para o composto RuIsnNO. A concentração selecionada dos compostos para os ensaios in vivo baseou-se nas concentrações utilizadas em ensaios com animais Balb/c para o tratamento experimental da Leishmaniose e da Doença de Chagas, aonde observou-se que o tratamento foi bastante eficiente. Cada grupo de animais foi tratado durante duas semanas em dias alternados. Após este período, os animais foram acompanhados para avaliação do desenvolvimento tumoral e valores de sobrevida. 98 A Figura 4 mostra a evolução tumoral e as porcentagens de sobrevida dos animais tratados com RuIsnNO. Observa-se que o tratamento dos animais com a dose de 10nmol foi mais eficiente do que o tratamento com a dose de 100nmol. Observou-se que 40% e 20% dos animais ficaram livres de tumor nas doses de 10 e 100nmol, respectivamente, sugerindo que doses menores do composto apresentam menor toxicidade in vivo. No entanto, observa-se claramente que enquanto um grupo de animais responde ao tratamento, o desenvolvimento tumoral de alguns animais (60% e 80% para as doses de 10 e 100nmol, respectivamente) não é afetado pela droga, e os tumores se desenvolvem de forma muito similar aos animais não tratados. No tratamento com o composto RuImNO, tanto no grupo de animais tratados com 100nmol do composto como no grupo que recebeu 500nmol da droga observou-se que 40% dos animais ficaram livres de tumor (Figura 5). Novamente, observam-se 2 grupos distintos de animais: os responsivos, que são protegidos; e os não responsivos, que para este composto parecem desenvolver os tumores de forma mais exacerbada que os controles não tratados, indo a óbito mais rapidamente. Apesar do efeito terapêutico dos compostos RuIsnNO e RuImNO in vivo sobre um grupo de animais responsivos, tanto na Figura 4 quanto na Figura 5 nota-se que existem alguns animais do grupo tratado que morrem precocemente, até mesmo antes dos animais do grupo tratado apenas com PBS, com volumes tumorais abaixo dos 3 cm3. Isso se deve provavelmente ao efeito tóxico destes compostos doadores de óxido nítrico. Observamos que durante as semanas de tratamento, os animais que recebiam os compostos ficaram bastante debilitados. Havia queda de pêlos e alguns animais perdiam 99 peso (dados não mostrados). Estes sintomas também foram observados nos animais livres de tumor. Ao término das duas semanas de tratamento, estes animais se recuperavam, mantendo assim os níveis de sobrevida em cerca de 40%. Para diminuir essa possível toxicidade, um novo protocolo com o composto RuImNO em dose mais baixa, 50nmol por animal, e com a dose já testada anteriormente de 100nmol por animal, foi avaliado. Após o desafio subcutâneo com 5x104 células B16F10-Nex2, os animais foram inoculados com o quimioterápico intraperitonealmente durante duas semanas. Na primeira semana os animais receberam o tratamento em dias consecutivos, enquanto que na semana seguinte o tratamento se deu em dias alternados. Não foi observada diminuição no efeito tóxico ou melhora no efeito terapêutico do composto nesse novo protocolo (dados não mostrados). Para avaliar se a atividade antitumoral e, ao mesmo tempo, tóxica para os animais era devido a liberação do óxido nítrico pelos compostos nitrosados, ensaios in vivo foram realizados com o composto controle sulfatado RuImSO4. Este composto possui uma molécula de sulfato no sítio de coordenação do óxido nítrico e tem como ligante o grupo imidazol, e foi sintetizado primariamente como controle do composto nitrosado com o mesmo ligante de estabilização. No primeiro protocolo terapêutico utilizado, após o desafio com as células tumorais, os animais receberam doses do composto RuImSO4 em dias alternados pelo período de duas semanas. Surpreendentemente, como mostra a Figura 6, 80% e 50% dos animais que receberam as doses de 100nmol e 100 500nmol, respectivamente, ficaram livres de tumor. Na dose de 100 nmol, somente 1 animal de um grupo de 5 desenvolveu tumor subcutâneo, e mesmo assim, com um retardo significativo em relação ao grupo controle. Já na dose de 500nmol observou-se novamente a existência de um grupo de 50% de animais não responsivos ao tratamento. Mais importante, não foi observado efeito tóxico deste composto nos animais tratados. O mesmo ensaio foi realizado com uma menor concentração do composto RuImSO4. Os animais foram tratados com 50nmol ou 100nmol do composto RuImSO4 por 2 semanas em dias alternados. Observa-se na Figura 7 que ambas as doses se mostraram bastante eficientes na inibição do desenvolvimento tumoral. Houve um aumento significativo na sobrevida dos animais tratados com a dose de 100nmol, e o tratamento com 50nmol de RuImSO4, além de não ter ocasionado efeitos colaterais, protegeu cerca de 30% dos animais, que ficaram livres de tumores. Em ambas as doses, houve um retardo significativo no desenvolvimento tumoral da maioria dos animais tratados, comparados ao grupo de animais tratados com PBS. Utilizou-se também o protocolo onde os animais eram inoculados na primeira semana em dias consecutivos e na segunda semana em dias alternados com essas 2 doses, e não observou-se melhora na resposta terapêutica ao composto (dados não mostrados). Como o composto sulfatado e com o ligante de imidazol mostrou-se mais efetivo nos protocolos in vivo do modelo subcutâneo do melanoma murino, ele também foi testado no modelo de metástase pulmonar. Animais C57Bl/6 foram desafiados endovenosamente com 5x105 células B16F10-Nex2, e no dia seguinte após o desafio, iniciou-se o tratamento com 100nmol do composto 101 RuImSO4, com injeções intraperitoneais, em dias alternados. No 13º dia, os animais foram sacrificados e o número de nódulos pulmonares foi avaliado. Como mostra a Figura 8, o tratamento com o composto RuImSO4 levou a uma redução significativa na formação de nódulos pulmonares, demonstrando que o composto é ativo tanto no tratamento de tumores primários como metastáticos. 102 3000 100 2500 Sobrevida (%) Volume tumoral (mm 3) A 80 2000 60 1500 40 1000 20 500 0 0 20 25 30 35 Dias após o desafio B 20 40 60 RuIsnNO 10nmol PBS 3000 100 2500 Sobrevida (%) Volume tumoral (mm3) 30 40 50 Dias após o desafio 80 2000 60 1500 40 1000 20 500 0 0 20 25 30 35 Dias após o desafio 20 40 30 40 50 Dias após o desafio 60 RuIsnNO 100nmol PBS Figura 4: Composto RuIsnNO no tratamento de animais desafiados com células de melanoma murino. Animais C57Bl/6 foram desafiados subcutaneamente com células de melanoma murino B16F10-Nex2. No dia seguinte, iniciou-se o tratamento intraperitoneal com RuIsnNO ou PBS por 2 semanas em dias alternados. (A) Animais tratados com 10nmol/kg. (B) Animais tratados com 100nmol/kg. Foram utilizados 10 animais para o grupo controle e 5 animais para o grupo experimental. Estão representados o volume tumoral individual medido a cada 3 dias, como descrito em Materiais e Métodos, e a sobrevida dos animais, observada por até 60 dias. 103 A Volume tumoral (mm3) 3000 100 Sobrevida (%) 2500 80 2000 60 1500 1000 40 500 20 0 20 25 30 35 40 Dias após o desafio 