Estudo do perfil de consumo das torcedoras do Sport Club

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PPGCOM ESPM // SÃO PAULO // COMUNICON 2014 (8a10 de outubro 2014)
1
Estudo do perfil de consumo das torcedoras do Sport Club do Recife
Andreza SALGUEIRO2
Riklévio MELO3
Rodrigo Stefani CORREA4
Universidade Católica de Pernambuco, Recife, PE
Resumo
Este artigo aborda as noções de fragmentação e reconfiguração no modelo de
comportamento de consumo que acontece no contexto do futebol brasileiro, onde a
participação feminina, mais que um fenômeno crescente de participação social,
requalifica a necessidade de compreender o consumo a partir de três noções centrais,
conforme qualifica Rocha (2002): a estilização, a estetização e a moda. O resultado
deste trabalho foi permeado por um trabalho de pesquisa de marketing, de caráter
exploratório de campo (dados primários e secundários), com a intenção de qualificar o
perfil de consumo das torcedoras do Sport Clube de Recife (Pernambuco), sobre as
perspectivas teóricas dos estudos culturais e de consumo referenciadas pela visão de
Stuart Hall (2002), Salomon (2005) e Lipovetsky (2005). Neste sentido, as mudanças
sociais que apresentamos neste trabalho indicam uma nova figuração no cenário
futebolístico, onde imperava a cultura masculina, mas que agora pode ser
resignificada em função do aparecimento de outro fenômeno social: a inserção das
torcedoras-consumidoras.
Palavras-chave: consumo; mulher; pesquisa; comportamento; Sport Club do Recife.
1
Trabalho apresentado no GT 9- Comunicação, Discursos da Diferença e Biopolíticas do Consumo, do
4º Encontro de GTs -Comunicon, realizado nos dias 08, 09 e 10 de outubro de 2014.
2
Pós-graduanda em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais na Estácio de Sá, e-mail:
[email protected]
3
Pós-graduando em Marketing pela Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, e-mail:
[email protected]
4
Orientador do trabalho. Professor do Curso de Publicidade e Propaganda da Universidade Federal de
Pernambuco, e-mail: [email protected]
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INTRODUÇÃO
A incessante busca da mulher pelas condições igualitárias de ideias e prestígio
social conferido ao homem parece ser um índice contemporâneo que nos revelam
anseios por assuntos que até então eram distantes dos olhos de boa parte da sociedade.
Os aspectos da sociedade hipermoderna, como conceitua Gilles Lipovetsky (2004),
além de aumentar o campo de observação já alastrado pelas mudanças de direção no
comportamento social, apontam, sobretudo, para novas estruturas de reorganização
em profundidade que ocorrem nas relações de trocas simbólicas e culturais dos
indivíduos que habitam essas sociedades, vistas como democráticas avançadas.
O acréscimo da demanda feminina para um conjunto de campos simbólicos
antes direcionados exclusivamente para ao universo masculino, mostra muito mais
que uma luta de gênero; percebe-se a existência de novos padrões no que diz respeito
ao modelo consumo e a nova maneira como as mulheres são ou devem ser percebidas
pelas organizações, que por sua vez aumenta a representação feminina na dinâmica do
consumo de bens e serviços esportivos.
Portanto este paper apresenta em perspectiva, possíveis alterações no
comportamento de consumo feminino atrelado a cultura futebolística brasileira, que
revela uma relação culturológica de inserção social. Adentrando um pouco mais na
história brasileira, recorremos a Gilberto Freyre, que destaca a miscigenação dos
povos e suas raças, como um entre tantos elementos marcantes da paixão brasileira
pelo futebol. Essa adoração ultrapassou as barreiras do sexo e parece ter conquistado
as mulheres.5 Elas, por sua vez, veem desmonstrando interesse pelo esporte, mesmo
existindo restrições de diálogo convergentes aos gostos e hábitos, no sentido que
muitos clubes ainda não compreendem essas transformações que superam o modelo
clássico de simples telespectadora, avançado para uma nova posição ideológica, de
5
Disponível em http://futebol-no-brasil.info/mos/view/Futebol_-_Paix%C3%A3o_Nacional/
Acesso em: 20 mar. 2014
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torcedora assídua, atleta, consumidora e reprodutora de valores e novos conceitos
sobre os esporte.
