AVALIAÇÃO DA POPULAÇÃO CITOLÓGICA DA REGIÃO TRAQUEOBRÔNQUICA DE BOVINOS SUBMETIDOS A DIFERENTES TEMPERATURAS AMBIENTAIS Amabile Cristina Trento (UNICENTRO), Tiago André Frigotto (UNICENTRO), Dauton Luiz Zulpo(UNICENTRO), Greyson Vitor Zanatta Esper (Docente-UNICENTRO), Heloisa Godoi Bertagnon (Orientadora – Dep. de Méd Veterinária/UNICENTRO), e-mail: [email protected] Palavras-chave: Lavado respiratório, Bovino, Temperatura. Resumo: Foram realizados lavados traqueobrônquicos em cinco bovinos sadios submetidos a diferentes temperaturas ambientais (T1= 5o. C, T2= 30o.C, e T3= 22o. Celsius, controle). Pode-se observar que houve um aumento da proporção de neutrófilos segmentados no trato respiratório quando a temperatura ambiental foi de 5 o. C provavelmente devido ao estresse causado por este condição meteorológica. Introdução Diariamente as vias respiratórias estão expostas a fatores irritantes e ainda assim, o pulmão mantém-se funcionando normalmente devido a eficientes mecanismos de defesa como: características do trato respiratório anterior que impede a deposição de partículas grandes; depuração mucociliar da região traqueobrônquica; defesa celular constituída aproximadamente por 68,80% de macrófagos, 11,10% de neutrófilos, 1,90% de linfócitos, e menos de 1% de eosinófilos, tendendo a aumentar os valores de neutrófilos e diminuir os de macrófago com o avançar da idade e a defesa humoral (LIGGITT et al., 1985; RADOSTITS et al., 2000; WACHHOLZ et al., 2004). Determinadas condições como extremos de temperatura, gases inalados irritantes, poeira, má higiene, superlotação e outros fatores estressantes interferem com os mecanismos de defesa respiratória, aumentando a susceptibilidade a pneumonias. (RADOSTITS et al., 2000; LIGGITT, 1985). Fatos comprovados por Ishizaki et al. (2005), ao observarem alterações na função e população de linfócitos traqueobrônquicos em bovinos submetidos a transporte e Rabello et al. (1996) ao correlacionar maior incidência de broncopneumonia a altos índices de precipitação pluviométrica, em Guaranhuns, PE. Devido a alta incidência de doenças respiratórias em bovinos (RADOSTITS et al., 2000) e a grande variação de temperatura ambiental em Guarapuava, o presente trabalho avaliou a influência de extremos de temperatura ambiental na citologia da região traqueobrônquica de bovinos. Materiais e Métodos Foram selecionados 5 bovinos, fêmeas, entre 4 a 7 meses de idade, da raça Jersey, sadias, oriundas do Núcleo de Produção Animal - NUPRAN da Universidade Estadual Centro Oeste do Paraná- UNICENTRO, em Guarapuava. Os animais foram submetidos à colheita de lavado traqueobrônquico através da técnica de traqueocentese, realizada no terço médio da traquéia por punção com agulha de calibre 50 x 16 e passagem de um cateter de polietileno, com comprimento total de 30,4 cm introduzido atingindo a região da bifurcação traqueal. Posteriormente foram injetadas três alíquotas de 20ml de solução salina fisiológica estéril, sendo o conteúdo recuperado por aspiração com seringa plástica de 60 ml. O lavado obtido foi centrifugado, tendo o sobrenadante desprezado, e a partir do precipitado confeccionado um esfregaço corado pelo corante Panótico rápido. A avaliação em microscopia incluiu a contagem diferencial de 400 células de acordo com suas características morfológicas. Os mesmos animais foram submetidos a colheita de lavados em três diferentes ocasiões conforme a temperatura ambiental aferida pela estação meteorológica do CEDETEG da UNICENTRO, sendo considerado extremos de temperatura T1, temperatura de 5o.Celsius, T2 temperatura de 30o Celsius e T3 , temperatura controle de 22 º Celsius. Resultados e Discussão As proporções das células do lavado traqueobrônquico obtidas em ordem decrescente foram macrófagos, células traqueobrônquicas, neutrófilos, linfócitos e eosinófilos, conforme Tabela 1. Tabela 1- Valores das médias e desvios padrões da contagem diferencial citológica da região traqueobrônquica