25 28 30 32 34 36 38 40 42 44 Dias após o desafio RuImNO 100nmol 100 3000 Sobrevida (%) B Volume tumoral (mm3) PBS 80 2500 2000 60 1500 40 1000 20 500 0 20 25 30 35 Dias após o desafio 25 40 28 30 32 34 36 38 40 42 Dias após o desafio RuImNO 500nmol PBS Figura 5: Composto RuImNO no tratamento de animais desafiados com células de melanoma murino. Animais C57Bl/6 foram desafiados subcutaneamente com células de melanoma murino B16F10-Nex2. No dia seguinte, iniciou-se o tratamento intraperitoneal com RuImNO ou PBS por 2 semanas em dias alternados. (A) Animais tratados com 100nmol/kg do composto. (B) Animais tratados com 500nmol/kg do composto. Foram utilizados 10 animais para o grupo controle e 5 animais para o grupo experimental. Estão representados o volume tumoral individual medido a cada 3 dias, como descrito em Materiais e Métodos, e a sobrevida dos animais, observada por até 42 dias. 104 3000 100 2500 Sobrevida (%) Volume tumoral (mm3) A 80 2000 60 1500 40 1000 20 500 0 20 25 30 35 Dias após o desafio 0 40 60 100 2500 Sobrevida (%) Volume tumoral (mm3) 3000 2000 1500 1000 500 0 35 40 45 50 55 Dias após o desafio RuImSO4 100nmol PBS B 30 20 25 30 35 Dias após o desafio 80 60 40 20 0 40 30 35 40 45 50 55 Dias após o desafio 60 RuImSO4 500nmol PBS Figura 6: Composto RuImSO4 no tratamento de animais desafiados com células de melanoma murino. Animais C57Bl/6 foram desafiados subcutaneamente com células de melanoma murino B16F10-Nex2. No dia seguinte, iniciou-se o tratamento intraperitoneal com RuImSO4 ou PBS por 2 semanas em dias alternados. (A) Animais tratados com 100nmol/kg do composto. (B) Animais tratados com 500nmol/kg do composto. Foram utilizados 10 animais para o grupo controle e 5 animais para o grupo experimental. Estão representados o volume tumoral individual medido a cada 3 dias, como descrito em Materiais e Métodos, e a sobrevida dos animais, observada por até 60 dias. 105 3000 100 2500 Sobrevida (%) Volume tumoral (mm3) A 2000 1500 1000 60 40 20 500 0 80 20 30 40 55 Dias após o desafio 0 20 25 60 RuImSO4 50nmol 3000 100 2500 Sobrevida (%) Volume tumoral (mm3) PBS B 2000 1500 1000 500 0 30 35 40 45 50 55 60 Dias após o desafio 80 60 40 20 15 20 25 30 35 Dias após o desafio 40 0 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 Dias após o desafio RuImSO4 100nmol PBS Figura 7: Composto RuImSO4 promove aumento de sobrevida dos animais desafiados com células de melanoma murino. Animais C57Bl/6 foram desafiados subcutaneamente com células de melanoma murino B16F10Nex2. No dia seguinte, iniciou-se o tratamento intraperitoneal com RuImSO4 ou PBS por 2 semanas em dias alternados. (A) Animais tratados com 50nmol/kg do composto. (B) Animais tratados com 100nmol/kg do composto. Foram utilizados 10 animais por grupo. Estão representados o volume tumoral individual medido a cada 3 dias, como descrito em Materiais e Métodos, e a sobrevida dos animais, observada por até 60 dias. 106 A RuImSO4 B Figura 8: Composto RuImSO4 foi capaz de reduzir significativamente a formação de nódulos pulmonares in vivo. Células B16F10-Nex2 foram inoculadas intravenosamente em camundongos C57Bl/6. Os animais foram tratados intraperitonealmente com 100nmol/kg do composto, em dias alternados. Após 13 dias, os nódulos pulmonares foram contados. (A) Pulmões representativos dos animais controle e tratados com RuImSO4. (B) Quantificação dos nódulos pulmonares em animais tratados e não tratados com o composto RuImSO4. Foram utilizados 4 animais no grupo controle e 5 animais no experimental. As barras horizontais representam a média dos valores individuais 107 5.6 Determinação do mecanismo de ação do composto RuImSO4. Dentre todos os compostos de Rutênio avaliados na terapia do melanoma murino in vivo, o composto RuImSO4 foi, sem dúvida, o que apresentou melhores resultados e menores efeitos colaterais para os animais tratados. Este resultado nos surpreendeu, uma vez que a idéia inicial era testar os compostos de rutênio doadores de óxido nítrico e os compostos sulfatados funcionariam apenas como controle para os ensaios. Resolvemos, então, avaliar no composto sulfatado o que estaria interferindo com o desenvolvimento tumoral, se a atividade estava relacionada ao átomo metálico de Rutênio, ou ainda se os ligantes também tinham participação no efeito terapêutico do quimioterápico. Para determinar o papel do ligante estabilizador desse complexo, realizou-se um ensaio in vitro, onde as células de melanoma murino B16F10Nex2 foram incubadas com várias concentrações de imidazol (1,3-Diaza-2,4cyclopentadiene, Sigma Aldrich). Após 24h, a viabilidade celular foi avaliada. O ligante Imidazol sozinho não foi capaz de reduzir a viabilidade das células tumorais murinas in vitro (Figura 9). Para determinarmos o papel do átomo metálico de Rutênio na ausência de um grupamento sulfato no efeito antitumoral do composto RuImSO4, utilizou-se um derivado desse composto, onde o ligante de estabilização Imidazol foi substituído por um grupo trietilfosfito e o sulfato foi substituído por NO, o trans-Ru(NO)(NH3)4P(OCH2CH3)3 (representado na Figura 10A). O ligante trietilfosfito [P(OCH2CH3)3, ou P(OEt)3] é um composto organofosforado utilizado amplamente como ligante na química organometálica, e que se 108 degrada facilmente em dietil- e monofosfito. A característica mais marcante desse derivado trans-Ru(NO)(NH3)4P(OCH2CH3)3 é a extremamente rápida liberação do NO de seu sítio de coordenação e a entrada de uma molécula de água, devido à influência do ligante trietilfosfito presente. Desta forma, esse derivado em solução não contém o grupo sulfato, que foi substituído por uma molécula de água, e que foi denominado aqui de composto “Aquo”. Em ensaio in vivo, o composto “Aquo” não foi capaz de interferir no desenvolvimento tumoral ou na sobrevida dos animais tratados, quando comparado aos animais tratados com PBS (Figura 10B), sugerindo que o átomo de Rutênio sozinho não apresenta o efeito terapêutico observado com o composto RuImSO4. Animais tratados com o composto RuIsnSO4, onde o ligante de estabilização é o grupo isonicotinamida, na presença do grupo sulfato, apresentaram maior sobrevida e retardo no desenvolvimento tumoral nas 2 doses utilizadas, 50 e 100nmol (Figura 11). Esses resultados em conjunto sugerem que o efeito terapêutico dos compostos sulfatados de Rutênio deve-se à estrutura química do composto, contendo o átomo de metal coordenado com os ligantes NH3, um ligante de estabilização inespecífico e um grupo sulfato. 109 Imidazol 45 númerode célulasviáveis(104) 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Controle 1800 1000 500 180 18 2 Concentração(µM) Figura 9: Viabilidade celular após tratamento com Imidazol in vitro. Células B16F10-Nex2 foram incubadas na presença de diferentes concentrações de Imidazol (1,3-Diaza-2,4-cyclopentadiene, Sigma Aldrich). Controle, células não tratadas. Após 24h, a viabilidade foi avaliada utilizando o corante de exclusão Trypan Blue. p> 0,05 para todos os pontos comparados ao Controle. 