1. O MERCADO ESPORTIVO
O crescimento das atividades de lazer relacionadas ao esporte tem
movimentado o cenário da indústria esportiva, que por sua vez atraiu os olhos dos
estudiosos de marketing para uma nova cultura que negócios que se estabelece. De
acordo com um estudo da indústria esportiva, destacado por Pitts e Stotlar (2002),
revelou que o Produto Interno Bruto dos Esportes (PIBE) totalizou 63,1 bilhões de
dólares em 1988. Atualmente, segundo Clarisse Setyon6, a indústria gera em torno de
US$ 1 trilhão por ano e possui um dos maiores percentuais de crescimento entre os
principais setores da economia. No Brasil, ainda segundo Setyon 7 , o movimento
gerado pela indústria do esporte gira na média de R$ 31 bilhões por ano. Segundo a
Pluri Consultoria Esportiva8, a participação dos esportes no PIB brasileiro representa
1,6% (R$ 67 bilhões), a participação do esportivo na economia deve crescer 22% nos
próximos cinco anos (2011 = 1,6% / 2016 = 1,9% do PIB).
Os principais fatores que influenciaram o crescimento e desenvolvimento
dessa indústria foram: aumento no número de novas e diferentes atividades
esportivas, de fitness e recreativas; aumento na oferta de esportes; aumento no
número e tipos de revistas esportivas e especializadas; aumento do tempo de lazer;
aumento da exposição de publicidades à mídia de massa; a explosão do fitness na
década de 70; aumento no número de instalações, eventos e participação no cenário
esportivo; aumento e expansão dos bens e serviços relacionados ao esporte para a
variedade de segmentos do mercado; aumento no número de e tipos de atividades
6
Professora do curso de especialização em Marketing Esportivo da Escola Superior de Propaganda e
Marketing (ESPM), sobre evolução econômica do modelo de negócios baseado no Esporte. Disponível
em: http://www.amcham.com.br/gestao-empresarial/noticias/industria-do-esporte-movimenta-us-1trilhao-no-mundo. Acesso em: 13 jul. 2014
7
Ibidem
8
Disponível em: http://www.pluriconsultoria.com.br/uploads/relatorios/PIB%20Esporte.pdf Acesso
em: 13 jul. 2014
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esportivas, de fitness e recreativas em nível profissional; a transição das instalações de
único propósito para instalações de multiuso; aumento do esporte para a diversidade
das populações; aumento do patrocínio e de fundos para esporte por parte da
comunidade empresarial geral; aumento dos endossos; aumento da educação
esportiva; aumento dos lucros; aumento da tecnologia em bens, serviços e
treinamento relacionados ao esporte; destaque do esporte com produto de consumo;
aumento do marketing e da orientação da indústria do esporte para o marketing;
aumento da competência na administração do esporte; a globalização. (PITTS E
STOTLAR, 2002).
Desta forma, o mercado esportivo brasileiro, mesmo com toda sua diversidade
ainda tem o futebol como protagonista deste setor. Segundo dados da pesquisa
realizada por Amir Somoggi9, apesar desse mercado se aproximar dos R$ 3 bilhões, o
crescimento é o menor desde 2008. Esse fato é muito intrigante e nos motiva a pensar
para outras direções, sobrepondo o modelo de negócio 10 esportivo e enveredando
nosso campo de investigação para os fenômenos da cultura e da observação social
sobre estudo de gênero.