de bovinos submetidos a diferentes temperaturas ambientais, T1 temperatura de 5o.Celsius, T2 temperatura de 30o Celsius e T3 , temperatura de 22 º Celsius, Guarapuava, PR, 2007 Temperaturas ambientais T1 T2 A 44 (12) 64 (7,5)A A 3,3 (2) 0,5 (1,4) A 5,9 (4,2) A 5,8 (1,9) A B 23,8 (12,9) 5 (11,8) A Citologia Macrófago Macrófago gigante Linfócitos Neutrófilos segmentados Eosinófilos 0 (0) A Células 22,6 (7,9) A traqueobrônquicas 0 (0,5) A 25,3 (10,5) A T3 43 (8,4)A 4,6 (2,2) A 7,2 (4,6) A 8,05 (2,4) A 1,1 (1) A 35,8 (14,9) A Diferentes letras na mesma linha indicam que houve diferença estatística p<0,05 Nota-se diferenças na comparação das proporções celulares da região traqueobrônquica de bovinos saudáveis encontradas pela literatura (WACHHOLZ et al., 2004 e LIGGITT, 1985) com as do grupo controle (T3). Este fato pode ser explicado por diferenças de manejo, idade, raça e técnica utilizada para colheita conforme observações de Gonçalves (1997) e Pringle et al.(1988). Por isso optou-se por comparar os achados citológicos dos mesmos animais submetidos as mesmas condições de manejo, com faixa etária entre 4 a 7 meses de idade e mesma técnica de colheita sob influência de diferentes temperaturas ambientais. Não houve diferenças significativas entre a maioria das células em função das diferentes temperaturas ambientais, apenas os neutrófilos segmentados do grupo T1 apresentaram um aumento significante. O estresse leva a diminuição de atividade macrofágica em bovinos e equinos (ISHIZAKI et al., 2005; CRISMAN et al., 1992) o que possibilita cogitar uma maior quantidade de agentes infecciosos na região traqueobrônquica estimulando uma resposta celular por neutrófilos. Notou-se que durante todo o estudo nenhum animal apresentou evidência clínica de doença respiratória, portanto pode-se supor que as condições climáticas que incluíram uma temperatura ambiental de 5º Celsius influenciou na resposta celular traqueobrônquica. Já no grupo T2 não houve diferenças estatísticas citológicas em comparação ao grupo controle provavelmente porque as condições metereológicas que incluíram temperatura ambiental de 30o. Celsius não causou uma situação de estresse. Conclusões Determinadas condições metereológicas podem influenciar a celularidade do trato respiratório de bovinos, por causarem provavelmente uma condição estressante a qual influência a atividade fagocítica de macrófago favorecendo maior mobilização de neutrófilos para manter a região livre de doença. Referências CRISMAN, M.V.; HODGSON, D.R.; BAYLY, W.M.; LIGGITT, H.D. Cornell Vet, 82:233246, 1992 GONÇALVES, R.C. Estudo clínico e citológico em bezerros clinicamente sadios e portadores de broncopneumonia moderada e grave. 1997. 144f. Teses(doutorado em Patologia) FMVZ- UNESP, Botucatu, 1997 ISHIZAKI, H; HANAFUSA, Y.; KARIYA, Y. Influence of truck transportation on the function of bronchoalveolar lavage fluid cells in cattle. Vet Imm and Imm, 105: 67-74, 2005 LIGGITT, H. D. Defense mechanism in the bovine lung. Vet Cli Nor Am. Food Ani Pra, 1:347-366, 1985. PRINGLE, J.K.; VIEL, L.; SHEWEN, P.E.; WILLOUGHBY, R.A. MARTIN, S.W.; VALLI, V.E. Bronchoalveolar lavage of cranial and caudal lung regions in selected normal calves: Cellular, microbiological, immunoglobulin, serological and histopatological variables. Can J Vet Res 52:239-248, 1988 RABELO, S. S. A.; LIMA JUNIOR, A. D.; CASTRO, R. S.; TABOSA, J. H. C. Sazonalidade da broncopneumonia em bezerros da microrregião de Garanhuns, Pernambuco (1983-1991). Arq Bra Méd Vet Zoo 48:19-26, 1996 RADOSTITS, O. M.; GAY, C. C., BLOOD, D. C.; KENNETH, H. W. Clínica veterinária. Um tratado de doenças dos bov, ovi, suí, cap e eqüi. 9. ed. São Paulo: GuanabaraKoogan, 2000. 1737 p. WACHHOLZ, L.; BERTAGNON, H.G.; MORI, E. FERNANDEZ, W.; BENESI, F. Citology of tracheobronchial and bronchoalveolar lavages em Holstein calves without respiratory distress on first month of live. In Anais...23 World Buiatrics Congress, Quebec-Canada, p25, 2004