110 A H2 O Sobrevida (%) B Dias após o desafio Figura 10: O átomo metálico de Rutênio não é capaz de interferir no desenvolvimento tumoral in vivo. (A) Representação esquemática dos compostos de Rutênio envolvidos neste ensaio. (B) Sobrevida dos animais tratados com 100nmol/kg do composto Aquo ou PBS. 111 A Sobrevida (%) Volume tumoral (mm3) 100 3000 2500 2000 1500 1000 80 60 40 20 500 0 20 30 40 50 Dias após o desafio 0 20 60 RuIsnSO4 50nmol PBS 100 3000 Sobrevida (%) Volume tumoral (mm3) B 25 30 35 40 45 50 55 60 Dias após o desafio 2500 2000 1500 1000 80 60 40 20 500 0 15 20 25 30 35 40 45 0 10 50 20 30 40 Dias após o desafio Dias após o desafio 50 RuIsnSO4 100nmol PBS Figura 11: Efeito do composto RuIsnSO4 sobre animais desafiados com células de melanoma murino. Animais C57Bl/6 foram desafiados subcutaneamente com células de melanoma murino B16F10-Nex2. No dia seguinte, iniciou-se o tratamento intraperitoneal com RuIsnSO4 ou PBS por 2 semanas em dias alternados. (A) Animais tratados com 50nmol/kg do composto. (B) Animais tratados com 100nmol/kg do composto. Foram utilizados 10 animais por grupo. Estão representados o volume tumoral individual medido a cada 3 dias, como descrito em Materiais e Métodos, e a sobrevida dos animais, observada por até 60 dias. 112 A análise morfológica por microscopia óptica, mostrada na Figura 1, sugere que as células tratadas com este composto estejam sofrendo um processo apoptótico, já que se observam alterações morfológicas significativas, com a manutenção das membranas celulares. Ensaios foram então realizados para determinar o tipo de morte celular que o tratamento com os compostos sulfatados estava induzindo, em colaboração com a Dra. Denise Arruda, Unidade de Oncologia Experimental, UNIFESP. Primeiramente, foi realizado ensaio para marcação fluorescente com Anexina V e Iodeto de Propídio (PI), e leitura em citometria de fluxo. Neste ensaio, células apoptóticas apresentam marcação positiva para Anexina V, pois este marcador se liga diretamente à fosfatidilserina externalizada na membrana de células apoptóticas. A marcação com PI sugere processo necrótico, indicando que houve um aumento na permeabilidade da membrana com o corante entrando livremente e corando o núcleo das células. A dupla marcação caracteriza as fases finais do processo de morte celular. O gráfico da Figura 12 sugere que as células tumorais tratadas com o composto sulfatado RuImSO4 sofrem um processo de morte por apoptose, pois há um aumento expressivo das células marcadas com Anexina V, chegando a 12% após 12h de tratamento com o quimioterápico. Analisando o núcleo das células tratadas com o composto sulfatado e coradas com o corante Hoechst 33342, observa-se que após 24h de tratamento com a dose correspondente ao IC50, as células de melanoma murino mostram-se com núcleos condensados (Figura 13). A contagem das células com este fenótipo demonstrou que na população estudada, aproximadamente 70% das células de melanoma murino tratadas com o 113 composto sulfatado apresentavam núcleos condensados como os mostrados na Figura 13. Por fim, utilizou-se a metodologia de TUNEL para verificar o tipo de morte celular que o composto de rutênio sulfatado induziu nas células de melanoma murino. Neste ensaio, uma enzima específica que reconhece terminações de DNA (TdT) insere nucleotídeo fluorescente a cada terminação, o que faz com que a fluorescência seja proporcional à quantidade de fragmentos de DNA presentes em células submetidas a um estimulo apoptótico. Observou-se que as células tratadas com o quimioterápico apresentaram marcação positiva no ensaio, enquanto células não tratadas não apresentaram marcação (Figura 14). Estes resultados sugerem que células de melanoma murino B16F10Nex2 tratadas com o composto RuImSO4 entrem em processo de apoptose, como demonstrado pelas condensação nuclear, fragmentação do DNA e exposição de fosfatidilserina na superfície celular. 114 25 Célulaspositivas(%) 20 15 Anexina+ PI+ 10 Anexina+ PI+ 5 0 3h 6h 12h Figura 12: Marcação de Anexina e PI em células de melanoma murino B16F10Nex2 após tratamento com composto RuImSO4. Gráfico representativo da porcentagem de células positivas para Anexina V e/ou PI, quantificadas em citometria de fluxo como descrito em Materiais e Métodos. 115 A B Figura 13: Alterações nucleares causada pelo composto RuImSO4. (A) Células B16F10-Nex2 murinas não tratadas e coradas com o corante Hoechst 33342. (B) Células B16F10-Nex2 tratadas durante 24h com RuImSO4 e coradas com Hoechst 33342. Metodologia descrita em Materiais e Métodos. Nota-se, ao centro, células com alterações nucleares (setas). Barra de aumento: 20µm. 116 Fase Dapi TdT Controle RuImSO4 Figura 14: Ensaio de TUNEL em células de melanoma murino B16F10-Nex2 tratadas com composto RuImSO4. Imagens representativas das células murinas tratadas ou não com RuImSO4 e submetidas ao ensaio de TUNEL, como descrito em Materiais e Métodos. Fase, visualização das células em microscopia de fase; Dapi, células coradas com o corante nuclear Dapi; TdT, células após ensaio de TUNEL. Barra de aumento: 20µm 117 6.0 DISCUSSÃO 6.1 Composto ciclopaladado C7A : mecanismo de ação Complexos de paládio obtidos a partir da reação do dmpa (N,N-dimethyl1-phenethylamine) com derivados de diphenylphoshine (dppe) e dppf mostraram-se potenciais agentes antitumorais em ensaios pré-clínicos. Um dos complexos sintetizados com os derivados dppe [1,2- ethanebis(diphenylphosphine)] mostrou atividade antitumoral in vitro e in vivo contra o modelo singeneico e de baixa imunogenicidade do melanoma murino B16F10-Nex2, parecendo exercer seu efeito citotóxico sobre mitocôndrias, embora o mecanismo de ação não tenha sido completamente elucidado (Rodrigues et al, 2003). Um outro complexo ciclopaladado, sintetizado com o derivado dppf [1,1’-bis(diphenylphosphine)ferrocene] induziu a permeabilização de lisossomas em células leucêmicas humanas K562, o que levou as células à apoptose por via lisossomal (Barbosa et al, 2006). Esses resultados demonstram que a ação antitumoral dos complexos ciclopaladados é o resultado de uma atividade organela-específica, e que esses compostos não compartilham um único mecanismo de ação. Neste trabalho nós elucidamos o mecanismo de ação do enantiômero S(-) do dppe-Ciclopaladado, denominado de Complexo Ciclopladado 7A, ou C7A. Estudos anteriores de nosso grupo demonstraram a eficácia antineoplásica in vitro e in vivo do Ciclopaladado 7A em células de melanoma murino B16F10-Nex2 (Rodrigues et al, 2003). Esse composto foi selecionado 118 pelo seu marcante efeito in vivo, dentre vários compostos ciclopaladados testados no modelo. Animais tratados com o C7A apresentaram um retardo no desenvolvimento tumoral e um aumento significativo na sobrevida. In vitro, o ciclopaladado 7A reduziu muito rapidamente a acidificação extracelular, que atingiu valores 80% menores após 40 minutos de incubação, e reduziu a acidificação extracelular em 100% após 110 minutos de incubação, o