2. CONSUMO, ESPORTES E O FUTEBOL
A relação do brasileiro com os esportes parece estar passando por um processo
ainda que lento, mas de amadurecimento, muito provavelmente pelo incentivo das
novas mídias digitais e pelos avanços do modelo de transmissões e coberturas
esportiva praticadas pelas emissoras de TV, em especial, pelos canais especializados
em esportes. Alguns dados publicados pela PerformProgressive Sports Mídia em
parceria com as empresas Katar Media Sport e TV Sports Markets, a partir do
9
Almir Somoggi é especialista em Marketing e Gestão Esportiva e os dados de sua pesquisa estão
disponíveis na URL: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2013/01/03/mercado-dofutebol-se-aproxima-dos-r-3-bilhoes-no-brasil-mas-crescimento-e-menor-desde-2008.htm Acesso em:
13 jul. 2014
10
O futebol como negócio compreende 53% do PIB esportivo, que corresponde a R$ 36 bilhões,
segundo a Pluri - Consultoria Esportiva10.
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Relatório Global de Consumo de Mídia Esportiva 201311, no qual aponta que 80% da
população brasileira, que consome internet, são fãs de alguma modalidade esportiva.
Dos quais, 68% preferem o futebol, 43% vôlei, 31% a fórmula 1, 29% natação, 24%
ginástica e 22% basquete.
Outras fontes de pesquisa, como a ConsumerWatch Latam realizada pela
KantarWorldpanel 12, destacam que sete em dez consumidores seguem os esportes,
principalmente o futebol, ao menos três vezes por semana e 85% acompanham a Copa
do Mundo. O esporte em questão é o preferido tanto para os homens quantos para as
mulheres. Para eles, o futebol é seguido pelo boxe e automobilismo. Para elas, depois
do futebol vem o vôlei e a ginástica.
Ainda segundo a pesquisa 13 , 56% dos consumidores brasileiros foram
classificados como torcedores “roxos” e fãs de esportes. Esse grupo corresponde aos
torcedores que acompanham seus times semanalmente nas mídias, sabem tudo que
está ocorrendoe o esporte se faz presente de alguma forma; 15% são atingidos por
grandes espetáculos que alteraram a sua rotina (Copa do Mundo, Jogos Olímpicos
etc.); os 29% restantes não têm interesse no assunto. No que diz respeito ao momento
de um jogo, 70% preferem assistir à partida acompanhados; 7% vai ao estádio
regularmente, 23% acompanha o jogo em um bar ou restaurante, 54% em casa.
Os dados apresentados além de marcar perspectivas distintas entre gêneros
masculino e feminino, também nos liga a outros dois aspectos do consumismo
moderno, assinalados por Campbell (2006): o lugar ocupado pela emoção e pelo
desejo e o individualismo irrestrito. Se o consumismo moderno está mais ligado ao
desejo que às necessidades e, portanto, mais relacionado à subjetividade que à
objetividade, ele abre espaço para que a cultura esportiva cresça de forma irrestrita
aqui no Brasil. Nesse propósito, os meios de comunicação exercem um papel
fundamental; e, no âmbito do consumo de produtos e serviços esportivos, a
11
Disponível em: http://www.knowthefan.com/reports/Acesso em: 13 jul. 2014
Disponível em: http://www.ibope.com.br/pt-br/conhecimento/artigospapers/Paginas/Um-grandeshow-dos-torcedores-e-um-grande-palco-para-as-marcas.aspx Acesso em: 13 jul. 2014
13
Ibidem
12
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publicidade se destaca como agente influenciador e modelador da cultura de
consumo.
3. A CULTURA DE CONSUMO NO CAMPO FEMININO
O futebol parece ter conquistado a preferência feminina, com base em dados
recentes, que apontam percentuais impressionantes para o setor, onde 72% das
brasileiras elegeram o futebol como uma grande paixão14. De acordo com a pesquisa
realizada por Sophia Mind15, as mulheres têm o hábito de acompanhar os jogos pela
TV, principalmente junto ao marido; a violência é o principal inibidor da presença no
estádio; TV e internet são os principais meios que elas buscam para se obter
informações sobre teu time; 69% consomem produtos relacionados ao futebol, desse
número 53% compram para consumo próprio; 65% reclamam que faltam produtos
esportivos destinados ao público feminino. Segundo Salomon, Michael R. (2005,
p.30)
Os consumidores usam objetos para participar de uma experiência
mútua e difundir suas identidades com o grupo. Por exemplo,
torcedores contentes podem gritar em uníssono e participar de uma
explosão de saudações quando um dos jogadores do seu time faz um
ponto. Essa dimensão da experiência compartilhada é diferente de
assistir ao jogo em casa sozinho.