que mostra a inibição do metabolismo e também da geração de prótons na cadeia respiratória pelo composto. Foi também demonstrada degradação do DNA, e não foi observada ativação de caspases efetoras 1 e 3, o que sugeriu que o quimioterápico levasse as células à morte por indução de um processo apoptótico independente de caspases. Foi também demonstrada uma interação do C7A com um plasmídeo por dicroismo circular, sugerindo que o efeito do quimioterápico poderia ser semelhante ao efeito da Cisplatina, que interage com o DNA celular ativando a via apoptótica por ativação de p53 (Sedletska et al, 2005) Neste trabalho demonstramos que o ciclopaladado 7A também é ativo in vitro contra diversas linhagens de células tumorais humanas. Quase todas as células tumorais humanas testadas respondem muito bem ao tratamento com o C7A, com doses de IC50 relativamente baixa, abaixo de 500 nanomolar. A eficácia do quimioterápico em doses baixas é muito importante, pois isso pode indicar uma atenuação de possíveis efeitos colaterais, tão comuns em quimioterápicos antitumorais já utilizados. As doses efetivas de Cisplatina sobre essas mesmas células foram cerca de 200 a 1.300 vezes maiores. Este efeito citotóxico acentuado in vitro não foi observado em linhagens tumorais de leucemia (HL60) e glioblastoma (U87) humanas, que mostraram 119 um IC50 para o quimioterápico de 1 e 3.5µM, respectivamente, sugerindo que alguns tipos tumorais podem ser mais resistentes ao C7A. Mesmo assim, as doses efetivas foram muito abaixo das doses efetivas de Cisplatina, que foram 70 e 43 vezes maiores para a linhagem HL-60 e U87, respectivamente. Foi demonstrado anteriormente que o ciclopaladado 7A apresenta baixa toxicidade in vivo. Concentrações crescentes do complexo foram inoculadas em camundongos C57Bl/6, de 10 a 60µM, 3 doses em dias alternados para cada concentração, e ao final do experimento vários órgãos foram analisados histologicamente, não se observando alterações significativas (Rodrigues et al, 2003). Complementando esse resultado, a incubação de macrófagos murinos e eritrócitos humanos na presença de várias concentrações relativamente elevadas do composto C7A, não levou essas células à morte. O fato do C7A não causar a lise dos eritrócitos humanos sugere que este composto não age diretamente sobre a membrana celular, mas em organelas essenciais para a manutenção da homeostase da célula. A rápida redução na atividade respiratória observada após o tratamento das células tumorais humanas com o C7A sugere que o mecanismo de ação do quimioterápico seja o mesmo tanto em células tumorais murinas como humanas, envolvendo a participação da mitocôndria no processo de morte causado pelo composto. Nossos resultados demonstraram que o C7A interage diretamente com proteínas contendo grupos tiol na membrana mitocondrial. A inibição, com o agente redutor DTT, do colapso no potencial de membrana mitocondrial e no 120 efeito citotóxico in vitro sobre as células tumorais causados pelo C7A comprovou a participação de proteínas contendo grupos tiol na permeabilização da membrana mitocondrial. Esse mesmo efeito foi observado por Santana et al (2009) quando estudaram o efeito do C7A e do enantiômero R(+) do C7A, o complexo [Pd(C2,N-(R(+)dmpa)(dppe)].Cl, sobre mitocôndrias isoladas de hepatócitos de rato. Nesse estudo foi demonstrado que os paladociclos induziram inchaço da mitocôndria independente de cálcio, permeabilização mitocondrial, desligamento da fosforilação oxidativa e liberação de cálcio mitocondrial, efeitos totalmente prevenidos pelo tratamento com DTT. Foi observado um decréscimo na quantidade de grupos tiol reduzidos nas proteínas da membrana mitocondrial, e também presença de agregados proteicos na membrana da mitocôndria, possivelmente formados pela indução de pontes dissulfeto entre grupos tiol de proteínas de membrana vicinais, catalizadas pelo ciclopaladado. Esses efeitos levaram à liberação de citocromo C, demonstrando uma alta e específica reatividade do ciclopaladado com grupos tiol de proteínas da membrana mitocondrial, catalisando a formação de pontes dissulfeto que levam à permeabilização da mitocôndria, e a um efeito pró-apoptótico dos dppeciclopaladados. A reatividade dos ciclopaladados com grupos tiol presentes em proteínas foi também demonstrado para os complexos dppf-ciclopaladados, que mostram uma atividade inibitória sobre a Catepsina B, uma cisteínoprotease que contém um grupo tiol no seu sítio catalítico (Barbosa et al, 2006). Nosso trabalho, realizado com células íntegras e viáveis, utilizando métodos microscópicos que mantém a viabilidade celular, portanto, em um 121 sistema extremamente complexo, corroboram esses resultados obtidos com a mitocôndria isolada. Tanto C7A como seu enantiômero R(+) apresentaram efeitos semelhantes sobre mitocôndrias isoladas de hepatócitos de rato, mas o enantiômero R(+) foi o mais potente nas condições in vitro do estudo (Santana et al, 2009). Interessante observar que o enantiômero R(+) não apresentou efeito in vivo contra o melanoma murino B16F10-Nex2, embora tenha apresentado efeito citotóxico in vitro com IC50 semelhante ao C7A, abaixo de 1.25µM (Rodrigues et al, 2003), sugerindo que os enantiômeros possam ser absorvidos e apresentem biodisponibilidades diferentes in vivo. Já foi demonstrado que a depleção de ATP causa uma rápida desfosforilação de proteínas próapoptóticas da família Bcl-2, translocação de Bax para a mitocôndria, permeabilização da membrana externa mitocondrial e subseqüente morte celular (Xu et al, 2005). Não há dúvida de que as mitocôndrias desempenham um papel central na morte celular programada. Alguns parâmetros de desregulação mitocondrial têm sido descritos como características próprias de um processo apoptótico: perda do potencial de membrana mitocondrial, a interrupção do transporte de elétrons e fosforilação oxidativa, a geração de espécies reativas de oxigênio e liberação de fatores próapoptóticos, que desencadeiam a ativação de caspases. Já que tal organela desempenha um papel fundamental no desencadeamento de apoptose, há um grande interesse em explorar as suas funções próapoptóticas para interferir no crescimento de células tumorais. (Dias & Bailly, 2005). 122 Nossos resultados demonstram que o ciclopaladado 7A causou uma rápida queda no potencial de membrana mitocondrial, alterando assim a permeabilidade da membrana desta organela, comprovada pela imagem da microscopia eletrônica, que mostra um claro inchaço das estruturas mitocondriais nas células tumorais de melanoma murino B16F10-Nex2 tratadas com o C7A. Existe uma série de compostos antitumorais que agem dessa mesma maneira são descritos na literatura. A Lonidamina é um agente antitumoral derivado do ácido indazol-3 carboxílico, que atua na mitocôndria, inibindo o consumo de oxigênio e bloqueando o metabolismo energético. A Lonidamina causa perda do potencial de membrana mitocondrial e liberação de citocromo C em mitocôndrias isoladas (Stryker & Gerweck, 1988) A superexpressão de proteínas antiapoptóticas da família Bcl-2 em diversas linhagens tumorais pode inibir a permeabilização da membrana mitocondrial externa e formação de póros mediada pelas proteínas Bax/Bak. O efeito antitumoral próapoptótico de alguns tratamentos convencionais (p.ex., radiação ionizante) é baseado na habilidade de estimular a produção de espécies reativas de oxigênio (Gogvadze et al, 2009). Drogas antitumorais que induzem a formação de um póro de transição de permeabilidade na membrana mitocondrial podem induzir modificações nesta organela mediada pelo acúmulo de reativos de oxigênio. Por exemplo, com altas doses do agente quimioterápico trióxido de arsênico, observou-se uma modificação oxidativa em grupos tiol e conseqüente liberação de citocromo C através da indução do poro de transição de permeabilidade. Entretanto, em concentrações aceitáceis para o uso clínico, esta droga estimula liberação de citocromo C e apoptose através de mecanismos dependentes das proteínas Bax/Bak (Larochette et al, 1999). 123 Bax é um membro pró-apoptótico da família Bcl-2 localizado predominantemente no compartimento citosólico, na forma monomérica, em células viáveis. Após um estímulo apoptótico, uma fração significativa desta proteína formam dímeros e se transloca para a membrana externa mitocondrial formando poros (Wolker et al, 1997). A translocação da proteína Bax para as mitocôndrias foi observada em células de melanoma murino B16F10-Nex2 transfectadas com uma proteína quimérica Bax-GFP e tratadas com o C7A. Além das alterações mitocondriais já descritas anteriormente, a translocação de Bax forma póros que liberam o citocromo C, que por sua vez ativa caspases. A ativação de caspases foi observada nas células de melanoma murino tratadas com o C7A. Verificou-se um expressivo aumento na atividade das caspases efetoras 3 e 6. Estudos têm demonstrado que Bax e outras proteínas pró-apoptóticas podem modular estoques de cálcio no retículo endoplasmático e nas mitocôndrias (Nutt et al, 2001). Foi também demonstrado que a integridade da membrana mitocondrial pode ser alterada pela captação excessiva de cálcio (Andreyev et al, 1998). Em condições fisiológicas, o aumento do cálcio citosólico estimula a captação deste íon pela mitocôndria, provocando assim um aumento de cálcio mitocondrial (Robb-Gaspers et al, 1998). Alterações no cálcio citosólico podem ativar a via de apoptose. Algumas destas alterações incluem mudanças na captação do cálcio mitocondrial, o que aumenta a probabilidade de ativação do póro de transição de permeabilidade (Pacher et al, 2002). A depleção dos estoques de cálcio intracelular também está relacionada com indução de apoptose (Pan & Dilley, 2000). 124 Nossos resultados demonstram que o C7A provoca o acúmulo de grande quantidade de cálcio intracelular, liberado do interior das organelas. Ensaios preliminares demonstraram que o C7A provoca liberação de cálcio tanto do retículo endoplasmático como das mitocôndrias (dados não mostrados). Além do C7A causar uma importante liberação do cálcio intracelular, também observou-se uma entrada de cálcio proveniente do meio extracelular. Este cálcio em excesso não consegue ser captado totalmente pelas organelas responsáveis pelo estoque deste íon, colaborando assim com mais um estímulo apoptótico. A condensação nuclear e a degradação de DNA observadas em células de melanoma murino tratadas com o ciclopaladado 7A é mais uma forte indicação de que as células tumorais estão morrendo por um processo apoptótico. Diversos compostos metálicos, como por exemplo, drogas derivadas de platina, em geral tem como alvo predominante o DNA (Brabec & Kasparkova, 2005), embora estudos recentes sugiram que existam também outros alvos (Gourdier et al, 2004; Cullen et al, 2007). Um complexo dppf-ciclopaladado, denominado BCP (Biphosphinic Palladacycle Complex), foi testado in vitro contra as linhagens celulares de leucemia humana K562, HL-60 e Jurkat, e para todas elas o IC50 foi menor do que 8µM. O ciclopaladado acumulou-se nos lisossomas celulares, levando à permeabilização dessa organela com a liberação de catepsina B, que foi responsável pela ativação das caspases 3 e 6, como demonstrado pela inibição da ativação dessas enzimas efetoras da apoptose por um inibidor seletivo de catepsina B (CA074) (Bincoletto et al, 2005; Barbosa et al, 2006; Oliveira et al, 2009). Nesse modelo, os autores levantam a hipótese de que a catepsina 125 liberada pelos lisossomas pode agir sobre outras organelas, principalmente mitocôndrias e núcleo, o que levaria as células a um processo de morte por apoptose (Oliveira et al, 2009). Com o objetivo de verificarmos a possível participação de catepsinas no efeito citotóxico causado pelo C7A em células de melanoma murino, células B16F10-Nex2 foram tratadas com o ciclopaladado 7A, na presença de CA074Me, inibidor seletivo de catepsina B metilado, o que permite sua entrada na célula. O mesmo procedimento foi realizado com o inibidor seletivo de cisteínoproteases E-64. Os resultados mostraram que a inibição da catepsina B e de cisteíno-proteases em geral não foi capaz de impedir a morte celular causada pelo C7A, sugerindo que não há participação dessas enzimas no processo de morte celular causado pelo composto. No início do desenvolvimento deste projeto, tínhamos como hipótese de mecanismo de ação do C7A a indução de morte celular por necrose, uma vez que observamos uma queda abrupta no pH extracelular, sugerindo a parada na respiração celular e queda na produção de ATP, degradação nuclear e ausência de ativação das caspases efetoras 1 e 3 (Rodrigues et al, 2003). Concentrações muito baixas de ATP estão relacionadas à indução de processo necrótico (Smaili et al, 2009). Além disso, o resultado da microscopia eletrônica de transmissão com células de melanoma murino mostrou um inchaço das mitocôndrias após tratamento com o C7A, e alterações mitocondriais são encontradas tanto no processo apoptótico como no necrótico (Kroemer et al, 2009). 