O aumento da atuação feminina marca um fenômeno também observado por
Maria Eduarda Rocha (2002), que define algumas características da cultura de
consumo em três elementos centrais: a estilização, a estetização e a moda. A
estilização diz respeito ao uso crescentemente simbólico dos produtos como senhas de
distinção social. A estetização refere-se ao enorme volume de imagens que circundam
14
Disponível em: http://www.ibope.com/pt-br/noticias/Paginas/Futebol-e-a-maior-paixao-dosbrasileiros.aspx Acesso em 13 jul.2014
15
Disponível em: http://www.sophiamind.com/wp-content/uploads/SophiaMind_Mulheres-eFutebol.pdf Acesso em 13 jul. 2014
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os produtos. E a moda é caracterizada pela frequente renovação dos produtos
dirigidos ao público feminino, o que permite a manifestação e variação das
representações que as consumidoras fazem de si mesmas por meio dos produtos e
serviços.
Esse novo comportamento feminino ganha notoriedade a partir do momento
que a torcedora individual se conecta a outras torcedoras gerando uma troca contínua
de informações, resultando num processo interacional simbólico que se constitui
como um novo modelo de organização. Em partes, esse comportamento social - das
torcedoras – passam a representar novas ideologias que penetram e também
interferem no campo sensorial do gênero masculino. As mulheres ao compartilhar as
arenas esportivas com os homens começam a inserir suas próprias ideias, que se
concretizam nas práticas sociais pela interação entre gêneros, consumo de
mercadorias e pelo compartilhamento de novos valores que devem ser absorvidos
pelas empresas que administram os negócios.
Nesse contexto, busca-se refletir sobre a pertinência de novos padrões
culturais de consumo, especialmente quando o objeto se restringe ao comportamento
feminino, mais especificamente, das torcedoras do Sport Clube de Recife. Para tanto,
os resultados da pesquisa buscaram qualificar os perfis de consumo das torcedoras do
Sport, na tentativa de detectar a presença de certos elementos modeladores que
acontecem no segmento esportivo, reconfiguradas nas mudanças sociais que
determinam uma nova identidade de consumidora.
Portanto, o problema central da pesquisa repercute no interesse de encontrar
algumas definições por padrões, no que diz respeito ao comportamento de consumo
feminino, para apontar quais elementos simbólicos estão presentes no interesse
comum de consumo das torcedoras rubro-negras? Cabe salientar ainda, que o
interesse pelo objeto da pesquisa não se limitou pela definição do escopo de produtos;
em verdade, busca-se interpretar os modos de sociabilidade relacionados às trocas
simbólicas das torcedoras do Sport. Para isso, nos coube seguir as recomendações de
Stuart Hall (2002) que orienta a observar esses fenômenos, a partir de suas
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representações - o indivíduo feminino – e como esse indivíduo se reconhece como
grupo, ao se juntar a uma grande massa, espelhando-se nos modelos de
comportamento social e individual que caracteriza uma torcida.
4.1 Os paradigmas da torcedora rubro-negra
Existe uma significativa participação do público feminino dentro dos estádios
de futebol, o que vem provocando mudanças nas estratégias de fidelização e
relacionamento por parte dos clubes de futebol, especialmente quando se trata de
planejamento de marketing. Segundo Salomon, Michael R. (2005):
A presença de mulheres em posições de autoridade é um fenômeno
bem recente. A evolução de uma nova classe gerencial de mulheres
tem forçado os profissionais de marketing a mudar suas tradicionais
suposições sobre mulheres quando se dirigem a esse mercado
consumidor em crescimento (p. 123).