126 Golstein & Kroemer (2007) analisando seis diferentes sistemas experimentais observaram que a necrose celular se caracteriza por uma sequência de eventos bioquímicos intracelulares, que incluem alterações mitocondriais como inchaço, depleção de ATP, falha na manutenção da homeostase de cálcio, ativação de algumas proteases, como calpaínas e catepsinas, entre outros eventos, que acumulados de uma forma programada e organizada podem definir a necrose. Várias características observadas após o tratamento com o ciclopaladado 7A eram similares às descritas como indicativas de necrose, e testamos então, se essa via poderia estar implicada na morte celular causada pelo C7A. Ensaios pré-clínicos indicam que a inibição de várias moléculas implicadas no processo de necrose apresenta efeitos benéficos, como por exemplo, a inibição de PARP, RIP1,CypD, calpaínas e catepsinas que inibiu a morte celular por necrose in vivo em modelos de perda aguda de células (Kroemer & Martin, 2005). Em um ensaio para screening de novas drogas foram identificadas as Necrostatinas, que inibiram in vitro a morte celular em células Jurkat deficientes em FADD, e apresentaram efeitos benéficos em modelo experimental de isquemia (Degterev et al, 2005). Necrostatina-1 inibe quimicamente a quinase RIP1, envolvida na necrose mediada pelos receptores TNFR1, Fas/CD95, TRAILR e TLR3 (Degterev et al, 2005; Degterev et al, 2008). Embora não haja um consenso, alguns grupos propuseram a utilização do termo “necroptosis” para indicar um processo necrótico regulado, ao contrário de um processo acidental. Em nível bioquímico, a necroptosis pode ser definida como um processo que pode ser evitado pela inibição da quinase RIP1 (Kroemer et al, 2009) 127 Necrostatina-1 (Sigma Aldrich) foi utilizada como inibidor da atividade do C7A sobre células tumorais, sendo incubada em várias concentrações com as células previamente ao tratamento com o quimioterápico, ou alternativamente em associação com o C7A. Não foi observado efeito da necrostatina-1 nessas condições (dados não apresentados). Uma característica marcante das células tumorais é a produção de ATP predominantemente através da via glicolítica, mesmo em condições aeróbias, conhecido como "efeito Warburg". Devido a esta peculiaridade, mitocôndrias das células tumorais desempenham papel fundamental na sobrevivência e morte celular, o que torna essa organela um alvo importante para quimioterápicos antitumorais. A exploração do efeito Warburg pode representar uma nova e promissora abordagem para complementar os tratamentos convencionais, que tem outros alvos na célula tumoral (Gogvadze et al, 2009), e evidências sugerem que terapias antitumorais que tem a mitocôndria como alvo podem tornar as células tumorais mais sensíveis a outros quimioterápicos (Gogvadze et al, 2008). A terapia sistêmica do melanoma metastático tem apresentado efeitos muito aquém do esperado. Os quimioterápicos disponíveis poderiam, em teoria, agir também sobre sítios metastáticos, mas com frequência metástases não são responsivas aos tratamentos (Lowe e Soengas, 2003). A atividade do C7A contra metástases pulmonares do melanoma murino também foi avaliada. Observou-se uma redução significativa no número de nódulos pulmonares dos animais tratados. Este é um achado importante pois além do ciclopaladado mostrar eficácia no tratamento de tumores primários, 128 como observado por Rodrigues et al (2003), também poderia ser utilizado no tratamento de tumores em estadios metastáticos mais avançados. Como as terapias convencionais frequentemente apresentam baixa eficácia no tratamento do melanoma, diferentes abordagens terapêuticas têm sido avaliadas para o tratamento desse tumor, principalmente a associação da quimioterapia com agentes imunoterápicos, denominada de bioquimioterapia (Sun & Schuchter, 2001). Recentemente foi demonstrado. pelo nosso grupo, que a neutralização da interleucina 13, uma interleucina imunosupressora, com um receptor decoy, in vivo, aumentou significativamente a sobrevida dos animais tratados. Mais importante, a associação da neutralização da IL-13 com o ciclopaladado 7A levou a um significativo retardo no desenvolvimento do melanoma murino subcutâneo, com impressionantes 30% de animais tratados livres de tumor por um tempo prolongado (Hebeler-Barbosa et al, 2008). Esses resultados mostram que o C7A também pode ser usado com sucesso em associação a outros tipos de terapias antineoplásicas. Além da atividade direta antitumoral observada com o C7A, é possível que o composto interfira também em outros processos importantes para o desenvolvimento tumoral in vivo. Um dos eventos essenciais para o crescimento do tumor é a formação de novos vasos sanguíneos, que tem como função principal nutrir a população de células tumorais em crescente proliferação (Bonavida et al, 2006)). Nossos resultados demonstram que o ciclopaladado 7A apresenta uma atividade citotóxica direta sobre uma linhagem de células endoteliais humanas, 129 e também foi capaz de inibir a formação de estruturas pré-angiogênicas em ensaio in vitro, estruturas estas que se relacionam à capacidade de formação de neovasos in vivo. 6.2 Compostos de Rutênio Neste trabalho, além da determinação do mecanismo de ação de um composto ciclopaladado com atividade antitumoral, avaliamos também o efeito antitumoral de compostos tetraamina rutênio, doadores de óxido nítrico. Estes compostos foram previamente testados in vitro e in vivo em diferentes modelos experimentais, como na vasodilatação e no tratamento de parasitoses (Leishmaniose e Doença de Chagas), e a atividade demonstrada foi dependente do óxido nítrico liberado pelo composto (Zanichelli et al, 2007; Silva et al, 2009) Os complexos nitrosil-tetraamina-rutênio foram avaliados no relaxamento de anéis aórticos desprovidos de endotélio e pré-contraídos com noradrenalina. Observou-se que o NO liberado dos complexos reduzidos foi o responsável pelo relaxamento, e que esse efeito pode ser modulado pela adição de diferentes ligantes estabilizadores, que determinam a velocidade de liberação do íon (Zanichelli et al, 2007). A avaliação destes compostos no tratamento da doença de Chagas experimental mostrou uma elevada atividade antiproliferativa e tripanocida in vitro, mais efetiva do que Violeta Genciana, usada atualmente na profilaxia da transmissão de Doença de Chagas em bancos de sangue. Em testes in vivo, dois compostos, trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3 130 e trans- Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3, eliminaram as formas extracelular e intracelular do Trypanosoma cruzi no sangue e miocárdio, e aumentaram a sobrevida de até 80% dos camundongos infectados por um período superior a cinqüenta dias (Silva et al, 2009). O desenvolvimento de resistência das células tumorais a vários agentes citotóxicos continua a ser um grande desafio na área da oncologia e novas abordagens terapêuticas são urgentemente necessárias (Huerta et al, 2009). Entre os novos agentes que surgiram recentemente, estão os que induzem produção endógena de óxido nítrico ou agem como doadores desta molécula. O óxido nítrico é um mensageiro intracelular produzido pelo organismo de forma endógena a partir de reações catalisadas por uma família de enzimas denominadas óxido nítrico sintases (NOS), que convertem o aminoácido Larginina em NO e L-citrulina. Há pelo menos quatro diferentes isoformas conhecidas dessa enzima, duas delas são constitutivas, eNOS e cNOS (com níveis de NO produzido comumente ao redor de µmol.l-1), e uma induzível, iNOS, que é ativada após estímulo, que pode ser, por exemplo, durante uma resposta inflamatória, quando NO é secretado em concentrações de mmol.L-1 por macrófagos ativados, e que pode ter uma função protetora. Uma quarta enzima foi recentemente descoberta, mtNOS ou NOS mitocondrial, identificada como uma isoforma da nNOS, e está envolvida na inibição da respiração mitocondrial (Elfering et al, 2002). Nos últimos anos, o papel do óxido nítrico no desenvolvimento tumoral tem sido foco de numerosos estudos. A transfecção do gene que codifica iNOS em células de melanoma murino induz apoptose, suprime a tumorigênese e elimina a formação de metástases (Xie et al, 1995.; Xie et al, 1997). Altos 131 níveis de iNOS tem sido encontrados em metástases de melanoma nãoprogressivo comparativamente à melanomas progressivos (Tschugguel et al, 1999), e tratamentos que visam a liberação de NO no ambiente tumoral tem sido extensivamente avaliados em modelos experimentais (Sonveaux et al, 2009). No entanto, além do seu papel possivelmente protetor, o NO também tem sido implicado na carcinogênese, progressão, invasão e metástases, angiogênese, escape da vigilância imunológica, e na modulação da resposta terapêutica (Ekmekcioglu et al, 2005). Tornou-se claro que o óxido nítrico possui propriedades moduladoras em várias vias de transdução de sinais, o que depende da concentração do íon e do contexto em que ele se encontra. Nossos resultados demonstraram que os compostos tetraamina rutênio doadores de óxido nítrico testados apresentam uma importante atividade citotóxica sobre células tumorais humanas e murinas in vitro. Dentre os diversos compostos testados selecionamos para nosso trabalho o composto mais ativo, com o mais baixo valor de IC50, o trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3, e um composto com valor intermediário de IC50, o trans- [Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3. O composto trans-[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3, denominado aqui de RuImNO, causou alterações nas células tumorais in vitro (intensa destruição celular com formação de debris e degradação de DNA), além de inibir a angiogênese in vitro, como observado em ensaio de formação de estruturas pré-angiogênicas por células endoteliais humanas. Possivelmente, a liberação 132 de NO pelos compostos nitrosil-tetraamina-rutênio, como demonstrado em outros modelos experimentais, tenha provocado esses efeitos. Os compostos RuImNO e o trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3, aqui denominado de RuIsnNO, foram também avaliados in vivo no tratamento de camundongos C57Bl/6 inoculados com células de melanoma murino B16F10Nex2 subcutaneamente. Embora tenhamos observado que um grupo de animais foi responsivo a baixas doses dos compostos doadores de NO, observamos também que um grupo de animais apresentava um desenvolvimento tumoral muitas vezes mais rápido que os animais não tratados. Mesmo os animais que responderam ao tratamento eliminando o crescimento tumoral, apresentaram sintomas de intoxicação mesmo nas doses mais baixas dos compostos RuImNO e RuIsnNO. Interessante notar que as doses utilizadas no ensaio in vivo foram as mesmas doses utilizadas para o tratamento de camundongos Balb/c infectados experimentalmente com T. cruzi. Esses resultados mostraram que a utilização de compostos nitrosil tetraamina rutênio, doadores de NO, em camundongos C57Bl/6 inoculados com células de melanoma murino B16F10-Nex2, embora com algum efeito terapêutico, levou ao aparecimento de efeitos colaterais bastante intensos. Diferença na sensibilidade de linhagens de camundongos a agentes terapêuticos tem sido demonstrado (Zhang et al, 2008; Gueders et al, 2009). Para a síntese dos compostos nitrosil-tetraamina-rutênio, um intermediário sulfatado é preparado, e estes compostos sulfato-tetraaminarutênio são utilizados normalmente como controles que contém o mesmo Ligante de estabilização, mas que não é capaz de doar o NO em meio biológico. Assim, compostos trans-[Ru(SO4)(NH3)4isn](BF4)3 133 e trans- [Ru(SO4)(NH3)4imN](BF4)3 (RuIsnSO4 e RuImSO4, respectivamente) foram avaliados in vitro e in vivo com relação ao seu efeito antitumoral. Observou-se que in vitro, os IC50 para os compostos foram de 137 e 444µM para RuIsnSO4 e RuImSO4, respectivamente, valores bem superiores aos obtidos com compostos doadores de NO. Surpreendentemente, in vivo, o composto RuImSO4 foi o composto de tetraamina rutênio mais eficiente no tratamento de animais com melanoma murino. Foram testadas 3 doses, 500, 100 e 50nmol, e as doses menores apresentaram melhor efeito terapêutico contra tumores subcutâneos. Efeito terapêutico foi também observado em modelo de metástase pulmonar, onde 100nmol do composto reduziu significativamente o número de nódulos pulmonares nos animais tratados. Além da eficiência do composto sulfatado in vivo tanto no tratamento do tumor primário como do metastático, não foram observados efeitos colaterais, sugerindo uma baixa toxicidade do RuImSO4. Esse achado nos levou a determinar o elemento citotóxico presente no RuImSO4, e foram então testados componentes isolados da fórmula. Imidazol e um composto onde o átomo de rutênio é o componente mais importante, pois o ligante de imidazol foi substituído por um grupo trietilfosfito e o grupo sulfato por um átomo de água (composto denominado aqui de “Aquo”), foram avaliados e não apresentaram atividade antitumoral. No entanto, quando utilizou-se o composto RuIsnSO4, a atividade antitumoral foi similar ao composto RuImSO4, nas doses de 50 e 100nmol. São necessários ensaios mais aprofundados para a determinação da estrutura-atividade dos compostos tetraamina-rutenio-sulfato, mas nossos resultados sugerem que a estrutura 134 geral do composto tem importância na atividade antitumoral dos mesmos. Não é conhecido se esses compostos são capazes de liberar o grupo sulfato em meio biológico, o que poderia aumentar o grau de sulfatação dos componentes da matriz extracelular e interferir com a interação da célula tumoral com a matriz extracelular. O composto RuImSO4 levou as células tumorais à morte por indução de apoptose, como demonstrado pela inversão da fosfatidilserina na membrana celular, condensação e fragmentação nuclear e pelas alterações morfológicas apresentadas pelas células após tratamento com o complexo. Alguns compostos de rutênio já foram testados no modelo de melanoma murino B16. Gava e colaboradores (2006) utilizaram o composto de rutenio NAMI-A (imidazolium trans-imidazoledimethylsulfoxide-tetrachlorouthenate), que não apresenta atividade citotóxica direta sobre as células tumorais, para tratamento de camundongos B6D2F1 inoculados nas patas com células B16 na dose de 35 mg/kg por 6 dias intraperitonealmente. O composto não foi ativo contra tumores primários, no entanto, reduziu em 20% e em 80% o número e o tamanho das metástases pulmonares. O efeito foi relacionado à modulação do efeito invasivo, com redução de atividade gelatinolítica das células in vitro e no plasma de animais tratados in vivo. O composto doador de NO conhecido como GIT-27NO [(S,R)-3-phenyl-4,5-dihydro-5-isoxazole acetic acid], mas não o composto parental que não é capaz de liberar NO, apresentou atividade citotóxica in vitro contra células tumorais humanas e murinas (MaksimovicIvanic, 2008). O composto induziu apoptose em algumas linhagens celulares in vitro, enquanto em outras induziu