Mesmo sabendo que o público masculino é superior ao feminino, seja dentro
ou fora do campo, a presença das mulheres torna-se significativa na medida em que
esse processo interacional reconfigura as atitudes sociais. O que pode ser justificado
devido a ações direcionadas ao Dia das mães nos clubes brasileiros 16, assim como
produtos específicos, a exemplo de Lingerie para o Dia dos Namorados 17, por canais
de comunicação segmentados, como Flunáticas 18 e pesquisa. Segundo Ibope 19 , no
Maximídia 2011, as mulheres já são maioria em alguns times brasileiros, como nas
16
Disponível em: http://www.maquinadoesporte.com.br/i/noticias/marketing/25/25156/Dia-das-Maesdivide-marketing- de-clubes/index.php. Acesso em: 20 mar. 2014
17
Disponível em: : http://www.maquinadoesporte.com.br/i/noticias/marketing/25/25430/Vasco-lancalingerie-para-Dia- dos-Namorados/index.php. Acesso em: 20 mar. 2014
18
Disponível em: http://www.flunaticas.com.br/. Acesso em: 20 mar. 2014
19
Disponível em: http://www.ibope.com.br/maximidia2011/apresentacao_exclusiva.pdf. Acesso em: 20
mar. 2014
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torcidas de Flamengo, Grêmio, Cruzeiro, Vitória, Náutico e, principalmente, na
torcida do Sport.
Sendo assim, torna-se relevante do ponto de vista do marketing e da
comunicação, entender como culturalmente o imaginário feminino se move aos
objetos e estímulos que a publicidade lança para o consumo?
A escolha pelo gênero feminino – torcedora do Sport - justifica-se pelas
possibilidades de compreensão de uma nova conduta de consumo que se espalha em
diversos âmbitos do comportamento social: o consumo de bens e serviços; da
participação nos eventos e jogos do clube; no processo afetivo com a Marca\Clube
que interfere na tomada de decisões. Considera-se ainda, que o universo feminino, por
ser um grupo que vem recebendo esforços mais cuidadosos dos gestores de
comunicação, possui uma importância dentro do universo futebolístico, atuando de
forma positiva em atitudes de promoção e engajamento para com outros
públicos\gêneros.
4.2 Objetivos da pesquisa
Preocupou-se em identificar e conhecer o universo da torcida feminina do
Sport Club Recife, destacando principalmente os fatores simbólicos que migraram
nesse sistema, dado a constatação de uma pesquisa, divulgada pelo Ibope no
Maximídia em 2011 20(São Paulo).
Como impacto da pesquisa revelada pelo Ibope é inegável não relacionar ao
conceito de hipermodernidade, haja vista que existem grandes indícios de que, de
fato, vive-se em uma nova sociedade moderna, onde tudo é fluído e a solidez da
certeza só nos afasta, cada vez mais, de um horizonte repleto de novas constatações.
Tais constatações tangenciam os objetos específicos do que empreende essa
pesquisa, vistos na ótica de quatro grandes descobertas: compreensão dos principais
fatores culturais que alteram a percepção feminina, transformando-a de indivíduo a
20
Ibidem
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torcedora rubro-negra (ser social); definir alguns padrões de comportamento de
consumo sobre determinados aspectos sociais (mídia, objetos, eventos etc.) e;
decodificar os padrões de motivações de consumo, orientando-os por perfil de
torcedora; visão de grupo social - anseios e críticas, definições de objetos de consumo
e suas tendências (ideologia).
4.3 Procedimentos metodológicos
A carência de informações específicas a respeito do público em questão e seu
status de desconhecimento favoreceu a escolha pela pesquisa exploratória, que por
sua vez, se fez necessária quando se busca um entendimento sobre a natureza geral de
um problema, as possíveis hipóteses alternativas e as variáveis relevantes que
precisam ser consideradas (AAKER; KUMAR; DAY, 2004).