morte por autofagia, incluindo as células de melanoma murino B16. Quando utilizado no tratamento do melanoma B16 135 implantado em animais C57Bl/6, reduziu significativamente o tamanho dos tumores subcutâneos após 30 dias, na dose de 0.5mg/animal/dia, durante 10 dias. Em nenhum dos dois estudos apresentados, o efeito dos compostos de rutênio sobre a mortalidade dos animais tratados comparativamente aos controles não tratados, ou a presença de efeitos colaterais, são descritos. A aplicação de drogas baseadas em metais no tratamento do câncer iniciou-se apenas em 1969 quando, acidentalmente, Rosemberg e colaboradores (1969) descobriram a atividade antitumoral da cisplatina. A introdução da cisplatina na clínica está relacionada a efeitos colaterais e resistência adquirida ao quimioterápico pelas células tumorais (Stewart, 2007). O estudo dos mecanismos pelos quais as células tumorais tornam-se resistentes ao uso da cisplatina e seus análogos foram extensivamente investigados e categorizados em quatro principais alterações: redução no acúmulo intracelular da droga devido a uma diminuição na captação pelas células tumorais; conjugação da droga com grupos tiol de proteínas como, por exemplo, metalothioneína e/ou glutationa; aumento no reparo do DNA; alterações nas vias moleculares envolvidas na sobrevivência e/ou morte celular (Heffeter et al, 2008). Devido às limitações do uso dos compostos de platina, novos agentes antineoplásicos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de reduzir os efeitos colaterais e reduzir a indução de resistência pelas células tumorais (Ott & Gust, 2007). Existem poucas informações sobre as causas de resistência aos novos compostos conjugados a íons metálicos. Sugerem-se quatro possíveis causas para que as células tumorais tornem-se resistentes ao tratamento com estes novos compostos, baseadas na ação dos compostos de platina: redução da 136 concentração intracelular das drogas, devido a diminuição na captação dos compostos, aumento do efluxo e distribuição alterada do composto; ligação e metabolização do composto, principalmente relacionado à sua conjugação com tiol-proteínas; aumento nos mecanismos de reparo de DNA; modificações das vias de sobrevivência, tais como aumento na expressão dos componentes da família Bcl-2 (através da inibição de proteínas antiapoptóticas), inibição do gene supressor de tumor p53, alterações na via JAK/STAT; e por último, pelo controle do fator de transcrição responsivo aos metais (ativado para manter a homeostase dos metais no organismo) (Heffeter et al, 2008). Embora ainda sejam necessários estudos mais aprofundados para um completo conhecimento dos mecanismos de ação e de indução de resistência aos vários compostos conjugados a metais, orgânicos e inorgânicos, que estão sendo recentemente avaliados, esses compostos tem apresentado resultados promissores nos ensaios pré-clínicos já realizados, estimulando o estudo dessa classe de moléculas antitumorais. 137 7.0 CONCLUSÕES Neste trabalho, a atividade antitumoral e o mecanismo de ação de organometálicos conjugados a íons de Paládio e Rutênio foram avaliados em ensaios pré-clínicos. Os resultados são relevantes para a descoberta de novos agentes antitumorais que, futuramente, poderão ser aplicados na clínica médica. As principais conclusões do presente trabalho foram: • O ciclopaladado 7A foi citotóxico in vitro tanto para linhagens celulares tumorais humanas como para a linhagem de melanoma murino B16F10Nex2. A rápida redução da acidificação extracelular observada após tratamento das células murinas e humanas sugere que o mecanismo de ação desta droga seja semelhante nas células tumorais humanas e murinas; • O ciclopaladado 7A é efetivo no tratamento do melanoma primário (subcutâneo) e também no tratamento do melanoma metastático experimental. O C7A apresentou baixa toxicidade tanto in vivo como em ensaios in vitro; • O ciclopaladado 7A tem a mitocôndria como alvo na célula tumoral, catalizando a formação de pontes dissulfeto entre proteínas da membrana mitocondrial, levando à sua agregação. Esse efeito desestabiliza a membrana da mitocôndria, permitindo a entrada de solutos e destruição da estrutura mitocondrial, e apresentando um 138 colapso no seu potencial de membrana, translocação da proteína próapoptótica Bax para o interior da organela, liberação de cálcio intramitocondrial e consequente aumento do cálcio intracitoplasmático, ativação de caspases efetoras da apoptose e degradação de DNA. Os efeitos fenotípicos e bioquímicos provocados pelo C7A indicam que o composto leve a célula tumoral à morte por um processo apoptótico pela via intrínseca. • Além da citotoxicidade direta sobre as células tumorais, o ciclopaladado 7A apresentou uma atividade citotóxica direta sobre células endoteliais humanas e inibiu a formação de estruturas pré-angiogênicas in vitro, sugerindo uma adicional atividade anti-angiogênica in vivo. • A citotoxicidade in vitro de diversos compostos nitrosil tetraamina rutênio foi avaliada em linhagens celulares tumorais murinas e humanas. Esses compostos são doadores de óxido nítrico (NO), e a velocidade com que esse radical é liberado em meio biológico depende do ligante de estabilização acoplado à estrutura do complexo. • Os resultados com os compostos nitrosil tetraamina rutênio, doadores de óxido nítrico, demonstraram que estes compostos são citotóxicos in vitro para linhagens celulares tumorais murinas e humanas • Os composto de rutênio [Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3 trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3 e apresentaram significativa trans- atividade antitumoral in vivo, utilizando o modelo subcutâneo de melanoma murino B16F10-Nex2. Entretanto, a toxicidade destes compostos foi bastante acentuada quando ensaiados in vivo; 139 • Surpreendentemente, o composto de rutênio trans- [Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl, apresentou uma acentuada atividade antitumoral in vivo, com ausência de efeitos tóxicos nos animais tratados com a droga; • A administração intraperitoneal do composto de rutênio trans- [Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl, em modelo de metástase também foi capaz de inibir o desenvolvimento de nódulos pulmonares in vivo; • Aparentemente, a atividade antitumoral do composto sulfatado não se dá apenas pelo sulfato ou ao íon metálico, e sim pela estrutura química como um todo; • Os resultados para avaliar o mecanismo de ação do composto de rutênio sulfatado sugerem que este quimioterápico provoca apoptose da célula tumoral, já que observamos alterações morfológicas compatíveis com processo apoptótico, bem como externalização de fosfotidilserina e degradação de DNA. 140 8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Adrain C, Duriez PJ, Brumatti G, Delivani P, Martin SJ The cytotoxic lymphocyte protease, granzyme B, targets the cytoskeleton and perturbs microtubule polymerization dynamics. 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