Como o objetivo proposto está ancorado na análise de um percentual da
população e não na sua generalidade, optou-se por um modelo de amostragem não
probabilística, que atendeu a essa lacuna. Em virtude das condições em que a pesquisa
foi aplicada, a amostragem por conveniência responde de maneira positiva as
necessidades prescritas, como Aaker, Kumar e Day (2004) apontam, se caracterizando
como uma opção a rápida e barata para obter informações.
Os trabalhos foram estruturados sobre um modelo de questionário, aplicado
por contato via web, com suporte da ferramenta de pesquisa SurveyMonkey 21 e
contemplava 30 perguntas que envolviam aspectos relacionados a faixa etária, renda,
escolaridade e relação simbólica com o clube. Os dados coletados para análise e
criação dos perfis foram originados de fontes primárias, que correspondem a todas as
informações obtidas especialmente para determinada pesquisa. As fontes secundárias,
que se caracterizam por serem informações coletadas por pessoas ou agências para
21
Plataforma de questionários online, a SurveyMonkey Enterprise permite o pesquisador personalizar
sua ferramenta de coleta de dados, recendo desde feedback de clientes até sistematizando pesquisas de
produtos e comportamentos de consumo.
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outros propósitos que não a resolução do problema específico, foram responsáveis por
parte do embasamento da pesquisa e pelos dados de contextualização do objeto.
4.4 Análise descritiva dos resultados
As mulheres rubro-negras são jovens, possuem de 21 a 25 anos (26,7%) e 18 a
20 anos (20,9%), solteiras (70,1%), ganham de 01 a 03 salários mínimos (38,5%) e de
04 a 08 salários mínimos (20,3%), têm ensino superior incompleto (25,4%), ensino
médio (23,9%) e ensino superior (21%). Não possuem filhos (77,6%) e moram com
os pais e irmãos (65,3%); A influência familiar foi apontada com determinante na
escolha do time (53,9%). A história do clube apareceu com 18%; 67,2% não são
sócias. Quando sócias, pertencem às categorias Contribuinte e Patrimonial como
titular ou dependente. A dependência é superior à titularidade; A principal motivação
das sócias é comprar ingresso com desconto e utilizar as dependências do
clube/escolinhas (40,3%). 25,2% afirmam gostar do time e não se importam com os
jogos ou com as dependências/escolinhas; As não sócias alegam que o preço da
mensalidade é elevado (26,8%), fator que as mantém afastadas do clube. Além disso,
a falta de companhia para ir aos jogos foi apontada por 22%; Para obter informações
sobre o Sport, as mulheres recorrem primeiramente à internet (83,8%), seguida pela
TV (64%), jornal (40,1%) e rádio (32,1%); Em dias jogos, o rádio ganha a preferência
(39,1%). A TV permanece na segunda posição (22,5%), terceira o jornal (16,7%) e,
por último, a internet (9,4%); O site oficial e o Facebook são as fontes de notícias
mais acessadas pelas rubro-negras. Em seguida, aparecem os sites de notícias, Twitter
e blogs jornalísticos; 83,5% seguem o Sport no Facebook, enquanto 51,7% segue o
Sport no Twitter; As notícias em primeira mão/exclusivas e as notícias sobre o clube
são os principais interesses das torcedoras nas redes sociais; Em relação às compras,
50,7% afirmam comprar os produtos oficiais nas lojas do Sport (Embaixada da
Ilha/Espaço Sport);49,3% costumam compra apenas um a dois produtos por ano.
Enquanto, 32,6% compram algum produto a cada três meses; A compra do produto
está relacionada ao consumo próprio (59,8%). Apenas 13,4% compram para dar de
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presente. O vestuário é o mais consumido (82,7%); No momento da compra,
contribuir com o Sport é um ponto levado em conta por 50,9%, contudo o produto
oficial é o que elas mais procuram (56,3%). Os novos modelos são motivadores de
compra para 28%; Em dias de jogos, a camisa do Sport (37,1%) e bandeira (52,1%)
são produtos indispensáveis. No dia a dia, elas preferem usar vestuário que remeta ao
Sport (26,1%) e acessórios (50,3%); 26,3% afirmaram assistir aos jogos na
arquibancada frontal e 24,2% nas sociais; Elas costumam frequentar os jogos com
amigos (31,8%), marido e/ou filhos (23,2%). Contudo, a presença em campo é muito
reduzida. 47,3% alegam assistir aos jogos em casa; As torcedoras costumam comprar
ingressos com antecedência no clube (40,4%). 28,2% compram ingressos em cima da
hora no clube. Apenas 6,4% compram pela internet A violência é o principal fator
inibidor da presença nos estádios (49,2%). O preço do ingresso segue com 35,6% e a
falta de conforto com 19,1%; A chegada na Ilha do Retiro com antecedência é bemvinda, pois elas gostam de aproveitar os momentos que antecedem as partidas encontro com amigos/música/bebida/etc. - (43,5%). 30,5% não se importam com os
rituais, gostam mesmo de assistir aos jogos; Os jogos são encarados como lazer
(48,2%) e elas acreditam que a cada jogo o Sport pode me surpreender tanto dentro
como fora de campo (39,3%).
ASPECTOS CONCLUSIVOS
Os resultados obtidos aguçam nosso olhar para uma perspectiva antropológica
concernente como complemento as ferramentas de marketing (objeto da pesquisa),
que auxiliam no desenvolvimento de percepção da cultura como um elemento
inerente a força do pensamento comunicacional e mais propícia ao que se desenvolve
no campo esportivo, dentro da agremiação.
O composto feminino como representação social coletiva deixa de maneira
muito evidente a cristalização de uma cultura de consumo diferente do gênero
masculino, especialmente porque adentra nesse contexto o fenômeno da estilização,
que reporta o comportamento feminino em pertencimento às categorias de
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contribuinte e patrimonial como titular ou dependente. A inserção nessas classes
confere distinção e prestígio e se configura como uma extensão das suas relações
sociais cotidianas, uma vez que se torna ponto de encontro e espaço afetivo de
interação.
Cabe ressaltar que os comportamentos das torcedoras definidos pela compra
regular de produtos para uso próprio demarcam o crescimento da cultura do consumo
para diversos produtos ligados a representação simbólica do clube, esses objetos
confirmam o efeito de estetização que qualifica determinadas atitudes na perspectiva
de serem percebidas ora como indivíduo (extra-evento), ora como grupo (no evento).
O curioso da pesquisa é que os produtos estão muito ligados ao uso cotidiano – extrajogo (no dia a dia) com nítida preferência para produtos ligados a vestuário e
acessórios, devendo incorporar elementos de estética.
No entanto, os dados obtidos com a pesquisa não nos deram margem para
julgar se a moda é uma variante do comportamento social feminino da torcedora do
esporte, para uma discussão mais precisa, seriam necessárias outras intervenções
metodológicas, de caráter etnográfico, para que se possa avançar, sobretudo, sobre
outros aspectos qualitativos dos quais o presente trabalho não deu conta avaliar,
mesmo sabendo que essa foi uma opção definida de forma consciente pelo
pesquisador.
Portanto, há de considerar que esta pesquisa é um estudo preliminar, de caráter
experimental, voltada para o gênero feminino, com extensão para a cultura do futebol,
que demarca um espaço privilegiado de manifestação cultural, favorecendo ainda; a
propagação de projeções simbólicas, onde as torcedoras parecem incorporar uma
modelo de conduta que supera o próprio hábito institucional das arenas esportivas,
dissipando o consumo dos produtos futebolísticos para além das fronteiras do futebol.
REFERÊNCIAS
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Paulo: Atlas, 2004.
PPGCOM ESPM // SÃO PAULO // COMUNICON 2014 (8a10 de outubro 2014)
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